Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da existência da consciência, a primeira e<br />
indubitável auto-certeza da alma. A realida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> ser atingida<br />
indiretamente pelo sujeito, através <strong>de</strong> inferência, <strong>de</strong>dução ou<br />
projeção. Em suma, Descartes teve êxito em vincular a oposição<br />
mente/corpo aos fundamentos do próprio conhecimento, um<br />
vínculo que coloca a mente numa posição <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong><br />
hierárquica sobre e acima da natureza, incluindo a natureza do<br />
corpo. 9 Des<strong>de</strong> então, e até hoje, o sujeito, ou consciência, é<br />
separado do mundo do corpo, dos objetos, das qualida<strong>de</strong>s e po<strong>de</strong><br />
refletir sobre eles.<br />
Dualismo<br />
Descartes instituiu um dualismo que três séculos <strong>de</strong><br />
pensamento filosófico tem tentado superar ou reconciliar.<br />
Dualismo é a suposição <strong>de</strong> que há duas substâncias distintas,<br />
mutuamente exclusivas e mutuamente exaustivas, a mente e o<br />
corpo, cada uma das quais habita seu próprio domínio autocontido.<br />
Tomadas em conjunto, as duas tem características<br />
incompatíveis. O maior problema enfrentado pelo dualismo e por<br />
todas aquelas posições cujo objetivo é superar o dualismo, tem<br />
sido explicar as interações <strong>de</strong>ssas duas substâncias aparentemente<br />
não miscíveis, já que, a partir da experiência e da vida cotidiana<br />
parece haver uma manifesta conexão entre ambas no<br />
comportamento or<strong>de</strong>nado pela vonta<strong>de</strong> e nas reações psíquicas<br />
<strong>de</strong> resposta. Como po<strong>de</strong> algo que habita o espaço afetar ou ser<br />
afetado por algo não-espacial? Como po<strong>de</strong> a consciência garantir<br />
os movimentos do corpo e sua receptivida<strong>de</strong> à <strong>de</strong>mandas e<br />
exigências conceituais? Como po<strong>de</strong> o corpo informar à mente<br />
suas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos? Como é possível a comunicação<br />
9 Ver The Meditations. In: DESCARTES, R. (1931-34). A análise <strong>de</strong> Erwin Straus é<br />
particularmente arguta e relevante; ver STRAUS, E. W. Aesthesiology and<br />
Hallucination. In: ROLLO MAY, E. Angel e ELLEMBERGER, H. F. (eds.) Existence: a<br />
New Dimension in Psychiatry and Psychology. New York, Springer,1962,<br />
pp.141-150.<br />
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