Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />
termo subordinado é meramente negação ou recusa, ausência ou<br />
privação do termo primário, sua queda em <strong>de</strong>sgraça; o termo<br />
primário <strong>de</strong>fine-se expulsando seu outro e neste processo<br />
estabelece suas próprias fronteiras e limites para criar uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para si mesmo. Assim, o corpo é o que não é a<br />
mente, aquilo que é distinto do termo privilegiado e é outro.<br />
É o que a mente <strong>de</strong>ve expulsar para manter sua “integrida<strong>de</strong>”.<br />
É implicitamente <strong>de</strong>finido como <strong>de</strong>sregrado, disruptivo,<br />
necessitando <strong>de</strong> direção e julgamento, meramente inci<strong>de</strong>ntal às<br />
características <strong>de</strong>finidoras <strong>de</strong> mente, razão, ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal<br />
em sua oposição à consciência, ao psiquismo e a outros termos<br />
privilegiados no pensamento filosófico.<br />
De maneira mais insidiosa, a oposição mente/corpo foi<br />
sempre relacionada com vários outros pares <strong>de</strong> oposição.<br />
Associações laterais vinculam a oposição mente/corpo a uma série<br />
<strong>de</strong> outros termos <strong>de</strong> oposição (ou binários), possibilitando-<br />
lhes funcionar <strong>de</strong> maneira intercambiável, ao menos em<br />
certos contextos. A relação mente/corpo é frequentemente<br />
correlacionada com as distinções entre razão e paixão, sensatez e<br />
sensibilida<strong>de</strong>, fora e <strong>de</strong>ntro, ser e outro, profundida<strong>de</strong> e superfície,<br />
realida<strong>de</strong> e aparência, mecanicismo e vitalismo, transcendência e<br />
imanência, temporalida<strong>de</strong> e espacialida<strong>de</strong>, psicologia e fisiologia,<br />
seu trabalho, no interior do texto da história da filosofia... <strong>de</strong> certas marcas,<br />
digamos..., que, por analogia... chamei <strong>de</strong> in<strong>de</strong>cidíveis, isto é, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
simulacro, proprieda<strong>de</strong>s (nominais e semânticas) verbais “falsas”, que não mais<br />
po<strong>de</strong>m ser incluídas no interior da oposição filosófica (binária), resistindo a ela e<br />
a <strong>de</strong>sorganizando, sem nunca se constituir num terceiro termo, sem nunca abrir<br />
espaço para uma solução na forma da dialética especulativa... De fato, tento<br />
fazer uma crítica contra a reapropriação incessante <strong>de</strong>sse trabalho do simulacro<br />
por uma dialética do tipo hegeliana..., pois o i<strong>de</strong>alismo hegeliano consiste<br />
precisamente <strong>de</strong> um relève da oposição binária do i<strong>de</strong>alismo clássico, a resolução<br />
da contradição num terceiro termo que aparece para aufheben, negar ao mesmo<br />
tempo que elogia, i<strong>de</strong>aliza, sublima numa interiorida<strong>de</strong> anamnesica<br />
(Errinnerung), internando a diferença numa auto-presença.” DERRIDA, Jacques.<br />
Positions. Op. cit., pp.42-43. Agra<strong>de</strong>ço a Vicki Kirby por chamar a atenção para<br />
esta diferença entre Jay e Derrida.<br />
48