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Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero

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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />

veículo para a expressão <strong>de</strong> um psiquismo visto como selado e<br />

auto contido, incomunicável. É através do corpo que o sujeito<br />

po<strong>de</strong> expressar a interiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le ou <strong>de</strong>la e é através do corpo<br />

que ele ou ela po<strong>de</strong>m receber, codificar e traduzir os estímulos do<br />

mundo “externo”. A crença na passivida<strong>de</strong> fundamental e na<br />

transparência do corpo é também subjacente a esta visão. Já que<br />

ele é visto como um meio, um transmissor ou suporte <strong>de</strong><br />

informação que vem <strong>de</strong> outro lugar (seja do “profundo” interior<br />

incorpóreo do sujeito, seja do mundo “exterior”), a especificida<strong>de</strong><br />

e concretu<strong>de</strong> do corpo <strong>de</strong>ve ser neutralizada, domada, feita para<br />

servir a outros propósitos. Se o sujeito quer obter conhecimento<br />

sobre o mundo externo, ter qualquer oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

entendido pelos outros, ou ser eficiente no mundo baseado em tal<br />

mo<strong>de</strong>lo, o corpo <strong>de</strong>ve ser visto como possuindo uma<br />

maleabilida<strong>de</strong> não resistente que distorce minimamente a<br />

informação, ou pelos menos a distorce <strong>de</strong> maneira sistemática e<br />

compreensível, <strong>de</strong> modo que seus efeitos possam ser levados em<br />

conta e que a informação possa ser corretamente recuperada. Sua<br />

corporalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser reduzida a uma transparência previsível,<br />

conhecida; seu papel constitutivo na formação <strong>de</strong> pensamentos,<br />

sensações, emoções e representações psíquicas <strong>de</strong>ve ser ignorado,<br />

assim como <strong>de</strong>ve ser ignorado seu papel como limiar entre o<br />

social e o natural.<br />

Essas parecem ser algumas das suposições implícitas, não<br />

ditas, em relação ao corpo na história da filosofia mo<strong>de</strong>rna e nas<br />

concepções do saber <strong>de</strong> modo mais geral. Se a teoria feminista<br />

aceita acriticamente essas suposições comuns, ela participa da<br />

<strong>de</strong>svalorização social do corpo que anda <strong>de</strong> mãos dadas com a<br />

opressão das mulheres.<br />

O monismo <strong>de</strong> Espinosa<br />

A tradição cartesiana foi mais influente do que qualquer<br />

outra tradição no estabelecimento da agenda da reflexão filosófica<br />

e na <strong>de</strong>finição do terreno, <strong>de</strong> maneira negativa ou positiva, para<br />

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