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Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero

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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />

observado, mas raramente explorado 19 ), mas também nas análises<br />

radicais do organismo no trabalho <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

neurofisiologistas (que serão discutidas no capítulo 3). No entanto,<br />

embora o monismo <strong>de</strong> Espinosa represente um afastamento<br />

significativo em relação ao dualismo cartesiano, ele tem seus<br />

próprios problemas e limitações. Neste contexto, vou me <strong>de</strong>ter em<br />

apenas dois. Em primeiro lugar, embora Espinosa seja um<br />

monista ao invés <strong>de</strong> um dualista, ele a<strong>de</strong>re a um paralelismo<br />

psicofísico que não po<strong>de</strong> explicar as interações causais ou outras<br />

entre a mente e o corpo: “O corpo não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a mente<br />

a pensar, nem a mente po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o corpo a mover-se ou a<br />

repousar, nem a nada mais, se é que há algo mais”. 20 Dado que<br />

ambos <strong>de</strong>vem ser vistos como necessariamente entrelaçados, não<br />

se po<strong>de</strong> por em questão sua interação. Em segundo lugar,<br />

Espinosa a<strong>de</strong>re à uma noção do corpo (e, <strong>de</strong> fato, do sujeito)<br />

como total ou holístico, um sistema completo e integrado (ainda<br />

que seja um sistema que cresça e se transforme). Os corpos<br />

orgânicos são o resultado da composição <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>s menores<br />

que, em conjunto, formam integrações e unificações <strong>de</strong> nível mais<br />

alto, através <strong>de</strong> vários processos <strong>de</strong> estratificação, uma<br />

complexida<strong>de</strong> cumulativa na qual o nível mais alto é o<br />

beneficiário <strong>de</strong> todos os membros que lhe são subordinados –<br />

uma posição não muito diferente da obsessão contemporânea<br />

com a noção <strong>de</strong> ecosistema como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais<br />

alta <strong>de</strong> vários sub-sistemas, eles próprios compostos <strong>de</strong><br />

microsistemas, integrados para formar totalida<strong>de</strong>s que são, por sua<br />

vez, totalizadas.<br />

Ambas essas suposições me parecem evitar as duas<br />

condições necessárias para uma reconfiguração feminista da<br />

noção <strong>de</strong> corpo: que os corpos humanos tem dimensões<br />

neurofisiológicas e psicológicas irredutíveis, cujas relações<br />

19 Ver NORRIS, Christopher. Spinoza and the Origins of Mo<strong>de</strong>rn Critical Theory.<br />

Oxford, Blackwell, 1991.<br />

20<br />

ESPINOSA. Ética, III, Prop. 2.<br />

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