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Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero

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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />

subjetivida<strong>de</strong> do que pelos materiais com os quais tal construção é<br />

feita. 26<br />

Este grupo compartilha várias características que o distingue<br />

claramente <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores intelectuais. Existe uma recusa,<br />

ou transgressão, do dualismo mente/corpo, que po<strong>de</strong> ser<br />

substituído pelo monismo ou por uma relação mais difícil, ainda<br />

que não contraditória, entre os termos binários, ou até uma<br />

confrontação direta dos termos polarizados. Não está claro que o<br />

holismo implícito em posições monistas realmente resolva a<br />

questão das relações entre a mente e o corpo. Por exemplo, a<br />

busca <strong>de</strong> ressonâncias e paralelismos entre a mente e o corpo<br />

(como os dualistas costumam fazer), po<strong>de</strong> ser menos interessante<br />

do que colocar a questão <strong>de</strong> suas dissonâncias, casos <strong>de</strong> colapso,<br />

fracasso ou <strong>de</strong>sintegração (o que será explorado num capítulo<br />

<strong>de</strong>ste livro). O corpo é visto como um objeto político, social e<br />

cultural por excelência e não o produto <strong>de</strong> uma natureza crua,<br />

passiva, que é civilizada, superada, polida pela cultura. O corpo é<br />

um tecido cultural e produção da natureza. Este grupo<br />

compartilha da a<strong>de</strong>são à idéia da diferença fundamental,<br />

irredutível, entre os sexos (o que não leva ao essencialismo, já que<br />

há um profundo reconhecimento e mesmo valorização das<br />

diferenças entre membros do mesmo sexo, ao invés <strong>de</strong> uma<br />

aceitação a-crítica <strong>de</strong> essências ou categorias universais). Sejam<br />

quais forem as diferenças raciais e <strong>de</strong> classe que dividam as<br />

mulheres 27 , as diferenças sexuais exigem reconhecimento e<br />

representação sociais, e são diferenças que nenhum tipo <strong>de</strong><br />

inovação tecnológica ou equanimida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica po<strong>de</strong><br />

26 A oposição entre essencialismo e construcionismo me parece falsa: o<br />

construcionismo apóia-se inerentemente no essencialismo, porque precisa tornar<br />

explícito quais são as matérias-primas <strong>de</strong> seus processos <strong>de</strong> construção - e eles<br />

não po<strong>de</strong>m ser construídos a não ser na suposição <strong>de</strong> um regresso infinito. Os<br />

blocos <strong>de</strong> construção, ou matérias-primas, <strong>de</strong>vem em alguns casos ser<br />

essencialistas. Em suma, o construcionismo <strong>de</strong> fato implica em essencialismo e<br />

nele se apóia.<br />

27 Ver SPELMAN, Elizabeth V. Woman as Body... Op. cit.<br />

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