Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />
superado, enquanto que para as que advogam os programas invitro,<br />
a maternida<strong>de</strong> é o objetivo, ou o objetivo mais importante,<br />
da feminilida<strong>de</strong>. São os lados positivo e negativo da capacida<strong>de</strong><br />
geradora das mulheres. 24<br />
As integrantes <strong>de</strong>sta primeira categoria, igualitária,<br />
compartilham várias crenças: uma visão do corpo como<br />
biologicamente <strong>de</strong>terminado e fundamentalmente alheio ao<br />
aprimoramento cultural e intelectual; uma distinção entre uma<br />
mente sexualmente neutra e um corpo sexualmente <strong>de</strong>terminado<br />
(e limitado).(No entanto, é significativo que a masculinida<strong>de</strong> do<br />
corpo masculino nunca seja vista como um limite à transcendência<br />
do homem; no melhor dos casos, a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu corpo –<br />
sua factualida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> – são características abstratas e<br />
universais que po<strong>de</strong>m restringir o potencial do homem para a<br />
transcendência 25 .) Uma idéia <strong>de</strong> que a opressão das mulheres (em<br />
concordância com os patriarcas) é conseqüência <strong>de</strong> elas serem<br />
contidas por um corpo ina<strong>de</strong>quado, isto é, feminino ou<br />
potencialmente maternal (não é simplesmente o contexto social e<br />
histórico do corpo, os limites sociais impostos a um corpo que <strong>de</strong><br />
outro modo seria autônomo, mas a fragilida<strong>de</strong> ou vulnerabilida<strong>de</strong><br />
24 Os anoréxicos parecem levar ao extremo o <strong>de</strong>sdém igualitário pela<br />
corporalida<strong>de</strong> feminina, em sua tentativa <strong>de</strong> pensar o sujeito como pura<br />
transcendência, uma pura vonta<strong>de</strong> livre das necessida<strong>de</strong>s e limitações corporais.<br />
Eles exibem uma espécie <strong>de</strong> megalomania que confun<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e realida<strong>de</strong>, a<br />
fantasia do sujeito auto-construído e completamente auto-controlado, o sujeito<br />
que não precisa <strong>de</strong> nada nem <strong>de</strong> ninguém.<br />
25 Mesmo no caso da opressão racista, é a cor ou a história étnica dos homens, e<br />
não sua masculinida<strong>de</strong>, o que os mantém na imanência. Neste sentido, pareceme<br />
que as afirmações <strong>de</strong> Elizabeth V. Spelman (Inessential Woman: Problems of<br />
Exclusion in Feminist Thought. Boston, Beacon Press, 1988), <strong>de</strong> que as<br />
especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> opressão <strong>de</strong> classe e <strong>de</strong> raça estão internamente vinculadas à<br />
opressão sexual (observação com a qual concordo), não obstante, não atingem<br />
seu objetivo: a questão é que os homens enquanto homens não são oprimidos;<br />
quando os homens são oprimidos, e é claro que muitos <strong>de</strong>les – possivelmente a<br />
maioria dos homens – são oprimidos, não é como homens que eles o são, mas<br />
como “colored”, ou como parte <strong>de</strong> uma classe, ou em termos <strong>de</strong> preferências<br />
sexuais ou <strong>de</strong> filiações religiosas.<br />
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