Corpos reconfigurados* - Instituto de Estudos de Gênero
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<strong>Corpos</strong> reconfigurados<br />
Vestígios do corpo<br />
Se as mulheres preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver maneiras autônomas<br />
<strong>de</strong> auto-compreensão e posições a partir das quais contestar o<br />
conhecimento e os paradigmas masculinos, a natureza específica e<br />
a integração (ou, quem sabe, falta <strong>de</strong>) entre o corpo feminino e a<br />
subjetivida<strong>de</strong> feminina, e suas semelhanças e diferenças dos<br />
corpos e das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s masculinas, <strong>de</strong>vem ser articuladas. A<br />
especificida<strong>de</strong> dos corpos <strong>de</strong>ve ser entendida mais em sua<br />
concretu<strong>de</strong> histórica do que na sua concretu<strong>de</strong> simplesmente<br />
biológica. De fato, não há corpo enquanto tal: existem apenas<br />
corpos – masculinos, femininos, negros, pardos, brancos, gran<strong>de</strong>s<br />
ou pequenos – e a gradação entre eles. Os corpos não po<strong>de</strong>m ser<br />
representados ou compreendidos como entida<strong>de</strong>s em si mesmos<br />
ou simplesmente num continuum linear com seus extremos<br />
polares ocupados por corpos masculinos ou femininos (com as<br />
várias gradações <strong>de</strong> indivíduos “intersexuados” no meio), mas<br />
como um campo, um continuum bi-dimensional no qual a raça (e<br />
possivelmente até a classe, a casta ou a religião) formam<br />
especificações corporais.<br />
Existem sempre apenas tipos específicos <strong>de</strong> corpos,<br />
concretos nas suas <strong>de</strong>terminações, com um sexo, uma raça e uma<br />
fisionomia particulares. Quando um corpo (no Oci<strong>de</strong>nte, o corpo<br />
masculino branco, jovem, saudável) assume a função <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
ou i<strong>de</strong>al – o corpo humano – para todos os outros tipos <strong>de</strong> corpo,<br />
sua dominação <strong>de</strong>ve ser solapada através da afirmação<br />
<strong>de</strong>safiadora <strong>de</strong> uma multiplicida<strong>de</strong>, um campo <strong>de</strong> diferenças, <strong>de</strong><br />
outros tipos <strong>de</strong> corpos e subjetivida<strong>de</strong>s. Uma série <strong>de</strong> tipos i<strong>de</strong>ais<br />
<strong>de</strong> corpos <strong>de</strong>ve ser postulada para assegurar a produção,<br />
projeção, imagens i<strong>de</strong>ais e tipos corporais em disputa, aos quais<br />
cada indivíduo, à maneira <strong>de</strong>le ou <strong>de</strong>la, possam aspirar. Apenas<br />
quando a relação entre a mente e o corpo for a<strong>de</strong>quadamente<br />
repensada, po<strong>de</strong>remos compreen<strong>de</strong>r as contribuições do corpo<br />
para a produção <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> conhecimento, regimes <strong>de</strong><br />
representação, produção cultural e troca sócio-econômica. Se a<br />
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