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— Tive receio de chegar perto de um jovem, pois minha<br />
presença poderia impedi-lo de realizar o padrão diário<br />
de sua vida, a correria em busca do nada. Aproximei-me,<br />
então, de um velho. Mais tarde fiquei sabendo que se chamava<br />
Alcides. Ele ficou emocionado com a oportunidade<br />
rara de falar de si <strong>para</strong> alguém:<br />
— Já viajei por este Brasil afora. Conheço até o Amazonas.<br />
Comecei a trabalhar aos oito anos, como ajudante de<br />
caminhão. Meu sonho era, um dia, possuir um só meu. Só<br />
consegui comprar um caminhão aos quarenta anos, ou seja,<br />
quando já era velho. Fui assaltado na estrada, roubaram<br />
meu caminhão e só não me mataram porque eu me ajoelhei<br />
no chão, como se estiv<strong>esse</strong> diante de Deus. Chorei, implorei<br />
a eles por minha vida. Uma vida que depois percebi que<br />
não valia nada. Largaram-me de dó, por piedade e riram<br />
de mim. Um chegou a urinar no meu rosto. Eu nada fiz.<br />
Chorei. Hoje arrependo-me do que fiz. Pedir pelo amor de<br />
Deus a um bandido, ajoelhar aos seus pés, uma humilhação<br />
que jamais esquecerei. Sofreria menos se tiv<strong>esse</strong> morrido ali<br />
mesmo. Na verdade não me libertaram. Encarceraram-me,<br />
<strong>para</strong> sempre, na pior das prisões: minha própria cabeça.<br />
Minha mente jamais esqueceu minhas ações, está sempre a<br />
me acusar de covarde e medroso. A desgraçada de minha<br />
cabeça me faz mais mal do que os bandidos.<br />
— Depois disso, não fui mais ninguém e nem podia<br />
ser. Sou um verme, um coitado que não merece viver, mas<br />
que não tem coragem nem <strong>para</strong> morrer...Você me entende,<br />
não é? Estou aposentado. Espero a morte, minha luz está<br />
fraca, quase apagando.<br />
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