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Dádiva e Emoção - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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perspectiva teórica distinta, Simmel define sua concepção<br />

<strong>da</strong> sociologia com base no par forma-motivação, elegendo<br />

a primeira como objeto por excelência <strong>da</strong> sociologia.<br />

Embora admitindo a indissociabili<strong>da</strong>de empírica destas<br />

duas dimensões <strong>da</strong>s interações humanas, Simmel exclui<br />

as motivações do rol de objetos possíveis <strong>da</strong> sociologia,<br />

afirmando-as como pertencentes à alça<strong>da</strong> <strong>da</strong> psicologia.<br />

Paralelamente a estes “programas”, contudo,<br />

encontramos em suas obras esforços de<br />

encompassamento <strong>da</strong>s emoções como aspectos <strong>da</strong><br />

experiência individual suscetíveis a uma análise<br />

sociológica. É o caso, por exemplo, <strong>da</strong> atenção <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

Simmel aos sentimentos do amor (1993) e <strong>da</strong> fideli<strong>da</strong>de e<br />

<strong>da</strong> gratidão (1964), e também <strong>da</strong> reflexão durkheimiana<br />

sobre o sentimento <strong>da</strong> efervescência presente nos<br />

fenômenos de massa (1996).<br />

Entre os autores clássicos, talvez o texto mais<br />

eluci<strong>da</strong>tivo para esta reflexão acerca do lugar <strong>da</strong>s<br />

emoções como objeto de estudo seja o pequeno texto de<br />

Marcel Mauss intitulado “A Expressão Obrigatória dos<br />

Sentimentos”. Neste trabalho, Mauss analisa um conjunto<br />

de ritos funerários australianos, abor<strong>da</strong>ndo o problema do<br />

caráter coletivo <strong>da</strong> expressão dos sentimentos. A análise<br />

dos <strong>da</strong>dos etnográficos evidencia a dimensão de<br />

linguagem desta expressão, <strong>da</strong>do o caráter ritualizado e<br />

sincronizado <strong>da</strong>s expressões de tristeza e pesar.<br />

Entretanto, a análise de Mauss não deduz <strong>da</strong>í uma<br />

afirmação <strong>da</strong> natureza coercitiva do ritual que<br />

constrangeria o sujeito a demonstrar o que “não sentiria”;<br />

para ele, o que mu<strong>da</strong> é a “etiologia” do sentimento, o<br />

qual, ao invés de provir espontaneamente do íntimo de<br />

ca<strong>da</strong> indivíduo, é gerado “de fora para dentro”, o que - e<br />

neste ponto fica evidente o refinamento <strong>da</strong> análise de<br />

Mauss - em na<strong>da</strong> enfraquece a ver<strong>da</strong>de do sentimento<br />

experimentado pelo sujeito. Mauss conclui sua análise<br />

afirmando ser a expressão dos sentimentos uma<br />

linguagem, que funcionaria como um movimento de mãodupla,<br />

em que o indivíduo, ao expressar o que sente para<br />

os outros segundo um código compartilhado, neste<br />

movimento expressaria seus sentimentos também para si<br />

mesmo. [4]<br />

Este problema <strong>da</strong> tensão entre obrigatório e<br />

espontâneo é também o fio condutor <strong>da</strong>s reflexões de<br />

Marcel Mauss sobre a dádiva. A questão que orienta o<br />

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