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Dádiva e Emoção - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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eclamados, disse um funcionário quando o entrevistado<br />

foi saber do que restou de sua companheira.<br />

O enterro anônimo e não ritualizado de sua mulher,<br />

a vitória <strong>da</strong> lógica utilitária moderna <strong>da</strong> urbe sobre o<br />

tempo cíclico e singular do sofrimento do narrador rompe<br />

as últimas fronteiras <strong>da</strong>s tradições, colhi<strong>da</strong>s em uma<br />

memória ancestral conformadora de sua pessoa, o<br />

entrevistado, ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O processo de integração<br />

próprio do trabalho de luto se vê assim interrompido, não<br />

há mais a que se integrar, o fim do mundo comum, reino<br />

ancestral que teimava em existir, embora fragmentado,<br />

na circulari<strong>da</strong>de social do cotidiano com a cultura<br />

utilitária, banalizou a experiência pessoal e social que o<br />

fazia pessoa, enquanto ser relacional. Restou o indivíduo<br />

na exclusão, e a ci<strong>da</strong>de, reino <strong>da</strong> lógica utilitária, que<br />

coisifica seus personagens mol<strong>da</strong>ndo-os num espaço<br />

uniformizador e linear.<br />

As palavras do narrador parecem <strong>da</strong>r uma forma<br />

conclusiva a este primeiro caso: "Perambular é o comum<br />

de nóis. Somos restos, na<strong>da</strong> mais ...". Resta, para aqueles<br />

que buscam um sentido prospectivo para o humano no<br />

capitalismo, talvez, acreditar, como Maffesoli (1987, p.<br />

180), na identi<strong>da</strong>de de camaleão do homem comum, e<br />

esperar que eles saibam "aproveitar a sombra para poder<br />

sobreviver; (já que) é nisto que reside o princípio de suas<br />

forças".<br />

Segundo Caso<br />

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O segundo caso analisado compreende e se<br />

desenvolve a partir <strong>da</strong> narrativa de uma mulher, faxineira,<br />

30 anos, pobre, com ren<strong>da</strong> de até três salários mínimos,<br />

residente em Cuiabá, Mato Grosso. Busca mostrar o<br />

processo de exclusão <strong>da</strong> pobreza aos processos sociais <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, a partir de uma vivência no urbano no seu lado<br />

mais cruel, <strong>da</strong> violência e <strong>da</strong> prepotência institucional no<br />

trato dos homens comuns.<br />

O depoimento é aqui utilizado como forma de<br />

entendimento <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> situação do processo<br />

de individualização no Brasil atual. Processo mesclado não<br />

apenas de ambivalência entre costumes tradicionais e<br />

novas sensibili<strong>da</strong>des emergentes, mas também, e<br />

sobretudo, por uma prática autoritária e de exclusão que<br />

retira qualquer possibili<strong>da</strong>de exercício de vivência do luto,<br />

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