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Dádiva e Emoção - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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crítica a Mauss como um antropólogo “mistificado pelo nativo”;<br />

Bourdieu (1986, 1977), com sua tentativa de “mediação” entre ambos<br />

com base na noção de uma “dupla ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> dádiva”, ancora<strong>da</strong> na<br />

importância do intervalo de tempo transcorrido entre doação e<br />

retribuição; e Godelier (2001), com sua crítica a Lévi-Strauss pela<br />

primazia excessiva atribuí<strong>da</strong> ao registro simbólico <strong>da</strong> troca, em<br />

detrimento do registro imaginário. Para um comentário <strong>da</strong> trajetória do<br />

“Ensaio sobre a <strong>Dádiva</strong>” na história do pensamento antropológico, ver<br />

Sigaud (1999).<br />

[6] Sublinho aqui aquele que me parece ser o aspecto central recorrente<br />

nestes depoimentos. A própria leitura, contudo, deixa evidente que a<br />

vivência desta coerção não é idêntica para todos os entrevistados,<br />

cujas maneiras de li<strong>da</strong>r (inclusive emocionalmente) com esta<br />

percepção <strong>da</strong>s <strong>da</strong>tas como uma coação apresenta nuances. Estas<br />

variações podem ser pensa<strong>da</strong>s como um exemplo <strong>da</strong>quilo a que Abu-<br />

Lughod (1993), discutindo os dilemas teóricos colocados pelo conceito<br />

de cultura à antropologia, refere-se como sendo uma coesão fictícia - a<br />

postura teórica que supõe ser a cultura um código de significados<br />

vivenciado <strong>da</strong> mesma forma por todos os seus membros, postura essa<br />

que permitiu aos antropólogos falarem, por tanto tempo, em “os<br />

javaneses”, “os japoneses” ou “os trobriandeses”.<br />

[7] Esta percepção encontra<strong>da</strong> no senso comum do social como<br />

instância coercitiva <strong>da</strong> vontade individual pode ser pensa<strong>da</strong> como uma<br />

espécie de “cultura sociológica”. Penso aqui em um fenômeno análogo<br />

à “cultura psicanalítica” analisa<strong>da</strong> por Figueira (1985) como uma<br />

diluição, no senso comum, de conceitos e idéias formulados pelos<br />

teóricos <strong>da</strong> psicanálise. Teríamos assim uma diluição de noções<br />

clássicas <strong>da</strong> sociologia, tais como a concepção durkheimiana do fato<br />

social como algo que existe fora de ca<strong>da</strong> indivíduo, sendo capaz de<br />

coagi-lo. Esta versão diluí<strong>da</strong> dos conceitos sociológicos passaria então<br />

a integrar a visão de mundo dos sujeitos, sendo aciona<strong>da</strong> para a<br />

interpretação <strong>da</strong> própria experiência. Devido à exigüi<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos,<br />

contudo, esta idéia deve aqui permanecer no terreno <strong>da</strong> hipótese.<br />

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