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Dádiva e Emoção - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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de sua companheira. Revelam, enfim, o luto como uma<br />

relação social, como uma forma de expressão que envolve<br />

um distanciamento do real ou mesmo uma ação<br />

autônoma frente a ele, criando um movimento social<br />

instituinte através de uma reflexão do presente imediato<br />

<strong>da</strong> per<strong>da</strong>. Torna o indivíduo sujeito à per<strong>da</strong> passível de<br />

um estado anômico, de onde vê o mundo e a si próprios<br />

como sem sentido no imediato momento do seu<br />

sofrimento e início de sua elaboração e introjeção de seu<br />

per<strong>da</strong>.<br />

A morte de sua companheira, assim, mesmo que<br />

socialmente banal, adquire uma essenciali<strong>da</strong>de específica<br />

se analisa<strong>da</strong> pelo lado fragmentário do cotidiano. O luto<br />

aqui narrado e as representações <strong>da</strong> morte física e social<br />

por ele evidencia<strong>da</strong>s reportam para um quadro de<br />

memória social, através <strong>da</strong> dor individual, embora<br />

temporal e espacialmente situa<strong>da</strong>.<br />

O luto como forma anômica de expressão refaz o<br />

percurso <strong>da</strong> memória personifica<strong>da</strong> pela per<strong>da</strong> do ente<br />

querido, trazendo à tona a tensão entre os espaços de<br />

singularização e uniformização no social, e os tempos<br />

cíclico e linear que em on<strong>da</strong>s mobilizam o narrador em<br />

sua dor. Decodificam o natural dos códigos socialmente<br />

impostos, pondo em evidência as normas, ou a lei moral<br />

como um negócio de morte (LEITES, 1993, p.78).<br />

O movimento <strong>da</strong> dor no trabalho de luto ao<br />

processar o teste <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que a morte de sua<br />

companheira propicia, opera uma síntese do conjunto <strong>da</strong>s<br />

lembranças que o fazem pessoa, que constrói a sua<br />

trajetória. Elabora o princípio, que no cinema é chamado<br />

de decupagem (OLIVEIRA, 1993, p.82), onde se reúne<br />

tudo o que se quer guar<strong>da</strong>r, construindo um tempo de<br />

outra maneira: um tempo cíclico, privado e ao mesmo<br />

tempo social, através do qual se vai diretamente às coisas<br />

que se quer ver, pequenas coisas perdi<strong>da</strong>s na memória,<br />

que até então na<strong>da</strong> representavam para sí e que a per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> companheira põe significação, deixando outras de lado.<br />

Estas pequenas coisas perdi<strong>da</strong>s e agora<br />

significantes no esforço de mediação do eu para consigo<br />

próprio, e do eu com o mundo externo, mobilizado pelo<br />

trabalho de luto, complexificam o tempo social e<br />

psicológico do processo de individuação. A presença do<br />

corpo morto, o sentimento de per<strong>da</strong> e de culpa, ao<br />

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