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Dádiva e Emoção - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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Esta capaci<strong>da</strong>de dos objetos trocados de<br />

expressarem emoções aparece também em outras<br />

ocasiões, como na troca de presentes entre membros de<br />

uma mesma família em ocasiões regulares. Neste<br />

contexto, os presentes seriam uma forma de “renovação”<br />

dos sentimentos amorosos:<br />

“Os membros <strong>da</strong> família são pessoas de quem se pode esperar<br />

apoio, acredita-se, porque seus sentimentos amorosos são<br />

<strong>da</strong>dos como naturais. A troca de presentes ao longo do ciclo<br />

anual de ocasiões regulares contribui para a renovação<br />

constante destas emoções. Pessoas como C. W. atribuem assim<br />

uma importância considerável a essas trocas, porque ‘mostrar a<br />

eles que você os ama’ fornece evidências concretas e visíveis de<br />

estados emocionais invisíveis os quais, sem isso, se poderia<br />

suspeitar haverem se enfraquecido.” (p. 84, tradução minha)<br />

Miller (1993) discute também a relação entre<br />

dádiva e sentimentos, apontando a capaci<strong>da</strong>de dos<br />

objetos trocados não apenas de expressar os sentimentos<br />

do doador como também de suscitar sentimentos no<br />

receptor (e também, em última instância, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> reação do receptor de suscitar sentimentos nãopretendidos<br />

no doador). Analisando um episódio ocorrido<br />

por ocasião de Valentine’s Day - em que sua filha pequena<br />

recebeu de um vizinho um brinquedo caro, só tendo para<br />

ofertar em troca seus desenhos e um biscoito -, Miller<br />

discute os sentimentos de humilhação que supõe terem<br />

sido suscitados na mãe do menino e os próprios<br />

sentimentos de embaraço diante <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de entre os<br />

presentes.<br />

Estes sentimentos gerados pelas dádivas -<br />

pretendidos ou não - não se dão contudo de acordo com a<br />

livre iniciativa dos indivíduos, mas obedecem a uma<br />

gramática socialmente regula<strong>da</strong>. Na visão de Hochschild<br />

(1979, apud Cheal, 1988), nas interações existiriam<br />

“regras de sentimentos”, as quais “definem as emoções<br />

legítimas considera<strong>da</strong>s coerentes com tipos específicos de<br />

situações sociais” (p. 61, tradução minha).<br />

É justamente a quebra <strong>da</strong>s regras do presentear<br />

por parte <strong>da</strong> mãe do menino que, na visão de Miller,<br />

suscita os sentimentos de humilhação e embaraço<br />

presentes no episódio narrado. Este é o ponto<br />

desenvolvido pelo autor em um estudo comparativo sobre<br />

as regras do presentear no universo <strong>da</strong>s sagas islandesas<br />

e nos Estados Unidos contemporâneos.<br />

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