13.04.2013 Views

Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina

Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina

Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

entre os intelectuais foi com freqüência a própria representação do intelectual. 66 Se Maurice<br />

Barres foi um chauvinista, seu conterrâneo Julien Benda foi quem o fustigou por abandonar<br />

os píncaros do universalismo para cair no mundo prosaico do nacionalismo francês. Se Sartre<br />

foi o casmurro paladino do engajamento político, Raymond Aron foi seu férreo antípoda.<br />

Mesmo assim, coincidiram no momento <strong>de</strong> combater o colonialismo. Na Montanha Mágica,<br />

<strong>de</strong> Thomas Mann, a polêmica entre dois homens <strong>de</strong> cultura adquiriu uma tonalida<strong>de</strong> ao<br />

mesmo tempo trágica e burlesca. Enquanto Settembrini é uma catapulta <strong>de</strong> eloqüência<br />

blasfema, seu opositor, Naphta, é um jesuíta estóico e obscurantista. Da mesma forma, ao<br />

longo do século XX, as diferentes atitu<strong>de</strong>s, opiniões, posicionamentos políticos e i<strong>de</strong>ológicos<br />

tencionaram o campo intelectual, provocando cisões e rupturas. Clérigo ou partisan? Eis uma<br />

disjuntiva que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como <strong>de</strong>marcadora da atuação dos atores sociais ligados à<br />

cultura no século XX. Para Benda, a participação dos intelectuais na vida pública <strong>de</strong>notava o<br />

que ele chamou <strong>de</strong> la trahison <strong>de</strong>s clercs. Em seu texto homônimo, trata <strong>de</strong> apedrejar a<br />

interferência dos “clérigos” em assuntos do Estado. Não lhe era aceitável abandonar a torre <strong>de</strong><br />

marfim, usina <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> idéias e princípios universais, para <strong>de</strong>scer ao mundo trivial e<br />

republicano das lutas políticas.<br />

No primeiro capítulo, <strong>de</strong>verei refletir sobre a “geração crítica” uruguaia, como a<br />

<strong>de</strong>signou Angel Rama. 67 Pretendo enten<strong>de</strong>r como Quijano, representante notório <strong>de</strong>ssa<br />

geração, questionou a narrativa histórica oficial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o periodismo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e que<br />

releituras fez dos símbolos sacralizados da história uruguaia. Exposto como está, o tema<br />

parece não ter contornos bem <strong>de</strong>finidos. Pois bem, para ser mais preciso, apresento em linhas<br />

gerais os objetivos <strong>de</strong>sse capítulo <strong>de</strong> abertura, que dividi em três momentos. No primeiro,<br />

tenho como objetivo discutir sobre questões relacionadas à historiografia, ou seja, à escrita da<br />

história e seus condicionamentos políticos e i<strong>de</strong>ológicos. Irei me <strong>de</strong>bruçar,<br />

concomitantemente, sobre um dos “lugares <strong>de</strong> memória” mais disputados na socieda<strong>de</strong><br />

uruguaia, José Artigas, o prócer das lutas do processo <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, cuja herança<br />

simbólica é reivindicada indiscriminadamente seja por correntes conservadoras, seja por<br />

setores progressistas. Para tanto, <strong>de</strong>verei fazer a análise <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> artigos escritos por<br />

Carlos Quijano, o diretor <strong>de</strong> <strong>Marcha</strong>, a respeito <strong>de</strong> Artigas. Por fim, direcionarei o foco da<br />

análise sobre os <strong>Cua<strong>de</strong>rnos</strong> <strong>de</strong> <strong>Marcha</strong>, para refletir acerca das releituras que seus<br />

66 Passim SAID, Edward W. Representações do intelectual. As conferências Reith <strong>de</strong> 1993. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2005.<br />

67 RAMA, Ángel. Op. cit., (1972).<br />

38

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!