Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina
Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina
Cuadernos de Marcha - Universidade Federal de Santa Catarina
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
contornos que <strong>de</strong>ram forma ao discurso dos <strong>Cua<strong>de</strong>rnos</strong> sobre a história. Ainda que as<br />
consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Quijano sobre Artigas predominem em outros espaços que não os<br />
<strong>Cua<strong>de</strong>rnos</strong>, isso não indica qualquer silenciamento ou omissão do periódico. É mais lícito<br />
afirmar que o vulto do pensamento <strong>de</strong> Quijano, assim como o <strong>de</strong> seus colaboradores mais<br />
próximos, não importa o lugar e o momento em que tenham surgido, projetam-se<br />
intertextualmente e planam explícita ou subliminarmente sobre os textos publicados nos<br />
<strong>Cua<strong>de</strong>rnos</strong>, um tipo <strong>de</strong> metaescrita que produz o trânsito das idéias <strong>de</strong> um lugar - no tempo e<br />
no espaço - para outro.<br />
Antes <strong>de</strong> avançar sobre a análise das proposições <strong>de</strong> Quijano a respeito <strong>de</strong> Artigas, é<br />
válido insistir na indagação sobre a escrita da história, sobre o peso da tradição nessa escrita.<br />
O território <strong>de</strong>ssa indagação é muito espinhoso para que me atreva a sondá-lo em toda a sua<br />
profundida<strong>de</strong>. Seria um esforço que exigiria um espaço reservado. Um espaço não somente<br />
ilustrativo ou secundário, mas exclusivo, em que se pu<strong>de</strong>sse perscrutar com maior<br />
proprieda<strong>de</strong> e conteúdo os quadrantes <strong>de</strong>sse território quase intangível. Quero apenas fazer<br />
algumas consi<strong>de</strong>rações que me conduzam a uma melhor interpretação e compreensão <strong>de</strong>ssas<br />
proposições <strong>de</strong> Quijano e <strong>de</strong> suas críticas sobre as narrativas oficiais. Buscarei mostrar como<br />
Quijano, ciente da vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas narrativas e das falácias das construções<br />
historiográficas, assume a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um dinamitador <strong>de</strong> mitos nacionais. O Artigas que ele<br />
reivindica não é o <strong>de</strong> bronze que domina imponente a Praça In<strong>de</strong>pendência, em Montevidéu.<br />
Muito pelo contrário, é <strong>de</strong>sse que ele quer se distanciar: “Artigas no es nuestro y la<br />
reivindicación provinciana lo empequeñece. Es <strong>de</strong> todos los <strong>de</strong> estas tierras <strong>de</strong> la patria<br />
gran<strong>de</strong>. Está más allá <strong>de</strong> su tiempo; y también más allá <strong>de</strong> su solar”. 70 Seu Artigas encarna um<br />
<strong>de</strong>safio ainda não ultrapassado, o do nacionalismo fe<strong>de</strong>ralista, que nos dias <strong>de</strong> hoje irrompe<br />
redivivo no conceito <strong>de</strong> Regionalismo Autônomo. Esse <strong>de</strong>safio é ainda o da integração da<br />
América Latina, pedra-<strong>de</strong>-toque do projeto político que Quijano orquestrou: “Artigas es la<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia total y la república <strong>de</strong>mocrática; la nación en la confe<strong>de</strong>ración; la producción<br />
frente al intermediario; los frutos <strong>de</strong> la tierra para los que sobre ella, penan”. 71 Ao apresentar a<br />
crítica do diretor dos <strong>Cua<strong>de</strong>rnos</strong> à narrativa oficial, seguida <strong>de</strong> uma interpretação, não<br />
pretendo sustentar sua in<strong>de</strong>fectibilida<strong>de</strong>. Mesmo escorado no critério da in<strong>de</strong>pendência crítica,<br />
Quijano não estava isento das cargas da tradição; sua voz soava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um diapasão, isto é,<br />
70 QUIJANO, Carlos. Patria chica y patria gran<strong>de</strong>. Publicado originalmente em <strong>Marcha</strong>, 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1974. In:<br />
QUIJANO, Carlos. Op. cit., (1989), p. 260.<br />
71 QUIJANO, Carlos. El hombre solo. Publicado originalmente em <strong>Marcha</strong>, 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1964. In: QUIJANO,<br />
Carlos. Op. cit., (1989), p. 188.<br />
42