Prêmio Territórios Quilombolas - Ministério do Desenvolvimento ...
Prêmio Territórios Quilombolas - Ministério do Desenvolvimento ...
Prêmio Territórios Quilombolas - Ministério do Desenvolvimento ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ecuperação da minha saúde. Eu tomava to<strong>do</strong> dia um copo de remédio. Também me<br />
levaram para o benze<strong>do</strong>r, mas quase não adiantou. Eu fui pioran<strong>do</strong> até que minha<br />
mãe desanimasse de mim. Depois de quatro meses de luta, eu estava entre a vida e<br />
a morte e, então, apareceu uma visita que disse para minha mãe que eu estava com<br />
amarelão, que é um verme que suga to<strong>do</strong> o sangue da pessoa. Esta visita disse que<br />
só a lumbrigueira “esquilostomina” é capaz de acabar com esta verme. Disse que se<br />
mamãe não desse este remédio, eu morreria. Minha mãe comprou o remédio, e no dia<br />
seguinte me deu seis comprimi<strong>do</strong>s às 5 horas da madrugada. Às 10 horas, ela me deu<br />
laxante. Eu joguei muito verme, e no dia seguinte fi quei toman<strong>do</strong> canja de arroz sem<br />
sal. No dia seguinte, deram-me mais seis comprimi<strong>do</strong>s no mesmo horário, e também<br />
o laxante. Depois, explodiu uma bolsa de ovos de verme, e eu evacuei tu<strong>do</strong> que tinha<br />
no meu intestino.<br />
To<strong>do</strong>s fi caram admira<strong>do</strong>s com a minha recuperação depois de <strong>do</strong>is anos de sofrimento.<br />
Comecei a trabalhar com 7 anos, e até os 11 anos trabalhei de babá em casa de família.<br />
Aos onze anos, comecei a trabalhar na roça e fi quei um ano e seis meses na casa <strong>do</strong> meu<br />
tio Luiz Furquim, irmão de meu pai, onde eu aprendi muitas histórias <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />
Aos 13 anos, eu resolvi enfrentar outro desafi o - eu não sabia ler nem escrever porque<br />
não tinha escola perto para eu estudar, mas eu sonhava com o dia que eu aprenderia<br />
a ler e escrever. O pai da minha colega Servina pagava pensão para ela morar no Castelhano<br />
e assim poder estudar. Ela estu<strong>do</strong>u até a terceira série, e depois voltou para a<br />
casa. Servina falou que poderia me ensinar desde que seu pai deixasse. Ele concor<strong>do</strong>u,<br />
desde que fosse à noite.<br />
Eu e minha irmã trabalhávamos o dia to<strong>do</strong> de segunda à sexta-feira para garantir o<br />
pão. Saíamos para o trabalho às 5 horas da manhã, e caminhávamos por 40 minutos.<br />
Só chegávamos em casa lá pelas 9 horas da noite. Portanto, eu não tive me<strong>do</strong> das difi -<br />
culdades que certamente encontraria.<br />
Continuei trabalhan<strong>do</strong> fortemente, ganhava dinheiro e separava a metade para o sustento<br />
da família, e a outra metade para comprar material para estu<strong>do</strong> como caderno,<br />
lápis, borracha, lampião e querosene.<br />
Então, eu comecei a estudar. Estudava das 10 horas da noite até uma hora da manhã, e<br />
às quatro e meia da manhã eu já estava acordada. Seguia para casa rapidamente para<br />
não perder o horário de chegar na casa <strong>do</strong> patrão.<br />
Enfrentei chuva, lama, noite escura, madrugada fria, sono, cansaço, mas valeu a pena.<br />
Rapidamente, eu aprendi. Aos 17 anos, eu fui estudar no colégio das irmãs em Apiaí.<br />
Lá, eu aprendi muito mais e, aos 18 anos, fui catequista na comunidade vizinha.<br />
Aos 19 anos, eu me casei. Nós <strong>do</strong>is temos a mesma idade. Casamos no dia 17 de outubro<br />
de 1962.<br />
17<br />
Minha missão – Depoimento