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Prêmio Territórios Quilombolas - Ministério do Desenvolvimento ...

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Cambará na década de 1880<br />

Os relatos referiam a origem de Cambará fazen<strong>do</strong> menção a uma medição judicial em<br />

que terras teriam si<strong>do</strong> <strong>do</strong>adas pelos “nhanhôs” a seus escravos. Com essa informação,<br />

conseguimos localizar a medição da Sesmaria da Palma, datada de 1886, no Arquivo<br />

Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (Apers). 5 Localizada parte em Cachoeira <strong>do</strong><br />

Sul, e parte em Caçapava <strong>do</strong> Sul, a referida medição foi solicitada por Francisco Corrêa<br />

da Silva. Este fora cita<strong>do</strong> por diversas pessoas como um <strong>do</strong>s grandes senhores de escravos<br />

da região. Alguns “antigos” teriam si<strong>do</strong> cativos de Francisco Corrêa da Silva.<br />

Logo na folha 2 <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento é apresenta<strong>do</strong> um requerimento de Francisco Corrêa<br />

solicitan<strong>do</strong> a medição, divisão e demarcação <strong>do</strong>s quinhões de cada um <strong>do</strong>s condôminos<br />

da sesmaria. 6 Depois, toda sorte de meios comprobatórios das posses são apresenta<strong>do</strong>s<br />

por diversos condôminos. Quan<strong>do</strong> a partilha aritmética é feita, o agrimensor<br />

responsável pela medição observa que restam algumas áreas que não foram medidas,<br />

demarcadas e partilhadas, pelo fato de seus ocupantes não se fazerem representar nos<br />

autos (fl .595).<br />

Daí em diante, outros condôminos são representa<strong>do</strong>s nos autos. Em fevereiro de 1888,<br />

<strong>do</strong>is meses depois de encerrada a partilha, os herdeiros de Joaquim Antonio, preto<br />

forro nasci<strong>do</strong> na África, apresentam meios comprobatórios de suas posses – “um pedaço<br />

de campos e matos com meia quadra de sesmaria, e uma chácara de morada, com<br />

quarenta braças de frente e fun<strong>do</strong>” (fl .694-697). Joaquim Antônio comprara a chácara<br />

em 1845, compra esta registrada em um “papel de mão”. Dez anos depois, adquirira o<br />

pedaço de campos e matos. 7<br />

Os herdeiros de João Antônio também se fazem representar nos autos (fl .745-748). A<br />

leitura <strong>do</strong>s autos permitiu descobrir que João Antônio adquiriu um quinhão de terras<br />

em 1835. A escritura de mão em que consta a compra, com as divisas discriminadas,<br />

foi extraviada <strong>do</strong> poder de seu fi lho, Ignácio João. Diante disso, os herdeiros de João<br />

5 Apers. Cartório Cível e Crime. Medição. Cachoeira <strong>do</strong> Sul. N°699, M 18, E 54. 1886. Nesta seção, a<br />

referência às folhas em que as informações foram retiradas deste <strong>do</strong>cumento será feita entre parênteses.<br />

6 A sesmaria da Palma foi concedida a Manoel Gomes Porto em 1797. Pelo visto, as sucessivas heranças,<br />

partilhas e transmissões no decorrer de 90 anos confi guraram um território com limites incertos e partilha<strong>do</strong>s.<br />

7 Conseguimos estabelecer uma ligação genealógica entre Joaquim Antonio e os atuais mora<strong>do</strong>res de<br />

Cambará valen<strong>do</strong>-nos de uma série de meios. Em primeiro lugar, as genealogias elaboradas pelos próprios<br />

mora<strong>do</strong>res. Em seguida, tratamos de achar correspondências entre os antepassa<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>s e os <strong>do</strong>cumentos<br />

escritos. Além da medição da sesmaria da Palma, mais três outros <strong>do</strong>cumentos permitiram estabelecer a vinculação<br />

genealógica com Joaquim Antonio. A carta de liberdade <strong>do</strong> mesmo, datada de 1835 (Apers. Livro de registro de<br />

notas. 1. Tabelionato de Caçapava <strong>do</strong> Sul. Livro 1, fun<strong>do</strong> 11, estante 26. 1834-1849. fl .94 v.), o inventário de Joaquim<br />

Antonio e sua esposa (Apers. Inventário de Joaquim Antonio Gonçalves e Florencia Simões Gonçalves. Cartório<br />

Cível e Crime. Cachoeira. N°106, M 3, E 54. 1886) e o assento de batismo de alguns <strong>do</strong>s fi lhos <strong>do</strong> casal (Mitra<br />

Diocesiana de Cachoeira <strong>do</strong> Sul (MDCS). Livro de batismos. Caçapava. Livro n.3B. (1833-1849). Fls.207, 207v e<br />

268). É importante salientar que localizamos mais duas posses adjacentes às de Joaquim e João Antonio nos autos<br />

de medição, também pertencentes a pretos forros. Porém, só conseguimos estabelecer vinculações com os <strong>do</strong>is já<br />

aludi<strong>do</strong>s.<br />

47<br />

Do passa<strong>do</strong> geral ao passa<strong>do</strong> que se presentifica.<br />

Memória e história em uma comunidade negra rural

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