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Prêmio Territórios Quilombolas - Ministério do Desenvolvimento ...

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Em um segun<strong>do</strong>, minha irmã tirou uma criança de dentro de mim. Eu estava muito<br />

fraca e minha vista escureceu. Quatro dias depois, eu vi meu fi lhinho. Minha irmã me<br />

explicou o que tinha aconteci<strong>do</strong>: a criança tinha um tumor e tinha um la<strong>do</strong> da cabeça<br />

maior que o outro, o que estava impedin<strong>do</strong> que a criança nascesse. Meu fi lho fi cou com<br />

a cabeça marcada, e apesar da intervenção de Nossa Senhora, ele é um devoto de Santo<br />

Expedito. Ele carrega na carteira a imagem desse santo protetor de sua vida. Eu fi co<br />

admirada dele ser tão devoto.<br />

Desta forma, eu e o meu mari<strong>do</strong> tivemos 8 fi lhos, 7 homens e uma mulher. Meus fi lhos<br />

são muito obedientes e educa<strong>do</strong>s. Nunca deram uma má resposta para nós, e tratam<br />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> muito bem.<br />

Depois de um ano, eu recuperei a minha saúde. Sofri muito. Eu já era líder da igreja<br />

desde 1987. Fiquei sem força nas pernas. Não fi cava de pé sozinha, mas meus sobrinhos<br />

e meu cunha<strong>do</strong>, Francisco, levavam-me até a igreja, e me traziam de volta.<br />

Assim mesmo <strong>do</strong>ente, eu não laguei a minha missão. Meu esposo tratou de mim e de<br />

nossos fi lhos com muita paciência e carinho. Sofria para ganhar o pão. Trabalhava de<br />

bóia-fria. Meu fi lho Lau<strong>do</strong>natel era que lavava toda roupa. Ivone já era casada e morava<br />

longe. Só vinha de 15 em 15 dias me visitar.<br />

Tu<strong>do</strong> correu bem. Recuperei a saúde com a graça de Deus.<br />

Esta história faz com que a família viva unida, na saúde e na <strong>do</strong>ença, na tristeza e na<br />

alegria, e tenha muita paz.<br />

Sou uma luta<strong>do</strong>ra pelos direitos humanos, pela igreja, e pelo povo. Desde que meu<br />

irmão de criação, Carlos Pereira, foi assassina<strong>do</strong> por causa de um confl ito de terra, e<br />

seu padrasto João, que era meu irmão natural, fi cou feri<strong>do</strong>, meu coração nunca parou<br />

de chorar.<br />

Eu sempre me lembro desta cena. Meu irmão João foi para o Pronto-Socorro e Carlos<br />

fi cou 24 horas no mesmo local em que caiu. Desenho-se um caixão de sangue ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> seu corpo. A mãe, a nora, e os netos se banharam de sangue de tanto abraçar o corpo<br />

dele caí<strong>do</strong>. A esposa de João chorava desesperadamente.<br />

O povo, em silêncio, esperava pela polícia. Às quatro horas da tarde, a Polícia chegou.<br />

Levaram um <strong>do</strong>s assassinos para a delegacia de Iporanga.<br />

Há muitos anos, a mãe de Carlos e minha enviuvaram. Como a situação fi nanceira<br />

era muito difícil, as duas combinaram de morar juntas, e formar uma família só. Para<br />

sustentar a família, tinham que trabalhar fora e ainda cortar palmito.<br />

Eu e as outras crianças fazíamos to<strong>do</strong> o serviço da casa, e ainda sobrava tempo para<br />

brincar. Pegávamos lenha, cana, banana, água no rio, e ainda pescávamos e íamos<br />

19<br />

Minha missão – Depoimento

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