14.04.2013 Views

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como Walter Benjamin ensi<strong>na</strong> que conhecer o passado é uma forma de<br />

ressignificar o presente e projetar o futuro 17 , voltar o olhar para o passado, expresso nos<br />

textos de Cecília Meireles, pode também revelar indícios que permitam ressignificar a<br />

história que se constrói para a educação. Posso reconhecer que “... a história é objeto de<br />

uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo, mas um tempo saturado de<br />

‘agoras’ (BENJAMIN, 1994, p.229). O mesmo autor também reconhece que “ (... ) <strong>na</strong><strong>da</strong><br />

do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

somente a humani<strong>da</strong>de redimi<strong>da</strong> poderá apropriar-se totalmente do seu passado”.<br />

(BENJAMIN, 1994, p.229)<br />

Com base <strong>na</strong>s colocações de Benjamin, que consideram a infância como categoria<br />

central para compreender a história, vislumbrei a relevância <strong>da</strong> pesquisa que tem como<br />

objeto o resgate <strong>da</strong> face educadora de Cecília. Tal pesquisa se consolidou pelo desejo de<br />

compreender que meandros do processo de estruturação dos ideais <strong>da</strong> Escola <strong>No</strong>va<br />

puderam constituir a sig<strong>na</strong>tária Cecília Meireles.<br />

Entrevi, ain<strong>da</strong>, um imbricamento com a proposta hermenêutica 18 de Paul Ricoeur<br />

sobre o i<strong>na</strong>cabamento de uma obra, <strong>na</strong> qual o autor implementa inúmeras possibili<strong>da</strong>des<br />

de interpretação de um texto, vendo a ação huma<strong>na</strong> como obra aberta 19 .<br />

A pesquisa procurou compreender os textos jor<strong>na</strong>lísticos escritos por Cecília<br />

Meireles, objetivando identificar, no processo de divulgação dos ideais <strong>da</strong> Escola <strong>No</strong>va,<br />

aspectos que refrataram de sua inserção política <strong>na</strong> luta por um lugar para a <strong>criança</strong> nos<br />

debates educacio<strong>na</strong>is de seu tempo. Para isso, a análise interpretativa esteve foca<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

forma como a educadora abor<strong>da</strong>va a concepção igualitária <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, tal qual propõe o<br />

Manifesto dos Pioneiros de 1932; como compreendia a dimensão <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, se<br />

17 Conforme os trabalhos de Kramer (2000), Pereira (2002).<br />

18 O sentido etimológico <strong>da</strong> palavra hermenêutica se liga ao verbo grego hermeneim, ao qual podem ser<br />

atribuídos três significados: dizer – no sentido de exprimir em voz alta, explicar e traduzir – tanto no<br />

sentido de passar de uma língua para outra como também no de compreender historicamente. O termo se<br />

relacio<strong>na</strong>, ain<strong>da</strong>, ao substantivo grego hermeneia – que significa interpretação. (Cf. ALBERTI, Vere<strong>na</strong>,<br />

1996). Dessa forma, pode ser entendido como possibili<strong>da</strong>de de compreender algo incompreensível. Dizer<br />

alguma coisa sobre algo já é interpretar. Quando falamos que: “isto que Cecília escreve é uma crônica”,<br />

já fazemos uma interpretação. Essa interpretação deixa um sentido para além do seu enunciado, levandonos<br />

a compreender o texto como ação. Para o filósofo hermeneuta Ricoeur (1989), uma ação deixa um<br />

rastro, põe sua marca quando contribui para a emergência do curso dos tempos, que se tor<strong>na</strong>m<br />

documentos <strong>da</strong> ação huma<strong>na</strong>. “Ação é um fenômeno social, não ape<strong>na</strong>s porque é a obra de vários agentes,<br />

de tal modo que o papel de ca<strong>da</strong> um deles não se pode distinguir o papel dos outros, mas também porque<br />

os nossos atos nos escapam e têm efeitos que não tínhamos visado.” (p.195)<br />

19 Sobre isso, o filósofo hermeneuta (1989) diz que “Uma obra não reflete ape<strong>na</strong>s seu tempo, mas abre um<br />

mundo que ela transporta em si mesma”. (p. 198). Desta forma, pode vir a oferecer inúmeras pistas para<br />

se repensar e refazer concepções sobre a educação.<br />

20

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!