14.04.2013 Views

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

No veio da esperança a essência etérea da criança diversa na escola

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

42<br />

Eu não chego ao puritanismo de querer que os livros para a<br />

moci<strong>da</strong>de passem a ser um compêndio de moral, rígido e seco. Seria<br />

contraproducente mesmo, como é fácil verificar.<br />

Mas há mil assuntos para mil romances, para mil novelas –<br />

assuntos capazes de interessar o leitor de vinte anos, impressionável e<br />

excitante ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> sua formação levando-o a sensações nobres e<br />

eleva<strong>da</strong>s.<br />

Quem estará disposto a iniciar uma campanha contra os livros<br />

perniciosos, contra a exploração comercial acoberta<strong>da</strong> e em folhetins<br />

baratos? Quem terá coragem e responsabili<strong>da</strong>de para tanto? Quem<br />

será capaz de salvar a nossa moci<strong>da</strong>de de uma fonte inextinguível de<br />

corrupção? (MEIRELES, Cecília, Leituras perniciosas. 7 de abril de<br />

1931) (Sem grifo no origi<strong>na</strong>l) 40<br />

Sua preocupação como amante <strong>da</strong> literatura e dos livros a levou em uma de suas<br />

ações como educadora a explorar os <strong>da</strong>dos obtidos no inquérito que descreveu <strong>na</strong> carta à<br />

Azevedo como base para a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> primeira biblioteca pública infantil - a<br />

Biblioteca do Pavilhão Mourisco 41 – i<strong>na</strong>ugura<strong>da</strong> em 1934. Consciente <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de de organizar uma biblioteca, Cecília dedicou muito de seu tempo a<br />

essa função. Sua maior preocupação estava <strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de de reconhecer no livro uma<br />

rica fonte de educação. Ao desfolhar a face educadora de “uma difícil uni<strong>da</strong>de, de<br />

muitos instantes mínimos”, vejo um “eu” envolvido com critérios e métodos que<br />

revelam a singulari<strong>da</strong>de de um tempo. Cecília disse que refletir sobre<br />

organizar criteriosamente uma biblioteca infantil é ter de lutar, desde<br />

logo, com uma dificul<strong>da</strong>de que inutiliza esse bom propósito: a falta<br />

de livros para <strong>criança</strong>s, entre nós.<br />

Que haja livros publicados com o fim de servir à infância (ou de<br />

explorar a ven<strong>da</strong> às <strong>escola</strong>s) todos nós o sabemos. Mas, que esses<br />

40 Cecília se referiu nessa crônica a um folheto de propagan<strong>da</strong> que havia encontrado em seu jardim.<br />

Descreveu em minúcias os detalhes que abarcavam tal suporte literário, dizendo que se tratava de um<br />

romance anunciado como ultra sensacio<strong>na</strong>l, emocio<strong>na</strong>nte, maravilhoso, e de enorme sucesso <strong>na</strong> França.<br />

Narrou que a sedução <strong>da</strong>s palavras, <strong>da</strong> ilustração, bem como a estratégia de oferecer prêmios utiliza<strong>da</strong><br />

pela editora possuíam um caráter apelativo centrado em aspectos mercadológicos. Tal folheto fazia a<br />

propagan<strong>da</strong> de um romance que explorava aspectos como sexuali<strong>da</strong>de e infideli<strong>da</strong>de através de uma moça<br />

muito sedutora cuja imagem estava acompanha<strong>da</strong> de palavras envolventes e excitantes.<br />

41 O comprometimento criterioso ao pensar numa literatura posterior resultou num interesse significativo<br />

por parte <strong>da</strong>s <strong>criança</strong>s que freqüentavam esse espaço cultural. Com ape<strong>na</strong>s dez dias de funcio<strong>na</strong>mento, a<br />

biblioteca já absorvia setenta e três inscrições com mais de trinta consultas diárias. Ao completar um<br />

trimestre de funcio<strong>na</strong>mento, a Biblioteca abrigava duzentos leitores e, no fi<strong>na</strong>l do ano de 1937, já<br />

alcançava o número de mil e quinhentos leitores assíduos. O processo de inscrição do leitor já<br />

demonstrava a aproximação com o espaço. A <strong>criança</strong> preenchia uma ficha, recebia uma numeração e<br />

passava a conviver espontaneamente, selecio<strong>na</strong>ndo os materiais que despertassem o interesse. “Até hoje,<br />

to<strong>da</strong>s as <strong>criança</strong>s se têm apresentado sozinhas, e a discipli<strong>na</strong> é admirável, manti<strong>da</strong> exclusivamente pelo<br />

interesse <strong>da</strong> <strong>criança</strong>. [...] <strong>No</strong>ssa curiosi<strong>da</strong>de é desperta<strong>da</strong> para o movimento de <strong>criança</strong>s que, em perfeita<br />

ordem, entram, dirigem-se às prateleiras, escolhem o livro que lhes agra<strong>da</strong> e procuram lugar para a<br />

leitura. A <strong>na</strong>turali<strong>da</strong>de de todos os seus gestos, e a expressão de interesse que as caracteriza, levam-nos a<br />

perguntar sobre o funcio<strong>na</strong>mento geral do Centro.” (Uma visita ao Centro de cultura Infantil. Jor<strong>na</strong>l do<br />

Brasil, Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1934 apud PIMENTA, Jussara, 2001, p. 104)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!