O CASTELO DA Luz - CloudMe
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Foi assim que, pela primeira vez, percebeu os sinais, os indícios que confirmavam os últimos<br />
dias da terra. Começou com aquilo que os profetas chamaram de "cavaleiros do Apocalipse".<br />
Não houve cavaleiro de fato nem entidades montadas que personificassem a previsão. Mas o renegado<br />
podia percebê-los nas guerras no Oriente Médio, nas crianças famintas da África, nas<br />
epidemias, nos falsos videntes e em todo lugar onde a morte arrastava seu manto. Depois, a<br />
situação mundial se degradou, e isso nada teve a ver com as forças infernais ou celestes.<br />
No início do século XXI, a crise econômica mundial voltou a fomentar o expansionismo<br />
das grandes potências, a exemplo do que acontecera em fins do século XIX, Os Estados Unidos<br />
da América, abalados por problemas políticos e financeiros, buscavam expandir seus territórios<br />
de influência, invadindo e ocupando dezenas de países menores. Após a invasão do Afeganistão,<br />
os americanos avançaram para o Iraque e depois continuaram a operação, ocupando a Síria, O<br />
Irá e a Líbia, sempre sob o pretexto de autodefesa. Acusavam levianamente seus inimigos de<br />
deter arsenais de armas químicas, biológicas e nucleares, argumentos que quase sempre eram<br />
refutados pelos inspetores das Nações Unidas. Fixando o domínio sobre esses países, os<br />
estadunidenses fecharam o cerco ao Oriente Médio, estabelecendo bases sólidas para suas<br />
operações na Ásia. Para assegurar o contingente de tropas nas regiões ocupadas, os EUA<br />
selaram um pacto de cooperação com os principais países da Europa, encabeçados pela Grã-<br />
Bretanha, Itália e Alemanha. Assim criou-se a chamada Liga de Berlim, em alusão ao nome da<br />
capital que abrigou os chefes de Estado durante a conferência que formalizou o acordo.<br />
Surgia, porém, a necessidade de implantar um posto de operações no Oriente, e o marco<br />
escolhido foi Taiwan, cujo governo aceitou de bom grado o capital investido pelos patronos<br />
ocidentais. Mas a aliança com a ilha não passou despercebida aos olhos da China e da Coreia do<br />
Norte, nações que assim como os Estados Unidos, desejavam expandir suas áreas de influência<br />
e dominar mercados. Os dois países exigiram a evacuação das empresas ocidentais de Taíwan, e<br />
a recusa levou ao primeiro grande conflito do século XXI, a Guerra dos Trezentos Días, que<br />
vitimou em apenas um ano cerca de três milhões de pessoas, entre militares e civis, e terminou<br />
com a vitória do Oriente. A Liga de Berlim foi obrigada a deixar a ilha, e desde então os dois<br />
blocos trocam hostilidades, como uma panela de pressão prestes a explodir.<br />
A China e a Coreia do Norte entenderam que eram os principais alvos da Liga e<br />
decidiram pela expansão. Em uma campanha sem precedentes na história da humanidade, os<br />
dois exércitos invadiram o Japão sem disparar um só tíro e ocuparam todo o arquipélago, na<br />
chamada Ofensiva dos Dois Exércitos. Fecharam acordos de cooperação com a índia, Mongólia,<br />
Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, mas o golpe final ainda estava por vir. Descontentes<br />
com a miséria crescente após o fim do comunismo, os russos abraçaram com todas as forças a<br />
causa chinesa, e o país se uniu ao bloco do leste, formando a Aliança Oriental, que recebeu, em<br />
poucos meses, adesões de algumas ex-repúblicas soviéticas-<br />
Preocupados com a perda de soberania, os americanos conseguiram, depois de inúmeras<br />
conversações, o apoio do Canadá e da preciosa Oceania, e continuaram sua política<br />
expansionista, invadindo Cuba e Panamá. Um novo confronto entre os dois blocos estourou na<br />
Turquia, úníco país muçulmano aliado à Otan, aja desfeita Organização do Tratado do Atlântico<br />
Norte. O governo turco se dividiu, dando origem a dois partidos que pegaram em armas e transformaram<br />
Ancara em um mar de sangue, afundando a nação em uma guerra civil. Cada uma das<br />
potências enviou armas e tropas. Para a Liga de Berlim, era imperativo deter o controle da<br />
Turquia, para que pudesse fazer uma ponte com os países ocupados do Oriente Médio. A<br />
Aliança Oriental, por sua vez, sabia que, se os inimigos tomassem a capital, se abriria uma<br />
frente de invasão pelo sul.<br />
Estava, então, armado o palco para um conflito mundial. De um lado, a Liga de Berlim,<br />
formada pelos Estados Unídos e a Europa; de outro, a Aliança Oriental, liderada pela China,<br />
Coreia do Norte e Rússia. E no meio desses dois blocos conservavam-se neutros os países<br />
pobres da África e da América Latina, agora mais preocupados em defender as próprias<br />
fronteiras. Foi nesse contexto calamitoso que os sinais se tornaram mais claros. Ablon sabia que<br />
um embate dessas proporções culminaria em um confronto atómico, e não via salvação para a<br />
humanidade caso isso acontecesse.<br />
Mas isso tudo seria simplesmente mais uma guerra, não fossem os rasgos permanentes<br />
no tecido da realidade. Todos, anjos e demônios, sentiram que a membrana estava se