Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
J. A. Segurado e Campos<br />
retórico é evi<strong>de</strong>nte, pois trata-se <strong>de</strong> mais um exemplo da<br />
tendência para o exagero que caracteriza a oratória <strong>de</strong><br />
Licurgo; neste caso o exagero está em consi<strong>de</strong>rar que até<br />
um homicida seria mais facilmente acolhido do que um<br />
traidor como <strong>Leócrates</strong>.<br />
12.12. Um problema que po<strong>de</strong> colocar-se é então<br />
por que motivo teria <strong>Leócrates</strong> <strong>de</strong>cidido regressar a<br />
Atenas? Na realida<strong>de</strong>, estamos perante, não um, mas dois<br />
problemas. Primeiro, tendo <strong>Leócrates</strong>, por intermédio<br />
do seu cunhado, alienado todos os bens que possuía<br />
em Atenas, <strong>de</strong> que recursos pensava ele servir-se para<br />
assegurar a sua subsistência (e <strong>de</strong> eventuais familiares)?<br />
Segundo, que garantias teria ele recebido, e da parte <strong>de</strong><br />
quem, <strong>de</strong> que não corria qualquer risco se regressasse à<br />
cida<strong>de</strong>?<br />
Para a solução <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>stes problemas não<br />
po<strong>de</strong>remos fazer mais do que recorrer a conjecturas.<br />
Quanto ao primeiro po<strong>de</strong>remos supor que fosse sua<br />
intenção prosseguir em Atenas o comércio <strong>de</strong> cereais<br />
que encetara quando residia em Mégara, aproveitando<br />
os eventuais contactos e ligações que estabelecera<br />
enquanto esteve no activo nessa cida<strong>de</strong>, pensando que<br />
lado, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formular uma “hostilida<strong>de</strong> latente” contra <strong>Leócrates</strong><br />
<strong>de</strong> que não fornece qualquer indício Licurgo imagina um <strong>Leócrates</strong><br />
artificial, fugindo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em cida<strong>de</strong>, qual Orestes perseguido<br />
pelas Fúrias (§ 134). Finalmente, em contraste com o § 21, em<br />
que diz que <strong>Leócrates</strong> habitou em Mégara sem sentir vergonha por<br />
morar (gr. metoikôn, lit. “habitando na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meteco) na<br />
vizinhança da sua pátria, para o que teve <strong>de</strong> encontrar um cidadão<br />
megarense que se dispusesse a ser seu patrono, agora afirma que<br />
nenhuma cida<strong>de</strong> permite a <strong>Leócrates</strong> estabelecer-se no seu território<br />
(gr. par’ autêi metoikeîn, lit. “viver nela como meteco”).<br />
64<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor