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<strong>ACA<strong>DE</strong>MIA</strong> <strong>RIBEIRÃOPRETANA</strong> <strong>DE</strong> <strong>LETRAS</strong> - <strong>ARL</strong><br />
www.jperegrino.com.br Ribeirão Preto - SP - Ano I - N o 2 - Setembro/2002<br />
A GENTE NUNCA SE ESQUECE... SE HOUVESSE AMOR NÃO HAVERIA FOME<br />
Antônio Carlos Tórtoro (*)<br />
Cônego Arnaldo Padovani (*)<br />
A gente nunca se esquece do<br />
primeiro Suplemento Literário,<br />
da primeira antologia, do primeiro<br />
livro, da primeira posse,<br />
da primeira reunião, do primeiro<br />
discurso.<br />
Mas como é difícil fazer a primeira,<br />
ou o primeiro.<br />
Assim é sempre nas atividades<br />
e eventos da nossa <strong>ARL</strong>.<br />
Os palpites e as sugestões são<br />
muitos, e as críticas são sempre<br />
feitas em surdina. Nunca os<br />
críticos se propõem a fazer, a<br />
pôr a mão na massa.<br />
Muitos são os chamados, e<br />
poucos os envolvidos.<br />
Somos quarenta, mas os artigos<br />
constantes do 1 o . Suplemento<br />
Literário da <strong>ARL</strong>,<br />
encartado no Jornal do Peregrino,<br />
só foi possível graças aos<br />
artigos enviados por quatro<br />
membros: Ely, Nilva,<br />
Waldomiro e Tórtoro.<br />
Tivemos, portanto, colaboração<br />
de 10% dos membros,<br />
mesmo após diversos pedidos<br />
feitos através dos resumos das<br />
atas das reuniões ordinárias<br />
(que alguns parecem nem ler).<br />
Possivelmente uns 20% estarão<br />
aproveitando para dizer<br />
que o Suplemento é do<br />
Tórtoro, ou do Waldomiro, ou<br />
da Ely, sem terem enviado um<br />
artigo sequer para essa 2 a edição.<br />
Nossa antologia a ser lançada<br />
em outubro, em comemoração<br />
aos 55 anos da <strong>ARL</strong>, já está<br />
sendo digitada, mas também, a<br />
exemplo do Suplemento, saiu<br />
a fórceps: dolorido e traumático<br />
parto que durou quase um<br />
ano.<br />
Dos quarenta membros, só<br />
metade está participando, assim<br />
mesmo depois de diversos<br />
telefonemas, lembretes, pedidos,<br />
negociações e respostas<br />
absurdas, calcadas em rancores<br />
menores e até autovalorização<br />
desproporcional e não<br />
cabível ante um projeto que<br />
marcará um momento importante<br />
vivido pela Literatura de<br />
Ribeirão Preto e região, com<br />
a realização da 2 a Feira Nacional<br />
do Livro.<br />
Em compensação, nossos<br />
poucos Membros Honorários<br />
realizam muito mais que a maioria<br />
dos nossos Membros Efetivos<br />
(alguns só compareceram<br />
para tomar posse e sumiram).<br />
A eles nossos agradecimentos.<br />
A ACIRP, através do Sr. Gilberto<br />
Maggioni, a Paraler, com<br />
a Sra. Marilene Barachini, e a<br />
Aliança Francesa, com o Prof.<br />
João Alberto de Andrade<br />
Velloso, tornaram possível a<br />
publicação dos três primeiros<br />
exemplares do Suplemento Literário<br />
da <strong>ARL</strong> (temos patrocínio<br />
garantido até o final de<br />
2002) .<br />
Cervantes afirma que “entre<br />
os amantes, as ações e os movimentos<br />
exteriores que fazem,<br />
quando de seus amores se tra-<br />
ta, são certíssimos mensageiros<br />
que trazem as novas do que se<br />
passa bem no íntimo da alma” .<br />
Assim são as atitudes de alguns<br />
acadêmicos em relação à<br />
nossa <strong>ARL</strong>. Suas ações (ou<br />
falta delas) e os movimentos<br />
exteriores que fazem, são<br />
certíssimos mensageiros que<br />
mostram o que se passa bem<br />
no íntimo de suas almas: um<br />
total desprezo pelo trabalho<br />
recente da nossa <strong>ARL</strong>.<br />
Mas ainda espero que essa<br />
publicação passe a ser como<br />
um presente oferecido a Ribeirão<br />
Preto e região e que seja<br />
como uma pequena porta aberta<br />
no egoísmo e na teimosia de<br />
alguns, por meio da qual<br />
irrompa toda uma onda expansiva<br />
das generosidades latentes.<br />
(*) Presidente da <strong>ARL</strong><br />
Nem sempre é lixo o que se<br />
joga fora,<br />
mas desperdício feito por<br />
capricho.<br />
É luxo torpe que ao vilão<br />
devora<br />
forçar os outros a catar no<br />
lixo.<br />
Sinal de mesquinhez é<br />
sempre o luxo,<br />
que tão fingidamente esconde<br />
o lixo<br />
da pobre gente que,<br />
ostentando luxo,<br />
faz gente pobre chafurdar no<br />
lixo.<br />
Nem sempre o que se joga<br />
fora é lixo.<br />
Também o desperdício faz o<br />
luxo,<br />
forçando a muitos a buscar<br />
no lixo<br />
a sobra suja dos que têm só<br />
luxo.<br />
Já não se sabe se é luxo ou<br />
lixo<br />
toda sujeira que se esbanja<br />
à-toa.<br />
Chama-se luxo o que de fato<br />
é lixo,<br />
na vida fútil, regalada e boa.<br />
Nem só no luxo existe muito<br />
lixo.<br />
Também no lixo se mistura o<br />
luxo.<br />
Por imprudência seja ou por<br />
capricho<br />
pra este é lixo o que praquele<br />
é luxo.<br />
Não teve luxo o Deus<br />
onipotente<br />
que veio ao lixo deste mundo<br />
e quis<br />
salvar o luxo e o lixo desta<br />
gente<br />
que só amando pode ser<br />
feliz.<br />
(*) Cadeira nº 27 da <strong>ARL</strong>.<br />
O ABSURDO SEGUNDO A. CAMUS<br />
“Da mesma forma, e ao longo de todos os<br />
dias de uma vida sem brilho, o tempo nos carrega. Mas sempre<br />
chega um momento em que é preciso carregá-lo. Vivemos para<br />
o futuro: ‘amanhã’, ‘mais tarde’, ‘quando você tiver uma<br />
situação’, ‘com o tempo você vai compreender’. Essas<br />
inconseqüências são admiráveis porque, afinal, se trata de morrer.<br />
Mas chega um dia e o homem verifica ou diz que tem trinta anos.<br />
Afirma assim sua juventude. Mas, nesse mesmo lance, se situa<br />
com relação ao tempo. Ocupa ali o seu lugar. Reconhece que<br />
está num dado momento de uma curva que confessa ter de<br />
percorrer. Ele pertence ao tempo e, nesse horror que o agarra,<br />
reconhece nele seu pior inimigo. Amanhã, ele queria tanto<br />
amanhã, quando ele próprio deveria ter-se recusado inteiramente<br />
a isso. Essa revolta da carne é o absurdo.”<br />
(in “O Mito de Sísifo”, página 33, editora Guanabara, 3ª edição,<br />
1989)<br />
Comunicação Visual Ltda<br />
Para anunciar<br />
ligue:<br />
(0**16) 621 8407<br />
9992 3408
2 Jornal do Peregrino <strong>ACA<strong>DE</strong>MIA</strong> <strong>RIBEIRÃOPRETANA</strong> <strong>DE</strong> <strong>LETRAS</strong> - <strong>ARL</strong><br />
Setembro/2002<br />
ECOS NO OUTONO<br />
“A mulher é a mais perfeita<br />
entre as criaturas. Saída em<br />
último lugar das mãos que moldavam<br />
os mundos, ela deve<br />
expressar mais puramente que<br />
qualquer outro ser o pensamento<br />
divino. Por isso, ao contrário<br />
do homem, não foi tirado<br />
do granito primevo, não foi argila<br />
mole sob os dedos de<br />
Deus, na. Extraída dos flancos<br />
do homem, matéria flexível e<br />
dúctil, ela é uma criação transitória<br />
entre o homem e o anjo.<br />
Por isso a vedes forte como é<br />
forte o homem, e delicadamente<br />
inteligente pelo sentimento<br />
como o é o anjo. Não<br />
seria preciso unir nela duas<br />
naturezas, para incumbi-la de<br />
trazer sempre a espécie em seu<br />
seio? Uma criança, para ela,<br />
não é toda a humanidade?”<br />
(Honoré de Balzac apud<br />
“Eugénie Grandet”)<br />
Dados à luz no início de outubro,<br />
durante a 1 a . Feira Nacional<br />
do Livro de Ribeirão<br />
Preto, os poemas de Jair<br />
Yanni, em “Ecos no Outono“,<br />
(FUNPEC- Editora, Ribeirão<br />
Preto, 2001), seus murmúrios<br />
de alegrias e tristezas são saborosos<br />
como pitangas maduras.<br />
Os versos de uma Jair alegre,<br />
lírica, jovial e forte, como<br />
testemunha minha grande amiga<br />
e poeta Julieta Taranto, tornaram<br />
possível o nascimento<br />
do seu livro/criança.<br />
Forte, como é forte um homem,<br />
e delicadamente inteligente<br />
como o é um anjo, nossa<br />
colega de ALARP, mulher,<br />
mãe, avó, artista plástica,<br />
ativista cultural, acadêmica,<br />
poeta, brinca com palavras,<br />
faz reflexões sobre tempo, pássaros,<br />
milagres da vida, mo-<br />
Antônio Carlos Tórtoro (*)<br />
mentos, ores, fonte, chuva,<br />
árvores, muros, alvoradas:<br />
cromo.<br />
Com a mesma paz, e sem<br />
disfarce, consolatrix, figura<br />
principal (nunca figuração), discorre<br />
sobre desafios do eterno<br />
começar, momentos percorridos<br />
em estradas caudais,<br />
Carnaval, Presépio, palhaço,<br />
saudade, às vezes domando<br />
relâmpagos, outras vezes, em<br />
sincronia entre a pedra e a flor,<br />
num redemoinho, já desviva,<br />
pássaro ferido chora: mas não<br />
se cala diante de um mundo<br />
que envelhece, e os homens<br />
morrem.<br />
Diante de um espelho<br />
desabitado, canta uma canção<br />
de vida e morte, rejuvenesce<br />
o velho, e qual árvore de pedra,<br />
pede urgente um momento<br />
mágico que espante a bruxa<br />
e transforme os sapos e as serpentes<br />
novamente em gente...<br />
Jairsita, ao som de violinos,<br />
em seus versos, vai tentando<br />
reencontrar pedaços de si<br />
mesma, largados, desconectados<br />
como vagões descarrilados,<br />
que despencaram em<br />
diversas direções no decorrer<br />
de sua vida, buscando tornar<br />
possível um renascer.<br />
E nós três, Ecos no Outono,<br />
J.Y. e eu , ficamos para sempre<br />
assinalados com o sal de<br />
um batismo. Como disse Ely<br />
Vieitez Lanes em seu prefácio:<br />
“felizes são os leitores assinalados<br />
com o sal do batismo da<br />
poeta J.Y. Eles sairão também<br />
mais puros, humanos e fortes<br />
após a leitura desse belo livro”.<br />
(*) Presidente da <strong>ARL</strong><br />
PROCURA DA POESIA<br />
Não faças versos sobre<br />
acontecimentos. Não há criação<br />
nem morte perante a poesia.<br />
Diante dela, a vida é um sol<br />
estático, não aquece nem<br />
ilumina.<br />
As afinidades, os<br />
aniversários, os incidentes<br />
pessoais não contam.<br />
Não faças poesia com o<br />
corpo, esse excelente,<br />
completo e confortável<br />
corpo, tão infenso à efusão<br />
lírica.<br />
Tua gota de bile, tua careta<br />
de gozo ou de dor no escuro<br />
são indiferentes.<br />
Nem me reveles teus<br />
sentimentos, que se<br />
prevalecem do equívoco e<br />
tentam a longa viagem.<br />
O que pensas e sentes, isso<br />
ainda não é poesia.<br />
Não cantes tua cidade,<br />
deixa-a em paz.<br />
O canto não é o movimento<br />
das máquinas nem o segredo<br />
das casas.<br />
Não é música ouvida de<br />
passagem; rumor do mar nas<br />
ruas junto à linha de espuma.<br />
O canto não é a natureza<br />
nem os homens em<br />
sociedade.<br />
Para ele, chuva e noite,<br />
fadiga e esperança nada<br />
significam.<br />
A poesia (não tires poesia<br />
das coisas) elide sujeito e<br />
objeto.<br />
Não dramatizes, não<br />
invoques, não indagues. Não<br />
percas tempo em mentir.<br />
Não te aborreças.<br />
Teu iate de marfim, teu<br />
sapato de diamante, vossas<br />
mazurcas e abusões, vossos<br />
esqueletos de família<br />
desapareceram na curva do<br />
tempo, é algo imprestável.<br />
Não recomponhas tua<br />
Carlos Drummond de Andrade (*)<br />
sepultada e merencória infância.<br />
Não osciles entre o espelho e<br />
a memória em dissipação.<br />
Que se dissipou, não era<br />
poesia.<br />
Que se partiu, cristal não era.<br />
Penetra surdamente no reino<br />
das palavras.<br />
Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos.<br />
Estão paralisados, mas não<br />
há desespero, há calma e<br />
frescura na superfície intata.<br />
Ei-los sós e mudos, em<br />
estado de dicionário.<br />
Convive com teus poemas,<br />
antes de escrevê-los.<br />
Tem paciência, se obscuros.<br />
Calma se te provocam.<br />
Espera que cada um se<br />
realize e consume com seu<br />
poder de palavra e seu poder<br />
de silêncio.<br />
Não forces o poema a<br />
desprender-se do limbo.<br />
Não colhas no chão o poema<br />
que se perdeu.<br />
Não adules o poema. Aceitao<br />
como ele aceitará sua<br />
forma definitiva e<br />
concentrada no espaço.<br />
Chega mais perto e<br />
contempla as palavras.<br />
Cada uma tem mil faces<br />
secretas sob a face neutra e<br />
te pergunta, sem interesse<br />
pela resposta, pobre ou<br />
terrível, que lhe deres:<br />
Trouxeste a chave?<br />
Repara: ermas de melodia e<br />
conceito elas se refugiaram<br />
na noite, as palavras.<br />
Ainda úmidas e impregnadas<br />
de sono, rolam num rio difícil<br />
e se transformam em<br />
desprezo.<br />
(*) Poeta de Itabira, Minas<br />
Gerais, que soube<br />
como ninguém cantar o<br />
“sentimento do mundo” e<br />
tirar “lição de coisas”.<br />
ALTERNÂNCIAS<br />
Do livro “Paixão Desmedida”,<br />
de Ely Vieitez Lanes (*)<br />
Contigo, em teus braços<br />
Não penso, sou corpo<br />
Sensações trêmulas<br />
Ausência de lucidez<br />
Animal feliz no seu habitat<br />
Longe de ti, clarividência /<br />
ácido<br />
Corrói, busca meandros<br />
Filigranas<br />
Razão / cérebro<br />
Alma seca / peito vazio<br />
Emoção nenhuma<br />
Entre o sentir e o pensar<br />
Intermitências<br />
De vida e morte.<br />
Almas e corpos<br />
Não foram feitos sob encomenda<br />
Sem etiqueta / endereço /<br />
destinatários<br />
Algo imponderável / grácil<br />
Evola dos corpos (ou dos<br />
olhos?)<br />
Quando se dá o encontro<br />
Vidas em perpendicular<br />
Com angulas adjacentes /<br />
intersecção<br />
Carne / espírito / energias<br />
Mesclam-se<br />
E a luz se faz<br />
Centripetamente<br />
Sem volta / leis físicas / princípios<br />
Os amantes se lançam ao<br />
abismo<br />
Inscientes, medrosos, afoitos<br />
Mergulham no imperscrutável<br />
Indevassável Mistério.<br />
(*) Da <strong>ARL</strong> e da UBE<br />
Comunicação Visual Ltda<br />
Visite nosso site<br />
e veja as<br />
edições<br />
anteriores.
Setembro/2002<br />
Poesia é mistério. É enigma. É canto.<br />
E como tais, é atemporal e sem<br />
espaço. É mistério e, entre vários<br />
enfoques, o mistério se pode definir<br />
como imponderável feito o que<br />
permanece obscuro e incompreensível.<br />
Como mistério, como enigma,<br />
a poesia pode ser intuída como algo<br />
que causa estranheza, como algo<br />
intangível, como algo que habita a<br />
essência dos seres. O ser é o que<br />
liga o atributo ao seu sujeito, e é<br />
neste sentido que entendemos a<br />
presença essencial da poesia, que<br />
“elide sujeito e objeto”.<br />
Em “Procura da Poesia”, o leitor<br />
vai encontrar, como o título sugere,<br />
a poesia como busca dela mesma,<br />
mergulhada em absoluta promiscuidade<br />
– entendida esta em seu sentido<br />
pleno – com a palavra. Mescladas<br />
as duas e confundidas,<br />
interpenetradas, copuladas,<br />
entrelaçadas, fundidas.<br />
O poeta nos alerta: “Não faças<br />
poesia sobre acontecimentos... As<br />
afinidades, os aniversários, os incidentes<br />
pessoais não contam.” Esses<br />
misteres, devem-se deixá-los<br />
para a prosa, pois são temas de romances,<br />
crônicas, relatos, mais es-<br />
No último dia 3 de agosto<br />
de 2002 , no restaurante Fazenda<br />
de Minas , Rua 7 de setembro<br />
, 1666 , após reunião<br />
ordinária da <strong>ARL</strong>- Academia<br />
Ribeirãopretana de Letras , foi<br />
proposta aos membros presentes,<br />
e aprovada por unanimidade,<br />
a Fundação da ARE- Academia<br />
Ribeirão-pretana de Educação<br />
, idealizada pelo presidente<br />
da <strong>ARL</strong> , Prof. Antônio<br />
Carlos Tórtoro.<br />
O adjetivo Ribeirãopretana<br />
, na sua denominação<br />
oficial , está colocado somente<br />
para determinar o local da sede<br />
da ARE , recém-criada ( Ribeirão<br />
Preto) mas pretende<br />
congregar Educadores de todo<br />
o território nacional .<br />
O endereço oficial da<br />
ARE é Avenida Santa Luzia ,<br />
84 , Sumaré , Ribeirão Preto –<br />
SP, ( Sede do SIEEESP – Sin-<br />
poradicamente de contos. Até mesmo<br />
de poesia narrativa, como<br />
poemetos e epopéias. Se poesia<br />
elide sujeito e objeto, em seu estado<br />
puro passa a ter ligação umbilical<br />
com o verbo, entendido este<br />
como o símile acabado da palavra<br />
que leva à essência, considerando<br />
não o objeto sobre o qual se declara<br />
alguma coisa, mas, sim, a declaração<br />
pura, ou seja, o verbo em sua<br />
potencialidade absoluta.<br />
Também sugere o poeta não se<br />
fazer poesia com o corpo, com a cidade<br />
natal, com a natureza. Para ele,<br />
“chuva e noite, fadiga e esperança<br />
nada significam”. Também nos<br />
aconselha não dramatizar, não invocar,<br />
não indagar, não mentir, não<br />
aborrecer, não cantar a infância. A<br />
receita é: penetrar surdamente no<br />
reino das palavras, pois que é lá,<br />
latente, que mora a poesia. Esta se<br />
confunde com a essência de tudo.<br />
Poesia é sumo, essência. Sem sujeito<br />
e objeto revelados, resulta em<br />
verbo potencializado, palavra em<br />
sentido absoluto, organizador do<br />
caos, essência primeva e divina.<br />
“Ermas de melodia e conceito elas<br />
se refugiaram na noite, as palavras”<br />
dicato dos Estabelecimentos de<br />
Ensino no Estado de São Paulo).<br />
A atual Diretoria Provisória<br />
é composta pelos professores<br />
: Antônio Carlos Tórtoro<br />
( Presidente) , Dr Luis Carlos<br />
Raya ( Vice-presidente) , Ely<br />
Vieitez Lanes ( Secretária ) e<br />
Waldomiro Waldevino Peixoto<br />
( Tesoureiro) .<br />
A Diretoria Provisória<br />
recebeu dos presentes a incumbência<br />
de dirigir a Entidade até<br />
a eleição da primeira Diretoria<br />
, devendo , até a posse dos<br />
membros da ARE , redigir,<br />
aprovar e registrar o Regimento<br />
Interno e os Estatutos. Cabe<br />
também à Diretoria Provisória<br />
da ARE : compor e aprovar as<br />
insígnias da Entidade , estabelecer<br />
os Patronos das cadeiras<br />
( em princípio , às 33 primeiras<br />
Cadeiras serão dados os nomes<br />
<strong>ACA<strong>DE</strong>MIA</strong> <strong>RIBEIRÃOPRETANA</strong> <strong>DE</strong> <strong>LETRAS</strong> - <strong>ARL</strong> Jornal do Peregrino<br />
PEQUENO LIVRE EXERCÍCIO PARA ENTEN<strong>DE</strong>R A PROCURA DA POESIA. Waldomiro W. Peixoto (*)<br />
como a ratificar o que nos ensina<br />
João: “Na Palavra estava a vida, e a<br />
vida era a luz dos homens. Essa luz<br />
brilha nas trevas, e as trevas não<br />
conseguiram apagá-la”. (1, 4-5)<br />
A poesia maior, verdadeira, pura,<br />
também se faz de carne, nervos,<br />
sangue, sofrimento muito, sem fantasias,<br />
devaneios. Faz-se a seco,<br />
sendo necessário ao poeta conviver<br />
com seus poemas, “antes de<br />
escrevê-los”, na dose exata de realismo<br />
e verdade que a fazem arrebentar,<br />
crescer e dar a luz. Pensamento<br />
e sentimento ainda são sensações<br />
epidérmicas e distantes da<br />
alma, que ainda não penetraram as<br />
profundezas atávicas dos seres (“o<br />
que pensas e sentes, ainda não é<br />
poesia”). A convivência com os<br />
poemas já é poesia em seu estado<br />
latente. Por isso o poeta pede paciência,<br />
calma, espera. O poema se<br />
consumará “com seu poder de palavra<br />
e seu poder de silêncio”. Que<br />
grau de pureza terá um poema que<br />
se forçou desprender do limbo ou<br />
que se catou no chão, um poema<br />
adulado? Dá-se à luz o poema que,<br />
por si, depois de longa convivência,<br />
alcançou “sua forma definitiva<br />
dos professores Ribeirãopretanos<br />
homenageados em<br />
solenidade realizada no Teatro<br />
Pedro II , no final do mandato<br />
do Prefeito Jábali ), admitir e<br />
empossar os novos acadêmicos<br />
, realizar a eleição da primeira<br />
Diretoria e dar posse aos membros<br />
( Instalação) .<br />
e concentrada no espaço”. Mas,<br />
atenção leitor, tudo isso sem abrir<br />
mão da melodia e do conceito, elementos<br />
intrínsecos essência da<br />
poesia pura.<br />
É importante o leitor atentar também<br />
para o adjetivo “concentrada”<br />
referindo-se à forma. Essencial que<br />
é, não se perde em dissipações,<br />
“que se dissipou, não era poesia”.<br />
E “ermas de melodia e conceito”,<br />
as palavras – a poesia propriamente<br />
dita – se perdem na noite.<br />
A poesia é canto. Não o canto da<br />
cidade, dos movimentos das máquinas,<br />
do segredo das casas, dos temas<br />
casuais, do rumor do mar, da<br />
natureza, dos homens em sociedade.<br />
A poesia é o canto que ecoa<br />
dentro das almas dos homens, dos<br />
animais, das plantas, das pedras, da<br />
imensidão... simplesmente porque<br />
ecoa. É o canto que também elide<br />
sujeito e objeto. É o canto que,<br />
mantra, simplesmente é. O poeta,<br />
esgrimindo melodia (canto...) resgata-nos,<br />
aos leitores, a luz (...e conceito)<br />
de que precisamos para receber<br />
o verbo sublimado em arte.<br />
A poesia é a dor do homem<br />
traduzida em linguagem eivada de<br />
Por deliberação dos<br />
presentes, os membros da<br />
<strong>ARL</strong> , professores e/ou Especialistas<br />
em Educação , passam<br />
, automaticamente a integrar o<br />
quadro de Membros Efetivos da<br />
ARE ( se assim o desejarem e<br />
se manifestarem por escrito até<br />
o momento da Instalação, sem<br />
melodia, harmonia, ritmo e signos.<br />
Ou a negação de tudo isso se se<br />
quiser provocar no leitor a estranheza<br />
e o sentimento de secura,<br />
desarranjo e caos através de signos<br />
em desconstrução.<br />
Ao penetrar “surdamente” no reino<br />
das palavras, o poeta deve trazer<br />
consigo “a chave”, para abrir o<br />
mundo neutro do verbo e desvendar<br />
suas faces secretas. Ao manejo<br />
de melodias e conceitos, despertará<br />
o verbo de sua letargia, em estado<br />
de dicionário, e as palavras “ainda<br />
úmidas e impregnadas de sono”<br />
darão a resposta “concentrada”,<br />
pobre ou terrível, mas reveladora<br />
das verdades mais recônditas e essenciais<br />
do homem para o homem.<br />
Poesia e ontologia, então, transcendem<br />
a rima casual e penetram<br />
no mistério, no grande enigma da<br />
existência humana, materializando<br />
o imponderável em arte. É isso: o<br />
imponderável transformado em arte<br />
é a poesia.<br />
Arrematemos com o verso-síntese<br />
de Cecília Meireles: “Eu canto<br />
porque o instante existe”.<br />
(*) Cadeira 22 da <strong>ARL</strong><br />
FUNDAÇÃO DA <strong>ACA<strong>DE</strong>MIA</strong> RIBEIRÃO - PRETANA <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO<br />
Vivências<br />
“O Movimento e o Floral em busca da cura”<br />
“Dançando os Mitos e os Contos de Fadas”<br />
Informações:<br />
(0**16) 621 8407 / 624 6609<br />
3<br />
data prevista) .<br />
A Diretoria Provisória ,<br />
dando início às suas atividades<br />
designou os acadêmicos : Nilva<br />
Mariani, Rita M . Mourão , Ely<br />
Vieitez Lanes, Dr Luis Carlos<br />
Raya, Waldomiro Waldevino<br />
Peixoto , Dr Alfredo Palermo e<br />
Antônio Carlos Tórtoro para integrar<br />
a comissão que, até o dia<br />
14 de setembro de 2002, deverá<br />
apresentar os projetos de Estatutos<br />
e Regimento Interno .<br />
Estaremos recebendo adesões à<br />
criação da Academia Ribeirãopretana<br />
de Educação e sugestões<br />
para atividades a serem<br />
desenvolvidas através do e-mail<br />
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de cartas para : Rua Tereza<br />
Tossani Livrini, 328 , Ribeirão<br />
Preto , SP , CEP 14091-340<br />
( endereçados ao Presidente ) .
4 Jornal do Peregrino<br />
<strong>ACA<strong>DE</strong>MIA</strong> <strong>RIBEIRÃOPRETANA</strong> <strong>DE</strong> <strong>LETRAS</strong> - <strong>ARL</strong><br />
Setembro/2002<br />
E O HOMEM?<br />
Waldomiro W. Peixoto (*)<br />
O galo canta porque canta<br />
Não porque seu canto é<br />
belo.<br />
O lobo lamenta porque<br />
lamenta<br />
Não porque sua solidão é<br />
triste.<br />
A pedra dura porque dura<br />
Não porque sabe à<br />
eternidade.<br />
E o galo e o lobo e a pedra<br />
Nem por isso transbordam<br />
de si.<br />
(*) Cadeira 22 da <strong>ARL</strong><br />
VERTIGO<br />
Do livro “Paixão Desmedida”,<br />
de Ely Vieitez Lanes (*)<br />
Estranha figura tua<br />
De deus e demônio mistura<br />
Abismo em fogo que atrai.<br />
Se fujo, corpo, alma se frustram<br />
Do não gozado em volúpia<br />
Se me aproximo das bordas<br />
Do vulcão em fogo de desejo<br />
Vejo a morte e sem pejo<br />
Vivo êxtases jamais ousados.<br />
Maldita bênção encontrar-te<br />
Doce fruto de fatal veneno<br />
Sem medo impossível amarte<br />
Sem ti, vazio, nada, limbo.<br />
Eu, julgando que vivo<br />
Queimo em dilema insano<br />
Morrer no abismo do teu<br />
corpo<br />
Ou não viver, fugindo ao<br />
dano.<br />
(*) Da <strong>ARL</strong> e da UBE<br />
A CAMISA DA SELEÇÃO BRASILEIRA E A CAMISA DO BRASIL<br />
Nilva Mariani(*)<br />
Há uma diferença substancial<br />
entre elas. Vestir a camisa do<br />
Brasil significa, entre outras<br />
coisas, amar o país e não apenas<br />
o futebol, trabalhar para seu<br />
crescimento, lutar contra a corrupção,<br />
a injustiça, não se acomodar<br />
e ficar só lamentando e<br />
criticando, mas fazer a sua parte<br />
bem feita, unindo-se a todos os<br />
brasileiros com os mesmos ideais,<br />
formando uma verdadeira<br />
família, como deve ser uma nação<br />
unida.<br />
Essa camisa eu gostaria de<br />
que os brasileiros vestissem diariamente<br />
e não apenas a cada<br />
quatro anos, como fazem com<br />
a Seleção, que, então, é confundia<br />
com a do Brasil.<br />
Todos os brasileiros sempre,<br />
começando pelo Presidente da<br />
República (e não a camisa do<br />
FMI), os ministros, os senadores,<br />
deputados, vereadores:<br />
* Os ministros e secretários<br />
da Educação, para consertarem<br />
o sistema educacional<br />
que destruíram. A quem interessam<br />
alunos (até de nível superior)<br />
diplomados, mas analfabetos?<br />
* A Justiça, sempre preocupada<br />
em aumentar os próprios<br />
salários, mas sem fazer jus<br />
efetivamente a eles, por muitos<br />
motivos que todos conhecem,<br />
caindo cada vez mais no<br />
descrédito do povo.<br />
* A Polícia, que deveria ser a<br />
maior amiga do cidadão, e, no<br />
entanto, inspira medo e desconfiança,<br />
porque não se<br />
sabe em qual militar se pode<br />
encontrar apoio e segurança.<br />
* A Polícia e a Justiça, juntas,<br />
no combate às drogas e<br />
à criminalidade têm deixado<br />
muito a des-ejar. Quem não<br />
se lembra, por exemplo, da<br />
alardeada CPI do Narco-tráfico<br />
que seria instalada aqui<br />
em Ribeirão? Veio gente de<br />
São Paulo, falaram que havia<br />
pessoal “graúdo” envolvido.<br />
E daí? Não se falou mais nisso.<br />
Que camisa vestiram eles?<br />
* O ministro e os secretários<br />
da Saúde, de todos os estados,<br />
sempre, é claro. A<br />
CPMF (ilegal, injusta, confisco,<br />
e não seio o mais) é a<br />
degeneração de um imposto<br />
até bem intencionado, que<br />
deveria resolver os problemas<br />
da Saúde. Os donos do<br />
poder gostaram da idéia e o<br />
que era provisório ficou definitivo,<br />
mas... e a Saúde? Ora,<br />
a Saúde que procure outro<br />
remédio!<br />
* Os políticos todos têm obrigação<br />
de vestir a camisa do<br />
Brasil, do seu estado, da sua<br />
cidade. Todos precisam honrar<br />
o cargo e a confiança que<br />
os eleitores puseram em suas<br />
mãos.<br />
O povo, que idolatra a<br />
Seleção e veste sua camisa,<br />
precisa entender a diferença<br />
entre as duas e ter a mesma<br />
garra, o mesmo amor para vestir<br />
a do Brasil e batalhar por um<br />
país melhor, campeão de futebol<br />
sim, mas, infelizmente, também<br />
campeão de doenças, de<br />
crimes, de misérias...<br />
Enquanto o povo dança e<br />
canta por causa da Seleção,<br />
sobem o gás, a gasolina, a<br />
eletricidade, o telefone, o<br />
pãozinho, etc., etc... E vai dançar<br />
de novo, só que de outra<br />
maneira, porque apenas o seu<br />
salário não subiu. O seu ape-<br />
nas, porque os altos cargos<br />
nunca têm defasagem entre o<br />
custo de vida e o salário.<br />
E aonde foi parar o dinheiro<br />
de tantas privatizações? Venderam<br />
nosso patrimônio, mas<br />
ninguém viu o dinheiro e nada<br />
melhorou para o povo, muito<br />
pelo contrário.<br />
Vestir a camisa do Brasil é que<br />
é ser verdadeiramente patriota.<br />
Não tenho nada contra o<br />
futebol, mas, mesmo a Seleção,<br />
será que veste a camisa do Brasil?<br />
Nesta copa, parece que alguns<br />
jogadores estavam com<br />
presa de tirar a camisa verde e<br />
amarela para mostrar a que estava<br />
por baixo e que, a meu ver,<br />
não simboliza fé nem patriotismo<br />
nem orgulho pela Seleção...<br />
Pelo que tenho visto, de uns<br />
tempos para cá, nomes importantes<br />
do futebol brasileiro e de<br />
clubes famosos não são movidos<br />
por patriotismo. E o pior é<br />
que tudo acaba em pizza, como<br />
sempre.<br />
Há alguns anos, os “caraspintadas”<br />
derrubaram um Presidente.<br />
Já que muitos pintaram<br />
o rosto agora para saudar os<br />
jogadores, por que não aproveitar<br />
para exigir tudo o que o<br />
povo tem direito de reivindicar,<br />
com o mesmo entusiasmo, a<br />
mesma disposição, e derrubar<br />
o que não presta, arrancar a<br />
erva daninha, destruir o que não<br />
deixa este país crescer de verdade.<br />
Os Anjos estarão dizendo<br />
AMÈM com toda a certeza.<br />
(*) Da <strong>ARL</strong> e da Ordem<br />
dos Velhos Jornalistas.<br />
RESIGNAÇÃO<br />
Rita Marciano Mourão (*)<br />
Não lamento as passadas<br />
ilusões<br />
Nem o desterro de minha<br />
juventude.<br />
Entardeci possuída de boas<br />
lembranças<br />
E isso me basta.<br />
Desta luz vespertina<br />
Já não espero nada.<br />
Ainda assim, prossigo resignada<br />
Porque o aroma dos caminhos<br />
percorridos<br />
Impregnou meu entardecer.<br />
Hoje, no passado exposto no<br />
painel do tempo<br />
Um silêncio pleonástico embala<br />
sombras<br />
Que se debatem fragilizadas<br />
Diante da noite que se aproxima.<br />
Com gestos reticentes<br />
E impulsionadas por invisíveis<br />
carícias<br />
Minhas mãos vazias<br />
Traçam, no ar, o perfil dessa<br />
ausência<br />
Que o meu anseio humaniza!<br />
(*) Da <strong>ARL</strong> e UBT<br />
Futuras posses na <strong>ARL</strong><br />
Dia 27 de setembro de 2002<br />
- Posse do neo-acadêmico<br />
Marcos Zeri Ferreira (Cadeira<br />
no. 1) e do membro<br />
Honorário Alexandre Gallo.<br />
Dia 6 de novembro de 2002 -<br />
Posse do neo-acadêmico<br />
Wilson Salgado (Cadeira no.<br />
32) e do membro Honorário<br />
Oscar Gonçalves.<br />
As cerimônias de posse serão<br />
realizadas no Salão<br />
Social do SESC - R. Tibiriça ,<br />
50 - Das 20 às 23 horas<br />
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