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<strong>12</strong> <strong>Anos</strong><br />
www.alumiar.com<br />
Ribeirão Preto - SP<br />
Ano XII - Nº 143<br />
março/20<strong>12</strong>
2<br />
Editorial<br />
Medianeiras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual.<br />
Já prestaram atenção àquelas pare<strong>de</strong>s enormes <strong>de</strong> edifícios on<strong>de</strong> são colocados os outdoors ou que se apresentam<br />
<strong>de</strong>scascadas e sujas, retrato <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaso e <strong>de</strong> abandono?<br />
Já perceberam o quanto elas nos <strong>de</strong>primem quando estão vazias e judiadas, principalmente quando fi cam<br />
<strong>de</strong> frente umas para as outras? Talvez por que nos remetam a nossa pequenez (os edifícios são tão maiores que<br />
nós?). Talvez nos remetam ao silêncio, à ausência <strong>de</strong> comunicação (pare<strong>de</strong>s não falam!). Talvez nos <strong>de</strong>ixem<br />
sem ar (pare<strong>de</strong>s nos sufocam).<br />
Pois bem, se chamam Medianeiras é este o nome do fi lme argentino, ganhador do Festival <strong>de</strong> Gramado<br />
<strong>de</strong> 2011. Dirigido por Gustavo Taretto, tendo por atores principais Pilar Lopez <strong>de</strong> Ayala (atriz espanhola que<br />
trabalhou em Lope) e Javier Drolas.<br />
Para mim o título é metáfora para tratar dos problemas <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>: muito movimento, muita<br />
correria, a arquitetura que afasta as pessoas, a comunicação pelos computadores que aproxima e afasta ao<br />
mesmo tempo, os espaços exiguos on<strong>de</strong> é quase impossível o movimento. A cida<strong>de</strong> são as vitrines e as luzes,<br />
o espetáculo visual que fascina e também aliena. Vemos a pirotecnia e não vemos as pessoas. Martin e Mariana,<br />
personagens principais passam o tempo todo um pelo outro, frequentam os mesmos lugares e não se<br />
encontram, não se olham.<br />
Sofrem dos mesmos anseios, são solitárias criaturas em meio à correria do dia-a-dia, relacionam-se mal no<br />
plano amoroso, sofrem <strong>de</strong> medos paralisantes. Martin só anda a pé, Mariana não entra em elevadores. Martin<br />
e Mariana encontram parceiros que não se comunicam, que fogem do encontro e do compromisso.<br />
Mariana tem um livro <strong>de</strong> ilustrações que se chama On<strong>de</strong> está Wally? Wally é um homenzinho vestido<br />
com camisa listrada em vermelho com gorro <strong>de</strong> igual motivo que <strong>de</strong>ve ser encontrado nas páginas do livro<br />
em lugares abarrotados <strong>de</strong> gente. Ela quer muito encontrar Wally na página que diz respeito à cida<strong>de</strong> e não<br />
consegue.<br />
Acontece que nas medianeiras <strong>de</strong> Martin e Mariana foram abertas pequenas janelas para vida como que<br />
um apelo ao não <strong>de</strong>ixar-se confi nar, isolar, trancafi ar. Janelas para que possa entrar ar. Um apelo a enxergar<br />
o outro na multidão, e quem sabe reconhecê-lo e tocá-lo.<br />
Chegou o palhaço <strong>de</strong> vistosas vestes,<br />
coloridos panos, nariz <strong>de</strong> cereja.<br />
Peculiar fi gura quem não o conhece?<br />
Na arquibancada há quem não o veja?<br />
Suas brinca<strong>de</strong>iras muito conhecidas,<br />
Num piscar <strong>de</strong> olhos a todos conquistam<br />
Provocam na criança cristalino riso.<br />
O adulto sério vira já menino,<br />
Acha na memória antigas lembranças.<br />
No circo a alegria ressoa,<br />
Todos são felizes nesse lindo dia!<br />
Palhaços<br />
(A alegria tem que continuar)<br />
Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz<br />
redacao@alumiar.com<br />
Encerra-se o número do palhaço<br />
Outras atrações inundam o palco<br />
O adulto abandona o menino sem traço<br />
De amargura ou <strong>de</strong> melancolia.<br />
E volta a ser bem sério e todo empoado.<br />
A criança?<br />
Ah! A criança engole pelos olhos o palhaço<br />
E vai guardá-lo por toda vida<br />
Em baú <strong>de</strong> armazenar coisa boa!<br />
Nota: Dia 27 <strong>de</strong> março é comemorado o dia do Circo em homenagem ao Palhaço<br />
Piolin, motivo pelo qual colocamos palhaços (imagem Google) na capa da edição<br />
<strong>de</strong>ste mês<br />
<strong>Curso</strong> - Ofi cinas - Palestras - Workshops<br />
Ribeirão Preto - SP<br />
Junte-se a nossa Agenda <strong>de</strong> Profi ssionais!!!<br />
Não perca a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar seus cursos,<br />
ofi cinas, palestras e workshops.<br />
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É expressamente proibida a reprodução parcial ou total <strong>de</strong>sta publicação sem a prévia autorização.<br />
Março<br />
1 – Treinamento Huna – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3621 9225 /<br />
9992 3408. (Leia mais)<br />
10 – Workshop “Conscientizar e Direcionar as Emoções” – Ribeirão Preto /<br />
SP – Informações: (16) 3621 8407 / 9992 3408.<br />
11 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> Reiki II – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3636 3531.<br />
18 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – O Gestual das Plantas – Ribeirão Preto / SP –<br />
Informações: (16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
Abril<br />
5 – Início <strong>de</strong> Mestrado em Reiki – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3441<br />
0161 / 9179 1828.<br />
5, 7 e 19 - <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> Reiki Nível I – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3441<br />
0161 / 9179 1828.<br />
7 – Início <strong>de</strong> Mestrado em Reiki Karuna – Ribeirão Preto / SP – Informações:<br />
(16) 3441 0161 / 9179 1828.<br />
7 - <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> Reiki Nível I – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3441 0161<br />
/ 9179 1828.<br />
15 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo do Medo – Ribeirão Preto / SP – Informações:<br />
(16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
21 - <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> Reiki Nível II – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3441<br />
0161 / 9179 1828.<br />
Maio<br />
20 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo da Insegurança – Ribeirão Preto / SP –<br />
Informações: (16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
Junho<br />
17 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo do Presente – Ribeirão Preto / SP – Informações:<br />
(16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
Julho<br />
15 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo da Solidão – Ribeirão Preto / SP – Informações:<br />
(16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
Agosto<br />
<strong>12</strong> – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo da Hipersensibilida<strong>de</strong> a Infl uências<br />
Alheias – Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
Setembro<br />
16 – <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Florais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bach</strong> – Grupo do Desespero – Ribeirão Preto / SP –<br />
Informações: (16) 3621 8407 / 9992 6596.<br />
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O fi lme Um Conto Chinês trata<br />
<strong>de</strong> comunicação e das difi culda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> convivência entre culturas<br />
diferentes? De temperamentos difíceis<br />
e obsessivos? Isso tudo faz<br />
parte, mas o fi lme vem <strong>de</strong> longe e<br />
vai mais longe que isso.<br />
A fi cção, a realida<strong>de</strong> e o<br />
<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Jung<br />
A cena inicial na China serve<br />
<strong>de</strong> mote para a narrativa. Um casal<br />
enamorado em momento <strong>de</strong><br />
troca <strong>de</strong> alianças e <strong>de</strong> olhares vive<br />
um <strong>de</strong>sastre: uma vaca cai do céu<br />
e interrompe os planos do casal.<br />
Uma tragédia na vida <strong>de</strong> Jun.<br />
Depois do inusitado <strong>de</strong>ssa cena,<br />
a câmera gira e, do outro lado do<br />
mundo, em Buenos Aires, Roberto<br />
(Ricardo Darin), colecionador <strong>de</strong><br />
manias se <strong>de</strong>para com uma pessoa<br />
arremessada para fora <strong>de</strong> um táxi.<br />
Trata-se <strong>de</strong> Jun (Ignacio Huang)<br />
que está em busca <strong>de</strong> parentes e,<br />
agora, sem dinheiro e sem documentos.<br />
Roberto não fala chinês e<br />
Jun não fala espanhol. Mas, apesar<br />
<strong>de</strong> ranzinza e mal humorado, o<br />
argentino é generoso por natureza.<br />
Ou seja, Jun é aceito em sua casa<br />
até a resolução <strong>de</strong> seu problema.<br />
Verda<strong>de</strong>ira saga.<br />
Solitário e metódico, Roberto<br />
começa então a viver situações<br />
inesperadas. Seu quotidiano organizado<br />
e repetitivo, invadido por<br />
um estranho, não se sustenta. Ele<br />
vê-se obrigado a mudar e assiste<br />
á <strong>de</strong>smontagem da estrutura que<br />
havia criado. O <strong>de</strong>sejo por segurança<br />
cabe em sua vida em que se<br />
fi zeram presentes a guerra (das<br />
Malvinas) e perdas <strong>de</strong> pessoas<br />
queridas (mãe e pai). Quem sabe<br />
seja possível escapar <strong>de</strong> mais sofrimento?<br />
Mas, ele não parece se conformar<br />
com a nova situação enquanto<br />
vai per<strong>de</strong>ndo o armário com objetos<br />
signifi cativos, a paciência e a<br />
postura. Tudo ao chão. Tal revés,<br />
um verda<strong>de</strong>iro golpe do <strong>de</strong>stino,<br />
trouxe para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua casa o<br />
absurdo e o bizarro.<br />
Um bom roteiro conta essa tra-<br />
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Um conto chinês<br />
em versão argentina<br />
ma simples, contrabalançando humor<br />
e dor à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jun, à<br />
solidão <strong>de</strong> Roberto e ao amor <strong>de</strong><br />
Mari (Muriel Santa Ana). E há<br />
mais: alguns recursos mais sofi sticados<br />
estão no meio <strong>de</strong>ssa história,<br />
pois o diretor Sebastián Borensztein<br />
não escolheu por acaso<br />
o título Um Conto Chinês.<br />
O paralelo com o mundo literário<br />
é explícito: começa pela utilização<br />
do nome <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> texto<br />
no título. As personagens que Roberto<br />
interpreta também nos remetem<br />
a outro aspecto <strong>de</strong>sse mundo<br />
das letras. Assim, ele incorpora as<br />
personagens <strong>de</strong> seus recortes, momento<br />
em que é personagem <strong>de</strong> si<br />
mesmo. Sua imaginação é ativada<br />
pelos recortes que expressam <strong>de</strong>sejos,<br />
vividos como fi cção. São<br />
histórias coletadas da realida<strong>de</strong>,<br />
uma coleção <strong>de</strong> histórias trágicas<br />
(humor negro?) que confi rmam o<br />
que Roberto sente. Como uma fi cção,<br />
a vida é absurda.<br />
As situações se <strong>de</strong>senrolam<br />
e nos vemos perante a equação<br />
fi cção X realida<strong>de</strong>. O diretor nos<br />
ludibria sem que percebamos sua<br />
traquinagem. E ele continua, fazendo<br />
Roberto se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r inutilmente<br />
da estranheza da vida, pois<br />
há vacas caindo do céu na vida <strong>de</strong><br />
um chinês que é personagem <strong>de</strong><br />
suas histórias. E essa pessoa se<br />
transforma em seu hóspe<strong>de</strong>.<br />
A confi rmação <strong>de</strong>ssa extrema<br />
coincidência em conversa com o<br />
chinês, intermediada pelo tradutor<br />
e entregador <strong>de</strong> pizzas, parece<br />
ser o ponto culminante do fi lme.<br />
Nesse momento tudo se coloca na<br />
mesa e, realmente, a vida não faz<br />
sentido. Como no mito <strong>de</strong> Urano,<br />
o novo e o disforme inva<strong>de</strong>m a<br />
realida<strong>de</strong>, em visita in<strong>de</strong>sejada.<br />
Roberto vê-se com sensação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scaminho, sem consolo.<br />
Porém, antes <strong>de</strong> ir embora e<br />
compreen<strong>de</strong>ndo a situação, Jun<br />
prepara um presente. Sinal da generosida<strong>de</strong><br />
entre amigos: faz um<br />
<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma vaca na pare<strong>de</strong> do<br />
quintal. Não se trata <strong>de</strong> um símbolo<br />
difícil <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cifrado. Além<br />
<strong>de</strong> ser o único diálogo possível<br />
entre os dois, o <strong>de</strong>senho signifi ca<br />
um convite: <strong>de</strong>ixe que o inespe-<br />
rado visite sua vida. Permita que<br />
o mito entre. Aceite-o. Ele po<strong>de</strong><br />
revelar outros espaços mais libertadores.<br />
Perca o medo e abra o seu<br />
cotidiano. Ultrapasse os limites<br />
estabelecidos. Saia da posição <strong>de</strong><br />
expectador ou <strong>de</strong> personagem <strong>de</strong><br />
fi cção. A vida é mais do que os<br />
recortes armazenados em livros e<br />
arquivos. Ela explo<strong>de</strong> com todas<br />
as regras fi xadas. Jun ainda parece<br />
dizer que embora nada possa<br />
evitar as experiências <strong>de</strong> dor e a<br />
instabilida<strong>de</strong> da vida, vale a pena<br />
seguir a aventura. Não escapamos<br />
<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> e insegurança.<br />
Confi e no acaso, Roberto.<br />
Talvez seja esse o diálogo <strong>de</strong><br />
Jun, jovem e sábio, com o argentino<br />
através do símbolo-<strong>de</strong>senho,<br />
expressando sinteticamente o que<br />
as palavras não po<strong>de</strong>m dizer <strong>de</strong>ssa<br />
inevitável visitação do absurdo<br />
em suas vidas.<br />
É uma incitação <strong>de</strong> Jun para<br />
Roberto ir por lugares <strong>de</strong>sconhecidos,<br />
a explorar outras latitu<strong>de</strong>s e<br />
longitu<strong>de</strong>s (como ele mesmo teve<br />
que fazer). Quem sabe não mais<br />
somente um observador <strong>de</strong> vôos,<br />
mas <strong>de</strong>ixando-se levar por eles. O<br />
avião po<strong>de</strong>ria, então, ser mais do<br />
que um enfeite <strong>de</strong> carro ou uma<br />
diversão para o momento <strong>de</strong> lazer.<br />
Ao fi nal, enquanto o noticiário<br />
<strong>de</strong> TV nos oferece a notícia, observamos<br />
o nosso diretor arriscando<br />
outra brinca<strong>de</strong>ira. A história quer<br />
parecer ser baseada em fatos reais.<br />
O noticiário chinês nos conta uma<br />
história real. Vemo-nos embaralhados<br />
em uma teia. Ficção ou<br />
realida<strong>de</strong>?<br />
Como expectadores, entramos<br />
também nesse jogo do diretor.<br />
Mas, e por que não? Afi nal o que<br />
o cinema é? Um absurdo e maravilhoso<br />
enredamento.<br />
E, fi nalmente, nos vemos na<br />
cena <strong>de</strong> amor fi nal e novamente<br />
assistimos à aparição do símbolo<br />
da vaca. No novo cenário, fechando<br />
o círculo, lá está ela, à espera,<br />
mansa e alimentadora.<br />
Ana Gonzáles<br />
Astróloga<br />
www.agonzalez.com.br<br />
3
4<br />
Psicólogo ou artista: um convite à refl exão sobre<br />
os <strong>de</strong>safi os <strong>de</strong> criar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profi ssional<br />
Recria tua vida, sempre, sempre.<br />
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.<br />
Recomeça.<br />
(Cora Coralina)<br />
A vida está em movimento. Porque eu<br />
fi quei um tempo longe da minha cida<strong>de</strong>,<br />
gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> minha rotina tem sido reencontrar<br />
pessoas que eu amo e que fazem<br />
parte <strong>de</strong> minha vida. Encontrei-me com<br />
uma amiga na quarta feira passada que me<br />
contou sobre seus planos <strong>de</strong> aposentar-se<br />
nos próximos anos. Outra amiga me contou<br />
sobre sua transição para uma nova cida<strong>de</strong>,<br />
na qual ela agora inicia sua carreira como<br />
funcionária pública. No mesmo dia almocei<br />
com uma amiga que entre lágrimas me falou<br />
<strong>de</strong> como tem sido difícil superar a morte<br />
inesperada <strong>de</strong> seu marido, há dois meses.<br />
Enlutada também está uma outra amiga<br />
que luta bravamente para reconstruir a vida<br />
após uma dramática separação. Meu segundo<br />
sobrinho nasceu há 3 semanas. E há 2<br />
semanas não vejo mais meu vizinho sentado<br />
na varanda como fazia <strong>de</strong> costume, sei<br />
que está internado em alguma UTI. Minha<br />
gran<strong>de</strong> amiga com quem dividi consultório<br />
por muitos anos me ligou na semana passada<br />
para me dar boas-vindas. Ela estava<br />
em um hospital aguardando sua primeira<br />
sessão <strong>de</strong> quimioterapia para tratamento <strong>de</strong><br />
Lúpus. Nesses meus encontros, eu revejo<br />
meus amigos ao mesmo tempo que novamente<br />
me <strong>de</strong>speço <strong>de</strong>les. Estou <strong>de</strong> mudança<br />
- na terça-feira volto para Maringá, no<br />
Paraná, terra que <strong>de</strong>ixei há 11 anos, quando<br />
vim estudar em Ribeirão Preto. Para muitos<br />
<strong>de</strong> meus amigos, as razões pessoais e<br />
profi ssionais <strong>de</strong> minha mudança não soam<br />
convincentes e eles argumentam que eu não<br />
posso <strong>de</strong>ixar esta vida estável que eu arduamente<br />
construí em Ribeirão Preto com<br />
tanto trabalho ao longo <strong>de</strong> anos. E eu me<br />
pergunto, on<strong>de</strong> é que está o estável <strong>de</strong> que<br />
eles falam? Porque para todo o canto que<br />
eu olho, eu vejo a vida em seu movimento.<br />
O silêncio, a quietu<strong>de</strong> e a estabilida<strong>de</strong> são<br />
ilusões temporárias. Logo a vida vem nos<br />
chacoalhar <strong>de</strong>ntro seus vagões e nos lembrar<br />
que o trem não estava parado, estava<br />
apenas marchando em trecho sereno. A<br />
vida é assim- diz Guimarães Rosa - esquenta<br />
e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sinquieta. O que ela quer da gente<br />
é coragem. A esse contínuo movimento da<br />
vida, a psicologia chama <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
E é sobre isso que quero falar com vocês.<br />
Mas acho importante fazer uma ressalva:<br />
existem tantos <strong>de</strong>senvolvimentos quanto<br />
psicologias (é claro). Mas muitas psicologias<br />
compartilham o pressuposto <strong>de</strong> que o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento organiza e é organizado<br />
ao redor <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que progri<strong>de</strong> na<br />
medida em que o indivíduo avança em uma<br />
certa direção. Em geral essa direção é única<br />
e <strong>de</strong>manda também uma única i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Mas e se a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> for múltipla? E se o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento ao invés <strong>de</strong> progredir linearmente,<br />
acontecer em diversas direções<br />
simultaneamente? Eu penso que a noção<br />
<strong>de</strong> que nossa história se dá com uma certa<br />
linearida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corre da nossa narrativa e<br />
não da nossa vida. Ao narramos nossa vida<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estrutura narrativa emprestamos<br />
à vida esta organização. E para fazer<br />
isso, editamos, aquilo que não combina<br />
com a história: somem os becos, os atalhos,<br />
as ruas sem-saída, as hesitações, as vagueações<br />
em círculos... Fica só uma história passada<br />
a limpo. E essa história passada a limpo<br />
cria a ilusão <strong>de</strong> uma única personagem.<br />
Uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Essa a quem chamo EU.<br />
E se àquilo que chamo SOU for na verda<strong>de</strong><br />
um SOMOS?<br />
Aqueles que vivem a chamada carreira<br />
acadêmica são frequentemente convidados<br />
a produzir uma narrativa da sua história<br />
profi ssional chamada Memorial. O memorial<br />
é o currículo construído em forma <strong>de</strong><br />
narrativa. Uma amiga que prestou um concurso<br />
para a área da educação há um tempo<br />
teve que escrever seu memorial. Hoje ela<br />
pensa em prestar um outro concurso, em<br />
uma área bem diferente. Ela me contou que<br />
terá que reescrever seu memorial do modo<br />
que sua narrativa produza uma personagem<br />
que pareça atrativa para aqueles que fazem<br />
a seleção. E eu não falo personagem com<br />
nenhuma crítica. Não acho que exista um<br />
verda<strong>de</strong>iro eu por <strong>de</strong>trás da fi cção da personagem.<br />
Se nossa noção <strong>de</strong> quem somos<br />
se dá <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma narrativa, e se toda<br />
narrativa é limitada e pe<strong>de</strong> por uma edição,<br />
se somos sempre um pouco mais do que as<br />
histórias que po<strong>de</strong>mos e sabemos contar <strong>de</strong><br />
nos mesmos, então nossas personagens não<br />
são falsas representações <strong>de</strong> quem somos,<br />
são representações fragmentárias, sempre<br />
incompletas. Não estou dizendo que não<br />
haja falsas personagens. Talvez, uma personagem<br />
possa ser sim um impostor - ou<br />
seja, construída com mentiras <strong>de</strong>liberadas,<br />
programadas para iludir, tirar vantagem,<br />
explorar, oprimir e roubar o outro.<br />
Portanto, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> que estou<br />
falando, se dá em múltiplas direções e<br />
compõe múltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> narrar<br />
uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> performática e circunstancial.<br />
Este <strong>de</strong>senvolvimento não é aquisitivo,<br />
é criativo. E ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> acontecer quando<br />
nos alienamos.<br />
Mas eu estou indo muito rápido...<br />
O que é <strong>de</strong>senvolvimento então? É o<br />
processo <strong>de</strong> nos tornarmos o que somos,<br />
por meio da performance daquilo que ainda<br />
não somos. Esta perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
é fundamentada na teoria <strong>de</strong><br />
Lev Vygotsky. E foi <strong>de</strong>senvolvida por Fred<br />
Newman e Lois Holzman em Nova York,<br />
no East Si<strong>de</strong> Institute para Terapia Social.<br />
Um exemplo: Como o bebê apren<strong>de</strong> a falar?<br />
O bebê balbucia alguns sons. Os adultos<br />
ao redor completam o sentido daqueles<br />
sons: “você quer água!” “é o cachorro!” “a<br />
mamãe”. Objetivamente o bebê não está falando<br />
nada. Ele não conhece, não domina<br />
os signos que compõem a linguagem. No<br />
entanto os adultos se relacionam com ele<br />
“como se” ele fosse um ser falante. O bebê<br />
é um “ator” que faz a performance da fala<br />
- fala que ele <strong>de</strong>sconhece. Os adultos (atores<br />
coadjuvantes) completam e dão suporte<br />
a performance do bebê. Quando escutamos<br />
o bebê dizer: ããê, ããê, dizemos: “Ah, você<br />
quer a mamãe!” Não conheço ninguém que<br />
diz: vou fi car aqui olhando pra sua cara<br />
até que você aprenda a dizer corretamente<br />
o que você quer! Neste sentido, os adultos<br />
não se relacionam apenas com aquilo que<br />
o bebê é, eles incluem aquilo que o bebê<br />
está se tornando. Por meio <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>sajeitada<br />
performance <strong>de</strong> um ser-falante, o bebê<br />
torna-se um ser-falante. Ele não apren<strong>de</strong> a<br />
falar primeiro para <strong>de</strong>pois começar a falar.<br />
Ele se torna o que é, por meio da performance<br />
daquilo que ainda não é.<br />
Eu gosto <strong>de</strong>sta perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
porque me dá esperança. Muitas<br />
vezes passamos a maior parte do tempo nos<br />
relacionando com as pessoas, com nossas<br />
escolhas, com a vida como se fossem, e<br />
esquecemos <strong>de</strong> incluir a percepção daquilo<br />
que estão se tornando. E aquilo que estamos<br />
nos tornando é muitas vezes o aspecto<br />
mais importante daquilo que somos. Em<br />
um relacionamento por exemplo. A gente<br />
diz: meu marido é, minha mulher é, eu<br />
sou... E <strong>de</strong>fi nimos o outro, e a nós mesmos,<br />
excluindo aquilo que estamos nos tornando.<br />
Quem estamos nos tornando nesta relação?<br />
E como eu posso respon<strong>de</strong>r a meu<br />
companheiro <strong>de</strong> modo a participar daquilo<br />
que ele está se tornando? E em um curso <strong>de</strong><br />
psicologia? Como posso me relacionar com<br />
os alunos olhando para aquilo que eles estão<br />
se tornando? Como posso ser parceiro<br />
<strong>de</strong> meus alunos e ajudá-los a se engajar em<br />
um processo <strong>de</strong> criação, e não <strong>de</strong> aquisição,<br />
<strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s profi ssionais.<br />
Um exemplo. Quando era professor<br />
meus alunos, às vésperas da formatura se<br />
apresentavam nas supervisões <strong>de</strong> estágio<br />
com alto nível <strong>de</strong> angústia. Eles se perguntavam<br />
e se <strong>de</strong>batiam com a escolha <strong>de</strong><br />
que tipo <strong>de</strong> psicólogo eles seriam. E eles<br />
falavam como se houvesse um cardápio a<br />
partir do qual eles pu<strong>de</strong>ssem escolher. Para<br />
aqueles que <strong>de</strong>sejavam exercer a psicologia<br />
clínica a escolha era bem estreita: seguiriam<br />
uma perspectiva psicanalítica ou comportamental.<br />
E este era o estreito horizonte<br />
<strong>de</strong> suas possíveis escolhas. Muito estreito.<br />
Eu respondia: escolhe qualquer um, tanto<br />
faz, é teu ponto <strong>de</strong> partida, não <strong>de</strong> chegada.<br />
Meus alunos sofriam porque entendiam<br />
que a abordagem que escolhessem, <strong>de</strong>terminaria<br />
o tipo <strong>de</strong> terapeuta que eles seriam.<br />
Pensavam que esta escolha <strong>de</strong>terminava<br />
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um caminho que <strong>de</strong>veriam percorrer, sem<br />
erros, até chegarem ao seu <strong>de</strong>stino: o terapeuta<br />
i<strong>de</strong>al. Mas a abordagem não faz o<br />
terapeuta - é o terapeuta que cria, recria,<br />
transforma sua abordagem. Esta escolha - e<br />
talvez toda as escolhas que fazemos - são<br />
pontos <strong>de</strong> partida e não pontos <strong>de</strong> chegada.<br />
Escolhemos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> começamos (e a gente<br />
está sempre no começo, até mesmo quando<br />
chegamos ao fi m) mas não po<strong>de</strong>mos prever<br />
on<strong>de</strong> chegaremos. Decidimos para on<strong>de</strong><br />
vamos e chegamos, geralmente, em algum<br />
outro lugar.<br />
Cecília Meireles fez um poema intitulado<br />
Desenho que diz:<br />
Traça a reta e a curva,<br />
a quebrada e a sinuosa<br />
Tudo é preciso.<br />
De tudo viverás.<br />
Cuida com exatidão da perpendicular<br />
e das paralelas perfeitas.<br />
Com apurado rigor.<br />
Sem esquadro, sem nível, sem fi o <strong>de</strong> prumo,<br />
traçarás perspectivas, projetarás estruturas.<br />
Número, ritmo, distância, dimensão.<br />
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.<br />
Construirás os labirintos impermanentes<br />
que sucessivamente habitarás.<br />
Todos os dias estarás refazendo o teu <strong>de</strong>senho.<br />
Não te fatigues logo. Tens trabalho para<br />
toda a vida.<br />
E nem para o teu sepulcro terás a medida<br />
certa.<br />
Somos sempre um pouco menos do que<br />
pensávamos.<br />
Raramente, um pouco mais.<br />
O perigo <strong>de</strong> nos relacionarmos com as<br />
escolhas como se fossem pontos <strong>de</strong> chegada,<br />
e não <strong>de</strong> partida, é <strong>de</strong>ixarmos <strong>de</strong> nos ver<br />
como autores da história que estamos construindo<br />
e per<strong>de</strong>rmos a perspectiva criativa.<br />
Na “lógica da chegada” as escolhas ganham<br />
um caráter <strong>de</strong>fi nitivo. Viram produtos<br />
na prateleira da existência. O tempo e o<br />
percurso do eu-atual até o eu-<strong>de</strong>sejado fi ca<br />
encurtado e ignorado. Quando o <strong>de</strong>stino<br />
passa a valer mais que o trajeto a viagem<br />
per<strong>de</strong> a graça - ela é apenas tempo e espaço<br />
que nos separa <strong>de</strong> nosso <strong>de</strong>sejo. Todo horizonte<br />
fi ca reduzido a este grão <strong>de</strong> sonho.<br />
Eu estou falando da diferença entre<br />
produto e processo. Meu problema com as<br />
teorias que <strong>de</strong>fi nem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como algo<br />
único, razoavelmente estável e linear é que<br />
elas fazem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> parecer um produto.<br />
I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é um processo. Quando<br />
per<strong>de</strong>mos a dimensão do processo e nos re-<br />
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lacionamos apenas na dimensão dos produtos<br />
estamos alienados. Processo, produto e<br />
alienação são termos usados por Carl Marx<br />
em sua análise da formação da socieda<strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rna capitalista. O trabalhador alienado<br />
é aquele que não se reconhece naquilo<br />
que produz, porque não mais participa <strong>de</strong><br />
todo o processo <strong>de</strong> produção. Ele aperta<br />
parafusos em uma linha <strong>de</strong> montagem,<br />
mas não participa da confecção daquele<br />
televisor (por exemplo). Ele não sabe fazer<br />
um televisor - ninguém no chão da fábrica<br />
o sabe. Ele aperta parafusos o dia todo<br />
em troca <strong>de</strong> um salário que no fi m do mês,<br />
quem sabe, vai permitir que ele compre um<br />
televisor. O homem alienado é o homem<br />
consumidor. Fácil <strong>de</strong> ver no homem da fábrica<br />
<strong>de</strong> Marx... muito mais difícil <strong>de</strong> ver<br />
em nós mesmos hoje. Mas eu vou tentar...<br />
Trabalhei muito tempo em consultório.<br />
Conheci muitos pacientes. Vi muitos homens<br />
e mulheres alienados, tentando consumir,<br />
comprar uma terapia que lhes <strong>de</strong>sse<br />
uma outra i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Também <strong>de</strong>i aula. Vi muitos alunos alienados.<br />
Alunos que compravam um curso<br />
que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cinco anos lhes conferiria o<br />
direito <strong>de</strong> uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: a <strong>de</strong> psicólogo.<br />
Alguns eram maus alunos. A eles<br />
pouco importava o que acontecia entre<br />
o primeiro e o quinto ano do curso. Eles<br />
estavam olhando apenas para o produto<br />
“psicólogo-diploma” ao qual teriam direito<br />
após pagar as cinco prestações anuais <strong>de</strong><br />
“ser-estudante”. Mas outros alunos alienados<br />
eram bons alunos. Liam, estudavam e<br />
cumpriam diligentemente suas obrigações<br />
como estudantes. Pensavam que assim pagavam<br />
suas cinco prestações e que no fi nal<br />
seriam possuidores <strong>de</strong> uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Digo alienados porque para eles ser psicólogo<br />
era fruto <strong>de</strong> um “cumprir-<strong>de</strong>-tarefas”.<br />
Abdicavam <strong>de</strong> sua possibilida<strong>de</strong> criativa e<br />
submetiam-se ao consumo <strong>de</strong> uma certifi -<br />
cação. Poucos alunos se relacionaram com<br />
o curso <strong>de</strong> psicologia como um processo <strong>de</strong><br />
criação daquilo que um dia eles po<strong>de</strong>riam<br />
chamar <strong>de</strong> “psicólogo”.<br />
Algumas pessoas me estimulam a terminar<br />
logo meu doutorado para que eu possa<br />
prestar concursos públicos para professor<br />
em universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais e estaduais.<br />
Eu entendo. Eu também sinto esta urgência<br />
muitas vezes. Mas olhar para o fi m do doutorado,<br />
sobretudo pensando no “para-queeu-possa”,<br />
torna meu doutorado um produto,<br />
e me aliena do processo pelo qual eu me<br />
torno um doutor. O que me fará doutor, se<br />
um dia eu for, não é o término do meu doutorado,<br />
mas o processo <strong>de</strong> criação daquilo<br />
que em mim, no futuro, eu chamarei <strong>de</strong><br />
“doutor”. Aquilo que torna vocês psicólogos<br />
não é a conclusão do curso, é o processo<br />
pelo qual vocês criam o psicólogo que<br />
serão. É tão óbvio que a gente esquece.<br />
Mas sei que é ao mesmo tempo muito difícil<br />
resistir à alienação em um mundo co-<br />
mandado pela lei da aquisição. E o discurso<br />
do consumidor é tão sedutor que a gente o<br />
empresta para variadas dimensões da nossa<br />
vida. Relacionamentos, por exemplo, são<br />
terreno fértil para a lógica do consumo. Política<br />
também. Meu voto po<strong>de</strong> ser a moeda<br />
que compra um “produto-candidato”. Depois<br />
das eleições eu, no máximo, reclamo<br />
que o produto não correspon<strong>de</strong> a propaganda.<br />
Se política fosse processo, meu voto seria<br />
o início da criação <strong>de</strong> uma relação com<br />
o candidato. Assisti ao programa eleitoral<br />
gratuito e não vi nenhum candidato me<br />
convidar para criar algo com eles. Todos<br />
se apresentavam como produtos <strong>de</strong>sejáveis<br />
(ou in<strong>de</strong>sejáveis) e me pediam para adquirilos.<br />
E suas promessas tinham o intuito <strong>de</strong><br />
me apaziguar: “Tudo o que você precisa fazer<br />
é votar em mim. Depois, <strong>de</strong>ixa comigo<br />
que eu cuido <strong>de</strong> você!” Qual é o candidato<br />
que te convida a fazer algo além do voto?<br />
A lógica que reduz política ao ato <strong>de</strong> votar<br />
nos aliena do processo histórico. Não fazemos<br />
história, compramos com nosso voto,<br />
homens que a farão para e por nós. E já não<br />
mais acreditamos na história que eles escreverão.<br />
Vivemos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um terrível<br />
discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperança. O mundo nos é<br />
apresentado como um mundo sem futuro:<br />
previsões apocalípticas sobre o <strong>de</strong>stino do<br />
planeta, <strong>de</strong>scrença na capacida<strong>de</strong> humana<br />
<strong>de</strong> transformação, supervalorização da<br />
<strong>de</strong>strutivida<strong>de</strong>. Essa <strong>de</strong>scrença, que é sobretudo<br />
uma <strong>de</strong>scrença na humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>manda<br />
um <strong>de</strong>sinvestimento no universo político<br />
e social. Vamos nos encolhendo, uma<br />
vez que já não nos vemos capazes <strong>de</strong> lidar<br />
e intervir na miséria ao nosso redor. Nosso<br />
horizonte <strong>de</strong> sonhos e projetos vão fi cando<br />
cada vez mais individuais, autocentrados,<br />
solitários. Sem esperança <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos<br />
participar como criadores <strong>de</strong> uma história<br />
coletiva (essa história política e social) nos<br />
refugiamos na criação <strong>de</strong> nossa própria história<br />
individualizada, uma história que não<br />
nos ampara porque não transcen<strong>de</strong> a nós<br />
mesmos.<br />
E penso que essa é a alienação que muita<br />
psicologia po<strong>de</strong> promover. A ênfase no<br />
indivíduo, no <strong>de</strong>scobrir-se, aperfeiçoar-se,<br />
amadurecer-se como se a resposta para<br />
nossas insatisfações estivessem todas nesse<br />
movimento <strong>de</strong> imersão em si mesmo. Mas<br />
até que ponto você po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver antes<br />
<strong>de</strong> esbarrar nos limites do contexto em<br />
que você vive, e <strong>de</strong> cujo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
você não tem se ocupado? A psicologia que<br />
aliena é aquela que favorece o <strong>de</strong>sligamento<br />
entre sujeito e o universo social no qual<br />
ele vive. É aquela que <strong>de</strong>sencoraja o sujeito<br />
a se ver como agente <strong>de</strong> uma história maior<br />
que diz respeito a ele e a humanida<strong>de</strong> da<br />
qual ele faz parte. É aquela que promete<br />
que a mudança acontece apenas quando<br />
nos afundamos em nós mesmos e às custas<br />
<strong>de</strong> mais e mais consumo <strong>de</strong> terapia. A<br />
terapia que aliena é aquela que ao prometer<br />
transformação pessoal, não cultiva o <strong>de</strong>sejo<br />
e o potencial do paciente <strong>de</strong> transformar<br />
também o mundo.<br />
A saída para a alienação está no resgate<br />
<strong>de</strong> nosso potencial criativo. É ao criarmos<br />
que reativamos nossa voz histórica e assumimos<br />
nosso lugar como autores e transformadores<br />
do mundo on<strong>de</strong> vivemos. E<br />
este tem sido meu <strong>de</strong>safi o atual: <strong>de</strong>salienarme<br />
e reativar minha capacida<strong>de</strong> criativa e<br />
autoral.<br />
Meus pais tiveram 3 fi lhos. Meu irmão<br />
mais velho tornou-se artista plástico. Meu<br />
irmão mais novo tornou-se ator, diretor e<br />
produtor <strong>de</strong> teatro. Eu tornei-me psicólogo.<br />
Talvez por isso eu esteja empenhado em<br />
ver a psicologia também como uma criação<br />
artística. Para mim é muito importante<br />
construir uma psicologia criativa, artística<br />
e poética. E meu <strong>de</strong>safi o atual é fazer <strong>de</strong>ssa<br />
arte um modo <strong>de</strong> transformação política e<br />
histórica.<br />
Qual é o seu <strong>de</strong>safi o? Em que você tem<br />
se alienado e <strong>de</strong> que forma você pensa que<br />
po<strong>de</strong> reassumir a autoria da sua vida? Enquanto<br />
estudante, como você têm criado o<br />
psicólogo que você vai ser? Você cria ou<br />
consome seu curso <strong>de</strong> psicologia? Como<br />
você po<strong>de</strong> abraçar suas escolhas como pontos<br />
<strong>de</strong> partida Como você po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
um olhar para aquilo que a vida está se tornando,<br />
e não apenas para aquilo que ela é?<br />
Para terminar, eu gostaria <strong>de</strong> ler um trecho<br />
<strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> Mia Couto. Eu queria<br />
ler este trecho para minha amiga que vai<br />
se aposentar, para aquela que começa uma<br />
carreira em nova cida<strong>de</strong> como funcionária<br />
pública, para aquela que vive o luto do marido<br />
e para a outra que recria a vida após a<br />
separação, para o meu pequenino sobrinho<br />
e para o meu vizinho internado, para minha<br />
amada amiga que convive com o Lupus,<br />
para mim e para o meu parceiro que<br />
vamos mudar <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> na terça feira, para<br />
vocês, alunos e professores que criam suas<br />
vidas e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s profi ssionais.<br />
“Não chegamos realmente a viver durante a<br />
maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos<br />
numa<br />
espraiada letargia a que, para nosso próprio<br />
engano e<br />
consolo, chamamos existência. No resto,<br />
vamos<br />
vagalumeando, acesos apenas por breves<br />
intermitências.<br />
Uma vida po<strong>de</strong> ser virada do avesso num só<br />
dia, por uma<br />
<strong>de</strong>ssas intermitências.”<br />
Comunicação apresentada na Semana <strong>de</strong><br />
Psicologia das Faculda<strong>de</strong>s Integradas <strong>de</strong><br />
Bebedouro - FAFIBE,<br />
Bebedouro no dia 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010<br />
Murilo Moscheta<br />
murilomoscheta@me.com<br />
5
6<br />
Gato <strong>de</strong> Pelo Dourado<br />
Crônicas sinestésicas<br />
Gato <strong>de</strong> pelo dourado é um livro<br />
<strong>de</strong> crônicas e como tal trata<br />
do cotidiano, observado por bons<br />
olhos, colocado no papel por quem<br />
maneja as palavras e pronto! Pronto<br />
nada. As crônicas <strong>de</strong> Heloísa<br />
não são só retratos da vida. Com<br />
isso quero dizer que não são apenas<br />
relatos em que enxergamos o<br />
que se passou através dos olhos da<br />
autora. Enxergamos, sim, porém,<br />
mais que enxergar, sentimos. A<br />
começar pelo título: Gato <strong>de</strong> Pelo<br />
Dourado. Eu enxergo o gato dourado<br />
e posso sentir seu pelo macio.<br />
E corro a ler a crônica <strong>de</strong> mesmo<br />
nome, antes <strong>de</strong> todas, pra sentir<br />
a penugem do gato. Descubro: é<br />
seu querido neto que tem olhos e<br />
ouvidos abertos para o entorno.<br />
Que faz travessuras e gostosuras.<br />
Travessuras gostosas e “preenche<br />
a sensação <strong>de</strong> que tudo vale a<br />
pena.”<br />
Sensação sentida continuo a<br />
navegar pelo livro: encontro uma<br />
rua que era gostosa, um perfumado<br />
manacá, reminiscências <strong>de</strong> grapete,<br />
pura uva, geladinha! Depois<br />
faço um passeio pelo Teatro Pedro<br />
II, pelo Palace Hotel, conheço um<br />
pouco <strong>de</strong>ssas estórias, sigo gulosa<br />
como a escritora e vou como ela<br />
comendo a estória. Então mergulho<br />
em um universo olfativo e em<br />
minha língua sinto o sabor <strong>de</strong> um<br />
especial pastel.<br />
Continuo e me i<strong>de</strong>ntifi co com o<br />
“Tempo <strong>de</strong> ser Mãe” e sinto as dores<br />
como se minhas fossem, pois<br />
toda mãe é igual em seu <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> proteger seus fi lhos. E sinto a<br />
felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser bonita através do<br />
tesão pela visa (Mudando tudo).<br />
Rodopio pelo salão, ao som <strong>de</strong><br />
músicas (“Quem disse que não sei<br />
dançar?”) e gosto da mulher que<br />
é incitada pela terapeuta a seguir<br />
em frente, “invertendo a corrente”.<br />
Emociono-me com a percepção<br />
modifi cada da mulher frágil e<br />
forte em “Presa na Teia.”<br />
Em “De cabeça com Cuidado”<br />
enxergo e sinto a difi culda<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar<br />
com as emoções e gosto da receita<br />
<strong>de</strong> comedimento, porém sem<br />
covardia. Também penso que pedir<br />
e cobrar é uma questão <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />
e fi co sentindo pelas vezes<br />
que não soube pedir (“Pedir e Cobrar,<br />
uma questão <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>”).<br />
Questiono quantas vezes apreciei<br />
as alegrias pelo caminho em (“Ser<br />
Feliz, ora...”). Provoco os Natais<br />
<strong>de</strong> minha vida e tenho vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> dar presente bonito e que fale<br />
ao coração fora da data natalícia<br />
(“O Natal se precipitou?”). Adoro<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> saborear momentos<br />
e gritá-los em voz alta para todo<br />
mundo ouvir (A Tirania do Relógio).<br />
Penso que tem hora em que<br />
preciso abocanhar a vida sem dor<br />
<strong>de</strong> consciência (Espontaneida<strong>de</strong>).<br />
Quero mais do que <strong>de</strong>pressa sair,<br />
andar e sentir a vida <strong>de</strong> meu jeito<br />
(A vida do seu jeito). Em “Do<br />
Julgamento” fi co alerta para o fato<br />
<strong>de</strong> que o mundo é o que eu penso<br />
que ele é e fi co sentindo leve remorso<br />
pelas vezes em que julguei<br />
as pessoas pelas minhas próprias<br />
opiniões. Em “Sonhar e Viver”<br />
sinto pena pelos jovens que têm<br />
gigantesca fome <strong>de</strong> sonho e que<br />
recorrem às drogas. Em “Tempo<br />
<strong>de</strong> renascer” digo-me: também<br />
acredito que a vida é algo para ser<br />
sentido mesmo quando sofremos<br />
revezes. Em “Nada menos que a<br />
perfeição” reitero a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a<br />
vida <strong>de</strong>ve ser aproveitada.<br />
Em “Piano <strong>de</strong> Cauda e Rosas<br />
Vermelhas” conheço a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> retornarmos a nossa<br />
essência através da estória da<br />
mulher que resgata e se harmoniza<br />
com o universo. Em “Com<br />
as mãos, pegando a vida.” Leio a<br />
homenagem a nossa amiga em comum,<br />
Jair Ianni, e sinto o cheiro<br />
do pão e do café, do chá perfumado,<br />
vejo as toalhas coloridas, vejo<br />
a anfi triã pequenina e forte. Em<br />
“Paloma” eu choro pela mulher<br />
que “empurra dia e noite as ondas<br />
pelo oceano afora”. Em “Cumbica”<br />
retomo a confi ança no ser<br />
humano e me entristeço porque<br />
somos seres <strong>de</strong> perdas. Em “Sorriso<br />
no Contrabaixo”, “as cores<br />
vem à tona em forma <strong>de</strong> música”.<br />
Em “Ave Maria, na Praça XV”,<br />
“a música limpa a alma da poeira<br />
cotidiana”. Em “Vai um livro aí,<br />
moço?! Sinto as <strong>de</strong>lícias <strong>de</strong> gostar<br />
<strong>de</strong> ler e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrar esse universo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento. Em “Encontro<br />
no Café!” recordo pequenos prazeres.<br />
Como é bom estar apaixonado<br />
pela vida. Como é bom estar<br />
encantada, presa <strong>de</strong> sensações!<br />
Em “A vida passa na janela” enxergo<br />
velhinhas felizes, velhinhas<br />
que guardam no coração e na memória<br />
o bom <strong>de</strong> ser contado. Em<br />
“Ifi gênia, doce <strong>de</strong> coco.” tomo<br />
conhecimento <strong>de</strong> uma linda estória<br />
<strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> uma protagonista<br />
velhinha e encantadora, apreciadora<br />
<strong>de</strong> sorvete. Em “Tentação”<br />
sinto Afrodite e seu domínio: o do<br />
prazer momentâneo e intenso. Em<br />
“Um Gesto tão Simples” visualizo<br />
a menina pobre e o rapaz bem<br />
sucedido em um encontro fugaz,<br />
mas intenso: momento <strong>de</strong> união<br />
e <strong>de</strong> oferta. “Deus-Sol” <strong>de</strong>sperta<br />
minha alma <strong>de</strong> poeta e também tenho<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dançar na praça e<br />
<strong>de</strong> abraçar árvores. “Pipas do Gregório”<br />
extasia meus olhos e meu<br />
coração. Ah! A sabedoria da velhice<br />
<strong>de</strong>ve ser isso: o ato <strong>de</strong> doar,<br />
<strong>de</strong> enfrentar a beleza, <strong>de</strong> permitir<br />
que as pessoas sonhem e se balouçem<br />
ao vento! Em “On<strong>de</strong> andará<br />
Carlos Alberto” fi co com vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cobrar da autora: Vamos dançar<br />
juntas, <strong>de</strong>scalças e <strong>de</strong> saia rodada,<br />
no meio da rua?<br />
Então chegam as crônicas <strong>de</strong><br />
sauda<strong>de</strong>. Homenagens. Não menos<br />
intensas, provocam lágrimas,<br />
dor, mas provocam também, recordações<br />
<strong>de</strong> encontros, para<br />
compartilhar alimento, o que<br />
serve ao estômago e o que serve<br />
à alma, encontros para apreciar a<br />
arte, encontros clicados pelo olhar<br />
observador e pelo coração <strong>de</strong> Heloisa<br />
Bolelli. Encontros repletos<br />
<strong>de</strong> sensações. Encontros sinestésicos.<br />
Mariza Helena Ribeiro<br />
Facci Ruiz<br />
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As Or<strong>de</strong>ns do Amor são um<br />
conjunto <strong>de</strong> “leis” que regem a<br />
estrutura familiar, como uma força<br />
invisível que tem como função<br />
manter o equilíbrio do sistema.<br />
Hellinger observou que quando<br />
estas Or<strong>de</strong>ns eram <strong>de</strong>srespeitadas<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma família, uma nova<br />
forma <strong>de</strong> comportamento das<br />
pessoas era percebida e se repetia<br />
nas gerações seguintes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> que tivessem consciência.<br />
A este fenômeno ele <strong>de</strong>u o<br />
nome <strong>de</strong> “emaranhamento”, o que<br />
<strong>de</strong>nunciava <strong>de</strong>ntro daquela família,<br />
padrões alterados <strong>de</strong>ste fl uxo<br />
<strong>de</strong> energia, tais como: doenças,<br />
brigas, perdas, tragédias, ou seja,<br />
uma interrupção do fl uxo <strong>de</strong> energia<br />
que manteria a família unida<br />
em harmonia.<br />
Ao montar a Constelação <strong>de</strong><br />
nossa família po<strong>de</strong>mos reconhecer<br />
em que tipo <strong>de</strong> emaranhamentos<br />
estamos enredados e a partir<br />
daí, buscarmos formas <strong>de</strong> restituir<br />
a or<strong>de</strong>m natural do sistema familiar,<br />
po<strong>de</strong>ndo assim, vivermos a<br />
nossa vida livres <strong>de</strong> situações que<br />
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As Or<strong>de</strong>ns do Amor<br />
não nos pertencem.<br />
Or<strong>de</strong>m da pertinência - Todo<br />
ser humano tem o direito <strong>de</strong> pertencer<br />
ao sistema que o colocou<br />
no mundo. É um princípio fundamental<br />
nessa terapia. O ato <strong>de</strong><br />
excluir um parente traz sempre<br />
consequências graves, seja qual<br />
for o motivo da exclusão: uma<br />
avó que enlouqueceu e foi trancada<br />
num quarto pelo resto da vida;<br />
um tio suicida que nunca mais foi<br />
mencionado por ninguém; uma<br />
moça que engravidou e foi expulsa<br />
<strong>de</strong> casa; um parente que faliu e<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser aceito no convívio<br />
familiar.<br />
Segundo a lei da pertinência,<br />
quando um indivíduo é excluído,<br />
uma criança que nasce na mesma<br />
família, uma ou duas gerações<br />
<strong>de</strong>pois, acaba assumindo inconscientemente<br />
várias características<br />
<strong>de</strong>le. “Essa é uma forma que o<br />
universo encontra para reequilibrar<br />
o sistema familiar”<br />
Lei da hierarquia- por um amor<br />
inocente aos pais, as crianças assumem<br />
para si culpas e responsa-<br />
bilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>les, com o objetivo <strong>de</strong><br />
manter o sistema unido. Trata-se<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões inconscientes tomadas<br />
na infância, se sentem os gran<strong>de</strong>s<br />
diante dos pais. A precedência, a<br />
prevalência e procedência é a força<br />
das or<strong>de</strong>ns.<br />
Lei do equilíbrio - é o dar e receber,<br />
a necessida<strong>de</strong> da compensação,<br />
os pais têm a obrigação <strong>de</strong><br />
dar; os fi lhos têm o direito <strong>de</strong> receber<br />
tanto o bom quanto o ruim<br />
e <strong>de</strong> tomar para si aquilo <strong>de</strong> que<br />
precisam para sobreviver. Se a<br />
troca for produtiva, positiva, gera<br />
uma convivência saudável.Caso<br />
for negativa , com críticas , o fi lho<br />
se sente sozinho. Situações <strong>de</strong>sse<br />
tipo po<strong>de</strong>m levar a uma série<br />
<strong>de</strong> sintomas, como, por exemplo,<br />
crises <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, que po<strong>de</strong>m<br />
se manifestar inclusive na ida<strong>de</strong><br />
adulta.<br />
Nota: Texto enviado por Ana Lucia<br />
Braga, Terapeuta <strong>de</strong> Constelações<br />
Sistêmicas.<br />
Andréa B. Tormena<br />
Como um homem pensa<br />
Quando você está sofrendo <strong>de</strong><br />
medo ou <strong>de</strong> preocupação, você<br />
po<strong>de</strong> estar certo que adotou algo<br />
com po<strong>de</strong>r sobre você, caso contrário<br />
não estaria assim. O próprio<br />
fato <strong>de</strong> que você tem medo,<br />
mostra que você estabeleceu com<br />
ele uma relação que você po<strong>de</strong>rá<br />
ser rompida se você souber como<br />
aplicar a sua química mental.<br />
Sempre que você estiver infeliz,<br />
angustiado, “triste”, preocupado,<br />
isso se <strong>de</strong>ve a um veneno mental,<br />
que <strong>de</strong>ve ser enfrentado assim<br />
como se <strong>de</strong>strói o fogo através da<br />
água.<br />
O que você <strong>de</strong>ixa viver em seu<br />
coração, aportar em sua mente,<br />
habitar em seus pensamentos, são<br />
sementes que se <strong>de</strong>senvolverão<br />
em sua vida e produzirão coisas<br />
semelhantes a elas. Semente <strong>de</strong><br />
ódio no coração não produz fl or<br />
<strong>de</strong> amor na vida.<br />
Discórdia <strong>de</strong> qualquer tipo expressa<br />
<strong>de</strong> que forma for signifi ca<br />
que se está fora <strong>de</strong> harmonia com<br />
a divinda<strong>de</strong>.<br />
Todos os pensamentos que sugerem<br />
fraqueza, fracasso, tristeza,<br />
ou pobreza, são <strong>de</strong>strutivos e negativos.<br />
Eles são nossos inimigos.<br />
Marque-os sempre que eles tentam<br />
ganhar uma entrada em sua<br />
mente. Evite-os como se fossem<br />
ladrões, pois são ladrões do nosso<br />
conforto, ladrões da harmonia, do<br />
po<strong>de</strong>r, da felicida<strong>de</strong>, do sucesso.<br />
A mente <strong>de</strong>ve ser mantida livre<br />
da amargura, ciúmes, ódio, inveja<br />
e pensamentos não caridosos; <strong>de</strong><br />
tudo o que impeça a paz na mente.<br />
Deve haver boa vonta<strong>de</strong> no coração<br />
ou não po<strong>de</strong>mos fazer um bom<br />
trabalho com a cabeça ou mão.<br />
Ninguém po<strong>de</strong> acalentar ódios e<br />
rancores secretos, ciúmes e sentimentos<br />
<strong>de</strong> vingança, sem comprometer<br />
seriamente a sua própria<br />
reputação. Pessoas perguntam<br />
por que eles não são populares,<br />
porque elas não são queridas em<br />
geral, porque eles representam<br />
muito pouco em sua comunida<strong>de</strong>,<br />
quando o motivo é a amargura e<br />
as reações discordantes.<br />
Aqueles que enviam pensamentos<br />
gentis, que são amigáveis, que não<br />
carrregam nenhum ódio, amargura<br />
ou inveja em seus corações,<br />
são atraentes, úteis e iluminados.<br />
A humanida<strong>de</strong> atingirá o milênio,<br />
quando apren<strong>de</strong>mos a manter a<br />
atitu<strong>de</strong> mental correta para com<br />
nossos semelhantes. O tempo virá<br />
em que será infi nitamente mais<br />
fácil preferir o certo ao errado,<br />
quando as pessoas ansiosamente<br />
seguirem a Regra <strong>de</strong> Ouro, porque<br />
ela vai produzir a harmonia e o<br />
bem-estar universal.<br />
(*) Texto do: O caminho da prosperida<strong>de</strong><br />
Tradução livre Alumiar<br />
Nota: Textos sobre o “O Caminho<br />
para a Prosperida<strong>de</strong>”. Os 11 textos<br />
anteriores publicados, mais o<br />
<strong>de</strong>sta edição fazem parte <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> 21 temas que compõe<br />
a publicação “O Caminho para a<br />
Prosperida<strong>de</strong>”.<br />
Se você per<strong>de</strong>u algum texto já publicado,<br />
vá até o nosso site: www.<br />
alumiar.com e, leia-o.<br />
Fonte:<br />
http://self-improvement-ebooks.<br />
com<br />
SUDOKU – Complete<br />
cada quadrado (composto <strong>de</strong><br />
9 quadrados) preenchendo<br />
os espaços vazios com os números<br />
<strong>de</strong> 1 a 9, <strong>de</strong> forma que<br />
eles não se repitam <strong>de</strong>ntro do<br />
quadrado, nem na horizontal<br />
e, nem na vertical.<br />
7
Willow<br />
Floral dos ressentidos<br />
Você acredita que a vida não<br />
foi justa com você? Você se relaciona<br />
com as adversida<strong>de</strong>s através<br />
<strong>de</strong> queixas e ressentimentos?<br />
Você sente que não é merecedor<br />
das coisas <strong>de</strong>sagradáveis que lhe<br />
aconteceram ou que lhe acontecem?<br />
Você é visto pelas pessoas<br />
como uma pessoa amarga?<br />
Saiba que as plantas po<strong>de</strong>m<br />
ajudá-lo. Saiba que são presentes<br />
da natureza a serviço da cura e<br />
do equilíbrio. Saiba que elas, se<br />
apresentam, se vestem, <strong>de</strong> forma<br />
a revelar qualida<strong>de</strong>s e proprieda<strong>de</strong>s.<br />
E revelam também o <strong>de</strong>sequilíbrio<br />
que se instalou em nós e<br />
o equilíbrio que almejamos.<br />
Então conheça Willow, a Salix<br />
Vittelina, árvore alta, <strong>de</strong> folhas<br />
ver<strong>de</strong>s brilhantes, <strong>de</strong> cujas fl ores<br />
é feito o fl oral <strong>de</strong> mesmo nome,<br />
<strong>de</strong>scoberto por Edward <strong>Bach</strong> em<br />
1935, em Sotwell, Inglaterra.<br />
Comecemos por suas raízes<br />
que são profundas, fi xadas em<br />
terrenos muito úmidos, à margem<br />
<strong>de</strong> rios e arroios <strong>de</strong> leitos arenosos<br />
preparados para não se <strong>de</strong>ixar levar<br />
pela correnteza. Esta forma <strong>de</strong><br />
se colocar remete a relações profundas<br />
com o inconsciente e com<br />
as emoções ambos representados<br />
pela água. Ao mesmo tempo há<br />
uma força revelada que não se<br />
<strong>de</strong>ixa abater pelas águas por mais<br />
agitadas que sejam. Os troncos<br />
são grossos e indicam proteção,<br />
porém apresentam rasgos em sua<br />
superfície o que remete a uma<br />
personalida<strong>de</strong> infl uenciada pelo<br />
externo que acarreta profundas<br />
marcas.<br />
As folhas largas e pontiagudas<br />
sinalizam relações difíceis com o<br />
mundo, porém são revestidas <strong>de</strong><br />
matéria sedosa e branca o que <strong>de</strong>monstra<br />
sensibilida<strong>de</strong>. Além disso,<br />
o pontiagudo fala da energia<br />
necessária para seguir adiante.<br />
As ramas também levam a<br />
pensar no lado positivo, pois são<br />
fl exíveis e dobram sem romper-se,<br />
porém o movimento dançante das<br />
folhas e das ramas quando sopra o<br />
vento remete à extrema sensibilida<strong>de</strong><br />
a forças externas das pessoas<br />
que necessitam <strong>de</strong>ste fl oral.<br />
O amor pela vida, que é o equilíbrio<br />
em Willow é percebido no<br />
dourado-amarelo <strong>de</strong> suas ramas.<br />
As fl ores masculinas e femininas<br />
são <strong>de</strong> cor amarelo-esver<strong>de</strong>ado.<br />
As femininas são mais para o<br />
ver<strong>de</strong> e tem como proprieda<strong>de</strong> digerir,<br />
<strong>de</strong>sinfetar, dissolver e <strong>de</strong>scongestionar.<br />
Exatamente o que<br />
as pessoas Willow em <strong>de</strong>sequilíbrio<br />
não conseguem fazer. Elas se<br />
alimentam do drama emocional,<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> perceber que são responsáveis<br />
pelo que lhes suce<strong>de</strong> e<br />
culpam o mundo e a todos.<br />
O sabor <strong>de</strong> Willow é amargo<br />
como são amargos os que se <strong>de</strong>sequilibram<br />
em suas emoções e<br />
se tornam vítimas e remoem raivas<br />
em cal<strong>de</strong>irões enormes e se<br />
tornam secos emocionalmente.<br />
No entanto o amargo dispersa o<br />
fogo interno e seca o excesso <strong>de</strong><br />
umida<strong>de</strong>.<br />
O olor é bom. A lenha quando<br />
queimada exala cheiro doce e<br />
agradável. Talvez possamos fazer<br />
um paralelo entre a queima pelo<br />
fogo e a transformação: o fogo<br />
que evapora a água com sua carga<br />
<strong>de</strong> emoções acumuladas e mal<br />
resolvidas.<br />
A<strong>de</strong>mais sobre Willow são<br />
contadas muitas estórias. Dizem<br />
que é conhecido também por Salgueiro<br />
e por Chorão e, está relacionado<br />
com a tristeza e com a<br />
morte. Talvez seja pela aparência<br />
da árvore cujas folhas caem e parecem<br />
chorar. Há uma lenda que<br />
diz que Jesus foi chicoteado com<br />
varas <strong>de</strong> salgueiro e que a árvore<br />
fi cou tão triste que <strong>de</strong>ixou pen<strong>de</strong>r<br />
seus ramos. Em outra estória é<br />
contado que Judas se enforcou em<br />
um salgueiro.<br />
Mas sobre o Salgueiro há muita<br />
coisa boa a ser dita: o poeta taoísta<br />
Hi-K’ang trabalhava na forja<br />
<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um salgueiro plantado<br />
em seu quintal. Lao-tse gostava<br />
<strong>de</strong> meditar <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>ssa árvore.<br />
É que o gestual da planta também<br />
remete a uma afi rmação da vida,<br />
assim como remete a seu afastamento.<br />
A função do tratamento<br />
com as fl ores através da observação<br />
<strong>de</strong> toda planta é fazer retornar<br />
ao que já era: paz, equilíbrio e<br />
tranquilida<strong>de</strong>.<br />
Mariza Helena Ribeiro<br />
Facci Ruiz<br />
Educadora em <strong>Florais</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Bach</strong> e DOULA<br />
Tels.: (16) 3621 8407 / 9992 6596<br />
www.alumiar.com