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Educação Alimentar e Nutricional.

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TEXTO DE SISTEMATIZAÇAO 06:<br />

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL<br />

15 de setembro de 2010<br />

A RedeNutri iniciou em 15 de junho de 2010 o ciclo de discussões sobre <strong>Educação</strong><br />

<strong>Alimentar</strong> e <strong>Nutricional</strong>. A mensagem inicial apresentada à Rede propôs a reflexão conceitual<br />

e sobre as ações desenvolvidas em EAN pelos participantes.<br />

Existem várias definições de EAN que variam segundo as dimensões e<br />

aspectos que são privilegiados pelo autor. Como a adotada pela Resolução Nº 380/2005 do CFN<br />

“procedimento realizado pelo nutricionista junto a indivíduos ou grupos<br />

populacionais, considerando as interações e significados que compõem o<br />

fenômeno do comportamento alimentar, para aconselhar mudanças necessárias a uma<br />

readequação dos hábitos alimentares”. Ou esta outra da pesquisadora Isobel Contento 1<br />

“combinação de estratégias educacionais, acompanhada de ações que possibilitem um ambiente<br />

que apóie o comportamento almejado, que promova a autonomia e facilite a adoção voluntária<br />

de escolhas alimentares e outros comportamentos relacionados, com o objetivo de bem estar e<br />

saúde”.<br />

A proposta foi de uma rodada de discussões tanto do conceito que cada um adota de EAN como<br />

também sobre experiências, conquistas e desafios que a EAN trás para a prática dos profissionais.<br />

SISTEMATIZAÇÃO DO DEBATE<br />

A posição da EAN na prática profissional – conceito, formação e desafios<br />

§<br />

1 CONTENTO, Isobel. Nutrition Education. Linking research, theory and practice.<br />

Jones and Bartlett Publishers. Boston, 2007.


1- Se considerarmos a definição de <strong>Educação</strong> <strong>Alimentar</strong> e <strong>Nutricional</strong> proposta pela<br />

Resolução 380/2005 do CFN, excluímos do desenvolvimento de práticas de EAN outros<br />

profissionais, como os próprios Técnicos em Nutrição e Dietética, que estão inscritos nos<br />

Conselhos de Nutricionistas, ou professores, enfermeiros e outros profissionais que<br />

atuam no campo da saúde. Todos sabem que atualmente atuar com promoção da saúde<br />

nas escolas requer um trabalho coletivo e, portanto, a definição de EAN não pode estar<br />

restrita a uma categoria profissional, importantíssima nas equipes de saúde.<br />

2. Acho imprescindível refletirmos sobre a complexidade que envolve o tema, a<br />

partir do entendimento de que a EAN vai muito além do repasse de informações<br />

adequadas e corretas sobre a prevenção de problemas nutricionais, sobre os alimentos<br />

e a alimentação saudável (SANTOS, 2005) 2 . De acordo com Boog (2008) 3 a<br />

EAN não tem por finalidade prescrever formas formas adequadas de se alimentar, mas<br />

sim, ensinar a pensar certo a respeito respeito da alimentação. Pensar certo não é<br />

transferir um conhecimento pronto e inerte sobre o que deve ser consumido, às vezes,<br />

desconexo com o cotidiano alimentar das pessoas, mas, procurar aproximar-se da<br />

realidade de vida e alimentação e reconhecer os aspectos afetivos, do<br />

valor dos rituais de comensalidade, das preferências e de todos os<br />

sentidos e significados que envolvem a alimentação. Portanto, é<br />

considerar as interconexões existentes entre a alimentação, a<br />

sociologia, a antropologia, a educação e a nutrição. É pensar a educação<br />

como um processo, e como tal, com caráter permanente, dinâmico e em<br />

constante transformação. Implica em compreender a educação como<br />

condição essencial para se questionar o mundo e fazer a leitura de nossa<br />

inserção neste mundo, perguntando o porquê das coisas e buscando<br />

realizar as transformações necessárias no plano individual e coletivo.<br />

(BRASIL, 2008). 4<br />

Assim, a educação alimentar e nutricional se constitui em espaço<br />

privilegiado para ampliação do empoderamento das pessoas no que se<br />

2 SANTOS, Ligia Amparo da Silva. <strong>Educação</strong> alimentar e nutricional no contexto da promoção de<br />

práticas alimentares saudáveis. Rev. Nutr., Campinas, 18(5):681-692, set./out., 2005<br />

3 BOOG, Maria Cristina Faber Atuação do nutricionista em saúde pública na promoção da<br />

alimentação saudável. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 33-42, jan./jun. 2008<br />

4 BRASIL. Ministério da Saúde. Bases para a <strong>Educação</strong> em Saúde nos Serviços. Brasil.2008.<br />

Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/texto_base_prat_educ_dagep.pdf


efere à realização da Segurança <strong>Alimentar</strong> e <strong>Nutricional</strong>, a garantia do<br />

Direito Humano à Alimentação Adequada e a adoção de práticas alimentares<br />

saudáveis, na perspectiva da promoção da saúde e produção da<br />

co-responsabilização, da autonomia, do auto-cuidado, do reconhecimento<br />

da alimentação como direito social e do exercício da cidadania. Para<br />

tanto, penso que precisamos aprofundar os estudos dos referenciais<br />

teóricos e metodológicos que possibilitem o desenvolvimento de práticas<br />

educativas reflexivas e dialógicas, que respeitem as diversidades e os<br />

diferentes saberes.<br />

3. Sou uma questionadora permanente dessa prática convencional de trabalhar com a<br />

educação nutricional no Brasil. Reconheço, na condição de professora universitária, os<br />

equívocos causados por alguns colegas ao ministrar essa disciplina, mas também conheço<br />

a resistência do profissional para melhorar seu conhecimento sobre essa área e ser<br />

menos prescritivo no desenvolvimento da mesma. Já sabemos há muito tempo que<br />

fazendo palestra não vamos resolver os problemas nutricionais da população, mas<br />

mesmo assim continuamos reproduzindo esse modelo. Em um livro sobre esse tema<br />

escrito por "Andrien e Ivan Beghin 5 " eles dizem que "a educação em nutrição<br />

convencional parece não ser pertinente na medida em que repousa sobre a mesma uma<br />

análise superficial das causas que levam aos problemas nutricionais no contexto referido.<br />

Ela se fundamenta, a maioria das vezes, em uma concepção teórica (mal assimilada pelo<br />

agente de trabalho de campo) das necessidades nutricionais do homem e sobre<br />

exagerada confiança na informação científica como meio privilegiado para modificar os<br />

comportamentos humanos relacionados a nutrição. Sua estratégia se apóia na utilização<br />

de um canal de comunicação isolado. Mesmo quando fornecidas essas mensagens em<br />

local isolado como uma unidade de saúde. As mensagens transmitidas nestes espaços<br />

competem com as mensagens de outra fonte, as quais fluem por outros canais,<br />

principalmente pelos canais tradicionais da comunicação humana. Em geral alheias a<br />

população "alvo", mal formuladas, transmitidas de uma maneira dogmática, as<br />

mensagens de educação e nutrição não chegam a traduzir-se em mudança de<br />

comportamento observáveis na vida humana, a não ser raramente. Ou seja, a educação<br />

em nutrição aparece então como um desperdício dos poucos recursos de que dispõe<br />

5 ADRIEN, M; BEGHIN,I. Nutrición y comunicación: De la educación en nutrición convencional a la<br />

comunicación social en nutrición.Universidad Iberoamericana. Biblioteca Francisco Xavier Claviegero.<br />

Mexico, 2001


uma coletividade para encarar os seus problemas de saúde: desperdício de tempo, de<br />

recursos materiais, dos serviços como também das pessoas convidadas a participar<br />

dessas atividades".<br />

Concordo plenamente com os autores e em minha experiência profissional em serviço<br />

fica patente o distanciamento desse discurso conservador e meio autoritário do<br />

profissional de saúde como "um Deus da verdade absoluta" para as pessoas "ignorantes e<br />

sem conhecimento" dos conteúdos que defendemos e que devem ser assimilados a<br />

qualquer jeito de preferência sem questionamentos. Acho que o livro: "Pedagogia da<br />

autonomia 6 " de Paulo Freire é um bom começo para essa reflexão.<br />

4. Senti falta de discussão e propostas sobre <strong>Educação</strong> <strong>Alimentar</strong> e <strong>Nutricional</strong>( EAN) como<br />

eixo/fundamento ou diretriz da PNAN. Acho que esta é uma dimensão que precisa ser<br />

incorporada de maneira mais efetiva e pró-ativa às ações da PNAN. A produção de<br />

materiais técnico científicos e informativos (que tem sido uma linha de trabalho a qual a<br />

PNAN evoluiu qualificada e imensamente nos últimos anos) não configura por si só a<br />

perspectiva da EAN. Acho que nós nutricionistas precisamos assumir que EAN não pode<br />

ser reduzida a palestras e elaboração de folders. A EAN é um processo que não "pegamos<br />

com a mão", é uma estratégia ativa e participativa de todos os sujeitos e estruturas<br />

envolvidas. Integrar os saberes científicos e populares é um dos principais desafios da<br />

EAN. Essas ponderações nos remetem a perspectivas concretas de desenvolver ações<br />

menos normativas e mais formativas junto a diferentes grupos sociais e fora das UBS. Os<br />

NASF apontam como cenário positivo para este enfoque. Explicitar a EAN como um<br />

fundamento da PNAN não é suficiente para garantir as mudanças que precisamos, mas<br />

tenho certeza que serviria de um apoio positivo para que a saúde e nutrição se<br />

mantivessem como protagonista do tema. Não é possível deixar que a ambivalência da<br />

EAN seja usada de forma leviana por sujeitos não comprometidos com a garantia do<br />

DHAA.<br />

5. Participei da experiência de construção do projeto de residência multiprofissional em<br />

saúde da família na UFSC e nossa vivência foi uma experiência concreta de que é possível<br />

avançar nesta perspectiva - que pode parecer teórica, mas na verdade não está separada<br />

da vida real. Nos aproximamos da comunidade de maneira articulada com escola,<br />

associação de moradores e até comerciantes de alimentos. Em conjunto com os usuários<br />

6 FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz<br />

e Terra, 1996.


da UBS planejamos atividades integrando nutrição, enfermagem, odontologia, medicina,<br />

farmácia, psicologia e o serviço social - isso foi um grande exercício, pois não é fácil<br />

identificar ações coletivas em estruturas de formação individualistas. Passamos quase um<br />

ano para conseguir construir um objeto coletivo de trabalho da equipe de residentes<br />

(integrado com a equipe da UBS). Depois realizamos atividades das mais variadas<br />

incluindo bailes, feiras, oficinas. O diferencial do processo com enfoque menos normativo<br />

é identificar nosso papel como profissional de saúde e não apenas - "profetas dos<br />

nutrientes bons e maus" - não faça isso e faça aquilo. Considerando as escolhas, que nem<br />

sempre são corretas, do ponto de vista nutricional, pois tem significados diversos,<br />

conseguimos construir olhares diferenciados da comunidade sobre os seus hábitos<br />

alimentares. A comunidade foi descobrindo e criando formas de aliar o saber e sabor<br />

com a saúde, mesmo que às vezes o prazer fosse a primeira escolha.<br />

Como professora de EAN utilizei uma metodologia da "autobiografia alimentar" com os<br />

alunos e as respostas foram surpreendentes. A visão sobre o papel social, afetivo,<br />

econômico, cultural e até religioso da alimentação se amplia e tem causado uma reflexão<br />

interessante. De repente eles descobrem que podemos contar nossa vida, nossa história<br />

familiar e de amigos por meio da alimentação. Houve inclusive relatos e revelações de<br />

transtornos alimentares no grupo de estudantes. Momentos bem intensos.<br />

Entendo que não e fácil, pois como professora sei que a nossa formação (ainda<br />

tradicional) opera exatamente no sentido normativo. Tenho apostado muito em<br />

metodologias ativas e participativas em sala de aula e também na proposta do<br />

PROSAUDE e PET que na FS/UNB vem tentando "abalar a estrutura curricular" e provocar<br />

uma integração entre os cursos e as demandas da população do SUS/Paranoá. Estamos<br />

procurando construir um novo perfil de formação. Enfim, são experiências em<br />

construção. Muitos colegas aqui da rede precisam ser motivados a ousar mais. Trocamos<br />

idéias e palavras também<br />

6. Tenho uma experiência de estágio curricular e aprimoramento, no qual desenvolvi um<br />

projeto de <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>, com este conceito de ações formativas. Tratando de<br />

educação nutricional com história da alimentação, alimentos regionais e temas ligados ao<br />

dia a dia. Não somente informando, mas formando a consciência das crianças e<br />

adolescentes dos benefícios da alimentação saudável. O Projeto é ótimo, pena que não<br />

tive tempo hábil para aplicá-lo, devidos a problemas burocráticos na escola.


7. Sou professora supervisora em Estágio de Nutrição Social, que acontece no 5º período e<br />

trabalhamos em creches, escolas, abrigos. Atuamos principalmente em EA. Falo em<br />

<strong>Educação</strong> <strong>Alimentar</strong>, pois trabalhamos hábitos alimentares saudáveis, principalmente a<br />

introdução de verduras e legumes, pois são os alimentos mais rejeitados pelas crianças e<br />

adolescentes. Para termos sucesso trabalhamos muito com dinâmicas interativas de<br />

acordo com as idades, pais e professores, pois acreditamos que só sensibilizar as crianças<br />

e professores não teremos sucesso, temos que sensibilizar e introduzir novos hábitos em<br />

casa. Com os adultos trabalhamos muito práticas alimentares acessíveis a população<br />

trabalhada, discutindo inclusive orçamento x compra de alimentos saudáveis. Estamos<br />

estimulando também hortas, confeccionadas de acordo com a área da família.<br />

Trabalhamos muito plantios em garrafas PET, pneus, vasos etc. Neste semestre<br />

encontramos um grupo praticamente analfabeto, fazíamos as preparações com os<br />

participantes, a partir desta comentávamos sobre a importância para a saúde todos os<br />

alimentos disponíveis na receita. Também trabalhamos higienização pessoal, dos<br />

alimentos e dos utensílios. Como o grupo não sabia ler as alunas elaboraram um material<br />

ilustrativo com todas as receitas desenvolvidas. Acredito que podemos fazer muito, se<br />

cada um fizer a sua parte há uma grande melhora. É muito fá ficar de braços cruzados<br />

pondo a culpa no governo, é mais cômodo, assim não corremos risco. EA é uma atividade<br />

que depende exclusivamente de nós profissionais e da população. Em qualquer lugar<br />

trabalhamos <strong>Educação</strong>. Quando conseguimos trabalhar em rede o trabalho só evolui, e<br />

sempre conseguimos pessoas motivadas e dispostas a dar um pouquinho de seu<br />

conhecimento, e principalmente trabalhar integrada. Já foi discutido neste grupo a<br />

importância da equipe multidisciplinar e do trabalho integrado. Muitas vezes não temos<br />

sucesso na EAN pois queremos repassar conhecimentos que achamos que a comunidade<br />

necessita e não perguntamos a eles o que sabem e o que querem saber, vamos ouvir<br />

mais e falar menos. A humildade também é outro fator que considero fundamental, pois<br />

não somos donos do saber, aprendemos muito com a comunidade. Desculpem-me se<br />

desabafei, mas estou meio cansada deste discurso que não desenvolvemos nosso<br />

trabalho porque ficamos sempre esperando gestores, governo, etc fazerem o trabalho<br />

por nós. Minha experiência é que somos valorizadas de acordo com o trabalho que<br />

desenvolvemos, então arregacem as mangas, façam seus trabalhos que vocês só irão<br />

lucrar. Credibilidade a gente conquista, não cai de mão beijada. Em discussões anteriores<br />

vocês falaram que trabalhavam sozinha em um município e que ficavam a maior parte do<br />

tempo com serviço burocrático, criem necessidades que com certeza a população e os


gestores perceberão a necessidade de contratação de novos profissionais. Demandas<br />

existem e devem ser criadas.<br />

8. Precisamos formar profissionais que entendam a importância do diagnóstico antes de<br />

qualquer ação. Para isso tive a oportunidade de elaborar a disciplina de EAN no momento<br />

da construção do currículo do curso. Então de forma bem coloquial tentei e estou<br />

tentando realizar um “sonho de consumo”.<br />

A disciplina possui carga horária de 90 horas para realizar aula prática em escolas. Este<br />

ano a proposta é também ter a Unidade de Saúde como cenário de prática educativa<br />

para os alunos do 3º ano do curso de Nutrição. A disciplina é ministrada por nutricionista<br />

e pedagoga. A experiência nesses 4 anos é que os alunos passam a entender que EAN é<br />

uma intervenção e por isso não podemos chegar na escola com algo pronto que eu<br />

chamo de pacote nutricional.<br />

9. Considerando que a troca de vivências é fundamental para encurtamos a<br />

distância entre o discurso teórico e as práticas cotidianas, compartilho<br />

com vocês alguns processos muito significativos em relação à questão da<br />

formação profissional que estamos vivenciando no Rio Grande do Norte. No<br />

contexto da reformulação do Projeto Pedagógico Curricular do Curso de<br />

Nutrição da UFRN, aconteceram várias Oficinas com participação de<br />

docentes, discentes e profissionais representantes dos serviços e<br />

egressos. A partir desses encontros, um Grupo de docentes passou a<br />

construir uma nova proposta curricular, que apesar do pouco tempo de<br />

implantação já se sente os efeitos através das falas dos profissionais<br />

(docentes e preceptores dos Estágios e da postura e discurso dos<br />

estudantes). Os alunos além das disciplinas que tem caráter mais<br />

biologicistas, estão cursando também disciplinas que possibilitam<br />

reflexões mais amplas como: Antropologia do corpo, Aspectos<br />

sócio-antropológicos da alimentação, Bioética e cidadania, Processo de<br />

Trabalho I e II. Alguns também participam de um Grupo coordenado pela<br />

professora da disciplina de <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>, denominado Grupo Corpo<br />

e Alma, onde desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na<br />

disciplina de <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong> os alunos vivenciam práticas de<br />

educação nutricional quinzenalmente, com o Grupo Aprender é Viver. As<br />

atividades com o grupo são planejadas a partir da pedagogia de projetos,


onde ao final de cada período acontece uma atividade de culminância<br />

construída no decorrer do período e realizada conjuntamente (estudantes,<br />

docentes, participantes do Grupo). Além disso, realizam práticas de<br />

educação nutricional em escolas e creches. A turma é dividida em<br />

subgrupos. Além disso, o Departamento de Nutrição da UFRN visando promover o<br />

diálogo acerca do processo de formação e trabalho do nutricionista e dos<br />

desafios em relação a educação alimentar e nutricional vem realizando<br />

alguns Cursos de Atualização e Aperfeiçoamento direcionados aos<br />

nutricionistas que recebem estagiários de nutrição: Curso de Atualização<br />

nas Práticas de Nutrição na Atenção Básica de Saúde, I Curso de<br />

Formação em <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>: Metodologias Reflexivas para a<br />

instituição do estudante como sujeito do seu conhecimento e Curso de<br />

Práticas Educativas em Nutrição para a Atenção Básica.<br />

Várias experiências interessantes vem sendo produzidas nos serviços<br />

de saúde, a partir dessa integração ensino-serviço. Com certeza, esses<br />

processos não acontecem de forma hegemônica e consensual nas<br />

instituições (ensino e serviços), já que essas são formadas por pessoas<br />

com diferentes visões de mundo, diferentes concepções de educação, de<br />

práticas educativas, entre elas, a educação alimentar e nutricional. O<br />

importante é dar os primeiros passos, ousar, mesmo com<br />

embates, conflitos, mas, acima de tudo, com respeito às diferenças e aos<br />

diversos saberes e tendo a humildade de aceitar, como disse Gonzaguinha<br />

que "somos eternos aprendizes" e que conforme Paulo Freire "não há saber<br />

melhor ou pior, há saberes diferentes".<br />

10. Tudo que pensamos só pode ser realizado se for uma construção coletiva: gestores,<br />

profissionais e comunidade. Juntar esses elementos sem invadir nem impor conceitos;<br />

enfrentar gestores nem sempre de boa vontade; populações às vezes escabreadas com<br />

ações anteriores desastrosas - esse sim é o maior desafio no enfrentamento das questões<br />

de saúde no país, particularmente em relação à Nutrição e Alimentação.<br />

Há um livro "<strong>Educação</strong> popular e atenção à saúde da família", de Eymard Mourão<br />

Vasconcelos 7 , mineiro radicado na Paraíba, prof. da UFPB, que, embora não seja<br />

7 VASCONCELOS, E.M. <strong>Educação</strong> popular e a atenção à saúde da família São Paulo:<br />

Hucitec, 1999


específico para Nutrição, nos introduz no mundo cotidiano da população brasileira, onde<br />

as campanhas de saúde só interferem pontualmente e ocasionalmente; mostra que os<br />

profissionais em geral esforçam-se para utilizar seus conhecimentos na abordagem desta<br />

situação mas o enfrentamento dos problemas em particular, desvinculado de ações<br />

globais e integradas, tornam sua ação pouco eficaz diante da grandiosidade das questões<br />

que lhe são propostas.<br />

Mostra também que aprender a educar parece ter eficiência surpreendente, desde que<br />

os espaços abertos para os enfrentamentos dos problemas de saúde das populações se<br />

insiram na dinâmica social de cada localidade.<br />

Creio que é isto que o governo atual esta tentando fazer e quem desejar mudanças tem<br />

que aproveitar a vontade política atual. Que dessas discussões saiam - a partir dos relatos<br />

das experiências plurais que vemos aqui - propostas que o governo central possa abraçar<br />

e, juntamente com os profissionais, contribuir na sensibilização dos gestores locais para<br />

melhorar a nutrição e alimentação da nossa população, não esquecendo de ouvi-la, já<br />

que é a principal interessada.<br />

11. O processo de educação alimentar e nutricional (EAN) exige, entre outros aspectos, uma<br />

reflexão contínua sobre como a educação aparece compondo a EAN. Do ponto de vista<br />

do educador existe um grande leque de opções metodológicas e de possibilidades de<br />

organizar sua comunicação. Cada educador pode encontrar uma forma mais adequada<br />

de integrar os vários procedimentos metodológicos e tecnologias. Não há receitas e nem<br />

nunca haverá receitas prontas, pois as situações são muito diversificadas. Acho que o<br />

importante é que cada educador encontre o que lhe ajude a sentir-se bem, a comunicar-<br />

se bem, ensinar bem e ajudar que se aprenda melhor. A meu ver há duas coisas<br />

fundamentais, e essa visão eu compartilho com o professor José Manuel Moran (USP) 8 . A<br />

primeira é o necessário estabelecimento de uma relação empática entre o educador e os<br />

estudantes, buscando mapear interesses, perspectivas, expectativas, quem são. A forma<br />

de se relacionar é fundamental para o sucesso pedagógico.<br />

A segunda é estar aberto para descobrir as competências dos estudantes e as<br />

contribuições que cada um pode dar no processo de aprendizagem. Se é certo que não<br />

se trata de impor um projeto fechado, é também certo que é necessário que as grandes<br />

diretrizes estejam delineadas e claras para o educador, e assim os caminhos de<br />

aprendizagem vão sendo construídos em cada etapa do modo mais rico possível.<br />

8 Para conhecê-lo melhor consulte o CV Lattes em<br />

http://lattes.cnpq.br/4035390540170184


Aproveito essa mensagem para também compartilhar algumas recomendações sobre a<br />

EAN, que foram feitas no âmbito do CONSEA, em uma oficina intitulada "Oficina de<br />

<strong>Educação</strong> <strong>Alimentar</strong> e <strong>Nutricional</strong> no Grupo de Trabalho Alimentação Adequada e<br />

Saudável", que ocorreu no dia 08 de agosto de 2006 9 . Não vou listar todas, porque são<br />

muitas.<br />

Quanto aos preceitos: recomenda a expressão "educação alimentar e nutricional" ao<br />

invés de "educação alimentar" ou "educação nutricional" e recomenda desvincular o foco<br />

do nutriente para o alimento em si; EAN tendo por perspectiva o direito humano à<br />

alimentação adequada e a segurança alimentar e nutricional<br />

Quanto à formação profissional: comparar a educação alimentar e nutricional de hoje<br />

com a necessidade de repensar os preceitos filosóficos do curso de Nutrição, em especial<br />

a disciplina de EAN; envolver a temática de EAN em todas as disciplinas do curso de<br />

nutrição e não se restringir a uma disciplina específica;<br />

Quanto ao Estado foi recomendado: regulamentar a publicidade de produtos alimentícios<br />

para o público infantil e propor plano de comunicação em EAN; priorizar a EAN nas<br />

políticas públicas novas e existentes; criar políticas públicas articuladas entre as diversas<br />

áreas de proteção à saúde da população; propor acordo social com as indústrias na<br />

elaboração de alimentos mais saudáveis, e ampliar as linhas de fomento em EAN para a<br />

sociedade civil.<br />

Outras recomendações foram: criar fóruns de discussão nos estados para discutir a EAN,<br />

criar observatório de experiências em EAN na sociedade civil, proteger o patrimônio<br />

genético alimentar das comunidades tradicionais.<br />

Além disso, recomendo também a leitura dos documentos gerados pelos Fóruns de EAN<br />

promovidos pela CGPAN 10 e que tem produzidos resultados e reflexões importantes para<br />

o avanço da EAN.<br />

12. Quero registrar que sugestão de estudo de textos relacionados à educação em saúde é<br />

fundamental, pois só assim se terá uma visão crítica sobre o meio onde se atua<br />

diretamente. Na verdade, todos têm idéias próprias, mas só se “reinventarmos a roda”<br />

poderemos dispensar o estudo de textos de autores que discorrem sobre os temas com<br />

os quais trabalhamos. Qualificando-nos com essas leituras, podemos lançar nosso olhar<br />

9 CONSEA- GT - Alimentação Adequada e Saudável Relatório Final . Março 2007<br />

https://www.planalto.gov.br/Consea/static/documentos/Tema/AlimentacaoAdequa/Rel<br />

atorioFinal.pdf<br />

10 Os documentos da CGPAN estão disponíveis em http://www.saude.gov.br/alimentacao


PESSOAL e crítico sobre as realidades em que atuamos e aí sim, podemos efetivamente<br />

contribuir para as transformações. Como professora, insisto muito com os alunos que o<br />

papel de professor hoje não é mais de apenas transmitir informações (essas existem aos<br />

montes, acessíveis facilmente aos universitários), mas de auxiliá-los, com a nossa<br />

experiência (mais idade, mais tempo de trabalho, mais leituras, etc) a desenvolver um<br />

espírito crítico e a criar novos conhecimentos a partir das próprias experiências. Ler é<br />

essencial, tanto para os jovens como para os mais velhos.<br />

13. A leitura é fundamental para refletirmos e transformarmos nossas práticas. O texto<br />

Bases para a <strong>Educação</strong> em Saúde nos Serviços muito interessante pois faz uma<br />

contextualização da educação em saúde, destacando as bases legais e os referenciais<br />

teóricos que vem norteando as práticas educativas no SUS. O Caderno de <strong>Educação</strong><br />

Popular e Saúde 11 tem textos de Eymard Mourão Vasconcelos (Professor da UFPB)<br />

enfocando a educação popular como instrumento de gestão participativa,<br />

de José Ivo Pedrosa (MS/SGEP) que aborda aspectos referentes a educação<br />

popular no Ministério da Saúde, e um texto que até discutimos no<br />

CONBRAN, na Tenda Josué de Castro "Pacientes impacientes" de Paulo<br />

Freire, apresentado por Ricardo Burg Ceccim. Além desses textos, o<br />

caderno apresenta diálogos e experiências. As outras referências também<br />

possibilitam muitas reflexões. A leitura vale a pena !<br />

14. Alimentação e Nutrição devem ser matérias obrigatórias nos currículos escolares. Para<br />

tanto acredito que os cursos de nutrição devem ter licenciatura, pois nossa maior<br />

dificuldade é justamente encontrar métodos, estratégias para educação nutricional.<br />

Tenho acompanhado os debates e observei a indicação de algumas leituras como Paulo<br />

Freire, Edgar Morin e outros. Faço um curso de formação pedagógica onde estudamos os<br />

pensadores, filosofia, antropologia da educação e acho que se os cursos de nutrição<br />

fossem também licenciatura avançaríamos neste campo.<br />

15. Continuando a conversa sobre EAN concordo com várias falas quanto a<br />

questão de não existir receitas prontas, fórmulas mágicas e a<br />

importância de refletirmos a todo o momento sobre a realidade que vamos<br />

trabalhar, com base na problematização dessa realidade, tendo como<br />

11 Disponível em :<br />

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/caderno_de_educacao_popular_e_saude.pdf


eferenciais teóricos os princípios apresentados por Paulo Freire, Edgar Morin<br />

12 e outros autores que trabalham com metodologias crítico-reflexivas. Além<br />

disso, acho que é imprescindível refletirmos sobre o nosso processo de<br />

trabalho, em especial na atenção básica (consulta de nutrição, trabalho<br />

com grupos), pois fazer EAN implica em rompermos com o modelo centrado na queixa-<br />

conduta, na doença, e deixarmos de valorizar apenas a composição química dos<br />

alimentos, prescrição dietética e o seguimento da dieta. Entretanto, os parâmetros<br />

utilizados para avaliação e organização do trabalho no SUS, ainda são<br />

embasados no número de consultas, nos resultados em relação ao<br />

seguimento da dieta. Muitas vezes, diante desse contexto, os<br />

profissionais acabam realizando orientação nutricional, e não educação<br />

alimentar e nutricional. Acho fundamental termos clareza desta diferença.<br />

Experiências e Depoimentos<br />

Estudantes<br />

16. Sou acadêmico ainda, porém compartilho com vocês uma experiência em educação<br />

nutricional:<br />

Em um município da zona leste de Minas Gerais, junto à direção da escola e baseado no<br />

manual operacional para profissionais de saúde 13 e no Guia <strong>Alimentar</strong> para a População<br />

Brasileira 14 foi elaborado um plano curricular em nutrição para o ano de 2010 baseado<br />

nos dispostos pelo PNAE e LDB's da educação para alunos de uma escola publica da rede<br />

municipal do 1º ao 5º ano, o projeto abrange 03 esferas: alunos, comunidade escolar<br />

(pais e funcionários da escola) e comércio local, o saldo até aqui é que a educação<br />

nutricional quando realizada respeitando os aspectos sócio-culturais do público alvo é<br />

12 Edgar Morin, (Paris, 8 de Julho 1921), é antropólogo,sociólogo e filósofo. Formado em<br />

Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de<br />

trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com<br />

consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro.É considerado um dos principais<br />

pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade.<br />

13<br />

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual operacional para profissionais de saúde e educaçao. Brasil.<br />

2008. Disponível em<br />

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/promocao_alimentacao_saudavel_escolas.pdf<br />

14<br />

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar da população brasileira: promovendo a alimentação<br />

saudável. Brasil. 2005. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/publicacoes.php.


uma ótima ferramenta no fortalecimento da políticas públicas de saúde. Pena que as<br />

universidades investem tão pouco na formação profissional nesta área.<br />

17. Para mim que ainda não tenho a experiência além do que aprendi na faculdade esses<br />

depoimentos são de muita valia. Acho que na universidade muitas vezes não<br />

conseguimos "ter molejo" em relação à EAN, pois o próprio docente não tem esse molejo<br />

de saber adaptar as coisas, porém acho que agora é a hora de mudar, se nós todos<br />

começamos a lutar pelas mudanças, que não é fácil é claro e vai levar tempo, poderemos<br />

passar para os próximo nutricionistas uma forma nova de agir em EAN e conseguir<br />

começar a alcançar o nosso objetivo de repassar a população tudo que sabemos para dar<br />

condições que elas queiram e possam mudar.<br />

18. Sou graduanda na UFV-MG. Concordo com os colegas de que a EAN deve ser mais<br />

Profissionais:<br />

trabalhada e melhor pensada e adaptada aos diferentes públicos. Aqui UFV, temos 2<br />

semestres da disciplina de <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>, sendo um teórico e outro prático. Meu<br />

grupo desenvolveu um protótipo de alimento e nutriente muito interessante. Nosso<br />

público eram crianças do 4° ano do ensino fundamental. Pensamos em "passar a idéia" a<br />

eles de que os nutrientes de que tanto falamos estão nos alimentos. Para isso usamos<br />

caixas de fósforo encapadas de cores diferentes para sinalizar os diferentes nutrientes e<br />

garrafas PET, com a gravura do alimento para simbolizá-lo. Quando falávamos do<br />

nutriente, apresentávamos a caixa de fósforos colorida e com o nome do respectivo<br />

nutriente e para mostrar qual alimento era fonte deste nutriente, colocávamos esse<br />

"nutriente" dentro da garrafa PET, símbolo do alimento.<br />

19. O trabalho com <strong>Educação</strong> nutricional é gradual, porém dá resultados fantásticos. Este ano<br />

na cidade de Belém do Pará comemoraremos o dia do nutricionista de forma diferente,<br />

através da educação nutricional. O CRN junto com o Sindicato conseguiu um apoio do<br />

presidente do Clube de Diretores Llojistas e estaremos presentes em uma grande rede de<br />

lojas muito freqüentada pela população, estaremos influenciando as pessoas na hora das<br />

compras, ficaremos durante uma semana. Estas iniciativas são importantes por que não<br />

só divulgam a importância do profissional assim como a melhoria da qualidade de vida da<br />

população através de hábitos alimentares saudáveis.


20. Muitos gestores não dão valor aos projetos de EAN, pois não tem consciência de quanto<br />

a alimentação e nutrição podem interferir na vida de uma pessoa. Será que não param<br />

para pensar na quantidade de medicamentos que poderia ser economizada caso a<br />

população tivesse uma saúde melhor com uma alimentação e nutrição adequada? A EAN<br />

deveria ser implantada não apenas nos segmentos relacionados à saúde, mas também<br />

nas escolas e poderia fazer parte de projetos sociais como o PBF. No município onde<br />

trabalho realizei vários cursos de aproveitamento de alimentos com famílias carentes e<br />

obtive ótimos resultados, é uma forma de auxiliar as famílias a utilizarem melhor o<br />

dinheiro que recebem, sem desperdícios de alimentos. Outra forma de melhorar a EAN é<br />

através das universidades, recordo-me que na faculdade havia a matéria de educação<br />

nutricional, mas a ênfase maior era realmente na elaboração de projetos que envolviam<br />

folders e etc, acredito que deveria haver mais elaboração de projetos diferenciados<br />

(como oficinas e etc) que fossem colocados em prática e não ficassem literalmente<br />

apenas "no papel" (folders).<br />

21. EAN é a base do meu trabalho, seja qual for demanda do meu usuário. Já fiz e faço todo<br />

tipo de atendimento; atendo a faixas etárias de zero a noventa anos, diversas patologias,<br />

atendimento individual e em grupo, SUS (ambulatorial e domiciliar), trabalho com<br />

capacitações técnicas de equipes de profissionais de saúde da Instituição onde trabalho,<br />

em um Centro de Prevenção e Reabilitação de Alta Complexidade para Pessoas com<br />

Deficiências (SUS)-,profissionais do interior e outras unidades de saúde, apresentando a<br />

importância da <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>, e a necessidade de ações preventivas dos agravos à<br />

saúde desse segmento da população. Desenvolvo ações de cuidados em Nutrição em<br />

todos os níveis, desde a básica, até ações de alta complexidade como realização de<br />

exames de Bioimpedanciometria.<br />

No meu cotidiano trabalho tanto com a complexidade de diferentes tipos de deficiências:<br />

atendo a usuários com estomias, obesidade, hipertensão, diabetes, disfunções intestinais<br />

e etc., e o usuário que está em processo de protetização e precisa manter seu peso<br />

estável.<br />

Apesar de lidar com pessoas com o estado emocional abalado, pela pós- amputação, ou<br />

pelo pós- AVC, tenho obtido resultados muito satisfatórios quanto à Terapia <strong>Nutricional</strong><br />

oferecida, incentivando-os a identificarem e corrigirem o consumo não saudável, sem a<br />

imposição de fórmulas prontas. Construindo junto com eles e seus familiares o melhor


modelo alimentar para cada caso, e que se adapte ao gosto, jeito de ser e encarar o<br />

mundo ao seu redor, no seu contexto de vida.<br />

Utilizando de metodologia baseada na <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong>, busco trabalhar com o<br />

método da problematização, e teorias dialógicas, levando em conta aspectos como:<br />

estado emocional, situação sócio-econômica, local de residência e seus aspectos<br />

culturais/regionais ligados a alimentação, idade, situação familiar, condições de vida<br />

atuais e etc.<br />

É imprescindível trabalhar com a escuta sensível, encontrar um ponto de identificação do<br />

usuário com a proposta de Aconselhamento <strong>Nutricional</strong>, trazendo sempre a reflexão da<br />

importância do mesmo aderir ao programa alimentar que foi partilhado e acordado,<br />

juntamente com a família.<br />

Durante o meu atendimento, procuro criar uma atmosfera de trocas de experiências,<br />

deixando meu(s) usuário(s) perceberem que estou informando e também aprendendo<br />

com ele(s). O que os impulsionam a falar e explicitar todo seu conhecimento popular<br />

sobre saúde / doença, alimentos/curas como conteúdos importantíssimos dos seus<br />

repertórios e saberes empíricos e ancestrais, especialmente a "linguagem pelos vínculos<br />

sociais e afetivos no cotidiano" (Freire,1980) 15<br />

A afetividade, valorização, humanização no atendimento, formar vínculo com esta<br />

pessoa, e buscar orientar de forma que o usuário e seus familiares compreendam que as<br />

orientações fornecidas, de ambas as partes, são de fundamental importância para êxito<br />

da terapêutica proposta, e que eles são co-participantes do seu processo de tratamento.<br />

Devo dizer que não foi, e não é fácil conseguir este espaço, e mantê-lo, pois ainda existe<br />

resistência dos gestores em ampliar o atendimento, com a contratação de mais<br />

profissionais Nutricionistas para que pudéssemos abranger um número maior de usuários<br />

e possibilitar mais qualidade ao atendimento.<br />

Creio que a forma de dar maior visibilidade e aumentar a participação de profissionais<br />

Nutricionistas no programas de ações de saúde, em parte, cabe ao próprio Profissional<br />

quando no exercício do seu trabalho, trazer para os seus usuários, todos os benefícios<br />

para a sua saúde, com a promoção de uma alimentação saudável. Nesse caso o<br />

aprofundamento nos estudos, e reciclagens é de fundamental importância, pois só com o<br />

empoderamento técnico-científico, poderemos ter bases sólidas para argumentar com<br />

gestores através de produções científicas, pesquisas e projetos bem feitos que nos<br />

possibilitem apresentar o que fazemos e o que ainda precisamos fazer. Atualmente faço<br />

15 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao<br />

pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes; 1980:


parte de uma rede de Estudo e Pesquisa, do Grupo de <strong>Educação</strong> e Saúde, e no momento<br />

estudo Grupos Operativos e Oficinas em <strong>Educação</strong> e Saúde.<br />

A melhor divulgação da importância de um trabalho é buscar fazê-lo o mais bem feito<br />

possível e com as melhores estratégias disponíveis. Se não as tiver, poderemos criar com<br />

nossas próprias mãos. O que não podemos é nos acomodar ou nos dar por vencidos.<br />

Hoje eu me sinto gratificada com o reconhecimento profissional, dos usuários e outros<br />

colegas, profissionais da área de saúde, ao longo de dezessete anos de exercício<br />

profissional, onze dos quais trabalhando com a Pessoa com Deficiência.<br />

É importante ver que o usuário que antes desconhecia o que era o Nutricionista, hoje<br />

vem do interior buscar o atendimento em Nutrição na minha Instituição, e reconhece a<br />

importância deste atendimento, quando sente melhorar a sua saúde e da sua qualidade<br />

de vida.<br />

22. Estamos aqui em Bento Gonçalves, através da Secretaria de Saúde trabalhando com um<br />

projeto de SISVAN Web nas escolas. Propusemos que os alunos estudem o Guia<br />

<strong>Alimentar</strong> para População Brasileira e então produzam um material educativo (música,<br />

cartaz ou apresentação em slides). Depois do desenvolvimento a proposta é aplicada na<br />

escola. Nos surpreendemos com os resultados, pois a turma fez até um lanche saudável,<br />

com salada de fruta, pão de leite e iogurte.<br />

23. Trabalho na saúde indígena, e minhas atividades aqui se resumem em <strong>Educação</strong><br />

<strong>Nutricional</strong>. É complexo trabalhar EAN em comunidades com culturas diferentes e muitas<br />

vezes sem acesso aos alimentos. Mas iniciei o trabalho nas comunidades indígenas<br />

primeiro levantando o diagnóstico nutricional desta população, detectamos um alto<br />

índice de anemia ferropriva em quase todas as aldeias do Litoral sul e Norte e crianças<br />

obesas nas aldeias do Interior de São Paulo (região de Bauru).<br />

Como sou a única nutricionista existente na saúde indígena, iniciei o trabalho<br />

multidisciplinar com as enfermeiras, os dentistas e a farmacêutica que atuam nas Equipes<br />

Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI).<br />

Para prevenção da anemia, por exemplo, todas as enfermeiras foram capacitadas, com<br />

informações sobre alimentos fonte de ferro, mitos e verdades sobre a alimentação para o<br />

tratamento de anemia ferropriva, entre outros.<br />

O trabalho de ponta feito pelas EMSI foi em primeiro lugar, capacitar os Agentes<br />

Indígenas de Saúde(AIS) e lideranças das comunidades indígenas, utilizando os materiais<br />

de nutrição que elas receberam em nosso primeiro encontro.


Depois de capacitados os AIS, começamos um ciclo de rodas de conversa nas aldeias.<br />

Levamos até as aldeias vegetais folhosos, que muitas vezes eles nem conheciam, pois não<br />

fazem parte de sua cultura alimentar, fizemos preparações para o dia-a-dia, e o mais<br />

interessante é que 80% das crianças consumiram e gostaram.<br />

Em algumas comunidades com parceria da escola, foi iniciado o projeto de horta.<br />

Resultado desta experiência foi a redução, em um ano, de 10% do número de crianças<br />

menores de 5 anos com anemia, redução da solicitação de leite não humano e<br />

diminuição da porcentagem de crianças com classificação nutricional abaixo do percentil<br />

3 (segundo NCHS).<br />

24. Acho que falta muita coisa em termos de educação nutricional no SUS: receitas<br />

saborosas, práticas e saudáveis para fornecer; maior esclarecimento pedagógico aos<br />

profissionais de saúde de como educar a uma população de 70% de analfabetos<br />

funcionais no Brasil; fornecimento de material didático pelo MS sobre o tema como<br />

posters, folders, slides; cozinha experimental, horta escolar, horta urbana; mais<br />

processos de formação que ajudem o profissional de saúde a pensar ao invés de só<br />

decorar...<br />

25. É preciso parar de formar profissionais que acham que tem o dom da palavra e a<br />

verdade em suas mãos. Quantas vezes me foram contado pelos pacientes as "broncas"<br />

que o nutricionista dá, de como são cobrados a ter atitudes "saudáveis", como se isso se<br />

conseguisse mediante listas intermináveis de alimentos, agrupadas em pontos, cores, e<br />

tantas outras. A EAN precisa se arejar. E isso começa pelos formadores que estão nas<br />

universidades pensando ainda nas palestras e nos pré e pós-testes - segue pelos alunos,<br />

que devem ter o senso critico de levar a teoria para uma prática reflexiva e chega aos<br />

profissionais dos mais variados locais. E nesta espiral, cabe em todo e qualquer lugar<br />

onde pessoas têm algo a refletir e muita contribuição para construir essa nova e almejada<br />

EAN.<br />

26. .… acho que o debate só sai da teoria para a prática quando alguém ora relata uma<br />

vivência, ora sugere e realiza ações efetivas na vida real...<br />

Essa talvez seja a essência do que se deseja num trabalho, algo do tipo não dê o peixe,<br />

ensine a pescar e até aprenda novas formas, multiplique e forme multiplicadores.


27. Realmente nos falta muitos subsídios bem como apoio para desenvolver um trabalho<br />

pleno de <strong>Educação</strong> nutricional... falta também um maior comprometimento dos gestores<br />

de saúde e seus coordenados que muitas vezes pegam projetos excelentes vindos do MS<br />

e engavetam simplesmente sem dar nenhuma explicação sem contar que na maioria das<br />

vezes os profissionais envolvidos nem tomam conhecimento. Precisamos de um maior<br />

rigor em relação a isso.<br />

28. Precisamos ter coragem de utilizar nossa sensibilidade e ousadia (responsável e<br />

comprometida), mas buscando identificar qual caminho pode ser tomado para auxiliar o<br />

grupo no qual trabalha a resolver/problematizar a questão demandada. Construir com o<br />

grupo sendo sujeito o tempo todo, admitindo a possibilidade de desconstrução e<br />

reconstrução permanente. Aposte nisso no médio e longo prazo sem fixar resultados<br />

normativos ( mudar isso em x tempo) mas entendo que o próprio processo de estar<br />

construindo junto , por si só, muitas vezes é o que potencializa as mudanças e<br />

transformações. Os resultados acontecem sim e de maneira bem concreta e visível, se<br />

você escolher "indicadores" sensíveis ao processo vivenciado.<br />

Não quero ser retórica - mas na prática a busca de novos significados é uma das únicas<br />

pistas que podemos compartilhar quando queremos valorizar/reconhecer as demandas<br />

específicas de grupos diferentes.<br />

29. Sou nutricionista da Secretaria de Assistência Social do Estado de Rondônia e fico às<br />

vezes me perguntando quando é que deixaremos de reclamar a formação que tivemos e<br />

partiremos para a prática. Palestra ou folder não é a desculpa para que a estratégia usada<br />

não dê certo ,quando essa é feita respeitando o público a quem queremos atingir. Temos<br />

que deixar de falar palavras bonitas e devemos respeitar os saberes de cada um, ai sim<br />

irá surtir efeito. Há seis anos realizo palestra no Banco de leite Humano e já comecei a<br />

colher os frutos deste trabalho, não tem fórmula mágica o negócio é fazer e trocar<br />

experiências com outros profissionais e com a comunidade. Ouvir é o caminho para uma<br />

boa EAN.<br />

30. Trabalho no NASF desde dezembro passado e atualmente realizo um trabalho de<br />

parceria com os médicos onde fazemos uma triagem dos pacientes com colesterol,<br />

triglicerídeos, diabetes, hipertensão alterados e num primeiro momento estes pacientes<br />

passam por mim para que possamos tentar reverter o quadro apenas com alimentação e<br />

uma prática de atividade física, estamos tendo grandes resultados.


31. Meu namoro com a EAN iniciou na UFPR em 1983 quando entrei no curso de<br />

nutrição, desde as primeiras disciplinas específicas eu ficava escutando os depoimentos<br />

dos professores em relação às soluções que encontravam para resolver as<br />

questões de trabalho e quase que em 100% das vezes eu podia observar que<br />

era uma intervenção educativa, lembro que eu ficava imaginando qual seria<br />

a minha forma de enfrentar aquela situação e como que eu poderia<br />

desenvolver essa habilidade. …. A EAN é a ferramenta de trabalho mais completa que<br />

temos para exercer com qualidade nosso trabalho, nos próximos dias, se for possível vou<br />

tentar passar para vocês minha trajetória com a EAN nos 5 anos de Hospital de Clínicas<br />

(Banco de Leite Humano, Maternidade e Pediatria), nos 13 anos na Secretaria Municipal<br />

da <strong>Educação</strong> (alimentação escolar); nos 06 anos na Secretaria Municipal da Saúde (nível<br />

Central) e agora há 1 ano no NAAPS. E para finalizar, gostaria de dizer que nesses 23<br />

anos, vi que a avaliação dessas atividades ainda é o maior desafio para mim, no entanto<br />

hoje me sinto muito mais perto de concretizar essa lacuna na minha formação.<br />

32. Também acredito que a <strong>Educação</strong> <strong>Nutricional</strong> vai muito além do que palestras e<br />

distribuição de folders, a educação nutricional deve acontecer de forma gradual, a<br />

conscientização deve ser contínua e progressiva. Há uma palavra que é muito escutada<br />

pelos administradores, mas que tem muito haver com a educação nutricional, que é a<br />

"empowerment" que significa "dar poder", ou seja, significa dar autonomia e apoio ao<br />

indivíduo, para que ele mesmo possa fazer uma análise de suas ações, assim basicamente<br />

o educando precisa se envolver com seu próprio problema para que, a partir daí, tome as<br />

decisões e promova as mudanças que julgar necessárias. Assim o processo de educação<br />

nutricional ocorrerá de forma eficaz e não apenas com o mero repasse de informações,<br />

que podem passar sem fazer um grande efeito.<br />

33. Sou nutricionista de uma ONG que atua com pacientes oncológicos na cidade de Itu/SP.<br />

Desde minha graduação ainda na cidade de Passos/MG, atuei com foco na educação<br />

nutricional. Acredito que o grande desafio de uma educação nutricional efetiva, passa<br />

pela integração dos profissionais de saúde, com a escola, família e demais atores sociais<br />

envolvidos na formação de hábitos saudáveis na criança. Creio que de fóruns, palestras,<br />

filmes, nossas crianças estão saturadas, e as inúmeras experiências conhecidamente<br />

desenvolvidas por muitos colegas, são deficitárias do ponto de vista do envolvimento e<br />

comprometimento da criança.


Em Bragança Paulista onde temos uma segunda unidade da ONG, estamos<br />

desenvolvendo um trabalho pioneiro no Município, no qual dentro do espaço escolar,<br />

realizamos sim palestras para pais, teatro de fantoches para crianças, mas também<br />

estimulamos e desenvolvemos o cultivo e a importância do consumo de alimentos<br />

saudáveis. Estamos tendo grande êxito não só pela conscientização da criança dos<br />

conceitos de alimentação saudável, mas principalmente, por está dando autonomia para<br />

a criança fazer escolhas saudáveis e experimentar sabores e sentimentos diferentes, na<br />

merenda escolar.<br />

34. Queremos ser profissionais empenhados em provocar mudanças e auxiliar pessoas a<br />

terem atitudes, precisamos ficar inquietos diante do que já existe e procurar propor<br />

coisas novas, acompanhar a evolução dos fatos, das pessoas e do tempo, enfim agir para<br />

fazer movimento e não se indignar apenas. Na Secretaria Municipal da <strong>Educação</strong>, quando<br />

iniciei meu trabalho na Alimentação Escolar a nutricionista do setor passou num<br />

concurso na UFPR e saiu; eu fiquei sozinha com uma equipe de professoras que faziam a<br />

administração do Serviço, confesso que foi um período difícil, talvez se eu não me<br />

inquietasse, estivesse até hoje lá fazendo só cardápios e supervisionando as escolas. Mas,<br />

eu queria muito mais do que isso, e fui vencendo etapas, atravessando barreiras e<br />

conquistando meu espaço. Primeiro consegui implantar nas 120 Escolas de Curitiba um<br />

cardápio com gêneros perecíveis, quando isso era impossível segundo a minha chefia<br />

(professora), mas eu pedi uma chance, fiz reuniões com fornecedores, fiz logística de<br />

distribuição semanal e com quantitativos por escola tudo calculado manualmente, pois<br />

não tínhamos planilhas no computador no início, enfim deu certo. Depois propus a<br />

avaliação nutricional dos alunos. Queria também conhecer o impacto da alimentação<br />

escolar, mas como avaliar mais de 90 mil alunos sozinha ??? Como sabia que os<br />

professores de educação física faziam anualmente o exame biométrico (peso e altura) e<br />

engavetavam as planilhas, decidi ousar e entrei em contato com a Secretaria da Saúde,<br />

que já havia sinalizado a vontade de avaliar os escolares e fizemos uma capacitação de<br />

500 professores de educação física para coletarem os dados de forma padronizada e<br />

adequada e enviarem os dados para SMS que tabulava os dados no Epi info e devolvia o<br />

relatório para a SME. Foi assim que em 1996 implantamos o SISVAN Escolar em todas as<br />

Escolas da Prefeitura de Curitiba. Enfim, apenas quero dizer que se somos sozinhas<br />

precisamos deixar de lado nossa vaidade e devemos procurar parcerias, dividir a carga de<br />

trabalho. E mostrar nosso trabalho para sermos valorizados e ampliar nossa equipe.<br />

Como isso se relaciona com EAN? Após fazer o diagnóstico nutricional, o que fazer com


os desnutridos, com os eutróficos e com os sobrepesos ??? Já nessa época outra<br />

nutricionista veio trabalhar na SME, então fizemos mudanças nos cardápios, adequamos<br />

a alimentação conforme localização das Escolas e prevalências de desnutrição e<br />

sobrepeso. Mas, faltava a EAN, como fazer as crianças melhorarem seus hábitos também<br />

fora da Escola? Foi aí que entrei em contato com o Setor de capacitação da SME e propus<br />

um curso de EAN para os professores da Rede Municipal de Ensino, afinal em duas<br />

nutricionistas jamais conseguiríamos estar em todas as salas de aula. Pois, bem o curso<br />

foi aceito, duas estagiárias de nutrição nos auxiliaram na montagem da apostila<br />

conforme os assuntos que eu havia proposto e lançamos um curso de 20 horas para<br />

professores, e passamos a ministrar os conteúdos e nas discussões propusemos como<br />

eles poderiam trabalhar os assuntos dentro de suas disciplinas e exemplificávamos como<br />

usar na matemática, na história, na geografia, em ciências, etc. Acredito que até hoje<br />

esse curso acontece. Portanto, mesmo sem recurso financeiro, sem grandes estratégias,<br />

na época fiz além do que as condições de trabalho me proporcionavam, fiz porque quis,<br />

fiz porque minha inquietação era grande, foi difícil, foi, mas posso dizer que além de ter<br />

crescido profissionalmente, cresci como pessoa, aprendi a compartilhar conhecimento e<br />

ganhar pessoas que compartilhavam comigo os objetivos de melhorar o estado<br />

nutricional dos alunos. Se perguntarem, como avalio essa experiência posso dizer que na<br />

época durante as supervisões nas Escolas pude observar uma melhora da aceitabilidade e<br />

diminuição dos desperdícios. Não podemos esquecer que o período das crianças em casa<br />

é grande, e se hoje estivesse lá com certeza estaria investindo em ações para as famílias,<br />

pois sabemos que a Escola não pode ser a responsável pela obesidade, mas pode sim<br />

contribuir para minimizar seus efeitos. Já me alonguei, no próximo relato trarei minha<br />

experiência na SMS.<br />

35. Tenho visto vários locais onde a alimentação é pautada em arroz e feijão tendo a carência<br />

da compra e ou do recebimento da doação de verduras.<br />

Falando em experiências bem sucedidas houve em Pontalina - GO um projeto da<br />

Maçonaria e Prefeitura em que implantaram em parceria com os órgãos Federais,<br />

Estaduais, Municipais, ONGS e sociedade civil, uma horta comunitária. Os alimentos eram<br />

divididos entre os participantes e o excedente era vendido na Feira da Cidade para ser<br />

revertido em implementação de benfeitorias na própria horta.<br />

Paralelamente realizávamos no Programa CEIS - a orientação à crianças e adolescentes a<br />

respeito da alimentação e ingestão adequada dos alimentos, dos benefícios de uma vida<br />

saudável do ponto de vista físico e psíquico, os valores éticos, a prevenção de uso de


drogas, a prevenção sexual e o reforço escolar. A medida visava impedir que as crianças<br />

e jovens fossem para as ruas e que os familiares tomassem consciência de seu papel de<br />

educadores e mantenedores da ordem social. À medida que o conhecimento cognitivo foi<br />

sendo alcançado, o consumo de verduras e aproveitamento dos alimentos foi sendo<br />

verificado.<br />

Parece haver uma relação direta entre o aumento de consumo e o incentivo ao aumento<br />

da produção. Vai haver maior produção e de melhor qualidade à medida que o trabalho<br />

for valorizado e solicitado.<br />

Os habitantes da cidade passaram a comprar mais, inclusive para valorizar o trabalho dos<br />

horticultores. Até a Feira passou a ser freqüentada pelos moradores da cidade e regiões<br />

vizinhas, que iam para ver as verduras e a variedade dos mesmos. Os próprios<br />

horticultores divulgavam a venda das hortaliças para seus vizinhos.<br />

Outro fator importante é o da valorização do trabalho pelos meios de comunicação. O<br />

orgulho em produzir algo tem a ver com o impacto desse produto no mercado. A rapidez<br />

na venda e no consumo faz-se necessário. Assim como já acontece na prática com outros<br />

alimentos como farinha, feijão, soja e outros.<br />

Faz-se necessária a implementação das políticas de vendas, escoamento, trocas,<br />

permutas alimentares e doações dos alimentos produzidos nas hortas para as crianças<br />

desnutridas ( muitos produtos são perdidos em virtude da não possibilidade de frete dos<br />

alimentos para as instituições carentes).<br />

Os produtores e chacareiros que pagam pelo espaço, em algumas ocasiões se sentem<br />

desvalorizados, auto desmotivados e desestimulados, uma vez que dependem de tantos<br />

parceiros para sobreviver. A parceria, sem dúvida entre técnicos, produtores e<br />

instituições pode ser uma das melhores alternativas. Boa sorte no trabalho de orientação<br />

cognitiva, os bons hábitos podem ser adquiridos mediante boa educação e boa qualidade<br />

nutricional e psíquica.<br />

36- ...,Trabalho há um ano no município de Umari-CE, mas não vejo meu trabalho crescer.<br />

Boa parte da população ainda não tem conhecimento da minha presença do município<br />

(sinto que a as agentes de saúde não transmitem esse detalhe, de que há<br />

nutricionista atuante no município), só atendo um dia na semana,<br />

no posto de saúde. Atendo em um único dia, pois é o único dia que sala disponível<br />

no posto de saúde... Quando eu estagiava nessa área era uma maravilha, o posto era<br />

sempre cheio, havia atendimento 5 dias na semana, era uma maravilha, mas não consigo<br />

fazer igual.


Queria muito aumentar a demanda, ver o posto cheio, formar grupos de idosos,<br />

hipertensos,<br />

36- Esta realidade, de falta de espaço não é exclusiva sua....e o que você precisa para<br />

aumentar a demanda e ter maior contato com o médico, mesmo ele não esteja na<br />

unidade no dia que você atende...converse com ele sobre o que você pode fazer para<br />

ajudar os pacientes que ele atende... a partir do momento que ele perceber que ao<br />

encaminhar os pacientes o trabalho dele vai render mais, ele passará a encaminhar cada<br />

vez mais e a população vai corresponder... Comece sugerindo a ele que encaminhe as<br />

gestantes para que ele não precise orientar o ganho de peso e também as crianças em<br />

fase de introdução dos alimentos (6 meses). Também, os pacientes com diabetes e<br />

hipertensão....enfim, eu trabalho em unidades de saúde em Bento Gonçalves e também<br />

tenho consultório e grande parte da minha demanda vem em busca de orientação por<br />

encaminhamento dos médicos que confiam no meu trabalho<br />

37- Trabalho em município do interior do ES atuando na secretaria de saúde e percebi<br />

que passaria por isso que você passou (falta de espaço físico e profissional). Resolvi da<br />

seguinte forma: Assim que passei no concurso, fiz uma reunião com as equipes de ESF, a<br />

coordenação de ESF e a secretária de saúde. Nesta reunião expus meu trabalho e os<br />

programas que sou coordenadora municipal (suplementação de ferro, Bolsa Família na<br />

saúde, Sisvan e saúde na escola). Como neste município nunca havia trabalhado<br />

nutricionista, procurei formar um laço e tirar dúvidas, deixando a equipe à vontade para<br />

fazer encaminhamentos de pacientes com as patologias que dou prioridade no<br />

atendimento e procurei me disponibilizar para participar de ações da ESF que tenham<br />

grande correlação com os programas de alimentação e nutrição (Hiperdia, puericultura -<br />

grupos já existentes nas equipes da ESF). Hoje além das consultas, faço visitas<br />

domiciliares às famílias que as enfermeiras e eu achamos necessário (faço as visitas<br />

domiciliares com a equipe de ESF), participo dos dias de puericultura com preenchimento<br />

de fichas do Sisvan e distribuição de sulfato ferroso e participo também periodicamente<br />

das ações do Hiperdia e de reuniões de equipe para decidirmos e planejarmos ações. Sou<br />

muito próxima da coordenadora de ESF, planejamos ações antes de levarmos o assunto<br />

para as enfermeiras.<br />

Como tenho uma carga horária de 20 horas, às vezes fica difícil conciliar meu horário com<br />

o horário e o cronograma da ESF, mas são todos muito receptivos e hoje já perceberam a<br />

importância no meu trabalho. Tudo se inicia com comunicação.


38- Aqui em Santa Maria - RS também temos dificuldade de espaço, contudo, penso que<br />

você poderia tentar buscar espaços alternativos tais como: salão da comunidade, Igreja,<br />

ver aonde existem grupos de idosos, hipertensos e diabéticos e procurar se inserir neles.<br />

Além de fazer sala de espera, ir às Escolas próximas as Unidades. Penso que estas sejam<br />

algumas alternativas para irmos ganhando espaço.<br />

39- Sou nutricionista aqui em Rio Branco passei no concurso e me chamaram para<br />

trabalhar com doenças crônicas, tem apenas três meses mais já pude conhecer um pouco<br />

da cultura dos Acreanos, pois, viajo para os Municípios assessorando os mesmos. Na<br />

verdade queria algumas ideias do que possam está trabalhando com essa população.<br />

Bem, estava pensando em trabalhar de imediato com uma oficina com tema alimentação<br />

saudável (para Diabéticos, hipertensos e obesos). Os municípios do Acre a população não<br />

tem hábitos alimentares saudável, por exemplo: o consumo de frutas é muito raro. Na<br />

verdade é muito cultural então estava pensando em trabalhar uma oficina bem dinâmica.<br />

E também trabalhando com alimentos regionais para incentivar o consumo deste<br />

alimentos.<br />

A prática profissional e os recursos para a EAN<br />

40 Uma das formas mais antigas e comuns de fazer EAN é o uso da PIRÂMIDE<br />

ALIMENTAR CLÁSSICA. Só que ela é contestável hoje em dia e nunca há debate sobre<br />

isso em nosso meio. Acho muito sério isso, pois propaga erros inclusive no meio de<br />

nutricionistas.<br />

Lamentável quando os cursos universitários não acompanham as últimas pesquisas<br />

sobre o tema quando a mudança deveria começar lá, mas isso é outro tema que tem<br />

a ver com academicismo puro brasileiro. No Brasil usa-se uma pirâmide alimentar<br />

antiga e ultrapassada ainda onde os carboidratos refinados estão na base da<br />

pirâmide em grandes quantidades e bem sabemos que estão estreitamente ligados à<br />

epidemia de obesidade e diabetes atual. Não é suficiente dizer que a proporção não<br />

importa e sim a quantidade total, pois não é isso que a pirâmide passa a quem vê. A<br />

proporção importa sim. A pirâmide da USDA-1995 só confundiu mais além de ser de<br />

difícil entendimento.


Muitos conceitos nutricionais aceitos como fundamentos de nutrição mudaram<br />

muito: gorduras saturadas e insaturadas, carboidratos, obrigatoriedade de<br />

laticínios e ate mesmo calculo do VET não são mais os mesmo. Citar todos<br />

ficaria muito extenso, mas sugiro a todos que procurem saber de duas<br />

pirâmides mais modernas pelo menos:<br />

ü Pirâmide <strong>Alimentar</strong> da Universidade Michigan 16<br />

ü Pirâmide <strong>Alimentar</strong> da Universidade de Harvard 17<br />

Há muita coisa para se mudar, muita coisa sem debate racional. Mesmo as<br />

pirâmides mais modernas citadas estão um pouco defasadas em relação às<br />

ultimas pesquisas. Acredito o que diferencia um profissional nível superior<br />

para o de nível técnico é principalmente que o primeiro tem autoridade para mudar<br />

conceitos básicos baseado em bom senso e novos fundamentos.<br />

41- A minha fala é de alerta, pois sou professora de educação alimentar com formação<br />

de mestrado e doutorado para isto. Utilizo como referencial teórico Isobel Contento,<br />

sugiro o seu livro de 2007 para quem domina o inglês (Nutrition Education Linking<br />

Research, Teory and Practice). A Pirâmide é a representação gráfica do Guia<br />

<strong>Alimentar</strong> Americano, como o Guia <strong>Alimentar</strong> Brasileiro (www.saude.gov.br/nutricao)<br />

publicado pelo Ministério da Saúde/CGPAN não definiu nenhuma representação<br />

gráfica, sou de opinião que a Pirâmide, que não pertence ao nosso meio e nem é<br />

para os brasileiros, não deva ser utilizada. Além disto outros argumentos científicos<br />

apóiam a minha sugestão. Sugiro procurarem conhecer sobre a construção da<br />

Pirâmide, principalmente a primeira surgida nos EUA e a leitura do artigo<br />

LANZILLOTTI, Haydée Serrão; COUTO, Sílvia Regina Magalhães e AFONSO, Fernanda<br />

da Motta. Pirâmides alimentares: uma leitura semiótica. Rev. Nutr.<br />

[online].2005,vol.18, n.6, pp. 785-792, para pensarem a respeito.<br />

42 Sou consultora técnica da Coordenação-Geral da Política de Alimentação e<br />

Nutrição, e milito na área de educação alimentar e nutricional há alguns anos.<br />

Acerca dos ícones de alimentação saudável, acompanho a discussão no meio,<br />

especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do ícone e sua função na<br />

comunicação.<br />

16 Disponível em: http://www.med.umich.edu/umim/food-pyramid/index.htm<br />

17 Disponível em: http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/


Até a década de 80, a roda dos alimentos foi o referencial brasileiro. Em 1999, a pirâmide<br />

alimentar americana foi adaptada à realidade brasileira. Todavia, alguns estudos pontuais<br />

indicam a limitada compreensão da proposta da pirâmide, o que nos convida a refletir<br />

sobre um novo ícone, que seja culturalmente aceito, reconheça os fatores antropológico-<br />

culturais, educativos, sociais e econômicos que estão articulados estreitamente à<br />

alimentação e a forma de vida dos indivíduos e, finalmente, esteja bem fundamentado na<br />

alimentação habitual da população. Esses pré-requisitos podem ser vistos em ícones de<br />

outros países, que adotam figuras como vasos ou vasilhames típicos, mapas, arco-íris e<br />

maçãs como representações de seus ícones de alimentação saudável. O Ministério da<br />

Saúde optou por não indicar nenhuma representação gráfica quando da publicação do<br />

Guia <strong>Alimentar</strong> para a População Brasileira. É um desafio que temos pela frente – o Brasil<br />

deveria ter um símbolo, um ícone para a promoção da alimentação saudável e EAN?<br />

43 Como nutricionista atuante na área de educação nutricional em atenção básica,<br />

venho colaborar com a experiência no uso da roda dos alimentos. Desde que me<br />

formei (há 13 anos) percebi que a pirâmide não é um instrumento prático, pois<br />

leva muito tempo para explicar e os resultados do entendimento são poucos. A<br />

'realidade regional' também me mostrou o quanto a pirâmide é de difícil<br />

entendimento para pessoas de baixa renda. Assim, , iniciei os grupos de<br />

emagrecimento construindo uma 'roda própria', que fizemos a partir da colagem<br />

de figuras de revistas... aquela velha técnica, muito boa por sinal! A roda é o<br />

prato e a metade do prato precisa ter frutas, legumes e verduras. Para nós é o<br />

básico, não? A roda também pode representar o dia, com a metade sendo<br />

preenchida com FLV: 3 frutas, 1 copo de suco natural, legumes e verduras no<br />

almoço e no jantar. Tenho tido bons resultados, com uma média de 80% no<br />

incremento do consumo de FLV nas dietas e emagrecimento médio de 7% do<br />

peso inicial, em 6 meses.<br />

44 Vivemos em um país com 70% de analfabetos funcionais, onde dar um impresso que<br />

tenha simples frases pode se constituir algo incompreensível muitas vezes para<br />

quem recebe, entendem mal até o significado da palavra isolada. Nos raros casos<br />

que recebi do SUS impressos para distribuir, parecem que foram feitos para a<br />

população da Dinamarca, isso quando não há conceitos ultrapassados. Gostei do<br />

Guia <strong>Alimentar</strong> para a População Brasileira (MS) como um parâmetro para os


profissionais de nutrição.<br />

Antes do encerramento deste ciclo de discussões a Equipe de Moderação sugeriu, ainda, o debate<br />

sobre a necessidade de termos um ícone nacional para a promoção da alimentação adequada e<br />

saudável: “ ...propomos que foquemos a discussão sobre o uso de ícones/símbolos para a prática de<br />

EAN. Algumas participantes se manifestaram sobre as limitações do uso da pirâmide alimentar (em<br />

qualquer versão), outras apresentaram suas experiências de criação de ícones próprios para sua<br />

atividade educacional. Por outro lado foi enfatizado que o Guia<br />

<strong>Alimentar</strong> para a População Brasileira (MS/CGPAN) não adotou nenhum símbolo para a<br />

representação de suas diretrizes. A discussão que propomos é a seguinte: vocês consideram<br />

importante que o Brasil tenha um ícone de promoção da alimentação saudável ??? Caso<br />

considerem importante, como deveria ser o processo para chegarmos a<br />

melhor proposta de imagem ???<br />

45- Sou nutricionista Responsável Técnica pela Alimentação Escolar de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.<br />

Primeiramente acho muito importante a criação de um ícone de promoção da alimentação saudável,<br />

pois a linguagem visual é muito mais fácil de ser assimilada principalmente para crianças e adultos<br />

com baixo nível de escolaridade.<br />

46- ... Considero ser importante sim um ícone para promoção da alimentação saudável. O mesmo<br />

deve ser amplamente discutido e se possível nacionalmente através de fórum e enquetes específicas<br />

para tal. Acho que deve atingir os profissionais que atuam e também os estudantes de graduação<br />

47- A imagem facilita a familiaridade que as pessoas possam vir a ter com o tema <strong>Educação</strong><br />

alimentar e nutricional, além de, caso tenha difusão nacional, como parece ser o caso, em qualquer<br />

região tanto o profissional quanto os usuários, de onde estiverem, reconhecerão do que se trata.<br />

Algo assim como uma espécie de marca/logotipo. Tanto que, já que abriram espaço para tal, opino<br />

que uma agência especializada neste tipo de trabalho poderia ser convocada para criá-lo. Esses<br />

profissionais de criação teriam as informações obtidas pela equipe da Redenutri a partir das<br />

discussões aqui realizadas, para que entendam o espírito do que devem criar . A partir das propostas<br />

apresentadas pode o ícone mais representativo ser escolhido talvez até sendo submetido à rede ou<br />

outro modo que acharem melhor.

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