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1<br />

Estudos em desenvolvimento regional II


Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo - ASPEUR<br />

Centro Universitário <strong>Feevale</strong><br />

Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul – Brasil<br />

2004


PRESIDENTE DA ASPEUR<br />

Francisco Assis Stürmer<br />

REITOR DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE<br />

Antonio Nery Martins<br />

COORDENAÇÃO EDITORIAL<br />

Ramon Fernando da Cunha<br />

REALIZAÇÃO<br />

ICSA – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas<br />

Diretor: Alexandre Zeni<br />

EDITORA FEEVALE<br />

- Coordenação<br />

Celso Eduardo Stark<br />

- Editoração e Produção Gráfica, Apoio Técnico<br />

Juliano da Silva<br />

- Auxiliar de editoração<br />

Fabíula Zimmer<br />

- Auxiliar de editoração<br />

Sabrina Martins<br />

CAPA<br />

Juliano da Silva<br />

Fabíula Zimmer<br />

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA<br />

Fabíula Zimmer<br />

REVISÃO<br />

Elin Maria Lanius Lautert<br />

IMPRESSÃO<br />

Gráfica Metrópole<br />

5<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />

Centro Universitário <strong>Feevale</strong> – RS/Brasil<br />

Bibliotecária responsável: Lílian Amorim Pinheiro – CRB 10/1574<br />

Estudos em desenvolvimento regional II: pensando Campo Bom / Iselda<br />

Corrêa Ribeiro (organizadora). – Novo Hamburgo: <strong>Feevale</strong>, 2004.<br />

151 p. ; 21 cm.<br />

ISBN 85-86661-64-3<br />

l. Desenvolvimento econômico – Campo Bom (RS) 2. Empreendedorismo<br />

– Campo Bom (RS) 3. Planejamento regional – Campo Bom<br />

(RS) I. Ribeiro, Iselda Corrêa<br />

CDU 332.1(816.5)<br />

© Editora <strong>Feevale</strong> – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por<br />

qualquer meio. A violação dos direitos do autor (Lei n.º 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.<br />

CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE<br />

Campus I: Av. Dr. Maurício Cardoso, 510 – CEP: 93510-250 – Hamburgo Velho – Novo Hamburgo – RS<br />

Campus II: RS 239, 2755 – CEP: 93352-000 – Vila Nova – Novo Hamburgo – RS<br />

Fone: (51) 586.8800 – Homepage: www.feevale.br


AgrAdecimentos<br />

Este estudo tornou-se possível porque foi resultado da soma do trabalho<br />

de muitos que acreditaram na sua possibilidade. Queremos, em primeiro lugar,<br />

agradecer ao Prefeito de Campo Bom, Giovani Feltes, por permitir a viabilidade<br />

da pesquisa no Município e por acreditar no sonho de que o Governo pode percorrer<br />

o caminho <strong>para</strong> a construção de um desenvolvimento sustentável, apoiado<br />

pela sociedade civil e política local.<br />

Queremos agradecer ao Conselho da Associação dos Municípios do Vale<br />

do Sinos por inaugurar, através do convênio com o Centro Universitário <strong>Feevale</strong>,<br />

os esforços de ver todos os municípios do Vale do Sinos crescendo coletivamente,<br />

na busca de oportunidades que levem à construção de políticas públicas locais e<br />

regionais necessárias à melhoria da qualidade de vida da população.<br />

Reservamos um agradecimento especial <strong>para</strong> o diretor do Instituto de Ciências<br />

Sociais Aplicadas, Alexandre Zeni, cuja interação intelectual e crítica construtiva<br />

têm representado uma contribuição preciosa <strong>para</strong> o crescimento intelectual do<br />

grupo de pesquisadores.<br />

Dedicamos menção especial ao Professor Ms. Ramon Fernando da Cunha,<br />

Pró-Reitor de Ensino desta Instituição, por considerar nossa contínua interação<br />

intelectual importantíssima <strong>para</strong> o desenvolvimento da pesquisa.<br />

Nossos agradecimentos ao Reitor do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>, Antônio<br />

Neri Martins, por abrir as portas da editora do Centro Universitário <strong>para</strong> que os<br />

resultados deste trabalho atravessasse o portal do Vale do Sinos, alojando-se no<br />

interior das comunidades e da academia, também produtora de conhecimentos.<br />

Por fim, queremos agradecer ao acadêmico Alberto de Souza Rossi por sua<br />

corajosa e incansável atuação nesta pesquisa, no que se refere a coleta de dados<br />

secundários, digitação, etc.


7<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Equipe Técnica:<br />

Coordenador:<br />

Fabiano Engelmann<br />

Líder do Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional Sustentável:<br />

Iselda Corrêa Ribeiro<br />

Pesquisadores:<br />

André Maurício dos Santos<br />

Juarez Buriol<br />

Jucelaine Bitarello<br />

Olivério Maria Ferreira<br />

Bárbara Patricia Olbermann Pasini<br />

Renata Bastos Dellamea<br />

Técnico de pesquisa:<br />

Alberto Rossi<br />

Bolsista:<br />

Gabriela Siegle Weber


Dedicamos este livro à toda comunidade<br />

de Campo Bom, que sonha e acredita<br />

que um novo mundo é possível.


Introdução.......................................................................................................................13<br />

Iselda Corrêa Ribeiro<br />

i PArte desenvolvimento locAl e regionAl...................................................17<br />

1 o desenvolvImento local e regIonal na regIão do vale dos<br />

sInos: um Portal Para a QualIdade de vIda..........................................................19<br />

Iselda Corrêa Ribeiro<br />

2 dIagnóstIco munIcIPal............................................................................................29<br />

Juarez Buriol<br />

3 comunIdade emPresarIal e cIvIl organIzada e as PolítIcas PúblIcas<br />

governamentaIs........................................................................................................37<br />

Renata Bastos Dellamea<br />

ii PArte diAgnóstico socioeconômico e Político institucionAl<br />

de cAmPo Bom...........................................................................................45<br />

4 camPo bom: colonIzação emPreendedora...........................................................47<br />

Olivério Maria Ferreira<br />

4.1 caracterIzação do munIcíPIo.......................................................................50<br />

4.1.1 Informações geraIs..............................................................................51<br />

5 a economIa de camPo bom...................................................................................55<br />

André MAurício dos sAntos<br />

sumário<br />

5.1 Panorama geral da economIa de camPo bom...............................57<br />

5.1.1 Produto Interno bruto................................................................57<br />

5.1.2 valor adIcIonado bruto...............................................................60<br />

5.1.3 estabelecImentos...........................................................................63


10<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

5.1.4 emPrego e renda..............................................................................65<br />

5.1.5 cruzamento entre estabelecImentos, emPregados e<br />

remuneração.....................................................................................67<br />

5.2 análIse setorIal da economIa de camPo bom..................................69<br />

5.2.1 o setor PrImárIo..............................................................................69<br />

5.2.1.1 estabelecImentos, emPregados, e rendImento no setor<br />

PrImárIo.......................................................................................69<br />

5.2.1.2 cultura temPorárIa.....................................................................71<br />

5.2.1.3 cultura Permanente...................................................................72<br />

5.2.1.4 rebanho de anImaIs.....................................................................74<br />

5.2.1.5 sIlvIcultura..................................................................................75<br />

5.2.2 o setor secundárIo...............................................................................76<br />

5.2.2.1 estabelecImentos, emPregados e rendImento da atIvI-<br />

dade IndustrIal...........................................................................76<br />

5.2.2.2 estabelecImentos, emPregados e rendImento da<br />

construção cIvIl.......................................................................81<br />

5.2.2.3 valor adIcIonado fIscal............................................................83<br />

5.2.3 o setor tercIárIo..................................................................................84<br />

5.2.3.1 estabelecImentos, emPregados e rendImentos do<br />

comércIo..............................................................................................84<br />

5.2.3.2 estabelecImentos, emPregados e rendImento do setor<br />

de servIços........................................................................................86<br />

5.2.3.3 valor adIcIonado fIscal............................................................90<br />

5.2.3.4 exPortações.................................................................................91<br />

5.2.4 análIse de tendêncIas econômIcas....................................................92<br />

5.3 consIderações fInaIs...............................................................................96<br />

6 fInanças PúblIcas e Infra-estrutura............................................................101<br />

JucelAine BitArello<br />

6.1 o orçamento PúblIco munIcIPal..........................................................101<br />

6.1.1 a estrutura do orçamento PúblIco..........................................104<br />

6.2 fInanças PúblIcas - execução orçamentárIa do munIcíPIo de<br />

camPo bom.............................................................................................111<br />

6.3 Infra-estrutura, saneamento básIco, comunIcações,<br />

transPortes e habItação.........................................................................120<br />

6.4 consIderações fInaIs.............................................................................125<br />

7 comPortamento eleItoral e PerfIl PolítIco do munIcíPIo de


Pensando Campo Bom<br />

camPo bom..............................................................................................................133<br />

FABiAno engelMAnn<br />

7.1 dIstrIbuIção PartIdárIa........................................................................134<br />

7.2 consIderações fInaIs.............................................................................143<br />

consIderações fInaIs: abrIndo o Portal Para o desenvolvImento<br />

de camPo bom.................................................................................................................145<br />

iseldA corrêA riBeiro<br />

o Projeto...............................................................................................................145<br />

os resultados.......................................................................................................147<br />

vIrando a roda: o Portal está aberto........................................................150<br />

11


introdução<br />

Este livro tem como meta apresentar ao público o resultado de estudos e<br />

reflexões em desenvolvimento regional, que vem sendo realizado pelo grupo<br />

de pesquisadores do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário<br />

<strong>Feevale</strong>.<br />

O debate nos meios acadêmicos e políticos sobre as possibilidades de se<br />

encontrar caminhos viáveis de desenvolvimento local, regional e global, voltados<br />

<strong>para</strong> a construção da qualidade de vida de um povo, através de um planejamento<br />

estratégico, reunindo o governo e a sociedade civil organizada, tem sido um desafio<br />

neste novo século.<br />

Neste estudo, entendemos que os atores políticos e sociais de cada região<br />

e município, que constróem os caminhos <strong>para</strong> o desenvolvimento “sustentável”<br />

do seu povo devem, em primeiro lugar, pensar que todo o desenvolvimento é<br />

uma construção. Ele está sempre sendo construído no tempo e no espaço do<br />

local, do regional e do global, de acordo com a sua identidade e sua realidade,<br />

seu movimento e suas contradições.<br />

Esta construção, com todos os seus limites, é derivada não só das políticas<br />

públicas governamentais, como também da participação de todos que atuam<br />

junto aos bairros e comunidades locais, como a sociedade civil organizada, as<br />

organizações empresariais e os sindicatos.<br />

Com isso, queremos dizer que este trabalho não é conclusivo. Os pesquisadores<br />

apenas identificaram algumas das questões sociais mais importantes do<br />

município de Campo Bom, do seu perfil socioeconômico e político institucional<br />

<strong>para</strong> sugerir alguns dos possíveis caminhos <strong>para</strong> o desenvolvimento local e uma<br />

melhoria da qualidade de vida da comunidade local.<br />

A primeira parte deste estudo “O desenvolvimento local e regional na Região


13<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

do Vale do Sinos: um portal <strong>para</strong> a qualidade de vida”, escrita por Iselda Corrêa<br />

Ribeiro, apresenta uma discussão sobre os principais conceitos do desenvolvimento,<br />

desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local e regional debatidos<br />

pela comunidade científica nacional e internacional. É possível pensar sobre desenvolvimento<br />

sustentável?, questiona a autora. Como promover a inclusão, no<br />

mundo do trabalho, os excluídos, considerando que a inserção dos mesmos, na<br />

comunidade, oportuniza crescimento local <strong>para</strong> a melhoria da qualidade de vida?<br />

Não seria a idéia de desenvolvimento “sustentável” uma utopia que alimenta<br />

a esperança de uma vida melhor <strong>para</strong> este novo século? Estas são algumas das<br />

questões levantadas neste texto pela autora.<br />

O segundo capítulo, “Diagnóstico Municipal”, escrito por Juarez Buriol,<br />

procura discutir o que é um diagnóstico, o porquê um diagnóstico e os seus limites<br />

no processo de desenvolvimento de uma cidade ou de uma região.<br />

A partir da exposição de um modelo de pesquisa, o autor traça os principais<br />

momentos da construção de um diagnóstico. A coleta de dados nas fontes secundárias,<br />

através de indicadores reconhecidos pela comunidade científica, serve<br />

<strong>para</strong> subsidiar um planejamento estratégico de políticas públicas, através de um<br />

perfil do município. No entanto, não é o suficiente. É necessária uma pesquisa<br />

qualitativa junto à sociedade. “Diagnosticação significa uma pesquisa que visa<br />

a detectar os principais problemas, em prazo de tempo limitado, com fontes<br />

em dados primários e dados secundários”, defende Buriol. Por último, coloca a<br />

importância da participação da sociedade civil organizada, ONGS, organizações<br />

empresariais e sindicatos, bem como o próprio Centro Universitário <strong>Feevale</strong>,<br />

junto aos Governos, <strong>para</strong> a construção de um planejamento voltado à melhoria<br />

da qualidade de vida da comunidade.<br />

No terceiro capítulo, “Comunidade empresarial, sociedade civil organizada<br />

e as políticas públicas governamentais”, escrito pela professora Renata Bastos<br />

Dellaméa, o leitor encontra uma discussão específica sobre o debate da academia<br />

em relação ao desenvolvimento, as principais questões sociais e econômicas na<br />

construção desses conceitos e a organização dos atores sociais locais e regionais<br />

na construção de um planejamento estratégico de um município.<br />

Na segunda parte deste trabalho, “Diagnóstico socioeconômico e político<br />

institucional de Campo Bom”, os pesquisadores, sob a coordenação de Fabiano<br />

Engelmann, apresentam o resultado da pesquisa, sistematizada a partir<br />

de um estudo de dados secundários, realizados pelo IBGE, FEE, NUTEP e<br />

RAIS, apresentando um perfil do desenvolvimento socioeconômico e político


Pensando Campo Bom<br />

institucional do Município de Campo Bom.<br />

No capítulo 4, “Campo Bom: Colonização empreendedora”, Olivério<br />

Maria Ferreira apresenta uma fotografia da história de Campo Bom e sua passagem<br />

empreendedora pelo processo de colonização na Região do Vale do Sinos.<br />

No capítulo 5, “A economia de Campo Bom”, André Maurício dos Santos<br />

descreve o crescimento econômico de Campo Bom, mostrando um perfil econômico<br />

do município, resultado de um olhar nos dados fornecidos pelo IBGE,<br />

FEE, RAIS e Prefeitura Municipal.<br />

O capítulo 6, “Finanças públicas e infra-estrutura”, de Jucelaine Bitarello,<br />

apresenta o orçamento público e as despesas municipais, destacando as prioridades<br />

das políticas públicas locais, seus limites e avanços nas áreas da educação, saúde,<br />

segurança e infra-estrutura.<br />

Engelmann encerra este estudo, no capítulo 7, “Comportamento eleitoral e<br />

perfil político do município de Campo Bom”, acenando com um ponto de partida<br />

<strong>para</strong> a orientação das estratégias políticas e eleitorais dos atores sociais da<br />

comunidade e sua participação neste processo.<br />

Na conclusão, “Abrindo o portal <strong>para</strong> o desenvolvimento de Campo Bom”,<br />

Iselda Ribeiro apresenta, a partir das análises e sugestões que constam nos textos<br />

dos pesquisadores, o cenário possível <strong>para</strong> se pensar o desenvolvimento socioeconômico<br />

de Campo Bom, reafirmando que os caminhos <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

sustentável estão na consciência dos governantes e no sonho de todos os cidadãos.<br />

Aos pesquisadores cabe estudar, identificar e analisar a realidade concreta<br />

dos municípios, seus limites e superações, oferecendo informações ao Governo<br />

Municipal de Campo Bom, a fim de subsidiar a definição e implementação de<br />

políticas públicas, visando a melhorar os níveis de vida da população. A ação,<br />

bem... esta depende da vontade política do Governo Municipal e da consciência<br />

dos atores sociais nesse processo.<br />

Iselda Corrêa Ribeiro<br />

14


I PARTE<br />

desenvolvimento locAl e regionAl


1 o desenvolvimento locAl e<br />

regionAl nA região do vAle do sinos:<br />

um PortAl PArA A QuAlidAde de vidA<br />

Iselda Corrêa Ribeiro 1<br />

As categorias desenvolvimento, desenvolvimento regional, desenvolvimento<br />

local e globalização, tempo e espaço são dimensões sociais que<br />

remetem à forma como os homens produzem suas relações sociais, ou seja, como<br />

as diferentes sociedades se reproduzem socialmente, culturalmente, economicamente,<br />

politicamente nas suas relações com a comunidade, e as ações reflexivas<br />

num determinado espaço territorial planetário.<br />

Pensar o desenvolvimento local e regional é, também, pensar nas formas de<br />

inclusão social, buscando entender o processo de produção das diferenças entre<br />

as pessoas, no espaço regional e local, nos diferentes Estados Nacionais, a partir<br />

das identidades, <strong>para</strong> caminharmos em direção ao trabalho e à reprodução social<br />

com qualidade de vida dos indivíduos na construção cotidiana de sua história,<br />

neste novo século que acabou de nascer: o XXI.<br />

A história dos homens tem mostrado que existem diferentes processos,<br />

modos de produção, com entendimentos teóricos e práticos de políticas públicas<br />

de desenvolvimento, diferenciados no tempo e no espaço do nacional, regional<br />

e local. Os países imperialistas, que detêm o poder econômico e o poder das<br />

armas, buscam impor suas culturas nas diferentes sociedades do Planeta Terra<br />

considerando as diferentes identidades, rituais, ideologias, linguagens que não são<br />

as suas, como um “mal” das sociedades. Aí falam de desenvolvimento: “desenvolvimento”,<br />

<strong>para</strong> eles, e “dependência” <strong>para</strong> os outros. Dessa forma, podemos<br />

1 Iselda Corrêa Ribeiro é doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo e Professora<br />

Pesquisadora do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.


17<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

perguntar como as sociedades consideradas dependentes, onde impera a fome e<br />

a exclusão social da maioria das pessoas, pode pensar em melhoria de vida? O<br />

que é qualidade de vida? Como trabalhar a inclusão social das milhões de pessoas<br />

excluídas da sociedade, em conseqüência do desemprego, da fome e da miséria<br />

e, quem sabe, da globalização? Qual o compromisso dos governantes locais e da<br />

sociedade consigo mesma? Como enfrentar a chamada “globalização” e construir<br />

o desenvolvimento sustentável ao mesmo tempo? Como ser iguais e diferentes<br />

ao mesmo tempo?<br />

Os cientistas sociais têm observado que, ao mesmo tempo em que o processo<br />

de globalização se acelera e se acentua, o de regionalização vem se tornando cada<br />

vez mais importante. É no território que este processo adquire concretude, ou seja,<br />

torna-se observável através das marcas que vão sendo impressas no mesmo. As<br />

formas impressas no território revelam o uso que vem sendo destinado ao mesmo<br />

ao longo do tempo. “Este uso, por sua vez, é determinado por interesses sociais,<br />

econômicos, políticos e culturais que, em última instância, configuram as regiões”<br />

observa Milton Santos. 2 Estes interesses podem ser locais, regionais ou globais,<br />

ou seja, podem atender aos interesses de agentes que têm seu endereço próprio na<br />

região, ou em qualquer lugar do mundo, ou até mesmo não ter endereço algum, na<br />

medida em que são agentes que atuam em rede, pelo mundo afora. E é exatamente<br />

neste aspecto que se dá a relação ou a conexão do local/regional com o global.<br />

Para que uma região exista de fato, tem que ser construída socialmente a<br />

partir de laços comuns, de traços de identidades que se expressam no âmbito<br />

cultural, no econômico e no político, que permitam deslumbrar desafios comuns<br />

à comunidade envolvida. Construir socialmente uma região significa potencializar<br />

sua capacidade de auto-organização em torno de projetos políticos comuns, ou seja,<br />

capaz de mobilizar-se em sujeito de seu próprio desenvolvimento, afirma Boisieur. 3<br />

Milton Santos 4 reflete sob a ordem global que busca impor, a todos os lugares,<br />

uma única racionalidade. E os lugares respondem ao mundo, segundo diversos<br />

modos de sua própria racionalidade. Para promover o desenvolvimento regional<br />

ou local, no contexto da realidade atual, é necessário conhecer em profundidade<br />

a região, identificar suas potencialidades e construir instrumentos de coesão social<br />

em torno de propósitos comuns à população envolvida. Além disso é preciso criar<br />

formas de representação da vontade da maioria, de uma consciência identificada<br />

2 Santos, Milton, A natureza do espaço- técnica e tempo & razão e emoção. SP. Hucitec, 1996.<br />

3 Boisieur, S. El desarollo territorial a partir de lka construcción de capital sienergico. Santiago de<br />

Chile: ILPES, 1998


Pensando Campo Bom<br />

a partir da participação de todos, de um sonho coletivo <strong>para</strong> permitir que uma<br />

nova gestão do território possa ser viabilizada.<br />

A partir, daí podemos pensar sobre os diversos conceitos de desenvolvimento<br />

e escolher aquele que realmente se insere na realidade local e regional de<br />

um determinado território.<br />

Para Oliveira 5 , “o estudo do desenvolvimento econômico regional está<br />

baseado em alguns indicadores socioeconômicos que vão determinar quais os<br />

fatores que permitem concluir se uma região está em estado de pobreza ou de<br />

riqueza.” Para o autor, “o desenvolvimento regional tem como finalidade atender<br />

às necessidades básicas dos indivíduos, assegurando o bem-estar da sociedade”.<br />

Para classificar uma região como pobre ou rica, os cientistas sociais utilizavam<br />

como indicador fundamental o PIB per capita (produto interno bruto per capita).<br />

Os resultados destes estudos demonstram que este indicador, no entanto, tem<br />

conseguido apenas avaliar a questão quantitativa dos processos sociais, ou seja,<br />

preocupa-se mais com o total do produto per capita gerado, e não em como ele<br />

é gerado, deixando de medir o padrão de vida de seus cidadãos. Para se avaliar<br />

realmente o grau de pobreza ou riqueza de uma região, afirma Oliveira, “há necessidade<br />

de se analisar outros fatores, como alimentação, educação, transporte,<br />

infra-estrutura, saúde, moradia, abarcando assim as principais necessidades sociais<br />

da população”. Portanto, o PIB é um indicador quantitativo, diretamente relacionado<br />

à produção, medindo apenas o crescimento econômico, deixando de analisar<br />

o estado social de uma região, ou seja, o lado qualitativo do crescimento regional.<br />

Klering 6 , doutor em Administração e especialista em estudos sobre o desenvolvimento<br />

no Rio Grande do Sul, com<strong>para</strong>ndo os índices da FEE – Fundação de<br />

Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul com os dados do PNUD-<br />

Programa das Nações Unidas, encontra grandes contradições. O autor observa<br />

que nos estudos de Índices de Desenvolvimento Humano, do PNUD – Programa<br />

das Nações Unidas, o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal,<br />

com<strong>para</strong>dos aos índices da FEE, com a verdadeira qualidade de vida da população<br />

nos municípios, são diferentes. Nesses estudos, citando como exemplo o PNUD,<br />

o autor observou que cidades que “possuem notórias carências habitacionais, de<br />

emprego e de infra-estrutura, aparecem bem a frente de outras cidades em que<br />

4 op. cit<br />

5 Oliveira, Júlio César de. Indicadores de desenvolvimento humano ampliado por estados e<br />

mesorregiões da região sul do Brasil, 1980/1991. Estudos do CEPE Santa Cruz do Sul, n. 7/8.<br />

18


19<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

inexistem favelas, desemprego, cujos rios não apresentam poluição”.<br />

Para Klering, tanto o IDH-M, quanto principalmente o IDESE, apresentam<br />

limitações importantes <strong>para</strong> estimar a qualidade de vida de municípios, como os<br />

do Rio Grande do Sul. Afirma o autor:<br />

Normalmente, os esforços de medição recorrem invariavelmente a<br />

indicadores ou blocos de variáveis tradicionais, como renda, saúde<br />

e educação. Todavia, sabe-se que a qualidade de vida em municípios<br />

depende de outros fatores adicionais como bloco de segurança, da<br />

justiça e da liberdade.<br />

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 7 , IBGE, ao apresentar os<br />

indicadores de desenvolvimento sustentável, chama a atenção <strong>para</strong> o surgimento<br />

desse conceito a partir dos anos de 1980, pela Comissão Mundial sobre o Meio<br />

Ambiente – CMMA. De acordo com o Relatório Brundtland, 8<br />

o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação<br />

no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos,<br />

a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança<br />

institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente<br />

e futuro, a fim de atender às necessidades do presente sem<br />

comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às<br />

suas próprias necessidades.<br />

Nesta nova visão, o desenvolvimento identificado tradicionalmente como<br />

econômico passa a integrar as dimensões sociais, ambientais e institucionais,<br />

apoiando-se em novos <strong>para</strong>digmas. O desenvolvimento sustentável deve responder<br />

aos desafios de cada município, região ou estado, tomando feições concretas em<br />

cada país, considerando seus problemas locais, regionais e globais. “A formulação<br />

de indicadores também é um trabalho aberto”, afirma o IBGE 9<br />

Desta forma, podemos acreditar que o desenvolvimento de uma região só<br />

pode ser considerado sustentável se for constituído por um desenvolvimento humano<br />

e social, que abarca as relações sociais regionais e locais e suas contradições.<br />

Vendo desse ângulo, podemos considerar que o conceito de “desenvolvimento<br />

dez. 1998.<br />

6 KLERING, Luis Roque, “Qual a verdadeira qualidade de vida dos municípios do Rio Grande do<br />

Sul?”, publicado no site da Internet o IDESE – Índice de Desenvolvimento Socioeconômico, 2003.<br />

7 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Estudos &Pesquisas, Informação Geográfica,<br />

Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, Brasil 2002, Rio de Janeiro, 2002. P. 09<br />

8 O Relatório Brundtland, segundo o IBGE, teve grande repercussão internacional. Os princípios<br />

do desenvolvimento sustentável estão na base da Agenda 21, documento aprovado por mais de 180


Pensando Campo Bom<br />

sustentável” é possivelmente uma utopia, utopia esta que deve ser inerente às<br />

práticas cotidianas do <strong>fazer</strong> dos políticos, das ONGS, dos empresários e, conseqüentemente,<br />

dos seus desafios.<br />

Neste aspecto, as políticas públicas dos governos devem orientar-se <strong>para</strong><br />

viabilizar, além do aumento da produção, a preocupação com o meio ambiente,<br />

e distribuir – de maneira mais justa e eqüitativa – os benefícios obtidos pelo desenvolvimento<br />

econômico, tanto em nível local como regional.<br />

As tendências evolutivas da globalização têm modificado a tendência histórica<br />

do Estado. A sociedade e a economia se estenderem, de forma sobreposta, dentro<br />

das mesmas fronteiras nacionais, transformando a conquista do desenvolvimento<br />

sustentável numa abrangência universal, concretizando-se de forma diferenciada<br />

em cada lugar ou país.<br />

Segundo Giddens (1990), a etapa contemporânea é de modernidade alta e<br />

radical, caracterizada como período do capitalismo de informação, globalizado e de<br />

alto risco. A globalização provocou um descentramento de poder em nível internacional:<br />

“ele reside cada vez menos em um cenário territorial unificado, ou em um<br />

sujeito privilegiado único (como a burguesia internacional), ou em um determinante<br />

primário, (ex. Estado nacional)” 10 .<br />

Desta forma, não se pode mais continuar entendendo a<br />

ordem mundial como assunto de relações entre Estados ou<br />

Blocos hegemônicos. É necessária uma visão que considere as<br />

complexidades das relações entre tempo e lugar, e as ambigüidades<br />

do espaço como lugar. (Giddens 1990; Harvey, 1994).<br />

A teoria da globalização, assim como a teoria do desenvolvimento regional<br />

e local de forma sustentável, requerem uma teoria multidimensional do espaço,<br />

de um processo simultâneo do espaço, de espaço-tempo e de uma “geopolítica de<br />

mobilização social” 11 da compatibilização das diferenças existentes nas diferentes<br />

formas de produção social.<br />

Em teoria social, espaço não pode ser definido sem referências às práticas sociais.<br />

As pessoas dão, ao espaço, uma forma, uma função, uma prática social. É assim<br />

que Castells vai afirmar que “espaço do ponto de vista da teoria social, é o suporte<br />

países durante a realização da conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento,<br />

realizada no Rio de Janeiro em 1992. (IBGE, IBIDEM).<br />

9 Ibidem.<br />

20


21<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

material de práticas sociais de tempo compartilhado”. 12 (2002)<br />

Desta forma, temos de levar em conta que os municípios, objetos de estudo,<br />

situam-se sempre em uma determinada região, reunindo atores sociais com<br />

diferentes práticas sociais, culturais, econômicas e político-institucionais, que são<br />

simultâneas no tempo – práticas sociais do tempo. O espaço e o tempo não podem<br />

ser entendidos independente da ação social.<br />

Percebe-se que, na contemporaneidade, as relações sociais, em cada localidade,<br />

em cada município, têm sofrido o impacto de eventos e processos distantes. A<br />

sociedade tem-se distanciado da natureza, e adquirem maior poder aqueles que<br />

controlam o tempo – hegemonia global do tempo, definido por Castells como<br />

aquele controlado pelo computador, aumentando a necessidade da democratização<br />

do lugar e do tempo 13 .<br />

Nesse sentido, é importante identificarmos, através da análise das categorias<br />

inicialmente colocadas, como os atores sociais dos municípios desenvolvem as<br />

relações sociais a partir das dimensões: social (educação, habitação, saúde, meio<br />

ambiente e segurança); econômica (produção, trabalho, economia, tecnologia,<br />

taxa de investimento, grau de endividamento e outras); político (eleitores, partidos<br />

políticos) e das instituições (estrutura institucional, capacidade institucional, gasto<br />

público etc). Como os governos locais alocam seus recursos? Como se sistematiza o<br />

desenvolvimento regional sustentável, em suas várias dimensões, avanços e limites?<br />

Estas são questões importantes <strong>para</strong> se pensar o desenvolvimento.<br />

O conjunto deste estudo é importante <strong>para</strong> identificarmos as principais questões<br />

sociais dos diferentes municípios, no tempo e no espaço do desenvolvimento local<br />

e regional, entendendo que o local e o global se interpenetram. Fenômenos globais<br />

estão influenciando fatos locais e vice-versa.<br />

Este processo, como afirma Giddens 14 , “não é incompatível com a diversidade<br />

cultural, podendo coexistir com a heterogeneidade e pluralidade das diversas<br />

culturas existentes nos planetas, locais, regionais e nacionais”.<br />

Assim, é importante pensar e trabalhar o desenvolvimento regional e local<br />

sustentável, através do diferencial de suas dinâmicas estruturais e organizacionais.<br />

10 Giddens, Anthony, A Terceira Via – reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da socialdemocracia,<br />

Record, RJ, 2000.<br />

11 Sobre o conceito de geopolítica de mobilização social ver o livro de Iselda Corrêa Ribeiro, Pioneiros<br />

Gaúchos, a colonização do norte matogrossense, ed. Tchê, Porto alegre, 1987.


Pensando Campo Bom<br />

O próprio projeto de desenvolvimento é, como dissemos anteriormente, uma<br />

construção que vai depender de como determinadas regiões ou municípios específicos<br />

respondem aos desafios atuais, construindo seus modelos de desenvolvimento<br />

com uma dinâmica própria local, levando em conta a identidade local, regional, os<br />

sonhos e utopias.<br />

Conhecer a realidade regional e local, através da pesquisa, <strong>para</strong> que a aplicação<br />

dos recursos disponíveis seja planejada com a participação consciente da<br />

sociedade civil organizada, em parceria com o governo público, é importante<br />

<strong>para</strong> a construção de um modelo de desenvolvimento. Sabemos que o mesmo é<br />

um processo e que se encontra em movimento, necessitando, muitas vezes, de<br />

mudança, inovação, transformação etc., de acordo com as novas necessidades da<br />

comunidade. É necessário que o fruto do desenvolvimento, mesmo com seus<br />

limites, seja partilhado por todos e faça parte dessa grande utopia, que consiste<br />

no sonho real de uma melhor qualidade de vida da população.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ADORNO, Sergio (org.). A Sociologia entre a Modernidade e a Contemporaneidade,.<br />

Porto Alegre: Editora UFRGS, 1993.<br />

BOISIEUR, S.. El Desarrollo territorial a partir de Ika construcción de<br />

capitaç sienergetico. Santiago do Chile: ILPES, 1998.<br />

BOURDIEU, P.. O poder simbólico. Lisboa. Difusão Editorial. 1989.<br />

BURIOL, Juarez. Desenvolvimento Local Sustentado Diagnóstico como<br />

Base <strong>para</strong> o Planejamento Estratégico, Tese de Mestrado, Universidade de<br />

12 Castells, Manuel, A Sociedade em Rede- A Era da Informação: Economia, sociedade e Cultura,<br />

vol. 1, Paz e 0Terá. SP. 2000.p.500.<br />

13 Castells, op. Cit. P. 502.<br />

14 Giddens, op. Cit.<br />

22


23<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Santa Maria-RS, 2001 (mimeo.)<br />

CASTELS, Manuel, A Sociedade em Rede, A Era da Informação: economia,<br />

sociedade e cultura. Vol. 1. Rio de Janeiro:Paz e Terra. 2002.<br />

CLEMENTE, Ademir. Economia Regional e Urbana. São Paulo: Atlas 1999.<br />

DINIZAR, Fermino Becker. REDENEP, Rede de Estudo, Planejamento e<br />

Gestão Local-Regional do Desenvolvimento. Lageado: UNIVATES 2000<br />

ENGELMANN, Fabiano, org. O Vale dos Sinos em Perspectiva, Estudos<br />

em Desenvolvimento Regional. Novo Hamburgo: Ed.<strong>Feevale</strong>, 2003.<br />

GIDDENS, Anthony. A Terceira Via – Reflexões sobre o impasse político<br />

atual e o futuro da social democracia. Rio de Janeiro: Record. 2000.<br />

IANNI, Octávio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira.<br />

1992.<br />

KLERING, Luis Roque. Qual a verdadeira qualidade de vida dos municípios<br />

do Rio Grande do Sul?, publicado no site da Internet do IDESE – índice<br />

de Desenvolvimento Sócio-econômico. Porto Alegre. 2003.<br />

OLIVEIRA, Dauraci de Senna. Planejamento municipal. Rio de Janeiro:<br />

IBAM, 1991.<br />

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Excelência na administração estratégica.<br />

São Paulo: Editora Atlas, 1995.<br />

OLIVEIRA, Júlio César de. Indicadores de Desenvolvimento Humano<br />

Ampliado por Estados e Mesorregiões da região Sul do Brasil. 1980/1991.<br />

Estudos do CEPE Santa Cruz do Sul, n. 7/8. Dez. 1998<br />

REDES/UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ, Desenvolvimento Regional:<br />

Desafios de uma nova área do conhecimento. Parte II. Vol. 8. N.1<br />

Editora UNISC, 20003<br />

RIBEIRO, Iselda Corrêa. Sesmeiros. Mato Grosso: UFMT. 1999.<br />

RIBEIRO, Iselda Corrêa. Pioneiros Gaúchos. Rio Grande do Sul: Tchê, 1987.<br />

SANTOS, Milton. A natureza do espaço-técnica e tempo & razão e emoção.<br />

São Paulo: Hucitec. 1996.


2 diAgnóstico municiPAl<br />

Juarez Buriol 1<br />

Ver e entender uma cidade, um município, de forma integrada, a partir de<br />

uma perspectiva de desenvolvimento sustentado, surge como condição prévia<br />

<strong>para</strong> deter e reverter os problemas que resultam em baixo crescimento, pobreza<br />

e degradação ambiental.<br />

Qualquer município brasileiro, <strong>para</strong> compreender os desafios na área de gestão<br />

e planejamento deve, em primeiro lugar, explicitar de que forma conceber o<br />

desenvolvimento e a partir de que contexto os esforços municipais, neste sentido,<br />

têm que ser realizados. Deve-se ter em mente que trabalhar pelo desenvolvimento<br />

implica não apenas buscar uma transformação <strong>para</strong> o melhor, uma superação de<br />

problemas, significa admitir a presença de valores com base em referenciais como<br />

justiça social, liberdade e bem-estar comum.<br />

Entenda que não há base <strong>para</strong> executar um Planejamento Estratégico Municipal<br />

sem antes traçar um detalhado diagnóstico da situação existente em todas as<br />

suas dimensões, quais sejam: dimensão social, dimensão econômica, dimensão<br />

polílica-institucional e dimensão ambiental e de infra-estrutura.<br />

O Diagnóstico Municipal deve ser um instrumento básico <strong>para</strong> fornecer<br />

subsídios <strong>para</strong> estudos com<strong>para</strong>tivos de desenvolvimento intermunicipais e interregionais.<br />

Neste sentido, parte de uma perspectiva interdisciplinar, integrando<br />

os enfoques econômico, tecnológico, social, cultural, educacional, ambiental e<br />

1 Juarez Buriol é Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade de Santa Maria e Professor<br />

Pesquisador do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.


25<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

governamental. Tem por objetivo, também, contribuir <strong>para</strong> a abordagem técnica<br />

e científica dos problemas estruturais do município estudado, <strong>para</strong> a análise de<br />

potencialidades e vocações, bem como formar quadros capacitados <strong>para</strong> a atuação<br />

como planejadores de ações estratégicas, capazes de atuar a partir da iniciativa<br />

privada e pública.<br />

De acordo com KÖCHE (1997), o diagnóstico compreende a fase exploratória<br />

da pesquisa e, em geral, não se chega a um total fechamento do quadro<br />

de referência. “Para amadurecer o quadro conceptual, é útil construir um grupo<br />

de estudo específico que trabalhará de modo a fortalecer o grupo permanente de<br />

pesquisadores e participantes”, afirma o autor.<br />

Diagnosticação significa uma pesquisa que visa a detectar os principais<br />

problemas, em prazo de tempo limitado, com fontes em dados primários e dados<br />

secundários.<br />

Uma técnica, freqüentemente utilizada <strong>para</strong> a coleta de dados primários, é<br />

a entrevista aberta (ou semi-estruturada).<br />

As principais tarefas relacionadas com as entrevistas da fase exploratória,<br />

podem ser assim ordenadas:<br />

pre<strong>para</strong>ção do roteiro de entrevistas;<br />

pre<strong>para</strong>ção do trabalho da equipe de entrevistadores;<br />

aplicação do roteiro de entrevistas;<br />

análise e interpretação das respostas;<br />

relatório de análise das entrevistas;<br />

retorno do relatório aos entrevistados.<br />

O objetivo consiste em detectar, nas verbalizações dos participantes, os principais<br />

problemas que se encontram na situação de eleger os problemas julgados<br />

prioritários, que necessitam de mais investigação.<br />

Os pesquisadores e participantes se reúnem em seminário permanente <strong>para</strong><br />

direcionar a investigação, eventualmente com o auxílio complementar de grupos<br />

de estudos ou coleta de dados.<br />

Para conceber, orientar e gerenciar o processo de pesquisa no quadro da<br />

organização é prevista a formação de um grupo permanente, eventualmente


Pensando Campo Bom<br />

auxiliado por grupos de apoio, se for necessário.<br />

O grupo de investigação permanente reúne os interessados, com alguma<br />

competência, que possam contribuir na elaboração da técnica de pesquisa, na<br />

realização da coleta e no processamento de dados.<br />

As respostas aos questionários e à coleta de dados constituem um reflexo,<br />

embora imperfeito, das posições da organização. As principais questões, levantadas<br />

pela pesquisa, são agrupadas em blocos a serem destacados <strong>para</strong> elaborar o perfil<br />

do município ou diagnóstico municipal.<br />

Por fim, a divulgação dos resultados é destinada aos entrevistados, ao conjunto<br />

de membros da organização e, de modo mais seletivo, aos atores e tomadores<br />

de decisão. Além de informativo, seu objetivo é conscientizador.<br />

A coleta de dados secundários, ou método estatístico e quantitativo, se dá<br />

através de informações coletadas junto ao IBGE, RAIS, FEE, INEP e outros,<br />

pesquisados através de meios eletrônicos e junto aos governos locais, os quais<br />

fornecem ferramentas importantes <strong>para</strong> identificar o quadro geral dos municípios,<br />

nas diferentes dimensões estudadas, e o cruzamento de variáveis. Este método,<br />

que contempla os dados quantitativos das várias dimensões estudadas, tem limites<br />

no que se refere aos indicadores relacionados, visto que cada município é único,<br />

isto é, tem identidade diversa dos outros.<br />

É indispensável constituir o grupo por pesquisadores com conhecimentos<br />

específicos de cada uma das dimensões a serem estudadas, de acordo com a sua<br />

especialidade, selecionando um conjunto de indicadores que definam os caminhos<br />

do levantamento de dados e a posterior análise. Ressalta-se que a análise quantitativa<br />

e qualitativa dos dados deverá estar integrada, necessitando reuniões periódicas<br />

da equipe <strong>para</strong> discussão e análise.<br />

Quanto aos dados primários, deverão seguir a linha de desenvolvimento da<br />

pesquisa dos dados secundários, acrescidos de entrevistas estruturadas com as<br />

empresas, governantes e sociedade civil organizada. Apartir desta organização, as<br />

associações e organizações se engajam em debates, de forma que a maior parte<br />

das lutas pela cidadania sejam realizadas em seu âmbito por meio de interesses e<br />

necessidades dos grupos sociais.<br />

Os dados primários e secundários deverão ser pesquisados nas quatro dimensões,<br />

como segue:<br />

26


27<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

dimensão sociAl


Pensando Campo Bom<br />

dimensão econômicA<br />

dimensão Político-institucionAl<br />

28


29<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

dimensão AmBientAl e de infrA-estruturA<br />

O levantamento de dados <strong>para</strong> o diagnóstico visa à geração de informações<br />

sobre as causas dos problemas, às mudanças que devem ocorrer <strong>para</strong> que o problema<br />

seja resolvido e aos resultados esperados da mudança.<br />

OLIVEIRA (1991) apresenta o planejamento estratégico municipal como<br />

processo a realizar-se através de fases articuladas e interdependentes, mas não<br />

necessariamente seqüenciais; porém, deve ser sempre iniciado pelo diagnóstico.<br />

A descrição dessas fases constitui um roteiro de trabalho que pode ser seguido<br />

pelos encarregados da coordenação do processo, qualquer que seja o estilo de<br />

planejamento escolhido, como segue:<br />

1 – Análise da situação existente ou diagnóstico;<br />

2 – Estudo de prioridades e formulação de objetivos e políticas;<br />

3 – Levantamento das alternativas existentes <strong>para</strong> alcançar cada objetivo;<br />

4 – Levantamento de custos;<br />

5 – Escolha de alternativas de soluções;<br />

6 – Alocação de recursos;<br />

7 – Programação;<br />

8 – Controle e avaliação;<br />

9 – Reformulação.<br />

“O processo de planejamento não deve constituir uma atividade esporádica,<br />

que venha a ocorrer apenas em determinado período de uma gestão” (OLIVEI-


Pensando Campo Bom<br />

RA, 1995). O processo de planejamento municipal se inicia, por iniciativa do<br />

Governo, com a busca de informações de problemas e situações existentes, bem<br />

como das potencialidades e oportunidades, através de um detalhado Diagnóstico<br />

Municipal.<br />

Concluímos afirmando que a pesquisa deve trazer contribuições significativas<br />

<strong>para</strong> o Planejamento Estratégico. É importante destacar que os pesquisadores tenham<br />

que ser artesãos, isto é, produtores do conhecimento.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica. Rio de<br />

Janeiro: Vozes, 1997.<br />

OLIVEIRA, Dauraci de Senna. Planejamento municipal. Rio de Janeiro:<br />

IBAM, 1991.<br />

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Excelência na administração estratégica.<br />

São Paulo: Atlas, 1995.<br />

30


3 comunidAde emPresAriAl e civil<br />

orgAnizAdA e As PolíticAs PúBlicAs<br />

governAmentAis<br />

Renata Bastos Dellaméa 1<br />

Desde meados da década de 70, que a conceituação de crescimento econômico<br />

e as políticas de desenvolvimento vêm sendo redefinidas, devido às<br />

transformações que as formas das empresas, suas localizações e o Estado vêm<br />

passando. Os processos de descentralização política têm permitido às cidades e<br />

às regiões assumir novas atribuições na área econômica, proporcionando o surgimento<br />

de instrumentos de política local, capazes de condicionar o crescimento<br />

e o progresso social.<br />

O processo de globalização, imposto aos países a partir dos anos 80, tem<br />

aumentado a concorrência nos mercados, obrigando países, regiões e cidades a<br />

ajustarem seus sistemas produtivos, criando em sua volta mecanismos mais flexíveis<br />

de organização da produção e novos espaços produtivos como resposta à nova<br />

divisão internacional de trabalho. As diferentes formas de regionalização e de<br />

integração das economias nacionais – como o Mercado Comum do Sul, a União<br />

Européia e o Acordo de Livre Comércio das Américas – podem ser vistas como<br />

formas pelas quais se materializa o processo de globalização.<br />

Os fatores responsáveis pela aceleração do processo de globalização podem<br />

ser: as mudanças nas políticas econômicas e comerciais, que generalizam a liberação<br />

dos mercados de bens, serviços e fatores; as novas estratégias das empresas<br />

multinacionais, que tiram proveito das oportunidades de localização viabilizadas<br />

1 Renata Bastos Dellamea é Mestre em Economia pela UFRGS – Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul. Professora pesquisadora do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.


32<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

pela integração; e a introdução de inovações nos transportes e nas comunicações,<br />

que contribuem <strong>para</strong> a integração dos mercados e a produção multinacional, reduzindo<br />

os custos de produção e das trocas. (Barquero, p. 14)<br />

A globalização é um processo inerente ao território, envolvendo nações e<br />

países que dependem, de decisões quanto ao investimento e localizações tomadas<br />

pelos atores econômicos. A melhoria da produtividade e da competitividade<br />

das cidades depende não somente da introdução de inovações nas empresas e<br />

organização do sistema produtivo, mas também da existência de instituições<br />

que permitam o bom funcionamento dos mercados. No entanto, como afirma<br />

Castells(1996), a economia global é fortemente assimétrica, em outras palavras:<br />

[...] a economia global não abarca todos os processos econômicos<br />

do planeta, não abrange todos os territórios e não inclui todas as<br />

atividades das pessoas, embora afete direta ou indiretamente a vida<br />

de toda a humanidade. Embora seus efeitos alcancem todo o planeta,<br />

sua operação e estrutura reais dizem respeito só a segmentos de<br />

estrutura econômica, países e regiões, em proporções que variam<br />

conforme a posição particular de um país ou região na divisão<br />

internacional do trabalho.(Castells, p.173)<br />

Portanto, a economia global é, por natureza, caracterizada por uma assimetria<br />

entre países. Quanto ao seu nível de integração, potencial de concorrência e<br />

fatia dos benefícios do desenvolvimento econômico, ela é policêntrica; mas isso<br />

não impede existir, dentro de cada nação, uma dinâmica capaz de impulsionar o<br />

desenvolvimento econômico. A questão central dessa dinâmica das economias<br />

locais e regionais está em identificar os processos de acumulação de capital e os<br />

atores sociais que atuam nesses mercados particulares são fundamentais <strong>para</strong><br />

definir um novo ciclo econômico de longo prazo.<br />

Nos anos 50, Solow propôs ser a função de produção o elemento central<br />

do modelo de crescimento econômico, onde a expansão da produtividade e da<br />

renda per capita dar-se-ia em função do progresso tecnológico, que ocorreria de<br />

forma exógena e do aumento da relação capital/trabalho. Anos mais tarde, a moderna<br />

teoria do crescimento econômico representou um modelo mais adaptado<br />

à vida econômica, incorporando a lei dos rendimentos decrescentes <strong>para</strong> haver<br />

crescimento econômico, enfatizando investimentos em bens de capital incluindo<br />

aí o capital humano. Estes seriam capazes de garantir rendimentos crescentes à<br />

medida que as economias se expandissem, devido à incorporação das inovações,<br />

ao conhecimento entre as empresas e às externalidades. Sua função de produção


Pensando Campo Bom<br />

incorporaria o avanço tecnológico como endógeno e as rendas monopolistas condicionariam<br />

os processos de crescimento. (Souza, 1997) Mas, infelizmente, esses<br />

dois modelos, entre muitos outros formulados, foram inapropriados <strong>para</strong> retratar<br />

a dinâmica econômica real, devido à complexidade dos sistemas produtivos e a<br />

relação dos agentes.<br />

Na realidade, as transformações que perpassam a sociedade – sejam elas<br />

econômicas, organizacionais, tecnológicas, políticas e institucionais- vão além<br />

do cômputo teórico dos modelos, e as análises de experiências de reestruturação<br />

produtiva e da dinâmica urbana e regional permitem evidenciar o desenvolvimento<br />

como endógeno à acumulação de capital. Este desenvolvimento só é capaz se<br />

tiver a participação da comunidade local, nas palavras de Barquero:<br />

A teoria do desenvolvimento endógeno considera que a acumulação de capital<br />

e o progresso tecnológico são, indiscutivelmente, fatores –chave no crescimento<br />

econômico. Além do mais, identifica um caminho <strong>para</strong> o desenvolvimento autosustentado,<br />

de caráter endógeno, ao afirmar que os fatores que contribuem <strong>para</strong><br />

o processo de acumulação de capital geram economias de escala e economias<br />

externas e internas, reduzem os custos totais e os custos de transação, favorecendo<br />

também as economias de diversidade. A teoria do desenvolvimento endógeno<br />

reconhece, portanto, a existência de rendimentos crescentes no tocante aos fatores<br />

acumuláveis, bem como dá ênfase ao papel dos atores econômicos, privados<br />

e públicos, nas decisões de investimento e localização (grifo do autor).<br />

(Barquero, p. 18)<br />

Portanto, o desenvolvimento econômico ocorre em conseqüência da utilização<br />

do potencial e do excedente gerado localmente, e com a interação dos<br />

atores locais. A difusão das inovações e do conhecimento estão condicionadas<br />

pelo entorno, isto é, sistema de empresas, instituições, atores econômicos e sociais<br />

que permitem às empresas tomar suas decisões de investimento, tornando-as<br />

capazes de criar economias externas, das quais todos acabam se beneficiando.<br />

As decisões de investimento no sistema produtivo e na cidade tendem a favorecer<br />

o desenvolvimento produtivo e urbano, já que os atores econômicos e sociais<br />

interagem e criam novos espaços <strong>para</strong> seus relacionamentos, <strong>para</strong> a produção de<br />

bens e <strong>para</strong> as trocas.<br />

Os processos de desenvolvimento, além de raízes econômicas, têm raízes<br />

institucionais e culturais que devem ser respeitadas, uma vez que cada sociedade<br />

impulsiona o surgimento de formas específicas e de instituições que lhe são pró-<br />

33


34<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

prias, criando uma rede de instituições na qual dependem as empresas. Quando as<br />

empresas estão envolvidas com as redes de relações dos seus territórios - como<br />

instituições de ensino e pesquisa, associações de empresários, líderes de bairro,<br />

ONG’s, sindicatos e governos locais – é possível utilizar, com maior eficiência, os<br />

recursos disponíveis e melhorar, assim, sua competitividade.<br />

O desenvolvimento tem que partir da ação da sociedade empresarial e civil<br />

organizada, bem como dos governos como forma de encontrar alternativas de<br />

gestão econômica que possibilitem as cidades e regiões otimizar suas vantagens<br />

competitivas e impulsionar o desenvolvimento local sustentável e integrado.<br />

Sustentável e integrado, pois as iniciativas locais precisam agrupar a eficiência na<br />

alocação de recursos públicos e privados, a eqüidade na distribuição da riqueza,<br />

do emprego, e do meio ambiente. Além disso, o desenvolvimento tem que ser<br />

humano, noção que envolve “[...]diversas facetas da vida humana e da vida em<br />

sociedade, enfatizando que a finalidade do desenvolvimento é a promoção do<br />

ser humano enquanto cidadão e a ampliação das escolhas das pessoas.” (Costa,<br />

p.1,2001) Na criação de condições que potencializem o desenvolvimento humano, é<br />

de extrema importância o papel assumido pelo Estado através de suas políticas de<br />

saúde, habitação, saneamento básico, assistência social, direitos humanos, cultura,<br />

esportes e lazer, bem como a participação da sociedade civil no acompanhamento<br />

e avaliação das políticas públicas. 2<br />

Desde os anos 80, que os atores locais e regionais passaram a empreender<br />

ações objetivando influenciar os processos de crescimento das economias locais,<br />

muito atribuído ao fechamento de empresas, à desindustrialização, ao aumento<br />

do desemprego e à passividade, ou melhor, déficits crescentes das administrações<br />

centrais. (Barquero, p.25) As reformas neoliberais, implantadas em muitos países,<br />

nos anos 90, permitiram uma certa estabilização de preços e a liberação do comércio<br />

internacional, mas às custas da diminuição da participação do estado na economia.<br />

2 Conforme OCAMPO(2000): “A exigibilidade de direitos, sobretudo os econômicos e sociais,<br />

depende do nível de desenvolvimento da sociedade; por sua vez, os avanços em matéria de<br />

desenvolvimento devem traduzir-se em maiores conquistas sociais <strong>para</strong> o conjunto, tais como o aceso<br />

a maiores níveis de bem-estar e às oportunidades de maior produtividade <strong>para</strong> todos os cidadãos.<br />

Esta concepção ampliada dos direitos transcende a concepção liberal dos direitos civis, cuja ênfase é<br />

colocada na autonomia privada dos indivíduos em relação à ação e ao poder do Estado. A cidadania<br />

não é só uma condição de liberdade privada e direitos políticos básicos, mas também uma condição<br />

que diz respeito à qualidade de vida de todos aqueles que fazem parte da sociedade.”(p.1)


Pensando Campo Bom<br />

No entanto, o estado pode e deve atuar juntamente com os atores locais na busca<br />

de alternativas capazes de promover o bem-estar de seus cidadãos. 3 A retomada<br />

do papel do estado na economia tem que ser efetiva, bem como efetiva tem que<br />

ser a contribuição da sociedade civil e empresarial na busca do desenvolvimento<br />

local sustentável e integrado.<br />

A articulação de organizações públicas e privadas, em prol do desenvolvimento,<br />

também é referida por Banner e Gagné(1995):<br />

Diante da ampliação da consciência de que os problemas sociais<br />

e ambientais afetam a todos e, assim, são responsabilidades de<br />

agentes governamentais, empresariais, sociais e de cada cidadão em<br />

particular, novas articulações organizacionais são estabelecidas e<br />

organizações diferenciadas surgem no atual cenário organizacional.<br />

Emergem valores e a consciência de que os desafios da atualidade<br />

somente podem ser enfrentados através do compartilhar de<br />

competências múltiplas. (Banner e Gagné,IN: Schommer, p.83, 2003)<br />

Assim, os atores sociais articulam-se de forma integrada, formando redes<br />

de cooperação, capazes de solucionar barreiras ao desenvolvimento, já que elas<br />

aparecem quando há carências ou mau funcionamento nos processos de desenvolvimento<br />

auto-sustentado. Quando uma cidade busca definir uma estratégia<br />

de desenvolvimento econômico local, é importante aumentar a cooperação entre<br />

os agentes e instituições e fomentar a criação e o desenvolvimento de empresas<br />

e de redes de atores privados e de instituições. Além disso, é essencial estimular a<br />

capacidade de aprendizagem da rede de atores locais, <strong>para</strong> que se possa adequar<br />

as necessidades e os problemas da economia local, já que o desenvolvimento sustentável<br />

é um processo em construção, processo permanente de melhorias e de<br />

adequação local. Os atores locais formam, assim, uma rede baseada em relações e<br />

contatos, estabelecendo vínculos de cooperação e interdependência que se moldam<br />

conforme o tempo e espaço.<br />

Como a economia se articula espacialmente em torno das cidades, é necessário<br />

moldar um programa de desenvolvimento, levando em consideração o<br />

3 Como observa Diehl e Vargas(1996, p.115) “Apesar do intenso processo de integração e globalização<br />

da economia mundial, os Estados nacionais continuam a ser a unidade econômica, política e cultural<br />

essencial sobre a qual se assentariam os fenômenos mais gerais. Afinal, são eles que têm o poder de<br />

patrocinar ou frear os processos globais entre as diferentes nações do globo. Isto se dá porque, em<br />

realidade, essas continuam apoiando-se sobre as bases institucionais e sobre o poder de legitimação<br />

35


36<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

seu sistema de relações econômicas e sociais através do planejamento estratégico.<br />

Preliminarmente ao planejamento estratégico, é preciso <strong>fazer</strong> uma análise mais<br />

minuciosa da localidade através de um diagnóstico, <strong>para</strong> se conhecer os pontos<br />

fracos e fortes da região ou localidade nas suas várias dimensões econômicas,<br />

sociais, políticas e institucionais. 4<br />

O diagnóstico possui formas diferentes em cada território, devido às diferenças<br />

produtivas, humanas, naturais, comerciais e de aprendizagem inerentes a<br />

cada localidade.<br />

O planejamento estratégico permite, às cidades, definirem seus objetivos e<br />

orientarem suas iniciativas, mediante a participação dos atores locais que decidem<br />

os investimentos públicos e privados na cidade. Como destaca Barquero (2003, p.<br />

176), as ações de planejamento estratégico deve atender às necessidades e expectativas<br />

dos cidadãos, empresários e investidores propondo-se a:<br />

· Elevar o nível de vida na cidade, criando melhores e maiores oportunidades<br />

de emprego, melhorando a qualidade de vida no território e fomentando<br />

a integração social;<br />

· Assegurar as vantagens competitivas das empresas mediante iniciativas<br />

que propiciem o aumento e a melhoria dos recursos e favoreçam o desenvolvimento<br />

das atividades produtivas, como as referentes à difusão das inovações, ao<br />

fortalecimento da capacidade produtiva ou à qualificação dos recursos humanos;<br />

· Proporcionar um entorno dinâmico e seguro aos investidores, que lhes garanta<br />

a rentabilidade econômica almejada, mediante medidas que fomentem as relações entre<br />

as empresas e as instituições, bem como favoreçam a criação de redes;<br />

· Criar um entorno dinâmico <strong>para</strong> viver e investir, através de uma gestão<br />

urbana bem definida e eficiente, da melhoria das condições do patrimônio histórico<br />

e cultural e da criação e manutenção de infra-estrutura e equipamentos urbanos.<br />

Desta forma, tem-se a partir do planejamento estratégico a busca de ações que<br />

viabilizam o desenvolvimento sustentável e integrado. Deve-se ter em mente, ainda,<br />

que a história, a cultura e as instituições são fatores condicionantes na articulação<br />

e repressão dos Estados às quais se assentam”.<br />

4 O diagnóstico possui formas diferentes em cada território, devido às diferenças produtivas, humanas,


Pensando Campo Bom<br />

das ações e jamais podem ser deixadas de lado na formulação do planejamento.<br />

O planejamento estratégico do município de Campo Bom tem, portanto, esta<br />

intenção: a de fomentar a economia local e proporcionar uma melhor qualidade<br />

de vida aos seus habitantes. Para que o planejamento se torne factível, é necessária<br />

uma política que contribua <strong>para</strong> o desenvolvimento urbano e medidas que<br />

estejam voltadas ao fortalecimento das infra-estruturas urbanas de transporte e<br />

de comunicações, ao fornecimento de solo urbano <strong>para</strong> as empresas, à expansão<br />

do capital social das cidades, à recuperação do patrimônio urbano e à melhoria<br />

do meio ambiente. Além disso, deve-se incentivar a criação de serviços, como as<br />

feiras ou os centros de negócios, o marketing urbano, e adaptar regulamentos e<br />

normas às necessidades e demandas de empresas e cidadãos, bem como fortalecer<br />

a eficiência dos serviços públicos. (Barquero, p.178)<br />

As políticas de desenvolvimento chamadas de “cima <strong>para</strong> baixo” cederam<br />

lugar <strong>para</strong> as denominadas de “ baixo <strong>para</strong> cima”, as quais os governos locais e<br />

regionais atuam com outros atores sociais, procurando adotar medidas que visem<br />

ao aproveitamento do potencial de desenvolvimento existente no território. 5<br />

Portanto, o grande cerne da questão não está em adotar uma única teoria<br />

de desenvolvimento, e sim incentivar uma resposta local aos desafios associados<br />

ao incremento da concorrência. Para tanto, a convergência de estratégias que<br />

aumentem a produtividade e a competitividade das empresas e territórios tornamse<br />

indispensáveis entre os atores que podem impulsionar o desenvolvimento<br />

sustentável e integrado. As políticas de desenvolvimento local são motivadoras<br />

da participação da sociedade local, e a coordenação entre as ações dos agentes<br />

públicos e privados coloca um desafio a ser vencido frente às diferentes maneiras<br />

de se alcançar o desenvolvimento.<br />

naturais, comerciais e de aprendizagem inerentes a cada localidade.<br />

5 Duas experiências de políticas chamadas de “baixo <strong>para</strong> cima” podem ser exemplificadas no<br />

Estado do Rio Grande do Sul, onde há a participação da comunidade organizada e do governo no<br />

esforço de concretizar ações que tragam melhorias locais . A primeira foi a criação, em 1991, em<br />

nível estadual, dos COREDES – Conselhos Regionais de Desenvolvimento; e a segunda, em nível<br />

municipal, do Orçamento Participativo, instituído em 1999.<br />

37


38<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Referências Bibliográficas<br />

BANNER, David K.; GAGNÉ, T. Elaine. Designing Efective organizations:<br />

traditional transformational views. Thousand Oaks, Califórnia: SAGE, 1995.<br />

SCHOMMER, Paula Chies. Empresas e Sociedade: potencialidades e limites<br />

da cooperação interorganizacional. Porto Alegre: Humanas. v.24, n 1/2.,<br />

p.83-97, 2001<br />

BARQUERO, Antônio Vázquez. Desenvolvimento Endógeno em tempos<br />

de Globalização. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 2001.<br />

CADERNO. Desenvolvimento regional, experiência de participação.<br />

Porto Alegre, 1999.<br />

CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra. 2002.<br />

COSTA, Beatriz Moren da. Relatório de Indicadores Sociais de Porto Alegre.<br />

Ano IV Porto Alegre, fev. de 2002.<br />

DIEHL, Isani; VARGAS, Paulo Rogério. Paradoxo da globalização: da pressuposição<br />

do fim do estado-nação à realidade do retorno do estado. Est.<br />

CEPE, Santa Cruz do Sul, n.3/4, p.91.124, jan./dez. 1996.<br />

OCAMPO, José Antônio. Equidad, Desarrollo y Cidadania: uma vision<br />

global. Capítulo 2. Santiago do Chile: CEPAL. In: COSTA, Beatriz Moren da.<br />

Relatório de Indicadores Sociais de Porto Alegre. , Ano IV Porto Alegre,<br />

fev. de 2002.<br />

SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento Econômico.São Paulo: Atlas,<br />

1997.


II PARTE<br />

diAgnóstico sócio-econômico<br />

e Político institucionAl<br />

de cAmPo Bom


4 cAmPo Bom: colonizAção<br />

emPreendedorA<br />

Olivério Maria Ferreira 12<br />

Os métodos utilizados pelos pequenos agricultores da Europa, no início do<br />

século XVIII, eram bastante primitivos, tanto no que diz respeito às técnicas do<br />

cultivo do solo, quanto aos equipamentos utilizados, o que permitia um acelerado<br />

processo de improdutividade do solo e dificuldades <strong>para</strong> enfrentar os rigores do<br />

inverno.<br />

A Revolução Industrial, em contínua evolução na época, provocaram grandes<br />

transformações na lavoura e na pecuária, e a crescente utilização de modernas<br />

máquinas passaram a acelerar a mecanização da lavoura, com desenvolvimento<br />

de novas técnicas de produção e cultivo do solo, bem como melhor distribuição<br />

e aproveitamento qualificado e produtivo dos rebanhos.<br />

A grande transformação atingiu as pequenas propriedades agrícolas e, por<br />

extensão, inúmeras famílias que dependiam diretamente e indiretamente destas<br />

propriedades, dando origem a uma grande reforma no sistema de divisão das<br />

terras <strong>para</strong> produção agrícola que aliada às dificuldades econômicas e políticas,<br />

tornava a vida do colono alemão cada vez mais difícil.<br />

Algumas dificuldades <strong>para</strong> emigração obrigavam o camponês, em pior situação,<br />

a buscar uma solução fora do território alemão.<br />

No outro lado do Atlântico, o Brasil passava por um processo de colonização<br />

1 Olivério Maria Ferreira é Mestre em Engenharia de Produção pela UFSM – Universidade Federal<br />

de Santa Maria. Professor Pesquisador do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.


41<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

iniciado por D. João VI, o qual, com a perspectiva de tornar o país independente,<br />

providenciava reformas que permitissem uma nova estrutura econômica,<br />

social e política.<br />

A colonização do território brasileiro atendia <strong>para</strong> objetivos diferentes e<br />

interligados, destacando-se os interesses militares, o desenvolvimento da agricultura,<br />

a substituição da mão-de-obra escrava e, sob certos aspectos, a intenção do<br />

branqueamento da raça.<br />

Relativamente aos objetivos ligados aos aspectos militares, é importante<br />

destacar que D. Pedro I, em 1822, autorizou a busca de soldados voluntários<br />

na Alemanha não unificada, <strong>para</strong> incorporar e auxiliar na formação do exército<br />

brasileiro.<br />

A colonização do Rio Grande do Sul iniciou-se por volta de 1740, com a<br />

chegada de um grupo de casais naturais das ilhas dos Açores, que se instalaram<br />

na então Província de São Pedro, hoje a cidade de Porto Alegre, <strong>para</strong> dedicarem-se<br />

inicialmente à agricultura rudimentar em pequenas propriedades e, posteriormente,<br />

à pecuária.<br />

O primeiro grupo de imigrantes alemães chegou no Brasil em 1822; desembarcam<br />

na cidade do Rio de Janeiro, onde ficavam alojados em galpões, aguardando<br />

nova viagem, por mar, com destino a Porto Alegre.<br />

Os colonos alemães, procedentes de diversas regiões da Alemanha, principalmente<br />

da região de Hunsrüc, desembarcaram no Rio Grande do Sul no dia<br />

25 de julho de 1824, na colônia de São Leopoldo (antiga Real Feitoria de Linho<br />

Cânhamo), onde ficaram hospedados, aguardando por cerca de 12 meses os lotes<br />

coloniais de 77 hectares, ofertados pelo governo brasileiro, mais ferramentas, gado,<br />

sementes, auxílio financeiro e isenção de impostos por 10 anos.<br />

A demora e equívocos na medição das terras fez com que os imigrantes<br />

enfrentassem grandes dificuldades até a definitiva ocupação da área, o que foi<br />

realizado junto ao Rio do Sinos, em locais onde o curso do rio era mais baixo,<br />

inicialmente na cidade de São Leopoldo, próximo ao lugar onde está localizada<br />

a atual Igreja Matriz de São Leopoldo. Gradativamente foram sendo instalados<br />

na margem direita do rio, nas localidades de Campo Bom, Costa da Serra (hoje<br />

Hamburgo Velho), Dois Irmãos, Estância Velha, Bom Jardim (hoje Ivotí) e outras<br />

localidades.<br />

Os colonos alemães chegaram a Campo Bom em 1825, e mesmo enfrentando


Pensando Campo Bom<br />

as mais diversas adversidades no novo ambiente, como clima, diferenças de cultura,<br />

floresta subtropical, habitantes nativos, pouco ferramental e a forte saudade da<br />

pátria distante, iniciam, com a participação de toda a família, homens, mulheres<br />

e crianças e muita determinação, a construção de uma nova sociedade que viria a<br />

alcançar um constante e permanente desenvolvimento.<br />

O nome da cidade guarda uma história típica e identificada com os grandes<br />

desbravadores da época, dos quais destacamos os tropeiros, cuja história registra<br />

uma participação importante no desenvolvimento econômico e cultural do país.<br />

Eles cruzavam o Brasil de sul a norte, e nas suas <strong>para</strong>das <strong>para</strong> pernoite, descanso<br />

e troca de montarias, acabavam constituindo pequenos núcleos que mais tarde<br />

deram origem a novas cidades.<br />

Anteriormente à chegada dos primeiros colonos, por volta de 1810, os<br />

tropeiros cruzavam o vale, viajando desde a região dos Altos de Cima da Serra,<br />

guiando suas tropas de gado em direção a Porto Alegre e <strong>para</strong> as localidades que<br />

nasciam junto ao Vale do Rio dos Sinos, o que fez com que encontrassem na<br />

região, que mais tarde seria a cidade de Campo Bom, campos apropriados <strong>para</strong><br />

o gado, com excelentes pastagens e água, o que obrigava uma <strong>para</strong>da, tanto <strong>para</strong><br />

reposição das energias da tropa, quanto <strong>para</strong> relações comerciais; daí a origem do<br />

nome da cidade.<br />

O período de colonização, quando as principais atividades eram a agricultura<br />

de subsistência e a indústria artesanal, estendeu-se até 1826. Iniciou-se, então,<br />

um período de transição, quando passou à categoria de Vila, com a realização<br />

de algumas obras públicas que acabaram contribuindo <strong>para</strong> a diversificação das<br />

indústrias e serviços.<br />

Devido à sua prosperidade econômica, a emancipação de Campo Bom veio<br />

em 31 de janeiro de 1959, quando deixou de pertencer a São Leopoldo.<br />

Durante todo este período de transição, sua economia passou por diversas<br />

fases, destacando-se a agricultura inicial, primeiramente destinada à subsistência<br />

e gradativamente passando <strong>para</strong> um processo de beneficiamento da produção.<br />

Com o enfraquecimento do solo, a agricultura deixa de ser a atividade principal<br />

e os imigrantes passam a buscar, no sistema artesanal, o suprimento das<br />

suas necessidades de sobrevivência, nascendo então outras atividades, tais como<br />

alfaiatarias, marcenarias, atafonas, olarias, curtumes, serrarias, moinhos, etc.<br />

Neste processo de transformação gradativa, as atafonas, as olarias, os curtu-<br />

42


43<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

mes e as indústrias calçadistas marcaram as principais fases de transição.<br />

Atualmente, embora não existam mais atafonas, ainda funcionam algumas<br />

olarias, mas é o calçado o principal responsável por uma maior participação<br />

na sua economia, tanto em relação à atividade industrial, quanto ao comércio<br />

e serviços.<br />

Pioneira na exportação de calçados desde 1967, Campo Bom exporta, hoje,<br />

<strong>para</strong> mais de 20 países, fazendo deste produto a sua principal fonte de renda e<br />

proporcionando a geração e o desenvolvimento de outras atividades perfeitamente<br />

interligadas ao setor, das quais destacam-se empresas do setor químico, metalúrgico,<br />

cartonagem, gráfico, plásticos e, na área de serviços, empresas de logística.<br />

Com a marca do pioneirismo, Campo Bom dispõe de áreas próprias <strong>para</strong> a<br />

instalação de indústrias, destacando-se a Zona Industrial Norte, localizada junto<br />

a RS 239, de fácil acesso e com toda estrutura básica onde, inclusive, está sendo<br />

construído um futuro Parque Tecnológico em parceria com o Centro Universitário<br />

<strong>Feevale</strong> e Associação Comercial e Industrial de Novo Hamburgo, Campo Bom<br />

e Estância Velha.<br />

A aliança histórica entre os pioneiros imigrantes, os habitantes locais, inclusive<br />

os nativos, os tropeiros desbravadores e a natureza, que tinha no rebelde e<br />

soberano Rio dos Sinos o principal agente <strong>para</strong> manutenção do equilíbrio vegetal<br />

e animal, contribuíram <strong>para</strong> que a cidade de Campo Bom fosse, ao longo dos<br />

anos, conquistando não só uma excepcional posição estratégica e de destaque<br />

na geografia da região, como também construindo uma sociedade com<br />

espiritualidade, grande desejo empreendedor e constante preocupação com a<br />

qualidade de vida, o que está amplamente representado na sua cultura, tradição<br />

e comportamento histórico.<br />

4.1 Caracterização do Município<br />

O município de Campo Bom ocupa uma área de 59,79 km 2 equivalente a<br />

4,29% do território do Vale do Sinos e 0,02% do território do Rio Grande do<br />

Sul, abrigando uma população estimada em 54.643 habitantes em 2001, isto é,<br />

4,51% da população da região e 0,53% da população do Rio Grande do Sul. Esse<br />

contingente humano está 95,96% distribuído no meio urbano, e apenas 4,04%<br />

no meio rural


4.1.1 Informações Gerais<br />

Pensando Campo Bom<br />

Tabela 1 Acessos Terrestres,<br />

Fonte: Inventário Turístico de Campo Bom (Maio de 2003)<br />

Tabela 2 Locais Estratégicos<br />

Fonte: Inventário Turístico de Campo Bom (Maio de 2003)<br />

Tabela 3 Pontos Turísticos<br />

Fontes: Inventário Turístico de Campo Bom (Julho de 2003)<br />

Tabela 4 Áreas Industriais<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Bom (Maio de 2003)<br />

44


Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

Fonte: Inventário Turístico de Campo Bom<br />

45<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 5 Municípios Limítrofes<br />

Tabela 6 Local e descrição<br />

Tabela 7 Distância Rodoviária das principais Capitais Brasileiras<br />

a Campo Bom em Km<br />

Fonte: Guia Porto Alegre (Julho de 2003)


Pensando Campo Bom<br />

referênciAs BiBliográficAs<br />

LANG, Guido. Reminiscências da Memória Comunitária de Campo Bom.<br />

Campo Bom: Papuesta Ind. Gráfica Ltda, 1997.<br />

LANG, Guido. CAMPO BOM: História e Crônica 1826/1996. Campo Bom:<br />

Papuesta Ind. Gráfica Ltda, 1996.<br />

SPERG, Ângela Tereza (org.) SAL DA TERRA 160 anos da comunidade e<br />

escola Evangélica de Campo Bom. Canoas: La Salle Gráfica Editora, 1992.<br />

www.riogrande.com.br/historia/colonização.html<br />

www.mlutter.org.br/imigração/imigração_i.htm<br />

46


5 A economiA de cAmPo Bom<br />

André Maurício dos Santos 1<br />

Situado no Vale do Rio dos Sinos, abrigando uma população de 54.643<br />

habitantes, Campo Bom é a sexta economia do COREDE Vale do Sinos 2 , com<br />

um PIB de US$ 595.683.558,00 em 2001. No entanto, as mudanças pelas quais<br />

tem enfrentado a economia brasileira se refletiram numa redução do crescimento<br />

econômico do país, nos últimos tempos, e fizeram-se sentir também no Estado.<br />

Mesmo tendo o Rio Grande do Sul, nos anos 90, apresentado comportamento<br />

semelhante a do país 3 , a especulação quanto ao futuro da economia gaúcha está<br />

baseada na avaliação direta do comportamento dos diversos indicadores dos municípios,<br />

bem como na avaliação de seus setores econômicos, impulsionadores de<br />

crescimento local, como os setores agropecuário, industrial e de serviços.<br />

A agropecuária gaúcha, anteriormente conhecida como Celeiro do Brasil,<br />

vem enfrentando problemas decorrentes da expansão da fronteira agrícola e maior<br />

tecnologia na produção em áreas até então com pequena capacidade industrial.<br />

Da mesma forma, a indústria de transformação tem tido dificuldades <strong>para</strong> alterar<br />

1 André dos Santos é mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e<br />

Professor Pesquisador do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.<br />

2 Os COREDES- Conselhos Regionais de Desenvolvimento – foram criados em 1991 com o objetivo<br />

de promover a participação dos diversos segmentos sociais na formulação e implementação das<br />

políticas regionais. Atualmente tem-se 22 COREDES, sendo o COREDE Vale dos Sinos composto<br />

pelos seguintes municípios: Araricá, Campo Bom, Canoas, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio,<br />

Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Portão, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul.<br />

3 Conforme estudo de NETO (2000), o PIB brasileiro cresceu 2,5% ao ano, em média, na década<br />

de 90 (entre 1991 a 1999), e a gaúcha 2,7% ao ano.


48<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

o perfil de sua estrutura produtiva e revigorar os ramos tradicionais.<br />

E é dentro deste contexto, de tentar encontrar mecanismos que possam reverter<br />

esse quadro e proporcionar um incremento na participação dos municípios<br />

do Rio Grande do Sul, no cenário estadual e brasileiro, que esse texto objetiva<br />

apresentar um diagnóstico econômico do município de Campo Bom, no período<br />

de 1996 a 2001, cotejando seu desempenho com o do Estado e com o do Vale dos<br />

Sinos, na busca de auxiliar formulações de diretrizes estratégicas que orientem a<br />

promoção do desenvolvimento local .<br />

A análise da dimensão econômica de Campo Bom será feita através de dados<br />

quantitativos econômicos e dividida em três partes. A primeira seção do texto<br />

concentrar-se-á na descrição, de forma geral, da economia local; a segunda seção<br />

apresentará uma análise específica <strong>para</strong> cada setor de atividade. Para isso, serão<br />

utilizados dados referentes ao Produto Interno Bruto (PIB); PIB per capita; Valor<br />

Adicionado Bruto e Fiscal; número de empregados e estabelecimentos; rendimento<br />

médio; valor e quantidade de produção; e valor das exportações.<br />

Na última parte do texto serão avaliadas as tendências que configuram o cenário<br />

do crescimento das atividades econômicas. Com base nessa avaliação, identificarse-ão<br />

os principais desafios a serem enfrentados pelas políticas que venham a ser<br />

formuladas pela administração pública municipal.<br />

Cabe ressaltar, ainda, que ao se <strong>fazer</strong> com<strong>para</strong>ções entre estatísticas econômicas<br />

de Campo Bom, Vale do Sinos e Rio Grande do Sul, encontram-se problemas<br />

decorrentes das metodologias utilizadas quanto à periodicidade de levantamento<br />

e divulgação dos resultados, expedidos pelos órgãos responsáveis. Portanto, <strong>para</strong><br />

mensurar os dados de Campo Bom e <strong>para</strong> os demais municípios, Estado e Brasil<br />

foram utilizadas as evoluções do Produto Interno Bruto do Núcleo de Estudos e<br />

Tecnologias em Gestão Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,<br />

bem como o Valor Adicionado Bruto da Fundação de Economia e Estatística<br />

Siegfried Emanuel Heuser (FEE). O número de estabelecimentos e empregados,<br />

em 31/12, e o rendimento médio de cada ano foram obtidos junto à Relação Anual<br />

de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho; e os dados referentes<br />

ao setor primário, secundário e terciário <strong>para</strong> Campo Bom foram obtidos junto<br />

ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), à FEE e à Prefeitura<br />

Municipal.<br />

5.1 Panorama Geral da Economia de Campo Bom<br />

A seguir serão apresentados os dados quantitativos do município de Campo


Pensando Campo Bom<br />

Bom e a análise dos mesmos em nível regional e estadual, a fim de mostrar sua<br />

participação econômica no período de 1996 a 2001.<br />

5.1.1 Produto Interno Bruto<br />

A Tabela 01, apresenta o PIB 4 total dos municípios do Vale dos Sinos de 1996<br />

a 2001. Pode-se perceber que Campo Bom tem-se posicionado na 6 a colocação<br />

quanto ao PIB total, deixando-se ultrapassar pelos seguintes municípios: Canoas,<br />

Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Esteio. Conforme se verifica,<br />

o Produto Interno Bruto foi estimado em US$ 595,68 milhões <strong>para</strong> o ano 2001,<br />

o que equivale a 6,22% do PIB do Vale do Sinos, 1,42% do PIB gaúcho e 0,12%<br />

do nacional.<br />

Tabela 01 PIB Total (US$) dos municípios do Vale do Sinos - 1996-2001<br />

Fontes: UFRGS - Nutep / IBGE<br />

(*) Município emancipado que não foi identificado no período correspondente da tabela.<br />

(**) Em virtude da mudança da política cambial, elevando a cotação do dólar, este estudo repete o<br />

valor do PIB do Estado, fixado <strong>para</strong> 1997, 1998 e 1999 na moeda dólar americano.<br />

No entanto, a contribuição média do PIB, em termos percentuais, mostra<br />

que, conforme a Tabela 02, Campo Bom teve uma taxa média anual de crescimento<br />

do PIB em 7,56%, percentual superior à verificada no Vale do Sinos, que<br />

foi de 4,44%. O município ocupa a segunda posição de destaque em crescimento<br />

econômico médio anual no período analisado, deixando <strong>para</strong> a cidade de Canoas<br />

o primeiro lugar, com 7,93%.<br />

4 O Produto Interno Bruto é igual ao Valor Adicionado a preços básicos, subtraído dos serviços<br />

de intermediação financeira indiretamente medidos e adicionado dos impostos sobre produtos,<br />

líquidos de subsídios.<br />

49


50<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 02 Variação percentual do PIB dos municípios do Vale do Sinos -<br />

1996 a 2001<br />

Fontes: UFRGS - Nutep / IBGE<br />

(*) Município emancipado que não foi identificado no período correspondente à tabela.<br />

No mesmo ano, o PIB per capita da cidade atingiu o valor de US$ 10.901,37,<br />

sendo o segundo maior entre os municípios da região do Vale do Sinos e 168,50%<br />

superior ao Estado, que foi de US$ 4.060,14 e 268,22% maior do que o PIB per<br />

capita brasileiro de US$ 2.960,57, como mostra a Tabela 03 e os gráficos 01 e 02.<br />

Tabela 03 PIB per capita dos municípios do Vale do Sinos(US$) - 1996<br />

a 2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: Anos de 1997 a 2000: UFRGS - Nutep. Anos de 1991 a 1996: Calculado com base no PIB<br />

e na População do respectivo ano.<br />

(*) Município emancipado que não foi identificado no período correspondente da tabela.<br />

Gráfico 01: PIB per capita de Campo Bom, Vale do Sinos e Rio Grande do<br />

Sul – 2001<br />

Fontes: UFRGS - Nutep / IBGE<br />

Gráfico 02: Evolução do PIB per capita do município de Campo Bom, Vale<br />

do Sinos e Rio Grande do Sul –1996-2001<br />

Fontes: UFRGS - Nutep / IBGE<br />

Em relação à média anual do PIB per capita no período, verificou-se que o<br />

município apresentou um valor de US$ 9.747,53 superior a do Vale do Sinos, US$<br />

7.754,87, Rio Grande do Sul, US$ 5.074,71, e do Brasil, US$ 4.086,64. Mas, como<br />

51


52<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

a população de Campo Bom teve um crescimento menos acelerado na região, o<br />

PIB per capita da cidade cresceu em média 6,02% ao ano, taxa essa superior à<br />

verificada nos municípios do Vale do Sinos, como mostra a tabela 55.<br />

Tabela 04 Variação percentual do PIB per capita dos municípios do Vale do<br />

Sinos (US$) - 1996 a 2001<br />

Fonte: Anos de 1997 a 2000: UFRGS- Nutep. Anos de 1991 a 1996: Calculado com base no PIB<br />

e na População do respectivo ano.<br />

(*) Município emancipado que não foi identificado no período correspondente à tabela.<br />

5.1.2 Valor Adicionado Bruto<br />

A participação de Campo Bom no Vale do Sinos, em 2001, foi de R$<br />

1.103.171.916,94 no Valor Adicionado Bruto5 (VAB), posicionando-se em 4o lugar, apenas atrás dos municípios de Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo.<br />

Esta posição mostra que Campo Bom, por atividade econômica, contribui com<br />

2,79% no setor agrícola, 7,85% no setor industrial6 e 5,07% no setor de serviços7 ,<br />

no total do VAB como mostra a Tabela 06. Isso vem demonstrar que a principal<br />

atividade econômica do município e da região é a industrial.<br />

5 O Valor Adicionado Bruto é a diferença entre o Valor Bruto de Produção, medido a preços do<br />

produtor, e o Consumo Intermediário, mensurado a preços de mercado.<br />

6 O setor industrial é a indústria de transformação e extrativa mineral.


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 05 Valor Adicionado Bruto (VAB) a preços básicos (R$), por atividade<br />

econômica, dos municípios do Vale do Sinos – 2001<br />

Fontes: FEE /IBGE<br />

Tabela 06 Participação percentual no valor adicionado bruto do Vale do<br />

Sinos das atividades econômicas por município 2001<br />

Fontes: FEE / IBGE )<br />

Através da tabela e gráfico a seguir nota-se que o setor agropecuário, industrial<br />

e de serviços de Campo Bom ficaram distribuídos sobre o total do VAB<br />

com 0,12%, 72,15% e 27,73%, significando uma maior preponderância do setor<br />

secundário no município.<br />

53


54<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 07 Estrutura percentual do valor adicionado bruto das atividades<br />

econômicas dos municípios do Vale do Sinos – 2001<br />

Fontes: FEE/ IBGE<br />

Gráfico 03: Estrutura percentual do Valor Adicionado Bruto das atividades<br />

econômicas do município de Campo Bom – 2001<br />

Fontes: FEE/IBG<br />

Observa-se ainda, conforme Tabela 07, que a maioria dos municípios do Vale<br />

do Sinos concentram, no setor secundário, o volume maior de participação no<br />

Valor Adicionado Bruto, enquanto que o setor de serviços tem maior participação


Pensando Campo Bom<br />

no VAB apenas nos municípios de Araricá, Esteio e São Leopoldo.<br />

5.1.3 Estabelecimentos<br />

Quanto ao número de estabelecimentos 8 da cidade, no ano 2001 encontrouse<br />

1.255 empresas, representando 5,82% do número total de estabelecimentos<br />

do Vale do Sinos, distribuídos <strong>para</strong> a agropecuária em torno de 8,38%, <strong>para</strong> a<br />

indústria 8,34%, <strong>para</strong> a construção civil 3,02%, <strong>para</strong> o comércio 6,28% e <strong>para</strong> os<br />

serviços 4,80%, de acordo com a Tabela 08.<br />

Destas 1.255 empresas, no ano de 2001, 15 são do setor agropecuário, 433<br />

do setor industrial, 27 da construção civil, 442 do comércio e 338 de serviços.<br />

Isto representa 1,20%, 34,50%, 2,15%, 35,22% e 26,93% de participação por<br />

estabelecimentos <strong>para</strong> cada setor, respectivamente (Gráfico 04).<br />

Tabela 08 Número de estabelecimentos por atividade econômica de Campo<br />

Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Gráfico 04: Participação percentual do número de estabelecimentos por<br />

atividade econômica de Campo Bom 2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho<br />

7 O setor de serviços é o comércio e os demais serviços.<br />

8 Os estabelecimentos por atividade econômica foram classificados segundo o IBGE (6 categorias).<br />

55


56<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Pode-se verificar que a taxa média de crescimento anual de estabelecimentos<br />

ficou em 9,92% <strong>para</strong> o total do município de Campo Bom, enquanto que 6,26%<br />

<strong>para</strong> o Vale do Sinos. Com<strong>para</strong>ndo os dados do município com o Vale dos Sinos,<br />

tem-se que o setor industrial contribui com o maior crescimento no município,<br />

ou seja, taxa média anual de 12,28%, enquanto que no Vale do Sinos, a taxa foi<br />

de 7,57% ao ano. Já os serviços tiveram uma taxa anual de 12,03% <strong>para</strong> Campo<br />

Bom e 5,94% <strong>para</strong> a região; a agropecuária 11,63% e 6,04%; o comércio 7,88%<br />

e 2,84% e a construção civil 1,08% e 4,61%, respectivamente. Portanto, somente<br />

os estabelecimentos de construção civil da cidade tiveram uma taxa média de<br />

crescimento anual inferior ao do Vale do Sinos (Gráfico 05).<br />

Gráfico 05: Evolução do número de estabelecimentos por atividade econômica<br />

de Campo Bom 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho<br />

O município é caracterizado por um grande número de pequenas empresas<br />

que empregavam, em 2001, na sua maioria até quatro empregados, ou seja, 52,12%<br />

do total de estabelecimentos em 2001. Por outro lado, a taxa média de crescimento<br />

anual do tamanho das empresas 9 é mais significativa <strong>para</strong> os estabelecimentos de<br />

250 a 499 empregados, correspondendo a 28,13%. Portanto, o município tem um<br />

crescimento mais intenso nas empresas de médio porte (Tabela 09).<br />

9 As empresas podem ser classificadas em 4 faixas de tamanho, de acordo com o número de<br />

empregados: Microempresas(até 19 empregados); Pequenas((20 a 99 empregados); Médias(100 a<br />

499 empregados); e Grandes(500 ou mais empregados).


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 09 Tamanho do total de estabelecimentos de Campo Bom - 1997-2001<br />

Fonte: RAIS Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.1.4 Emprego e renda<br />

Em relação ao número de empregos formais, Campo Bom participava, em<br />

2001, com 23.929 trabalhadores, representando 8,85% do total do Vale do Sinos.<br />

A participação da cidade na agropecuária da região foi de 12,04%; na indústria,<br />

12,14%; na construção civil, 2,92%; no comércio, 4,44%; e nos serviços, 6,64%<br />

como mostra a Tabela 09 e gráficos 06 e 07. Verificou-se que o setor de agropecuária<br />

teve uma participação de 0,20%, a indústria 66,76%, a construção civil<br />

1,28%, o comércio 7,45% e os serviços 24,31%.<br />

Examinando-se a evolução do número de empregados na série de 1996 a<br />

2001, observou-se uma taxa média de crescimento anual de 5,00% <strong>para</strong> o total do<br />

município e 3,31% <strong>para</strong> o Vale do Sinos. Os empregos da construção civil apresentaram<br />

o maior crescimento no município, com 46,02%; já no Vale do Sinos, a<br />

taxa média foi de 9,76% ao ano. A agropecuária teve uma taxa anual de 20,35%<br />

<strong>para</strong> Campo Bom e 1,27% <strong>para</strong> a região; os serviços 9,77% e 5,35%; o comércio<br />

7,17% e 1,55% e a indústria 4,04% e 1,55%, respectivamente. Portanto, o número<br />

de empregados da cidade teve uma taxa média de crescimento anual superior em<br />

todos os setores, quando com<strong>para</strong>da com o Vale do Sinos.<br />

Tabela 10 Número de empregados por atividade econômica de Campo<br />

Bom - 1996- 2001<br />

57


58<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Gráfico 06: Participação percentual do número de empregados por atividade<br />

econômica de Campo Bom – 2001<br />

Fonte: RAIS - Relação anual de informações sociais - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Gráfico 07: Evolução do número de empregados por atividade econômica<br />

do município de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho<br />

A remuneração média mensal do total de trabalhadores de Campo Bom,<br />

em 2001, era de 77.636,98 salários mínimos, equivalentes a 3,24 salários mínimos<br />

por empregado. No que se refere à estrutura de remuneração média mensal do<br />

município, por atividade econômica neste período, verificou-se que a indústria


Pensando Campo Bom<br />

teve a maior participação com 66,32%, seguido pelos serviços, com 25,75%;<br />

comércio 6,78%; construção civil 0,89%; e agropecuária 0,26%, de acordo com<br />

a Tabela 11 e Gráfico 08.<br />

Tabela 11 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por atividade<br />

econômica de Campo Bom (em salários mínimos) –1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Relação anual de informações sociais - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Gráfico 08: Participação percentual da remuneração média do total de trabalhadores<br />

por atividade econômica de Campo Bom – 2001<br />

Fonte: RAIS - Relação anual de informações sociais - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.1.5 Cruzamento entre estabelecimentos, empregados e remuneração<br />

Cruzando-se os dados do número de empregados e o número de estabelecimentos<br />

de Campo Bom, no período de 1996 a 2001, Tabela 12, verificou-se que o<br />

município, com uma média de 19,94 empregados por estabelecimento, foi maior<br />

do que os 12,90 empregados por estabelecimento da região do Vale do Sinos. O<br />

setor industrial revelou o maior número de empregados por estabelecimento, com<br />

uma média, no período, de 39,55. Em seguida, vem o setor de serviços, com 20,28<br />

empregados por estabelecimento; a construção civil, com 7,11; o comércio, com<br />

3,97; e a agropecuária, com 2,82. Todavia, a cidade e a região apresentaram taxas<br />

59


60<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

médias de crescimento anual negativo no número de empregados por estabelecimentos<br />

<strong>para</strong> o período analisado, isto é, –4,37% e –2,73%, respectivamente. Por<br />

outro lado, o setor de construção civil e agropecuária foram os únicos que tiveram<br />

uma taxa média de crescimento anual positiva, detendo 47,39% e 8,81% cada uma.<br />

Tabela 12 Média de empregados por estabelecimento das atividades econômicas<br />

de Campo Bom – 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Cruzando-se os dados da remuneração média mensal do total de trabalhadores<br />

e o número de empregados de Campo Bom no período de 1996 a 2001, Tabela<br />

13, observou-se que o município de Campo Bom apresentou uma média de 3,63<br />

salários mínimos por empregado. O setor de serviços revelou a maior remuneração<br />

por empregado, com uma média no período de 3,84. Em seguida, vem o setor de<br />

agropecuária, com 3,71 salários mínimos por trabalhador; a indústria, com 3,61;<br />

o comércio, com 3,30; e a construção civil, com 2,35.<br />

Constata-se, ainda, que a cidade teve taxas médias de crescimento anual negativo,<br />

com -3,37% na remuneração média mensal por empregados <strong>para</strong> o período<br />

analisado. Por outro lado, o setor de agropecuária foi o único que teve uma taxa<br />

média de crescimento anual positiva, ou seja, 3,66%.<br />

Tabela 13 Remuneração média mensal do empregado por atividade econômica<br />

de Campo Bom (em Salários Mínimos) - 1996/2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Para melhor compreender o papel da economia do município no Vale do<br />

Sinos, faz-se necessário, ainda, observar sua evolução em nível setorial ao longo<br />

de um período, o que será apresentado na seção seguinte.


Pensando Campo Bom<br />

5.2 Análise Setorial da economia de Campo Bom<br />

Nesta seção será apresentada uma análise dos setores econômicos 10 de Campo<br />

Bom, com o intuito de verificar mais detalhadamente a participação efetiva de<br />

cada um no período estudado.<br />

5.2.1 O Setor primário<br />

5.2.1.1 Estabelecimentos, empregados e rendimento no setor primário<br />

O setor primário de Campo Bom é representado por um total de 15 estabelecimentos<br />

agropecuários, que empregam 49 trabalhadores com uma remuneração<br />

média mensal do total de trabalhadores de 198,79 salários mínimos em 2001,<br />

conforme mostram as tabelas 14, 15 e 16.<br />

Os segmentos de atividades de serviços relacionados à agricultura e à pecuária<br />

apresentaram o maior número de estabelecimentos e empregados em 2001.<br />

As Aatividades de serviços relacionados à agricultura tiveram 5 estabelecimentos,<br />

representando 33,32% do total, e 24 empregados, 48,98% do total, enquanto que<br />

a Pecuária foi de 4 estabelecimentos, 26,67% do total e 12 empregados, 24,49%<br />

do total neste mesmo ano. Em relação à remuneração, Tabela 16, constata-se que<br />

uma única empresa de Produção Mista: (Lavoura e Pecuária), com 3 empregados,<br />

teve a maior remuneração média mensal, com 79,52 salários mínimos, representando<br />

40% do total em 2001.<br />

Tabela 14 Número de estabelecimentos por setor econômico da atividade<br />

de agropecuária de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 15 Número de empregados por setor econômico da atividade de<br />

agropecuária de Campo Bom - 1996-2001<br />

10 Os setores econômicos foram classificados segundo o CNAE – Classificação Nacional da Atividade<br />

Econômica (217 categorias).<br />

61


62<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 16 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por setor<br />

econômico da atividade de agropecuária de Campo Bom (em salários mínimos)-<br />

1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Examinando-se o crescimento dos estabelecimentos, empregados e remuneração,<br />

no período de 1996 a 2001, observa-se que a Pecuária revelou a maior taxa<br />

de crescimento média anual <strong>para</strong> todos os quesitos, ou seja, 46,67%, 180,67% e<br />

660,46%, respectivamente. Por outro lado, ressalta-se que os estabelecimentos e<br />

os empregos dos segmentos de Horticultura e Produtos de Viveiro, Produção de<br />

Lavouras Temporais e Lavouras Permanentes foram criados durante o período<br />

analisado.<br />

Verifica-se, na Tabela 17, que o município é caracterizado por pequenos<br />

estabelecimentos que empregam, na sua maioria, até quatro empregados (66,66%<br />

do total) em 2001, sendo que a taxa de crescimento médio <strong>para</strong> este tamanho é<br />

de apenas 0,61% ao ano, no período de 1997 a 2001. Portanto, o setor primário<br />

cresce somente em empresas de pequeno porte, pois os estabelecimentos de outros<br />

tamanhos não tiveram uma seqüência no período analisado.<br />

Tabela 17 Tamanho dos estabelecimentos da agropecuária de Campo Bom<br />

- 1997-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.2.1.2 Cultura Temporária<br />

A Tabela 18 mostra que o valor de produção a preços constantes da agricultura<br />

temporária 11 foi de R$ 466.130,32 em 2001, e teve um crescimento médio<br />

anual de 41,24% no período de 1996 a 2001. Os produtos agrícolas de cultura<br />

temporária do município, em 2001, foram arroz, batata-doce, cana-de-açúcar,<br />

cebola, feijão, mandioca, melancia, melão e milho.<br />

Todavia, os produtos mais significativos <strong>para</strong> o município, neste mesmo<br />

ano, foram arroz, com um valor de produção de R$ 174.172,35 e mandioca, com<br />

R$165.401,08. Por outro lado, o feijão apresentou a maior taxa média de crescimento<br />

real anual no valor de produção do período analisado, ou seja, 213,63%,<br />

seguida da cana-de-açúcar, com 46,68% e batata-doce, com 31,41%.<br />

Tabela 18 Quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção a<br />

preços constantes da agricultura de cultura temporária de Campo Bom - 1996-2001<br />

11 Culturas temporárias são as culturas de curta ou média duração, geralmente com ciclo vegetativo<br />

inferior a um ano que, após a colheita, necessitam de novo plantio <strong>para</strong> produzirem.<br />

63


64<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fontes: FEE/IBGE<br />

(-) —> Dados não fornecidos pelas fontes consultadas<br />

N/D - Não disponível<br />

*Valores corrigidos pelo IGPM, a preços de dezembro do ano de 2002<br />

5.2.1.3 Cultura Permanente<br />

O valor de produção real da agricultura permanente12 , Tabela 19, foi de R$<br />

199.233,12 em 2001, e teve um crescimento médio anual de 20,25% no período<br />

de 1996 a 2001. Os produtos agrícolas de cultura permanente do município, em<br />

2001, foram banana, c<strong>aqui</strong>, laranja, limão, manga, pêssego e tangerina. Entretanto,<br />

o produto mais significativo, neste mesmo ano, foi a laranja, com um valor de<br />

12 Culturas permanentes são as culturas de longo ciclo vegetativo, que permitem colheitas sucessivas,<br />

sem necessidade de novo plantio.


Pensando Campo Bom<br />

produção de R$ 114.026,50. Por outro lado, a tangerina apresentou a maior taxa<br />

média de crescimento real anual no valor de produção do período analisado, ou<br />

seja, 102,26% .<br />

Tabela 19 Quantidade produzida, rendimento médio e valor de produção a<br />

preços constantes da agricultura permanente de Campo Bom –1996-2001<br />

Fontes: FEE /IBGE<br />

(-) —> Dados não fornecidos pelas fontes consultadas<br />

N/D - Não disponível<br />

*Valores corrigidos pelo IGPM a preços de dezembro do ano de 2002<br />

5.2.1.4 Rebanho de Animais<br />

Os animais criados no município, em 2001, Tabela 20, foram bovinos, caprinos,<br />

codornas, coelhos, eqüinos, galinhas, galos, frangas, frangos, pintos, ovinos<br />

65


66<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

e suínos. Os mais significativos foram o rebanho bovino, com 1.433 cabeças, e a<br />

criação de 2.000 galinhas. Campo Bom apresentou um crescimento médio anual<br />

<strong>para</strong> quase todos os animais no período de 1996 a 2001. Os rebanhos de caprinos,<br />

galinhas e ovinos revelaram as maiores taxas médias anuais de crescimento no<br />

período analisado, com parcelas de 37,62%, 34,27% e 30,66% respectivamente.<br />

Apresentaram queda a criação de suínos, com–10,29%, e os galos, frangas, frangos<br />

e pintos com –17,15% .<br />

Tabela 20 Rebanho de animais de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fontes: FEE /IBGE<br />

(-) —> Dados não Existentes<br />

Campo Bom gerou os seguintes produtos de origem animal em 2001, como<br />

mostra a Tabela 21: leite, lã, ovos de galinha, mel de abelha, ovinos tosquiados e<br />

vacas ordenhadas. Em relação ao crescimento médio anual, no período de 1996<br />

a 2001, destacam-se os ovos de galinha, com 154,97%, o mel de abelha, com<br />

67,21% e o leite, com 58,35%.<br />

Tabela 21 Quantidade produzida e valor da produção a preços constantes<br />

de origem animal de Campo Bom - 1996-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fontes: FEE/IBGE<br />

(-) —> Dados não fornecidos pelas fontes consultadas<br />

N/D - Não disponível<br />

Valores corrigidos pelo IGPM a preços de dezembro do ano de 2002<br />

5.2.1.5 Silvicultura<br />

Com relação ao valor de produção a preços constantes da silvicultura13 ,<br />

Tabela 22, observa-se que em 2001 o valor total foi de R$ 181.690,58, tendo um<br />

crescimento médio anual no período de 1996 a 2001 de 161,44%. Os produtos<br />

silvícolas do município em 2001 foram a lenha, a madeira em tora e a acácia-negra,<br />

e o produto mais significativo neste mesmo ano foi a madeira em tora, com um<br />

valor de produção de R$ 96.483,96. Observa-se, ainda, que a lenha foi o único<br />

produto que teve produção em todos os anos analisados, tendo uma taxa média<br />

de crescimento anual no valor de produção de 104,91% .<br />

Tabela 22 Quantidade produzida e valor da produção a preços constantes<br />

da silvicultura de Campo Bom - 1996-2001<br />

13 Silvicultura é a atividade que se ocupa do estabelecimento, desenvolvimento e da reprodução de<br />

florestas, visando a múltiplas aplicações das taxas portuárias, de Previdência, da Comissão de Marinha<br />

Mercante e outras que incidem sobre o valor do frete.<br />

67


68<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fontes: FEE/IBGE<br />

(-) —> Dados não fornecidos pelas fontes consultadas<br />

*Valores corrigidos pelo IGPM a preços de dezembro do ano de 2002<br />

5.2.2 O Setor secundário<br />

5.2.2.1 Estabelecimentos, empregados e rendimento da atividade industrial<br />

O setor secundário de Campo Bom é representado por 445 estabelecimentos,<br />

empregando 16.280 trabalhadores, com uma remuneração média mensal do<br />

total de trabalhadores de 52.187,65 salários mínimos em 2001, de acordo com as<br />

tabelas 23, 24 e 25.<br />

O segmento industrial de fabricação de calçados apresentou o maior número<br />

de estabelecimentos, empregados e remuneração média salarial em 2001. A<br />

fabricação de calçados teve 191 estabelecimentos, isto é, 44,16% do total, 9.880<br />

empregados, 61,85% do total, e 28.859,20 salários mínimos ao mês 56,01% do<br />

total neste mesmo ano. No entanto, sua taxa de crescimento médio não foi a mais<br />

alta no período, ficando com apenas 14,10% <strong>para</strong> estabelecimentos, 4,39% <strong>para</strong><br />

empregados, e 1,13% <strong>para</strong> remuneração.<br />

Embora o calçado seja a principal atividade econômica do município neste<br />

ano, destacam-se estabelecimentos de fabricação de artigos <strong>para</strong> viagem e de artefatos<br />

diversos de couro, com 6,24%, e fabricação de produtos diversos de metal<br />

com 5,08% de participação no município. Já as taxas de crescimento médio mais<br />

altas ficaram <strong>para</strong> a forjaria, estamparia, metalurgia de pó e serviços de tratamentos


Pensando Campo Bom<br />

de metais, com 46,67%; fabricação de produtos diversos, com 43,33%; fabricação<br />

de artigos <strong>para</strong> viagem e de artefatos diversos de couro com 40,38%; e fabricação<br />

de artefatos têxteis a partir de tecidos, com 30,00%.<br />

Tabela 23 Número de estabelecimentos por setor econômico da atividade<br />

industrial de Campo Bom - 1996-2001<br />

69


70<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS - Relação anual de informações sociais - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Quanto ao número de empregados, a Tabela 24 evidencia que a Fabricação<br />

de produtos de plásticos; fabricação de produtos e pre<strong>para</strong>dos químicos diversos;<br />

e fabricação de artefatos diversos de papel, papelão, cartolina contribuíram com<br />

8,35%, 4,77% e 3,61% respectivamente.<br />

No entanto, quando se observa o crescimento médio do número de empregados,<br />

encontra-se os setores de curtumes e outras pre<strong>para</strong>ções de couro, fabricação<br />

de produtos diversos e fabricação de artigos de mobiliário que tiveram as maiores<br />

taxas, participando com 236,06%, 92,67% e 236,06%.<br />

Tabela 24 Número de empregados por setor econômico da atividade industrial<br />

de Campo Bom - 1996-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Na Tabela 25, observa-se que a fabricação de produtos de plástico, fabricação<br />

de produtos e pre<strong>para</strong>dos químicos diversos e fabricação de artefatos diversos<br />

de papel, papelão, cartolina ficaram com uma parcela de 8,61%, 8,42% e 5,54%<br />

na remuneraçao média mensal. No entanto, tem-se que curtimento e outras<br />

pre<strong>para</strong>ções de couro; fabricação de produtos diversos, fabricação de artigos de<br />

mobiliario; e fabricaçao de tintas, vernizes, esmaltes, lacas e produtos afins tiveram<br />

494,54%, 92,92%, 88,51% e 56,58%, cada uma na taxa de crescimento médio no<br />

período. O segmento de fabricação de estruturas metálicas, estruturas de metal<br />

<strong>para</strong> construção teve o pior desempenho com – 17,33% ao ano.<br />

Em relação ao crescimento médio anual do número de empregados e de<br />

salários mínimos, neste mesmo período, verifica-se que o segmento de Captação,<br />

Purificação e distribuição de Água apresentou a maior queda com –17,75% e<br />

–12,90% ao ano.<br />

Tabela 25 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por<br />

setor econômico da atividade industrial de Campo Bom (em salários mínimos)-<br />

1996-2001<br />

71


72<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

A Tabela 26 mostra que o município é caracterizado por um grande número<br />

de pequenas empresas industriais e de construção civil, as quais empregam, na sua<br />

maioria, até 4 empregados, o que representa 37,41% do total de estabelecimentos<br />

em 2001, respectivamente.<br />

Tabela 26 Tamanho dos estabelecimentos da indústria de Campo Bom -<br />

1997-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

A participação dos estabelecimentos com 5 a 9 empregados e de 10 a 19<br />

empregados obtiveram 17,55% e 13,16% sobre o total do tamanho dos estabelecimentos<br />

da indústria. A taxa média de crescimento anual do tamanho das<br />

empresas industriais foi mais significativa <strong>para</strong> os estabelecimentos de 100 a 249<br />

empregados, 26,71% ao ano.<br />

5.2.2.2 Estabelecimentos, empregados e rendimento da construção civil<br />

Na construção civil, o destaque maior foi a construção de edifícios e obras<br />

de engenharia civil, apresentando 15 estabelecimentos, isto é, 55,56% do total,<br />

262 empregados, 83,34% do total, e obtendo 586,40 salários mínimos ao mês,<br />

85,23% do total em 2001. Embora a construção de edifícios e obras de engenharia<br />

seja a principal atividade econômica do município neste ano, encontraram-se<br />

estabelecimentos e empregos em um número considerável de outros segmentos,<br />

segundo tabelas 27, 28 e 29.<br />

Como observa-se, obras de acabamento e serviços auxiliares de construção<br />

ficou com 29,63% sobre o total de estabelecimentos, com 7,17% sobre o número<br />

de empregados, e com 7,04 % sobre o total da remuneração mensal de trabalhadores.<br />

O setor de obras e Instalações participou com 14,81%, 7,49% e 7,73% sobre<br />

o número de estabelecimentos, empregados e remuneração.<br />

Tabela 27 Número de estabelecimentos por setor econômico da atividade<br />

de construção civil de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 28 Número de empregados por setor econômico da atividade de<br />

construção civil de Campo Bom - 1996-2001<br />

73


74<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 29 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por setor<br />

econômico da atividade de construção civil de Campo Bom (em salários mínimos)-<br />

1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Examinando-se ainda o crescimento do número de estabelecimentos da<br />

construção civil, no período de 1996 a 2001, observa-se que o segmento de obras<br />

de acabamento e serviços auxiliares de construção teve a maior taxa média anual<br />

de 17,86%, e a construção de edifícios e obras de engenharia civil revelou o pior<br />

desempenho com –0,12%. em relação ao crescimento do número de empregados<br />

e a remuneração média da construção civil, neste mesmo período, verifica-se<br />

que as obras e instalações obtiveram uma parcela de 119,36% e 103,26% ao ano,<br />

respectivamente, sendo os mais significativos.<br />

Nota-se, segundo Tabela 30, que o número de empregados nas empresas foi<br />

mais significativa com até 4 empregados, e de 10 a 19 empregados, representando<br />

44,45% e 25,93% sobre o total. No entanto, a taxa de crescimento dos estabelecimentos,<br />

que não possuem empregados, representaram 52,50%; e aqueles que<br />

possuem empregados entre 10 a 19 empregados tiveram uma parcela de 24,17%<br />

sobre o total.<br />

Tabela 30 Tamanho dos estabelecimentos da construção civil de Campo<br />

Bom - 1997-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.2.2.3 Valor Adicionado Fiscal


Pensando Campo Bom<br />

O valor adicionado fiscal 14 , a preços constantes do total geral da indústria,<br />

é de R$ 552.359.316,44 em 2001, e apresentou um crescimento médio anual de<br />

4,68%, no período de 1996 a 2001, como se vê na Tabela 31. Deste total, observa-se<br />

que a indústria de transformação deteve R$ 551.121.5.5,89, isto é, 99,8%, sendo<br />

o restante pertencente à industria extrativa mineral que obteve R$ 1.237.810,55 e<br />

participou com queda média de crescimento de –6,01% entre 1996 a 2001.<br />

Tabela 31 Valor adicionado fiscal a preços constantes da indústria de transformação<br />

e extrativa mineral de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: Secretaria da Fazenda / Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

Nota: Os valores informados pela Secretaria da Fazenda <strong>para</strong> número de estabelecimentos, são<br />

obtidos diretamente dos contribuintes estabelecidos e podem sofrer alguma retificação em razão<br />

de erro no preenchimento dos formulários. No entanto, a Secretaria da Fazenda e a FEE estão<br />

disponibilizando tais informações por serem muito importantes <strong>para</strong> aqueles que trabalham com<br />

estudos municipais.<br />

(-) — > Dados não fornecidos pela fonte consultada<br />

N/D - Não disponível<br />

*Valores corrigidos pelo IGPM a preços de dezembro do ano de 2002<br />

A indústria de transformação teve um crescimento médio anual de 4,76%<br />

no período de 1996 a 2001. Destaca-se, <strong>para</strong> o ano de 1999, maior participação<br />

14 Valor Adicionado Fiscal corresponde à diferença entre as saídas escrituradas e não escrituradas,<br />

menos o total das entradas escrituradas e não escrituradas, acrescidas do valor adicionado distribuído<br />

de mercadorias e serviços realizadas pelos contribuintes do ICMS, em cada município, declaradas<br />

75


76<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

no ramo do vestuário, calçados e artefatos de tecidos, 50,10% do total: química<br />

15,33% do total, e materiais não-metálicos 12,24% do total.<br />

5.2.3 O Setor terciário<br />

5.2.3.1 Estabelecimentos, empregados e rendimentos do comércio<br />

O setor terciário de Campo Bom é representado por 780 estabelecimentos,<br />

empregando 7.600 trabalhadores com uma remuneração média mensal do total<br />

de trabalhadores, de 25.250,54 salários mínimos em 2001, como se identifica nas<br />

tabelas 32, 33 e 34.<br />

O segmento de comércio varejista de outros produtos novos, em lojas<br />

especializadas, apresentou o maior número de estabelecimentos, empregados e<br />

remuneração média mensal, em 2001, representando 132 estabelecimentos, isto é,<br />

29,86% do total, 524 empregados, 29,39% do total, e 1.380,46 salários mínimos<br />

ao mês, 26,23% do total. Embora o comércio varejista de outros produtos novos<br />

seja a principal atividade econômica do município, encontram-se estabelecimentos<br />

e empregos em um número considerável de outros segmentos, sendo que alguns<br />

foram criados durante o período 1996 a 2001.<br />

Tabela 32 Número de estabelecimentos por setor econômico da atividade<br />

de comércio de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS — Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 33 Número de empregados por setor econômico da atividade de<br />

Comércio de Campo Bom – 1996-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Tabela 34 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por setor<br />

econômico da atividade de comércio de Campo Bom (em salários mínimos)-<br />

1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

A Tabela 33 mostra que o comércio varejista de mercadorias em geral deteve<br />

21,93% quanto ao número de empregados, e 17,11% de remuneração média,<br />

ficando na 2 a posição no município. Já o comércio varejista de tecidos, artigos<br />

de armarinho, vestuário e calçados manteve-se em 3 a posição quanto ao número<br />

de estabelecimentos e empregados, obtendo 18,78% e 21,93% sobre o total em<br />

2001, mas ficou em 4 a posição quanto à remuneração, deixando-se ultrapassar<br />

pelos intermediários do comércio, que obtiveram 15,89% de participação.<br />

Examinando-se a Tabela 34, o crescimento dos estabelecimentos e empregados<br />

do comércio, no período de 1996 a 2001, observa-se que o comércio varejista<br />

de produtos alimentícios, bebidas e fumo, em lojas especializadas revelou<br />

a maior taxa média anual de crescimento, em ambos com 29% e 105,84%,<br />

respectivamente. Por outro lado, verifica-se que o segmento de re<strong>para</strong>ção<br />

de objetos pessoais e utilidades domésticas teve desempenho negativo, com<br />

–2,08% ao ano <strong>para</strong> o número de estabelecimentos e –15,63% <strong>para</strong> o número<br />

77


de empregados.<br />

78<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Em relação ao crescimento da remuneração média, neste mesmo período,<br />

o comércio atacadista de artigos de uso pessoal e doméstico, com 290,12% ao<br />

ano, teve o melhor desempenho, enquanto o segmento de re<strong>para</strong>ção de objetos<br />

pessoais e utilidades domésticas, com – 16,85% ao ano, teve o pior desempenho.<br />

A Tabela 35 evidencia que o município é caracterizado por um grande<br />

número de pequenas empresas comerciais e de serviços, que empregam, na sua<br />

maioria, até 4 empregados, ou seja, 61,54%. Por outro lado, destina uma parcela de<br />

16,29% <strong>para</strong> aquelas empresas que não contratam nenhum empregado, e 11,76%<br />

<strong>para</strong> aquelas que contam com 5 a 9 empregados. Já a taxa média de crescimento<br />

anual, do tamanho das empresas comerciais, no período de 1997 a 2001, é mais<br />

significativa <strong>para</strong> os estabelecimentos de 50 a 99 empregados, com 27,08% ao<br />

ano, e de 10 a 19 empregados, com 18,43%, e de zero empregados, com 14,60%.<br />

Tabela 35 Tamanho dos estabelecimentos do comércio de Campo Bom -<br />

1997-2001<br />

Fonte: RAIS- Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.2.3.2 Estabelecimentos, empregados e rendimento do setor de serviços<br />

De acordo com as tabelas 36, 37 e 38, na atividade de serviços, o destaque<br />

foi a Administração do Estado e da Política Econômica e Social. Apesar deste<br />

segmento participar somente com 2 estabelecimentos, (0,59% do total) em Campo<br />

Bom, este teve 1.490 empregados, (25,62% do total) e 6.255,14 salários mínimos<br />

ao mês (31,28% do total) em 2001.<br />

Com relação ao número de estabelecimentos, Tabela 36, a maior participação<br />

ficou <strong>para</strong> outras atividades de serviços prestados principalmente as empresas,<br />

ou seja, 67 estabelecimentos, (19,77% do total), seguido de restaurantes e outros<br />

estabelecimentos de serviços de alimentação, com 9,47% e outros transportes<br />

terrestres, com 9,17%. Também ressalta-se que alguns estabelecimentos de serviços<br />

foram criados durante o período de 1996 a 2001, enquanto outros desapareceram.


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 36 Número de estabelecimentos por setor econômico da atividade<br />

de serviços de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Analisando o número de empregados por setor, Tabela 37, vê-se a predominância<br />

<strong>para</strong> administração do Estado e da política econômica e social; outras<br />

atividades de serviços prestados principalmente às empresas; e atividades de limpeza<br />

e higienização em prédios e domicílios, cada um participando com 25,62%,<br />

17,64% e 17,12% respectivamente.<br />

Tabela 37 Número de Empregados por Setor Econômico da Atividade de<br />

Serviços de Campo Bom<br />

79


80<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Já a Tabela 38 mostra a remuneração média mensal do total de trabalhadores,<br />

por segmento econômico. Através dela, verifica-se a preponderância, também,<br />

da Administração do Estado e da Política Econômica e Social que deteve 31,28%,<br />

seguido de outras atividades de serviços prestados principalmente às empresas,<br />

com 17,32%, e atividades de investigação, vigilância e segurança, com 9,43% sobre<br />

o total da remuneração.<br />

Tabela 38 Remuneração média mensal do total de trabalhadores por setor econômico<br />

da atividade de serviços de Campo Bom (em salários mínimos)- 1991-2001


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Com base nas tabelas 36, 37 e 38, anteriormente apresentadas, observa-se<br />

ainda que o segmento de atividades de limpeza e higienização em prédios e domicílios<br />

teve a maior taxa média anual de 55,00% e 1.444,18%, respectivamente. Em<br />

relação ao crescimento da remuneração média dos serviços, neste mesmo período,<br />

constata-se que os segmentos outras atividades associativas (255,26% ao ano);<br />

serviços de arquitetura e engenharia e de assessoramento técnico-especializado<br />

(228,13% ao ano); e consultoria e elaboração de programas de informática (201,72%<br />

ao ano) foram os mais significativos. Os desempenhos negativos no número de<br />

estabelecimento, empregados e remuneração média ficaram <strong>para</strong> outras atividades<br />

de informática, não especificadas anteriormente (-15% ao ano), atividades jurídicas,<br />

de contabilidade e auditoria (-7,27% ao ano) e seguros de vida e não-vida (-20,96%<br />

ao ano), respectivamente.<br />

A Tabela 39 retrata que o setor de serviços, com até 4 empregados, participou<br />

com 58,57%, e com nenhum empregado e de 5 a 9 empregados, com 12,13% cada<br />

um em 2001. No entanto, observa-se que a maior taxa de crescimento destinou-se<br />

<strong>para</strong> aqueles estabelecimentos de 100 a 249 empregados, participando com 95,8%,<br />

e <strong>para</strong> aqueles estabelecimentos de 50 a 99 empregados, 45,36% de 1999 a 2001.<br />

81


82<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 39 Tamanho dos estabelecimentos de serviços de Campo Bom -<br />

1997-2001<br />

Fonte: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego<br />

5.2.3.3 Valor Adicionado Fiscal<br />

O valor adicionado fiscal a preços constantes do total geral do comércio,<br />

em 2001, foi de R$ 331.114.316,82 em 2001 e apresentou um crescimento médio<br />

anual de 25,60%, no período de 1996 a 2001, segundo Tabela 40. A participação<br />

no valor adicionado fiscal, a preços constantes do comércio atacadista, em 1999,<br />

foi de 70,04% e do comércio varejista foi de 29,96% neste mesmo ano. O comércio<br />

varejista teve um crescimento médio anual de 18,28%, no período de 1996 a 1999,<br />

enquanto que o comércio atacadista teve uma expansão média anual de 28,84%.<br />

Portanto, apesar de ambos crescerem significativamente, o comércio atacadista<br />

teve um crescimento médio anual, no valor adicionado fiscal, mais acelerado que<br />

o valor do comércio varejista.<br />

Tabela 40 Valor adicionado fiscal a preços constantes do comércio varejista<br />

e atacadista de Campo Bom - 1996-2001<br />

Fontes: FEE/BGE Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

N/D - Não disponível<br />

NOTA: Nos anos 2000 e 2001, os dados foram fornecidos pela Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

*Valores corrigidos pelo IGPM a preços de dezembro do ano de 2002<br />

5.2.3.4 Exportações


Pensando Campo Bom<br />

Com relação às exportações 15 totais de Campo Bom, em 2000, Tabela 41,<br />

constatou-se que foi enviado, <strong>para</strong> o exterior, US$ 245.939.242,00, representando<br />

41,11% do PIB do município deste ano, e 14,81% do total exportado pela região<br />

do Vale do Sinos. Campo Bom foi o segundo município que mais exportou na<br />

região, depois da cidade de Canoas, que participou com 22,03% do total exportado.<br />

Observa-se, ainda, que Campo Bom conseguiu ultrapassar, em valor exportado,<br />

até mesmo o município de Novo Hamburgo, que obteve o terceiro lugar<br />

com 14,40% sobre o total, sinalizando um forte comércio exterior.<br />

Tabela 41 Exportações Totais - (U$ FOB) – 2000<br />

Fontes: FEE<br />

*FOB , ‘Free on Board” , não estão incluídas nas mercadorias exportadas o pagamento de fretes e<br />

seguros do momento do embarque ao destino.<br />

5.2.4 Análise de Tendências Econômicas<br />

Durante a década de oitenta, da restauração liberal conservadora16 inaugurouse<br />

outro modelo político e ideológico de desenvolvimento econômico, que tiveram<br />

atuação decisiva na redefinição de macropolíticas econômicas voltadas <strong>para</strong><br />

a liberalização de controles sobre os movimentos de capital, ataque às políticas<br />

sociais e de amparo aos trabalhadores, e a instituição de mecanismos legais nas<br />

decisões políticas, deixando de fora a participação dos sujeitos sociais nacionais.<br />

O ataque dos governos liberais conservadores impuseram-se durante o Con-<br />

na Guia Informativa Anual.<br />

15 Valor das exportações FOB refere-se ao valor de venda das mercadorias exportadas, acrescido de<br />

todas as despesas assumidas pelo exportador até colocá-las à bordo, incluindo as taxas portuárias,<br />

de Previdência, da Comissão de Marinha Mercante e outras que incidem sobre o valor do frete.<br />

83


84<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

senso de Washington, em 1989, quando foram definidas políticas que viabilizassem<br />

o programa de estabilização e reformas estruturais e setoriais, objetivando ajustar<br />

as economias devedoras <strong>para</strong> que gerassem receitas nacionais <strong>para</strong> o pagamento<br />

regular dos compromissos com os credores das instituições externas, recebessem<br />

novos empréstimos e deixassem a circulação do capital financeiro desregulado.<br />

No caso do Brasil, a obediência frente à essa ordem neoliberal tem transformado<br />

estrutural e conjunturalmente a economia, lançando a nação a buscar<br />

alternativas <strong>para</strong> continuar seu precário desenvolvimento. Os anos 90 marcaram<br />

a tentativa de inserção da economia brasileira no contexto neoliberal, induzindo<br />

a adequação das instituições nacionais opostas ao modelo de substituição de<br />

importação e compatíveis com o novo padrão competitivo em substituição ao<br />

Estado produtor/empresário.<br />

Portanto, os anos mais recentes marcaram uma profunda mudança no<br />

contexto em que devem operar os atores envolvidos com a promoção do<br />

desenvolvimento regional. Essa transformação, que envolve a globalização<br />

das relações econômicas - liberalização do câmbio, processo de substituição<br />

das importações e mudanças no papel do poder público - condicionam fortemente<br />

a formulação de políticas públicas <strong>para</strong> o crescimento econômico.<br />

A abertura da economia, iniciada na década de 1990, proporcionou um acirramento<br />

da concorrência que abalou a posição anteriormente sólida, desfrutada<br />

por muitas empresas e municípios. De fato, com Collor, deflagrou-se o processo<br />

de ajuste da economia mediante à reestruturação global econômica, abrindo prematuramente<br />

o mercado doméstico aos produtos internacionais, em um momento<br />

em que a indústria nacional mal conseguia adequar-se ao processo produtivo. Em<br />

conseqüência, algumas atividades de grande expressão econômica local passaram<br />

a enfrentar dificuldades e apresentaram um modelo de conduta marcado por pessimismo,<br />

autoproteção e descrença na política oficial. Além disso, a implantação<br />

do Plano Real, em 1994, sobrevalorizou a moeda nacional, reduzindo a competitividade<br />

dos produtos locais devido à forte exposição internacional, após longos<br />

anos de proteção do mercado doméstico, atrelada também ao protecionismo dos<br />

principais parceiros comerciais.<br />

Conforme observa BELUZZO(1998):<br />

16 Feita pelos governos de Margareth Thatcher, na Inglaterra, Ronald Reagan, nos Estados Unidos,<br />

Helmut Kohl, na Alemanha e Nakasone, no Japão.


Pensando Campo Bom<br />

O aumento da concorrência e a abertura das economias, associadas<br />

à instabilidade dos novos mercados financeiros, tornaram mais<br />

incertos os resultados do investimento no setor manufatureiro<br />

e forçaram os novos gastos de capital a concentrar-se nas redes<br />

de distribuição de mercadorias e no próprio setor financeiro. Na<br />

Inglaterra de Mrs. Tatcher, o investimento produtivo estagnou entre<br />

1979 e 1989, mas cresceu em 2/3 nas atividades de distribuição e<br />

triplicou no setor financeiro.(BELUZZO, 1998, p. 58)<br />

Isto demonstra que a qualidade dos investimentos foi alterada permitindo<br />

às empresas obter ganhos de outras formas que não o investimento no processo<br />

produtivo, o qual gera uma maior produção, emprego e renda.<br />

A partir de janeiro de 1999, com a liberalização do câmbio e a adoção do<br />

novo modelo de substituição das importações, desencadeou-se uma motivação<br />

regional, na medida em que o mercado, ao subvalorizar a moeda nacional, aumentou<br />

a competitividade dos produtos locais no exterior, por mais que persistissem<br />

as taxas de juros estratosféricas do mercado doméstico, a volta do processo<br />

inflacionário e crises políticas no mercado externo. Aliadas a tudo isto, teve-se<br />

ainda mudanças políticas partidárias no Governo Federal e Estadual, e a deterioração<br />

da capacidade financeira das diversas instâncias da administração pública<br />

que redefiniu as ações que buscassem a continuidade do desenvolvimento local.<br />

Tais transformações afetaram diretamente o município de Campo Bom, talvez<br />

com maior intensidade que outros municípios brasileiros, tendo em vista o grau<br />

relativamente elevado de abertura da sua economia, impondo a muitos segmentos<br />

de atividade auferir ganhos significativos de competitividade, sob pena de serem<br />

excluídos do mercado.<br />

Do ponto de vista territorial, a acentuada concentração de economias de<br />

aglomeração, em favor do setor coureiro-calçadista na região do Vale do Sinos,<br />

deverá continuar a incidir, de forma determinante sobre as tendências de desenvolvimento<br />

local <strong>para</strong> a próxima década. Devido à essa concentração, o processo<br />

de diversificação do crescimento econômico tem sido muito lento. A presença de<br />

externalidades positivas tem feito com que as decisões mais recentes de localização<br />

de novos empreendimentos tendessem a privilegiar o município de Campo<br />

Bom, reforçando ainda mais o padrão espacialmente concentrado de crescimento<br />

da atividade industrial.<br />

Em conseqüência da ação desses fatores, considera-se que os padrões de<br />

85


86<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

crescimento local, nos próximos anos, serão caracterizados pelas tendências<br />

apresentadas a seguir:<br />

a)Continuidade da concentração espacial da indústria tradicional:<br />

Na ausência de intervenções do poder público, no sentido de promover a<br />

diversificação, o padrão territorialmente concentrado de crescimento da indústria<br />

tradicional deverá manter-se nos próximos anos. O processo de concentração<br />

econômica da indústria calçadista, verificado ao longo das últimas décadas, deverá<br />

ter continuidade, e a expansão deverá concentrar-se em áreas industriais já consolidadas.<br />

Neste sentido, <strong>para</strong> aumentar o desempenho econômico do município,<br />

a Prefeitura Municipal de Campo Bom está investindo na criação de um Parque<br />

Tecnológico.<br />

Nas áreas do Parque Tecnológico, ressalvadas algumas exceções, as possibilidades<br />

de crescimento ficarão mais ligadas à expansão de segmentos diretamente<br />

ligados à base tecnológica da região. As exceções poderão ser constituídas por<br />

empresas manufatureiras, mais diversificadas, que venham a evidenciar vantagens<br />

locacionais derivadas da sua situação em pontos estratégicos da malha de transportes<br />

da região.<br />

b)Risco de crise estrutural da agropecuária:<br />

A situação estrutural das áreas agropecuárias do município é bastante difícil.<br />

Algumas tendem a caracterizar-se como áreas marginais nas linhas de produção<br />

que lhes são características. Neste contexto, pesa a concorrência constituída pelas<br />

frentes de expansão da fronteira agropecuária de outros municípios do estado,<br />

bem como do Centro Oeste e Norte do País, pelas terras mais baratas disponíveis<br />

e pela produção oriunda de áreas mais férteis.<br />

Essa conjugação de problemas é extremamente grave em áreas do município<br />

de Campo Bom, onde predominam as pequenas propriedades da agropecuária<br />

familiar. Neste caso, os fatores determinantes das perspectivas estarão ligados<br />

à agilidade dos atores econômicos, <strong>para</strong> incorporar tecnologias capazes de<br />

aumentar a produtividade nas linhas de produção já existentes e identificar alternativas<br />

viáveis e competitivas <strong>para</strong> a utilização dos recursos produtivos locais.<br />

c)Risco de crises localizadas devido à perda de posições de mercado por<br />

atividades industriais de grande importância econômica local<br />

A crescente abertura da economia brasileira, na década de 1990, provocou<br />

tensões que tornaram incertas as perspectivas de segmentos importantes da


Pensando Campo Bom<br />

economia de Campo Bom. Exemplo dessa situação é a indústria calçadista, que<br />

perdeu espaço <strong>para</strong> outras áreas concorrentes do país e do exterior, onde os custos<br />

da mão-de-obra são mais baixos. Por outro lado, a década de 2000 inicia-se com<br />

atentados e guerras externas, diminuindo a velocidade da globalização da economia<br />

e provocando crise econômica mundial.<br />

Portanto, é previsível que muitos segmentos da economia municipal venham<br />

a enfrentar dificuldades, mesmo se adaptando a essa nova dinâmica, mas caso<br />

não persigam aumentar a competitividade e a diversificação econômica, as crises<br />

municipais surgirão, com maior freqüência, num futuro próximo.<br />

5.3 Considerações Finais<br />

Ao analisar os agregados macroeconômicos e setoriais de Campo Bom, no<br />

período de 1996 a 2001, podem ser destacadas as seguintes conclusões:<br />

a) O PIB per capita da cidade (US$ 10.901,37), em 2001, é muito superior ao<br />

do Vale do Sinos, e o segundo entre os municípios da região, ficando atrás somente<br />

da cidade de Canoas. Todavia, o PIB per capita de Campo Bom cresceu mais, com<strong>para</strong>tivamente<br />

com o de Canoas, tendo em vista o menor incremento da população<br />

da cidade no período investigado;<br />

b) A principal atividade econômica do município e da região é a secundária,<br />

mas a intensidade, em Campo Bom, é maior. A atividade industrial, além de ser a<br />

mais importante em geração do produto da economia da cidade, também é a que<br />

apresentou o maior número de empregados por estabelecimento. Por outro lado,<br />

as atividades primária e terciária têm uma menor importância no valor adicionado<br />

bruto de Campo Bom do que na região do Vale do Sinos;<br />

c) Apesar da maior participação do número de estabelecimentos da atividade<br />

comercial na cidade, em 2001, o setor industrial foi o que apresentou a maior taxa<br />

média de crescimento anual na série histórica analisada;<br />

d) Apesar da maior participação do número de empregados da atividade<br />

industrial no município, em 2001, o setor de construção civil foi o que apresentou<br />

a maior taxa média de crescimento anual no período investigado;<br />

e) A evolução do número de empregados de Campo Bom, no período, mostrou<br />

taxas médias de crescimento anual superior em todos os setores econômicos<br />

87


88<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

(agropecuária, indústria, construção civil, comércio e serviços), quando com<strong>para</strong>do<br />

com o Vale do Sinos;<br />

f) Apesar da maior participação da atividade industrial, na remuneração média<br />

mensal do total de trabalhadores de Campo Bom, em 2001, o setor de serviços<br />

revelou a maior remuneração média mensal, por empregado, neste mesmo ano;<br />

g) Em relação ao setor primário, o município é caracterizado por pequenos<br />

estabelecimentos, destacando-se na produção temporária, o arroz e a mandioca; na<br />

produção permanente, a laranja; nos animais, o rebanho bovino e a criação de galinhas;<br />

nos produtos de origem animal, o leite; e na silvicultura, a madeira em tora;<br />

h) Quanto ao setor secundário, a cidade é caracterizada por um grande número<br />

de pequenas empresas industriais e de construção civil, mas constatou-se uma<br />

maior taxa de crescimento médio anual, no período, <strong>para</strong> as empresas industriais<br />

de médio porte. Todavia, existe um elevado grau de concentração econômica, na<br />

cadeia produtiva calçadista, embora se encontrem estabelecimentos em um número<br />

significativo de outros segmentos;<br />

i) Em relação ao setor terciário, o município é caracterizado por um grande<br />

número de pequenas empresas comerciais e de serviços, mas verificou-se uma<br />

maior taxa de crescimento médio anual no período, <strong>para</strong> os estabelecimentos<br />

de serviços de médio porte. Na atividade comercial, o destaque econômico foi<br />

o segmento de comércio varejista de outros produtos novos, enquanto que na<br />

atividade de serviços, o destaque foi a administração do estado e da política econômica<br />

e social. Contudo, deve-se ressaltar a forte vocação do município <strong>para</strong> o<br />

comércio exterior;<br />

j) Existem tendências <strong>para</strong> Campo Bom de continuidade da concentração<br />

espacial da indústria tradicional; do risco de crise estrutural da agropecuária; e do<br />

risco de crises localizadas devido à perda de posições de mercado por atividades<br />

industriais de grande importância econômica local.<br />

Pode-se concluir que um dos principais focos das políticas locais a ser<br />

desenvolvidos pela Administração Pública Municipal deve ser o estímulo ao<br />

crescimento e ao desenvolvimento econômico, associando ações que evitem<br />

estrangulamentos e deterioração da competitividade das empresas localizadas<br />

no município. Sugere-se, assim, as seguintes políticas municipais de desenvolvimento<br />

local:<br />

• Estimular a diversificação do crescimento industrial;


Pensando Campo Bom<br />

• Incrementar e ordenar a competitividade sistêmica do município;<br />

• Estimular o engajamento da comunidade na formulação e na implementação<br />

de ações relevantes <strong>para</strong> a promoção do desenvolvimento local.<br />

A própria Constituição Estadual de 1989, capítulo II, artigo 166, promove<br />

essa política de desenvolvimento estadual e regional e define como objetivos:<br />

“promover a qualidade de vida da população, a distribuição eqüitativa da riqueza produzida,<br />

o estímulo à permanência do homem no campo, e o desenvolvimento social e econômico sustentável.”,<br />

mas o município somente conseguirá atingir esse estágio, caso houver uma<br />

participação efetiva dos diversos atores na formulação e implementação de ações<br />

consideradas essenciais <strong>para</strong> o crescimento e desenvolvimento local sustentável.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BELLO, Terezinha da S.; MACADAR Beky Moron. O contexto internacional<br />

e o Comércio externo do Rio Grande do Sul na década de 90. In: FLIGES-<br />

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pg 191-237), volume 8 (nº2, 1997, pg 143-193), volume 10 (nº2, 1999, pg 89-<br />

89


90<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

136), volume 12 (nº1, 2001, pg 7-55).<br />

LLORENS, F. A. Desenvolvimento Econômico Local: Caminhos e Desafios<br />

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SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1974.


6 finAnçAs PúBlicAs e infrA-estruturA<br />

6.1 O Orçamento Público Municipal<br />

Jucelaine Bitarello 1<br />

Desde a origem do orçamento público à sua modernização, e no que diz<br />

respeito às práticas de gestão pública, o orçamento público definiu-se, através<br />

de suas características e de seus momentos históricos, como uma ferramenta de<br />

planejamento.<br />

As práticas orçamentárias, inicialmente, demonstravam o poder de tributação<br />

da monarquia. Este tinha o controle e a soberania das finanças públicas, tanto em<br />

nível de cobrança de impostos, recolhimento de receitas, como na destinação e<br />

efetivação das despesas e posteriormente, efetivamente, como um instrumento<br />

de planejamento. (Moojen, 1959)<br />

Desta forma, o orçamento público carrega, em seu conceito legal, fatores<br />

que merecem destaque, uma vez que se define como instrumento estratégico,<br />

pois evidencia a política econômica e financeira além de definir a plataforma de<br />

trabalho do gestor público.<br />

Estas características possibilitam a projeção de cenários <strong>para</strong> o futuro, baseados<br />

em acontecimentos do passado e nas realidades do momento presente,<br />

espelham informações sobre as políticas, programas e gerenciamento de ações<br />

governamentais em benefício da população.<br />

Neste sentido, este estudo tem como objetivo analisar o orçamento público<br />

do município de Campo Bom, nos anos de 1996 a 2002, identificando, através das<br />

execuções orçamentárias, os valores gastos em manutenção e os investimentos<br />

1 Jucelaine Bitarello é Mestre pela UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul. Professora<br />

pesquisadora do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.


92<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

realizados no município neste período, com<strong>para</strong>dos aos indicadores sociais em<br />

saúde, educação, segurança pública, esporte, cultura, lazer e assistência social.<br />

Neste trabalho, os balanços orçamentários foram atualizados financeiramente,<br />

uma vez que a inflação acumulada no período acaba por distorcer os números,<br />

provocando com isso uma falsa realidade. Para isso, foi utilizado o Índice Geral de<br />

Preços – Mercado, da Fundação Getúlio Vargas – IGP-M – FGV. 2<br />

Terminada a atualização dos valores pelo indicador acima descrito, foram<br />

emitidos formulários idênticos aos dos valores originais, sendo que aqueles (os<br />

atualizados), serviram de base <strong>para</strong> a análise de valores e posteriormente <strong>para</strong> a<br />

construção dos gráficos.<br />

A relevância deste tema reside no fato das administrações públicas terem,<br />

no orçamento, um instrumento articulador e facilitador <strong>para</strong> a concretização das<br />

políticas públicas. E é no município que se configura a unidade de Governo local<br />

como agente transformador e organizador das ações públicas. Este possui poderes<br />

intrínsecos e extrínsecos, forma de gestão própria, dotada de uma capacidade<br />

transformadora da vida econômica, política e social das comunidades.<br />

Porém, foi somente a partir da Constituição Federal de 1988 que os municípios<br />

brasileiros conseguiram uma maior autonomia no que diz respeito às<br />

finanças públicas, com o aumento relativo do repasse de tributos de competência<br />

dos governos de esfera federal e estadual, bem como o poder de instituir e cobrar<br />

tributos com competência própria.<br />

É a partir da Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade<br />

Fiscal, que se intensificam as alterações, principalmente no que diz<br />

respeito ao planejamento, à elaboração, à execução e principalmente ao controle<br />

das despesas públicas<br />

A LRF 3 estabelece normas de finanças públicas voltadas <strong>para</strong> a responsabilidade<br />

na gestão fiscal, assegurando desta forma o equilíbrio, a sensatez e a<br />

transparência nas administrações públicas, em especial a gestão orçamentária e<br />

financeira dos municípios.<br />

Em se tratando de município, existe uma forte desigualdade nas receitas<br />

2 O período de análise foi de 1996 a 2002, e os dados foram atualizados conforme a Calculadora<br />

Cidadã do Banco Central, www.bcb.gov.br.<br />

3 A partir de agora será utilizada a sigla LRF <strong>para</strong> referir-se à Lei de Responsabilidade Fiscal.


Pensando Campo Bom<br />

municipais 4 . Supõe-se que esta divergência seja o resultado da ausência de política<br />

clara na criação de instrumentos que dão base e subsidiam a cobrança desses<br />

tributos, tais como o código tributário municipal e o plano diretor do município.<br />

Esta realidade diversa entre os municípios faz com que cada um se organize<br />

de forma a ter, no orçamento, o seu instrumento de planejamento, definindo o<br />

plano de trabalho e os critérios <strong>para</strong> a distribuição nas diversas frentes de trabalho<br />

da administração pública.<br />

Conceitualmente, no que diz respeito às práticas orçamentárias de planejamento,<br />

controle e execução das receitas e das despesas, as entidades públicas<br />

encontram, no orçamento, um instrumento de gerenciamento. Este instrumento<br />

pode ser trabalhado no sentido de auxiliar as estratégias políticas e financeiras,<br />

recuperando programas de controle gerencial, identificando as tendências das políticas<br />

públicas locais, transformando os problemas dos bairros, das comunidades<br />

em ações exeqüíveis, desenvolvendo e criando ações concretas e dinâmicas, possibilitando<br />

ao município capacidade de autotransformação no campo político-social.<br />

O orçamento também permite trabalhar questões básicas em nível estrutural<br />

e organizacional da sociedade, traduzidas através da vontade do povo, que além de<br />

construir o destino da sua comunidade e de seu município, transforma a sociedade,<br />

democratizando-a, realizando-se então, as políticas públicas. Um exemplo claro<br />

de participação e cidadania é o orçamento participativo que se realiza em várias<br />

prefeituras brasileiras.<br />

Trata-se, pois, de um instrumento estratégico <strong>para</strong> o desenvolvimento e<br />

possui, em seu conteúdo, importância política, econômica, jurídica, financeira,<br />

administrativa e social. A partir do orçamento público, poderá haver a possibilidade<br />

de serem verificadas as políticas públicas, enquanto ações governamentais,<br />

que, de forma direta ou indireta, refletirão na comunidade, definindo-se assim<br />

o orçamento público municipal enquanto instrumento estratégico na gestão do<br />

desenvolvimento local/regional.<br />

Para compreender melhor a questão orçamentária, faz-se necessário trazer<br />

ao contexto diversos conceitos <strong>para</strong> posterior análise, conforme determina a Lei<br />

4.320/64, uma vez que o poder público coloca à disposição da comunidade bens<br />

4 Observa-se através da análise de orçamentos que muitos municípios sobrevivem apenas de<br />

Transferências Intergovernamentais, e mesmo dentro desta rubrica a disparidade dos números é<br />

significativa, considerando a vocação econômica de cada um, além de muitos apresentarem uma<br />

93


94<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

e serviços (gastos públicos), necessita de recursos financeiros (receitas públicas)<br />

<strong>para</strong> a consecução das necessidades.<br />

6.1.1A estrutura do Orçamento Público<br />

A linguagem utilizada pela Lei 4.320/64 é essencialmente contábil, uma<br />

vez que utiliza um plano de contas como forma balizadora dos trabalhos das<br />

entidades públicas.<br />

O orçamento manteve sua estrutura de representação ao longo do tempo;<br />

desta forma, tem facilitado o trabalho e o entendimento dos administradores e da<br />

comunidade, demonstrando, através das contas, as receitas e as despesas públicas.<br />

Entende-se por receita pública os recolhimentos feitos aos cofres do Erário,<br />

através de numerários ou outros bens representativos de valores que o Governo<br />

tem o direito de arrecadar em virtude da existência de leis, de contratos ou outros<br />

títulos que representem direito a favor do Estado.<br />

A receita se origina tanto em decorrência do seu poder de império<br />

como do poder de gerir seu patrimônio econômico-administrativo,<br />

entendido este como um conjunto de valores e também de<br />

transferências de outras entidades, quer sejam de Direito público,<br />

quer sejam de Direito privado. (Machado Jr., Reis, 2001, p.23)<br />

No passado, a Receita Pública tinha como função básica possibilitar ao Estado<br />

suprir somente a cobertura das despesas incorridas no período, não fazendo,<br />

<strong>para</strong> isso, uma estimativa e um planejamento orçamentário. Atualmente, além de<br />

servir <strong>para</strong> a cobertura das despesas operacionais, também tem como pressuposto<br />

básico o planejamento dos recolhimentos de todas as receitas, entendendo-se<br />

<strong>aqui</strong> os impostos, as taxas, as contribuições de melhorias e demais receitas como<br />

forma de intervenção do Estado na economia em geral, traçando, com isso, um<br />

plano de metas e investimentos <strong>para</strong> o período, com base na previsão da receita.<br />

O maior ou o menor sucesso na arrecadação das receitas dependerá da forma<br />

pela qual a entidade pública estiver organizada, ou seja, “quanto mais eficiente a<br />

organização administrativa, maior será a eficácia na arrecadação e no recolhimento<br />

das receitas que lhes incumbe arrecadar.” (Kohama, 1995, p. 85)<br />

A Receita pública divide-se em dois grupos:<br />

A Receita Orçamentária que são todos os tributos, as rendas, as transferências,<br />

as alienações, os retornos de empréstimos e as operações de crédito que


Pensando Campo Bom<br />

forem superiores a 12 meses, necessariamente devem estar previstas no orçamento,<br />

obedecendo à discriminação da Lei 4.320/64<br />

Art. 11. A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas<br />

Correntes e Receitas de Capital.<br />

§ 1º São Receitas Correntes, as receitas tributárias, patrimonial, industrial e<br />

diversas e ainda as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas<br />

de direito público ou privado, quando destinados a atender despesas classificáveis<br />

em Despesas Correntes.<br />

§ 2º São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros<br />

oriundos de constituição de dívidas; da conversão em espécie, de bens e<br />

direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado<br />

destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o<br />

superávit do Orçamento Corrente.<br />

A classificação por fontes permite ao leitor uma abertura bastante clara das<br />

receitas, podendo ser feita uma rápida interpretação de cada uma dessas fontes.<br />

As principais são as seguintes:<br />

Receitas Correntes:<br />

Receita Tributária;<br />

Receita de Contribuições;<br />

Receita Patrimonial;<br />

Receita Agropecuária;<br />

Receita Industrial;<br />

Receita de Serviços;<br />

Transferências Correntes;<br />

Outras Receitas Correntes.<br />

Receitas de Capital:<br />

Operações de Crédito;<br />

Alienação de Bens;<br />

Amortização de Empréstimos;<br />

95


96<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Transferências de Capital;<br />

Outras Receitas de Capital.<br />

Uma interpretação de cada uma dessas fontes auxilia a compreensão da Lei<br />

4.320/64, conforme segue:<br />

Receita Tributária: envolve apenas os tributos, tais como impostos, taxas e<br />

contribuições de melhoria. Este tipo de receita é privativa das entidades investidas<br />

com o poder de tributar, como os municípios, os estados, a Federação e o Distrito<br />

Federal. Torna-se importante mencionar que o Imposto de Transmissão de Bens<br />

InterVivos (ITBI) não se classifica como receita corrente, da mesma forma que a<br />

Contribuição de Melhoria, incidente sobre a receita imobiliária gerada por obras<br />

públicas, pois ambas caracterizam-se como Receitas de Capital sobre os Bens<br />

Imobiliários.<br />

a) Receita de Contribuições: engloba as receitas de cunho social como<br />

contribuições previdenciárias, salário-educação, entre outras, e sobre as do tipo<br />

econômica, como as tarifas de telecomunicações, cotas de contribuições sobre<br />

exportações, etc. No plano econômico, estas contribuições confundem-se com<br />

as receitas de tributos.<br />

b) Receita Patrimonial: advém da exploração econômica do patrimônio da<br />

instituição, como juros, aluguéis, dividendos e outros.<br />

c) Receita Agropecuária: oriunda da exploração econômica de atividades<br />

agropecuárias, tais como agricultura, pecuária, silvicultura, beneficiamento de<br />

produtos agropecuários em níveis não industriais.<br />

d) Receita Industrial: decorre da exploração industrial, podendo ser extrativa,<br />

mineral, de transformação, de construção e serviços industriais de utilidade<br />

pública, como energia elétrica, água e esgoto, limpeza pública e remoção do lixo.<br />

e) Receita de Serviços: oriunda de atividades como comércio, transporte,<br />

comunicação, serviços hospitalares, armazenagem, serviços educacionais,<br />

culturais e recreativos.<br />

f) Transferências Correntes: são recursos financeiros recebidos de pessoas<br />

físicas ou jurídicas e que serão aplicados no atendimento de Despesas Correntes.<br />

O repasse do ICMS pelo Governo do Estado aos Municípios.<br />

g) Outras Receitas Correntes: são todas outras receitas não elencadas nos<br />

itens acima, tais como multas, juros de mora, indenizações, cobranças da dívida


Pensando Campo Bom<br />

ativa e receitas diversas como loterias e receitas de cemitério.<br />

h) Operações de Crédito: diz respeito à captação de recursos <strong>para</strong> atender<br />

aos desequilíbrios orçamentários ou financiar empreendimentos públicos.<br />

i) Alienação de Bens: é o resultado obtido com a venda de bens patrimoniais<br />

como ações, títulos, bens móveis e imóveis.<br />

j) Amortização de Empréstimos: acontece nos casos em que a entidade<br />

pública concedeu empréstimos, caracterizando-se este como o ingresso proveniente<br />

das amortizações.<br />

k) Transferências de Capital: similares às Transferências Correntes, estas têm<br />

como critério básico de classificação a destinação, isto é, devem ser aplicadas em<br />

Despesas de Capital.<br />

l) Outras Receitas de Capital: são as receitas de capital não aplicáveis em<br />

outras fontes, como por exemplo as indenizações que a Petrobras paga aos Estados<br />

e Municípios pela extração de petróleo, xisto e gás.<br />

Receitas Extra-Orçamentárias: como o próprio nome diz, não fazem<br />

parte do processo de previsão, elaboração e execução orçamentária e, portanto,<br />

não integram o orçamento público.<br />

Kohama as definem da seguinte forma:<br />

[...] compreende os recolhimentos feitos e que constituirão compromissos<br />

exigíveis, cujo pagamento independe de autorização orçamentária<br />

e, portanto, independe de autorização legislativa. (1995, p. 91)<br />

São exemplos de receitas extra-orçamentárias: cauções, fianças, depósitos<br />

<strong>para</strong> garantia de instância, consignações em folha de pagamento a favor de terceiros,<br />

retenções na fonte, operações de crédito a curto prazo e outras assemelhadas.<br />

Carateriza-se por Despesa Pública o gasto fixado em lei orçamentária ou<br />

em leis específicas, cujos valores destinam-se à execução dos serviços públicos,<br />

ao incremento do patrimônio, à satisfação dos compromissos da dívida e ainda à<br />

restituição ou pagamento de importâncias recebidas a título de cauções, depósitos,<br />

consignações.<br />

Muitas entidades públicas têm se mostrado bastante ineficientes na administração<br />

dos seus gastos, uma vez que acabam por priorizar a satisfação de algumas<br />

vantagens políticas e não o benefício econômico e social ao qual deveriam estar<br />

ligadas.<br />

97


98<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Riani, em sua obra Economia do Setor Público, faz um comentário sobre os<br />

gastos públicos:<br />

[...] é praticamente impossível explicar o comportamento dos gastos<br />

públicos através de um só fato. Isto porque, na realidade, existe<br />

uma série de fatores que afetam direta ou indiretamente o nível<br />

dos gastos públicos, bem como as oscilações nelas ocorridas. [...]<br />

esclarecer parte das razões do crescimento dos gastos públicos. [...]<br />

reconhecer que o fenômeno das despesas públicas é uma conjugação<br />

dos aspectos político, econômico e social. [...] fatores como renda<br />

nacional, a capacidade de Governo em obter receitas, problemas<br />

sociais, mudanças políticas, desenvolvimento tecnológico, gastos<br />

públicos em períodos anteriores etc. afetam direta e indiretamente o<br />

comportamento e o nível dos gastos governamentais em qualquer<br />

país do mundo. (1986, p.75)<br />

De acordo com a explanação do autor sobre o comportamento dos gastos<br />

públicos, é denotadamente fácil perceber que existem muitos aspectos que interferem<br />

nestes gastos, como mudanças populacionais, tecnológicas e administrativas,<br />

bem como uma demanda maior por bem-estar social, como educação, saúde,<br />

segurança e outros.<br />

Conforme Angélico,<br />

Constitui despesa pública todo pagamento efetuado a qualquer<br />

título pelos agentes pagadores. Saídas, desembolsos, dispêndios ou<br />

despesa pública são expressões sinônimas. Classifica-se a despesa<br />

pública inicialmente em dois grupos: despesa orçamentária e despesa<br />

extra-orçamentária. (1992, p. 68)<br />

Despesa Orçamentária: são as realizações que estão vinculadas a um processo<br />

de fixação e autorização legislativa, não podendo, portanto, ser realizadas<br />

sem crédito orçamentário correspondente.<br />

A despesa orçamentária classifica-se em duas categorias econômicas, Despesas<br />

Correntes e Despesas de Capital, que a Lei 4.320/64, no artigo 12, classifica<br />

e codifica em despesas públicas.<br />

Despesas Correntes:<br />

Despesas de Custeio;<br />

Transferências Correntes;


Pensando Campo Bom<br />

Despesas de Capital;<br />

Investimentos;<br />

Inversões Financeiras;<br />

Transferências de Capital.<br />

As Despesas Correntes são todos os gastos efetuados pela administração<br />

pública, no que diz respeito à natureza operacional, ou seja, <strong>para</strong> a manutenção e<br />

o funcionamento dos seus órgãos. Dividem-se em:<br />

a) Despesas de Custeio: “Classificam-se como despesas de custeio as dotações<br />

<strong>para</strong> a manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a<br />

atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis” (Lei 4.320/64 art.<br />

12, § 1º).<br />

b) Transferências Correntes: são aquelas em que são transferidos recursos em<br />

nível intergovernamental, especialmente da União <strong>para</strong> os Estados e Municípios<br />

e dos Estados <strong>para</strong> os Municípios. Quando se tratar de Transferência Corrente, a<br />

aplicação do recursos deverá ser uma Despesa Corrente.<br />

Classificam-se como Transferências Correntes as dotações <strong>para</strong> despesas às<br />

quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive <strong>para</strong><br />

contribuições e subvenções destinadas a atender manutenção de outras entidades<br />

de direito público ou privado. (Lei 4.320/64 Art, 12, § 2º)<br />

As Despesas de Capital são os gastos realizados pelas entidades públicas, cujo<br />

propósito é criar novos bens de capital, ou adquirir bens de capital já em uso, e<br />

também constituir incorporações ao patrimônio público.<br />

As Despesas de Capital dividem-se em:<br />

a) Investimentos: será representada pela formação do capital fixo, ou seja, o<br />

investimento necessário <strong>para</strong> o crescimento da Renda ou do Produto Nacional.<br />

§ 4º - Classificam-se como Investimentos as dotações <strong>para</strong> o planejamento<br />

e a execução de obras, inclusive as destinadas à <strong>aqui</strong>sição de imóveis considerados<br />

necessários à realização destas últimas, bem como os programas especiais de trabalho,<br />

<strong>aqui</strong>sição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou<br />

aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.<br />

(Lei 4.320/64, art. 12, § 4º)<br />

b) Inversões Financeiras: não apresentam efeito multiplicador dos inves-<br />

99


100<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

timentos da Renda Nacional e do Produto Nacional, mas também, como os<br />

investimentos, representarão mudanças no patrimônio da entidade pública.<br />

§ 5º - Classificam-se como Inversões Financeiras as dotações destinadas à:<br />

I – <strong>aqui</strong>sição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização;<br />

II – <strong>aqui</strong>sição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades<br />

de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importar aumento<br />

do capital; e<br />

III – constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem<br />

aos objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou seguros.<br />

(Lei 4.320/64. Art. 12 § 5º)<br />

c) Transferências de Capital: serão caracterizadas como transferências de<br />

capital se for destinada à aplicação do recursos <strong>para</strong> uma despesa de capital.<br />

§ 6º - São Transferências de Capital as dotações <strong>para</strong> investimentos ou inversões<br />

financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar,<br />

independentemente da contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo<br />

essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei<br />

de Orçamento ou de lei especial anterior, bem como as dotações <strong>para</strong> amortização<br />

da dívida pública. (Lei 4.320/65. Art. 12 , § 6º)<br />

Despesas Extra-Orçamentárias: como o próprio nome diz, independe de<br />

fixação e autorização legislativa, pois se constituem em compensações entre as<br />

Receitas Extra-Orçamentárias, tais como restituições ou entrega de valores recebidos,<br />

como cauções, fianças, depósitos <strong>para</strong> garantias de instância, consignações<br />

em folha de pagamento a favor de terceiros, retenções na fonte, operações a curto<br />

prazo e outros assemelhados.<br />

Conforme Angélico:<br />

Constituem Despesas Extra-Orçamentárias os pagamentos que<br />

não dependem de autorização legislativa; aqueles que não estão<br />

vinculados ao orçamento público, que não integram o orçamento.<br />

Correspondem à restituição ou à entrega de valores arrecadados sob<br />

o título de Receita Extra-Orçamentária. (1992, p.70)<br />

Desta forma, explicitou-se detalhada e minuciosamente o conteúdo e as


Pensando Campo Bom<br />

práticas orçamentárias, narrou-se procedimentos de controle que trazem benefícios<br />

à comunidade, assinalando a crescente importância que estes conceitos têm<br />

na vida dos munícipes.<br />

Aos governantes, é fundamental ter em mente os seguintes desafios: como<br />

aumentar as receitas sem onerar a comunidade; como diminuir custos e despesas<br />

sem a redução dos serviços públicos e, por último, como financiar déficits e melhorar<br />

a distribuição dos superávits. Está lançado o desafio.<br />

6.2 Finanças públicas - execução orçamentária do município de<br />

Campo Bom<br />

A pesquisa no município de Campo Bom revelou uma crescente evolução das<br />

receitas durante os anos de 1996 a 2002, acompanhado pelo aumento das despesas,<br />

no mesmo período, como pode ser observado na Tabela 01 e Gráfico 01.<br />

Gráfico 01: Despesas e Receitas do Município – 1996 a 2002<br />

Tabela 01 Despesas e Receitas do Município – 1996 a 2002<br />

Fonte: Secretaria de Finanças – Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

101


102<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Foi no ano de 2001 que o município conseguiu uma alavancagem financeira<br />

significativa, aumentando sua receita orçamentária em, aproximadamente, 12%<br />

em relação ao ano anterior, passando de 46,9 milhões de reais <strong>para</strong> 52,4 milhões<br />

de reais, conforme Tabela 1.<br />

Estes aumentos estavam intimamente relacionados com o aumento do número<br />

de estabelecimentos comerciais, industriais, de serviços e construção civil. Foi a<br />

partir ano de 1998 5 que o município teve um incremento significativo no número<br />

destes estabelecimentos, contribuindo de forma positiva <strong>para</strong> o aumento da receita.<br />

As principais fontes de receitas foram as Transferências Intergovernamentais,<br />

que são compostas pelo Fundo de Participação do Municípios – FPM, pelo<br />

Imposto sobre Circulação de Mercadorias – ICMS, o Imposto de Produtos Industrializados<br />

Exportação – IPI Exportação e outras receitas oriundas de auxílios<br />

e contratos eventuais e outras transferências, e se destina, conforme lei que rege 6 ,<br />

atender às despesas de manutenção e funcionamento da entidade pública.<br />

Tabela 02 Receitas Totais e Transferências Intergovernamentais<br />

Fonte: Secretaria de Finanças – Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

As Receitas das Transferências Intergovernamentais alcançam, em média,<br />

70% do total das receitas de cada ano analisado, como pode ser observado na<br />

Tabela 02. Isto significa dizer que a maioria dos recursos destinados à manutenção<br />

e ao funcionamento dos serviços públicos, em geral, é oriunda dos<br />

repasses do governo Federal e Estadual ao município. Esta receita evoluiu,<br />

ao longo dos anos, apresentando pequenas quedas, como pode ser observado<br />

na Tabela 03 e Gráfico 02.<br />

ínfima receita própria.<br />

5 Conforme informação do Boletim do Programa de Desenvolvimento Regional - PED<br />

6 Lei 4.320/64 – Estatui normas de direito financeiro <strong>para</strong> a elaboração e controle dos orçamentos


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 03 Receitas Transferências Correntes - Intergovernamentais<br />

1996 a 2002<br />

Fonte: Secretaria de Finanças – Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

Gráfico 02: Receitas Transferências Correntes - Intergovernamentais – 1996<br />

a 2002<br />

Observa-se uma sensível queda nas Receitas de Transferências Correntes nos<br />

anos de 1997, 1999 e 2002. Esta queda está diretamente relacionada à redução<br />

do valor do ICMS período, valor este que gira em torno de dois milhões de reais<br />

nos dois primeiros anos, e em torno de quatro milhões de reais no último ano.<br />

Com a diminuição das receitas, aumenta a possibilidade de haver endividamento,<br />

uma vez que o município, quando da elaboração da peça orçamentária,<br />

estima a sua despesa nos limites da receita, sendo seu endividamento determinante,<br />

uma vez que houve um desembolso maior de recursos em relação à receita<br />

orçamentária, como pode ser observado no Gráfico 02, acima, principalmente<br />

103


104<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

nos anos de 1997 e 2000. Este endividamento foi bastante amenizado no ano de<br />

2001, em virtude da diminuição das despesas.Jucelaine Bitarello 1<br />

Observa-se, no ano de 1998, conforme Gráfico 02 e Tabela 03, que houve<br />

um incremento na rubrica de Receitas Transferências Correntes- Intergovernamentais,<br />

da ordem de R$ 10 milhões de reais, com<strong>para</strong>do com o ano anterior.<br />

No ano subseqüente, percebe-se uma pequena queda nesta rubrica orçamentária.<br />

Posteriormente, esta receita se elevou até chegar ao patamar de 35 milhões de<br />

reais, no ano de 2001, e uma nova queda em 2002, na ordem de 6 milhões de reais.<br />

Estas constantes alterações no nível da Receita de Transferências Correntes<br />

faz com que o município não consiga manter um planejamento orçamentário<br />

equilibrado, tendo que muitas vezes se socorrer de empréstimos junto aos bancos<br />

de fomento, desta forma aumentando o endividamento.<br />

Em relação às despesas públicas, foi no ano de 2000 que o município teve o<br />

maior volume de valores desembolsados em com<strong>para</strong>ção à receita arrecadada. Em<br />

relação a estes desembolsos, pode-se verificar que foram as Despesas de Capital<br />

as principais causadoras desta diferença ocorrida principalmente no ano de 2000,<br />

como pode ser observado na Tabela 01. Provavelmente, este fato deve-se ao grande<br />

volume de recursos investidos em obras, <strong>aqui</strong>sição de equipamentos, móveis e<br />

utensílios entre outros bens de capital que permanecem de forma continuada no<br />

poder público, como pode ser observado no Gráfico 03.<br />

Gráfico 03: Despesas Correntes e de Capital do Município – 1996 a 2002<br />

Este aumento significativo das Despesas de Capital desacelerou-se nos anos<br />

de 2001 e de 2002, mantendo-se nos mesmos níveis de anos anteriores, aproximadamente<br />

R$ 9 milhões, como pode ser observado na Tabela 01.


Pensando Campo Bom<br />

Ao observar o comportamento das despesas públicas ao longo do período<br />

analisado, percebe-se que o município vem destinando à Educação valores superiores<br />

a 30% do total das despesas. Desta forma, percebe-se o principal foco de<br />

despesa pública <strong>para</strong> este município, como pode ser observado abaixo, no Gráfico<br />

04, e no quadro de despesas, no Anexo 02.<br />

Gráfico 04: Gastos por Funções 7 do município 1996 a 2002<br />

Conforme as informações constantes no Boletim do Programa de Desenvolvimento<br />

Regional PED, Campo Bom possui taxas de analfabetismo 8 menores<br />

que a média do Vale do Rio dos Sinos, ficando em 1,2 na faixa etária entre 15 a<br />

19 anos, 1,6 na faixa de 20 a 24 anos e 4,4 de 15 anos ou mais. O Vale apresenta<br />

as seguintes taxas, respectivamente: 1,1, 1,5 e 4,8.<br />

Existe, no município, duas escolas particulares de Ensino Fundamental e<br />

Médio, 25 escolas da rede pública estadual e municipal de Ensino Fundamental<br />

e duas escolas de Ensino Médio, conforme Tabela 4. No ano de 2000, estavam<br />

matriculados, na rede pública no Ensino Fundamental, 9.543 alunos e no Ensino<br />

Médio, 1.656 alunos, conforme Tabelas 05 e 06. Conforme dados estatísticos,<br />

concluem as etapas somente 737 e 334 alunos, respectivamente.<br />

e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.<br />

7 Conforme a Portaria 42 de 14/04/1999, entende-se por função o maior nível de agregação das<br />

diversas áreas de despesa que competem ao setor público, sendo facultado ao município estabelecer<br />

105


106<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 04 Escolas de Ensino Fundamental e Médio<br />

Fonte: MEC/INEP/SEEC<br />

Em uma análise detalhada, percebe-se que a média de alunos matriculados na<br />

rede pública, por escola, gira em torno de 382 9 alunos no Ensino Fundamental e<br />

a proporção de concluintes, nesta mesma modalidade, é de 7,72% das matrículas.<br />

Na rede particular, esta média é a seguinte: 320 10 alunos matriculados por escola e<br />

13,15% das matrículas preenchidas por alunos concluintes, conforme Tabela 05.<br />

Tabela 05 Alunos matriculados Ensino Fundamental x concluintes<br />

Fonte: Fonte: MEC/INEP/SEEC<br />

No Ensino Médio público, referente aos dados do ano de 2000, a relação é de<br />

828 11 alunos matriculados na rede pública, por escola, sendo que no ano de 1999,<br />

a relação percentual entre matriculados e concluintes era de 17,20%, passando<br />

no ano de 2000 <strong>para</strong> 20,17% de alunos concluintes do Ensino Médio. Na rede<br />

privada 12 , a relação é de 113 alunos matriculados por escola, e os percentuais de<br />

alnos concluintes ficam em 25,14% em 1999 e 26,87% em 2000. Estas informações<br />

estão presentes na Tabela 06 abaixo.<br />

suas estruturas, respeitando os conceitos e determinações da portaria.<br />

8 Conforme informação do Boletim do Programa de Desenvolvimento Regional – PED Dados


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 06 Alunos matriculados Ensino Médio x concluintes<br />

Fonte: Fonte: MEC/INEP/SEEC<br />

Percebe-se, também, que houve uma pequena queda no número de matrículas<br />

no Ensino Médio na rede pública, quando com<strong>para</strong>do ao ano de 1999 e<br />

2000, na ordem de 8%, refletido obviamente no número de concluintes. O mesmo<br />

não acontece nas escolas particulares, que aumentaram o número de matrículas no<br />

mesmo período, em aproximadamente 27%.<br />

Nota-se, ainda, que a Secretaria da Educação tem recebido verbas <strong>para</strong> a<br />

construção de duas escolas infantis, <strong>aqui</strong>sição de veículos <strong>para</strong> transporte escolar,<br />

<strong>aqui</strong>sição de computadores <strong>para</strong> Secretaria Municipal de Educação e Cultura-SMEC<br />

e escolas da rede, bem como investimentos <strong>para</strong> informatização das secretarias de<br />

escolas, a fim de reestruturar o sistema de matrículas.<br />

O município oferece aos seus professores um plano de carreira, incentivo<br />

à escolaridade superior, através de bolsas de estudos <strong>para</strong> que sejam atendidas as<br />

exigências da Lei de Diretrizes e Bases. Também oferece, aos alunos do Ensino<br />

Fundamental, transporte, merenda escolar e escola de arte. Trabalha com a política<br />

de alfabetização de jovens e adultos (EJA-CEJA) e com cursos de capacitação de<br />

docentes.<br />

Em relação aos gastos com cultura, esporte e lazer, o município de Campo<br />

Bom conta com 19 quadras poliesportivas, três ginásios de esportes, dois campos<br />

de bocha, uma pista de bicicross e uma pista de skate, dois parques e uma praça,<br />

distribuídos nos bairros e no centro da cidade.<br />

No que diz respeito aos gastos com a saúde pública, a prefeitura tem investido<br />

aproximadamente 13% do total das despesas, como pode ser observado no<br />

Gráfico seis. Apenas no último ano13 , este percentual subiu dois pontos percentuais,<br />

chegando à marca dos 15%, cumprindo o que foi estabelecido através da<br />

de 2000.<br />

9 Observar o cálculo 9543/25 escolas públicas, totalizando 382 alunos por escola<br />

10 Idem ao cálculo anterior<br />

107


108<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Emenda Constitucional 29.<br />

O município conta com apenas um hospital que possuía, até o ano de 1999,<br />

84 leitos, caindo <strong>para</strong> 60 leitos a partir do ano de 2000. Computa 11 postos de<br />

saúde, distribuídos entre os bairros do município.<br />

O coeficiente de mortalidade infantil do município de Campo Bom tem<br />

sofrido constantes alterações. Percebe-se uma elevação acentuada no coeficiente<br />

no ano de 2000, seguido de uma baixa significativa no ano de 2001, como pode<br />

ser observado na Tabela 07 e Gráfico 05.<br />

Tabela 07 Coeficiente de mortalidade infantil<br />

Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001<br />

Índice 11,3 7,99 10,32 16,67 22,75 8,83<br />

Fonte: SMS e SES (Abril 2000)<br />

Nota: (*) Coeficiente de mortalidade infantil por 1000 nascidos vivos<br />

Gráfico 05: Coeficiente de mortalidade infantil<br />

É importante observar que o município tem aumentado sua população,<br />

chegando ao ano 2000 com mais de 54 mil habitantes. Com<strong>para</strong>ndo os dados<br />

da saúde com o número de habitantes, pode-se afirmar que o município investe, em<br />

saúde, R$ 124, 26 por habitante 14 /ano, pouco mais que R$ 10,00 por habitante/mês.<br />

Em relação aos gastos com Assistência Social, a prefeitura tem trabalhado<br />

em projetos de inclusão social, tais como: Projeto de apoio sóciofamiliar, projeto<br />

valorizando potenciais das pessoas portadoras de deficiência, projeto convivência<br />

das pessoas portadoras de deficiência, centros de atenção integral da criança e do<br />

adolescente, casa do pequeno aprendiz, plantão social que atende às emergências,<br />

11 Observar o cálculo de 1656 alunos matriculados em duas escolas, totalizando 828 alunos por escola<br />

12 Idem ao cálculo anterior


Pensando Campo Bom<br />

fornecendo passagens, alimentos e documentos, projeto conscientização do catador<br />

de rua, projeto grupo de convivência do idoso, projeto população adulta da rua.<br />

Para a realização destes projetos, ela tem gasto em torno de 12% do orçamento,<br />

chegando – no ano de 2002 – a 15% 15 do total das despesas. Dessa forma,<br />

os projetos sociais assumem o 5º lugar no grau de prioridades do município, como<br />

pode ser observado no Gráfico 04.<br />

Para a segurança pública, percebe-se que o municícpio de Campo Bom se<br />

preocupa apenas com a segurança no trânsito, pois os gastos referentes a esta função<br />

dizem respeito, quase que na sua totalidade, ao pagamento do funcionalismo<br />

dos guardas de trânsito, os “azuizinhos”, deixando os demais itens da segurança<br />

pública, como roubos, furtos, drogas, delinqüência, entre outros crimes, sob a<br />

incumbência da segurança pública do Estado.<br />

Afirma-se isto porque, além de ser a função que menos representatividade<br />

tem em relação aos gastos públicos, chegando a ordem de apenas 0,07% do total<br />

dos gastos públicos no ano de 2000, como pode ser observado no Gráfico 04<br />

e Anexo B, o município possui apenas 59 policiais da Brigada Militar e oito da<br />

Polícia Civil, conforme Tabela 8, <strong>para</strong> uma população de aproximadamente 54<br />

mil habitantes 16 . Isto representa 1 policial da Brigada <strong>para</strong> cada 915 habitantes, e<br />

a relação de 6.750 habitantes por policial civil.<br />

Como pode ser observado na Tabela 08, apesar deste número ter evoluído<br />

<strong>para</strong> 62 policiais, a relação populacional também evoluiu no período analisado.<br />

Tabela 08 Brigada Militar e Polícia Civil<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Bom<br />

13 Observar os gastos por função nos balanços orçamentários que se encontram no final deste<br />

artigo, anexo B.<br />

14 O cálculo foi feito com base nos valores da execução orçamentária da despesa do ano de 2000<br />

em relação ao número de habitantes daquele ano, ou seja, R$ 6.712.348,14 / 54.018 habitantes.<br />

109


110<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Ainda no que diz respeito à segurança pública do município, percebe-se um<br />

aumento de crianças e adolescentes em situação de risco, conforme as informações<br />

prestadas pelo Conselho Tutelar do município de Campo Bom, como pode ser<br />

observado na Tabela 09.<br />

Tabela 09 Crianças e adolescentes em situação de risco<br />

Fonte: Conselho Tutelar de Campo Bom<br />

Em relação aos registros policiais de homicídios, furtos e roubos, vêm aumentando<br />

o número de ocorrências, não sendo diferente da situação no Estado e<br />

na Federação, como podem ser observados, na Tabela 10 abaixo. Os indicadores<br />

foram fornecidos pelo Departamento de Polícia de Campo Bom.<br />

Tabela 10 Registros Policiais<br />

Fonte: Departamento de Polícia de Campo Bom<br />

6.3 Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Comunicações,<br />

Transportes e Habitação<br />

Neste subcapítulo foram analisados os seguintes tópicos: saneamento, comunicação,<br />

transporte e habitação. Estes itens aumentaram proporcionalmente ao crescimento<br />

da população do município, bem como a evolução de sua renda per capta.<br />

Pode ser observado, na Tabela 11 abaixo, o número de habitantes no município<br />

de Campo Bom, bem como a evolução/involução, em percentual, nos<br />

anos analisados. Na Tabela 12, verifica-se a evolução/involução per capta do PIB<br />

em US$. Estas informações são necessárias <strong>para</strong> que se possa <strong>fazer</strong>, a seguir, as<br />

devidas relações.


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 11 Demografia – 1996 a 2000<br />

Fonte: IBGE (Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística) (Abril de 2003)<br />

Tabela 12 PIB per capita em US$ - 1996 a 2000<br />

Fonte: IBGE (Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística) (Abril de 2003)<br />

Observa-se que a proporcionalidade população x lixo coletado (Tabelas<br />

11 e 13) não é direta, pois na medida em que aumenta o número de habitantes,<br />

o volume de lixo coletado permanece inalterado nos anos de 1996 a 1999. Outro<br />

relacionamento diz respeito ao PIB, que apesar de ter havido aumento no período<br />

analisado, não provocou aumento do lixo coletado no período de 1996 a 1999.<br />

Na Tabela 13, percebe-se uma elevação na população no ano de 2000, bem<br />

como o aumento de lixo coletado por dia. Este é ainda maior no ano de 2001.<br />

Tabela 13 Lixo coletado<br />

Fonte: Secretaria de Obras da Prefeitura de Campo Bom<br />

No que diz respeito às comunicações, por falta de informações de anos anteriores,<br />

este estudo pôde relacionar apenas a utilização de telefones residenciais<br />

e comerciais <strong>para</strong> o ano de 2002, como pode ser observado na Tabela 1. Estas<br />

informações foram fornecidas pelos prestadores de serviço em telefonia do<br />

município de Campo Bom, CRT – Brasil Telecom e a Assessoria de Imprensa<br />

da GVT.<br />

111


112<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 14 Telefones instalados no município<br />

Fonte: CRT – Brasil Telecom e Assessoria de Imprensa da GVT. (Junho de 2003)<br />

Para o item transporte, foram coletadas as informações junto ao DETRAN–<br />

RS. Estes dados podem ser observados na Tabela 15, cujas referências permitem<br />

inferir que houve uma significativa evolução na quantidade de veículos que circulam<br />

nas vias públicas do município. Aqui, cabe uma série de relacionamentos que<br />

serão representados a seguir.<br />

Tabela 15 Tipos de Veículo – 1998 a 2002<br />

Detran-RS (dados até set/2002)<br />

Notas: (*) Motocicleta, ciclomotor, triciclo, etc.<br />

(**) Caminhão e caminhão-trator (***) Reboque e sem-reboque<br />

A primeira analogia que pode ser feita diz respeito ao número de automóveis,<br />

motocicletas e camionetas em relação à população e à renda per capta. Observa-se<br />

que há uma evolução no número de veículos de passeio nos anos analisados. No<br />

ano de 1998, existiam 3,84 17 pessoas por veículo; já no ano 2000, este nº passou<br />

<strong>para</strong> 3,54 veículos/pessoa, que acompanhada à evolução do PIB per capta, caso<br />

fosse feita a relação veículos x população, teríamos a seguinte situação, como pode<br />

15 Observar os gastos por função no balanço orçamentário que se encontra ao final desse artigo,<br />

anexo C.


Pensando Campo Bom<br />

ser observada na Tabela 16.<br />

Tabela 16 Veículos x população x renda per capita<br />

Fonte: Tabelas 22, 23 e 26<br />

Outra analogia diz respeito ao número de ônibus e microônibus na cidade,<br />

relacionado com a população, conforme Tabela 17 abaixo.<br />

Tabela 17 Transporte de pessoas x população<br />

Fonte: Tabelas 11, 12 e 15<br />

Percebe-se que a proporcionalidade entre a população e o total de veículos<br />

que transportam pessoas vem caindo nos anos analisados. Tais dados vêm de encontro<br />

às informações da Tabela 16, que indicam um aumento do PIB e aumento<br />

de veículos de passeio na cidade. Isto demonstra que a população tem utilizado<br />

mais veículos próprios, caindo – desta forma – a utilização dos transportes urbanos,<br />

como ônibus e microônibus, como pode ser observado na Tabela 17. Os<br />

dados permitem inferir que no ano de 1998 havia 333,47 pessoas por veículos,<br />

<strong>para</strong> 319,63 no ano de 2000.<br />

O último item a ser analisado diz respeito à habitação. Percebe-se que o<br />

número de moradores por domicílio sofreu alterações significativas de 1991 <strong>para</strong><br />

2000; as residências com até cinco moradores cresceram em número de ocorrências,<br />

e residências com mais de seis moradores caíram, como pode ser observado<br />

na Tabela 18.<br />

Observa-se ainda que, tanto no ano de 1991 como no ano de 2000, a maioria<br />

das famílias eram compostas pelos pais e por um filho, totalizando três moradores<br />

na residência. Este evento repetiu-se em um número maior de vezes nos anos<br />

analisados.<br />

113


114<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 18 Número de moradores por domicílio<br />

Fonte: IBGE (Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística)<br />

Seguem abaixo as Tabelas 19 e 20, que dizem respeito ao número de domicílios,<br />

número de consumidores e o consumo de energia elétrica na cidade de<br />

Campo Bom.<br />

Tabela 19 Domicílios<br />

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (Maio de 2003)<br />

Tabela 20 Energia Elétrica –Consumo<br />

Fonte: Companhia Estadual de Energia Elétrica (Maio de 2003)<br />

AES-Sul - Distribuidora Gaúcha de Energia.<br />

Nota: Para o ano de 1996, os dados referem-se à distribuição de energia elétrica pela Companhia<br />

Estadual de Energia Elétrica.


6.4 Considerações Finais<br />

Pensando Campo Bom<br />

Os dados analisados no município de Campo Bom, apresentados neste<br />

artigo, necessitariam ser com<strong>para</strong>dos a dados de outros municípios da região do<br />

Vale dos Sinos, <strong>para</strong> que se pudesse ter uma maior visualização da realidade dos<br />

municípios do Vale. Porém, pode-se afirmar, impreterivelmente, que as finanças<br />

públicas deste município vêm sofrendo alterações significativas, tanto na receita<br />

como na despesa.<br />

Observa-se que o município de Campo Bom tem apresentado uma evolução<br />

gradativa das receitas, com pequenas variações ao longo dos anos analisados; porém,<br />

observa-se que após a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal, LC 101, no<br />

ano de 2000, o município tem trabalhando na evolução das receitas, acompanhada<br />

da redução das despesas, no intuito de reduzir o déficit orçamentário.<br />

Torna-se importante salientar aos gestores municipais a grande necessidade<br />

do controle da receita e das despesas públicas. No que diz respeito à receita, o<br />

potencial de arrecadação do município deve ser explorado com eficiência, podendo<br />

ser analisadas as situações dos munícipes no que diz respeito à inadimplência, à<br />

atualização do valor venal <strong>para</strong> o Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, à<br />

identificação do proprietário do imóvel, bem como ao mapeamento dos mesmos<br />

no município, no intuito de cobrar o devido valor do imóvel, bem como os atrasos<br />

correspondentes a esta rubrica orçamentária.<br />

Em relação ao Imposto sobre Serviços – ISS, a ação dos gestores deve seguir<br />

a mesma linha; o setor de fiscalização tributária, no município, deve ser atuante e<br />

efetivamente fiscalizar todos os estabelecimentos da área limítrofe do município. É<br />

importante lembrar que cobrar impostos é encarado como uma obrigação do Poder<br />

Executivo, nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal, e da Lei 10.028/2000,<br />

Lei de Crimes Fiscais.<br />

Nas despesas, percebe-se que o volume de Despesas de Capital vem crescendo<br />

ao longo do período analisado, conseqüentemente diminuindo as Despesas<br />

Correntes, chegando ao patamar de aproximadamente 24% do total das despesas<br />

no ano de 2002. Isto faz com que haja uma diminuição dos valores gastos com<br />

manutenção da máquina administrativa; em contrapartida, um incremento de<br />

valores de forma permanente no município.<br />

Este fato é bastante positivo, uma vez que os gestores do município de<br />

Campo Bom têm mostrado preocupação, em primeiro lugar, com a redução de<br />

despesas de manutenção, procurando investir em ações que futuramente tragam<br />

115


116<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

retorno ao município, não somente financeiro, mas também retorno à população,<br />

em benfeitorias na educação, saneamento básico, infra-estrutura e saúde pública,<br />

satisfazendo as necessidades da população, bem como a efetivação da gestão dos<br />

recursos públicos.<br />

E por se falar em educação, percebe-se – através desta análise – que a Secretaria<br />

da Educação tem sido a responsável pela maioria dos gastos da Prefeitura<br />

Municipal. Esta Secretaria aparece como investimento primordial do município, e<br />

é seguida pela Secretaria de Administração e Planejamento e da Saúde.<br />

Porém, apesar da educação receber o maior número de recursos financeiros,<br />

ainda apresenta problemas no que diz respeito ao número de vagas no Ensino<br />

Médio. É necessário trabalhar no planejamento de ações <strong>para</strong> que se viabilizem<br />

oportunidades de estudo à população egressa do Ensino Fundamental, através de<br />

políticas públicas voltadas à formação no Ensino Médio, preferencialmente em<br />

nível técnico, <strong>para</strong> a comunidade de Campo Bom.<br />

Uma crítica que se faz ao município, em relação à saúde pública, diz respeito<br />

aos gastos públicos. É importante lembrar da necessidade de haver maiores investimentos<br />

em saúde, uma vez que existe um crescente número populacional e<br />

conseqüentemente um maior gasto. Através da municipalização da saúde, o gestor<br />

público torna-se o principal gerenciador, juntamente com o Conselho Municipal<br />

de Saúde, de todos os recursos; torna-se, também, o principal agente investidor,<br />

recebendo os recursos da União e do Estado que, associados aos investimentos<br />

do município, devem cumprir a Emenda Constitucional 29, de 13 de setembro<br />

de 2000, a qual assegura recursos mínimos <strong>para</strong> o financiamento das ações e dos<br />

serviços públicos de saúde.<br />

A Secretaria de Segurança Pública é a que menor representatividade assume<br />

em relação aos gastos do município. Apesar de possuir a municipalização dos<br />

serviços de segurança, com a presença de “azuizinhos” no trânsito, é o aumento<br />

da criminalidade no município que muito chama a atenção.<br />

É também incumbência do Poder Público Municipal zelar pela segurança dos<br />

munícipes, cabendo ao gestor a negociação junto ao Poder Público Estadual, bem<br />

como o planejamento de ações que venham a contribuir <strong>para</strong> a segurança pública,<br />

tais como aumento do número de policiais da Brigada Militar, principalmente na<br />

periferia no município e em zonas consideradas de risco, <strong>para</strong> tentar diminuir o<br />

número de ocorrências policiais registradas no município.<br />

Enfim, com base nos dados refentes à arrecadação municipal e aos gastos


Pensando Campo Bom<br />

públicos do município de Campo Bom, percebe-se que tem havido um equilíbrio<br />

entre receitas e despesas no município. Porém, sabe-se que a eficiência de uma<br />

administração não deve ser medida apenas pela sobra de recursos, mas também<br />

pela mais eficaz aplicação de suas finanças. É preciso considerar que a maioria das<br />

administrações públicas tem, como principal meta, a destinação de recursos <strong>para</strong><br />

educação, saúde e obras públicas, não sendo esta visão diferente no município<br />

de Campo Bom.<br />

Neste caso analisado, a prefeitura desembolsou valores significativos <strong>para</strong><br />

estas Secretarias, cumprindo as determinações constitucionais da receita oriunda<br />

dos impostos. Ela poderá entrar na guerra fiscal, já que possui sobra de recursos<br />

e atendeu o mínimo legal necessário. Porém, cabe lembrar que não é desta forma<br />

que o desenvolvimento do local e da região se consolidará, uma vez que a guerra<br />

fiscal, muitas vezes, se caracteriza como renúncia de receita com base na LRF.<br />

O que se precisa é uma verdadeira atividade governamental, ou seja, necessitase<br />

de um processo mediante o qual há a solução dos problemas e o atendimento<br />

das necessidades da coletividade, utilizando-se dos recursos existentes. É neste<br />

contexto que o governo nasce, <strong>para</strong> a realização destas ações, cada vez fazendo<br />

mais com menos recursos. Esta é a realidade da maioria dos governos municipais,<br />

estaduais e federais.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. Atualizado de acordo com a<br />

Constituição de 1988. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1992.<br />

Boletim do Programa de Desenvolvimento Regional – PED, <strong>Feevale</strong>, 2001.<br />

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.<br />

___. Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. Altera os arts.<br />

34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato<br />

das Disposições Constitucionais Transitórias, <strong>para</strong> assegurar os recursos mínimos<br />

<strong>para</strong> o financiamento das ações e serviços públicos de saúde.<br />

___.Portaria SOF nº 42, de 14 de abril de 1999. Atualiza a discriminação da<br />

despesa por funções de que tratam o inciso I do § 1º do art. 2º e § 2º do art.<br />

8º, ambos da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece os conceitos de<br />

117


118<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

função, subfunção, programa, projeto, atividade, operações.<br />

___. Lei 4.320 de 17 de março de 1964. Institui normas gerais de direito financeiro<br />

<strong>para</strong> elaboração e controle dos orçamentos e balanços da união, dos<br />

estados, dos municípios e do Distrito Federal.<br />

___. Lei de Responsabilidade Fiscal. Lei complementar nº 101 de 04 de maio de<br />

2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas <strong>para</strong> a responsabilidade<br />

na gestão fiscal, e dá outras providências.<br />

( http: // www.federativo.bndes.gov.br/f-lrfiscal.htm em 20/06/2003)<br />

KOHAMA, Heilio. Contabilidade pública: teoria e prática. 4. ed. São Paulo:<br />

Atlas, 1995.<br />

MACHADO JR., J.T., REIS, H. da C. A lei 4.320 comentada, revisada e atualizada.<br />

30. ed. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.<br />

MOOJEN, Guilherme. Orçamento Público: estudo teórico e prático dos<br />

orçamentos estaduais do Brasil e da América do Norte. Rio de Janeiro:<br />

Edições Financeiras SA, 1959.<br />

OSBORNE, David, GAEBLER. Ted. Reinventando o governo: como o<br />

espírito empreendedor está transformando o setor público. 8. ed. Brasília:<br />

MH Comunicação, 1995.<br />

RIANI, Flávio. Economia do setor público: uma abordagem introdutória.<br />

São Paulo: Atlas, 1986..


ANEXOS<br />

Finanças Públicas – Receitas Públicas<br />

Anexo: A


Finanças Públicas – Depesas Públicas<br />

Anexo: B


Despesas – Valor total<br />

Anexo: C


7 comPortAmento eleitorAl e Perfil<br />

Político do municíPio de cAmPo Bom<br />

Fabiano Engelmann 1<br />

O objetivo deste capítulo é expor dados que possam contribuir <strong>para</strong> uma<br />

melhor apreensão do perfil político do município de Campo Bom, com<strong>para</strong>tivamente<br />

à região do Vale do Sinos e ao Estado do Rio Grande do Sul. A com<strong>para</strong>ção<br />

destas estatísticas eleitorais não constitui per si um diagnóstico do perfil político do<br />

município. Representa, antes, um ponto de partida <strong>para</strong> a orientação das estratégias<br />

políticas e eleitorais dos seus atores políticos, assim como <strong>para</strong> a formulação de<br />

hipóteses e problemas de pesquisa mais específicos sobre o padrão de comportamento<br />

eleitoral e o perfil político da população da cidade.<br />

Os dados quantitativos apresentados, referentes aos resultados eleitorais,<br />

à filiação partidária, ao número e perfil dos eleitores da cidade foram selecionados<br />

a partir de indicadores já existentes nas bases de dados do IBGE-Instituto<br />

Brasileiro de Geografia e Estatística, do TRE-Tribunal Regional Eleitoral e do<br />

NUPERGS-Núcleo de Estudos de Política do Rio Grande do Sul, vinculado ao<br />

Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul. Para os períodos anteriores a 1994, foi consultado o trabalho de<br />

NOLL, & TRINDADE (1996).<br />

A com<strong>para</strong>ção com os resultados eleitorais e indicadores referentes aos municípios<br />

do Vale do Sinos e do Estado foi feita a partir da base de dados constituída<br />

no Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Regional do Centro Universitário<br />

<strong>Feevale</strong>, cujos primeiros resultados sobre o perfil político da região do Vale do<br />

Sinos estão publicados no livro “Vale do Sinos em Perspectiva”, editado em 2003.<br />

1 Professor do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>, Doutorando em Ciência Política na UFRGS.


123<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Finalmente, os dados referentes à composição partidária do Executivo e Legislativo<br />

municipal foram fornecidos, respectivamente, pela Prefeitura Municipal e<br />

pela Câmara de Vereadores do Município.<br />

7.1 Distribuição Partidária<br />

Os partidos políticos que possuem eleitores filiados no município de Campo<br />

Bom são os seguintes:<br />

-PMDB –Partido do Movimento Democrático Brasileiro;<br />

-PDS/PPR/PPB/PP- Partido da Democracia Social/Partido Popular Renovador/Partido<br />

Popular Brasileiro/ Partido Popular;<br />

-PDT –Partido Democrático Trabalhista;<br />

-PFL –Partido da Frente Liberal;<br />

-PT –Partido dos Trabalhadores;<br />

-PSDB –Partido da Social Democracia Brasileira;<br />

-PSB –Partido Socialista Brasileiro;<br />

-PC DO B –Partido Comunista do Brasil;<br />

-PCB/PPS –Partido Comunista Brasileiro/ Partido Popular Socialista;<br />

-PTB –Partido Trabalhista Brasileiro;<br />

-PHS –Partido Humanista Social;<br />

-PL –Partido Liberal ;<br />

-PV –Partido Verde.<br />

Para a apreensão de sua representatividade no município, expõem-se a<br />

vinculação partidária dos prefeitos do município entre a década de 80 e a década<br />

de 2000, o número de cadeiras obtidas na Câmara de Vereadores e a relação de<br />

filiados destes partidos no município.


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 01 Executivo –Prefeitos Eleitos<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Bom (Abril de 2003)<br />

Tabela 02 Legislativo – Número de cadeiras por partido na Câmara Municipal<br />

de Campo Bom<br />

Fonte: Câmara Municipal da Prefeitura de Campo Bom<br />

O PMDB e o PPB são os partidos com melhor desempenho nas eleições<br />

municipais, alternando os prefeitos no período analisado (1984-2000). Da mesma<br />

forma, são os dois partidos que mantêm a maior média de cadeiras na Câmara<br />

Municipal ao longo deste período. Este desempenho está de acordo com o número<br />

de filiados em partidos entre os eleitores do município, onde se destacam estes<br />

dois partidos com o maior número de filiados.<br />

Tabela 03 Números de Eleitores por Município<br />

124


125<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Julho de 2002)<br />

Campo Bom tem cerca de 40.415 eleitores, sendo 20.051 do sexo masculino<br />

e 20.364 do sexo feminino. Possui 2,37% de eleitores analfabetos. O percentual<br />

de eleitores analfabetos na região é de 2,67% e no Estado do Rio Grande do Sul<br />

representam 3,96%. Os eleitores menores de 18 anos representam, em Campo<br />

Bom, 3,02% do eleitorado.<br />

Tabela 04 Filiação Partidária no Vale dos Sinos – Por Partidos<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Julho de 2002)<br />

O PPB e o PMDB são os partidos com maior número de filiados no municípío<br />

de Campo Bom, o que está em consonância com o desempenho eleitoral<br />

destes partidos nas eleições municipais e estaduais. Em julho de 2002, Campo<br />

Bom possuía 3.748 eleitores filiados a partidos políticos, cerca de 9,27% do total<br />

de eleitores do município. Junto com Dois Irmãos, (com 7,8% de eleitores filiados)<br />

e Novo Hamburgo (com 6,5%), Campo Bom é a cidade com menor número de<br />

eleitores filiados a partidos políticos no Vale do Sinos.


Pensando Campo Bom<br />

Os três partidos com maior número de eleitores filiados na Região do Vale<br />

do Sinos são PDT, com 25,7% dos eleitores filiados, PMDB com 18,7% e PPB<br />

(agora PP) com 9,7%. Note-se que, no caso de Campo Bom, ainda persiste a<br />

bipolarização entre o PPB, herdeiro da ARENA e PDS e o PMDB, sem que<br />

partidos que cresceram no Estado e na região, como o PT consigam quebrar, ao<br />

longo da década de 90, esta bipolarização.<br />

Tabela 05 Filiação Partidária no Município por Gênero – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Julho de 2003)<br />

Para uma apreensão mais precisa do peso dos partidos com filiados na definição<br />

do perfil político do município, é importante agregar a análise com<strong>para</strong>tiva<br />

do desempenho eleitoral destes partidos nas eleições proporcionais <strong>para</strong> deputado<br />

federal e estadual. Os dados referentes ao desempenho, nas eleições majoritárias<br />

estaduais, também são apresentados. Entretanto, estes devem ser lidos com reserva,<br />

tendo em vista que a definição do eleitor – em relação ao Executivo e às<br />

proporcionais – não é uniforme, apresentando invariavelmente grande dispersão.<br />

126


127<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 06 Resultados Eleitorais com<strong>para</strong>dos (1982-2002) Deputados Estaduais<br />

– Campo Bom<br />

Fonte: Nupergs 2003 (Núcleo de Pesquisa e Documentação da Política do Rio Grande do Sul)<br />

Gráfico 01: Com<strong>para</strong>tivo da votação <strong>para</strong> a Assembléia Legislativa dos sete<br />

partidos mais votados em Campo Bom


Pensando Campo Bom<br />

Tomou-se o intervalo de 1994 a 2002 <strong>para</strong> análise com<strong>para</strong>tiva do desempenho<br />

eleitoral das maiores legendas de Campo Bom. Este intervalo permitiu a<br />

com<strong>para</strong>ção de três pleitos eleitorais, compreendendo um período de 12 anos, com<br />

pouca alteração no quadro partidário nacional. Pode-se observar uma estabilização<br />

nestes três processos dos percentuais de votação, em torno de 15 % dos votos<br />

por legenda partidária <strong>para</strong> a cidade de Campo Bom. Este percentual remete ao<br />

padrão de distribuição do desempenho eleitoral <strong>para</strong> os municípios do Vale do<br />

Sinos e <strong>para</strong> o Estado do Rio Grande do Sul.<br />

Dois partidos fogem a este padrão de estabilização. O PMDB apresenta uma<br />

queda desde 1994, quando obteve 52,38 %, caindo <strong>para</strong> 39,91 em 1994 e 20,32%<br />

em 2002. Já a legenda do PSB apresentou uma trajetória ascendente. De uma participação<br />

estrutural praticamente inexpressiva, 0,27% dos votos em 1994 e 1,38%<br />

em 1998, este partido é o que obtém maior votação na eleição <strong>para</strong> a Assembléia<br />

Legislativa em 2002, obtendo 25,14% dos votos. Este desempenho destoa do<br />

obtido por este partido no Estado e no restante dos municípios do Vale do Sinos.<br />

Tabela 07 Resultados Eleitorais com<strong>para</strong>dos (1982-2002) – Deputados Federais<br />

– Campo Bom<br />

Fonte: Nupergs 2003 (Núcleo de Pesquisa e Documentação da Política do Rio Grande do Sul)<br />

128


129<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Gráfico 02: Com<strong>para</strong>tivo da votação <strong>para</strong> a Câmara Federal dos sete partidos<br />

mais votados em Campo Bom<br />

O desempenho eleitoral nas eleições <strong>para</strong> a Câmara dos Deputados apresenta<br />

grande oscilação entre os partidos, ao contrário do processo <strong>para</strong> a Assembléia<br />

Legislativa. Apresentam tendência de crescimento o PT, PHS e o PSDB. Entretanto,<br />

não se pode atribuir uma tendência de estabilização, como no caso das eleições<br />

<strong>para</strong> a Assembléia Legislativa. Este quadro de distribuição do desempenho eleitoral<br />

também difere do quadro apresentado pelos mesmos partidos <strong>para</strong> o Estado e<br />

<strong>para</strong> o conjunto dos municípios do Vale do Sinos.<br />

Tabela 08 Resultados Governadores – 1982 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)


Pensando Campo Bom<br />

Tabela 09 Resultados Governadores – 1986 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 10 Resultados Governadores – 1990 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 11 Resultados Governadores – 1990 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 12 Resultados Governadores – 1994 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

130


131<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Tabela 13 Resultados Governadores – 1994 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 14 Resultados Governadores – 1998 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 15 Resultados Governadores – 1998 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 16 Resultados Governadores – 2002 – Campo Bom


Pensando Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Tabela 17 Resultados Governadores – 2002 – Campo Bom<br />

Fonte: TRE (Tribunal Regional Eleitoral) (Abril 2000)<br />

Os resultados eleitorais <strong>para</strong> os pleitos analisados na eleição <strong>para</strong> governador<br />

(1982-2002) não apresentam variação significativa em relação aos dados <strong>para</strong> o<br />

Estado e <strong>para</strong> a região do Vale do Sinos. O que se observa é uma grande diferença<br />

em relação ao desempenho dos mesmos partidos ou coligações <strong>para</strong> a as eleições<br />

municipais. Ou seja, legendas partidárias que tem maior desempenho nas eleições <strong>para</strong><br />

governador como o PT, por exemplo, não repetem este mesmo desempenho nas<br />

eleições municipais. Este fenômeno é recorrente também <strong>para</strong> outros municípios<br />

do Estado e da região, caracterizando um eleitor que vota de forma desvinculada<br />

nas eleições estaduais e federais, em relação às eleições municipais.<br />

7.3 Considerações Finais<br />

Por fim, pode-se destacar o padrão de bipolarização partidária nas eleições<br />

<strong>para</strong> o município, reproduzindo ainda o padrão de bipolarização entre a antiga<br />

ARENA e MDB. Este fenômeno não se repete no conjunto da região do Vale<br />

do Sinos e no Estado do Rio Grande do Sul, desde 1986, podendo indicar um<br />

desenvolvimento político mais inerte. Da mesma forma, o município está entre<br />

os que apresentam menor número de eleitores filiados a partidos políticos, junto<br />

com Dois Irmãos e Novo Hamburgo. Este fator também pode ser tomado como<br />

indicativo da “despolitização” do eleitor, assim como do distanciamento entre a<br />

política e a vida social.<br />

Outro fator que pode ser tomado como indicativo desta despolitização é a<br />

desvinculação do voto nas legendas partidárias <strong>para</strong> as eleições proporcionais estaduais<br />

e nacionais em relação aos mesmos resultados <strong>para</strong> as eleições municipais,<br />

muito embora este caso não represente um fenômeno particular do município,<br />

tendo em vista o padrão estrutural de comportamento do eleitor válido <strong>para</strong> todo<br />

o Brasil.<br />

132


133<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Referências Bibliográficas<br />

BOLETIM DO PROGRAMA DE ESTUDOS EM DESENVOLVIMENTO<br />

REGIONAL CPP-<strong>Feevale</strong>, novembro de 2002(encadernado)<br />

ENGELMANN, Fabiano. Perfil Político do Vale do Sinos In: ENGELMANN,<br />

Fabiano.Estudos em desenvolvimento regional: O Vale do Sinos em perspectiva.<br />

Novo Hamburgo: <strong>Feevale</strong>, 2003.<br />

NOLL, M I. & TRINDADE, H., Estatísticas Eleitorais Com<strong>para</strong>tivas do<br />

Rio Grande do Sul (1945-1996), Porto Alegre: UFRGS –1996<br />

PROPOSTA DE PESQUISA – (Diagnóstico e planejamento socioeconômico<br />

do Município de Campo Bom) CPP CPP-<strong>Feevale</strong>, agosto de 2002(mimeo)


O Projeto<br />

considerAções finAis:<br />

ABrindo o PortAl PArA o<br />

desenvolvimento de cAmPo Bom<br />

Iselda Corrêa Ribeiro<br />

A realização do diagnóstico socioeconômico e político institucional do<br />

município de Campo Bom foi resultado da formação de parcerias entre o Centro<br />

Universitário <strong>Feevale</strong>, Prefeitura Municipal, Associação Comercial Industrial e a<br />

Associação dos Municípios do Vale do Sinos.<br />

Esta parceria envolve um projeto maior, formado por redes, introduzidas pela<br />

Secretaria da Ciência e Tecnologia no programa de apoio aos pólos de inovação<br />

tecnológica do governo do Estado do Rio Grande do Sul 1 . Estas redes de pesquisa<br />

e informações sobre o desenvolvimento sustentável local e regional é formada por<br />

um conjunto de universidades como <strong>Feevale</strong>, Unisinos, Universidade Estadual do<br />

Rio Grande do Sul e outras.<br />

O projeto prevê a socialização das informações <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

sustentável do Vale do Rio do Sinos. A presença das universidades nas redes e a<br />

dinâmica de cada rede em relação às outras são fontes cruciais <strong>para</strong> o somatório<br />

de conhecimento, que possibilitará a construção de estratégias <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

local e regional no estado.<br />

Em tal contexto, as parcerias representam a busca de se atingir o desenvolvimento<br />

sustentável local e regional, através da combinação de esforços das<br />

universidades de auxiliarem, através dos recursos humanos qualificados e da produ-<br />

1 Sobre este assunto ver projeto do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria da Ciência e<br />

Tecnologia, Programa de apoio aos Pólos de Inovação Tecnológica do Vale do Rio do Sinos, mimeo.<br />

2 Este convênio de cooperação efetuou-se entre a Associação Pró-Ensino Superior em Novo


135<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

ção de conhecimento, sobretudo científico-tecnológico, aplicado à realidade local<br />

e regional, ampliando dessa forma um conjunto de informações disponíveis, de<br />

oportunidades e de consciências, abrindo os caminhos <strong>para</strong> um desenvolvimento<br />

mais justo e eqüitativo, viável economicamente e que responda aos anseios da<br />

população por melhoria de qualidade de vida e inclusão social.<br />

Neste aspecto, o presente estudo, que tem por objetivo a identificação das<br />

principais questões sociais e econômicas dos municípios através dos indicadores<br />

sociais, econômicos, ambientais, tecnológicos e político institucionais, envolve<br />

linhas de pesquisa multidisciplinares, projetos estes que estão sendo desenvolvidos<br />

por vários núcleos de pesquisa do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.<br />

Como resultado deste processo, foi criado – no interior do Centro Universitário<br />

– um espaço <strong>para</strong> a formação de uma Incubadora Tecnológica, assim como<br />

um núcleo de pesquisas na área ambiental, assentando a Associação dos Municípios<br />

do Vale do Sinos, instituição que encomendou o diagnóstico socioeconômico e<br />

político Institucional <strong>para</strong> os municípios associados do Vale do Sinos, constante<br />

no convênio 2 da mesma com o Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.<br />

A formação de parcerias é vista, pela <strong>Feevale</strong>, como uma das melhores<br />

formas de se promover melhorias tecnológicas, ambientais, sociais e econômicas<br />

que permitam a inserção competitiva das economias em um mundo global,<br />

contraditório e excludente, considerando as especificidades do âmbito regional.<br />

Junto está a responsabilidade dos governos locais, que se manifestam<br />

através da execução conjunta de projetos e programas envolvendo, além<br />

do setor público, a sociedade organizada, empresários, organizações nãogovernamentais<br />

e sindicatos.<br />

Considerando que todos os estudos sobre o desenvolvimento local e regional<br />

estão em andamento, e que temos outro núcleo de pesquisa responsável pelos<br />

estudos do meio ambiente, este tema, de grande significância <strong>para</strong> a construção<br />

do desenvolvimento sustentável, não foi incluído neste estudo.<br />

Daí os nossos limites. Os textos apresentados neste livro são apenas o ponto<br />

de partida da investigação do núcleo de desenvolvimento regional sustentável<br />

Hamburgo – ASPEUR, Mantenedora do Centro Universitário <strong>Feevale</strong> e a Associação dos Municípios<br />

do Vale do Sinos onde, entre outras atribuições, a <strong>Feevale</strong> disponibiliza a estrutura <strong>para</strong> a AMVRS<br />

se instalar na sede do Centro Universitário. A constituição estatutária foi averbada em abril de 2002.<br />

3 Como já comentamos anteriormente, temos um grupo de pesquisa no Centro Universitário


Pensando Campo Bom<br />

do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, e que faz parte do projeto Impactos<br />

do Desenvolvimento Regional, que inclui os municípios do Vale do Sinos e de<br />

Paranhana, na encosta da Serra.<br />

Neste aspecto, acreditamos que a presente pesquisa, como parte de uma rede<br />

de estudos, apresenta um perfil das práticas socioeconômicos e político institucionais<br />

do município de Campo Bom, permitindo que o portal <strong>para</strong> a formulação<br />

de políticas públicas se abra <strong>para</strong> a construção e promoção do desenvolvimento<br />

local, relacionado ao desejo da comunidade de olhar-se no seu próprio espelho<br />

como cidadã, refletida na esperança de uma melhor qualidade de vida, educação,<br />

saúde e trabalho.<br />

É neste sentido que consideramos o desenvolvimento sustentável uma utopia.<br />

É um sonhar juntos: sociedade, universidades, governantes etc. É também<br />

resultado das práticas sociais e econômicas do dia-a-dia das comunidades, na sua<br />

luta contra a exclusão social e as diversas formas de dominação.<br />

Os Resultados<br />

No campo econômico, o município de Campo Bom tem o privilégio de<br />

se posicionar como um dos maiores produtores e exportadores de calçados do<br />

Estado do Rio Grande do Sul.<br />

No entanto, o fato de Campo Bom se encontrar na posição atual de grande<br />

produtor e exportador de calçados não significa que irá manter essa posição no<br />

ranking regional e nacional. Isto ocorre pelo fato da indústria calçadista manter,<br />

ainda, as regras tradicionais.<br />

O trabalho de André Maurício dos Santos mostra, no decorrer da sua investigação,<br />

que existe a possibilidade de perda de posição da atividade econômica<br />

tradicional, devido às práticas de custos menores da mão de obra empregada<br />

em outros estados e países. Este fato poderá gerar a falta de competitividade das<br />

indústrias de Campo Bom, diante do produto mais barato, nos outros locais. É<br />

a concorrência intercapitalista, onde o mercado, através dos preços da mão de<br />

obra, da matéria-prima mais barata, regula a produção em massa. A competição<br />

é <strong>aqui</strong> um fator decisivo <strong>para</strong> a continuidade ou extinção de uma empresa, não<br />

importando muitas vezes a qualidade, e sim a quantidade.<br />

Para os empresários da indústria calçadista do município de Campo Bom,<br />

o governo é um dos grandes responsáveis pelas diversas crises, visto que não<br />

136


137<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

existem condições razoáveis de financiamentos à produção, os juros são altíssimos<br />

e as taxas tributárias encontram-se acima das possibilidades de grande<br />

parte dos empresários.<br />

Para que o crescimento econômico das indústrias fosse possível, seria então<br />

necessário que o governo desonerasse os tributos sobre a cadeia produtiva do<br />

calçado e seus agregados, tais como embalagens, acessórios e mão-de-obra.<br />

Este estudo mostrou, ainda, que a concentração de indústrias coureirocalçadistas<br />

no município de Campo Bom é um entrave <strong>para</strong> o crescimento da<br />

economia do município, diante do novo mercado que se forma nas demais regiões.<br />

Daí que Santos sugere a necessidade de se criar políticas de diversificação das<br />

indústrias que venham a atrair novos investimentos <strong>para</strong> Campo Bom.<br />

Por outro lado, está em fase de implantação o projeto do Parque Tecnológico<br />

do Vale do Sinos, resultado da parceria da ASPEUR – Associação Pró Ensino<br />

Superior em Novo Hamburgo, Mantenedora do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>, que<br />

recebeu uma doação da Prefeitura de Campo Bom (65,64 mil metros quadrados)<br />

<strong>para</strong> a expansão do projeto, e a Associação de Desenvolvimento Tecnológico do<br />

Vale, a VALETEC.<br />

O projeto está sob a responsabilidade da ASPEUR, que assumiu a construção<br />

e a administração do Núcleo de Extensão Universitária, formado por uma<br />

incubadora tecnológica, um sistema de condomínio de empresas e os serviços de<br />

extensão acadêmica do Centro Universitário <strong>Feevale</strong>.<br />

Como resultado, o projeto deverá criar condições <strong>para</strong> o surgimento de atividades<br />

de alto valor agregado, contribuindo <strong>para</strong> o desenvolvimento tecnológico<br />

regional. A atração de outros empreendedores, empresários e pesquisadores deverá<br />

fortalecer o surgimento de novos negócios, produtos, serviços e conhecimentos<br />

na área tecnológica que poderá beneficiar, em parte, a economia, a comunidade<br />

local e a preservação do meio ambiente.<br />

Neste aspecto, seria interessante que o governo local possibilitasse, através<br />

de políticas fiscais, motivacionais e locacionais, condições <strong>para</strong> a implantação de<br />

novos negócios que tragam benefícios <strong>para</strong> os pequenos e médios empresários.<br />

Além disso, sugere-se que o governo local, junto com as lideranças de bairros,<br />

empresários e os técnicos do Centro Universitário <strong>Feevale</strong> criem projetos de<br />

novos pequenos negócios, direcionados <strong>para</strong> os jovens moradores dos bairros


Pensando Campo Bom<br />

pobres, através do reaproveitamento dos resíduos, sucatas e materiais a serem<br />

reciclados. Esta seria uma das formas de atrair os jovens, buscando sua inclusão<br />

social e econômica na comunidade de Campo Bom.<br />

O crescimento do número de indústrias e a urbanização invadindo o<br />

espaço agrário, resultou no enfraquecimento do setor agropecuário da região<br />

e principalmente na redução dos pequenos produtores da unidade familiar.<br />

Desta forma, a economia rural é cada vez menos expressiva no espaço rural<br />

de Campo Bom.<br />

Se nos detivermos atentamente às tabelas referentes ao setor primário, expostas<br />

no capítulo 5, o município conta apenas com 15 estabelecimentos agropecuários.<br />

No ano de 2001, o município possuía apenas um estabelecimento rural<br />

com lavouras permanentes e três estabelecimentos de horticultura.<br />

No entanto, ao contrário de outras regiões onde os minifúndios deram<br />

lugar à concentração de terras e à expulsão dos colonos do campo, em Campo<br />

Bom percebe-se que não houve tal concentração de terras por parte de alguns<br />

produtores no espaço agrário local, e sim perda gradativa do espaço agrário e<br />

desaparecimento das atividades resultantes da agricultura familiar, que tinha sua<br />

origem nas colônias alemãs.<br />

Atualmente, os pequenos produtores de horticultura que permanecem<br />

produzindo no espaço rural empregam algum tipo de mão-de-obra assalariada,<br />

o que significa dizer que os mesmos não se inserem no conceito da produção<br />

familiar. Na pecuária existem apenas 12 empregados e 8 na horticultura, números<br />

inexpressivos no conjunto da população ativa do município. Embora esse número<br />

cresça em torno de mais um ou dois trabalhadores no campo, de acordo com a<br />

época e os resultados da pequena produção agrícola, não se pode concluir que<br />

haja aumento de empregados nesse espaço.<br />

O resultado da pesquisa mostra, assim, a realidade de concentração espacial<br />

da indústria tradicional e o risco estrutural da agropecuária que está, na verdade,<br />

agonizando, podendo acelerar a deteriorização do meio ambiente rural com o<br />

surgimento de vilas e problemas com a água 3 , riqueza principal da população. De<br />

acordo com a pesquisa, as terras são “férteis”, o que poderia ser fonte de trabalho<br />

e riqueza <strong>para</strong> parte da população.<br />

138


139<br />

Estudos em desenvolvimento regional II<br />

Manter a produção agrícola que já existe, com a fixação da população ativa na<br />

terra, criando oportunidades de formação de cooperativas agrícolas e a atração de<br />

novos produtores da unidade familiar ou comunitária, seria uma forma de cuidar<br />

da terra mãe, ao mesmo tempo em que se abririam novas frentes de trabalho <strong>para</strong><br />

a comunidade campobonense.<br />

Pensando agora as “finanças públicas de Campo Bom, o estudo mostrou<br />

que as mesmas vêm sofrendo alterações significativas”. Para Jucelaine Bittarello,<br />

estas limitações concentram-se nos gastos, tanto na receita como na despesa, <strong>para</strong><br />

diminuir o déficit orçamentário.<br />

Porém, mesmo com a diminuição das receitas e o razoável investimento em<br />

educação, o governo local deveria investir mais em escolas técnicas, que possibilitam<br />

o aumento de qualidade da mão-de-obra assalariada e empreendedora, assim<br />

como na saúde e na segurança pública.<br />

O aumento dos investimentos nestas áreas, ainda que reduzidos, poderia assegurar<br />

a melhoria da qualidade de vida da comunidade que, segundo os resultados<br />

da pesquisa de Fabiano Engelmann, está cada vez mais despolitizada, excluindo<br />

as práticas políticas da vida social.<br />

Concluindo, estas seriam algumas das diretrizes estratégicas, sugeridas pelo<br />

conjunto dos pesquisadores, <strong>para</strong> orientara promoção do desenvolvimento local.<br />

Virando a roda: o portal está aberto<br />

O processo de decisões <strong>para</strong> impulsionar o desenvolvimento sustentável<br />

no município de Campo Bom deve, assim, resultar do compromisso dos atores<br />

institucionais, de sociedade civil organizada 4 e da sociedade política local <strong>para</strong> a<br />

construção de um planejamento estratégico que atenda aos mais diferentes interesses,<br />

superando as deficiências dos problemas indutores do desenvolvimento<br />

de caráter centralizado e vertical, a partir dos resultados desta primeira pesquisa.<br />

<strong>Feevale</strong>, responsável pela execução da pesquisa sobre o meio ambiente, poluição etc. no Vale do<br />

Sinos e Paranhana.<br />

4 Neste trabalho tomamos o conceito de sociedade civil organizada adotado por Boisieur: “sociedade


Pensando Campo Bom<br />

Através do compartilhar, deve-se inventar procedimentos que façam da<br />

própria comunidade territorial, no espaço e no tempo de Campo Bom, o agente<br />

endógeno e exógeno de transformações, metamorfoseando-a em um sujeito coletivo<br />

local. Para que o processo de gestão seja efetivado, o projeto coletivo deve<br />

comprometer toda a sociedade chamada <strong>para</strong> cumprir esta tarefa.<br />

Concluindo, o desenvolvimento sustentável é uma utopia. Ele só é possível<br />

com a participação coletiva dos sujeitos sociais, integrando seus sonhos e esperança<br />

de que, mesmo com todas as contradições, um novo mundo é possível.<br />

civil propriamente dita é definida no sentido de pessoas e organizações de pessoas que possuem<br />

uma visão coletiva de si mesma que, ainda seja difusa, é formada pela participação e mobilização”.<br />

BOISIEUR, Sergio, Actores, Asociatividad y desarrollo territorial em la sociedad Del conocimiento”<br />

in revista Redes, Interdisciplinaridade e Desenvolvimento Regional, vol.7 n.2, maio/ago. de 2002.<br />

RS. P95.<br />

140


Miolo impresso em Offset 75grs. Tipografia: Garamond, corpo 11 nos textos e 9 nas legendas.Títulos com fonte Garamond,<br />

corpo 20. Capa impressa em papel Cartão Triplex 250grs. Acabamento Plastificação brilho. Impressão:Gráfica Metrópole.<br />

Tiragem: 500 exemplares.


142<br />

Estudos em desenvolvimento regional II

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