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Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

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sem se lembrar da sétima lição <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Livro de Leitura. Sentira, ao lê-la<br />

pela primeira vez, uma comoção tão grande, que ficara um dia inteiro sob a<br />

impressão da tragédia.<br />

Ângelo era um velho português muito trabalha<strong>do</strong>r e honra<strong>do</strong>, agricultor<br />

n<strong>os</strong> arre<strong>do</strong>res de uma pequena vila de Portugal.<br />

Em certa ocasião, seguiu para o lugarejo, levan<strong>do</strong> consigo abundante<br />

carregamento de cereais, produto <strong>do</strong> seu labor, a fim de expô-lo à venda na<br />

feira pública, que havia ali mensalmente.<br />

Ten<strong>do</strong> feito bom negócio, voltava para a sua casinha, conduzin<strong>do</strong><br />

fazendas e outr<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> de que carecia a i<strong>do</strong>latrada família.<br />

Um saltea<strong>do</strong>r, que durante a feira lhe seguira <strong>os</strong> pass<strong>os</strong> intencionalmente<br />

e o vira vender <strong>os</strong> seus cereais, foi esperá-lo na estrada da montanha, para o<br />

assassinar e roubar.<br />

Quan<strong>do</strong> o pobre velho seguia contente na estrada que levava à sua<br />

choupana, salta-lhe de repente o malfeitor e crava-lhe o punhal.<br />

Ângelo pôde apenas pronunciar estas palavras, exalan<strong>do</strong> o último<br />

suspiro: «Malva<strong>do</strong>! Quem com ferro fere, com ferro será feri<strong>do</strong>! »<br />

Debalde a polícia procurou saber quem era o assassino de Ângelo. Não<br />

havia testemunhas e o crime ficou impune. Passa<strong>do</strong> apenas um ano, o<br />

saltea<strong>do</strong>r, estan<strong>do</strong> na mesma feira, provocou um conflito e deram-lhe uma<br />

punhalada.<br />

O saltea<strong>do</strong>r, conhecen<strong>do</strong> que ia morrer, confessou ter si<strong>do</strong> o autor <strong>do</strong><br />

assassínio <strong>do</strong> pobre Ângelo e disse:<br />

será feri<strong>do</strong>! »<br />

- Bem ele exclamou na hora da morte: « Quem com ferro fere, com ferro<br />

A história provocara em Eugênio ec<strong>os</strong> misteri<strong>os</strong><strong>os</strong>. Sempre que a relia,<br />

ele emprestava ao assassina<strong>do</strong> a cara <strong>do</strong> pai. Ângelo era pobre como eles,<br />

decerto também andava com as calças furadas naquele lugar. Eugênio como<br />

que sentia na própria carne, n<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> nerv<strong>os</strong>, aquela punhalada. E um<br />

desejo de justiça começava a nascer na sua consciência. A si próprio fazia<br />

perguntas que ficavam sem resp<strong>os</strong>ta. De que servia matar? Porque existiam<br />

homens maus no Mun<strong>do</strong>? Ele não era capaz de arranhar um colega, de jogar

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