15.04.2013 Views

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ia passan<strong>do</strong> lá longe, na estrada. Eugênio odiou a Natureza. Ela não tinha<br />

pu<strong>do</strong>r de amar assim abertamente, de gritar <strong>os</strong> seus pensament<strong>os</strong> libidin<strong>os</strong><strong>os</strong><br />

em plena luz <strong>do</strong> Sol. Procurou afastar dela a atenção, como quem desvia o olhar<br />

de uma gravura obscena.<br />

<strong>do</strong> diretor...<br />

Mas o seu corpo continuava ali, palpitan<strong>do</strong>.<br />

Devo estar <strong>do</strong>ente - pensou.<br />

O cachorro latia para um gato preto que caminhava no telha<strong>do</strong> da casa<br />

Eugênio acor<strong>do</strong>u no meio da noite. Passan<strong>do</strong> da escuridão de um sono<br />

sem sonh<strong>os</strong> para a escuridão <strong>do</strong> quarto – n<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> segund<strong>os</strong> ele foi apenas<br />

uma criatura sem memória. Era ainda o ator<strong>do</strong>amento <strong>do</strong> sono que lhe<br />

enevoava as idéias, que lhe dava aquela sensação aflitiva e confusa que devia<br />

ser parecida com a da loucura. Durante alguns instantes, ele só teve consciência<br />

daquela angústia, daquela ânsia, daquela pressão no peito, de um formigueiro<br />

no corpo e <strong>do</strong> desejo de luz e de ar. Era uma impressão de fim-de-mun<strong>do</strong>. E ali,<br />

na sua cama, deita<strong>do</strong> de c<strong>os</strong>tas, Eugênio procurava vencer a escuridão, a névoa,<br />

e a angústia. Durante rápid<strong>os</strong> segund<strong>os</strong>, perguntou-se a si próprio quem era e<br />

aonde estava. Estendeu um braço. Sentiu nas c<strong>os</strong>tas da mão o contacto frio <strong>do</strong><br />

ferro da cama. A<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> ia compreenden<strong>do</strong>... Estava no seu quarto <strong>do</strong><br />

Columbia College. Quanto tempo <strong>do</strong>rmira? Horas ou minut<strong>os</strong>? Lembrava-se<br />

vagamente de uma conversa que tivera com Mário, antes de se deitar.<br />

Ouvia o gemi<strong>do</strong> <strong>do</strong> vento. Isso aumentava-lhe a aflição. Sentia no corpo<br />

a tempestade que lá fora estava prestes a desabar. Era sempre assim. Acordava<br />

de repente, como que sacudi<strong>do</strong> por um misteri<strong>os</strong>o aviso. Depois vinha aquele<br />

desejo formigante de saltar da cama, de acordar <strong>os</strong> companheir<strong>os</strong>, pedir luz a<strong>os</strong><br />

berr<strong>os</strong>, abrir as janelas e respirar to<strong>do</strong> o ar que houvesse no Mun<strong>do</strong>.<br />

Com um gesto cego e quase desespera<strong>do</strong> atirou longe as cobertas,<br />

porque era sufocante o calor que lhe percorria o corpo.<br />

Que fazer? Pensou em chamar o companheiro. Inútil. Mário não<br />

acordaria. Se acordasse era para lhe dizer um nome feio e cair de novo no sono.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!