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Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

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- Essa cantiga é muito conhecida. To<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> vai receber dinheiro,<br />

mas ninguém paga. O senhor devia era ter mais vergonha nessa cara, ouviu?<br />

caloteiro.<br />

Ângelo estava páli<strong>do</strong>. Eugênio ouviu-o murmurar, numa súplica:<br />

- Seu Jango, por favor, <strong>os</strong> menin<strong>os</strong> estão ouvin<strong>do</strong>...<br />

- Pois que ouçam, que saibam que o pai deles é um grandessíssimo<br />

Saiu pisan<strong>do</strong> duro e bateu com a porta.<br />

Um dia - pensou Eugênio - alguém vai à casa de sou Jango e diz para ele<br />

todas essas coisas que ele disse para o pai. «Quem com ferro fere, com ferro<br />

será feri<strong>do</strong>.» Alguém há-de vingar o pobre Ângelo. Talvez Deus... Ou então...<br />

Pela primeira vez Eugênio pensou em fazer-se homem, estudar, ficar <strong>do</strong>utor e<br />

ganhar dinheiro, para livrar a família daquela pobreza, daquela vergonha.<br />

D. Alzira bateu palmas.<br />

- Venham comer. Ligeiro, senão a bucha esfria!<br />

Sentaram-se tod<strong>os</strong> em torno da mesa. No centro dela fumegava a<br />

travessa de arroz com guisa<strong>do</strong> de charque [Carne salgada e seca].<br />

Começaram a comer em silêncio. Quem falou primeiro foi Ernesto:<br />

- No colégio hoje deram uma vaia no Eugênio porque ele estava com as<br />

calças furadas atrás.<br />

Encolheu-se to<strong>do</strong>, reprimin<strong>do</strong> o riso, e seus olhinh<strong>os</strong> brilharam de<br />

malícia. Eugênio ficou com o r<strong>os</strong>to em fogo. D. Alzira sacudiu a cabeça,<br />

vagar<strong>os</strong>amente, e olhou para o filho mais velho.<br />

- Eu não te disse que não botasse aquela calça de risca<strong>do</strong>? Porque não<br />

botou a preta?<br />

fora.<br />

Eugênio baixou <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> para o prato e ficou cala<strong>do</strong>.<br />

Ângelo serviu-se de mais arroz e disse com ar reflexivo:<br />

- Parece mentira... Filho de alfaiate e com as calças rasgadas.<br />

Quan<strong>do</strong> o silêncio se fez de novo, eles ouviram o minuano uivan<strong>do</strong> lá<br />

- Coisa triste, o Inverno! - suspirou D. Alzira.

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