15.04.2013 Views

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

Erico Verissimo - Olhai os Lirios do Campo.pdf - Website Prof. Assis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

na China, onde seu pai fora missionário. Em troca, ele descrevia-lhe sonh<strong>os</strong>,<br />

plan<strong>os</strong> de vida. Pretendia estudar cada vez mais e um dia havia de se formar<br />

em engenharia. Engenharia? Não. Medicina. Seria médico, para curar o pai<br />

daquela <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> peito, para ajudar <strong>os</strong> pobres, como o Dr. Seixas. Ficaria<br />

fam<strong>os</strong>o e rico. Deixaria de ser simplesmente o Genoca, para se transformar no<br />

Dr. Eugênio Fontes. Os outr<strong>os</strong> haviam de respeitá-lo, de tirar o chapéu para ele<br />

na rua. - Como passa, <strong>do</strong>utor?<br />

- Depois, ele viria num dia de Sol pedir a mão de Margaret.<br />

O próprio rev. Parker <strong>os</strong> casaria na capela <strong>do</strong> colégio. Depois, <strong>os</strong> noiv<strong>os</strong><br />

sairiam de braço da<strong>do</strong> pela alameda de plátan<strong>os</strong> que vai desde a porta da igreja<br />

até o portão central. Seria Primavera, ameixeiras e pessegueir<strong>os</strong> cobert<strong>os</strong> de<br />

flores. Lá se vão <strong>os</strong> noiv<strong>os</strong> muito juntinh<strong>os</strong>, por entre alas de árvores e gente.<br />

Que cochich<strong>os</strong> são esses? «Quem é a noiva, comadre?» «Não sabe? É miss<br />

Margaret Parker.» - «E o rapagão?» - «É o Dr. Fontes, um médico que salvou a<br />

família, está muito rico, tem fama.»<br />

Mas de repente to<strong>do</strong> o sonho desaparecia e lá estava apenas o quarto<br />

to<strong>do</strong> nu <strong>do</strong> internato, as camas de ferro, o lavatório, a mesinha de pau, a mala e<br />

aquele cheiro ativo de óleo de linhaça. A pouc<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> dele, Mário, o<br />

companheiro de quarto, <strong>do</strong>rmia tranqüilamente.<br />

Eugênio nunca sentira tanto as mudanças <strong>do</strong> seu corpo, da sua vida,<br />

como naquela manhã. Que era que esperava ali senta<strong>do</strong>? Nem ele mesmo sabia<br />

com certeza. Talvez esperasse o fim <strong>do</strong> culto em língua inglesa que se estava<br />

realizan<strong>do</strong> na capela. Porque Margaret achava-se lá dentro. Com grande<br />

alvoroço, ele vira-a entrar, toda de azul, levan<strong>do</strong> nas mã<strong>os</strong> o chapéu de palha<br />

amarela, de abas enormes e bambas. Eugênio imaginava-a naquele instante<br />

junto <strong>do</strong> órgão. Pela r<strong>os</strong>ácea tricolor <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> da capela de certo se coava a luz<br />

<strong>do</strong> Sol, que pintava reflex<strong>os</strong> de ouro n<strong>os</strong> cabel<strong>os</strong> de Margaret...<br />

Os sin<strong>os</strong> começaram a tocar. O som musical enchia o ar, parecen<strong>do</strong><br />

aumentar-lhe a lumin<strong>os</strong>idade. Eugênio passou a sentir aqueles sons com to<strong>do</strong> o<br />

corpo. Estremecia e ficava vibran<strong>do</strong> a cada badalada. Lembrava-se de outr<strong>os</strong><br />

sin<strong>os</strong>, de outras igrejas, em outr<strong>os</strong> temp<strong>os</strong>. Viu e ouviu mentalmente a sineta <strong>do</strong><br />

seu primeiro colégio. Sentiu na memória <strong>os</strong> ec<strong>os</strong> tristes daqueles mesm<strong>os</strong> sin<strong>os</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!