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A Aprendizagem da Matemática por meio de Projetos ...

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A <strong>Aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> <strong>Projetos</strong><br />

Interdisciplinares<br />

Resumo<br />

Fernan<strong>da</strong> Pimentel Dizotti<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Cruzeiro do Sul - UNICSUL<br />

fernan<strong>da</strong>dizotti@gmail.com<br />

Este trabalho preten<strong>de</strong> apresentar o projeto <strong>de</strong> uma pesquisa cujo objetivo é analisar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar<br />

o ensino <strong>da</strong> <strong>Matemática</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um projeto interdisciplinar. A metodologia a ser utiliza<strong>da</strong> no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa será <strong>de</strong> natureza qualitativa. Os métodos que julgamos mais apropriados para o<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento são, em primeiro lugar, a pesquisa-ação e, junto com ela, a observação e a análise<br />

documental. A apresentação dos <strong>da</strong>dos coletados <strong>de</strong>ve ser predominantemente <strong>de</strong>scritiva, serão relata<strong>da</strong>s falas,<br />

apresenta<strong>da</strong>s fotografias, <strong>de</strong>senhos, documentos produzidos pelos estu<strong>da</strong>ntes, entre outros. Essa pesquisa será<br />

realiza<strong>da</strong> com alunos do 6o ano do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, numa escola particular on<strong>de</strong> atuo como professora <strong>de</strong><br />

<strong>Matemática</strong> e Desenho Geométrico. Teoricamente nos basearemos em autores que falam <strong>de</strong> aprendizagem <strong>por</strong><br />

projetos interdisciplinares, como Fernando Hernán<strong>de</strong>z e Montserrat Ventura.<br />

Palavras-chave: Educação <strong>Matemática</strong>. Interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Trabalho com <strong>Projetos</strong>.<br />

Introdução<br />

Este trabalho retrata o projeto <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> mestrado em an<strong>da</strong>mento, cujo<br />

objetivo é analisar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar o ensino <strong>da</strong> <strong>Matemática</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> um projeto interdisciplinar. Na primeira seção são explicita<strong>da</strong>s a questão geral e as<br />

questões parciais <strong>de</strong> pesquisa. Em segui<strong>da</strong>, na justificativa, relato um pouco <strong>de</strong> minha<br />

experiência profissional e o <strong>por</strong>quê <strong>de</strong> ter escolhido este tema, apoiando-me, inclusive, em<br />

documentos oficiais. Segue-se uma fun<strong>da</strong>mentação teórica sobre projetos <strong>de</strong> trabalho e<br />

interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na seção intitula<strong>da</strong> metodologia, apresento os métodos que serão<br />

utilizados no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> pesquisa. Uma seção foi acrescenta<strong>da</strong> para <strong>de</strong>screver o<br />

contexto e explicitar os conteúdos matemáticos que serão abor<strong>da</strong>dos. Finalizando, faço<br />

algumas consi<strong>de</strong>rações finais e relaciono as referências utiliza<strong>da</strong>s neste trabalho.<br />

Questões <strong>de</strong> pesquisa<br />

objetivo:<br />

A presente pesquisa será orienta<strong>da</strong> pela seguinte questão geral, que expressa seu<br />

Como a aprendizagem <strong>da</strong> <strong>Matemática</strong> ocorre no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> um projeto interdisciplinar?


parciais:<br />

Para respon<strong>de</strong>r esta questão elaboramos inicialmente as seguintes questões<br />

• O envolvimento/interesse dos educandos interfere na aprendizagem <strong>da</strong><br />

<strong>Matemática</strong> realiza<strong>da</strong> no <strong>de</strong>curso do projeto?<br />

• Que conteúdos matemáticos são indicados para estudo durante o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do projeto?<br />

• Os alunos percebem os conteúdos <strong>de</strong> Geometria no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

um projeto interdisciplinar?<br />

• Como a <strong>Matemática</strong> integra<strong>da</strong> a outras disciplinas, aju<strong>da</strong>m a<br />

compreen<strong>de</strong>r e (re)interpretar situações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> fora <strong>da</strong> escola?<br />

Uma vez que será realiza<strong>da</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> natureza qualitativa, alguns aspectos,<br />

não previstos nas questões anteriores, po<strong>de</strong>rão emergir durante a coleta e análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.<br />

Justificativa<br />

Comecei a lecionar antes mesmo <strong>de</strong> ter acabado minha licenciatura. No início <strong>de</strong><br />

minha carreira ministrava aulas freqüentemente que apoia<strong>da</strong>s nos livros didáticos, <strong>por</strong>ém<br />

sempre achei que po<strong>de</strong>ria fazer algo diferente para meus estu<strong>da</strong>ntes. Não apenas ensinar<br />

fórmulas e técnicas, queria <strong>de</strong>spertar neles o interesse <strong>por</strong> apren<strong>de</strong>r. Então resolvi fazer alguns<br />

cursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento e fui mu<strong>da</strong>ndo minha prática, não fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em teóricos, mas<br />

com o que eu achava que seria mais interessante para eles.<br />

Quando comecei a lecionar no Colégio Espírito Santo encontrei alguns colegas<br />

também interessados em realizar algo diferente. Foi quando nos reunimos e resolvemos<br />

trabalhar com projetos interdisciplinares. Realizamos alguns projetos com estu<strong>da</strong>ntes, que<br />

foram apresentados na Feira <strong>de</strong> Ciências ou Feira Cultural do colégio, só que nunca havíamos<br />

nos aprofun<strong>da</strong>do teórica ou metodologicamente, nem realizávamos reflexões sistemáticas<br />

sobre o que acontecia na implementação <strong>de</strong>sses projetos. Agora tendo ingressado no programa<br />

<strong>de</strong> mestrado profissional <strong>da</strong> UNICSUL, tenho o<strong>por</strong>tuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r melhor e<br />

aprimorar minha prática, <strong>de</strong> modo que o projeto que realizaremos com os estu<strong>da</strong>ntes será<br />

<strong>de</strong>senvolvido com uma outra visão, uma visão menos ingênua e mais científica. Por isso este<br />

será o contexto <strong>da</strong> pesquisa que <strong>de</strong>senvolverei e que será <strong>de</strong>scrita neste projeto.<br />

Um segundo elemento que justifica minha pesquisa são as orientações oficiais.<br />

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais os conteúdos<br />

[...] po<strong>de</strong>m ser explorados em projetos mais amplos, <strong>de</strong> natureza interdisciplinar, que<br />

integrem conteúdos <strong>de</strong> outras áreas do currículo, como a História e a Geografia,


também:<br />

estudo.<br />

além <strong>da</strong> <strong>Matemática</strong> e os temas como Saú<strong>de</strong> e Meio Ambiente. [...] (BRASIL, 1998,<br />

p.138)<br />

A Proposta Curricular do Estado <strong>de</strong> São Paulo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos<br />

[...] É no contexto <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> projetos escolares que os alunos apren<strong>de</strong>m a<br />

criticar, respeitar e pro<strong>por</strong> projetos valiosos para to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>por</strong> intermédio<br />

<strong>de</strong>les, apren<strong>de</strong>m a ler e escrever as coisas do mundo atual, relacionando ações locais<br />

com visão global, <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> atuação solidária. (SÃO PAULO, 2008, p. 20)<br />

Algumas pesquisas já foram realiza<strong>da</strong>s, em que os projetos foram objeto <strong>de</strong><br />

O intuito <strong>de</strong>ste trabalho inserido no âmbito <strong>da</strong> Educação <strong>Matemática</strong> é <strong>de</strong><br />

contribuir com essas pesquisas já realiza<strong>da</strong>s em contextos <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> trabalho<br />

interdisciplinares.<br />

Uma apresentação <strong>da</strong>s pesquisas que encontrei sobre trabalho com projetos e<br />

interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> na seção sobre fun<strong>da</strong>mentação teórica.<br />

Fun<strong>da</strong>mentação Teórica<br />

Como o aspecto central <strong>da</strong> presente pesquisa é o trabalho com projetos<br />

iniciaremos apresentando algumas concepções sobre esta abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> ensino.<br />

Projeto, segundo Michaelis (2002), refere-se o “plano para a realização <strong>de</strong> um ato,<br />

intenção; esboço”. (p. 633)<br />

Projeto, nesta pesquisa, será entendido como uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>da</strong>, que terá<br />

como objetivo a resolução <strong>de</strong> um problema, em que a prática está foca<strong>da</strong> no ensinar e no<br />

apren<strong>de</strong>r significativamente 1 .<br />

Segundo Hernán<strong>de</strong>z em entrevista com Maragon (2002), há uma diferença <strong>de</strong><br />

contexto histórico entre pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> projetos e projeto <strong>de</strong> trabalho. A pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> projetos<br />

surge nos anos 1920 com as idéias <strong>de</strong> John Dewey e é estrutura<strong>da</strong> e populariza<strong>da</strong> <strong>por</strong> Willian<br />

Kilpatrick, <strong>por</strong>ém o projeto <strong>de</strong> trabalho surge nos anos 1980. A pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> projetos<br />

trabalhava um mo<strong>de</strong>lo fordista, que preparava as crianças sem incor<strong>por</strong>ar aspectos <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola. Os projetos <strong>de</strong> trabalho tentam uma aproximação <strong>da</strong><br />

escola com o aluno e se vinculam muito à pesquisa sobre algo emergente. Por essa razão<br />

optamos <strong>por</strong> essa segun<strong>da</strong> expressão, projetos <strong>de</strong> trabalho.<br />

1 Conceito central <strong>da</strong> teoria <strong>de</strong> Ausubel. “Processo que envolve a interação <strong>da</strong> nova informação com uma<br />

estrutura <strong>de</strong> conhecimento específica. (MOREIRA, 1942, p. 153)


O trabalho com projetos neutraliza o individualismo e o egoísmo, pois os<br />

estu<strong>da</strong>ntes são incentivados a trabalhar em grupo; a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é diariamente estimula<strong>da</strong>,<br />

assim como a participação ativa <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as etapas <strong>da</strong> execução do projeto. (MORAES, 2005).<br />

Este tipo <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong> favorecer a relação <strong>de</strong> variados conteúdos facilitando aos<br />

educandos a construção <strong>de</strong> seus conhecimentos com a integração dos diferentes saberes<br />

disciplinares – interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos procura-se buscar uma aprendizagem<br />

significativa, ou seja, partir do que os estu<strong>da</strong>ntes já sabem para a construção/ampliação do<br />

conhecimento; torná-los conscientes <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> aprendizagem, no sentido <strong>de</strong> ensiná-<br />

los a apren<strong>de</strong>r; permitir que relacionem a escola com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, exercitando suas<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha, <strong>de</strong>cisão, planejamento, assumir responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> serem agentes<br />

<strong>de</strong> suas aprendizagens. (JOLIBERT, 1994).<br />

A construir <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> trabalho é muito mais do que assistir ou <strong>da</strong>r aulas;<br />

não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas do professorado ou do auxílio <strong>de</strong> livros didáticos. Deve-se partir do que<br />

os estu<strong>da</strong>ntes sabem sobre um <strong>de</strong>terminado tema incentivando-os a buscar informações e<br />

relacioná-los <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> escola. É im<strong>por</strong>tante que os estu<strong>da</strong>ntes sintam-se interessados<br />

pelo tema, pois o projeto não é do professor ou <strong>da</strong> escola, é dos estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Hernán<strong>de</strong>z e Ventura (1998) consi<strong>de</strong>ram que para a realização <strong>de</strong> um projeto<br />

<strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar vários aspectos:<br />

1º. A escolha do tema: <strong>de</strong>finir o projeto <strong>de</strong> acordo com o que os estu<strong>da</strong>ntes propuserem,<br />

embora “[...] não impe<strong>de</strong> que os docentes também possam, e <strong>de</strong>vam pro<strong>por</strong> aqueles<br />

temas que consi<strong>de</strong>rem necessários, [...]” (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 68).<br />

Nesta mesma linha, Andra<strong>de</strong> (2003) <strong>de</strong>staca que<br />

[...] na aprendizagem <strong>por</strong> projetos o tema até po<strong>de</strong> estar inserido no<br />

currículo, na disciplina, ser proposto pelo professor ou até pela escola, <strong>por</strong> se<br />

tratar <strong>de</strong> um tema emergente (como foi “Brasil 500 anos” no ano 2000), mas<br />

pelo menos o problema <strong>de</strong>ve ser do aluno. (ANDRADE, 2003, p. 75)<br />

2º. Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor após a escolha do projeto: especificar o caminho a seguir –<br />

relacioná-lo com os Parâmetros Curriculares; buscar materiais – encontrar fontes <strong>de</strong><br />

informação para iniciar e <strong>de</strong>senvolver o projeto; estu<strong>da</strong>r e preparar o tema –<br />

planejamento <strong>de</strong> problemas; envolver os componentes do grupo – conscientizar os<br />

estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> im<strong>por</strong>tância do apren<strong>de</strong>r; mostrar ao grupo a funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do projeto;<br />

planejar o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto – o que os estu<strong>da</strong>ntes já sabem e o que estão<br />

apren<strong>de</strong>ndo; e recapitular o processo – planejar novas propostas educativas.


“Cabe ao professor negociar, estimular os estu<strong>da</strong>ntes a se interrogarem sobre o<br />

que <strong>de</strong>sejam explorar, apresentando propostas e encaminhamentos” (MALHEIROS, 2008, p.<br />

59).<br />

3º. Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos após a escolha do projeto: abor<strong>da</strong>r critérios e argumentos,<br />

colaborar com o roteiro inicial <strong>da</strong> classe, interpretar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pro<strong>por</strong> perguntas,<br />

elaborar índices, pro<strong>por</strong> novas perguntas.<br />

4º. Busca <strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong> informação: envolvimento <strong>de</strong> terceiros.<br />

5º. Elaboração <strong>de</strong> um índice.<br />

6º. Síntese do projeto – resultados<br />

nas seguintes fases:<br />

Bassoi e Bello (2003) apud Ponte (s/d) 2 ao <strong>de</strong>screver que o projeto se <strong>de</strong>senvolve<br />

1º. Definição do objetivo: o que se <strong>de</strong>ve estu<strong>da</strong>r;<br />

2º. Estratégia a adotar: nesta etapa também a improvisação é im<strong>por</strong>tante, pois nem tudo<br />

que é planejado ocorre como esperado;<br />

3º. Realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s;<br />

4º. Elaboração <strong>da</strong>s conclusões;<br />

5º. Resultados<br />

Portanto o que diferencia essa duas concepções é a fase <strong>da</strong> elaboração do índice,<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> apenas <strong>por</strong> Fernán<strong>de</strong>z e Ventura (1998). Em nossa pesquisa tentaremos<br />

contemplar também essa etapa.<br />

O trabalho com projetos interdisciplinares pe<strong>de</strong> temas bem <strong>de</strong>limitados, pois os<br />

conteúdos <strong>da</strong>s disciplinas são colocados na busca <strong>da</strong> resolução <strong>de</strong> um problema, <strong>de</strong> maneira<br />

integra<strong>da</strong>. Porém, só ocorrerá interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> se os conteúdos <strong>da</strong>s diferentes disciplinas<br />

se relacionarem para uma ampla compreensão do problema; o trabalho é coletivo entre as<br />

disciplinas uma respeitando a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> outra área <strong>de</strong> conhecimento. É uma tarefa<br />

difícil, mas que estimula a pesquisa e curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> não apenas dos estu<strong>da</strong>ntes como também<br />

dos professores.<br />

O projeto “Interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> para a aula <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> para o Ensino Médio –<br />

Química e <strong>Matemática</strong>”, relatado <strong>por</strong> Muniz e Mon<strong>de</strong>lli (2006), tendo como tema a<br />

Cristalografia, foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>por</strong> alunos do segundo ano médio e teve como objetivos<br />

buscar a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e a contextualização nas aulas <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> e Química, e o<br />

ensino <strong>da</strong> Geometria Espacial estu<strong>da</strong>ndo a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a perfeição <strong>da</strong>s formas na natureza.<br />

2 Ponte, João P. O computador e o trabalho <strong>de</strong> projeto. Lisboa: Projeto Minerva, <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> educação,<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, (s/d).


As autoras afirmam que o projeto não só integrou as duas disciplinas como propiciou um<br />

aprendizado para a vi<strong>da</strong>.<br />

Os conteúdos matemáticos trabalhados foram: poliedros, prismas, pirâmi<strong>de</strong>s,<br />

poliedros <strong>de</strong> Platão, relação <strong>de</strong> Euler, área e volume dos sólidos e geometria plana. Na<br />

Química, construíram a estrutura do sal NaCl e a alotropia do carbono e a do diamante, tudo<br />

com o auxílio <strong>da</strong> geometria espacial, e perceberam o <strong>por</strong>quê do grafite ser macio e o diamante<br />

ser um cristal muito duro e resistente.<br />

O trabalho interdisciplinar entre a Química e a <strong>Matemática</strong> ajudou os estu<strong>da</strong>ntes a<br />

compreen<strong>de</strong>rem melhor os temas abor<strong>da</strong>dos no trabalho, com uma visão mais articula<strong>da</strong> e<br />

menos fragmenta<strong>da</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo o raciocínio e utilizando a ciência como veículo para a<br />

interpretação <strong>da</strong> e intervenção na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Metodologia<br />

A metodologia <strong>de</strong> pesquisa a ser utiliza<strong>da</strong> para utiliza<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa será a qualitativa, on<strong>de</strong> o pesquisador estará mais preocupado com o processo do que<br />

com produto, se interessará como um fenômeno será manifestado, evi<strong>de</strong>nciado, nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

e interações <strong>de</strong>ntro do contexto do estudo. (ALLEVATO, 2008).<br />

Lüdke e André (1986) citam que na pesquisa qualitativa, o pesquisador tem<br />

contato direto com o dia-a-dia escolar e com a situação que está sendo investiga<strong>da</strong>, tornando-<br />

se o principal instrumento <strong>de</strong> pesquisa, pois o ambiente em estudo é muito influenciado <strong>por</strong><br />

vários fatores e, estando inserido nele, fica mais fácil a compreensão e interpretação dos fatos.<br />

A apresentação dos <strong>da</strong>dos coletados <strong>de</strong>ve ser predominantemente <strong>de</strong>scritiva, on<strong>de</strong> as relações<br />

entre as pessoas são muito im<strong>por</strong>tantes sendo, <strong>por</strong>tanto, relata<strong>da</strong>s falas, apresentados<br />

fotografias, <strong>de</strong>senhos, documentos produzidos pelos estu<strong>da</strong>ntes, entre outros. As autoras<br />

<strong>de</strong>screvem, ain<strong>da</strong>, que na pesquisa qualitativa o pesquisador está mais preocupado com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, com as interações e procedimentos do que com o produto.<br />

Ele também <strong>de</strong>ve estar atento à maneira como abor<strong>da</strong>r os pontos <strong>de</strong> vista dos participantes,<br />

pois ca<strong>da</strong> um tem uma percepção <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, “<strong>de</strong>ve-se encontrar <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> checá-las, discutindo-<br />

as abertamente com os participantes ou confrontando-as com outros pesquisadores para que<br />

elas possam ser ou não confirma<strong>da</strong>s”. (LÜDKE; ANDRE, 1986, p.13). E, finalizando,<br />

afirmam que a análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos ten<strong>de</strong> a ser indutiva, ou seja, a pesquisa po<strong>de</strong> tomar caminhos<br />

ou consi<strong>de</strong>rar aspectos, diferentes <strong>da</strong>queles que o pesquisador havia previsto.<br />

Os métodos que julgamos mais apropriados para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> pesquisa<br />

são, em primeiro lugar, a pesquisa-ação e, junto com ela, a observação e a análise documental.


Apoiados em Romberg (2007) e em Fiorentini e Lorenzato (2006), assumimos<br />

que a pesquisa-ação é uma pesquisa participante on<strong>de</strong> o pesquisador investiga situações<br />

vivencia<strong>da</strong>s em sala <strong>de</strong> aula, não apenas como observador mas, também, como mediador do<br />

que precisa ser documentado e entendido. Ela permite ao pesquisador mu<strong>da</strong>r as direções <strong>de</strong><br />

estudo possibilitando melhoria <strong>da</strong> aprendizagem dos participantes.<br />

A pesquisa-ação é um processo investigativo <strong>de</strong> intervenção on<strong>de</strong> a prática<br />

investigativa, a prática reflexiva e a prática educativa caminham juntas.<br />

[...] a prática educativa, ao ser investiga<strong>da</strong>, produz compreensões e<br />

orientações que são imediatamente utiliza<strong>da</strong>s em sua própria transformação,<br />

gerando novas situações <strong>de</strong> investigação. (FIORENTINI; LORENZATO,<br />

2006, p. 113)<br />

A observação participante, segundo Romberg (2007), é o método em que o<br />

pesquisador é parte integrante do <strong>meio</strong> investigado, e analisa o com<strong>por</strong>tamento do grupo.<br />

Nesse mesmo sentido Lüdke e Andre (1986) afirmam que “O pesquisador po<strong>de</strong><br />

recorrer aos conhecimentos e experiências pessoais como auxiliares no processo <strong>de</strong><br />

compreensão e interpretação do fenômeno estu<strong>da</strong>do.” (LÜDKE; ANDRE, 1986, p. 26). É pela<br />

observação que o pesquisador se aproxima mais <strong>da</strong>s perspectivas dos envolvidos.<br />

A análise documental é uma técnica, entre os métodos qualitativos, on<strong>de</strong> são<br />

analisados os diferentes tipos <strong>de</strong> documentos, como diários pessoais, jornais, revistas,<br />

discursos, arquivos escolares, assim como as produções escritas, dos estu<strong>da</strong>ntes envolvidos no<br />

projeto, que serão recolhi<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s pelo pesquisador. Durante o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

projeto também serão feitas fotos para serem agrega<strong>da</strong>s à pesquisa. As autoras Lüdke e Andre<br />

(1986) acreditam que os documentos dão muita estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> aos resultados <strong>da</strong>s pesquisas, pois<br />

po<strong>de</strong>m ser consultados diversas vezes e, inclusive, servirem <strong>de</strong> base para estudo.<br />

Também serão registrados dos <strong>da</strong>dos do tipo relato verbal - oral ou escrito – on<strong>de</strong>,<br />

segundo LUNA (2007), o pesquisador relata <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente as falas grava<strong>da</strong>s durante o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do projeto, num diário <strong>de</strong> campo.<br />

O Contexto e a <strong>Matemática</strong> na Pesquisa<br />

O projeto interdisciplinar, que é o foco <strong>de</strong>ssa pesquisa, será realizado com alunos<br />

do 6 o ano do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, numa escola particular, Colégio Espírito Santo, situado no<br />

Tatuapé, Zona Leste <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> atuo como professora <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> e Desenho<br />

Geométrico.


O tema do projeto interdisciplinar que os alunos irão <strong>de</strong>senvolver é VIDA. A<br />

partir <strong>de</strong>ste tema, os alunos irão buscar informações sobre as formas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em bairros <strong>de</strong><br />

classes sociais distintas <strong>da</strong> Zona Leste <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Além <strong>de</strong> aspectos sociais,<br />

buscarão características físicas e materiais <strong>de</strong>sses bairros: construções, organização,<br />

saneamento, saú<strong>de</strong>, população, entre outros. A partir <strong>de</strong>sses aspectos observados, procurarei<br />

envolvê-los com o estudo <strong>da</strong> geometria, particularmente <strong>da</strong>s formas geométrica, que é um<br />

conteúdo <strong>da</strong> gra<strong>de</strong> curricular <strong>de</strong>sta série na escola. Como é <strong>de</strong> prática <strong>da</strong> escola preten<strong>de</strong>mos<br />

utilizar o software Cabri Géomètre.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo ao caráter aberto do trabalho com projetos, outros conteúdos<br />

matemáticos po<strong>de</strong>rão ser abor<strong>da</strong>dos, aten<strong>de</strong>ndo ao interesse dos alunos e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

análise dos <strong>da</strong>dos <strong>por</strong> eles coletados.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Com essa pesquisa pretendo compreen<strong>de</strong>r como os estu<strong>da</strong>ntes apren<strong>de</strong>m<br />

<strong>Matemática</strong> <strong>de</strong>senvolvendo projetos interdisciplinares. Além disso, procurarei contribuir com<br />

o aprimoramento <strong>da</strong> prática do professor, no âmbito <strong>da</strong> Educação <strong>Matemática</strong>, em contextos<br />

<strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> trabalho interdisciplinares.<br />

Referências<br />

ALLEVATO, Norma S. G. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Romberg e o percurso metodológico <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa qualitativa em educação <strong>Matemática</strong>. Bolema, Rio Claro/SP, ano 21, n. 29, p. 175–<br />

197. 2008.<br />

ANDRADE, Pedro F. Apren<strong>de</strong>r <strong>por</strong> projetos, formar educadores. In: VALENTE, José A.<br />

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UNICAMP/NIED, 2003. 2006. p. 58–83.<br />

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interdisciplinar <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> em cursos <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong> <strong>de</strong> professores. Educação<br />

<strong>Matemática</strong> em Revista, São Paulo, ano10, n. 15, p. 29-38. 2003.<br />

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<strong>Matemática</strong>. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

FIORETINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Investigação em educação matemática:<br />

percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.<br />

HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo <strong>por</strong><br />

projetos <strong>de</strong> trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5 ed. Porto Alegre: Artes<br />

Médicas, 1998


JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. MAGNE, Bruno C. (trad.). Porto Alegre:<br />

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LÚDKE, Menga; ANDRE, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abor<strong>da</strong>gens qualitativas.<br />

São Paulo: EPU, 1986.<br />

LUNA, Sérgio V. <strong>de</strong>. Planejamento <strong>de</strong> Pesquisa: uma introdução. 1. ed. São Paulo: EDUC,<br />

1996.<br />

MALHEIROS, Ana P. dos S. Educação <strong>Matemática</strong> online: a elaboração <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>lagem. 2008. 187 f. Tese <strong>de</strong> Doutorado - Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Paulista Estadual, Instituto <strong>de</strong><br />

Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, 2008.<br />

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http://revistaescola.abril.com.br/ed_anteriores/0154.shtml. Acesso em: 18 jun. 2008<br />

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2002.<br />

MORAES, Silvia E. Interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e transversali<strong>da</strong><strong>de</strong> mediante projetos temáticos.<br />

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2005.<br />

MOREIRA, Marco A. Teorias <strong>de</strong> aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.<br />

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Estado <strong>de</strong> São Paulo: <strong>Matemática</strong>. São Paulo: SEE, 2008.

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