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Dom da Invisibilidade

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Capítulo 1<br />

Existe um milenar ditado latino que reza algo como “acreditei, por absurdo”. Ou seja, a velha<br />

espécie humana, que a ciência por vezes nos faz crer tenha nascido do caos e <strong>da</strong> entropia, é ela<br />

tão propensa a acreditar no extraordinário que por vezes chega a preferir o absurdo ao crível.<br />

Talvez fique mais claro em outras palavras: como nós, que derivamos do caos (e isso provam-<br />

nos as mitologias to<strong>da</strong>s, de um jeito ou de outro, de forma que temos também um argumento<br />

para os luditas), poderíamos por um momento que seja duvi<strong>da</strong>r do absurdo, principalmente do<br />

mais agudo absurdo? Não o podemos. Se nossas entranhas são feitas de estrelas, como querem<br />

sábios e sacerdotes, e se também nos astros está nosso destino – eis as vozes dos sonhadores e<br />

dos supersticiosos soando –, pouco nos resta além de <strong>da</strong>r crédito a todo o tipo de<br />

acontecimento fantástico que julgamos presenciar ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O fato de explicarmos um punhado de fenômenos <strong>da</strong> natureza os torna menos singulares?<br />

Uma tempestade que varre a ci<strong>da</strong>de a partir do céu há quinze minutos azul, na tarde ardente de<br />

verão, é mais crível que um punhado de átomos ser capaz de dizimar 226 mil humanos? Mas a<br />

ambos fenômenos os explicamos, embora muitos de nós prefiram não ouvir as explicações,<br />

atendo-se aos fatos de que chuvas são tão corriqueiras quanto nascer ou morrer e que, vista de<br />

hoje, Hiroshima nucleariza<strong>da</strong> é como um filme de horror, uma len<strong>da</strong>, um conto do passado –<br />

e nos dias anteriores à nossa existência quase tudo pode ter acontecido e ter sido, à sua<br />

maneira, também corriqueiro, mesmo que incompreensivelmente corriqueiro. Nós tampouco<br />

<strong>da</strong>mos valor, além do sentimental, às histórias que as crianças nos contam ao voltar de um dia<br />

cheio de aventuras (embora simplesmente tenham apanhado um ônibus até o centro e de lá<br />

retornado após horas tantas). Coloque-se em cena: se uma criança o abor<strong>da</strong> no solitário happy-<br />

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