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Dom da Invisibilidade

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Está um calor dos infernos aqui. Terão algum tipo de arrefecimento na cozinha? Íamos quase a<br />

considerar que a resposta viria com o radialista, quando <strong>da</strong>li retornar – se vem pingando, o<br />

quente de lá é maior que o de cá. Mas Dei pinga o tempo todo. A informação seria inútil.<br />

Estamos a ficar ansiosos, é o que parece? Sim. Não, não, é só o vinho, o abafado, o fato de<br />

estarmos quase cansados de não saber o que ocorre com Giuseppe, ele que vimos correndo<br />

seminu para a aveni<strong>da</strong> e dela sumindo nos escuros <strong>da</strong> noite, quando, em ver<strong>da</strong>de, deveria estar<br />

convalescendo no hospital ou, se morto, estar quieto na laje do morgue. Bem confuso tudo<br />

isso. E aí vem, com um punhado de tampas de garrafa chacoalhando nas mãozinhas bem<br />

desenha<strong>da</strong>s, a lin<strong>da</strong> Enei<strong>da</strong>. Entra por sob as mesas, passa embaixo de cadeiras, vem<br />

vasculhando o chão e recuperando as tampinhas de metal, as balançando como chocalho ou<br />

pandeiro, e cantando uma musiquinha infantil – mas o que ela canta não combina em na<strong>da</strong><br />

com a melodia:<br />

Pois se há um jeito<br />

Se há um jeito<br />

Haverá de surgir<br />

Há de surgir<br />

Bem no formato<br />

No formato<br />

Mais que perfeito<br />

Escutou também? Que raios de canção infantil é essa? Deve lá de ser coisa de Piaget e seus<br />

tijolos, por certo, que isso em nossos ouvidos quase nos faz corar – se fosse possível hoje em<br />

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