15.04.2013 Views

Dom da Invisibilidade

Dom da Invisibilidade

Dom da Invisibilidade

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

essa intimi<strong>da</strong>de que é a única ver<strong>da</strong>deira e que se não faz parte <strong>da</strong>s tramas do Amor e do<br />

demônio, pensam que não faz?, se não faz é porque então não se trata do ver<strong>da</strong>deiro Amor<br />

nem do ver<strong>da</strong>deiro demônio, e que os deuses nos livrem de tal proximi<strong>da</strong>de dessa mulher<br />

porque a qualquer um se põe o risco de entrar em tal aventura e terminar os dias como<br />

Francisco, vigiando os passos <strong>da</strong> núbia como valente namorado cornudo que o sabe a se fartar<br />

e brinca de traído vampiro, tirando <strong>da</strong> bela a energia <strong>da</strong> raiva e de uns prazeres secretos de a<br />

maldizer, de a amar assim avesso e, creiam-me, de fazer sofrer o filho que considera Giuseppe,<br />

de torná-lo infeliz pela perfídia cometi<strong>da</strong> contra o pai, como se pai fora Francisco, ao roubar-<br />

lhe a ama<strong>da</strong>. Eu digo que se ca<strong>da</strong> homem tem um destino na vi<strong>da</strong>, embora esse destino mude<br />

de tempos a tempos, o de Francisco é bicar com um graveto negro a feri<strong>da</strong> de Giuseppe a ca<strong>da</strong><br />

romper <strong>da</strong> aurora, como na parábola do ladrão do fogo, para que, sem opção, o filho a ele<br />

venha ao colo, arrasado e constrito, e é assim como ca<strong>da</strong> um de nós sabe fazer quando<br />

convém, sem dúvi<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> qual a sua maneira, e ain<strong>da</strong> pior os que têm as melhores maneiras,<br />

nesses a ação não se mostra e ganham eles a vantagem de sequer acusados do mal praticado<br />

<strong>da</strong>do a conformação diáfana do feito ou sua total inexistência a olhos nus, sendo então mal que<br />

corrói moléculas subterrâneas provando o tempo todo que nunca, jamais, o fez.”<br />

Um garçom magriço, moleque de seus dezessete ou dezoito que fugiu ao natural destino <strong>da</strong><br />

enxa<strong>da</strong>, se aproxima com mensagem de teor esquisito que o faz corar por pudor ou correria.<br />

Chega à mesa com algum alvoroço contido que cala Onofre Dei. Mas o garoto nem chega a<br />

abrir a boca – é asperamente enxotado pela maître Francisco.<br />

“Vai, vai, tem muita mesa”, Francisco ralha em voz baixa e senta à cadeira há pouco ocupa<strong>da</strong><br />

pela aparição de Giuseppe. Toma um gole de vinho do copo servido ao italiano:<br />

52

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!