15.04.2013 Views

Dom da Invisibilidade

Dom da Invisibilidade

Dom da Invisibilidade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ela agora pode ver Granel, que a chamou e teve sua voz melosa engolfa<strong>da</strong> pela cacofonia de<br />

ruídos <strong>da</strong> chuva e <strong>da</strong> música, sentado ao lado de Esplendorosa.<br />

“Viu, titio?”, Esplendorosa diz fitando Enei<strong>da</strong> e em segui<strong>da</strong> seu companheiro de mesa. “Sua<br />

bonequinha não foi para a chuva!”<br />

Batendo com as polpas dos dedos ridículas micropalmas silenciosas, Granel sorri para Enei<strong>da</strong> e<br />

exclama em voz alta, afeta<strong>da</strong>, “vem para o pai, que-e-ri<strong>da</strong>!”, abrindo os braços. Enei<strong>da</strong> acelera<br />

o galopinho e se joga no abraço para, em segui<strong>da</strong>, se desvencilhar, acertar a barra do vestido,<br />

puxando-a para baixo, e sentar ao lado do casal. Os três são então tomados pelo silêncio. Um<br />

silêncio grave, profundo.<br />

Nem bem dez minutos se passam e a chuva cessa, deixando apenas gotas ocasionais de uma ou<br />

outra nuvem retar<strong>da</strong>tária.<br />

No outro extremo do bar o cavalheiro do qual nos ocupávamos acaba de abandonar a cozinha.<br />

Seu nome, o rapaz e a mulher que o escoltam até o largo <strong>da</strong>s mesas o repetem algumas vezes, é<br />

Giuseppe. O duplo-p é por nosso risco, mas o nome sem dúvi<strong>da</strong> é esse.<br />

Pois, chamemo-lo assim, Giuseppe sai <strong>da</strong> cozinha quando a chuva se vai, e não há motivos<br />

para deixar de supor que o faz justamente pela estiagem: nem tão interessado no relógio<br />

quanto antes ele parece. Poderia estar consultando as horas tão intensamente por esperar a<br />

chuva, por pressenti-la ou desejá-la? A alguns pássaros é <strong>da</strong><strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de intuir o fim <strong>da</strong>s<br />

tempestades – saem de seus esconderijos quando a água ain<strong>da</strong> cai, quase no instante de seu<br />

fim, de forma que há quem pense eles terem a capaci<strong>da</strong>de de deter chuvas. Giuseppe, que na<strong>da</strong><br />

tem de ave, segura agora um CD subtraído do paletó largado onde antes tomava chope. Seus<br />

olhos, límpidos e tranquilos, confirmam que a ansie<strong>da</strong>de se foi, e é assim envolto em um ar de<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!