Boletim do Búfalo - nº 2 - jul/2005 - Associação Brasileira de ...
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Utilização <strong>do</strong> leite <strong>de</strong> búfala na elaboração <strong>de</strong><br />
iogurtes e leites fermenta<strong>do</strong>s<br />
Otaviano Carneiro Cunha Neto – FZEA-USP<br />
Aprodução <strong>de</strong> iogurte se constitui<br />
uma excelente alternativa para o<br />
aproveitamento <strong>do</strong> leite <strong>de</strong> búfala,<br />
embora possam ocorrer problemas na aceitação<br />
<strong>do</strong> produto <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao eleva<strong>do</strong> teor<br />
<strong>de</strong> gordura no leite original. O leite bubalino<br />
e seus <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s apresentam teores mais<br />
eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> seus constituintes nutricionais,<br />
conferem um maior rendimento, e po<strong>de</strong>m<br />
constituir uma fonte nutricional alternativa<br />
e a<strong>de</strong>quada na dieta humana para a população<br />
<strong>Brasileira</strong>.<br />
O eleva<strong>do</strong> teor <strong>de</strong> gordura e proteína torna<br />
o leite <strong>de</strong> búfala valioso para a produção<br />
<strong>de</strong> produtos lácteos, tais como; queijos, leites<br />
fermenta<strong>do</strong>s e iogurte, entre outros. Estes<br />
componentes conferem um rendimento<br />
industrial superior aos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s lácteos <strong>de</strong><br />
leite <strong>de</strong> bubalino, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com<br />
os <strong>de</strong> outras espécies <strong>de</strong> mamíferos.<br />
A palavra yogurt é <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> jugurt, termo<br />
originário da Turquia que se consagrou<br />
universalmente para <strong>de</strong>nominar o produto<br />
obti<strong>do</strong> a partir da fermentação <strong>do</strong> leite pelos<br />
microrganismos Lactobacillus <strong>de</strong>lbrueckii<br />
subesp. bulgaricus e Streptococcus salivarius<br />
subesp. Thermophilus.<br />
O iogurte é o principal produto fermenta<strong>do</strong><br />
a partir <strong>do</strong> leite in natura, sen<strong>do</strong> que<br />
existem diversos tipos <strong>de</strong> leites fermenta<strong>do</strong>s<br />
elabora<strong>do</strong>s com leite <strong>de</strong> búfala, usualmente<br />
produtos regionais, cujas características são<br />
ajustadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as preferências<br />
locais.Na Bulgária, utiliza-se o leite bubalino<br />
mistura<strong>do</strong> ao bovino para a produção <strong>de</strong> um<br />
tipo especial <strong>de</strong> leite áci<strong>do</strong>, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />
kúselo mleko, elabora<strong>do</strong> com L. bulgaricus,<br />
similarmente ao iogurte <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> búfala<br />
produzi<strong>do</strong> na Itália. O natural yoch, bogurar<br />
<strong>do</strong>hi, ou susu madu klenceng, são <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s<br />
lácteos produzi<strong>do</strong>s em Bangla<strong>de</strong>sh, Ilhas<br />
Fiji, e In<strong>do</strong>nésia. Na Índia, é elabora<strong>do</strong> um<br />
produto com características semelhantes ao<br />
iogurte, conheci<strong>do</strong> por dahi, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser<br />
utiliza<strong>do</strong> como matéria-prima o leite <strong>de</strong> vaca,<br />
<strong>de</strong> búfala ou o produto da mistura <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is.<br />
A elaboração <strong>de</strong> produtos fermenta<strong>do</strong>s com<br />
leite bubalino é particularmente elevada na<br />
Índia, o qual <strong>de</strong>stina cerca <strong>de</strong> 7% <strong>do</strong> leite<br />
bubalino à produção <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> leite fermenta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> khoa, cujas características<br />
<strong>de</strong> textura <strong>de</strong>correm <strong>do</strong> alto teor <strong>de</strong><br />
gordura (7-8%) no produto, elabora<strong>do</strong> com<br />
leite integral.<br />
40<br />
O iogurte po<strong>de</strong> ser classifica<strong>do</strong> quanto<br />
ao seu teor <strong>de</strong> gordura em: iogurte com creme<br />
(mínimo <strong>de</strong> 6,0%), iogurte integral (mínimo<br />
<strong>de</strong> 3,0%), iogurte parcialmente <strong>de</strong>snata<strong>do</strong><br />
(entre 0,5% e 2,9%), e iogurte <strong>de</strong>snata<strong>do</strong><br />
(máximo <strong>de</strong> 0,5%). Todavia, tanto no<br />
Brasil, como no Mun<strong>do</strong>, a utilização <strong>do</strong> leite<br />
bubalino para a produção industrial <strong>de</strong><br />
iogurtes tem si<strong>do</strong> pouco relatada na literatura.<br />
Sabe-se que a utilização <strong>do</strong> leite<br />
bubalino, incorpora<strong>do</strong> ao leite bovino, para<br />
a produção <strong>de</strong> iogurte, incrementa o sabor<br />
e a consistência <strong>do</strong> produto <strong>do</strong> produto final.<br />
Sugere-se que seja empregada a padronização<br />
<strong>do</strong> teor <strong>de</strong> gordura <strong>do</strong> leite bubalino<br />
para uma melhor assimilação <strong>de</strong> seus nutrientes,<br />
haven<strong>do</strong> relatos <strong>de</strong> que o iogurte <strong>de</strong><br />
leite bubalino apresenta melhor aspecto<br />
quan<strong>do</strong> padroniza<strong>do</strong> o ESD e a gordura, a<br />
10% e 3%,respectivamente.<br />
Pesquisas têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que o iogurte<br />
<strong>de</strong> leite <strong>de</strong> búfala, principalmente o<br />
produto conten<strong>do</strong> 3,0% <strong>de</strong> gordura, apresenta<br />
boa estabilida<strong>de</strong> ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> 30 dias, não necessitan<strong>do</strong><br />
na sua elaboração, <strong>do</strong> fortalecimento<br />
adicional <strong>do</strong> ESD, o que representa<br />
a obtenção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>do</strong> leite bubalino<br />
rentável <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista econômico. Outra<br />
característica importante e peculiar ao<br />
iogurte bubalino, é que o produto final apresenta<br />
um corpo e uma textura mais firme<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com o iogurte elabora<strong>do</strong><br />
totalmente com leite bovino .<br />
Outra característica importante no consumo<br />
<strong>do</strong> iogurte <strong>de</strong> leite integral <strong>de</strong> búfala<br />
é que este po<strong>de</strong> ser adiciona<strong>do</strong> a frutas regionais,<br />
<strong>de</strong>ssa forma substituin<strong>do</strong> uma refeição<br />
<strong>de</strong> crianças em ida<strong>de</strong> escolar, por<br />
apresentar um sabor agradável e com quantida<strong>de</strong><br />
suficiente <strong>de</strong> calorias necessárias a<br />
alimentação das crianças.<br />
Os níveis <strong>de</strong> proteína, gordura, e cálcio<br />
<strong>do</strong> iogurte elabora<strong>do</strong> com leite bubalino são<br />
maiores <strong>do</strong> que os níveis encontra<strong>do</strong>s no<br />
iogurte proveniente <strong>do</strong> leite bovino, respectivamente,<br />
4,5% e 3,8%, 7,1% e 3,8%,<br />
1,44% e 1,29%. A população microbiana <strong>de</strong><br />
Streptococcus salivarius ssp. thermophilus<br />
e Lactobacillus <strong>de</strong>lbruekii ssp. bulgaricus,<br />
e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acetal<strong>de</strong>í<strong>do</strong>, principal<br />
substância que confere o sabor ao iogurte<br />
tradicional não são alteradas com a adição<br />
<strong>de</strong> leite <strong>de</strong> búfala ao leite bovino na elaboração<br />
<strong>do</strong> iogurte.<br />
O rendimento é uma característica importante<br />
nos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s com<br />
leite bubalino, haven<strong>do</strong> em relação ao iogurte,<br />
uma economia consi<strong>de</strong>rável quan<strong>do</strong><br />
da sua utilização na elaboração <strong>do</strong> iogurte<br />
tradicional. O produto não necessita <strong>de</strong> leite<br />
em pó <strong>de</strong>snata<strong>do</strong>, ou mesmo <strong>de</strong> substâncias<br />
<strong>de</strong> ação espessantes, rotinas<br />
comumente usadas na elaboração <strong>de</strong> iogurte<br />
com leite bovino com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover<br />
uma maior viscosida<strong>de</strong> e textura.<br />
No Brasil, o consumo interno <strong>de</strong> iogurte<br />
aumentou, principalmente no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
1994 a 1997, quan<strong>do</strong> variou <strong>de</strong> 1,4 para 3,0<br />
kg/habitante/ano, não haven<strong>do</strong> estatísticas<br />
<strong>de</strong> produção e consumo <strong>de</strong> iogurtes exclusivamente<br />
<strong>de</strong> leite <strong>de</strong> búfala.<br />
Fluxograma <strong>de</strong> Fabricação <strong>de</strong> iogurte.<br />
Con<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Utilização Artesanal <strong>de</strong><br />
Leite <strong>de</strong> Búfala” - Manual Técnico <strong>nº</strong> 3 –<br />
ITAL – Izildinha Moreno<br />
1 - Adicionar ou não leite em pó até 25%<br />
visan<strong>do</strong> obtenção <strong>de</strong> coágulo mais<br />
firme.<br />
2 - Aquecer entre 85-95 C por 15 minutos,<br />
tempo suficiente para <strong>de</strong>snaturar 80%<br />
das proteínas <strong>do</strong> soro, favorecen<strong>do</strong><br />
aumento <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> água no soro<br />
e <strong>de</strong>struir substâncias inibi<strong>do</strong>ras <strong>de</strong><br />
crescimento bacteriano presentes no<br />
leite cru (como as aglutininas).<br />
3 - Resfriar em água corrente até 45 C<br />
4 - Adicionar fermento lático rapidamente<br />
e <strong>de</strong> forma a evitar contaminações, nas<br />
base <strong>de</strong> 1 a 3% (maiores quantida<strong>de</strong>s<br />
reduzem o tempo <strong>de</strong> coagulação), agitan<strong>do</strong><br />
até homogeneizar a cultura.<br />
5 - Incubar à temperatura <strong>de</strong> 42-45 C até<br />
coagular<br />
6 - Resfriar logo após e manter a temperatura<br />
abaixo <strong>de</strong> 10 C, evitan<strong>do</strong> que o produto<br />
se torne excessivamente áci<strong>do</strong> e<br />
que haja crescimento microbiano. (O <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>z no leite <strong>de</strong><br />
búfalas é menor que o <strong>de</strong> leite bovino, o<br />
que permite uma maior conservação em<br />
temperatura ambiente. Em temperaturas<br />
menores (3-7 C) o produto po<strong>de</strong> ser conserva<strong>do</strong><br />
sem perda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
O fermento lático: usualmente composto<br />
em mistura <strong>de</strong> Streptococcus<br />
thermophilus e Lactobacilus bulgaricus<br />
(que <strong>de</strong>vem ser usa<strong>do</strong>s sempre na mesma<br />
proporção).