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René Dotti - Instituto Ciência e Fé

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<strong>René</strong> <strong>Dotti</strong><br />

<strong>René</strong>, Secretário de<br />

Estado da Cultura,<br />

com Ary Fontoura,<br />

em 1987.<br />

abria espaço para que os alunos expusessem os objetivos<br />

de suas vidas e suas ligações com a causa do Direito,<br />

sobre como queriam construir o futuro...<br />

Mas, de novo, o teatro é chamado “à lide”, para identificar<br />

um dos momentos capitais da carreira do futuro<br />

causídico de oratória refinada, professor e jurista: foi<br />

com a vinda do Rio de Janeiro de um professor do antigo<br />

Serviço Nacional de Teatro (SNT), 1953, para ensinar<br />

dicção aos atores de teatro de Curitiba que se revela<br />

nosso orador. Algo parecido com que ocorreu a Demóstenes,<br />

excluídas as pedras na boca para os exercícios de<br />

oratória...<br />

O fonoaudiólogo fez o “milagre” de eliminar certos<br />

momentos de gagueira de <strong>Dotti</strong>. E assim possibilitou<br />

a explosão de talentos do ator – e orador – até então<br />

contidos.<br />

A introdução no mundo real do Direito e da Justiça<br />

ocorre em 1958, levado que foi pelo criminalista Élio<br />

Narezi, que o indica como estagiário no Ministério Público<br />

estadual. Depois, entra para a grande “universidade”<br />

da prática, como estagiário no escritório do criminalista<br />

Salvador de Maio, um nome indissociável da história<br />

da Tribuna do Júri no Paraná. Ao lado de Salvador, em<br />

1959, insere-se num dos grandes momentos de Curitiba,<br />

ao defender o “Turco”, na antológica “Guerra do<br />

Pente”, cujo epicentro foi a Praça Tiradentes; foi uma<br />

revolta de massa, com direito a toda sorte de desordem,<br />

intervenção policial pesada, tanques do exército, repercussão<br />

nacional. Tudo a pretexto de punir o comerciante<br />

árabe da Praça Tiradentes que se negara a entregar a<br />

um cliente nota fiscal válida para promoção “Seu talão<br />

vale um milhão” realizada pela Secretaria Estadual da<br />

Fazenda. No fundo, o que se viveu foi uma guerra civil<br />

em miniatura.<br />

<strong>Dotti</strong> e seu mestre Salvador de Maio conseguiram o<br />

que parecia impossível diante do clamor público por punição<br />

gerado pelos cidadãos revoltados: obtiveram da<br />

Justiça direito à fiança para o comerciante libanês.<br />

O cenário dessa entrada de <strong>Dotti</strong> no imenso proscênio<br />

do Direito foi o edifício Azulay, na Rua Dr.Muricy, esquina<br />

de Rua XV de Novembro.<br />

O moço maravilhou-se, já nos primeiro momento –<br />

não com o cenário físico do escritório de Salvador, que<br />

era austero – com as lições recebidas e também com as<br />

VOZES DO PARANÁ 2<br />

companhias de outros causídicos de grande porte, que<br />

já formavam, ao lado do criminalista de Maio, o “creme”<br />

dos advogados curitibanos. Eram eles vizinhos e parceiros<br />

no mesmo edifício – Élio Narézi, Augusto Prolik, Flávio<br />

Leite D’Avila.<br />

Curiosamente, na Faculdade de Direito da UFPR <strong>Dotti</strong><br />

escolhera o Direito Civil como “primeira opção”. E<br />

em 1958, produziria tese mostrando seu interesse pelo<br />

cível: “A responsabilidade civil por atos praticados em<br />

estado de necessidade”. Em síntese, a tese sugeria a<br />

necessidade de existir seguro obrigatório para automóveis,<br />

diante de situações em que se poderiam reclamar<br />

indenizações materiais. Assim ganhou o concurso de<br />

teses da escola.<br />

Começa a defesa dos perseguidos<br />

Em 1961, no mesmo Edifício Azulay, ficando próximo<br />

ao mestre Salvador de Maio e aos outros advogados<br />

– Prolik, Narezi, D’Ávila – estabelece-se sozinho, numa<br />

sala pequena, acanhada, banheiro no corredor. A sala<br />

de espera não existia, não havia espaço. Os consulentes<br />

esperavam sentados no corredor, duas cadeiras. Uma<br />

porta vaivém (ou de saloon de faroeste) era a separação.<br />

Nem sonhar com recepcionista.<br />

Ali, dois dias depois do início do movimento militar<br />

que levou Castello Branco ao poder – 3 de abril de 1964<br />

– <strong>Dotti</strong> iniciaria o sacerdócio da defesa dos perseguidos<br />

políticos, dos acusados de “subversão” e de infração a<br />

uma lei draconiana, a de Segurança Nacional, utilizada<br />

e manipulada para punições a mancheias dos que simplesmente<br />

se opusessem ao regime.<br />

A peregrinação de <strong>Dotti</strong> em defesa de jornalistas, escritores,<br />

sindicalistas, professores, militares, estudantes,<br />

começaria em 1964, indo da Auditoria Militar da<br />

5ª Região Militar, em Curitiba, a escalões superiores,<br />

como o STM. E só terminaria em 1981 quando, alinhado<br />

a outros campeões dos direitos civis – Heleno Fragoso,<br />

José Carlos Dias e Marcelo Cerqueira, por exemplo –<br />

consegue a absolvição dos sete estudantes catarinenses<br />

identificados entre a massa de universitários que em<br />

Florianópolis, com vaias e xingamentos, provocaram a<br />

ira do presidente João Figueiredo e comitiva.<br />

Lembrando: em 1979 o presidente da República fora<br />

à capital catarinense em visita oficial. Hospedado na<br />

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