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<strong>René</strong> <strong>Dotti</strong><br />
entendido pelo leitor”, conforme a máxima de Reinaldo<br />
Jardim.<br />
A redação ensinou <strong>Dotti</strong> a computar informação com<br />
a rapidez dos bons repórteres, a aguçar seu espírito libertário,<br />
a ampliar a arte do questionamento. Tudo isso<br />
ajudaria a alentar a bagagem do futuro causídico que<br />
nele estava em gestação.<br />
Ficou no Diário do Paraná até 1961, quando começou<br />
a advogar autonomamente. Formar-se em direito era então<br />
um verdadeiro prêmio, pois raros eram os cursos, e<br />
todos de boa para alta qualidade. Em seguida, em 1962,<br />
ingressou na carreira do magistério na UFPR. O primeiro<br />
concurso, o de ingresso formal, é em 1966; seguiramse<br />
outros, em 70, 76 e 81 (titular, com nota 9,90).<br />
Hoje aposentado da Universidade, <strong>Dotti</strong> é um lamento<br />
só: acha que a ditadura conseguiu o que queria, fragilizou<br />
o magistério superior, retirou-lhe a importância ao<br />
acabar com as faculdades, substituindo as congregações<br />
pelos departamentos:<br />
– O que temos hoje é um faz de conta que ensino, faz<br />
de conta que aprendo... – desabafa <strong>Dotti</strong>.<br />
<strong>René</strong> imbui-se de uma espécie de ira santa, quando<br />
aborda o fim da cátedra, instituição, e a cujo acesso<br />
só se chegava mediante concursos difíceis. A cátedra<br />
conferia prestígio político e social a seus titulares, e às<br />
universidades, a oportunidade de exporem-se por meio<br />
desses notáveis, uma elite.<br />
A defesa de uma tese era acontecimento na cidade.<br />
Com o fim da cátedra, “marginalizou-se a nobreza da<br />
categoria do professor”.<br />
“Com o fim das congregações e das faculdades, dividese<br />
para reinar por meio de departamentos, uma violência<br />
que amesquinha o valor do professor”, opina.<br />
Nessa espécie de catarse, <strong>Dotti</strong> deixa registrada uma<br />
pergunta capital: “Qual o papel que a universidade representa<br />
hoje, na formulação das grandes linhas do pensamento<br />
e ação que devem refletir na sociedade? Onde<br />
encontrar a universidade presente nas fundamentais<br />
questões contemporâneas, como o planejamento das<br />
cidades, a segurança pública, a educação...”, questiona,<br />
Nota final no<br />
concurso para<br />
professor titular –<br />
9,9.<br />
Com Eduardo Rocha<br />
Virmond no jantar<br />
de ex-jornalistas<br />
do Diário do Paraná,<br />
em 2005.<br />
em tom de amargura e sapiência de scholar que é o humanista<br />
por excelência.<br />
As influências e os grandes do direito<br />
No tom de voz pausada, faz penetrante e rápida análise<br />
dos temas que aborda; meticuloso, manuseia com<br />
destreza ampla documentação que, de forma quase instantânea<br />
e discretamente sua assessora Cláudia Penovich<br />
lhe traz, como que para confirmar ou acentuar assertivas<br />
do mestre. São documentos que saem de arquivos<br />
de aço, da biblioteca, dos arquivos do PC ou das páginas<br />
da Internet, ou chegam em cópias xérox que serão na<br />
hora reproduzidas. Ou ainda em originais. Como que<br />
chancelando a exposição do jurisconsulto.<br />
Quando fala da Academia Paranaense de Letras, de<br />
que é membro – e para cujas recentes posses de “imortais”<br />
proferiu penetrantes saudações, como nas de Oriovisto<br />
Guimarães e Belmiro Castor –, dá impressão de<br />
VOZES DO PARANÁ 2<br />
fazer uma genuflexão mental.<br />
Em seguida, puxa um assunto paralelo, o da posse de<br />
Getúlio Vargas na Academia Brasileira de Letras (ABL),<br />
um desses prêmios nunca justificados suficientemente,<br />
e com o qual a Casa de Machado de Assis bajulou o condotière<br />
de então. E entrega a seu interlocutor uma cópia<br />
do discurso de posse de Vargas (talvez escrito pelo intelectual<br />
Lourival Fontes, o homem do Departamento de<br />
Imprensa e Propaganda, DIP, o órgão federal encarregado<br />
de fazer censura aos meios de comunicação). O original<br />
foi por ele comprado num sebo carioca, onde jazia<br />
esquecido. Trata-se de apenas uma das preciosidades<br />
em forma de documentos que <strong>Dotti</strong> pode ir revelando,<br />
como o prestidigitador que mesmeriza o interlocutor<br />
curioso e ansioso por novidades.<br />
Lê muito, preferência para obras de Direito, em português,<br />
espanhol e italiano. A língua de Dante é o idioma<br />
que maneja com mais frequência, depois do nosso. Mas<br />
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