o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Desta forma, a <strong>mulher</strong> ideal seria aquela que se sujeitasse a servir de pa<strong>no</strong> de<br />
fundo na vida do homem. Deveria ser submissa, sem interferir na vida <strong>social</strong> e/ou<br />
política e ser discreta.<br />
O imaginário da felicidade conjugal, do lar perfeito demonstrado em Clara <strong>dos</strong><br />
Anjos, é um lar tranquilo, composto por filhos, um homem e uma <strong>mulher</strong> que se<br />
amassem, uni<strong>dos</strong> pelo carinho e pela compreensão. No entanto, não é este o cenário<br />
apresentado na obra quanto <strong>à</strong> vida, sobretudo das <strong>mulher</strong>es casadas. O casamento se<br />
mostra como uma armadilha imposta pela sociedade.<br />
Assim, o sistema patriarcal pode ser visto como um formato de pirâmide, onde<br />
<strong>no</strong> topo, está o homem em suas múltiplas funções: pai, marido, chefe, enfim. Dele se<br />
espera todas as iniciativas e nele se concentra todo o poder. A esposa e os filhos estão<br />
na base da pirâmide, obedecendo e servindo o topo. Para que esse sistema não se<br />
invertesse, foi negada <strong>à</strong> <strong>mulher</strong> a independência econômica.<br />
O homem em geral não pode entender que ela ganhe dinheiro como ele,<br />
porque sua independência econômica significa emancipação. Não tendo<br />
como manter-se, é obrigada a aceitar a idéia de que ele tem o direito natural<br />
de mandar e de ser obedecido [...] No texto de Lima Barreto, o homem<br />
achava-se ligado <strong>à</strong> coletividade como ser produtivo; a <strong>mulher</strong> permanecia<br />
improdutiva (VASCONCELOS, 1999, p. 98).<br />
É certo que, realmente, a <strong>mulher</strong> constituía família ao casar-se, mas mantinha-se<br />
na mesma situação de dependência. Antes do pai, e após contrair matrimônio, do<br />
marido. Sua vida, restrita ao ambiente doméstico, não corresponde <strong>à</strong>s suas expectativas.<br />
Com a condição de <strong>mulher</strong> presa ao lar, as <strong>mulher</strong>es casadas desse período,<br />
representadas na obra Clara <strong>dos</strong> Anjos, vêem seus sonhos desfeitos em relação ao<br />
casamento, uma vez que não desenvolvem maiores atividades, são restritas ao lar e <strong>à</strong>s<br />
amenidades domésticas bem como os filhos. Clara não possui vida <strong>social</strong>. Leia-se vida<br />
<strong>social</strong> do período citado que, em geral, era ir <strong>à</strong>s visitas, casas de moda, sessões<br />
cinematográficas. Ela possuía apenas dedicação aos trabalhos de agulha, trabalhos<br />
domésticos e cópias de letras e <strong>no</strong>tas de modinhas, o que servia apenas para manter as<br />
mãos ocupadas.<br />
Clara era “amorfa” e “pastosa”, como afirma o próprio Lima Barreto. Sua vida<br />
era de amenidades, de peque<strong>no</strong>s fatos. Idas <strong>à</strong> casa de Dona Margarida, para fazer<br />
trabalhos de agulha e retor<strong>no</strong> seguido para casa, local de seus sonhos com um amor<br />
impossível.<br />
O estudo não era o foco das <strong>mulher</strong>es, até porque algumas famílias nem o<br />
permitiam <strong>à</strong>s <strong>mulher</strong>es. E mesmo <strong>mulher</strong>es que tiveram contato com a educação, não<br />
era garantia que essas fizessem uso <strong>dos</strong> ensi<strong>no</strong>s para sua vida cotidiana, ou até como<br />
10