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o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos

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Não se pode afirmar que para o homem a necessidade do casamento existisse,<br />

uma vez que a esses valia o fato de serem bem sucedi<strong>dos</strong>, <strong>no</strong> sentido de manter o seu<br />

sustento. Para as <strong>mulher</strong>es o casamento era necessário, já que não possuíam renda e não<br />

movimentavam a eco<strong>no</strong>mia com o trabalho pago, mas sim com o trabalho doméstico<br />

não remunerado, as <strong>mulher</strong>es representavam despesas a mais na casa onde moravam,<br />

seja na casa <strong>dos</strong> pais, parentes próximos, ou até na casa de tutores.<br />

Tais despesas tornariam-se um problema ainda maior para a família de classe<br />

baixa, sobretudo para a família negra, tendo em vista que a abolição da escravidão<br />

ocorreu apenas em 13 de maio de 1888. Sobre a situação da <strong>mulher</strong> negra, Vasconcelos<br />

afirma o seguinte:<br />

Se, para a <strong>mulher</strong> branca e de classe <strong>social</strong> mais elevada, as núpcias eram de<br />

suma importância, para as de cor e de classe <strong>social</strong> mais modesta eram<br />

indispensáveis, pois, existindo poucas oportunidades <strong>no</strong> mercado de trabalho,<br />

o enlace era-lhes proposto como o único meio de viver com respeitabilidade.<br />

Quando não se casavam, suas oportunidades encontravam-se reduzidas. As<br />

mais ricas poderiam viver na dependência econômica <strong>dos</strong> pais, de um irmão<br />

ou de algum parente do sexo masculi<strong>no</strong>, como agregadas. As mais pobres,<br />

geralmente de cor, não tendo a quem recorrer e quase sem possibilidades de<br />

desenvolver uma atividade remunerada, não raro, eram obrigadas a exercer a<br />

mais velha das “profissões”, pois “seu único bem era seu próprio corpo”.<br />

Aquelas das classes carentes viviam me<strong>no</strong>s protegidas e sujeitas <strong>à</strong> exploração<br />

sexual. Além do mais, era comum na época o pensamento de que a negra<br />

tinha por desti<strong>no</strong> a prostituição. Não podemos <strong>no</strong>s esquecer de que o regime<br />

escravocrata havia terminado há apenas alguns a<strong>no</strong>s e a ideologia ditava que<br />

a <strong>mulher</strong> branca era a esposa imaculada, e a negra era a amante, a que<br />

proporcionava os prazeres do sexo (VASCONCELOS, 1999, p. 80).<br />

Para garantir que a possibilidade do casamento fosse balizada, as famílias<br />

velavam pela guarda de suas donzelas. Até porque, nestes casos, a honra delas estava na<br />

garantia de que seus hímens estariam intactos. Assim, caso não fossem virgens, a<br />

possibilidade de um casamento que assegurasse a sua respeitabilidade era praticamente<br />

nula.<br />

Para assegurar que a filha continuasse virgem, não fosse falada pela sociedade<br />

local e assim assegurasse algum casamento, Joaquim e Engrácia, pais de Clara, a<br />

mantinham em casa e sob vigilância velada. Ela dificilmente saía de casa, a não ser para<br />

ir bem perto, <strong>à</strong> casa de Dona Margarida, aprender a bordar e a costurar, ou com esta ir<br />

ao cinema e <strong>à</strong>s compras de fazendas e calçado. A casa dessa senhora ficava a quatro<br />

passos de distância da do carteiro. Apesar de ser uso, <strong>no</strong>s subúrbios, irem as senhoras e<br />

moças <strong>à</strong>s vendas fazer compras, Dona Engrácia, sua mãe, nunca consentiu que ela o<br />

fizesse, embora, de sua casa se avistasse tudo o que se passava, <strong>no</strong> armazém do “Seu”<br />

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