o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Daí, a importância de se analisar o papel da <strong>mulher</strong> <strong>no</strong> <strong>romance</strong> Clara <strong>dos</strong><br />
Anjos, pois encontramos na protagonista características psíquicas e sociais que<br />
contribuem para que a personagem seja retratada da forma que é. Uma vez que Clara<br />
mostra-se movida por sentimentalismos, sonhos, suspiros e modinhas apaixonadas.<br />
Passiva, dócil, amável e extremamente i<strong>no</strong>cente, acreditando na força do amor,<br />
sobretudo <strong>dos</strong> amores impossíveis, como o suposto amor que sentiria por ela Cassí<br />
Jones, é que a trama mostra como Clara era despreparada para o mundo. A super-<br />
proteção <strong>dos</strong> pais, que deram conta apenas de prendê-la em casa, evitar contatos na rua,<br />
isolando-a do mundo exter<strong>no</strong> e real, não foi capaz de proteger a filha das estratégias de<br />
sedução do ardiloso Cassí.<br />
Qualquer homem sagaz e com pouco caráter poderia seduzir a romântica Clara.<br />
Cassí, um perito na sedução de moças pobres, negras e sem instrução, conseguiu<br />
facilmente perpassar as fracas barreiras que separavam Clara das maldades do mundo.<br />
Clara não possuía instrução suficiente para ter senso crítico sobre a sua própria<br />
realidade, e foi criando para si um mundo pessoal, só seu. Ela não enxerga o erotismo<br />
que a cerca, não percebe que por ser uma <strong>mulher</strong> mulata bonita e i<strong>no</strong>cente, desperta<br />
desejos.<br />
Clara transgredi as regras sociais quando se apaixona por Cassí, e transgride<br />
<strong>no</strong>vamente quando deixa de ser virgem, já que para a época, este seria um pré-requisito<br />
essencial para ser uma moça respeitada e conseguir um bom casamento. Do contrário,<br />
não sendo mais donzela, ela seria uma jovem desonrada, já que a honra, neste caso,<br />
estaria condicionado ao hímen e não <strong>à</strong>s suas atitudes morais.<br />
A <strong>mulher</strong> pobre, desonrada, não tem alternativa a não ser a de se lançar <strong>no</strong><br />
mundo da degradação. Alice, personagem secundária citada como exemplo <strong>no</strong> <strong>romance</strong>,<br />
encarna o protótipo da moça pobre, seduzida e abandonada. “Rolou de mão em mão e<br />
só encontrou homens que queriam explorar o seu corpo”. Sua mãe, ao contrário de<br />
Engrácia, mãe de Clara, a adverte sobre as intenções masculinas. Relembra Alice: “Bem<br />
me dizia minha mãe: toma cuidado, minha filha, toma cuidado. Esses homens só<br />
querem <strong>no</strong>sso corpo por segun<strong>dos</strong>, depois vão-se e <strong>no</strong>s deixam um filho <strong>no</strong>s quartos,<br />
quando não <strong>no</strong>s roubam como fez seu pai comigo...” (LIMA BARRETO, 1994, p. 207).<br />
A mãe de Alice a advertia, pois ao contrário de Engrácia, mãe de Clara, sofreu na pele<br />
as amarguras de uma <strong>mulher</strong> abandonada <strong>à</strong> própria sorte. Porém os aconselhamentos da<br />
14