15.04.2013 Views

o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos

o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos

o lugar social imposto à mulher no romance clara dos anjos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Já as <strong>mulher</strong>es não adotavam essa postura. Normalmente, pouco saíam de casa e<br />

quando o faziam, eram acompanhadas, para desti<strong>no</strong>s certos, como a venda, o cinema, o<br />

comércio, e desses endereços direto para seus respectivos lares. A exceção é Dona<br />

Margarida, que viúva, fazia trabalhos manuais para o sustento seu e de seu filho<br />

peque<strong>no</strong>.<br />

Por ser cerceada em sua liberdade, a <strong>mulher</strong> sonhava com o casamento para<br />

poder ser mais “livre”. Esta liberdade restringia-se somente <strong>à</strong>s decisões domésticas, já<br />

que na casa <strong>dos</strong> pais tais decisões como: o que comprar <strong>no</strong> armazém, servir a mesa e a<br />

cor das cortinas era da mãe.<br />

A vida da <strong>mulher</strong> vai resumindo-se em despedir-se do marido pela manhã,<br />

cuidar da casa durante o dia e esperar seu regresso, <strong>à</strong> <strong>no</strong>ite. Para Simone de<br />

Beauvoir, a vida da <strong>mulher</strong> depois de casada está definitivamente acabada<br />

(BEAUVOIR, apud. VASCONCELOS, 1999, p. 97).<br />

É o que ocorreu com Engrácia, mãe de Clara. “Recebeu boa instrução, para a sua<br />

condição e sexo: mas, logo que se casou - como em geral acontece com as <strong>no</strong>ssas<br />

moças-, tratou de esquecer o que tinha estudado” (LIMA BARRETO, 1994, p. 88). Às<br />

<strong>mulher</strong>es faltava auto<strong>no</strong>mia. Seu comportamento era <strong>imposto</strong> não somente pelo costume<br />

ou falta de opção, era também <strong>imposto</strong> pelo Código Civil.<br />

Segundo pesquisa de Vasconcelos, <strong>no</strong> Código Civil de 1922, artigo 233: o<br />

marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da<br />

<strong>mulher</strong>, <strong>no</strong> interesse comum do casal e <strong>dos</strong> filhos. Já <strong>no</strong> artigo 246 do referido Código<br />

lê-se: É atribuído <strong>à</strong> <strong>mulher</strong> o dever de obediência ao marido. (VASCONCELOS, pg. 28,<br />

1999).<br />

O Código Civil representa os pensamentos políticos e sociais da época, já que<br />

ele foi feito e é modificado para atender <strong>à</strong>s regras sociais e humanas de um povo. O<br />

Código Penal, de 1890, em nada se distancia <strong>dos</strong> artigos do Código Civil, não<br />

propiciando <strong>à</strong> <strong>mulher</strong> direito <strong>à</strong> defesa ou até mesmo escolha. No artigo 276, se lê:<br />

Institui: <strong>no</strong>s casos de defloramento, como <strong>no</strong>s de estupro de <strong>mulher</strong> honesta,<br />

a sentença que condenar o crimi<strong>no</strong>so o obrigará a dotar a ofendida.Parágrafo<br />

único. Não haverá <strong>lugar</strong> imposição de pena se seguir-se o casamento a<br />

aprazimento do representante legal da ofendida, ou do juiz <strong>dos</strong> órfãos, <strong>no</strong>s<br />

casos em que lhe compete dar ou suprir o consentimento, ou a aprazimento<br />

da ofendida, se for maior (In VASCONCELOS, 1999, p. 82).<br />

Para uma sociedade onde casar com o estuprador era um “mérito”, pode-se dizer<br />

que casar, independentemente do caráter do esposo, era realmente muito importante.<br />

Este fato é relatado em Clara <strong>dos</strong> Anjos, fato ocorrido com Ernestina, que após ser<br />

deflorada por Ataliba do Timbó, amigo de Cassí Jones, foi obrigado a casar-se com ela.<br />

4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!