1 PRESENÇA DO NATURALISMO FRANCÊS NO ... - Unesp
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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
há acidentes nem anomalias no universo: tudo acontece por uma lei e tudo atesta uma<br />
causalidade”, foi retirada do livro O Crime e a Loucura, do psiquiatra inglês Henry Maudsley<br />
(1835-1918). Essa citação deixa clara a presença do determinismo na obra que o leitor irá ainda<br />
conhecer. A segunda epígrafe, retirada da obra Os representantes da Humanidade, do escritor e<br />
filósofo americano Ralph Emerson (1803-1882) corrobora essa importância:<br />
Só a verdade ou a conexidade entre a causa e o efeito nos interessa. Estamos persuadidos de que<br />
todos os seres, todos os mundos, estão enfiados como pérolas, e que pelo fio que os atravessa vêm<br />
ter a nós os homens, os fatos e a vida que passam e tornam a passar-nos diante dos olhos para o<br />
fim único de nos dar a conhecer a direção e continuidade dessa linha de filiação. Um livro ou um<br />
raciocínio que tende a provar-nos que não existe outro encadeamento senão o acaso e o caos, que<br />
uma desgraça sucede sem causa, que uma felicidade surge sem motivo, que um herói nasce de um<br />
idiota ou um idiota de um herói, desanima-nos. Acreditamos nos laços de filiação, sejam ou não<br />
visíveis .<br />
E, finalmente, a terceira epígrafe parece não deixar dúvidas quanto aos princípios que<br />
serão adotados por Lúcio de Mendonça para criar a trama de O marido da adúltera: retirada do<br />
famoso livro L’Esthétique publicado em 1878 pelo filósofo, jornalista e diretor de revistas de arte<br />
Eugène Véron (1825-1889), ela adverte<br />
francês:<br />
O acaso é uma explicação demasiado cômoda, que tem, de resto, o inconveniente de nada explicar.<br />
O acaso não é sequer uma hipótese, é o nada. Não há acaso na História. Todos os fatos, pequenos<br />
ou grandes, ligam-se por uma cadeia contínua, cujos anéis podem passar-nos despercebidos, mas<br />
nem por isso existem menos.<br />
Há outras passagens no romance que parecem revelar o conhecimento do Naturalismo<br />
[...] a primeira e essencial condição é a escolha da mulher: desde que está conhecido, fora de toda<br />
dúvida, que a hereditariedade moral é uma das mais inflexíveis leis fisiológicas, não é tão difícil a<br />
escolha: se a observação pode iludir-se acerca dos atos de um indivíduo, tem 99 probabilidades de<br />
acerto contra uma de erro quanto aos atos de uma família, observáveis através de várias<br />
individualidades, em tempos, em lugares, em múltiplas circunstâncias diversas: ora, conhecida a<br />
família, está substancialmente conhecida a mulher (MEN<strong>DO</strong>NÇA, 1974, p.77).<br />
Mais à frente, em um diálogo entre as personagens, exprime-se a possível causa de<br />
todo o mal ocorrido com Luís que, por não ter levado em conta a observação necessária para o<br />
entendimento dos fatos, teve um fim trágico:<br />
- Tu mesmo disseste um dia - ponderei - que se escolhe a mulher pela família; - é certo que o<br />
disseste em conversa de estudantes; - chegada à realidade, a tua vez de pôr em ação o preceito,<br />
parece que o inverteste - escolhendo a família pela mulher, ou o desprezaste de todo - namorandote<br />
da mulher e deixando o mais à boa vontade da sorte [...] (MEN<strong>DO</strong>NÇA, 1974, p. 85).<br />
E, durante toda a obra, insiste-se no mesmo discurso determinista de que, visto ter<br />
tudo sido previamente observado e constatado, não há chances de mudanças e de uma fuga do<br />
próprio destino:<br />
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