1 PRESENÇA DO NATURALISMO FRANCÊS NO ... - Unesp
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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
missivas após serem escritas, tornavam-se um registro, um documento propriamente dito, de<br />
suas vivências que poderiam ser reveladas à sociedade e usadas contra os seus autores.<br />
O romance se inscreve, portanto, na tradição do romance epistolar, muito apreciado no<br />
século XVIII na Europa e que, segundo Süssekind, estava muito em voga no final do século XIX<br />
no Brasil.<br />
Maria Cecília Queiroz de Moraes Pinto (1999, p. 73) explica o entusiasmo dos<br />
escritores brasileiros pelo gênero:<br />
O romance epistolar, o romance histórico, o romance da vida presente e quotidiana prepararam, em<br />
luta constante com o rocambolesco, o advento do realismo. O Romantismo não ficou alheio a um<br />
percurso que, no século XVIII, congregou as obras de Montesquieu, Foscolo, Rousseau, Laclos,<br />
Goethe, para citar apenas autores-editores de cartas famosas.<br />
Esse entusiasmo, entretanto, não rendeu muitos frutos. Como observa A. Cândido<br />
(1993), a produção de romances epistolares foi bastante rara no Brasil.<br />
Resta elucidar qual seria a importância atual de se estudar um autor considerado<br />
menor como Lúcio de Mendonça. Como demonstrou Glória Carneiro do Amaral (1996) em<br />
Aclimatando Baudelaire, o “desinteresse pelo autor menor e a concentração das pesquisas em<br />
torno dos principais nomes da literatura” pode deixar de lado “elos importantes” (p. 32). Uma<br />
primeira leitura de O marido da adúltera parece indicar que Lúcio de Mendonça estava muito<br />
atento às discussões europeias, sobretudo francesas, a respeito do Realismo e do Naturalismo.<br />
Embora Lúcia Miguel Pereira o tenha considerado precursor do Realismo, encontram-se, no<br />
romance do escritor brasileiro, elementos da escola de Zola, como as teorias do meio e da<br />
hereditariedade, o que pode indicar a extensão do movimento liderado pelo autor de Thérèse<br />
Raquin.<br />
Andrade Muricy (1973), ao tratar do movimento simbolista no Brasil, defende a inclusão<br />
dos autores chamados “menores” para se conhecer com profundidade a fisionomia de um<br />
movimento: “Os seus escritos são testemunhos excelentes das correntes de seu tempo,<br />
lembrando esses rochedos que, colocados na superfície das geleiras, permitem pela sua<br />
deslocação verificar o movimento lento e infalível da massa que os arrasta” (MURICY, 1973, p.<br />
31).<br />
A análise da obra de Lúcio de Mendonça pode contribuir com os estudos das Relações<br />
Culturais Brasil-França no século XIX, produzir reflexões a respeito da repercussão do<br />
Naturalismo no país, destacando as semelhanças e diferenças observadas na teoria<br />
desenvolvida por Zola e aquela aplicada de maneira efetiva do outro lado do Atlântico:<br />
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