1 PRESENÇA DO NATURALISMO FRANCÊS NO ... - Unesp
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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Por volta de 1840, temos a receita desse novo romance, o de folhetim com corte,<br />
suspense e redundância, que despertavam o desejo do querer saber - perversão da alma<br />
humana- no leitor, o grande segredo da narrativa. Notemos o fato de a redundância precisar<br />
existir para que o leitor não tenha dúvidas, é preciso esclarecer todos os pontos e, por isso,<br />
torna-se comum também a retomada. Lúcio de Mendonça, por exemplo, trata o leitor como uma<br />
leitora ingênua e inocente, em todo momento, dirigindo-se, inclusive, concretamente a esse<br />
narratário. A retomada e a sua explicitação são tradicionais no romance, pois nada deve ficar na<br />
obscuridade para o leitor.<br />
O jornal precisava sobreviver àquele momento e a saída foi a ficção, objetivo baixo<br />
para os grandes ideais literários. Assim, tornou-se possível o surgimento do romance-folhetim e<br />
este ficou responsável pela sobrevivência do gênero romance.<br />
Uma crítica ferrenha surge: Sainte-Beuve, crítico conservador da época, diz que se<br />
trata de uma “literatura industrial”, primeiro contato da arte com a realidade do mercado cultural.<br />
Assim, o texto perde a áurea do processo artístico como um todo. Tem-se o tom cru do<br />
capitalismo, mas, em contraponto, a ausência da hipocrisia, pois quem trabalhava arduamente, e<br />
conseguia cumprir com o compromisso de publicar semana a semana um pedaço da história,<br />
vendia e tinha seu lugar no jornal, ao contrário, quem não se preocupava com os capítulos<br />
semanais, logo era descartado – eram as fatias seriadas.<br />
Como já dito, Alexandre Dumas lança O capitão Paulo, romance-folhetim francês de<br />
1838 que é traduzido no Brasil no mesmo ano, mostrando que a cultura de massa mantém a<br />
atual e rápida disseminação; o que tem aí sua virtude e perversão, pois não há o tom<br />
hegemônico e homogêneo de cultura. É Dumas quem descobre o essencial da técnica, ele<br />
mergulha o leitor in media res, diálogos vivos, personagens tipificados e senso do corte de<br />
capítulo. Todas essas técnicas são tiradas da linguagem teatral, do teatro burguês, o<br />
melodrama, que necessita da atenção constante do expectador, o que acontece também com<br />
esse leitor. Desta forma, é possível notar o caráter híbrido do romance-folhetim entre o drama e<br />
o narrativo.<br />
Na segunda metade do século XIX, o romance vai olhar o romance-folhetim de modo<br />
desdenhoso para afirmar a sua importância (Luíza, de O primo Basílio e Ema de Madame<br />
Bovary, por exemplo, liam romance-folhetim- o que representa uma crítica interna de Eça e de<br />
Flaubert). Quer-se um romance sério, de investigação, e o rompimento, a separação da cultura<br />
erudita com a massa burguesa. É um momento de autocrítica, feita pelos escritores engajados<br />
em causas socialistas.<br />
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