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A INVENÇÃO DA CIDADE NOVA DO RIO DE JANEIRO: - Ippur - UFRJ

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A partir do século XVIII, segundo Fridman (op.cit., p.13), “o uso do solo carioca<br />

mostrou um jogo de forças que teve expressão jurídica e política”. Era o clero que impunha as<br />

normas para a estruturação urbana, para a locação dos edifícios e das propriedades religiosas.<br />

Além da interferência na distribuição espacial e social dos agentes e das construções, ele agia<br />

incisivamente sobre a vida cotidiana dos habitantes. A autora afirma que havia um domínio<br />

por parte dos religiosos sobre os referenciais diários dos cariocas.<br />

Na habitação, com a construção e o aluguel de moradias; na saúde, com hospitais,<br />

com boticas (farmácias), com médicos e com enfermeiras; com a produção de<br />

alimentos nas suas fazendas e nos seus engenhos; na educação, com escolas; na<br />

cultura, através do teatro, das artes plásticas, da música e do lazer; nos<br />

melhoramentos urbanos, com a construção de pontes, de chafarizes, da abertura de<br />

ruas e do saneamento; com o fornecimento de água; através de suas normas<br />

urbanísticas garantiam parte da segurança; nos empréstimos e na guarda de dinheiro<br />

e bens; com a hospedagem dos romeiros; com a proteção aos fugitivos e aos<br />

meninos de rua e com os enterros (FRIDMAN, 1999, p.14).<br />

O poder religioso era amparado pelas ordens religiosas e pelas confrarias que eram<br />

representadas pelas irmandades (antigas corporações de ofício oriundas da Idade Média) e<br />

pelas ordens terceiras. As ordens e confrarias controlavam e dominavam o território da<br />

cidade. Havia uma distribuição dessas instituições deflagrando uma hierarquização de espaços<br />

e funções. “[...] do ponto de vista simbólico, o lugar de fixação destas confrarias representava<br />

poderio e, neste sentido, a valorização de uma área no período colonial dependia da existência<br />

destes marcos ideológicos” (FRIDMAN, 1999, p.26).<br />

As irmandades organizavam-se de acordo com a etnia (africanos e pardos), a profissão<br />

(carpinteiros e militares) e a posição social (mais nobres ou menos nobres); representando<br />

distintos segmentos da sociedade colonial pela diferenciação racial e econômica.<br />

Constituíram-se em fontes de caridade coletiva e de ajuda mútua, prestando serviços à<br />

população. Pereira (1991) enfatiza que elas dominavam as cenas sociais como: os<br />

nascimentos, as mortes, os casamentos, as tarefas assistenciais e o cuidado dos doentes. Tal<br />

situação apenas iria modificar-se a partir da primeira metade do século XIX, quando teve<br />

início o processo de laicização, e a igreja foi perdendo gradativamente o seu papel de<br />

provedor dos serviços urbanos, cedendo lugar ao poder público.<br />

As principais ordens religiosas eram as dos jesuítas (no morro do Castelo), dos<br />

carmelitas (no terreiro que deu origem ao Largo do Carmo), dos beneditinos (no morro de São<br />

Bento) e dos franciscanos (no morro de Santo Antônio). Maurício de Abreu (op.cit.) afirma<br />

que as maiores sesmarias doadas no Rio de Janeiro, ou por particulares ou pela própria Coroa,<br />

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