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Impressões Capixabas 165 anos de jornalismo no Espírito Santo

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<strong>Impressões</strong> <strong>Capixabas</strong><br />

<strong>165</strong> <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

José Antônio Martinuzzo (Organizador)<br />

Ananda Bisi<br />

Andressa Zanandrea<br />

Carlos Calenti Trinda<strong>de</strong><br />

Ceciana França<br />

Daniella Za<strong>no</strong>tti<br />

Danilo Bicalho<br />

Fernanda Coutinho<br />

Fernanda Pontes<br />

George Vianna<br />

Gleyson Tete<br />

Guido Nunes<br />

Juliana Bourguig<strong>no</strong>n<br />

Karina Moura<br />

Kênia Freitas<br />

Letícia Rezen<strong>de</strong><br />

Luciana Silvestre<br />

Lucia<strong>no</strong> Frizzera<br />

Melina Mantovani<br />

Milena Simões Murta<br />

Patrícia Arruda<br />

Patricia Galleto<br />

Raquel Machado<br />

Renata Murari<br />

Ronald Alves<br />

Thiago Dal Col<br />

Nota sobre esse e-book:<br />

Essa é uma versão integral do livro impresso, reformatada para se a<strong>de</strong>quar melhor ao meio<br />

digital. Po<strong>de</strong>m ocorrer peque<strong>no</strong>s erros, que são <strong>de</strong>correntes dos processos usados nessa<br />

conversão. No caso específico do livro 4, não foi usado o reconhecimento ótico pelo<br />

scanner, mas o arquivo pdf original do livro. Para ter acesso aos outros e-books do projeto<br />

Coca, visite o site.<br />

Marcus Vinícius Jacob


Editor e organizador – Professor José Antonio Martinuzzo<br />

Revisão – Vitor Bourguig<strong>no</strong>n<br />

Capa e Projeto Gráfico – Ceciana França e Guido Nunes<br />

Projeto Comunicação Capixaba – CoCa<br />

Fotos – Arquivos pessoais dos entrevistados, Arquivo Público do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e<br />

Gustavo Forattini (Capa)<br />

Impressão – Imprensa Oficial do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Edições anteriores – Rádio Club <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> – Memórias da<br />

Voz <strong>de</strong> Canaã; Balzaquia<strong>no</strong> – Trinta <strong>a<strong>no</strong>s</strong> do Curso <strong>de</strong> Comunicação<br />

Social da Ufes; e Diário Capixaba – 115 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> da Imprensa Oficial do<br />

Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Centro <strong>de</strong> Artes<br />

Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-publicação (CIP)<br />

________________________________________________________________________<br />

<strong>Impressões</strong> capixabas : <strong>165</strong> <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> / José Antonio<br />

I347 Martinuzzo (organizador) ; colaboradores Ananda Bisi ... [et al.]. - Vitória :<br />

Departamento <strong>de</strong> Imprensa Oficial do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, 2005.<br />

404 p. : il. , p&b ; 22cm.<br />

2. Jornalismo - <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (Estado) - 1840-2005. 2. Imprensa - História -<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (Estado). 3. Comunicação. I. Martinuzzo, José Antonio. II. Bisi,<br />

Ananda. III. Título.<br />

CDU: 070 (815.2)<br />

CDD: 070.5098152<br />

________________________________________________________________________<br />

Eugenia Magna Broseguini – CRB 12ª Região – nº 408


Prefácio<br />

O <strong>jornalismo</strong> impresso capixaba fez história. E continua fazendo. Os i<strong>de</strong>ais republic<strong>a<strong>no</strong>s</strong> foram<br />

propagados entre <strong>no</strong>ssos antepassados também por intermédio <strong>de</strong> uma ação centrada em jornais, na<br />

capital e <strong>no</strong> interior do Estado. A causa republicana configurou-se como um dos gran<strong>de</strong>s motores<br />

do <strong>jornalismo</strong> capixaba na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX.<br />

Muniz Freire, o primeiro presi<strong>de</strong>nte eleito do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, foi um <strong>de</strong>sbravador do<br />

<strong>jornalismo</strong>. Tendo acumulado experiência na Imprensa em Recife e São Paulo, on<strong>de</strong> foi estudar<br />

Direito, Freire, aos 21 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, em 1882, fundava juntamente com Cleto Nunes e Afonso Cláudio o<br />

jornal A Província do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em <strong>de</strong>fesa da causa republicana e dos interesses capixabas.<br />

Ao longo do século XX, a imprensa não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> participar e influir na vida política, social,<br />

econômica e cultural do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Cito especialmente o jornal Posição, que teve papel<br />

importante na mobilização política <strong>no</strong>s tempos da ditadura. Juntamente com os companheiros do<br />

movimento estudantil, compartilhei da tarefa <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong>ste jornal que é um capítulo à<br />

parte 8 na história da luta capixaba pela reconstrução da <strong>de</strong>mocracia em <strong>no</strong>sso País.<br />

Também não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> registrar o relevante papel <strong>de</strong>sempenhado pela Folha<br />

Capixaba, O Diário, A Gazeta, A Tribuna, <strong>de</strong>ntre tantos outros, que marcaram ou marcam <strong>no</strong>sso<br />

cotidia<strong>no</strong>.<br />

No início <strong>de</strong>ste século, por exemplo, <strong>no</strong>sso <strong>jornalismo</strong> impresso fez importantes e corajosas<br />

coberturas que muito contribuíram para que se virasse a página <strong>de</strong> corrupção e assalto da<br />

máquina pública pelo crime organizado, àquela época reinante <strong>no</strong> âmbito dos po<strong>de</strong>res públicos<br />

capixabas.<br />

A Imprensa é um fenôme<strong>no</strong> das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, em que se estabelecem os po<strong>de</strong>res<br />

institucionais e organizam-se os movimentos sociais, funcionando o <strong>jornalismo</strong> como um<br />

importante mediador entre as esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>cisão política. Ou seja, a Imprensa é um<br />

elemento crucial à política e à <strong>de</strong>mocracia que o mundo vem constituindo <strong>no</strong>s últimos três séculos.


E parece que <strong>no</strong> futuro não será diferente. Numa era <strong>de</strong> relações sociais mediadas por<br />

mensagens da mídia, o <strong>jornalismo</strong> não só mantêm seu papel <strong>de</strong> informar e formar opinião,<br />

como também se coloca como lugar privilegiado <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e diálogo <strong>de</strong> idéias e projetos <strong>de</strong> vida<br />

coletiva.<br />

Nesse sentido, é importante que se multipliquem os canais <strong>de</strong> emissão jornalística e, na mesma<br />

medida, se ampliem os meios <strong>de</strong> acesso da população a tais conteúdos – quando estava <strong>no</strong><br />

Senado, por exemplo, <strong>de</strong>i entrada na Comissão <strong>de</strong> Educação ao projeto <strong>de</strong> TVs comunitárias.<br />

Informação, comunicação e educação são pilares fundamentais para a conquista <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> homens e mulheres emancipados, para uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cidadãos.<br />

A recuperação da história e a elaboração <strong>de</strong> uma memória do <strong>jornalismo</strong> impresso capixaba,<br />

objetivos <strong>de</strong>sta publicação, contribuem para o processo <strong>de</strong> formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> capixaba.<br />

Também <strong>no</strong>s ajudam a enten<strong>de</strong>r <strong>no</strong>ssa trajetória até aqui, fornecendo- <strong>no</strong>s, <strong>de</strong>ssa forma,<br />

elementos importantes para projetar o futuro.<br />

Como afirmamos, os i<strong>de</strong>ais que ajudaram a constituir o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> obtiveram <strong>no</strong>s<br />

jornais espaço privilegiado, tendo na figura do jornalista Muniz Freire um gran<strong>de</strong> repórter das<br />

potencialida<strong>de</strong>s capixabas. Que os jornais <strong>de</strong> hoje possam continuar somando para um futuro dig<strong>no</strong><br />

para todos os capixabas, problematizando o presente, discutindo alternativas e<br />

apontado possibilida<strong>de</strong>s.<br />

No momento em que o <strong>no</strong>sso Estado reconstrói sua máquina pública e inicia uma outra fase <strong>de</strong><br />

sua história político-institucional e econômica, estabelecendo as bases <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va era capixaba, a<br />

atuação do <strong>jornalismo</strong> tem sido peça fundamental. Que boas e melhores <strong>no</strong>tícias estejam sempre na<br />

pauta <strong>de</strong> todos os capixabas, inclusive nas manchetes dos jornais.<br />

Paulo Hartung Governador do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> .


Apresentação<br />

O quarto volume do projeto Comunicação Capixaba (CoCa), coor<strong>de</strong>nado pelo professor José<br />

Antonio Martinuzzo, do Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong> (Ufes), é resultado <strong>de</strong> uma pesquisa cuidadosa acerca do <strong>jornalismo</strong> impresso. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

produto acadêmico consistente e <strong>de</strong> leitura indispensável, realizado pelos alu<strong>no</strong>s do curso <strong>de</strong><br />

Comunicação Social da Ufes, sob a orientação do professor Martinuzzo.<br />

A rigor, o <strong>jornalismo</strong> impresso em terras capixabas possui uma história peculiar e que merece<br />

ser contada. Não obstante as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias que alimentam mídias mais mo<strong>de</strong>rnas,<br />

configurando <strong>no</strong>vos e mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s canais <strong>de</strong> comunicação, o <strong>jornalismo</strong> impresso possui um traço<br />

marcante como veículo inserido <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> da comunida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> O Estafeta, passando por O<br />

Diário, até os atuais A Gazeta, A Tribuna e Notícia Agora, os jornais impressos possuem uma<br />

marca in<strong>de</strong>lével na história do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Rever a trajetória dos jornais capixabas enriquece a <strong>no</strong>ssa história e <strong>no</strong>s propicia conhecer os<br />

caminhos percorridos até os dias atuais. Os acontecimentos mais marcantes da cena<br />

capixaba po<strong>de</strong>m ser resgatados por meio dos jornais, em cujas páginas po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r a<br />

evolução do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, <strong>no</strong>s registros dos episódios mais significativos.<br />

Nesta edição, Martinuzzo e seus alu<strong>no</strong>s não dispensam a abordagem <strong>de</strong> uma questão<br />

fundamental, que é a <strong>de</strong> tratar do futuro do <strong>jornalismo</strong> impresso. Com efeito, o jornal feito com<br />

tintas gráficas suscita algumas análises atuais que dão conta <strong>de</strong> seu estado terminal; outras, porém,<br />

asseveram que o seu espaço nas comunicações é insubstituível, inalienável.<br />

O certo é que estamos diante <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância acadêmica, produzido com<br />

<strong>de</strong>dicação e rigor, cujo resultado <strong>de</strong>ve-se ao esforço do professor Martinuzzo e <strong>de</strong> seus alu<strong>no</strong>s.<br />

Como reitor da Ufes, quero parabenizar mais essa excelente produção do projeto CoCa,<br />

concebido com o apoio do Gover<strong>no</strong> do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, um indispensável parceiro da<br />

<strong>no</strong>ssa Universida<strong>de</strong>. Deixo o meu reconhecimento em <strong>no</strong>me da comunida<strong>de</strong> acadêmica.<br />

Rubens Sergio Rasseli Reitor da Ufes


Introdução<br />

O quarto volume do Projeto CoCa é <strong>de</strong>dicado a um tema que está na pauta das discussões<br />

acerca do futuro da comunicação:<br />

o <strong>jornalismo</strong> impresso. Originado há vários séculos, mas com suas raízes mo<strong>de</strong>rnas localizadas<br />

há pouco mais <strong>de</strong> 100 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, o <strong>jornalismo</strong> impresso é uma prática comunicacional que suscita, <strong>no</strong><br />

mínimo, duas correntes <strong>de</strong> pensamento em tempos <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas mídias, tec<strong>no</strong>logias digitais e internet.<br />

Há aqueles que prevêem o fim das <strong>no</strong>tícias diárias entregues aos leitores a partir da<br />

combinação <strong>de</strong> tinta e papel. Outros apostam numa reconfiguração do produto, mas não <strong>no</strong> seu fim.<br />

Existem os que vão além: não é só o impresso que tem sua extinção <strong>de</strong>cretada, mas o próprio<br />

<strong>jornalismo</strong>.<br />

Este não é um livro sobre o futuro, mas sobre a história do <strong>jornalismo</strong>. No entanto, isso não<br />

quer dizer que não existam correlações entre essas duas temporalida<strong>de</strong>s. A abordagem acerca do<br />

passado certamente coloca esta publicação a serviço das discussões sobre os dias que virão, pois o<br />

futuro nada mais é que a conseqüência <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa caminhada.<br />

Iniciamos este volume com uma breve recuperação da história do <strong>jornalismo</strong> impresso <strong>no</strong><br />

mundo e <strong>no</strong> Brasil. Em seguida, contamos os primórdios <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> em terras capixabas, do<br />

inaugural O Estafeta, em 1840, até 1926. Esse capítulo se baseia num exaustivo estudo elaborado<br />

pelo historiador Heráclito Amâncio Pereira. O inventário A Imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> reúne dados<br />

sobre mais <strong>de</strong> 400 publicações, entre jornais e revistas que circulavam em todo o Estado. Publicado<br />

pelo Instituto Histórico e Geográfico do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, foi apresentado <strong>no</strong> oitavo Congresso <strong>de</strong><br />

Geografia, em 1926.<br />

A seguir, abordamos os jornais diários <strong>de</strong> maior representativida<strong>de</strong> socioeconômica, cultural e<br />

política <strong>no</strong> Estado. A Gazeta, A Tribuna e Notícia Agora têm suas trajetórias <strong>de</strong>scritas, com<br />

maior ou me<strong>no</strong>r <strong>de</strong>talhamento, <strong>de</strong> acordo com disposição que encontramos por parte das fontes em<br />

<strong>no</strong>s aten<strong>de</strong>r durante a feitura <strong>de</strong>ste livro.<br />

Logo após, recuperamos a história <strong>de</strong> um dos maiores ícones do <strong>jornalismo</strong> impresso capixaba:<br />

O Diário. O capítulo foi escrito essencialmente a partir dos <strong>de</strong>poimentos reunidos <strong>no</strong> livro O Diário


da Rua Sete, organizado, em 1998, pelo jornalista Antônio <strong>de</strong> Pádua Gurgel, a quem agra<strong>de</strong>cemos a<br />

cooperação e o compartilhamento do conteúdo. Os autores também fizeram <strong>no</strong>vas pesquisas e<br />

entrevistas, constituindo um texto bastante rico em informações sobre “o maior jornal da Rua Sete”.<br />

O Jornal da Cida<strong>de</strong>, eternizado pelas polêmicas colunas assinadas por sua proprietária Maria<br />

Nilce Magalhães, assassinada em 1989, é o tema do sétimo capítulo. Em seguida, convidamos<br />

os leitores a fazer um giro pelo Interior do Estado, com uma análise dos principais veículos que<br />

constituem o <strong>jornalismo</strong> impresso feito além das fronteiras da Gran<strong>de</strong> Vitória.<br />

O capítulo <strong>no</strong><strong>no</strong> é também um convite a uma outra viagem. Um passeio pelo mundo<br />

alternativo dos veículos impressos produzidos fora do esquema comercial da indústria cultural. Os<br />

autores recuperaram informações sobre o comunista Folha Capixaba, dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1940, e o<br />

Posição, dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70, e também analisaram a imprensa ligada a sindicatos e à Igreja Católica <strong>no</strong>s<br />

tempos <strong>de</strong> luta contra a ditadura e <strong>de</strong> abertura política.<br />

O décimo capítulo traz uma análise da produção <strong>de</strong> revistas em terras capixabas, marcando<br />

uma trajetória que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as publicações focadas em cultura, <strong>no</strong> início do século XX, até<br />

os veículos <strong>de</strong>stinados ao consumismo e à fixação pela exposição pública, tão marcantes neste<br />

começo <strong>de</strong> milênio.<br />

Um início <strong>de</strong> milênio que, conforme salientamos, <strong>de</strong>bate o futuro do <strong>jornalismo</strong> impresso,<br />

numa discussão marcada pela perspectiva do fim ou pela certeza <strong>de</strong> repaginações. Nesse<br />

sentido, formulamos um convite aos professores do Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social da Ufes<br />

para escrever sobre o <strong>jornalismo</strong> e suas perspectivas. A professora doutora Ruth Reis aceitou o<br />

convite.<br />

Confira suas reflexões <strong>no</strong> capítulo décimo primeiro.<br />

A <strong>de</strong>cretação inescrupulosa <strong>de</strong> diversos “fins” é uma febre nesta virada <strong>de</strong> século. Talvez<br />

porque estejamos num momento <strong>de</strong> tantas e velozes mudanças, <strong>de</strong>s<strong>no</strong>rteados pelo tempo real e<br />

aturdidos pela espacialida<strong>de</strong> global/virtual, a vida contemporânea parece ser um eter<strong>no</strong> começo<br />

sem-fim. A<strong>de</strong>mais, as tec<strong>no</strong>logias digitais são tão alucinantes que a revogação do passado e<br />

seus costumes e práticas é dada como certa.<br />

Como subjetivida<strong>de</strong>s marcadas pela intermitente reconfiguração i<strong>de</strong>ntitária, esta executada<br />

essencialmente por processos comunicacionais, somos levados, em um primeiro momento,


a concordar ou mesmo apostar <strong>no</strong> fim do passado. Mas, pensando bem e olhando a <strong>no</strong>ssa trajetória<br />

<strong>de</strong> hum<strong>a<strong>no</strong>s</strong> em perspectiva, po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>tar que o que mais fizemos foi reciclar <strong>no</strong>ssos hábitos, sem<br />

gran<strong>de</strong>s rupturas.<br />

Não há como negar que as tec<strong>no</strong>logias digitais <strong>de</strong> comunicação e informação estejam<br />

transformando a prática jornalística que herdamos da mo<strong>de</strong>rna era industrial. Em todas as<br />

especialida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>m-se <strong>no</strong>tar mudanças <strong>de</strong> apuração, produção, publicação, recepção e interação<br />

entre jornalistas e seus públicos.<br />

Mas se o impresso acabará, essa é uma questão que, por hora, só po<strong>de</strong> ser tratada como<br />

prognósticos e leituras do passado. Por exemplo, há alguns <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, com a popularização dos<br />

computadores e o boom da internet, pensava-se que o consumo <strong>de</strong> papel e <strong>de</strong> livros sofreria um<br />

gran<strong>de</strong> baque. Nada disso ocorreu. No mundo e <strong>no</strong> Brasil, os investimentos em produção <strong>de</strong> papel<br />

só vêm crescendo. A indústria cultural planetária não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lado o negócio dos livros e registra<br />

movimentações expressivas em todos os cantos do planeta.<br />

Certamente, tendo pela frente <strong>no</strong>vos consumidores criados diante das telas <strong>de</strong> computador e<br />

ligados <strong>no</strong> mundo via celular e outros artefatos tec<strong>no</strong>logicamente radicais, além da concorrência da<br />

atualização segundo a segundo dos sites <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias, há <strong>de</strong> se transformar o <strong>jornalismo</strong> impresso,<br />

mas sua extinção <strong>no</strong>s parece lenda <strong>de</strong> início <strong>de</strong> milênio.<br />

Com algum exercício <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos vislumbrar um impresso mais analítico e<br />

opinativo, algo que as revistas semanais já exercitam há muitas décadas. Mas, para isso, será<br />

preciso que se constitua uma <strong>no</strong>va prática nas redações dos jornais e se crie uma <strong>no</strong>va cultura <strong>de</strong><br />

produção e <strong>de</strong> consumo do impresso, com jornalistas mais bem preparados para a análise e<br />

interpretação do mundo e um público que se ajuste a esse <strong>no</strong>vo tipo <strong>de</strong> produto jornalístico diário.<br />

Como se vê, este livro conta uma história essencialmente mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> um velho personagem<br />

em mutação. Mas, para além do registro da memória <strong>de</strong> tempos idos, essa publicação também<br />

se coloca como uma alternativa para se enten<strong>de</strong>r o atual movimento sociocultural e econômico, ao<br />

mesmo tempo em que ajuda compreen<strong>de</strong>r as origens e as marcas do <strong>jornalismo</strong> on-line que se<br />

faz <strong>no</strong> presente e se fará <strong>no</strong> futuro.<br />

Foram imprescindíveis à realização <strong>de</strong>ste livro o apoio do Gover<strong>no</strong> do Estado do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, por intermédio do Departamento <strong>de</strong> Imprensa Oficial e do Arquivo Público Estadual, o


suporte do Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social e da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, e a<br />

colaboração dos entrevistados, que dispensaram um tempo precioso na atenção aos alu<strong>no</strong>s.<br />

Como sempre registramos neste espaço, salientamos que esta publicação não esgota o tema.<br />

Muito pelo contrário. É apenas uma contribuição à formação <strong>de</strong> uma memória da comunicação <strong>no</strong><br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Não busque o leitor um completo relatório <strong>de</strong> veículos impressos capixabas. Na<br />

Gran<strong>de</strong> Vitória, por exemplo, o foco foram os gran<strong>de</strong>s jornais, sendo que muitas experiências, como<br />

o Jornal Metropolita<strong>no</strong>, citando <strong>de</strong> memória, ficaram para uma outra oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Os livros do Projeto CoCa são elaborados pelos alu<strong>no</strong>s do sexto período do curso <strong>de</strong><br />

Jornalismo da Ufes como um laboratório <strong>de</strong> produção editorial, tendo em vista a formação em<br />

comunicação organizacional. A pauta é discutida coletivamente – nesse sentido, vale o registro <strong>de</strong><br />

que o capítulo sobre a imprensa alternativa, tema que merece um livro à parte, foi<br />

sugestão/reivindicação dos seus autores, que acabaram produzindo um verda<strong>de</strong>iro livro <strong>de</strong>ntro do<br />

livro.<br />

Definidos os capítulos, os alu<strong>no</strong>s são reunidos em duplas ou peque<strong>no</strong>s grupos e partem para a<br />

pesquisa e produção. Eles são orientados durante esse processo, mas têm auto<strong>no</strong>mia para<br />

escolher fontes, enfoques e estilo <strong>de</strong> texto. O que se tem é uma coletânea, executada em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

um tema principal, sem a pretensão <strong>de</strong> alcançar todos os elementos, personagens e, neste caso,<br />

jornais/ revistas a ele relacionados. Que as lacunas possam inspirar <strong>no</strong>vos trabalhos que se juntarão<br />

a este na constituição <strong>de</strong> uma memória mais completa e multiautoral.<br />

Além das condicionantes do tempo – os livros são feitos e publicados <strong>no</strong> período <strong>de</strong> um<br />

semestre letivo – e do processo <strong>de</strong> aprendizado, registramos que <strong>de</strong>ntre as limitações à produção<br />

<strong>de</strong> uma memória, objetivada por este projeto, está a falta <strong>de</strong> receptivida<strong>de</strong> das fontes.<br />

Esse foi um problema e tanto na produção <strong>de</strong>ste volume. Pelos relatos dos alu<strong>no</strong>s, muitas<br />

personagens importantes do <strong>jornalismo</strong> impresso capixaba se recusaram a dar entrevistas. Outras<br />

não repassaram informações e documentos prometidos. Mas, felizmente, há quem entenda o<br />

propósito do projeto e a importância da memória para a constituição <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> diferente e,<br />

mesmo estando fora do Estado e do País, se dispôs a dar entrevistas.<br />

Em razão <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, cabe uma abordagem acerca da importância da memória. Memória<br />

não é passado, é leitura presente do que passou com vistas a um futuro <strong>de</strong>sejado. E por que


a memória é importante? Ela é a principal referência para a constituição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo-se i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como o autoconhecimento e a diferenciação em relação ao outro, a<br />

memória é o que <strong>no</strong>s dá elementos para <strong>no</strong>s conhecermos e <strong>de</strong>marcarmos <strong>no</strong>ssas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>no</strong><br />

mundo.<br />

A comunicação capixaba, como <strong>de</strong> resto o Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, carece <strong>de</strong> memória. Sem<br />

sabermos o que fomos, sem conhecermos <strong>no</strong>ssa caminhada, falta-<strong>no</strong>s algo essencial na<br />

construção <strong>de</strong> um futuro melhor e com maior auto<strong>no</strong>mia social, cultural, política e econômica: falta-<br />

<strong>no</strong>s uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> concreta e objetiva. E i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é memória em ato.<br />

Se pu<strong>de</strong>mos resgatar a memória do <strong>jornalismo</strong> impresso capixaba do século XIX, é porque<br />

uma inteligência visionária chamada Heráclito Amâncio Pereira <strong>de</strong>dicou tempo e esforço a<br />

reunir informações numa época que não tem paralelo com a atualida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicação.<br />

O quanto esse material po<strong>de</strong> <strong>no</strong>s ajudar a enten<strong>de</strong>r a eco<strong>no</strong>mia, a cultura, a política capixaba<br />

<strong>de</strong> então nem se po<strong>de</strong> imaginar. Só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> os capixabas <strong>de</strong> hoje e do futuro tentarem<br />

buscar explicações sobre as suas razões <strong>de</strong> ser e os condicionantes <strong>de</strong> seus olhares para o horizonte.<br />

Talvez por terem sido raras as figuras como Heráclito Amâncio Pereira <strong>no</strong>s falte a cultura da<br />

busca pelo autoconhecimento;<br />

talvez por isso tenhamos tanta dificulda<strong>de</strong> em produzir memória <strong>no</strong> presente. A continuar<br />

assim, o futuro não se apresenta com as melhores perspectivas. Quem não sabe o que é po<strong>de</strong> fazer<br />

muito pouco por si e pelos outros. Tem como <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> a periferia e a dominação. Por um outro<br />

futuro, memória já!<br />

José Antonio Martinuzzo Professor organizador e editor do Projeto CoCa .


Jornalismo impresso:<br />

Interesse público ou comércio <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias?<br />

Milena Simões Murta<br />

A natureza do <strong>jornalismo</strong> está <strong>no</strong> medo. O medo<br />

do <strong>de</strong>sconhecido que leva o homem a querer exatamente<br />

o contrário, ou seja, conhecer.<br />

Felipe Pena (2005)<br />

Selecionar, apurar, organizar, contar. Estas são algumas das ativida<strong>de</strong>s cotidianamente<br />

exercidas por qualquer jornalista frente aos fatos da vida. E o resultado <strong>de</strong>sse trabalho, as <strong>no</strong>tícias,<br />

as reportagens, é produto <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> <strong>no</strong> mundo contemporâneo.<br />

Numa realida<strong>de</strong> globalizada, em que a <strong>no</strong>ssa superfície <strong>de</strong> contato é o planeta inteiro, a<br />

qualquer tempo e hora, o <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong>s confere, em alguma medida, os dons divi<strong>no</strong>s da<br />

onisciência, onipresença e, por que não?, da onipotência.<br />

Mas, nesse frenesi midiatizado que se tor<strong>no</strong>u a vida atual, pouco se reflete acerca <strong>de</strong>ssa<br />

máquina <strong>de</strong> produzir relatos sobre o cotidia<strong>no</strong>. É tudo tão “<strong>no</strong>rmal” que nem paramos para<br />

pensar sobre as especificida<strong>de</strong>s do <strong>jornalismo</strong> e suas artimanhas para influenciar <strong>de</strong> modo tão<br />

marcante as mentes contemporâneas.<br />

O hoje <strong>de</strong>cantado <strong>jornalismo</strong> impresso foi o precursor <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> todas as modalida<strong>de</strong>s<br />

jornalísticas, tendo <strong>de</strong>sempenhado, ao longo dos séculos XIX e XX, um importante papel na<br />

constituição do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que compartilhamos atualmente, qual seja, um regime<br />

dramaticamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos conteúdos da mídia, incluindo os informativos.


Des<strong>de</strong> seus primórdios, a ativida<strong>de</strong> jornalística sempre esteve vinculada à necessida<strong>de</strong> que o<br />

homem tem <strong>de</strong> saber, <strong>de</strong> vencer a ig<strong>no</strong>rância que afeta seu cotidia<strong>no</strong>. Ainda que existissem<br />

cientistas, navegadores ou astronautas para pesquisar e <strong>de</strong>scobrir as engrenagens do mundo, era<br />

preciso que houvesse também alguém que traduzisse tais relatos exóticos para a linguagem do senso<br />

comum e tivesse ainda a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar públicas tais reportagens.<br />

Reportar informações, contar uma história. Há quem diga que o jornalista realiza<br />

primordialmente duas ações: enten<strong>de</strong>r o fato e explicá-lo para as outras pessoas por intermédio <strong>de</strong><br />

um suporte (papel, TV, rádio, internet). E, nesse processo, o jornalista dispõe <strong>de</strong> certa auto<strong>no</strong>mia<br />

discursiva para elaborar a versão dos fatos, o que, para muitos, correspon<strong>de</strong> à verda<strong>de</strong> dos fatos.<br />

O senso comum é algo tão forte que jamais os jornalistas publicarão como fato afirmações que<br />

o contradigam. Por outro lado, é o <strong>jornalismo</strong> quem coleta <strong>no</strong>vos itens a serem integrados a<br />

esse conjunto <strong>de</strong> conhecimentos. Como? Através da mídia, on<strong>de</strong> estão incluídos todos os tipos <strong>de</strong><br />

manifestação cultural presentes <strong>no</strong> espaço público. É o que diz Pena (2005, p. 29): “A mídia<br />

assumiu a privilegiada condição <strong>de</strong> palco contemporâneo do <strong>de</strong>bate público. Na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>, as representações substituem a própria realida<strong>de</strong>”.<br />

Para realizar essa tarefa <strong>de</strong> falar e produzir senso comum a partir <strong>de</strong> um mundo complexo, o<br />

jornalista é portador <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> cultural, um contrato tácito estabelecido com a socieda<strong>de</strong>.<br />

Tais profissionais formam uma verda<strong>de</strong>ira comunida<strong>de</strong> que compartilha <strong>no</strong>ções semelhantes<br />

acerca do funcionamento das relações socioeconômicas, culturais e políticas, produzindo versões<br />

socialmente aceitas acerca da vida e seus mais diversos acontecimentos.<br />

Conforme afirma Zelizer (1992, p. 11), “imprensados entre o público e o evento a ser <strong>de</strong>scrito,<br />

os repórteres são capazes <strong>de</strong> construir aquilo que lhes parece ser preferível e<br />

estrategicamente importante, graças à suposição <strong>de</strong> que eles dispõem <strong>de</strong> alguma autorida<strong>de</strong> acerca<br />

das matérias que narram”.<br />

Mas essa autorida<strong>de</strong> – que existe – não é insulada, resultando mesmo <strong>de</strong> uma constante<br />

negociação entre repórteres, empresários e consumidores <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícia. O campo jornalístico é<br />

subordinado aos índices <strong>de</strong> audiência, ou, como <strong>de</strong>fine Bourdieu (1997), aos “veredictos do<br />

mercado”.


O jornalista é portador <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> que negocia com interesses comerciais e políticos,<br />

que dialoga com a memória coletiva e o senso comum, mas, verda<strong>de</strong>iramente, possui<br />

uma autorida<strong>de</strong> cultural nada <strong>de</strong>sprezível. Porém, como esse diálogo se <strong>de</strong>senvolve? Suas rotinas<br />

produtivas e suas narrativas se sustentam <strong>no</strong> tripé “objetivida<strong>de</strong>, imparcialida<strong>de</strong> e<br />

neutralida<strong>de</strong>”, que, por mais que seja utopia ou mero discurso, encontra eco e mantém a vigorosa<br />

relação <strong>jornalismo</strong>-socieda<strong>de</strong>.<br />

Essa cultura é tão marcante que o Código <strong>de</strong> Ética do Jornalismo Brasileiro, <strong>no</strong> seu Artigo 7,<br />

<strong>de</strong>staca: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verda<strong>de</strong> dos fatos, e seu trabalho se<br />

pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação”.<br />

Relatar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>scomprometido, imparcial e impessoal – será que isso<br />

realmente existe? Uma das primeiras coisas que se apren<strong>de</strong> ao estudar <strong>jornalismo</strong> é: o<br />

jornalista <strong>de</strong>ve ser o-b-j-e-t-i-v-o. Contudo, será que é possível <strong>de</strong>sligar-se da memória pessoal e<br />

coletiva e <strong>de</strong>spir-se <strong>de</strong> tudo o que constrói <strong>no</strong>ssa personalida<strong>de</strong> (preconceitos, carências, i<strong>de</strong>ologias,<br />

preferências) antes <strong>de</strong> produzir uma matéria?<br />

Não! É sabido que não. A subjetivida<strong>de</strong>, que se opõe à objetivida<strong>de</strong>, é algo inevitável. E, por<br />

mais que os jornalistas insistam em respon<strong>de</strong>r às seis questões básicas do li<strong>de</strong> – o quê, quem,<br />

como, quando, on<strong>de</strong> e por quê –, colocando-as <strong>no</strong> início da <strong>no</strong>tícia, não há garantias <strong>de</strong><br />

objetivida<strong>de</strong>. Há, <strong>no</strong> máximo, intenção <strong>de</strong> ser objetivo.<br />

Existem, ainda, vários atributos da busca pela objetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre eles: apresentação <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s conflitantes, ou seja, os dois lados da moeda; relação <strong>de</strong> provas auxiliares; citação<br />

<strong>de</strong> fatos suplementares que comprovem o que se está dizendo; e a disposição <strong>de</strong> falas <strong>de</strong><br />

testemunhas.<br />

Para além do contrato social, Gaye Tuchman (1993, p. 78) aponta a objetivida<strong>de</strong> como um<br />

ritual estratégico que o profissional utiliza para se proteger. A autora acredita que o jornalista<br />

busca a objetivida<strong>de</strong>, primeiramente, para neutralizar potenciais críticas e, <strong>de</strong>pois, para seguir<br />

rotinas confinadas pelos limites cognitivos da racionalida<strong>de</strong>. Essas críticas po<strong>de</strong>m ocorrer sob a<br />

forma <strong>de</strong> repressão ainda <strong>de</strong>ntro da redação ou até <strong>de</strong> fontes que se sintam prejudicadas por alguma<br />

<strong>de</strong>turpação do que informaram.


O fato é que, conforme estabelecido <strong>no</strong> Código <strong>de</strong> Ética, o compromisso é com a verda<strong>de</strong> dos<br />

fatos, mesmo que isso não signifique automaticamente ser objetivo. A objetivida<strong>de</strong> completa não<br />

existe. Mas, conforme ressalta Pena (2005 p. 51), “a socieda<strong>de</strong> confun<strong>de</strong> o texto com o discurso, o<br />

que fica claro na separação dogmática entre opinião e informação”. Mesmo que seja como um<br />

i<strong>de</strong>al, a objetivida<strong>de</strong> sustenta um contrato fundamental <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s entre os<br />

jornalistas e os cidadãos: o contrato que autoriza a produção <strong>de</strong> versões da vida, numa indústria que<br />

teve <strong>no</strong> impresso o primeiro espaço <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa.<br />

A seguir, um pouco da trajetória do <strong>jornalismo</strong> impresso, que se confun<strong>de</strong> com a história do<br />

próprio <strong>jornalismo</strong>, esse incrível produtor do real. Faremos um rápido passeio pela<br />

trajetória mundial e brasileira, para abrir caminho ao <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong>ssa história aqui <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, o tema <strong>de</strong>ste livro.<br />

O Impresso na história do Jornalismo<br />

Os relatos orais foram, sem discussão, a primeira forma <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> que existiu, a primeira<br />

gran<strong>de</strong> mídia da humanida<strong>de</strong>. Os mensageiros, apregoadores e, mais tar<strong>de</strong>, trovadores eram<br />

responsáveis pela transmissão e circulação das <strong>no</strong>tícias. Mas a escrita em suporte manuseável<br />

trouxe à comunicação atributos <strong>de</strong> valor como portabilida<strong>de</strong>, difusão para além dos limites<br />

presenciais do enunciador, precisão das mensagens e fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> dos relatos.<br />

As Acta Diurna, relatos diários do cotidia<strong>no</strong> político e social do Império Roma<strong>no</strong>, são<br />

consi<strong>de</strong>radas como um dos primeiros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> impresso. Todavia, como o <strong>jornalismo</strong><br />

impresso não se estabelece somente pela periodicida<strong>de</strong>, é <strong>no</strong> século XIII que encontramos seus<br />

principais vestígios iniciais. A Europa, mais especificamente Itália, França e Alemanha, em<br />

plena Ida<strong>de</strong> Média, iniciou o processo <strong>de</strong> firmação do <strong>jornalismo</strong> através das Letteri d’Avvisi<br />

(Itália), Nouvelles à la Main (França) e Geschriebene Zeitungen (Alemanha). Todas elas eram<br />

espécies <strong>de</strong> cartas manuscritas, que traziam informações sobre os mercados e se fundamentavam <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do comércio. Seu público consumidor era restrito, e sua difusão, razoável, pois as<br />

<strong>no</strong>tícias circulavam em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> safras, colheitas e transações comerciais e financeiras.


Aqui <strong>de</strong>stacamos Gutenberg, que, <strong>no</strong> século XV, imprimiu a Bíblia, ficando conhecido assim<br />

como o revolucionário da impressão.<br />

Mas, segundo Pena (2005, p.27), a invenção dos tipos móveis é atribuída aos chineses. O<br />

primeiro livro impresso conhecido é do a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 868, e a invenção do tipo móvel, <strong>de</strong> 1040.<br />

Em geral, a criação <strong>de</strong>sses protótipos <strong>de</strong> impressora muito facilitou a propagação das <strong>no</strong>tícias.<br />

No século XVI, sobretudo na Itália, as Letteri d’Avvisi passaram a ser gazzetes, ou gazetas<br />

(uma referência à moeda utilizada em Veneza). As gazzetes são o embrião dos jornais <strong>de</strong> hoje,<br />

principalmente pela periodicida<strong>de</strong> com que eram publicadas. As <strong>no</strong>tícias, <strong>no</strong> entanto, continuavam<br />

em tor<strong>no</strong> da pauta comercial. O diferencial era a forma me<strong>no</strong>s séria, me<strong>no</strong>s completa e mais<br />

apelativa.<br />

Já naquele momento, era mais importante alcançar um maior número <strong>de</strong> pessoas do que<br />

informar em profundida<strong>de</strong>.<br />

Nessa época, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar outro fator que potencializou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relatos: a expansão marítima.<br />

Após a <strong>de</strong>scoberta da América, as mensagens regulares se tornaram elementos estratégicos<br />

para a exploração das colônias.<br />

É como explica Gontijo (2004, p.211): “As viagens geravam um e<strong>no</strong>rme volume <strong>de</strong><br />

informações sobre povos e culturas completamente <strong>de</strong>sconhecidos e <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />

até então inexploradas”.<br />

Apesar do gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> analfabetos e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>no</strong>s transportes, a<br />

socieda<strong>de</strong> começou a perceber como as gazetas estavam se transformando num po<strong>de</strong>roso veículo<br />

<strong>de</strong> comunicação. Imediatamente, li<strong>de</strong>ranças políticas trataram <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir maneiras <strong>de</strong> controlar o<br />

que era veiculado.<br />

Por causa disso, os impressos do século XVI estavam fortemente submetidos às pressões das<br />

autorida<strong>de</strong>s e dos próprios interesses comerciais <strong>de</strong> quem os produzia. Segundo Gontijo, surgia uma<br />

<strong>no</strong>va modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio, “um misto <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço, ativida<strong>de</strong> industrial e comercial”.<br />

Para que o público consumidor das <strong>no</strong>tícias fosse ampliado, bem como os lucros, os impressos<br />

investiam na linguagem popular e até mesmo <strong>no</strong> tratamento sensacionalista das <strong>no</strong>tícias.


No século XVII, surgem as primeiras publicações propriamente jornalísticas. Na Alemanha,<br />

em 1609, inicia-se a publicação semanal Ordianri Avisa. Na Espanha, o primeiro folheto semanal é<br />

a Gaceta <strong>de</strong> Madrid, em 1661. Em Portugal, tem-se A Gazeta, em 1641. No final do século XVIII, a<br />

imprensa diária chega à França e à Inglaterra.<br />

No século XIX, verificou-se o crescimento da ativida<strong>de</strong> jornalística, a partir da expansão do<br />

capitalismo e da ampliação da urbanização – efetivamente, o <strong>jornalismo</strong> impresso é um<br />

fenôme<strong>no</strong> urba<strong>no</strong>-industrial.<br />

Em meados <strong>de</strong>sse século, a informação barata dos penny press, que fazem referência ao “um<br />

centavo” necessário para comprar jornais, ampliou o público dos diários <strong>no</strong>s Estados Unidos e<br />

fez movimentar o mercado publicitário.<br />

As tec<strong>no</strong>logias também influenciaram <strong>de</strong>cisivamente <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s do <strong>jornalismo</strong>. Os avanços<br />

na rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> transmissão da informação, com o auxílio do telégrafo, favoreceram a criação das<br />

agências <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias, como a Agence Havas, na França (1836), a Associated Press, <strong>no</strong>s Estados<br />

Unidos (1844), e a Reuters, na Inglaterra (1851). Traquina (2004, p. 54) explica:<br />

O impacto do telégrafo <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong> foi<br />

significativo porque consolidou tudo o que a penny press<br />

tinha posto em movimento: permitiu que os<br />

jornais funcionassem em tempo real, ajudou a fomentar<br />

a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> mais vasta <strong>de</strong> pessoas<br />

empregadas integralmente <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong> produzir<br />

informação, que rapidamente alargaram ao nível<br />

internacional a sua cobertura jornalística, num processo<br />

continuado até hoje na globalização do <strong>jornalismo</strong>, e<br />

introduziu alterações fundamentais na escrita das <strong>no</strong>tícias,<br />

uma linguagem telegráfica.<br />

Com a instituição da empresa <strong>de</strong> comunicação, ou seja, uma organização <strong>de</strong>stinada<br />

exclusivamente a produzir e ven<strong>de</strong>r <strong>no</strong>tícias, sustentada pela publicida<strong>de</strong> e pela vendagem <strong>de</strong>


jornais, o <strong>jornalismo</strong> se distancia cada vez mais da explícita tutela políticoeconômica para se firmar<br />

como um campo. Agora, estamos em fins do século XIX, falando <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> primeiro<br />

mundo, <strong>no</strong>tadamente a <strong>no</strong>rte-americana.<br />

Conforme afirma Traquina (2004, p.36), “a emergência do <strong>jornalismo</strong> com seus próprios<br />

‘padrões <strong>de</strong> performance e integrida<strong>de</strong> moral’ tor<strong>no</strong>u-se possível com a crescente<br />

in<strong>de</strong>pendência econômica dos jornais em relação aos subsídios políticos, método dominante <strong>de</strong><br />

financiamento da imprensa <strong>no</strong> início do século XIX”.<br />

O século XX assistiu ao crescimento da indústria da comunicação, influenciada pelo<br />

surgimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas mídias (rádio, TV, internet) e também pelo sombreamento planetário do<br />

modo capitalista urba<strong>no</strong>-industrial e burguês <strong>de</strong> viver. Registre-se que a indústria <strong>de</strong> mídia,<br />

fortemente ancorada <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong>, é um gran<strong>de</strong> negócio do capitalismo e, ao mesmo tempo, o seu<br />

mais po<strong>de</strong>roso preposto i<strong>de</strong>ológico na atualida<strong>de</strong>.<br />

Para arrematar esta história, vale reportar as cinco épocas distintas que Ciro Marcon<strong>de</strong>s Filho<br />

<strong>de</strong>marcou para o <strong>jornalismo</strong>, segundo relata Pena (2005):<br />

1) Pré-história do <strong>jornalismo</strong>, <strong>de</strong> 1631 a 1789, caracterizada por produção artesanal e bem<br />

próxima do livro;<br />

2) Primeiro <strong>jornalismo</strong>, <strong>de</strong> 1789 a 1830, marcado pelo conteúdo literário e político,<br />

comandado por escritores, políticos e intelectuais;<br />

3) Segundo <strong>jornalismo</strong>, <strong>de</strong> 1830 a 1900, caracterizado pelo surgimento da imprensa <strong>de</strong> massa,<br />

início da profissionalização dos jornalistas, instituição <strong>de</strong> reportagens e manchetes, estruturação <strong>de</strong><br />

empresas e utilização <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>;<br />

4) Terceiro <strong>jornalismo</strong>, <strong>de</strong> 1900 a 1960, com imprensa mo<strong>no</strong>polista, e<strong>no</strong>rmes tiragens,<br />

formação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> mídia; e<br />

5) Quarto <strong>jornalismo</strong>, a partir <strong>de</strong> 1960, marcado pelas tec<strong>no</strong>logias eletrônicas e digitais,<br />

interativida<strong>de</strong>, velocida<strong>de</strong>, atualização intermitente, valorização da imagem e crise da imprensa<br />

escrita.<br />

O Brasil


Em <strong>no</strong>sso País, o <strong>jornalismo</strong> impresso só <strong>de</strong>slanchou a partir <strong>de</strong> 1808, com a chegada da<br />

Família Real, o que <strong>de</strong>monstra uma <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 300 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> em relação à Europa. Antes<br />

disso, as <strong>no</strong>tícias circulavam principalmente pela ação dos tropeiros, que se configuravam como<br />

verda<strong>de</strong>iros veículos <strong>de</strong> comunicação, ou por intermédio da militância intelectual da elite<br />

tupiniquim.<br />

A estratégia da Coroa Portuguesa era evitar a circulação <strong>de</strong> informações.<br />

Havia controle rígido, com punições severas em caso <strong>de</strong> transgressões. Sem a autorização da<br />

metrópole para imprimir, as <strong>no</strong>tícias escritas circulavam através <strong>de</strong> cartas ou pasquins, que eram<br />

manuscritos e afixados em pontos <strong>de</strong> maior circulação ou recopiados e jogados por <strong>de</strong>baixo das<br />

portas.<br />

A luta pela in<strong>de</strong>pendência do Brasil foi um dos fatores que 30 impulsio<strong>no</strong>u a formação <strong>de</strong><br />

grupos e a produção <strong>de</strong> folhetins.<br />

Mesmo assim, durante muito tempo, as <strong>no</strong>tícias dos movimentos políticos ficavam restritas aos<br />

conchavos <strong>no</strong>s porões. É como diz Gontijo (2004, p. 276): “O <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> idéias seguia<br />

acontecendo em diferentes pontos do país, apesar <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação. O livro<br />

e os textos manuscritos foram sem dúvida a principal ferramenta <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> informações,<br />

na falta <strong>de</strong> impressoras e <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> correios eficiente”.<br />

Resumindo: a instalação da primeira tipografia <strong>no</strong> Brasil, a fundação <strong>de</strong> jornais e periódicos,<br />

tudo isso foi possibilitado graças à vinda Família Real e à instalação da Imprensa Régia. Em 10<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1808, saiu o primeiro número <strong>de</strong> A Gazeta do Rio <strong>de</strong> Janeiro, patrocinado pela<br />

corte. Em junho do mesmo a<strong>no</strong>, Hipólito José da Costa, <strong>de</strong> Londres, lançou o seu Correio<br />

Braziliense.<br />

Gontijo <strong>no</strong>s relata que foi somente a partir dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1820, com a In<strong>de</strong>pendência e a abertura<br />

dos primeiros cursos <strong>de</strong> Direito <strong>no</strong> País, que a imprensa ganhou vulto. Nesse sentido, em 1823, a<br />

Assembléia Nacional promulgou a primeira lei <strong>de</strong> imprensa, garantindo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão,<br />

pois a instalação da Imprensa Régia não mudou em nada a realida<strong>de</strong> do aparato <strong>de</strong> controle<br />

da informação.


Com a <strong>no</strong>va realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita acima, jornais e pasquins experimentam a pauta política para<br />

alimentar a disputa pelo po<strong>de</strong>r.<br />

Durante várias décadas, registra-se um <strong>jornalismo</strong> impresso bastante panfletário e<br />

sensacionalista. Duas gran<strong>de</strong>s causas – o fim da escravidão e a proclamação da República e suas<br />

conquistas – vão funcionar como a base para o surgimento do jornal como empresa, <strong>no</strong> final do<br />

século XIX.<br />

Gran<strong>de</strong>s <strong>no</strong>mes da literatura e do direito passam a escrever <strong>no</strong>s prestigiosos espaços da imprensa. A<br />

urbanização e o <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo <strong>no</strong> País, acalentados pela i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e<br />

progresso, juntamente com a influência dos imigrantes europeus que aqui aportaram com o hábito<br />

<strong>de</strong> ler e produz jornais alternativos, acabou por impulsionar a imprensa <strong>no</strong> Brasil.<br />

Gran<strong>de</strong>s grupos começaram a se formar e alguns <strong>de</strong> seus periódicos existem até hoje, como o Jornal<br />

do Brasil e, posteriormente, O Globo.<br />

No Brasil, a profissionalização ou auto<strong>no</strong>mização do <strong>jornalismo</strong>, basicamente o impresso, só vem a<br />

ocorrer por volta dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 50, a partir da reprodução do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> e rotinas produtivas<br />

lançadas mais <strong>de</strong> 50 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> antes <strong>no</strong>s Estados Unidos.<br />

Os maiores jornais do Brasil investiram num discurso e em processos que referendassem a posição<br />

<strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia e profissionalização do <strong>jornalismo</strong>. Por essa época, as escolas <strong>de</strong><br />

Comunicação tornam-se uma realida<strong>de</strong> em <strong>no</strong>sso País.<br />

Mas a ligação direta com os grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nunca foi <strong>de</strong>sfeita.<br />

Ao longo do século XX, registra-se a formação <strong>de</strong> influentes grupos <strong>de</strong> mídia, que passam a<br />

concentrar as <strong>no</strong>vas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> (rádio, TV e internet). Atualmente, seis re<strong>de</strong>s<br />

nacionais <strong>de</strong> TV – Globo, SBT, Record, Ban<strong>de</strong>irantes, Re<strong>de</strong> TV!<br />

E CNT – controlam quase 700 veículos em todo o País. E, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>las, estão 50 jornais diários,<br />

mais <strong>de</strong> 300 canais <strong>de</strong> TV e outras 300 e tantas emissoras <strong>de</strong> rádio, sem falar dos portais <strong>de</strong> internet.<br />

Os maiores grupos <strong>de</strong> mídia são: Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Abril, Grupo Estadão,<br />

Grupo RBS e CBM – Companhia Brasileira <strong>de</strong> Mídia.<br />

Todas essas organizações estão às voltas com a discussão e o ajustamento <strong>de</strong> suas mídias impressas<br />

<strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong>, principalmente, os diários. Concorrência <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas mídias, custos <strong>de</strong><br />

produção, enxugamento <strong>de</strong> quadros, dilemas <strong>de</strong> cobertura e posicionamento frente ao “tempo real”


e ao “vivo’’ da internet e da TV, <strong>de</strong>ntre tantas outras questões, colocam o <strong>jornalismo</strong> impresso, que<br />

foi a origem <strong>de</strong> tudo, <strong>no</strong> centro das discussões neste início <strong>de</strong> século XXI.<br />

Diante <strong>de</strong>sse quadro, o <strong>jornalismo</strong> impresso vai reciclar-se ou <strong>de</strong>saparecer? Mas essa é uma outra<br />

história – a história do futuro.<br />

Fiquemos com os relatos do passado, especificamente do <strong>no</strong>sso <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, que, inclusive, <strong>no</strong>s<br />

ajudam a enten<strong>de</strong>r o presente e a pensar e refletir sobre os dias que virão.<br />

Cro<strong>no</strong>logia do surgimento dos periódicos <strong>no</strong>s Estados brasileiros<br />

1811 – Bahia, Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ouro do Brasil<br />

1821 – Pernambuco, Aurora Pernambucana<br />

1821 – Maranhão, Conciliador Maranhense<br />

1822 – Minas Gerais, Compilador Mi-neiro<br />

1822 – Pará, Paraense<br />

1823 – São Paulo, O Paulista<br />

1824 – Ceará, Diário do Gover<strong>no</strong> do Ceará<br />

1826 – Paraíba, Gazeta da Parayba do Norte<br />

1827 – Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, O Diário <strong>de</strong> Porto Alegre e Constitucional Rio-Gran<strong>de</strong>nse<br />

1829 – Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Niterói), Eco na Vila Real da Praia Gran<strong>de</strong><br />

1830 – Goiás, Matutina Meiapontense<br />

1831 – Alagoas, Íris Alagoense<br />

1831 – Santa Catarina, O Catharinense<br />

1832 – Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Natalense<br />

1832 – Sergipe, Recopilador Sergipa<strong>no</strong><br />

1835 – Piauí, Correio da Assembléia Legislativa do Piauhi<br />

1839 – Mato Grosso, Themis Mattogrossense<br />

1840 – <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, O Estafeta, com apenas um número.


1849 – O Correio da Vitória<br />

1851 – Amazonas (província do Império a partir <strong>de</strong> 1850), Cinco <strong>de</strong> Setembro<br />

1854 – Paraná (província do Império a partir <strong>de</strong> 1853), Deze<strong>no</strong>ve <strong>de</strong> Dezembro<br />

Fonte: Gontijo (2004)


Referências bibliográficas<br />

BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1997.<br />

CHILDS, Harwood L. Relações públicas, propaganda e opinião pública. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 1976.<br />

FREITAS, S. Comunicarte. Campinas. v.2, nº.4. 1984.<br />

GONTIJO, Silvana. O livro <strong>de</strong> ouro da comunicação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 2004.<br />

PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.<br />

TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo, porque as <strong>no</strong>tícias são como são. Florianópolis: Insular, 2004.<br />

TUCHMAN, G. A objetivida<strong>de</strong> como ritual estratégico. In: TRAQUINA,<br />

Nelson. (org). Jornalismo - questões, teorias e “estórias”. Lisboa, Vega, 1993.<br />

ZELIZER, B. Covering the body: the Kennedy assassination, the media, and the shaping of collective<br />

memory. Chicago and London: University of Chicago Press, 1992.


Os primórdios da Imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Andressa Zanandrea e Lucia<strong>no</strong> Frizzera<br />

O historiador Heráclito Amâncio Pereira reuniu, em um inventário, dados sobre jornais,<br />

revistas e outras publicações impressas que circulavam em todo o Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>no</strong><br />

período compreendido entre 1840 e 1926. O trabalho A Imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> foi publicado<br />

pelo Instituto Histórico e Geográfico do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e apresentado <strong>no</strong> oitavo Congresso <strong>de</strong><br />

Geografia, em 1926. Na ocasião, foi consi<strong>de</strong>rado um “estudo cuidadoso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance para a<br />

vida social e política do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>”.<br />

No trabalho estão registradas mais <strong>de</strong> 400 publicações. Possivelmente havia outras, mas, já<br />

naquela época, havia dificulda<strong>de</strong> em se encontrar os exemplares, sendo esses os que foram<br />

encontrados por Heráclito Amâncio Pereira. Esta foi a primeira catalogação da imprensa capixaba.<br />

O que havia sido feito anteriormente era <strong>de</strong>ficiente e permeado <strong>de</strong> erros.<br />

Como po<strong>de</strong>mos perceber ao longo do inventário, logo que as primeiras tipografias chegaram<br />

ao <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, havia poucas publicações. O número foi se expandindo com o passar dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, e<br />

a tiragem dos periódicos também foi aumentando. Entre 1840 e 1860, foram publicados apenas 13<br />

jornais. A partir <strong>de</strong> 1880, os números começam a ficar mais expressivos. Entre 1880 e<br />

1900, surgiram 100 jornais. Mas, <strong>de</strong> 1900 a 1926, o número foi mais que o triplo: 320 publicações.<br />

Apesar do gran<strong>de</strong> número, foram poucos os que perduraram. Muitos publicaram somente<br />

uma edição e gran<strong>de</strong> parte não durou mais que um a<strong>no</strong> – lembrando que a maioria <strong>de</strong>les não saía<br />

diariamente.<br />

Com o material que temos em mãos, não somos capazes <strong>de</strong> fazer amplas análises. Mas, ao<br />

longo do texto, po<strong>de</strong>mos apontar os vínculos mantidos por esses jornais, como os políticos e os<br />

<strong>de</strong> classe. No entanto, muitos <strong>de</strong>sses periódicos não existiam por razões políticas, mas somente<br />

como órgãos escolares, publicações <strong>de</strong>stinadas às mulheres ou puramente humorísticas.<br />

Em 1840, houve a primeira tentativa <strong>de</strong> se estabelecer um jornal <strong>no</strong> Estado. Em 15 <strong>de</strong><br />

setembro, o alferes Ayres Vieira <strong>de</strong> Albuquerque Tovar firmou contrato com o Gover<strong>no</strong><br />

Provincial para publicar atos oficiais. Assim, fundou O Estafeta, na Capital do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.


Pelo contrato, Ayres Tovar comprometia-se a publicar um jornal duas vezes por semana,<br />

ficando o Gover<strong>no</strong> com o direito a 120 exemplares <strong>de</strong> cada número, pelos quais pagaria 10 mil réis.<br />

O jornal tinha como diretor <strong>de</strong> oficinas José Marcelli<strong>no</strong> Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos. No entanto,<br />

circulou somente uma vez. Em 1848, sua tipografia foi vendida a Pedro Antônio <strong>de</strong><br />

Azeredo, secretário do Gover<strong>no</strong>, que em 1849 criaria o primeiro impresso <strong>de</strong> <strong>no</strong>torieda<strong>de</strong>: o Correio<br />

da Victoria.<br />

O primeiro número do Correio circulou em 17 <strong>de</strong> janeiro. O jornal tinha Azeredo como<br />

proprietário e redator, e era impresso em papel <strong>de</strong> linho azulado. A primeira pessoa que o leu antes<br />

<strong>de</strong> sua distribuição foi o coronel José Francisco <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Almeida Monjardim. Era uma folha<br />

política, literária e <strong>no</strong>ticiosa.<br />

No a<strong>no</strong> anterior, em 26 <strong>de</strong> setembro, Azeredo e o Gover<strong>no</strong> Provincial assinaram um contrato<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>a<strong>no</strong>s</strong> para a publicação dos atos oficiais, que, para isso, marcava a quantia <strong>de</strong> um conto<br />

<strong>de</strong> réis. Para cada folha <strong>de</strong> impressão, Azeredo receberia 10 mil réis.<br />

Em março <strong>de</strong> 1849, foi lavrado contrato, entre o proprietário do Correio e a Comissão <strong>de</strong><br />

Política da Assembléia Provincial, para a publicação dos atos legislativos na sessão daquele a<strong>no</strong>. A<br />

comissão <strong>de</strong> política, então, compunha-se dos seguintes membros:<br />

José da Silva Vieira Rios, Wenceslau da Costa Vidigal e Francisco Rodrigues Barcellos Freire.


Na edição <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1852, o Correio publica sua posição: o “dogma político –<br />

monarquia, constituição e liberda<strong>de</strong> – dá guarda à <strong>de</strong>fesa do oprimido, e censura o opressor e o<br />

crime, procurará vulgarizar os melhoramentos morais e materiais que se tenham feito em benefício<br />

da espécie humana; promoverá quanto em si estiver o engran<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong>sta terra, em que vive,<br />

acompanhará a administração da província <strong>no</strong>s benefícios que lhe tiver <strong>de</strong> fazer, e mesmo lhe<br />

lembrará aquelas mais urgentes e exigidas precisões para o bem do povo; - publicará enfim os atos<br />

do gover<strong>no</strong> e daquelas repartições que se quiserem <strong>de</strong> sua colunas utilizar: é esta sua missão, é este<br />

o sacerdócio mais <strong>no</strong>bre e sagrado da imprensa livre, e or<strong>de</strong>ira – é esta a profissão <strong>de</strong> princípios que<br />

vêm hoje fazer em público o Correio da Victoria”. Termina franqueando suas colunas aos cultores<br />

das boas letras e prometendo invitar todas as forças para o engran<strong>de</strong>cimento da província.<br />

Em 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1852, a Assembléia cassou o contrato e, em 3 <strong>de</strong> julho, o Correio <strong>de</strong>clarou<br />

que <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> publicar os atos oficiais e franqueava suas colunas a todas as publicações. Esta foi a<br />

in<strong>de</strong>pendência da publicação, como disse em seu editorial, intitulado Nossa missão da imprensa.<br />

Não obstante, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1852 em diante, tor<strong>no</strong>u a dar publicida<strong>de</strong> aos atos da<br />

secretaria do gover<strong>no</strong>, sendo assinado <strong>no</strong>vo contrato aos 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1853. O Correio foi<br />

bissemanal (quartas e sábados) até 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1872, quando começou a circular três vezes por<br />

semana (terças, quintas e sábados). Defendia a política conservadora, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser publicado em<br />

1873, com a cisão levantada <strong>no</strong> seio do partido. Tinha quatro páginas.<br />

Entre seus colaboradores estavam Rangel Sampaio, Emílio da Silva Coutinho, João Luiz da<br />

Fraga Loureiro, Antônio Joaquim Rodrigues e José Joaquim Rodrigues, que foi seu redator<br />

durante três <strong>a<strong>no</strong>s</strong> (1852-1854). Com a morte <strong>de</strong> Azeredo, passou, em janeiro <strong>de</strong> 1872, a ser<br />

priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joaquim Francisco Pinto Ribeiro e gerido por Aprígio Guilhermi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Jesus; antes,<br />

em 1869, estivera sob a redação <strong>de</strong> Tito da Silva Machado. Tor<strong>no</strong>u-se, <strong>de</strong>pois, proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jacintho Escobar Araújo.<br />

O <strong>no</strong>ticiário local era muito resumido, havendo dias em que <strong>de</strong>ixava completamente <strong>de</strong><br />

aparecer <strong>no</strong> jornal, que não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser atochado com transcrições <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias da corte. A<br />

tiragem era pequena e havia correspon<strong>de</strong>nte <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Os anúncios eram poucos e na<br />

maioria sobre escravos fugidos. O comércio ainda não sabia se servir <strong>de</strong>ssa po<strong>de</strong>rosa arma <strong>de</strong><br />

propaganda.


No Correio <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1859 foi publicado em folhetim um ensaio <strong>de</strong> crônica sob o<br />

título A Semana. Seria essa a primeira crônica aparecida na imprensa capixaba.<br />

O terceiro jornal capixaba foi A Regeneração, que surgiu em 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1853, na<br />

Capital. Era um periódico bissemanal literário, imparcial e <strong>de</strong> regular formato, que se publicou até<br />

fevereiro <strong>de</strong> 1856. Conforme a tradição, exerceu influência salutar sobre os costumes da socieda<strong>de</strong>.<br />

O proprietário e redator era Ma<strong>no</strong>el Ferreira das Neves, professor público da segunda ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

primeiras letras da Capital, e entre seus colaboradores contava- se José Marcelli<strong>no</strong> Pereira <strong>de</strong><br />

Vasconcellos. Manteve contrato com a Assembléia Provincial, para a publicação <strong>de</strong> seus atos,<br />

em 1854, por 200 mil réis. Diz-se que foi um dos melhores periódi- cos, pelas matérias, boa redação<br />

e niti<strong>de</strong>z <strong>de</strong> impressão.<br />

Em 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1856, surge O Capichaba, na Capital. Era um periódico político e <strong>no</strong>ticioso,<br />

aparecido como órgão das idéias <strong>de</strong> um dos lados da Assembléia Provincial (mi<strong>no</strong>ria) e para<br />

combater pela eleição <strong>de</strong> um espírito-santense patriota e ilustrado como <strong>de</strong>putado pela província à<br />

Câmara Temporária. Publicava-se às quintas- feiras. Seu 15º e último número circulou em 23 <strong>de</strong><br />

outubro.<br />

Em 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1857, surge O Semanário, na Capital. Era um jornal <strong>de</strong> instrução e recreio,<br />

<strong>de</strong> publicação semanal (sextas- feiras). Era <strong>de</strong> exclusiva proprieda<strong>de</strong> e direção do major<br />

José Marcelli<strong>no</strong> Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos. Suspen<strong>de</strong>u a publicação aos 6 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro do mesmo<br />

a<strong>no</strong>, em vista <strong>de</strong> alteração na saú<strong>de</strong> do diretor, reaparecendo aos 10 <strong>de</strong> fevereiro do a<strong>no</strong> seguinte.<br />

O número 50, último, traz a data <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1858. Tinha oito páginas. Possuía 202 assinantes:<br />

41 na Capital; 130 em outros pontos da província e fora <strong>de</strong>la.<br />

Em 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1859 surge o Aurora, na Capital. Era um periódico literário, científico e<br />

per acci<strong>de</strong>ns político, que saía às sextas- feiras, tendo cada número oito páginas. A folha avulsa<br />

era vendida a 160 réis. Suspen<strong>de</strong>u a publicação, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver publicado <strong>de</strong>zesseis números, por<br />

motivo <strong>de</strong> se ter retirado <strong>de</strong>sta capital o Dr. Joaquim dos <strong>Santo</strong>s Neves, seu redator.<br />

Durante o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1860, surgem sete publicações na Capital. O Mercantil, A Liga, O<br />

Indagador, O Maribondo, O Picapau, O Periódico dos Pobres, que substituiu O Picapau em 9 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro. Todos duraram pouco.


No mesmo a<strong>no</strong>, em 7 <strong>de</strong> setembro, começou a circular também O Provincia<strong>no</strong>. Era um jornal<br />

político, <strong>no</strong>ticioso e órgão do Partido Conservador, que tinha como editor-proprietário Emílio<br />

Francisco Guizã e como redatores principais José Camillo Ferreira Rabello e Antônio Joaquim<br />

Rodrigues, que, ao retirar-se da redação, foi substituído por Joaquim José Fernan<strong>de</strong>s Maciel.<br />

Publicava-se às quintas feiras e aos domingos. Tinha quatro páginas.<br />

Em 1861, surgiram na Capital os jornais União Capichaba, O Clarim, O Desapprovador e O<br />

Tempo. O primeiro data <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> fevereiro e era político progressista. O primeiro número <strong>de</strong> O<br />

Clarim – que era político, literário e <strong>no</strong>ticioso – circulou em <strong>de</strong> abril.<br />

Já O Desapprovador era <strong>no</strong>ticioso, político e recreativo, tendo aparecido em 5 <strong>de</strong> outubro.<br />

O Tempo circulou pela primeira vez em 1º <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, sob a redação <strong>de</strong> José Marcelli<strong>no</strong><br />

Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos. Era um órgão político e advogado das idéias do Partido Liberal. Em<br />

1862, suspen<strong>de</strong>u a publicação durante quatro meses. Sua tipografia foi administrada por Ma<strong>no</strong>el<br />

Antônio <strong>de</strong> Albuquerque Rosa até 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1863.<br />

Em 1863, foram publicados na Capital pela primeira vez A Borboleta, Amigo do Povo, Liberal<br />

e O Monarchista, um jornal político e <strong>no</strong>ticioso. O do<strong>no</strong> e editor era Ma<strong>no</strong>el Antônio <strong>de</strong><br />

Albuquerque Rosa. Surgiu como órgão do Partido Conservador com o fim <strong>de</strong> O Provincia<strong>no</strong> e<br />

usava sua tipografia. Estava sob a redação <strong>de</strong> Joaquim José Fernan<strong>de</strong>s Maciel (redator-chefe),<br />

Antônio Joaquim Rodrigues e José Camillo Ferreira Rabello. Publicava-se às quintas-feiras e<br />

domingos, com quatro páginas. Parou <strong>de</strong> circular <strong>no</strong> fim <strong>de</strong> 1865.<br />

Em 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1864, surge o Jornal da Victoria. Defendia as idéias do Partido Liberal. Seus<br />

redatores eram os engenheiros Ma<strong>no</strong>el Felicia<strong>no</strong> Moniz Freire (redator-chefe e<br />

proprietário), Leopoldo Augusto Deoclecian <strong>de</strong> Mello e Cunha, o bacharel José Corrêa <strong>de</strong> Jesus. O<br />

gerente era Delecarliense Drumond <strong>de</strong> Alencar Araripe, que, em 1866, tor<strong>no</strong>u-se o proprietário do<br />

jornal.<br />

Entre seus colaboradores estavam Ma<strong>no</strong>el Augusto da Silveira e João Zeferi<strong>no</strong> Rangel <strong>de</strong> S.<br />

Paio. O Jornal da Victoria substituiu O Tempo, cuja tipografia herdou, e circulava às quartas-feiras<br />

e aos sábados, trazendo também atos oficiais. Devido à falta <strong>de</strong> assinaturas em número suficiente<br />

para cobrir as <strong>de</strong>spesas, suspen<strong>de</strong>u a publicação em 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1869, com o número 588.<br />

Em 1866, é publicado o primeiro periódico fora da Capital.


O primeiro número <strong>de</strong> O Itabira circula em Cachoeiro do Itapemirim em 1º <strong>de</strong> julho. O jornal<br />

era redatoriado por Basílio Carvalho Daemon, editorado por João Paulo Ferreira Rios e usava a<br />

tipografia <strong>de</strong> O Monarchista. Era literário, agrícola, comercial e <strong>no</strong>ticioso. Tendo-se tornado<br />

violento, foi obrigado a suspen<strong>de</strong>r a publicação, sendo substituído em 1868 por O Estandarte.<br />

Na Capital, em 23 <strong>de</strong> julho, surge o Diário Victoriense, órgão literário e <strong>no</strong>ticioso, sob a<br />

redação <strong>de</strong> Emílio Francisco Guizã, seu proprietário. Era publicado diariamente, com exceção<br />

dos domingos e dias santos. Surge também O Escorpião, <strong>de</strong> caráter pilhérico, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Em 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1867, é publicado O Filho do Escorpião, em substituição a O Escorpião.<br />

No mês <strong>de</strong> julho, circula, em Anchieta, o primeiro número do Estrella do Sul, que passa a ser<br />

impresso na Capital em 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1868.<br />

Em 24 <strong>de</strong> agosto, sai o primeiro número do Sentinella do Sul, na Vila do Itapemirim. Defendia<br />

o Partido Liberal, sendo proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma associação. Estava sob a direção política do Dr.<br />

Climaco Barbosa, administração <strong>de</strong> Ângelo Ramos e redação <strong>de</strong> Horta <strong>de</strong> Araújo, Maximia<strong>no</strong><br />

Bue<strong>no</strong>, Macedo Pires <strong>de</strong> Amorim, Antão e Ma<strong>no</strong>el Joaquim <strong>de</strong> Lemos. Publicava-se aos<br />

sábados, passando a circular aos domingos, em 22 <strong>de</strong> setembro. Sustentou gran<strong>de</strong>s lutas com O<br />

Itabira, tornando-se violento. Deu o nº 52 a 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1868 e suspen<strong>de</strong>u a publicação, mas<br />

ainda circulou em 1869.<br />

Em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1868, surge, na Capital, O Cidadão, <strong>de</strong>fen- sor do Partido Liberal e<br />

redigido por José Corrêa <strong>de</strong> Jesus. A Voz do Povo surge em 27 <strong>de</strong> agosto, também <strong>de</strong>fensor do<br />

Partido Liberal e também redigido por José Corrêa <strong>de</strong> Jesus. Em Cachoeiro, é criado O Estandarte,<br />

para substituir O Itabira, em 5 <strong>de</strong> abril.<br />

Tinha como redator e proprietário Basílio Carvalho Daemon, e os colaboradores eram os<br />

mesmos <strong>de</strong> O Itabira. Circulava semanalmente, aos domingos, e era político, literário, <strong>no</strong>ticioso<br />

e <strong>de</strong>fensor do partido conservador.<br />

Em 31 <strong>de</strong> março do a<strong>no</strong> seguinte, é publicado A Liga, na Capital.<br />

Em 8 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1870, circula pela primeira vez, na Capital, O <strong>Espírito</strong> Santense. O<br />

fundador e primeiro redator foi Marcelli<strong>no</strong> Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos, e o gerente e editor, Ma<strong>no</strong>el<br />

Antônio <strong>de</strong> Albuquerque Rosa. Era político, científico, literário, <strong>no</strong>ticioso e <strong>de</strong>fendia idéias


conservadoras. Tinha correspon<strong>de</strong>ntes na França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos e<br />

em algumas repúblicas do Sul, os quais enviavam <strong>no</strong>tícias quinzenalmente.<br />

Entre seus colaboradores, po<strong>de</strong>mos citar José Joaquim Pessanha Póvoa, Mucio Teixeira,<br />

Affonso Cláudio, padre Antunes <strong>de</strong> Siqueira, professor Aristi<strong>de</strong>s Freire, Ma<strong>no</strong>el Rodrigues, Ubaldo<br />

Rodrigues, Antônio Athay<strong>de</strong>, Almeida Nobre, Amâncio Pereira, Cleto Nunes Pereira, Candido<br />

Brizindor, Eduardo Gomes Ferreira Velloso, Sebastião Mestrinho, Miguel Thomaz Pessoa, Edgardo<br />

Daemon, Mag<strong>no</strong> Machado, J. Firmi<strong>no</strong> dos <strong>Santo</strong>s, Godofredo Autran, Emílio da Silva Coutinho, M.<br />

H. <strong>de</strong> Moraes, Adrião Rangel, Ignácio Thomaz Pessoa, A. d’Oliveira Costa (correspon<strong>de</strong>nte em<br />

Paris) e Coriola<strong>no</strong> <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Era publicado três vezes por semana. Tendo suspendido a circulação por cerca <strong>de</strong> cinco meses,<br />

reapareceu em 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1880. H. A. Binner foi seu impressor, até 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1874, quando<br />

passou a ser impresso por Miguel Pereira Gambôa.<br />

Em 1877, a <strong>de</strong>spesa com o pessoal <strong>de</strong> suas oficinas atingia 420 mil réis mensais. Tinha quatro<br />

páginas e sua tiragem era <strong>de</strong> 500 exemplares.<br />

Seus adversários chamavam-lhe a Bíblia da Mentira, o Carrilhão da Victoria, Órgão<br />

Cabeleira, Gran<strong>de</strong> Realejo, Órgão do Percevejo Viajante, entre outros. O jornal durou até 14 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1889.<br />

Em 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1872, O Conservador começa a circular na Capital. Era bissemanal e<br />

começou a ser publicado como aprendizagem <strong>de</strong> arte tipográfica e passatempo do então<br />

estudante Ma<strong>no</strong>el Corrêa <strong>de</strong> Vasconcellos. Tor<strong>no</strong>u-se político mais tar<strong>de</strong>, sendo então <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e redação do capitão Francisco Urba<strong>no</strong> <strong>de</strong> Vasconcellos. Colaboravam Tito da Silva<br />

Machado, José Joaquim Pessanha Póvoa, Joaquim Corrêa <strong>de</strong> Lírio e outros. Chamavam- lhe<br />

também Periquito.<br />

No a<strong>no</strong> seguinte, em 16 <strong>de</strong> março, chegou às ruas A União. Era um órgão liberal redigido por<br />

Tito da Silva Machado e outros. Saía às quintas-feiras e aos domingos, mas suspen<strong>de</strong>u a publicação<br />

por falta <strong>de</strong> recursos, em março <strong>de</strong> 1874. Tinha quatro páginas e entre seus colaboradores estava o<br />

padre Antunes <strong>de</strong> Siqueira.<br />

Em 3 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1875, na Vila do Itapemirim, surge O Operário do Progresso. Em seu<br />

artigo <strong>de</strong> apresentação, comprometia-se a ser imparcial em questões pessoais e políticas, e a


esforçar-se pelo <strong>de</strong>saparecimento do analfabetismo. Com quatro páginas, publicava-se aos<br />

domingos e trazia matérias sobre ciência, artes e indústria. Seu redator-proprietário era Augusto A.<br />

Pereira César e eram colaboradores José Felicia<strong>no</strong> Horta <strong>de</strong> Araújo, Leopoldo Augusto Deoclecia<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> Mello e Cunha e Joaquim Adolpho Pinto Pacca. O último número circulou aos 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1876.<br />

Em 24 <strong>de</strong> setembro, sai, na Capital, o primeiro número <strong>de</strong> A Aurora. Eram seus redatores<br />

Moniz Freire, Affonso Cláudio e João Monteiro Peixoto, então estudantes do Atheneu Provincial.<br />

Publicava-se semanalmente e ocupava-se <strong>de</strong> ciências, literatura e indústria. Foi o primeiro<br />

periódico nascido na província por iniciativa <strong>de</strong> estudantes.<br />

Em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, circula O Commercio, que manteve discussões com O <strong>Espírito</strong> Santense,<br />

pois atacou o conselheiro Costa Pereira e outros conservadores. Com quatro páginas e tiragem<br />

<strong>de</strong> 500 exemplares, circulava às terças-feiras e aos sábados, passando a ser semanal em fevereiro <strong>de</strong><br />

1876.<br />

Foram seus redatores José Joaquim Pessanha Póvoa e José Felicia<strong>no</strong> <strong>de</strong> Noronha Feital<br />

(também proprietário). Entre seus colaboradores estavam Francisco <strong>de</strong> Lima Escobar Araújo,<br />

também revisor, e Benjamin Constant Pereira da Graça. A publicação foi suspensa ainda em 1876.<br />

Em 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1876, surge O Itapemirinense, na Vila do Itapemirim.<br />

Era um periódico <strong>no</strong>ticioso, literário, comercial, agrícola e imparcial em política, publicado<br />

aos domingos. Na Capital, circula A Gazeta do Commercio, em 24 <strong>de</strong> junho. Era um<br />

órgão <strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> quatro páginas, que foi publicado até 1878, a<strong>no</strong> em que foi substituído pelA<br />

Gazeta da Victoria. O proprietário era Dr. José Joaquim Pessanha Povoa e entre seus<br />

colaboradores estavam Cleto Nunes Pereira e Affonso Cláudio.<br />

No mesmo a<strong>no</strong>, em 6 <strong>de</strong> agosto, A Liberda<strong>de</strong> é publicado pela primeira vez, na Capital. Era<br />

um semanário <strong>de</strong> quatro páginas, que tinha por objetivo o <strong>de</strong>senvolvimento das letras e ciências e<br />

estava sob a redação <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Mello Carvalho Moniz Freire e Candido Vieira da Costa, além <strong>de</strong><br />

ter colaboração <strong>de</strong> Affonso Cláudio e Cleto Nunes Pereira. Durou pouco. Surge também, em 5 <strong>de</strong><br />

outubro, o Opinião Liberal, periódico <strong>de</strong> quatro páginas e publicação semanal. Defendia o Partido<br />

Liberal e estava sob a direção do advogado Francisco Urba<strong>no</strong> <strong>de</strong> Vasconcellos, sendo seus


proprietários Alpheu A. Monjardim <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Almeida, Azambuja Meirelles e Leopoldo A. D.<br />

<strong>de</strong> Mello e Cunha.<br />

Em 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1877, sai, em Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, o primeiro número <strong>de</strong> O<br />

Cachoeira<strong>no</strong>. Era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e redação <strong>de</strong> seu fundador Luiz <strong>de</strong> Loyola e Silva.<br />

Com o nº 52, aos 23 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1879, completou o segundo a<strong>no</strong> e paralisou sua<br />

publicação. Reapareceu em 15 <strong>de</strong> junho.<br />

Em 1881, apresentou-se como órgão imparcial, sendo proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Loyola e Silva,<br />

que assumiu a chefia <strong>de</strong> redação.<br />

redação.<br />

Em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1887, José Felicia<strong>no</strong> Horta <strong>de</strong> Araújo <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> sua<br />

Tor<strong>no</strong>u-se órgão republica<strong>no</strong>, a partir <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1888, sob a redação do Dr. Antônio<br />

Gomes Aguirre e do farmacêutico Bernardo Horta, que já faziam parte da redação. Em 23 <strong>de</strong><br />

setembro do mesmo a<strong>no</strong>, os títulos das seções passaram a indicar os assuntos nelas tratados: “De<br />

malho em punho (editoriais); A <strong>no</strong>va fase; Álbum do povo; Por <strong>de</strong>ntro e por fora (<strong>no</strong>tícias);<br />

Em busca <strong>de</strong> Chanaan; Psiu...; Nós e os <strong>no</strong>ssos; Quem diz o que quer... (ineditoriais); Mundo oficial<br />

(editais); Dobrando si<strong>no</strong>s; A fama voa (anúncios); No parnaso; Colunas do povo”.<br />

Em 17 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1889, com a Proclamação da República, editou um número especial.<br />

Paralisou a publicação durante o mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, a fim <strong>de</strong> reformar seu material tipográfico.<br />

No a<strong>no</strong> seguinte, suas seções tomaram as <strong>de</strong><strong>no</strong>minações: “Pró-Pátria (editorial), Revista Semanal,<br />

Avisos, Literatura e Recreio, Coluna Livre, Editais, Anúncios”.<br />

Aos 15 <strong>de</strong> junho, tor<strong>no</strong>u-se órgão do Club Republica<strong>no</strong> 4 <strong>de</strong> maio, passando a ser redatoriado<br />

pelo farmacêutico Bernardo Horta <strong>de</strong> Araújo, Lydio Marian<strong>no</strong>, José Felicia<strong>no</strong> Horta <strong>de</strong> Araújo e<br />

Custódio Maia, sendo Leopoldi<strong>no</strong> Lima o seu administrador e João <strong>de</strong> Loyola e Silva o seu gerente.<br />

Custódio Maia retirou-se do corpo <strong>de</strong> redação em 14 <strong>de</strong> setembro, e, aos 18 <strong>de</strong> janeiro do a<strong>no</strong><br />

seguinte, a administração ficou a cargo <strong>de</strong> Adolpho Corrêa <strong>de</strong> Toledo.<br />

De 10 <strong>de</strong> maio a <strong>de</strong> junho, suspen<strong>de</strong>u a publicação, mais tar<strong>de</strong> reaparecendo como órgão<br />

imparcial e com programa completamente mudado, prestando apoio ao gover<strong>no</strong> do barão<br />

<strong>de</strong> Monjardim.


Em 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1892, Alfredo Moreira Gomes <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser co-proprietário e retirou-se da<br />

redação. Na ocasião, O Cachoeira<strong>no</strong> apresentou-se como órgão político, comercial e agrícola,<br />

passando a dirigi-lo Bernardo Horta <strong>de</strong> Araújo, auxiliado por Costa Cavalcanti e Dias <strong>de</strong> Freitas e o<br />

professor Quintilia<strong>no</strong> Azevedo.<br />

De 17 <strong>de</strong> julho até o fim do a<strong>no</strong>, encarregou-se da redação João Loyola e Silva.<br />

Começou a publicar serviço telegráfico na Capital Fe<strong>de</strong>ral, a 1º <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1893. Opôs-se ao<br />

golpe <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1891 e ao gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Marechal Floria<strong>no</strong>, havendo<br />

a<strong>de</strong>rido abertamente ao movimento revolucionário chefiado pelos almirantes Custódio e Saldanha.<br />

Suspen<strong>de</strong>u a publicação em 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893, por haver sido vendida a tipografia.<br />

Reapareceu em 6 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1894, quando comprou a tipografia <strong>de</strong> Opinião.<br />

Em 1901, foi órgão do partido Construtor-Auto<strong>no</strong>mista. No número <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1905,<br />

apareceu a seção “Notas avulsas”, <strong>de</strong>stinada à literatura amena, como ligeiro passatempo<br />

aos avessos à política.<br />

Suspen<strong>de</strong>u a publicação por ter sofrido empastelamento na <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1906,<br />

voltando em março <strong>de</strong> 1907, sob a direção <strong>de</strong> Bernardo Horta, redator-chefe, e Victor <strong>de</strong><br />

Moraes, redator-gerente.<br />

Em 1911, tor<strong>no</strong>u-se proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma associação, sendo seu gerente Alexandre Ramos.<br />

Tendo suspendido a publicação logo após a campanha presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> 1912, voltou pouco <strong>de</strong>pois,<br />

aos 4 <strong>de</strong> agosto do mesmo a<strong>no</strong>, sob a gerência <strong>de</strong> Alexandre Ramos, prometendo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os<br />

interesses do povo como órgão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e imparcial e não tomar parte em questões políticas.<br />

Em 1916, porém, colocou-se em oposição à candidatura <strong>de</strong> Bernardi<strong>no</strong> Monteiro à Presidência<br />

do Estado. Aos 6 <strong>de</strong> maio, José Bento Vidar Júnior assumiu a chefia da redação, <strong>de</strong> acordo com a<br />

vonta<strong>de</strong> do diretório oposicionista do município. Com o triunfo da chapa Bernardi<strong>no</strong>-Athay<strong>de</strong>, O<br />

Cachoeira<strong>no</strong> paralisou a publicação, voltando em outubro do mesmo a<strong>no</strong>, sob a direção <strong>de</strong> Alfredo<br />

<strong>de</strong> Souza Monteiro, então, sob a ban<strong>de</strong>ira do Partido Republica<strong>no</strong> do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

A 1º <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1921, iniciou uma <strong>no</strong>va fase, sob direção do Dr. Francisco Gonçalves e<br />

gerência <strong>de</strong> José Sobreira.


A princípio, publicava-se aos domingos. Depois aparecia duas vezes por semana, mas tor<strong>no</strong>u a<br />

circular semanalmente até 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1915, quando começou a dar edições vespertinas<br />

às quartas-feiras e sábados. Na época em que Heráclito fez a pesquisa, saía todas as quintas-feiras.<br />

Possuía quatro páginas, sendo que, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1894 a 11 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro do<br />

mesmo a<strong>no</strong>, foi impresso em duas páginas <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> papel. Tem seis e, às vezes, mais<br />

páginas, na fase atual.<br />

Entre seus colaboradores, nas diferentes fases <strong>de</strong> sua existência, estão Horta <strong>de</strong> Araújo, Maria<br />

Leonilda, Antônio Carlos da Fonseca, Bernardo Horta, Il<strong>de</strong>fonso Vianna, Eugênio<br />

Amorim, Godofredo da Silveira, M. C. <strong>de</strong> Vasconcellos, Deolindo Maciel, Virgílio Vidigal, Oscar<br />

Leal, Antônio Gomes Aguirre, Affonso Cláudio, Moreira Gomes, Coelho Lisboa, Silva Lima, José<br />

Marcelli<strong>no</strong>, João Freitas, Jeronymo <strong>de</strong> Souza Monteiro, José Li<strong>no</strong>, Joaquim Ayres, Ma<strong>no</strong>el<br />

Fernan<strong>de</strong>s, Pe. Antônio Fernan<strong>de</strong>s da Silva, padre Carloto Fernan<strong>de</strong>s da Silva, Júlio Leite, Victor <strong>de</strong><br />

Moraes, José Batalha Ribeiro, Cel. Antônio da Silva Marins, João Motta, Mário Imperial, Narciso<br />

Araújo, Benjamim Silva, José Calasans <strong>de</strong> Mello Rocha, Antônio Vieira, Tertulia<strong>no</strong> <strong>de</strong> Loyola,<br />

Moacyr Moraes, Sizenando <strong>de</strong> Mattos Bourguig<strong>no</strong>n, padre Carlos Regattieri, Belisario Vieira da<br />

Cunha, Everaldi<strong>no</strong> Silva, Sylvio Júlio e Attílio Vivacqua.<br />

Em abril <strong>de</strong> 1877, surge, na Capital, um peque<strong>no</strong> periódico <strong>de</strong>dicado ao sexo femini<strong>no</strong>: o<br />

Jornal das Moças. Era redigido por um “pai <strong>de</strong> família”. Em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, aparece, na Capital, O<br />

Echo dos Artistas. Era contra a aristocracia e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do editor Benedicto Ferreira <strong>de</strong><br />

Carvalho e Corrêa. Suspen<strong>de</strong>u a publicação, por ter se tornando violentíssimo, <strong>no</strong> oitavo número,<br />

em 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1878. Assinava-se na razão <strong>de</strong> 500 réis mensais para a Capital, e 3 mil réis o<br />

trimestre para fora. Avulso custava 120 réis. Tinha quatro páginas.<br />

Entre seus colaboradores estavam Affonso Cláudio, Cleto Nunes, Joaquim Lyrio, Pedro Lyrio,<br />

Alexandre Costa e Candido Brizindor. Nas palavras <strong>de</strong> Amâncio Pereira: “Fez uma<br />

trajetória rápida, mas <strong>de</strong> efeito pela in<strong>de</strong>pendência que sustentou”.<br />

A Gazeta da Victoria surge em 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1878, substituindo A Gazeta do Commercio.<br />

Em 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1879, passou a ser órgão <strong>de</strong>mocrático e, em abril <strong>de</strong> 1881, tor<strong>no</strong>u-se folha<br />

comercial, política, literária e <strong>no</strong>ticiosa.


Durou até 1889, a<strong>no</strong> em que esteve sob a redação <strong>de</strong> Pessanha Povoa e Joaquim Corrêa Lyrio.<br />

Circulava às terças, quintas e sábados.<br />

Tinha quatro páginas, com tiragem <strong>de</strong> 300 exemplares.<br />

Faziam parte <strong>de</strong> seu corpo <strong>de</strong> colaboradores Gonçalo Marinho <strong>de</strong> Albuquerque Lins, Affonso<br />

Cláudio, Ignácio Thomaz Pessoa, Amâncio Pereira, Antônio Athay<strong>de</strong>, Henrique Cancio,<br />

Braulio Cor<strong>de</strong>iro Jr., Horácio Costa, Benevi<strong>de</strong>s L. Barbosa, Olympio Hygi<strong>no</strong>, Pedro Lyrio, Genezio<br />

Lopes, Gomes Netto, Ma<strong>no</strong>el Augusto da Silveira, Moniz Freire, padre Antunes <strong>de</strong> Siqueira,<br />

Marins Jr., Mucio Teixeira, Emílio da Silva Coutinho e Candido Brizindor.<br />

Em 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1878, surge, na Capital, o Actualida<strong>de</strong>. Desapareceu com o falecimento<br />

<strong>de</strong> seu redator, ocorrido em 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1879. Folha política, literária, comercial e órgão<br />

do Partido Liberal. Estava sob a direção do bacharel José Corrêa <strong>de</strong> Jesus, sendo seu editor<br />

Benedicto Ferreira <strong>de</strong> Carvalho. Era continuador das idéias pregadas <strong>no</strong> Jornal da Victória, União e<br />

Opinião Liberal. Tinha quatro páginas.<br />

Em 7 <strong>de</strong> agosto, começou a se <strong>de</strong><strong>no</strong>minar A Actualida<strong>de</strong>. Devido ao fato <strong>de</strong> que o expediente<br />

do Gover<strong>no</strong> ocupava a maior parte das colunas, o <strong>Espírito</strong> Santense chamava-lhe o “órgão do<br />

expediente”.<br />

O primeiro número <strong>de</strong> Idéa, um semanário literário, saiu em 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1878. Era <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e redação dos tipógrafos <strong>de</strong> O <strong>Espírito</strong> Santense e durou até 1880. Afonso Cláudio<br />

e outros eram os seus colaboradores.<br />

Em 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1878, surge, na Capital, o Sete <strong>de</strong> Setembro.<br />

Durou pouco, mas pelo me<strong>no</strong>s um a<strong>no</strong>. Era literário e <strong>no</strong>ticioso, e estava sob a redação <strong>de</strong><br />

Amancio Pereira, Lydio Mululo e Pedro Lyrio, então estudantes do Atheneu Provincial. O papel<br />

ver<strong>de</strong> e amarelo para imprimir o primeiro número foi emprestado por Pessanha Povoa, <strong>de</strong> A Gazeta<br />

da Victoria.<br />

Em 11 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1878, A Gazeta da Victoria anunciou o aparecimento <strong>de</strong> O Bonito. Seria um<br />

periódico “crítico e chistoso, para mostrar a calva <strong>de</strong> certos moços tesoureiros <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong>s quebradas e <strong>de</strong> outros pedantes”.<br />

Em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1879, surge O Operário, na Vila <strong>de</strong> Itapemirim.


Era um periódico comercial, agrícola e literário, que se <strong>de</strong>clarava neutro na luta do partidos<br />

locais. O editor era Candido Gonçalves Pereira Lopes. Durou até 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1880.<br />

Em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1880, aparece, na Capital, O Horisonte. Era do Partido Liberal. Durou até o<br />

número 36, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1885, sendo substituído por O Liberal. Quando A Gazeta da<br />

Victoria suspen<strong>de</strong>u a publicação dos atos oficiais, em março <strong>de</strong> 1882, O Horisonte começou a fazê-<br />

lo. Tinha quatro páginas e era vesperti<strong>no</strong>.<br />

Em 3 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1882, tor<strong>no</strong>u-se matuti<strong>no</strong> e passou a sair duas vezes por semana, às quartas e<br />

aos sábados. A tiragem era <strong>de</strong> 500 exemplares. Entre seus colaboradores estavam José<br />

Joaquim Pessanha Povoa, Elizeu Martins, Tiburcio <strong>de</strong> Oliveira, Cerqueira Lima, Paulo <strong>de</strong> Freitas e<br />

Ma<strong>no</strong>el Rodrigues <strong>de</strong> Campos.<br />

Em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1882, o Província do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> surge na Capital. Foi fundado por<br />

Cleto Nunes Pereira e José <strong>de</strong> Mello Carvalho Muniz Freire. Consagrava-se aos interesses da<br />

província e filiava-se à política liberal. Publicava-se inicialmente três vezes por semana e tinha<br />

quatro páginas. Em 3 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1883, tor<strong>no</strong>u-se diário.<br />

Aos domingos, a primeira página era <strong>de</strong>dicada à literatura. Mantinha correspon<strong>de</strong>ntes <strong>no</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, em São Paulo, Paris e <strong>no</strong>s municípios da província. Teve a primeira Mari<strong>no</strong>ni<br />

(impressora rotativa, que imprimia 10 mil exemplares por hora, necessitando apenas <strong>de</strong> três<br />

operários) do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Sua tiragem inicial era <strong>de</strong> mil exemplares, mas chegou a 1600 em<br />

1889. Com o advento da República, passou a se <strong>de</strong><strong>no</strong>minar Diário do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (1889) e O<br />

Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (1890).<br />

Tinha como colaboradores José Joaquim Pessanha Povoa, Affonso Cláudio, A<strong>de</strong>lina Lyrio,<br />

Joaquim <strong>de</strong> Salles Torres Homem, Mucio Teixeira, Francisco Peçanha, coronel Augusto<br />

Calmon Nogueira da Gama, Ferreira Vianna, A<strong>de</strong>li<strong>no</strong> Fontoura, Tiburcio <strong>de</strong> Oliveira, Emilio da<br />

Silva Coutinho, Gama Rosa, Cerqueira Lima e Francisco <strong>de</strong> Lima Escobar Araújo.<br />

Na Vila do Itapemirim, surge, em <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1882, A Gazeta do Itapemirim. Durou até 2 <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1884. Publicava-se aos domingos, com quatro páginas, e tinha como<br />

colaboradores Alvaro Mario Pacca, Amâncio Pereira, Antonio Hautequestt, A.<br />

Rodrigues, Candido Gonçalves Pereira Lopes, entre outros.


Em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1882, foi criado O Pyrilampo, órgão da socieda<strong>de</strong> Amor às Letras, <strong>de</strong><br />

estudantes do Atheneu Provincial.<br />

Era publicado duas vezes por mês e teve como redatores João Magalhães Junior, Alda<strong>no</strong><br />

Paiva, Lydio Mululo e José Antonio Monjardim. Os colaboradores eram Amâncio Pereira, J. Lirio,<br />

B.<br />

Bastos, Pessanha Povoa, Jose Batalha Ribeiro, entre outros.<br />

Em 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1882, foi lançado, na Capital, O Baluarte.<br />

Era um semanário literário, recreativo e <strong>no</strong>ticioso, com quatro páginas. Entre os colaboradores<br />

estavam Ignácio Thomaz Pessoa, Aristi<strong>de</strong>s Freire e Francisco Amalio Grijó.<br />

Em 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1882, surge O Mitra. Impresso na tipografia <strong>de</strong> O Horisonte, era um<br />

periódico satírico e humorístico, <strong>de</strong> redação <strong>de</strong> José Joaquim Pessanha Povoa. Publicou 16<br />

números, em quatro páginas. No mesmo a<strong>no</strong>, em 5 <strong>de</strong> outubro, surge O Filho, periódico crítico e<br />

literário. O <strong>no</strong>me se <strong>de</strong>veu à falta <strong>de</strong> caracteres para o cabeçalho. As existentes só davam para<br />

formar esse <strong>no</strong>me.<br />

Em 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1883, apareceu A Passagem <strong>de</strong> Vênus. Era um semanário crítico, literário e<br />

científico. Em 8 <strong>de</strong> julho, aparece A Folha da Victoria, publicado duas vezes por semana, em<br />

quatro páginas, com tiragem <strong>de</strong> 600 exemplares. Era político, comercial, agrícola, literário e<br />

<strong>no</strong>ticioso. Tinha como colaboradores Candido Costa, Ubaldo Rodrigues, A<strong>de</strong>lina Lyrio, Tiburcio <strong>de</strong><br />

Oliveira, entre outros. Durou até 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1890, sendo substituída pelo Fe<strong>de</strong>ralista.<br />

Em 1º <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, surge o Vasco Coutinho, na Capital. Diziase alheio às lutas políticas e<br />

pertencia ao capitão Odorico José Mululo, sendo redatoriado por José Joaquim Pessanha Povoa.<br />

Deixou <strong>de</strong> circular em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1884.<br />

Em 4 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1884, edita-se, na Capital, o semanário Magnólia. Era <strong>de</strong>dicado às<br />

mulheres e impresso na tipografia do Vasco Coutinho. No mesmo a<strong>no</strong>, em 10 <strong>de</strong> fevereiro, surge A<br />

Meditação.<br />

Era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do Província do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e tinha como escopo a elevação do espírito<br />

<strong>de</strong> classe e a dignificação da arte. Em 3 <strong>de</strong> julho, surge O Arado, que tinha publicação bissemanal.


Suspen<strong>de</strong>u a publicação <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte, sendo substituído por O Liberal. Em 6 <strong>de</strong> setembro,<br />

aparece O Porvir, um periódico literário, <strong>de</strong>dicado aos artistas. Já em 6 <strong>de</strong> outubro, é<br />

publicado Lúcifer, um jornal crítico e literário.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 1884, foi publicado o primeiro Almanak Administrativo, Mercantil, Industrial e<br />

Agrícola da Província do Espirito <strong>Santo</strong>.<br />

Interrompeu a publicação em 1887 e reapareceu em 1889. Tinha auxílio do gover<strong>no</strong><br />

provincial.<br />

Em 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1885, foi criado O Constitucional, na Vila do Itapemirim. Em 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1886, passou a ser publicado em Cachoeiro, on<strong>de</strong> findou em 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1889. Era<br />

político, agrícola e comercial, sendo órgão do Partido Conservador.<br />

Tinha quatro páginas e era publicado aos domingos. Em 1889, passou a ser bissemanal.<br />

Em 17 <strong>de</strong> junho, surge O Liberal, na Capital. Ele vem para substituir O Horisonte e O Arado.<br />

Como os anteriores, era órgão do Partido Liberal. Seus redatores foram José Joaquim Pessanha<br />

Povoa e Maximi<strong>no</strong> Maia. Era publicado três vezes por semana, com quatro páginas. Em 16 <strong>de</strong><br />

agosto do mesmo a<strong>no</strong>, é publicado O Athleta. O periódico circulava três vezes por mês e era<br />

redigido por membros da socieda<strong>de</strong> Amor às Letras, assim como O Pyrilampo.<br />

Em 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1886, circula o primeiro número <strong>de</strong> A Regeneração, em Anchieta.<br />

Em 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1889, publica-se O Semanal. Durou 44 números, até 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1890.<br />

Era órgão dos alu<strong>no</strong>s do Atheneu Provincial, redigido pelos estudantes Affonso <strong>de</strong><br />

Magalhães, Enéas Tagarro e Sebastião Barroso. Em 18 <strong>de</strong> agosto, circula A Violeta, em Cachoeiro.<br />

Era um semanário literário, <strong>no</strong>ticioso e recreativo.<br />

Suspen<strong>de</strong>u a publicação em agosto <strong>de</strong> 1890. Com o advento da República, o Província do<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> mudou <strong>de</strong> <strong>no</strong>me, para Diário do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. O primeiro número saiu em 23<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, com tiragem <strong>de</strong> 1600 exemplares. No a<strong>no</strong> seguinte, em 1º <strong>de</strong> janeiro, seria substituído<br />

por O Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

O Estado tinha como redatores Moniz Freire e Cleto Nunes. Em 2 <strong>de</strong> outubro, tor<strong>no</strong>u-se órgão<br />

do Partido Republica<strong>no</strong> Construtor e Cleto Nunes saiu da redação. Tinha tiragem <strong>de</strong> 1700<br />

exemplares e era impresso em quatro páginas. Foi órgão do Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1892 a 1905 e<br />

cessou a publicação em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1911, <strong>de</strong>vido a um empastelamento.


Aos domingos, publicava uma página literária. Estavam entre seus colaboradores: Horacio<br />

Costa, José Joaquim Pessanha Povoa, Antonio Athay<strong>de</strong>, Affonso Cláudio, Ignácio Pessoa,<br />

coronel Augusto Calmon Nogueira da Gama, Argeu Monjardim, Ma<strong>no</strong>el <strong>de</strong> Alvarenga, Gracia<strong>no</strong><br />

Neves, Olympio Lyrio, Henrique Cancio, Zozimo Fraga e Ma<strong>no</strong>el Monjardim.<br />

Em 2 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1890, publica-se O Lidador. Era um semanário literário, recreativo e<br />

<strong>no</strong>ticioso, sob a redação <strong>de</strong> Phedro Daemon. Publicou 24 números, cessando em outubro do mesmo<br />

a<strong>no</strong>. Em março, circulou O Rouxi<strong>no</strong>l, em Anchieta. Era <strong>de</strong>dicado às mulheres.<br />

O Diário Official do Estado Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> surgiu em 23 <strong>de</strong> maio. Foi criado pelo<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1890, em vista da rescisão do contrato que o gover<strong>no</strong> mantinha com<br />

O Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> para a publicação dos atos oficiais. Em 1891, passou a se <strong>de</strong><strong>no</strong>minar<br />

Correio Official do Estado Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Em 30 <strong>de</strong> julho, publica-se O Fe<strong>de</strong>ralista, órgão <strong>de</strong>mocrático da União Republicana <strong>Espírito</strong>-<br />

Santense. Publicava-se às quintas e aos domingos, com quatro páginas. Teve como<br />

colaboradores José Francisco Monjardim, Ricardo Vieira <strong>de</strong> Faria, entre outros.<br />

No dia 31, publicou-se O Pharol. Era um semanário, órgão do Partido Operário do Estado.<br />

Em 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1891, surge o Commercio do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. No a<strong>no</strong> seguinte, tor<strong>no</strong>u-se<br />

órgão do Partido União <strong>Espírito</strong>-Santense.<br />

Em 18 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1896, tor<strong>no</strong>u-se órgão do Partido Republica<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral. Em 20 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1904, criou a Seção Italiana, às quintas-feiras, com artigos <strong>de</strong> literatura, <strong>no</strong>tícias, versos e<br />

outros interesses da colônia. Em 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1909, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lado a feição partidária. Em 1912,<br />

passou a ser publicado com o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> Commercio. Era um jornal diário <strong>de</strong> quatro páginas, com<br />

tiragem <strong>de</strong> 1500 exemplares. Trazia aos domingos uma página literária. Teve a colaboração <strong>de</strong><br />

Antonio Aguirre, Antero <strong>de</strong> Almeida, Amâncio Pereira, Argeu Monjardim, Jose Monjardim, Luiz<br />

Adolpho Thiers Velloso, Bernardo Horta, Domingos Vicente, Ma<strong>no</strong>el Augusto da Silveira, Affonso<br />

Magalhães, Lydio Mululo, Antonio Ferreira Coelho, Ricardo Vieira <strong>de</strong> Faria, entre outros.<br />

Em 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, surge o Companheiro do Silencio, em Cachoeiro. Era um<br />

semanário, órgão do Partido Republica<strong>no</strong>- Construtor. Publicou 27 números, até 23 <strong>de</strong> julho. A<br />

partir do número , <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto, passou a se <strong>de</strong><strong>no</strong>minar Affonso Cláudio, sendo publicado até 29<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro. Ainda na primeira quinzena <strong>de</strong> fevereiro, surge o Amigo do Povo, em Anchieta. Em


1º <strong>de</strong> abril, começa a ser publicado o Correio Official do Estado Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>,<br />

substituindo o Diário Official. No a<strong>no</strong> seguinte, passa a se chamar simplesmente Correio Official.<br />

Foi extinto pela Junta Governativa em 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1892, por causa da <strong>de</strong>spesa que causava. A<br />

tipografia, que custava 10 contos <strong>de</strong> Réis, foi vendida para O Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, por três<br />

contos <strong>de</strong> Réis.<br />

Em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1891, publica-se O Norte do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, o primeiro jornal <strong>de</strong> São<br />

Mateus. Era um semanário oposicionista ao Gover<strong>no</strong> do Estado, que se publicava aos domingos.<br />

Em 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1892, surge, em Anchieta, A Voz do Sul. Era um órgão político e literário,<br />

fundado e dirigido por José Ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Freitas e Torquato Moreira. Era filiado ao Partido<br />

Construtor.<br />

Durou até o a<strong>no</strong> seguinte e teve como colaboradores Affonso Cláudio e Gonçalo Marinho <strong>de</strong><br />

Albuquerque Lima.<br />

No mesmo a<strong>no</strong>, surgiram vários periódicos que duraram pouco:<br />

A Chrysalida e O Município duraram dias; A Revolta durou cinco meses. Já A Opinião durou<br />

dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, até 1894. O Echo da Lavoura, <strong>de</strong> Iconha, durou pelo me<strong>no</strong>s até 1894.<br />

Em 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1893, publicou-se O Alto Guandu, em Afonso Cláudio. Era uma<br />

publicação dominical <strong>de</strong> quatro páginas, que foi suspensa em 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1895. No mesmo a<strong>no</strong>,<br />

surgiram jornais que duraram pouco tempo: O Alecrim, em Cachoeiro; O Alegre, em Alegre; O<br />

Artista e O Democrata, na Capital.<br />

Em 1894, surgiram O Operário (Capital); Verda<strong>de</strong> (Alegre); O Município (São Pedro do<br />

Itabapoana); O Leopoldinense (Santa Leopoldina).<br />

Em 6 <strong>de</strong> outubro, publica-se o Sul do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em Cachoeiro. Era filiado ao Partido<br />

Construtor, passando a ser órgão do Partido Republica<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral, em 1896.<br />

Em 1895, publicam-se O Aymorés (São Mateus); O Gladiador (Cachoeiro); A Experiência<br />

(Santa Leopoldina); A Pátria, Treze <strong>de</strong> Julho, Alvorada e O Combate – que suce<strong>de</strong>u o Treze <strong>de</strong><br />

Julho – (na Capital). Nesse a<strong>no</strong>, foi publicado também L’immigrato, primeiro jornal escrito em<br />

língua estrangeira <strong>no</strong> Estado, que se propunha a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses da colônia italiana. Circulava<br />

quatro vezes por mês, sendo impresso na Capital.


Em 1896, circulam O Papagaio, A Borboleta (Cachoeiro) e O Artista (Vitória). No a<strong>no</strong><br />

seguinte é a vez <strong>de</strong> O Relâmpago (Cachoeiro) e A Lyra (Vitória).<br />

Em 1898, publicam-se O Alvor, Pimpão, Echo do Sul, A Folha Azul, O Binóculo (Cachoeiro);<br />

O Tic-Tac, A Borboleta (Vitória); O Imparcial (Santa Leopoldina); e A Pátria (São Pedro do<br />

Itabapoana).<br />

Ainda em São Pedro do Itabapoana, surge, em 1º <strong>de</strong> janeiro, A Evolução, órgão do Partido<br />

Construtor-Auto<strong>no</strong>mista, com tiragem <strong>de</strong> 500 exemplares.<br />

No a<strong>no</strong> seguinte, publicam-se A Gazeta Titteraria, A Gazeta do Povo (Capital); A Flecha<br />

(Castelo); O Bilontra e A República (Vila do Itapemirim). Este tinha tiragem <strong>de</strong> 600 exemplares.<br />

Em fevereiro <strong>de</strong> 1900, <strong>de</strong>clarou-se filiado ao Partido Construtor-Auto<strong>no</strong>mista.<br />

Em 1900, surgem A Bomba, A Lanterna, O Jornalzinho (Cachoeiro);<br />

A Alvorada, Auxiliadora, O Beijo – <strong>de</strong>dicado às mulheres – e Polyanthéa (Capital). O último<br />

foi uma publicação especial, <strong>de</strong> quatro páginas, em virtu<strong>de</strong> do quarto centenário do <strong>de</strong>scobrimento<br />

do Brasil, por iniciativa <strong>de</strong> Amâncio Pereira e A. Moreira Dantas.<br />

Em 1901, a Polyanthéa foi <strong>de</strong>stinada a homenagear o Marechal Floria<strong>no</strong> Peixoto. No mesmo<br />

a<strong>no</strong>, foram publicados também O Pan<strong>de</strong>go (Cachoeiro) e O Caboclo (Vila do Itapemirim), que<br />

pugnava pela reforma da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e pela incorporação do território espírito-santense ao<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

A Polyanthéa para o Marechal Floria<strong>no</strong> foi publicada <strong>no</strong>vamente em 1902. Ainda naquele a<strong>no</strong>,<br />

foram publicados O Bodoque, O Opúsculo (Vila do Itapemirim); O Carnaval – revista<br />

carnavalesca do Club Az <strong>de</strong> Copas, cuja venda foi revertida para a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia<br />

(Vitória) –; A Brisa (Vila Velha); e O Progresso (São Pedro do Itabapoana). Este era um semanário<br />

que, em junho <strong>de</strong> 1904, tor<strong>no</strong>u-se órgão do Partido Construtor-Auto<strong>no</strong>mista, <strong>de</strong><strong>no</strong>minado O Rebate.<br />

Em 1903, houve apenas um periódico: O Cravo, em Vila do Itapemirim.<br />

Em 1904, publicam-se: O Norte (São Mateus); O Pharol (Vila Velha), O Tentamen (Viana);<br />

Observador Catholico (Vila do Itapemirim);<br />

O Martelo, Argos, Homenagem da Imprensa, O Operário – revista carnavalesca –<br />

(Cachoeiro). Também em Cachoeiro, circulou o Alcantil, com tiragem <strong>de</strong> mil exemplares <strong>de</strong> quatro<br />

páginas.


Ainda <strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong>, circulou pela primeira vez O Livro (Capital), que publicou somente três<br />

números, reaparecendo em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1914 como órgão do Colégio Amâncio. Sua tiragem era<br />

<strong>de</strong> 500 exemplares, com distribuição gratuita. Ainda naquele a<strong>no</strong>, surgiu O Rebate (São Pedro do<br />

Itabapoana), órgão do Partido Construtor-Auto<strong>no</strong>mista, e <strong>de</strong>pois do Partido Construtor. Em 1913,<br />

virou órgão dos interesses do Gover<strong>no</strong> Municipal. Suspen<strong>de</strong>u a publicação em 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1913, voltando em 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1916, como órgão oposicionista e <strong>de</strong>fensor da candidatura <strong>de</strong><br />

Pinheiro Junior à P○residência do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Em 1905, publicam-se A Reforma (São Pedro do Itabapoana);<br />

O Combate (Capital); A Reacção (São Mateus), Itabira, O Tentamen (Cachoeiro); O<br />

Itapemirim (Vila do Itapemirim). Em comemoração ao terceiro aniversário do Clube Álvares<br />

Cabral, publica-se o Vera Cruz, em 9 <strong>de</strong> julho. Por ocasião do encerramento do a<strong>no</strong> letivo na escola<br />

regida pelo professor Amâncio Pereira, publicouse, em 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, o Honra ao Mérito. No<br />

mesmo a<strong>no</strong>, em 10 <strong>de</strong> janeiro, foi publicado o Jornal Official, criado por um <strong>de</strong>creto <strong>no</strong> dia anterior.<br />

Era dirigido pelo coronel Augusto Calmon e por Ignácio Thomaz Pessoa.<br />

Em 1906, são criados O Piyrlampo, A Voz da Penha – semanário católico –, O Ferrinho, O<br />

Prestígio, Guttenberg (Vitória); O Caçador – revista carnavalesca –, O Areópago, O Pierrot<br />

(Cachoeiro); e, <strong>no</strong>vamente, o Honra ao Mérito, da escola <strong>de</strong> Amâncio Pereira. Em comemoração ao<br />

Sete <strong>de</strong> Setembro, publicou-se também Polyanthéa.<br />

No a<strong>no</strong> seguinte, circulam O Vadio, O Lepidóptero (Cachoeiro);<br />

O Binóculo (São Pedro do Itabapoana); Gazeta da Tar<strong>de</strong>, O Raio e O Corisco (Vitória). Ainda<br />

na Capital, publica-se, em 18 <strong>de</strong> agosto, o primeiro número do Diário da Manhã, órgão do Partido<br />

Construtor, mas que, em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1909, torna-se o órgão oficial do Gover<strong>no</strong> do Estado.<br />

Tinha quatro páginas e, em 24 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1912, passa a se chamar apenas O Diário.<br />

Em 1908, surgem Lábaro da Paz (São José do Calçado); A Navalha, O Tentamen, O<br />

Gafanhoto (Cachoeiro); O Typo (Vila do Itapemirim).<br />

Na Capital, circulam O Binóculo e Sete <strong>de</strong> Setembro, órgão dos alu<strong>no</strong>s da Escola Jeronymo<br />

Monteiro. Do segundo número em diante, passou a se chamar A Pátria. Era publicado em dias<br />

<strong>de</strong> festas nacionais e escolares.


No a<strong>no</strong> seguinte, publicam-se o semanário A Opinião, o dominical O Beijo (Anchieta); O<br />

Imparcial (Alfredo Chaves); O Santa Leopoldina – edição única – (Santa Leopoldina). Na Capital,<br />

surgem O Tamoyo – jornal <strong>de</strong> anúncios da casa <strong>de</strong> mesmo <strong>no</strong>me, <strong>de</strong> quatro páginas, distribuído<br />

gratuitamente – e Trabalha e Confia, distribuído por ocasião da inauguração dos serviços <strong>de</strong> água e<br />

luz.<br />

Em 1910, circulam O Radio, Álbum – com 12 páginas –, O Anthelmintico (Cachoeiro); A<br />

Serra (Serra); Correio do Sul (Vila do Itapemirim); O Tentamen (São Pedro do Itabapoana); O<br />

Charivari (Anchieta). Na Capital, são publicados O Popular, O Rubimense, A Escola – órgão dos<br />

alu<strong>no</strong>s do Grupo Escolar Gomes Cardim, que circulava em dias <strong>de</strong> festas nacionais e escolares. Em<br />

2 <strong>de</strong> abril, circula a Revista Illustrada, semanário <strong>de</strong> crítica, arte e literatura, que publicou números,<br />

com tiragem <strong>de</strong> mil exemplares.<br />

Em 1911, saem Novo Horizonte (Cariacica); O Alegrense – semanário com quatro páginas e<br />

tiragem <strong>de</strong> 500 exemplares – (Alegre);<br />

O Calçado – dominical que substitui o Lábaro da Paz – (São José do Calçado); O Brasil, O<br />

Gato (Anchieta); O Trabalho (Viana);<br />

O I<strong>de</strong>al (Cachoeiro). Na Capital, publicam-se A Notícia, O Tiro, Pharol, O Palco, O Chaleira,<br />

A Victoria, além do Diário do Povo. O último era um órgão político e <strong>no</strong>ticioso, cujo primeiro<br />

número circulou em 21 <strong>de</strong> julho. Fazia oposição ao Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Jeronymo Monteiro. Publicou 214<br />

números <strong>de</strong> quatro páginas, sendo o último em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1912. Tinha como colaboradores José<br />

Horácio Costa, Octávio Araújo, Adolfo Fraga, Eurípe<strong>de</strong>s Nogueira da Gama Pedrinha, César<br />

Velloso, Olympio Lyrio, José Lyrio, Philome<strong>no</strong> Ribeiro, José Cândido <strong>de</strong> Vasconcellos,<br />

Aristóbulo Leão, Kosciuszko Leão e outros.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1912, publica-se a Revista Militar da Força Pública do Estado do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, na Capital. Tinha publicação mensal.<br />

Foi fundada pelo diretor <strong>de</strong> segurança pública, Lafayette Valle, tenente-coronel Pedro Bruzzi,<br />

comandante do Corpo Militar <strong>de</strong> Polícia, major-fiscal Alfredo Pedro Rabayolli, capitão<br />

ajudante João <strong>de</strong> Barros, capitão Ramiro Martins, Archimimo M. <strong>de</strong> Mattos, diretor do Gabinete <strong>de</strong><br />

I<strong>de</strong>ntificação e Estatística. O número 5, último, publicado em maio, tem 18 páginas <strong>de</strong> texto, além<br />

<strong>de</strong> dois suplementos com os retratos dos fundadores da Revista, do presi<strong>de</strong>nte da República,


Marechal Hermes da Fonseca, e dos presi<strong>de</strong>ntes Jeronymo Monteiro, que terminava o<br />

quadriênio 1908-1912, e Marcon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sousa, que iniciava o período <strong>de</strong> 1912-1916.<br />

No mesmo a<strong>no</strong>, surgem também Rio Pardo (Vila do Rio Pardo);<br />

A Estrella (Cachoeiro); A Ré-publica (Cariacica); O Raio Illustrado, Commercio – que<br />

substitui o Commercio do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> –, O Diário – que, em 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1913, volta a se<br />

chamar Diário da Manhã –, A Verda<strong>de</strong>, Victoria, O Pago<strong>de</strong>, O Telephone, Jornal Official,<br />

A Cruzada, A Tar<strong>de</strong>, A Tribuna, O Botão, O Diabo – que, a partir do número 3, passa a se chamar<br />

O Raio, para, em 1914, ser substituído por O Besouro – (Capital).<br />

Ainda na Capital, surge, em 1º <strong>de</strong> setembro, O Olho, semanário humorístico, que tinha como<br />

redatores Aristóteles da Silva <strong>Santo</strong>s, Urba<strong>no</strong> Xavier, Oskar Araujo e Luiz da Fraga <strong>Santo</strong>s.<br />

Tomou forma <strong>de</strong> revista em 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1913, passando a ter <strong>de</strong>zesseis páginas <strong>de</strong> texto,<br />

além das páginas <strong>de</strong> anúncios e da capa em papel colorido. Findou <strong>no</strong> número 30, em 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1913.<br />

Em 1913, surgem O Muquyense (Muqui); O Echo (Vila do Itapemirim);<br />

A Semana (São Pedro do Itabapoana); O Imparcial (São José do Calçado); A Encrenca<br />

(Anchieta); O Affonso Claudio (Afonso Cláudio); Progredior – publicação quinzenal <strong>de</strong><br />

distribuição gratuita, com tiragem <strong>de</strong> 10 mil exemplares <strong>de</strong> quatro páginas –, Alvorada, O Estudante<br />

(Capital).<br />

Ainda em Vitória, publica-se o Diário da Manhã, em 18 <strong>de</strong> março.<br />

Era órgão do Partido Republica<strong>no</strong> Construtor do Estado, mas, em 1921, <strong>de</strong>clara-se órgão<br />

oficial do Estado. Em 1915, foram instalados em suas oficinas três li<strong>no</strong>tipos. Em 31 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

1926, foi inaugurada a <strong>no</strong>va máquina <strong>de</strong> impressão roto-plana Duplex Press, dos fabricantes Buhler<br />

Irmãos, <strong>de</strong> Unzwall, Suíça, especialmente fabricada para o Diário, que imprimia 6 mil<br />

exemplares por hora, dobrando, colando, numerando e cortando as páginas. Funcio<strong>no</strong>u <strong>no</strong><br />

pavimento térreo do atual Palácio Anchieta e teve como colaboradores Aristeu Aguiar, Ma<strong>no</strong>el<br />

Ferreira, Amancio Pereira, Adolpho Fraga, Carlos Xavier Paes Barreto, Auri<strong>no</strong> Quintaes, Augusto<br />

Calmon, João Bastos Vieira, Azevedo Pimentel, Herma<strong>no</strong> Brunner, Affonso Cláudio, Affonso<br />

Lyrio, Plínio Andra<strong>de</strong>, Abílio <strong>de</strong> Siqueira, J.J. Bernar<strong>de</strong>s Sobrinho, Henrique <strong>de</strong> Novaes, Maria<br />

Stella <strong>de</strong> Novaes, Abner Mourão, Escobar Filho, Aristóteles da Silva <strong>Santo</strong>s, Alarico <strong>de</strong> Freitas,


Audifax Aguiar, Mirabeau Pimentel, Sezefredo Rezen<strong>de</strong>, Antônio Ti<strong>no</strong>co, Aristóbulo Leão, Jair<br />

Tovar, Climério Borges, Antônio Araújo Aguirre, Alvaro Moreira <strong>de</strong> Sousa (Saul <strong>de</strong> Navarro),<br />

Fernando Rabello, Clóvis Nunes, Kosciuszko Leão, entre outros.<br />

Em 1914, circulam Victoria Illustrada – com 22 páginas –, Carnavalescos?, O Operário, O<br />

Abelhudo – substituído por O Berro –, A Crise, O Besouro – que substitui O Raio – (Capital); A<br />

Integradora – com tiragem <strong>de</strong> 10 mil exemplares – (São Pedro do Itabapoana); Rio Novense, O<br />

Binóculo (Rio Novo); O Santa Thereza (Santa Teresa); O Átomo (Afonso Cláudio); e A Fita<br />

(Conceição do Castelo).<br />

Em 1915, publicam-se O Pimpão, A Mocida<strong>de</strong>, Os Bohemios, O Pierrot, Polyanthéa, A Sogra,<br />

Pax, Pro Pátria, Última Dança, O Progresso, O Curioso, A Flor, O Sport, O Melpomene, O<br />

Correio, Gymnasio <strong>Espírito</strong>-Santense (Capital); O Santa Izabel (Santa Isabel, Domingos Martins);<br />

A Nota, O Espião (Cachoeiro); A Columna (Vila Velha); O Timbuhy (Timbuí, Fundão); <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong> (Muniz Freire); O Acciolense (Acioli).<br />

Em 1916, circulam A Luz (São Pedro do Itabapoana); O Centro (Santa Leopoldina); O Echo<br />

(Rio Novo); A Or<strong>de</strong>m, A Desor<strong>de</strong>m – para combater A Or<strong>de</strong>m –, Victoria Nua, O Myosotis, A<br />

Pimenta, O Papagaio, A Penna, O Fallador, A Cuia, A Thesoura, A Mocida<strong>de</strong> (Vitória); O Lyrio<br />

(São Pedro do Itabapoana), O Alpha (Cachoeiro), Atalaia (Alfredo Chaves) e O Interior (Vila do<br />

Rio Pardo).<br />

Além <strong>de</strong>sses, publicaram-se também a Folha Official – órgão oficial do gover<strong>no</strong><br />

revolucionário estabelecido em Colatina – e, na Capital, O Echo – diário vesperti<strong>no</strong> do comércio,<br />

lavoura, indústria, política, letras e artes. Era redigido por Thiers Vellozo, diretor e proprietário, e<br />

João Milton Varejão. Tinha quatro páginas e o último número (443) saiu em 11 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

1918.<br />

Em 1917, surgem Correio do Interior, Polyanthéa, Pica-páu, Beija- Flor (Santa Leopoldina);<br />

O Campinho (Campinho – Domingos Martins); O Progresso (Itaguaçu); O Martello (Alegre). Em<br />

São Miguel do Veado, município <strong>de</strong> Alegre, publicou-se, em 1º <strong>de</strong> abril, o Correio do Veado. Era<br />

órgão do movimento separatista do distrito, <strong>de</strong> publicação semanal, com quatro páginas e tiragem<br />

<strong>de</strong> 1,5 mil exemplares.


Na Capital, publicam-se Resenha Judiciária, Nova Senda, O Parafuso, A Nota, O Coió, O<br />

Sport, O Folheto, O Colibri, Polyanthéa e a Revista do Instituto Histórico e Geographico do<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, com colaboração <strong>de</strong> Antonio Athay<strong>de</strong>, Araújo Aguirre, Carlos Xavier Paes Barreto,<br />

Amâncio Pereira, Adolfo Fraga, Heráclito Amâncio Pereira, João Lordêllo dos <strong>Santo</strong>s Souza,<br />

Thiers Vellozo. A maior edição foi publicada <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1926, com 203 páginas.<br />

Em 1918, circulam O Atirador (Santa Leopoldina); O Carnaval, A Tar<strong>de</strong>, Polyanthéa<br />

Carnavalesca do Pierrot Club, Polyanthéa, O Flirt, A Pellicula (Vitória); O Riso (Cachoeiro); e<br />

Prelúdio (Vila do Itapemirim).<br />

No mesmo a<strong>no</strong>, publica-se, na Capital, o Almanak do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, com 172<br />

páginas sobre o Estado, numa tiragem <strong>de</strong> dois mil exemplares. Era dirigido por seu<br />

fundador, Amâncio Pereira.<br />

Teve colaboração <strong>de</strong> Antônio Athay<strong>de</strong>, Jair Tovar, Octávio Araújo, Jonas Montenegro, Auri<strong>no</strong><br />

Quintaes, Carlos Xavier Paes Barreto, Manuel Xavier, Aristi<strong>de</strong>s Freire, Mário Freire, Aristóteles<br />

da Silva <strong>Santo</strong>s, Francisco Rufi<strong>no</strong>, Adolfo Fraga, João Lordêllo, Adolpho R. F. <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Kosciuszko Leão, Candido Costa, Edgard Daemon, Feu Rosa, Elpídio Pimentel, Elias Tomasi, entre<br />

outros.<br />

Em 1919, circulam Preito <strong>de</strong> Affeição, Riscando, O Obreiro, Santuário da Penha, Victoria<br />

Commercial – com distribuição gratuita e 50 páginas –, O Succo – com segunda fase em Cachoeiro,<br />

a partir <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1920 –, Educando – órgão do Colégio America<strong>no</strong> –, Mocida<strong>de</strong> Baptista,<br />

Almanak Histórico do Corpo Militar <strong>de</strong> Polícia do Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> – com 142 páginas –<br />

(Vitória); e A Luneta (Alegre).<br />

Em 1920, publicam-se Boletim Official (Muniz Freire); O Alfinete, Foliões, A Trombeta (Santa<br />

Leopoldina); O Município (Cachoeiro);<br />

O Povo (Santa Teresa); Correio do Sul (São José do Calçado), A Marreta (Alegre); O Riso, A<br />

Primavera – revista <strong>de</strong> páginas, impressa <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro –, Diário da Tar<strong>de</strong>, Gazeta <strong>de</strong><br />

Victoria (Vitória). Também foi publicado O Commercio, primeiramente em Santa Leopoldina, para<br />

em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1925 passar a circular em Santa Teresa.


Em 1921, circulam O Almofadinha, A Senda, A Victoria – com tiragem <strong>de</strong> mil exemplares –, O<br />

Rebenque, O Sabe-tudo, O Estado (Capital); Folha do Dia (Muniz Freire); A Dactylographia<br />

(Cachoeiro);<br />

O Echo (Alegre); e O Radium (Santa Leopoldina).<br />

No a<strong>no</strong> seguinte, publicam-se O Itabapoana, O Vagalume (Ponte do Itabapoana); Correio do<br />

Guandú (Afonso Cláudio); O Riso, Correio do Alegre (Alegre); A Notícia (Colatina); O Filhote<br />

(Santa Teresa); A Voz do Timbuhy (Timbuí – Fundão); A Voz do Povo (João Neiva); O Itapemirim<br />

(Cachoeiro); O Evangelizador – órgão da Igreja Batista <strong>de</strong> Vitória –, O Embrulho, O Re<strong>no</strong>vador e<br />

O Garoto (Vitória).<br />

Em 1923, é a vez <strong>de</strong> O Espião, O Telephone (Colatina); Boletim Parochial (Afonso Cláudio);<br />

Folha do Sul (São José do Calçado); O Norte (São Mateus); A Verda<strong>de</strong> – órgão espírita com<br />

tiragem <strong>de</strong> mil exemplares –, O Sorriso, O Bicudo, O Democrata, O Penedo, Excelsior e<br />

Vida Capichaba (Capital). Em Muqui, publicou-se A Primavera, revista literária <strong>de</strong> 30 páginas,<br />

com tiragem <strong>de</strong> 2 mil exemplares. Veio a ser substituída em janeiro <strong>de</strong> 1924, por A Opinião.<br />

Em Vitória, circulou a Revista Pedagógica, órgão do professorado espírito-santense, com 38<br />

páginas, sendo substituída em 1925 pela Labor. Seu redator-chefe era Arnulpho Mattos e entre os<br />

colaboradores estavam Maria Stella <strong>de</strong> Novaes, Suzette Cuin<strong>de</strong>t, Auri<strong>no</strong> Quintaes, Placidi<strong>no</strong><br />

Passos, Fernando R. <strong>de</strong> Oliveira, José Queiroz, José Nunes, Olga Coitinho, Elpidio Pimentel,<br />

Thereza Calazans, Bráulio Franco, Florisbello Neves, Ernesto Nascimento, Elpídio C. <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Corina Salles e Jayme Abreu.<br />

Em 1924, circulam A Opinião, A Folia (Muqui); Correio do Alegre, O Anchieta (Alegre); O<br />

Momento, A Setta, O Futurista, I Due Vessilli – periódico quinzenal dos interesses ítalo-brasileiros<br />

– (Cachoeiro);<br />

O Binóculo (Colatina); A Semana (João Neiva); O Centro (Itaguaçu);<br />

Folha do Povo, Don Benedicto Alves <strong>de</strong> Souza – edição comemorativa ao regresso do referido<br />

bispo –, A Luneta (Vitória); O Pharol (Vila Velha); Dou Xiquote (São Mateus); e O Truc (Afonso<br />

Cláudio).


No a<strong>no</strong> seguinte, publicam-se O Propagandista – indicador comercial, industrial e<br />

profissional, com tiragem <strong>de</strong> 3 mil exemplares <strong>de</strong> 100 a 130 páginas –, Progresso (Cachoeiro); Idéa<br />

Nova (Mimoso); A Luz – órgão espírita <strong>de</strong> distribuição gratuita – (Afonso Cláudio);<br />

Voz do Povo (Muniz Freire); O Gymnasio, O Binóculo (Alegre); O Almofadinha (Calçado); A<br />

S Centelha (Colatina); A Gargalhada, O Santuário da Penha – órgão do centro espírito-santense <strong>de</strong><br />

propaganda católica –, Carnavanthéa, Credito Popular e A Garra (Vitória).<br />

Para substituir a Revista Pedagógica, circula Labor, publicação mensal <strong>de</strong> 42 a 56 páginas.<br />

Entre seus <strong>no</strong>vos colaboradores estavam Benedicto Paulo Alves <strong>de</strong> Souza, Carlos Xavier Paes<br />

Barretto, José Sette, Aristeu Aguiar, Hugo Vianna Marques, Thiers Vellozo, Ma<strong>no</strong>el L. Pimenta,<br />

Kosciuzsko Leão, Affonso Lyrio, Fernando Rabello, Cecilia<strong>no</strong> A. <strong>de</strong> Almeida, Jair Dessaune,<br />

Heráclito Pereira, Aristóbulo Leão, Elias Tommasi e Orlando Sette.<br />

Em 1926, último a<strong>no</strong> do inventário <strong>de</strong> Heráclito Amâncio Pereira, publicam-se O Labaro<br />

(Santa Teresa); O Carnaval, O Matheense (São Mateus); A Platéa, O Estado (Cariacica); Jornal da<br />

Serra (Serra); O Santa Cruz (Santa Cruz); A Alavanca (Alegre); A Pátria (Cachoeiro); A Or<strong>de</strong>m<br />

(São José do Calçado); A Gaita (São Pedro do Itabapoana); Folha Official (Afonso Cláudio). Na<br />

Capital, circulam A Marreta, Charitas, Correio do Povo, A Noite, O Espião – que publicou um<br />

único número, sendo substituído por O Alarme –, Sirena, Jornal do Commercio e Homenagem a<br />

Elpídio Boamorte.<br />

A seguir, listaremos publicações cujas datas não pu<strong>de</strong>ram ser assinaladas pelo historiador.<br />

Publicados na Capital: Annaes da Assembléa Legislativa Provincial do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, O Guarda<br />

Nacional, O Constitucional, O Debate e A Violeta. Na Vila do Itapemirim: O Martello, A Mariposa<br />

e Argos. Em Cachoeiro: Lanceta e O Espoleta. Em São José do Calçado: Folha do Sul e O<br />

Monóculo. Em Rio Pardo: O Rio Par<strong>de</strong>nse. Em Alegre: O Espelho e Voz do Sul. Em Mimoso: O<br />

Mimosense. Em Santa Teresa: Almanak <strong>de</strong> Santa Thereza. E em Iconha: Almanak.


A Gazeta:<br />

uma longa história <strong>de</strong> tradição e transformações<br />

Juliana Bourguig<strong>no</strong>n, Letícia Rezen<strong>de</strong> e Patrícia Arruda<br />

De um acanhado jornal <strong>de</strong> anúncios imobiliários ao periódico mais antigo ainda em circulação<br />

<strong>no</strong> Estado. Assim po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>finir a trajetória <strong>de</strong> A Gazeta, fundada em 19.<br />

Cerca <strong>de</strong> 90 jornalistas trabalham na produção diária do jornal.<br />

Feita para aten<strong>de</strong>r as classes mais abastadas (A, B e C), a publicação segue uma linha mais<br />

conservadora. A Gazeta é voltada, sobretudo, para as editorias <strong>de</strong> Política e Eco<strong>no</strong>mia, o que<br />

lhe confere um caráter ainda mais sério e confirma a sua atuação junto ao seu público. “O leitor <strong>de</strong><br />

A Gazeta é um leitor <strong>de</strong> ter<strong>no</strong> e gravata, que tem um emprego e que vai trabalhar só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler o<br />

jornal”, consi<strong>de</strong>ra Clodomir Bertoldi, jornalista mais antigo em exercício em A Gazeta.<br />

Seguindo esse raciocínio, a direção <strong>de</strong> A Gazeta optou, durante as várias mudanças<br />

promovidas <strong>no</strong>s últimos tempos, pela manutenção do formato standard, composto por dois<br />

ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s principais, pelo Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> Dois, pelo Classificados e por suplementos temáticos semanais:<br />

Informática, Imóveis, Turismo, Veículos, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

A forma <strong>de</strong> se escrever em A Gazeta também acompanha essa linha, com textos moldados, em<br />

sua maioria, pela clássica narrativa jornalística do li<strong>de</strong>. A Gazeta distribui sua edição diária em todo<br />

o Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em parte <strong>de</strong> Minas Gerais e da Bahia e nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e Brasília.<br />

Primeiro veículo da maior re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação do Estado, o jornal A Gazeta pertence à<br />

família Lin<strong>de</strong>nberg <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da década <strong>de</strong> 40, quando foi adquirido pelo grupo político do<br />

exgovernador e ex-senador capixaba Carlos Lin<strong>de</strong>nberg. Ou seja, é fácil concluir que a política e a<br />

eco<strong>no</strong>mia sempre estiveram em <strong>de</strong>staque.<br />

Mas, diferentemente <strong>de</strong> outras re<strong>de</strong>s midiáticas do Estado, A Gazeta pertence a um grupo<br />

exclusivamente <strong>de</strong> comunicação, como enfatiza seu diretor geral, Carlos Fernando Monteiro<br />

Lin<strong>de</strong>nberg Neto, o Café: “A Gazeta é um grupo só <strong>de</strong> comunicação.


Se um grupo político tem um jornal, se um grupo econômico tem um jornal, é natural que uma<br />

<strong>no</strong>tícia que não esteja <strong>de</strong>ntro dos interesses <strong>de</strong>sses grupos não tenha a cobertura com a<br />

abordagem mais a<strong>de</strong>quada jornalisticamente. Procuramos ser uma empresa sólida, sadia<br />

financeiramente para fazermos um bom <strong>jornalismo</strong>, sem termos que estar vinculados a interesses<br />

econômicos. Nosso negócio gran<strong>de</strong> é este aqui. Então, temos que fazê-lo bem feito para não dar<br />

errado”.<br />

No entanto, <strong>no</strong>s últimos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, após passar por inúmeras reformas gráficas e editoriais, A<br />

Gazeta reduziu consi<strong>de</strong>ravelmente seu índice <strong>de</strong> vendagem, tendo uma tiragem média atual <strong>de</strong> 50<br />

mil exemplares <strong>no</strong>s domingos e 25 mil em dias úteis.<br />

Para o jornalista Álvaro José Silva, que trabalhou por quase 30 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>no</strong> jornal e foi <strong>de</strong>sligado<br />

durante o processo <strong>de</strong> mudança, isto é resultado <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com o leitor:<br />

“A Gazeta precisa se reencontrar com o seu leitor. Perguntar ao leitor o que houve é o caminho mais<br />

seguro e o único caminho que A Gazeta po<strong>de</strong> seguir hoje”.<br />

O editor-executivo André Hees atribui essa queda a uma conjunto <strong>de</strong> fatores: disseminação do<br />

uso da internet, da TV a cabo e do celular, e introdução <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos hábitos na classe média, com a<br />

conseqüente perda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivo.<br />

Este é um período <strong>de</strong> adaptação às reformulações pelas quais A Gazeta está passando e<br />

também <strong>de</strong> apostas <strong>no</strong> que concerne à <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo modo <strong>de</strong> se fazer jornal, visando a<br />

ampliar seu público, principalmente entre os jovens. Registre-se que esse segmento é uma incógnita<br />

para o setor impresso, tendo em vista que já nasceu num mundo dominado pelo audiovisual.<br />

Nesse sentido, Hees faz uma análise <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação do <strong>jornalismo</strong> impresso a esse momento<br />

que atravessa a comunicação e sugere propostas para serem seguidas por A Gazeta: “O jornal<br />

sempre terá o seu espaço. A tendência é ser cada vez mais atrativo, criativo. Tem que ter mais<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e interpretação, não basta dar a <strong>no</strong>tícia, porque o fato em si está na internet.<br />

O jornal tem que trazer isto e um pouco mais, apostar em conteúdo exclusivo, em reportagem,<br />

reportagem investigativa, reportagem exclusiva, em análise, em matéria <strong>de</strong> comportamento, em<br />

tendências, em tentar captar as tendências da socieda<strong>de</strong>. Tem que focar cada vez mais <strong>no</strong> amanhã e<br />

não <strong>no</strong> ontem. Tem que dizer o que aconteceu e o que vai acontecer. É o que os jornais têm


tentado fazer. Os veículos impressos têm futuro e têm espaço. O que estamos vivendo é um<br />

processo <strong>de</strong> adaptação à convivência com o <strong>no</strong>vo veículo: a internet”.<br />

Em <strong>no</strong>ssa pesquisa, pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar várias fases pelas quais passou A Gazeta. O capítulo<br />

seguirá essa divisão: “A Gazeta Política”, “A Gazeta Empresarial” e “A Gazeta Contemporânea”. É<br />

esta a história que preten<strong>de</strong>mos traçar nas páginas que se seguem.<br />

A Gazeta Política<br />

As primeiras décadas do século passado representam um momento em que o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

estava atrasado eco<strong>no</strong>micamente em relação ao restante do País. Contudo, data <strong>de</strong>ssa época o boom<br />

da cafeicultura <strong>no</strong> Estado, o que lhe proporciona um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>no</strong> cenário econômico<br />

nacional. Esse é um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> euforia. Vitória cresce e o Estado vive uma fase importante<br />

da sua história.<br />

O jornal A Gazeta surge nesse contexto, sendo fundado, em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 19, pelo<br />

empresário Ostílio Ximenes, do<strong>no</strong> da Imobiliária Cambury, e pelo advogado, professor, jornalista<br />

e político Adolpho Luis Thiers Vellozo. O jornal foi criado porque Ximenez possuía um loteamento<br />

em Camburi e <strong>de</strong>sejava vendê- lo por meio <strong>de</strong> anúncios em jornal. O loteamento não foi vendido,<br />

mas o jornal teve boa aceitação e continuou como uma opção <strong>de</strong> negócio.<br />

Um episódio marcante <strong>de</strong>ssa fase inicial <strong>de</strong>u-se durante a Revolução <strong>de</strong> 30, em 13 <strong>de</strong><br />

fevereiro, conhecido como “Dia do Empastelamento”. Na época, A Gazeta <strong>de</strong>fendia a Aliança<br />

Liberal contra o Gover<strong>no</strong> e apoiava a candidatura <strong>de</strong> Getúlio Vargas à Presidência do Brasil. Ao<br />

longo da campanha, houve algumas manifestações bastante violentas, como o tiroteio <strong>no</strong> Colégio<br />

do Carmo, Centro <strong>de</strong> Vitória. A manchete <strong>de</strong> A Gazeta sobre o fato fora a seguinte: “13 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1930. Data que se <strong>de</strong>senha em sangue na história do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, perpetuando a<br />

pusilanimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gover<strong>no</strong>”. Revoltados, partidários situacionistas invadiram a se<strong>de</strong> do jornal e<br />

impediram que a edição do dia seguinte continuasse a ser rodada. A Gazeta foi proibida <strong>de</strong><br />

circular, voltando apenas seis meses <strong>de</strong>pois, ainda sob a direção da família Vellozo.<br />

Com o fim da Segunda Guerra, A Gazeta foi vendida a Eleosip- po Rodrigues da Cunha,<br />

fazen<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> São Mateus. O <strong>no</strong>vo proprietário tinha o propósito <strong>de</strong> utilizar o jornal para fazer


campanha política para o Briga<strong>de</strong>iro Eduardo Gomes, integrante da União Democrática Nacional<br />

(UDN) e candidato à Presidência da República, em 1946. No entanto, o Briga<strong>de</strong>iro per<strong>de</strong>u as<br />

eleições para o Marechal Eurico Dutra. Desacreditado por não ter alcançado o seu objetivo,<br />

Eleosippo Cunha <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfazer do negócio.<br />

A professora Marta Zorzal e Silva (1995) registra, com a recuperação do histórico do jornal, o<br />

<strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cisão:<br />

De sua fundação até maio <strong>de</strong> 1948, quando foi adquirido<br />

pela família Lin<strong>de</strong>nberg, o jornal funcio<strong>no</strong>u tanto como órgão<br />

oficial do Gover<strong>no</strong> (período pósrevolução <strong>de</strong> 30 até 1942),<br />

como empresa privada.<br />

Com efeito, em 1942, o jornal retor<strong>no</strong>u às<br />

ativida<strong>de</strong>s privadas através <strong>de</strong> sua transformação em<br />

Socieda<strong>de</strong> Anônima, pelos empresários Auri<strong>no</strong> Quintais e<br />

Oscar Guimarães. Esses empresários <strong>no</strong>mearam para<br />

dirigilo o professor Heitor Rossi Belache, que permaneceu na<br />

função até junho <strong>de</strong> 45, quando faleceu, sendo, então,<br />

substituído pelo Dr. Nilo Martins da Cunha.<br />

Em setembro <strong>de</strong> 45, os Srs. Oswald Guimarães e Pedro<br />

Sposito renunciaram a suas funções <strong>de</strong> diretores da Socieda<strong>de</strong><br />

Anônima. Com isso, o Cel.<br />

Eleosippo Rodrigues da Cunha assumiu a presidência da<br />

organização e a direção do jornal passou para as mãos do Dr.<br />

Rosendo Serapião <strong>de</strong> Souza Filho. O jornal permaneceu com<br />

o Dr. Rosendo até maio <strong>de</strong> 1948, quando foi adquirido pelo<br />

grupo Lin<strong>de</strong>nberg, que substituiu a direção pelo Dr. Olympio<br />

José <strong>de</strong> Abreu. Posteriormente, em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong><br />

1949, quando o jornal assumiu, <strong>de</strong>finitivamente, a postura do<br />

<strong>no</strong>vo grupo que o adquiriu, sua direção seria entregue a José<br />

<strong>de</strong> Mendonça.<br />

O grupo ligado a Carlos Lin<strong>de</strong>nberg – político <strong>de</strong> direita, proprietário <strong>de</strong> terras, criador <strong>de</strong><br />

gado e plantador <strong>de</strong> cacau – criou uma socieda<strong>de</strong> e pediu para uma terceira pessoa, Alfredo<br />

Alcure, representante do Partido Social Democrata (PSD) e amigo <strong>de</strong> Eleosippo da Cunha (UDN),<br />

comprar o jornal. A<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, A Gazeta foi transferida para a socieda<strong>de</strong> criada. Os membros<br />

<strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>, aos poucos, foram ven<strong>de</strong>ndo as suas partes, as quais foram sendo adquiridas por<br />

Carlos Lin<strong>de</strong>nberg, que, em 1948, já Governador, acabou sendo o maior acionista do jornal.


“O jornal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u as posições da União Democrática Nacional (UDN) e, a partir <strong>de</strong> 1948,<br />

passou para um grupo que fazia parte do Partido Social Democrático (PSD). Então, <strong>de</strong> 1948<br />

até 1963, ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser oposição e passa a ser o porta-voz da situação, do PSD, que era o grupo<br />

<strong>de</strong> Carlos Lin<strong>de</strong>nberg,” explica a cientista política Marta Zorzal.<br />

Segundo dados fornecidos pela Re<strong>de</strong> Gazeta, a empresa, nessa época, estava instalada na Rua<br />

General Osório, nº 119, Centro <strong>de</strong> Vitória. Possuía duas máquinas li<strong>no</strong>tipos e uma impressora<br />

rotoplana Mag<strong>no</strong>ne. “No início, o jornal reproduzia muitas matérias do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Tinha<br />

colunas <strong>de</strong> críticas locais e uma parte <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate político <strong>de</strong> facções. O público leitor era bastante<br />

restrito e mais urba<strong>no</strong>. Nesse momento, a população do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> era predominantemente<br />

rural, sendo que mais <strong>de</strong> 80% da população estava <strong>no</strong> campo. Vitória ainda era uma vila, com uma<br />

população <strong>de</strong> aproximadamente sete mil habitantes”, lembra Zorzal.<br />

A Gazeta não tinha gran<strong>de</strong> impacto na socieda<strong>de</strong>. O índice <strong>de</strong> analfabetismo <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

era altíssimo. Desse modo, quem consumia o jornal eram peque<strong>no</strong>s grupos. Marta<br />

Zorzal exemplifica esta informação com a campanha para eleição <strong>de</strong> governador do Estado, em<br />

1947: “Quem estava <strong>no</strong> jogo da disputa era Atílio Vivacqua, que era uma li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os <strong>a<strong>no</strong>s</strong><br />

20 e 30.<br />

Nesse momento, o jornal A Gazeta ainda pertencia à UDN e Vi- vacqua (representante <strong>de</strong>sse<br />

partido) vai apresentar todo seu discurso e propostas por meio do jornal. No outro lado da<br />

disputa, estava Carlos Lin<strong>de</strong>nberg (PSD). Lin<strong>de</strong>nberg vai fazer uma série <strong>de</strong> discursos em comícios<br />

pelo interior do Estado, prometendo acabar com todos os impostos. Seu discurso vai ter muito<br />

mais penetração do que o discurso bastante articulado, bastante racionalizado, pela liberda<strong>de</strong>, pelos<br />

valores <strong>de</strong>mocráticos, típicos do momento <strong>de</strong> abertura política, que o candidato Atílio<br />

Vivacqua estava fazendo e que quase não vai obter votos, pois o nível <strong>de</strong> penetração do jornal<br />

naquele momento era muito peque<strong>no</strong>”.<br />

Os <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1960 ainda eram marcados pela vida <strong>no</strong> campo em terras capixabas. O Estado vivia<br />

uma queda da cafeicultura e entrava em um processo <strong>de</strong> profundo empobrecimento, porque quase<br />

99% da sua receita era <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>sse setor. Esse quadro só mudaria na década <strong>de</strong> 70. O discurso <strong>de</strong><br />

que o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> estava abandonado foi transmitido pelas páginas <strong>de</strong> A Gazeta.<br />

Também nesse período, o Brasil voltava a um regime ditatorial.


A Gazeta Empresarial<br />

Em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1964, foi dado o Golpe Militar <strong>no</strong> Brasil, marcando o que seria o início <strong>de</strong><br />

uma fase nebulosa para a imprensa brasileira. Coincidência ou não, logo após o golpe, em abril <strong>de</strong><br />

64, assumiu o posto <strong>de</strong> editor-chefe <strong>de</strong> A Gazeta o General Darcy Pacheco <strong>de</strong> Queiroz, irmão <strong>de</strong><br />

Maria Lin<strong>de</strong>nberg, esposa <strong>de</strong> Carlos Lin<strong>de</strong>nberg, e <strong>de</strong> Eugênio Queiroz, diretor comercial da<br />

empresa. Entretanto, jornalistas da época afirmam que esta era apenas uma patente e que o editor<br />

não exercia o militarismo <strong>de</strong>ntro da redação.<br />

Com a entrada do general, foram contratados alguns <strong>no</strong>vos profissionais, com o objetivo <strong>de</strong><br />

ampliar o <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> A Gazeta.<br />

Entre eles estava Glecy Coutinho, a primeira mulher a ser contratada para trabalhar nas<br />

redações capixabas. Até então, a presença feminina nas páginas dos jornais se restringia a<br />

colaborações.<br />

Glecy foi convidada para <strong>de</strong>senvolver um projeto voltado para as crianças. Foi então que<br />

surgiu a idéia <strong>de</strong> se fazer “A Gazetinha”, um fascículo semanal que priorizava matérias<br />

educacionais e culturais. Junto com Glecy, também entraram Chico Flores e José Antonio Nunes do<br />

Couto, o Janc, convidado para fazer o “Jornal do Janc”, uma página sobre futebol.<br />

Mas em tempos <strong>de</strong> ditadura, não se vivia só <strong>de</strong> censura e repressões.<br />

Chico Flores foi protagonista <strong>de</strong> um episódio curioso <strong>de</strong>sse período. O jornalista começou a<br />

freqüentar alguns bailes “barra pesada” para a época, <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong> Vitória, local da boemia e<br />

também reduto <strong>de</strong> prostitutas que circulavam pela área portuária. Certo dia, sua esposa foi à entrada<br />

da redação do jornal e fez uma confusão. Ela reclamava das <strong>no</strong>itadas <strong>de</strong> seu marido, dizendo que ele<br />

não parava mais em casa. A jornalista Glecy Coutinho foi chamada para acalmá-la. Então, explicou-<br />

lhe que não era para ela se preocupar, que Chico estava indo a esses lugares a pedido do general<br />

Darcy, para produzir uma série <strong>de</strong> reportagens sobre a prostituição em Vitória. Assim, ele <strong>de</strong>veria<br />

ir aon<strong>de</strong> era o foco da questão. Resultado: após esse dia, Chico foi obrigado a produzir a tal série <strong>de</strong><br />

reportagem, que foi publicada <strong>no</strong> primeiro ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>.<br />

Mas, voltando à história institucional <strong>de</strong> A Gazeta, o jornal vinha <strong>de</strong> um histórico <strong>de</strong><br />

envolvimento político com os gover<strong>no</strong>s da situação. Seu proprietário, Carlos Lin<strong>de</strong>nberg, era filiado


ao Partido Social Democrata (PSD) e já havia cumprido dois mandatos à frente do Gover<strong>no</strong> do<br />

Estado (1947-50 e 1959-62). Em 1965, contudo, foi <strong>de</strong>clarado o Ato Institucional nº2, que<br />

previa, <strong>de</strong>ntre outros cerceamentos, a legalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apenas dois partidos políticos: a Aliança<br />

Re<strong>no</strong>vadora Nacional (Arena) e o Movimen- to Democrático Brasileiro (MDB). A Arena era o<br />

partido do Gover<strong>no</strong> e a ele se aliaram os partidos <strong>de</strong> direita (PSD, UDN); já o MDB era o único<br />

partido consentido <strong>de</strong> oposição ao regime. Por conseguinte, Lin<strong>de</strong>nberg a<strong>de</strong>riu ao grupo arenista e<br />

<strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> à sua trajetória política situacionista.<br />

Durante a ditadura militar, a imprensa nacional sofreu forte pressão e com A Gazeta não foi<br />

diferente. A censura estava em toda parte e se expressava em três estágios diversos. A<br />

primeira instância era proveniente dos órgãos <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> imprensa do Gover<strong>no</strong>, que emitiam<br />

bilhetes comunicando quais eram os assuntos que não po<strong>de</strong>riam constar <strong>no</strong>s <strong>no</strong>ticiários e<br />

páginas dos jornais do dia seguinte. Para esses bilhetes, foi <strong>de</strong>stinado, inclusive, um lugar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque na redação, que ficava ainda <strong>no</strong> prédio A Gazeta, na Rua General Osório, Centro <strong>de</strong><br />

Vitória. Era um espaço em um mural <strong>de</strong> cortiça, <strong>de</strong>corado com uma tesoura aberta. Ali,<br />

penduravam-se as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> censura e, às vezes, até matérias produzidas que não haviam<br />

“passado”. É consenso entre jornalistas da época que muitos daqueles bilhetes serviram também<br />

como propagadores <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias que não saíam na mídia.<br />

Era por ali que se ficava sabendo das atrocida<strong>de</strong>s do regime e das movimentações populares<br />

espalhadas pelo País. As informações, ainda que incompletas, eram levadas ao conhecimento <strong>de</strong><br />

movimentos sociais clan<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s.<br />

A segunda instância <strong>de</strong> censura era a dos editores dos jornais, que, mais que censurar os textos<br />

dos seus repórteres com o objetivo <strong>de</strong> oferecer apoio à ditadura, faziam-<strong>no</strong> por proteção pessoal.<br />

Por fim, a terceira instância partia do próprio jornalista, que, sabendo <strong>de</strong> todas as supervisões a<br />

que seria submetido, fazia uma autocensura e já preparava o texto sob medida para ser<br />

aprovado pelas instâncias anteriores.<br />

Mas, os jornalistas, em épocas <strong>de</strong> opressão, também usavam <strong>de</strong> mais criativida<strong>de</strong> em suas<br />

publicações para driblar o Gover<strong>no</strong>.<br />

Desse modo, por meio <strong>de</strong> metáforas e <strong>de</strong> colocações sutis, esses profissionais encontravam<br />

meios <strong>de</strong> enfrentar a censura. Quando era preciso eles se faziam <strong>de</strong> bobos. Certa vez, quando


foi assassinado o presi<strong>de</strong>nte chile<strong>no</strong> Salvador Allen<strong>de</strong>, veio a or<strong>de</strong>m da censura fe<strong>de</strong>ral para que não<br />

se reportasse o ocorrido e para que só fossem feitas <strong>no</strong>tícias elogiosas ao golpe militar daquele país.<br />

Todas as atrocida<strong>de</strong>s e massacres <strong>de</strong>veriam ficar <strong>de</strong> fora dos jornais. Os presos políticos foram<br />

levados ao Estádio Nacional <strong>de</strong> Santiago, on<strong>de</strong> foram separados em celas, torturados e,<br />

muitos <strong>de</strong>les, ali mesmo assassinados. Nessa mesma época, a seleção chilena precisava fazer um<br />

jogo das eliminatórias para a Copa <strong>de</strong> 74 contra a seleção da União Soviética, naquele estádio.<br />

Mas os soviéticos se recusaram a jogar, alegando que não jogavam em campos <strong>de</strong> concentração. No<br />

dia seguinte à publicação <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>tícia, a chefia, preocupada com a repercussão que a<br />

matéria po<strong>de</strong>ria causar, chamou a atenção do editor <strong>de</strong> Esporte, Álvaro José Silva: “Álvaro, você<br />

viu o que você publicou?”. “O que eu ia fazer? Dizer que o jogo vai acontecer?”, retrucou o editor.<br />

“Mas não podia ter tirado o campo <strong>de</strong> concentração?”, reclamou a temerosa chefia. “Ih, passou<br />

batido, nem vi!”, constatou o “<strong>de</strong>sligado” editor.<br />

Alguns jornalistas eram chamados a prestar esclarecimentos quanto ao teor do material<br />

publicado e, às vezes, até ficavam dois ou três dias presos para serem intimidados, como foi o caso<br />

do chargista Milson Henriques. Milson fazia diariamente a charge para A Gazeta e, quando estava<br />

preso, era substituído pelo também chargista Janc. Desse modo, a população tomava<br />

conhecimento da sua prisão, o que, para ele, era uma garantia <strong>de</strong> que não seria torturado. “Toda a<br />

cida<strong>de</strong> sabia que eu estava preso. Eu não tinha medo <strong>de</strong> apanhar, por exemplo, porque eles não iam<br />

me bater ou me matar, já que todo mundo sabia que estava preso.<br />

Essa certeza me tirou muito do medo que eu po<strong>de</strong>ria ter. E, na época, A Tribuna era um jornal<br />

peque<strong>no</strong>. Então era A Gazeta que mandava mesmo”, conta Milson Henriques. Os jornalistas,<br />

<strong>de</strong> certa forma, tinham essa segurança <strong>de</strong> serem respaldados pelo respeitável <strong>no</strong>me A Gazeta, o<br />

veículo para o qual trabalhavam.<br />

No meio <strong>de</strong>sse caminho, também havia os interesses da empresa.<br />

A convicção política da diretoria <strong>de</strong> A Gazeta ia contra os i<strong>de</strong>ais da gran<strong>de</strong> maioria dos<br />

jornalistas <strong>de</strong> sua redação, que era <strong>de</strong> esquerda. “As pessoas mais inteligentes eram <strong>de</strong> esquerda.<br />

Então eles [os diretores] tinham que se ren<strong>de</strong>r às pessoas inteligentes, e as pessoas inteligentes,<br />

para sobreviver, tinham que se ren<strong>de</strong>r a eles”, reflete Milson Henriques. Jornalistas e editores<br />

se viam obrigados a seguir algumas <strong>de</strong>terminações. Existia a linha editorial do jornal e o que a


empresa chamava <strong>de</strong> “recomendações editoriais”, as quais, por vezes, seriam um consenso entre<br />

os editores e os seus repórteres – como a não-publicação <strong>de</strong> temas tabus para a época, como a<br />

homossexualida<strong>de</strong> – e, por outras, seriam a transmissão <strong>de</strong> um posicionamento político da diretoria.<br />

Mas os tempos <strong>de</strong> ditadura não foram <strong>de</strong> todo ruins para A Gazeta. Durante o período <strong>de</strong><br />

exceção, o jornal ganhou porte empresarial. Em 1969, ela saiu da sua se<strong>de</strong>, o acanhado<br />

prediozinho <strong>de</strong> três andares na Rua General Osório, Centro <strong>de</strong> Vitória, para se instalar <strong>no</strong> Edifício A<br />

Gazeta, <strong>de</strong> treze andares, um investimento imobiliário, localizado na mesma rua. Naquele<br />

mesmo a<strong>no</strong>, foi instalado, já na <strong>no</strong>va se<strong>de</strong>, o sistema <strong>de</strong> impressão off-set e a rotativa Goss.<br />

Também se passou a utilizar o fotolito e, nessa mesma época, foi introduzida a composição a frio.<br />

Glecy Coutinho explica o processo <strong>de</strong> composição a chumbo, abandonado com a mudança: “A<br />

barra <strong>de</strong> chumbo vai <strong>de</strong>rretendo e cai nas canaletas. Quando ela ainda está mole vai-se<br />

datilografando, é uma espécie <strong>de</strong> datilografia em cima do chumbo ainda quente e mole. Se faz uma<br />

fatia, linha por linha, a linha vai passando e vai caindo, com a letra em cima. Depois que o texto<br />

estava pronto, amarrava-se com um barbante todos os pedaços formando o tex- to. Colocava-se<br />

numa mesa e tirava-se uma cópia. Botava-se <strong>no</strong> prelo e se passava tinta em cima, <strong>de</strong>pois se botava o<br />

papel e passava o rolo. O que estava escrito ali já saía pronto. Depois, passava-se o material para o<br />

jornalista ler e corrigir. Tinha os revisores, além da redação, era muita gente que trabalhava por<br />

tur<strong>no</strong>, um lia a matéria, corrigia e <strong>de</strong>pois lia <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo. Esse trabalho <strong>de</strong> revisão veio até a chegada<br />

dos computadores. O que estivesse errado era marcado <strong>no</strong> texto, levado para a oficina e os<br />

funcionários corrigiam as palavras erradas e acentos <strong>no</strong> chumbo”.<br />

Por falar em mudanças, em 1983, A Gazeta trocou <strong>no</strong>vamente <strong>de</strong> casa. Dessa vez, a empresa<br />

saiu do Centro <strong>de</strong> Vitória e se instalou na atual e bem estruturada se<strong>de</strong> na Rua Chafic Murad, Ilha<br />

<strong>de</strong> Monte Belo, montada para comportar todos os veículos da Re<strong>de</strong> Gazeta. A mudança física da<br />

empresa foi acompanhada por <strong>no</strong>va mo<strong>de</strong>rnização do parque gráfico, com a compra da rotativa<br />

Harris/845, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impressão <strong>de</strong> 60 mil exemplares por hora.<br />

Mas, voltando aos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> setenta, em 1971, dando continuida<strong>de</strong> às re<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas, com<br />

a aposentadoria <strong>de</strong>finitiva das máquinas <strong>de</strong> li<strong>no</strong>tipo, chega às redações capixabas o primeiro telex,<br />

que conectaria A Gazeta às principais agências <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias nacionais e internacionais e seria um


ecurso adicional a essas duas editorias, já que, além <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias tor<strong>no</strong>u-se possível receber fotos<br />

através dos sistemas radiofoto e telefoto.<br />

A primeira gran<strong>de</strong> reformulação jornalística em A Gazeta ocorreu entre 1972 e 1975. Foi<br />

executada pelo então editor-chefe, Marien Calixte, e por jornalistas que participaram <strong>de</strong> um<br />

programa <strong>de</strong> estágio <strong>no</strong> Jornal do Brasil (Sérgio Egito, Amylton <strong>de</strong> Almeida, Erildo dos Anjos,<br />

Élber Suza<strong>no</strong>, <strong>de</strong>ntre outros). O JB foi a matriz do mo<strong>de</strong>lo gráfico e editorial aplicado em A<br />

Gazeta, revolucionando sua forma <strong>de</strong> fazer jornal. Ao fim <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações, A Gazeta<br />

ganhou porte <strong>de</strong> um jornal mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> para a época.<br />

As principais i<strong>no</strong>vações gráficas e editoriais foram: adoção <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> paginação e<br />

<strong>de</strong> diagramação; re<strong>no</strong>vação do logotipo A Gazeta, utilizando na marca letra característica <strong>de</strong><br />

imprensa; reposicionamento <strong>de</strong> seções; separação das matérias por editorias, que foram divididas<br />

em dois ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s – <strong>no</strong> primeiro, ficaram Opinião, Cida<strong>de</strong>, Polícia, Eco<strong>no</strong>mia e Política; <strong>no</strong><br />

segundo, Agenda, Cultura e Esporte –; adoção <strong>de</strong> um editorial, charge e tirinhas; e criação <strong>de</strong><br />

colunas <strong>de</strong> opinião <strong>de</strong>stinadas a articulistas.<br />

Logo as editorias <strong>de</strong> Agenda e Cultura <strong>de</strong>ram origem ao Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> Dois, batizado assim pelo<br />

seu então editor, Erildo dos Anjos.<br />

Além <strong>de</strong>ssas mudanças, que re<strong>no</strong>varam a cara do jornal, houve também inúmeras i<strong>no</strong>vações<br />

editoriais que merecem <strong>de</strong>staque por serem responsáveis pela profissionalização <strong>de</strong> A Gazeta.<br />

Dentre elas, estão as criações da Secretaria <strong>de</strong> Texto – responsável por promover uma<br />

uniformização das matérias e por aplicar a técnica <strong>de</strong> utilização do li<strong>de</strong> e da pirâmi<strong>de</strong> invertida –; da<br />

Secretaria <strong>de</strong> diagramação; e da Editoria <strong>de</strong> Pesquisa.<br />

Paralelamente ao projeto <strong>de</strong> reformulação do jornal, veio o processo <strong>de</strong> profissionalização das<br />

pessoas envolvidas na sua produção diária. Vale lembrar que a ditadura militar apertou o cerco a<br />

profissionais sem registro ou formação acadêmica em Jornalismo. A discussão ganhou espaço nas<br />

páginas <strong>de</strong> A Gazeta, especificamente na coluna <strong>de</strong> Hélio Dórea, que reivindicava a criação do<br />

curso <strong>de</strong> Jornalismo na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (Ufes). Assim, segundo <strong>no</strong>s conta a<br />

jornalista Glecy Coutinho, a pedido <strong>de</strong> Carlos Lin<strong>de</strong>nberg Filho, o Cariê, e <strong>de</strong> João <strong>Santo</strong>s,<br />

proprietário <strong>de</strong> A Tribuna, em 1975, foi criado o curso <strong>de</strong> Comunicação Social da Ufes, para<br />

aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s do mercado. Nessa época, ainda era comum que estudantes <strong>de</strong> Medicina


(Alípio César), Engenharia (José Carlos Correa) e Direito tivessem participação expressiva <strong>de</strong>ntro<br />

das redações, sobretudo os estudantes <strong>de</strong> Medicina.<br />

No final da década <strong>de</strong> 70, o regime <strong>de</strong> exceção já <strong>de</strong>monstrava sinais <strong>de</strong> esgotamento,<br />

catalisado pelo fim do “milagre econômico”.<br />

A crise que atingiu o Brasil acabou por minar o pouco do prestígio que o Gover<strong>no</strong> Militar<br />

ainda po<strong>de</strong>ria ter entre a população e fortaleceu os movimentos sociais <strong>de</strong> contestação.<br />

Nesse contexto, a imprensa também contribuiu <strong>de</strong> modo significativo para inflamar o povo contra a<br />

ditadura.<br />

Em 1979, assumiu a Presidência do Brasil o General João Baptista Figueiredo, prometendo<br />

re<strong>de</strong>mocratizar o País. Nesse mesmo a<strong>no</strong>, foi assinada a Lei <strong>de</strong> Anistia (“ampla e irrestrita”), que<br />

previa a suspensão das penalida<strong>de</strong>s aos opositores do regime militar e colocava fim à censura <strong>de</strong><br />

imprensa. Mesmo assim, os jornalistas foram cautelosos em suas matérias, posto que ainda viviam<br />

em um Estado ditatorial. A liberda<strong>de</strong> geral só veio mesmo em 1985, quando os militares saíram do<br />

po<strong>de</strong>r.<br />

A Gazeta contemporânea<br />

Nos últimos 20 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, é possível observar diversas mudanças que marcaram a trajetória <strong>de</strong> A<br />

Gazeta. Nesse período, o jornal enfrentou dificulda<strong>de</strong>s, realizou <strong>no</strong>vas experiências gráfico-<br />

editoriais e mo<strong>de</strong>rnizou seu parque industrial.<br />

A partir <strong>de</strong> 1986, A Gazeta colocou em operação um avançado sistema <strong>de</strong> fotocomposição,<br />

cuja recepção, codificação e processamento passaram a ser inteiramente computadorizados.<br />

Em 1992, o periódico passou a contar com fotos coloridas diariamente, seguindo a tendência<br />

do que vinha acontecendo com os <strong>de</strong>mais jornais impressos do Brasil. Esta foi uma tentativa<br />

<strong>de</strong> atingir os <strong>no</strong>vos interesses dos leitores, visto que os últimos 20 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> foram marcados por<br />

mudanças <strong>de</strong> hábitos da socieda<strong>de</strong>.<br />

Muitas pessoas passaram a acompanhar as <strong>no</strong>tícias pela televisão.<br />

Dessa maneira, a saída que A Gazeta encontrou para sobreviver e superar a crise que se<br />

instaurava foi acompanhar essas transformações e se tornar um veículo mais mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, explicativo


e contextualizado. Nesse mesmo a<strong>no</strong>, foi contratada uma empresa <strong>de</strong> consultoria para cuidar da área<br />

<strong>de</strong> planejamento estratégico do jornal. Este foi o ponto <strong>de</strong> partida para as transformações que<br />

viriam posteriormente. Em 1994, A Gazeta inaugurou seu sistema <strong>de</strong> redação informatizada.<br />

No entanto, mesmo com o progresso técnico e administrativo, o jornal, que outrora vendia<br />

aproximadamente 100 mil exemplares aos domingos, estava per<strong>de</strong>ndo cada vez mais leitores.<br />

A Tribuna ultrapassa as vendagens <strong>de</strong> A Gazeta e, paralelamente, crescia o número <strong>de</strong> assinaturas<br />

<strong>de</strong> jornais <strong>de</strong> fora do Estado, como Folha <strong>de</strong> São Paulo e Jornal do Brasil. Essa queda nas<br />

vendas acentuou-se em 1995, com a morte do então diretor <strong>de</strong> redação, Paulo Torre, que dirigiu A<br />

Gazeta <strong>no</strong> ápice das vendagens.<br />

Em 1996, Vinícius Seixas, jornalista experiente da empresa capixaba, assumiu a chefia <strong>de</strong><br />

redação, e profissionais <strong>de</strong> outros Estados foram trazidos para atuar <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong> local. Sua<br />

permanência <strong>no</strong> cargo foi curta. Ele viveu uma espécie <strong>de</strong> interinida<strong>de</strong> até a entrada <strong>de</strong> Ariovaldo<br />

Bonnas, ainda <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1996.<br />

Bonnas veio <strong>de</strong> São Paulo para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> especialmente para dirigir a redação do jornal.<br />

Em sua passagem por A Gazeta, o editor realizou algumas <strong>de</strong>missões e trouxe mais<br />

profissionais <strong>de</strong> fora do Estado. Era um jornalista reconhecido por gostar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s reportagens e<br />

gran<strong>de</strong>s assuntos. Contudo, apesar das boas intenções com o <strong>jornalismo</strong> capixaba e <strong>de</strong> ter<br />

conseguido alguns bons resultados <strong>no</strong> comando do jornal, ele não permaneceu por muito tempo.<br />

Em 1998, Bonnas pediu <strong>de</strong>missão e Vinicius Seixas assumiu <strong>no</strong>vamente como chefe interi<strong>no</strong><br />

até a chegada do também paulista Roberto Muller, jornalista famoso por ter sido o responsável<br />

pela reforma gráfica e editorial em A Gazeta Mercantil, consi<strong>de</strong>rada por muitos como um marco do<br />

<strong>jornalismo</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>no</strong> Brasil.<br />

Roberto Muller foi o responsável por uma segunda reforma gráfica <strong>no</strong> jornal, comandada pelo<br />

cuba<strong>no</strong> Mário García, consi<strong>de</strong>rado uma das maiores autorida<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>sign gráfico por já ter<br />

realizado reformas em alguns gran<strong>de</strong>s jornais do mundo. A Gazeta passou a dar priorida<strong>de</strong> a<br />

matérias mais curtas e a assuntos locais. Além disso, tor<strong>no</strong>u-se mais colorida e recebeu<br />

maior número <strong>de</strong> fotografias e <strong>de</strong> recursos gráficos. Muller também “importou” os jornalistas<br />

Marco Antônio Rodrigues e Cláudio Conceição, para ajudá-lo na gerência da redação.<br />

Com a entrada <strong>de</strong> Muller, houve um enxugamento na redação.


Cerca <strong>de</strong> 30 profissionais foram <strong>de</strong>mitidos. Essas <strong>de</strong>missões coincidiram com a época da crise<br />

econômica <strong>no</strong> Brasil, ocasionada pelo fim da parida<strong>de</strong> dólar-real em 1999. Segundo o colunista <strong>de</strong><br />

A Gazeta Sérgio Egito, as <strong>de</strong>missões foram uma espécie <strong>de</strong> adaptação ao impacto do câmbio<br />

flutuante, tendo em vista que 90% dos insumos <strong>de</strong> um jornal impresso (papel, tintas, peças<br />

<strong>de</strong> máquinas, filmes, etc) são comprados em dólar. Mas, além do problema com os gastos<br />

cotidi<strong>a<strong>no</strong>s</strong>, a Re<strong>de</strong> Gazeta sofreria o impacto <strong>de</strong> empréstimos feitos para a mo<strong>de</strong>rnização do jornal.<br />

Em 1997, começou a construção <strong>de</strong> um prédio em uma área com, aproximadamente, seis mil<br />

metros quadrados, anexa ao edifício se<strong>de</strong> da Re<strong>de</strong> Gazeta. O <strong>no</strong>vo parque gráfico, inaugurado em<br />

1999, foi construído para abrigar a impressora Newsliner, uma das mais mo<strong>de</strong>rnas do mercado, <strong>de</strong><br />

fabricação <strong>no</strong>rte-americana.<br />

Com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção 3,5 vezes maior que a da antiga impressora, ela consegue<br />

produzir até setenta mil exemplares por hora <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> até 32 páginas, sendo 16 em várias<br />

cores e as outras 16 em duas cores. Todos os ajustes da <strong>no</strong>va máquina são feitos através <strong>de</strong><br />

softwares específicos, o que reduz consi<strong>de</strong>ravelmente as perdas <strong>de</strong> produção.<br />

Esta foi a terceira revolução na confecção das páginas do jornal e correspon<strong>de</strong> ao maior<br />

investimento feito pela empresa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação do diário, em 19. A primeira foi na década <strong>de</strong><br />

50, com a troca dos tipos móveis pela composição feita a chumbo, na máquina li<strong>no</strong>tipo. Depois veio<br />

a fotocomposição, <strong>no</strong> final dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 60. Agora, o gran<strong>de</strong> avanço concerne à introdução da<br />

informatização em todas as áreas do processo <strong>de</strong> produção.<br />

Todavia, as empresas que investiram em <strong>no</strong>vos equipamentos <strong>no</strong> final da década <strong>de</strong> 90 tiveram<br />

prejuízo, em virtu<strong>de</strong> do aumento expressivo do dólar. A partir <strong>de</strong> 1999, a moeda passou <strong>de</strong> R$ 1,20<br />

para aproximadamente R$ 3,80. Os jornais que tinham comprado equipamentos em dólar viram sua<br />

dívida triplicar repentinamente.<br />

A Gazeta havia adquirido uma <strong>no</strong>va impressora <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> US$ 9 milhões, sendo que, <strong>de</strong>sse<br />

montante, 7,2 milhões foram financiados. Esse financiamento foi pago em um valor três vezes<br />

maior que a dívida inicial.<br />

“Todas as empresas que investiram em <strong>no</strong>vos equipamentos, tiveram prejuízo. Não há nenhum<br />

jornal do Brasil que tenha lucrado <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 2001 a 2003, <strong>de</strong>vido ao aumento do preço do<br />

dólar. Adquirimos uma <strong>no</strong>va impressora. Mesmo com a crise, que comprometeu a rentabilida<strong>de</strong> da


empresa, a parte repassada para o leitor foi muito pequena. Muitas empresas tiveram <strong>de</strong> se ajustar.<br />

Assim como A Gazeta, a Folha <strong>de</strong> São Paulo e O Globo <strong>de</strong>mitiram muita gente para superar a crise.<br />

Alguns jornais foram vendidos, inclusive”, diz Carlos Lin<strong>de</strong>nberg Neto, o Café, diretor geral da<br />

Re<strong>de</strong> Gazeta.<br />

Álvaro José Silva, jornalista <strong>de</strong>mitido na época, após 27 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> na empresa, diz que as<br />

<strong>de</strong>missões realizadas vieram em resposta às contestações dos jornalistas mais antigos em meio às<br />

mudanças gráficas e editorais adotadas <strong>no</strong> jornal. “É difícil para um profissional <strong>de</strong> 20, 30 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> ficar convivendo com coisas erradas sem po<strong>de</strong>r reagir. O jornal per<strong>de</strong>u força e conte- údo<br />

também. Na redação, foram mais <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>missões. Até que um belo dia o próprio Roberto Muller<br />

pediu <strong>de</strong>missão. Jornalistas que eu conheço em São Paulo me disseram que ele pediu as contas<br />

porque não estava conseguindo fazer o jornal reagir e não queria associar sua imagem a um<br />

fracasso. Eu acredito que aquela mudança foi o maior erro que o jornal cometeu”, diz.<br />

Em meio às dificulda<strong>de</strong>s que o setor impresso da Re<strong>de</strong> Gazeta enfrentava naquele momento, a<br />

empresa investiu na criação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo jornal para atingir segmentos da socieda<strong>de</strong> que, até então,<br />

não eram abrangidos pela empresa e se configuravam como o público preferencial da concorrente A<br />

Tribuna. Assim, em 2000, foi lançado o Notícia Agora.<br />

No início, as redações eram separadas fisicamente. Contudo, em 2001, foi preciso fazer uma<br />

revisão logística nas redações <strong>de</strong> A Gazeta e do Notícia Agora, as quais, após alguns ajustes,<br />

passaram a dividir o mesmo espaço. “A redação <strong>de</strong> A Gazeta teve um período <strong>de</strong> muita resistência a<br />

mudanças. Já o jornal Notícia Agora entrou <strong>no</strong> mercado com me<strong>no</strong>s compromisso com o passado.<br />

A competição interna entre os dois jornais era muito gran<strong>de</strong>. Hoje, eles convivem bem e<br />

compartilham algumas editorias como as <strong>de</strong> Polícia e Brasil. O Notícia Agora trouxe boas lições<br />

para A Gazeta, principalmente nas áreas <strong>de</strong> Serviços e Cida<strong>de</strong>s”, diz Café. O passo a passo da<br />

criação e a trajetória do Notícia Agora estão <strong>no</strong> capítulo cinco <strong>de</strong>ste livro.<br />

Uma trajetória <strong>de</strong> mudanças<br />

As <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias propiciaram uma série <strong>de</strong> vantagens para o processo técnico <strong>de</strong> produção<br />

dos jornais. Até 1988, existiam em A Gazeta apenas dois microcomputadores; atualmente, são cerca


<strong>de</strong> 800. A informatização do setor foi acompanhada pela criação <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> estrutura para dar<br />

suporte a essa <strong>no</strong>va realida<strong>de</strong> da empresa.<br />

Com os computadores, veio também a internet. No início, apesar <strong>de</strong> disponibilizar um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> informações, auxiliando nas pesquisas dos jornalistas, ela não era uma fonte<br />

muito confiável, diferentemente dos dias <strong>de</strong> hoje, em que é possível ter acesso a todos os jornais do<br />

mundo com a mesma confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um jornal impresso. A formação jornalística dos<br />

universitários também mudou com a entrada das <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias. Se antes as redações serviam <strong>de</strong><br />

laboratório para os profissionais iniciantes, hoje, eles já saem da universida<strong>de</strong> dominando o<br />

computador, a fotografia e outros instrumentos <strong>de</strong> trabalho. O repórter vai para a rua, faz a<br />

entrevista, fotografa, faz tudo. Esta é uma <strong>no</strong>va tendência que já po<strong>de</strong> ser observada em alguns<br />

jornais do mundo.<br />

“A informatização só muda on<strong>de</strong> você contrata as pessoas. Antigamente, havia várias etapas<br />

<strong>de</strong> pré-impressão. Quando entrei em A Gazeta, em 1988, havia sete etapas entre a redação e a<br />

impressão;<br />

hoje há apenas uma ”, diz Café.<br />

Com a evolução dos meios audiovisuais, como o rádio, a televisão e a internet, o <strong>jornalismo</strong><br />

impresso está passando por mudanças significativas na maneira <strong>de</strong> levar a <strong>no</strong>tícia para seu leitor.<br />

Antigamente, essa diferença se dava pelo fato <strong>de</strong> o jornal ser mais completo do que os outros<br />

veículos. Hoje, as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias exigem uma <strong>no</strong>va maneira <strong>de</strong> se fazer um jornal impresso. As<br />

<strong>no</strong>tícias estão mais curtas e pró-ativas, ou seja, a <strong>no</strong>tícia, na maioria das vezes, apresenta uma visão<br />

projetada <strong>de</strong> futuro e não mais baseada <strong>no</strong> passado.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo às <strong>no</strong>vas exigências, A Gazeta buscou <strong>no</strong>vamente se adaptar, modificando, <strong>de</strong>ssa<br />

vez, não apenas sua apresentação gráfica.<br />

No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2004, houve a implantação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo projeto editorial e gráfico, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> ampliar a cobertura dos assuntos locais, avançando na análise e na interpretação dos fatos.<br />

Novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> A Gazeta<br />

Foram oito meses <strong>de</strong> planejamento – <strong>de</strong>senvolvido pela consultoria espanhola Mediacción, da<br />

Universidad <strong>de</strong> Navarra, que presta serviços para 38 jornais na Europa e na América Latina1 – até


que o <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> A Gazeta <strong>no</strong> formato standard – o único do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> – fosse lançado <strong>no</strong><br />

mercado, com mudanças gráficas e editoriais, em julho <strong>de</strong> 2004.<br />

Com as modificações, o jornal está dividido por ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s e a estrutura geral das páginas é<br />

seguida <strong>de</strong> uma matéria principal, uma secundária e uma coluna <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas curtas ou uma coluna <strong>de</strong><br />

autor.<br />

As <strong>no</strong>tícias locais passaram a ser publicadas <strong>no</strong> início do primeiro ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, incluindo o<br />

<strong>no</strong>ticiário <strong>de</strong> polícia e segurança pública. Notícias internacionais, nacionais, políticas, econômicas e<br />

esportivas estão na segunda parte do primeiro ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>. As editorias não têm or<strong>de</strong>m nem número <strong>de</strong><br />

páginas fixos. A exceção é apenas para Esportes, que sempre fecha o ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>. O jornal passou a<br />

privilegiar assuntos mais próximos do cotidia<strong>no</strong> do público.<br />

Nessa reforma, foi criado o Guia <strong>de</strong> Serviços, <strong>no</strong> formato tablói<strong>de</strong>.<br />

Publicado diariamente, o guia concentra informações sobre cursos e concursos e seções que<br />

estavam espalhadas pelo jornal, como Linha Direta, Coluna da Fé, Tempo, Cruzadas e Quadrinhos.<br />

Todas as editorias contribuem com pautas e repórteres para fechar esse ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>.<br />

O Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> Dois passou a contemplar mais informações sobre programações <strong>de</strong> arte e<br />

espetáculos, cinema e televisão. Além disso, o periódico conta com suplementos semanais sobre<br />

diversos temas, como informática, imóveis, turismo, lazer, veículos, moda, turismo e saú<strong>de</strong>. Possui,<br />

ainda, o suplemento infantil “A Gazetinha”, um dos mais antigos do País, com mais <strong>de</strong> 40 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

Além <strong>de</strong>ssas transformações, A Gazeta incorporou ao seu quadro <strong>de</strong> colunistas <strong>no</strong>mes<br />

expressivos, como Arnaldo Jabor, Benjamin Steinbruch, Dráuzio Varella, Renato Machado,<br />

Agame<strong>no</strong>n Men<strong>de</strong>s Pedreira, Tostão, Paulo Rabello <strong>de</strong> Castro, entre outros.<br />

“O jornal tor<strong>no</strong>u-se mais segmentado. A <strong>no</strong>va filosofia adotada pela empresa foi criada com a<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a essas transformações dos hábitos da socieda<strong>de</strong>. Hoje, a edição é<br />

mais planejada e flexível em termos <strong>de</strong> paginação, o que oferece mais mobilida<strong>de</strong> na redação. Além<br />

das reformas gráficas, houve também uma mudança conceitual. A Gazeta passou a ser um jornal <strong>de</strong><br />

serviços, sem per<strong>de</strong>r seu público. A assinatura aumentou e está conseguindo bons resultados. As<br />

pesquisas pós-lançamento revelaram que a taxa <strong>de</strong> aprovação das mudanças é <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 90%. Em<br />

agosto <strong>de</strong> 2005, foi feito um planejamento do rumo da empresa para os próximos três <strong>a<strong>no</strong>s</strong>”, revela<br />

Café.


A Gazeta e a política <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> século<br />

Na virada do milênio, o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> foi marcado por uma onda <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> corrupção<br />

nas estruturas do po<strong>de</strong>r público. O jornal A Gazeta abriu espaço para reportagens (muitas <strong>de</strong>las<br />

premiadas) que tiveram gran<strong>de</strong> influência <strong>no</strong> quadro geral da política capixaba.<br />

A administração do ex-Governador José Inácio Ferreira esteve envolvida em <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong><br />

operações ilegais que incluíam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> verbas públicas para financiamento <strong>de</strong> sua<br />

campanha política, passando por superfaturamento <strong>de</strong> obras, até cobrança <strong>de</strong> propinas e chantagens<br />

para liberação <strong>de</strong> transações envolvendo o erário público.<br />

O processo <strong>de</strong> apuração foi <strong>de</strong>morado. Da primeira suspeita <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> à publicação da primeira<br />

reportagem bombástica se pas- saram cerca <strong>de</strong> 40 dias <strong>de</strong> puro trabalho investigativo,<br />

sustentado pela ação da Polícia e do Ministério Público.<br />

Foram quase dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> cobertura, <strong>de</strong> 2001 ao final <strong>de</strong> 2002. Uma equipe <strong>de</strong> jornalistas,<br />

chefiada pelo então editor <strong>de</strong> Política, Sérgio Egito, trabalhou <strong>no</strong> caso. Dentre esses jornalistas<br />

estavam Andréia Lopes, André Hees, Lúcia Garcia, Eduardo Caliman, Gabriela Rölke, Radanezi<br />

Amorim e Vilmara Fernan<strong>de</strong>s.<br />

O jornalista Eduardo Caliman, atual editor <strong>de</strong> Política, conta que A Gazeta recebeu <strong>de</strong> fontes<br />

em off uma cópia <strong>de</strong> um extrato bancário que <strong>de</strong>monstrava o repasse <strong>de</strong> um empréstimo <strong>de</strong> R$<br />

2 milhões feito <strong>no</strong> Banestes a duas empresas. Esse dinheiro chegou a José Inácio por meio <strong>de</strong>ssas<br />

empresas e foi usado para cobrir o rombo que ele tinha naquele banco referente a um<br />

empréstimo feito durante sua campanha eleitoral.<br />

Entretanto, mesmo com essa prova nas mãos, o jornal não publicou a matéria, porque não<br />

havia a certeza quanto à questão <strong>de</strong> ter que se respeitar o sigilo bancário. Além disso, o<br />

jornalista lembra que o fato <strong>de</strong> o então presi<strong>de</strong>nte da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz,<br />

estar alimentando a imprensa com informações era um fator <strong>de</strong> questionamento quanto à veracida<strong>de</strong><br />

do material reunido, já que ele era parte interessada <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> afastamento do Governador e do<br />

Vice-Governador, pois seria o próximo a assumir o Palácio Anchieta, seguindo a hierarquia dos<br />

po<strong>de</strong>res. Assim, foi preciso fundamentar as matérias com o dobro <strong>de</strong> cuidado.


“Começar com as <strong>de</strong>núncias era difícil. A Folha <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong>u uma <strong>no</strong>tinha. Já era<br />

público, nós aproveitamos e soltamos. O veículo do Estado tem que tomar mais cuidado, porque a<br />

gente se importa muito mais com a vida daqui do que a Folha <strong>de</strong> São Paulo”, explicou Caliman.<br />

Após as primeiras <strong>de</strong>núncias, o caso foi se <strong>de</strong>sdobrando. Se- gundo Sérgio Egito, José Inácio<br />

tomou medidas informais para abafar a divulgação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas informações: “Proibiram os<br />

secretários <strong>de</strong> dar entrevista para A Gazeta. Nós tivemos que <strong>no</strong>s virar com <strong>no</strong>ssas fontes <strong>de</strong>ntro do<br />

Gover<strong>no</strong>. Nós sempre precisamos ter uma fontezinha, os offs são necessários. E, <strong>no</strong> Gover<strong>no</strong>,<br />

também sempre tem uma disputa. Seja em qual gover<strong>no</strong> for. Até que, <strong>no</strong> final, nós conseguimos que<br />

algumas fontes em off fossem em on, como o procurador Geraldo Salles Pimentel”.<br />

O jornalista André Hees também confirma essa situação: “Um ou dois secretários me disseram<br />

que não podiam dar entrevista por telefone, porque estava tudo grampeado: ‘O Governador<br />

fica sabendo e <strong>de</strong>pois cobra da gente’. Sofremos boicote <strong>de</strong> informação, eles passavam para a<br />

concorrência porque era estratégia do Gover<strong>no</strong> passar para eles e não para nós”. Os jornalistas<br />

sofreram muita pressão política e alguns foram até processados, como a jornalista Andréia Lopes, já<br />

absolvida.<br />

Outro escândalo que marcou a época, segundo os jornalistas ouvidos, foi o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> verbas da<br />

transação milionária <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> crédito <strong>de</strong> ICMS (Imposto sobre Circulação <strong>de</strong> Mercadorias e<br />

Serviços) da Samarco à Escelsa. A Samarco, por ser uma empresa exportadora, acumula créditos <strong>de</strong><br />

ICMS junto ao Gover<strong>no</strong>.<br />

Contudo, a dívida que se formava não tinha perspectivas <strong>de</strong> pagamento e esse dinheiro<br />

acabava correndo o risco <strong>de</strong> virar “dinheiro fantasma”.<br />

A Samarco, em negociação com a Escelsa, com autorização do Gover<strong>no</strong> do Estado, ven<strong>de</strong>u<br />

esses “títulos” para a empresa <strong>de</strong> energia por um valor bem mais baixo do que realmente<br />

valiam, com a justificativa <strong>de</strong> receber ao me<strong>no</strong>s parte do dinheiro.<br />

Entretanto, como lembra Caliman, parte do dinheiro <strong>de</strong>ssa negociação foi parar na conta do<br />

ex-tesoureiro <strong>de</strong> campanha eleitoral <strong>de</strong> José Inácio, Bené, em uma espécie <strong>de</strong> caixa dois <strong>de</strong><br />

campanha (dinheiro não <strong>de</strong>clarado à Justiça Eleitoral).<br />

Um outro caso, folclórico até, envolveu um guru que veio a público cobrar por serviços que<br />

teriam sido prestados a integrantes do Gover<strong>no</strong>, e não pagos, na tentativa <strong>de</strong> se acabar com a


“urucubaca” que tomava conta da administração estadual. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2001, a jornalista Vilmara<br />

Fernan<strong>de</strong>s recebeu o Prêmio Aberje <strong>de</strong> Jornalismo pela reportagem “Guru cobra dívida”. “Fomos<br />

questionados se não estaríamos exagerando, mas a gente fez simplesmente o trabalho que a gente<br />

tinha que fazer”, disse Caliman.<br />

A Gazeta teve fundamental importância na divulgação minuciosa dos fatos que envolviam a<br />

crise do Gover<strong>no</strong> José Inácio.<br />

Contudo, Caliman se <strong>de</strong>cepciona com a falta <strong>de</strong> reconhecimento da socieda<strong>de</strong>: “A editoria é<br />

valorizada pelo histórico <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> corrupção. Mas isso não é tão valorizado pela população<br />

que não tem muita informação. Os leitores que acompanham sabem, mas a população <strong>de</strong> um modo<br />

geral não enten<strong>de</strong> o papel <strong>de</strong> A Gazeta nessa reconstrução ética do Estado. O Estado é outro.<br />

O Gratz está preso, a gente fez várias <strong>de</strong>núncias contra o gover<strong>no</strong> José Inácio. A Gazeta é co-<br />

responsável pelas mudanças. Se não tivesse ninguém para dar porrada <strong>no</strong> gover<strong>no</strong> José Inácio,<br />

ele estaria aí reinando”.


A Gazeta <strong>de</strong> 1936


A Gazeta <strong>de</strong> 1945


A Gazeta <strong>de</strong> 1961


A Gazeta <strong>de</strong> 1970


A Gazeta <strong>de</strong> 1974


A Gazeta <strong>de</strong> 1984


A Gazeta <strong>de</strong> 1993


A Gazeta <strong>de</strong> 2001


A Gazeta <strong>de</strong> 2005


Referências bibliográficas<br />

A Gazeta. Edição comemorativa <strong>de</strong> 75 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> do jornal. Vitória. 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003.<br />

FERREIRA, Tânia Mara Corrêa. A Ruptura da Eletrônica <strong>no</strong> Fluxo <strong>de</strong> Produção do Jornal<br />

Impresso – Relato baseado na experiência <strong>de</strong> re<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógica do jornal A Gazeta.<br />

Mo<strong>no</strong>grafia apresentada ao Programa <strong>de</strong> Pós- Graduação – Especialização em Jornalismo –<br />

Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá/RJ. Orientador: Prof.: Potiguara M. da Silveira Jr. 1995.<br />

MARTINUZZO, José Antonio (org.). Balzaquia<strong>no</strong>: Trinta <strong>a<strong>no</strong>s</strong> do Curso <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> 1975-2005.<br />

Vitória: DIOES, 2005.<br />

ZORZAL E SILVA, Marta. <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>: Estado, interesses e po<strong>de</strong>r. Vitória:<br />

FCAA/SPDC, 1995.<br />

Entrevistas<br />

Marien Calixte – Jornalista aposentado, em 22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 às autoras do capítulo.<br />

Clodomir Bertoldi – Jornalista/colunista <strong>de</strong> A Gazeta, em 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 às autoras do<br />

capítulo.<br />

Carlos Lin<strong>de</strong>nberg Neto (Café) – Diretor geral da Re<strong>de</strong> Gazeta, em 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 às<br />

autoras do capítulo.<br />

Carlos Lin<strong>de</strong>nberg Filho (Cariê) – Secretário executivo da Re<strong>de</strong> Gazeta, em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005<br />

às autoras do capítulo.<br />

André Hees – Editor executivo <strong>de</strong> A Gazeta, em <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 às autoras do capítulo.<br />

Glecy Coutinho – jornalista aposentada, em <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 às autoras do capítulo.<br />

Milson Henriques – Chargista, em 29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 a Vitor Vogas, Ronald Alves e Kênia<br />

Freitas.<br />

Sérgio Egito – Jornalista/colunista <strong>de</strong> A Gazeta, em 04 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 às autoras do capítulo.


Eduardo Caliman – Editor <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> A Gazeta, em 04 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 às autoras do<br />

capítulo.<br />

Álvaro José Silva – jornalista e ex-funcionário <strong>de</strong> A Gazeta, em 05 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 às autoras<br />

do capítulo.<br />

Marta Zorzal – Cientista política e professora da Ufes, em 05 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 às autoras do<br />

capítulo.


A Tribuna:<br />

memórias <strong>de</strong> um jornal sem registros<br />

George Vianna, Gleyson Tete e Guido Nunes<br />

22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1938. Reis Vidal, jornalista oriundo <strong>de</strong> São Paulo, funda o jornal A Tribuna<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória, capital do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Funcionando inicialmente na Esplanada Capixaba,<br />

hoje Avenida Jerônimo Monteiro, o impresso foi criado <strong>no</strong> período que antece<strong>de</strong>u a Segunda<br />

Guerra Mundial.<br />

O jornalista aposentado Adam Emil Czartoryski relembra o contexto em que se passou o<br />

surgimento, assim como os primeiros <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> funcionamento do jornal. “O Reis Vidal tinha<br />

idéias fascistas e, <strong>no</strong> início da Guerra, <strong>de</strong>fendia os alemães e, principalmente, os itali<strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Havia<br />

uma firma alemã muito po<strong>de</strong>rosa – a ‘Arens & Langens’ – situada perto da praça Costa Pereira,<br />

que importava e exportava produtos e agenciava navios. Havia suspeitas <strong>de</strong> que ela financiava o<br />

Reis Vidal na feitura <strong>de</strong> A Tribuna. Nesse mesmo período, o jornal foi ‘empastelado’. Invadiram<br />

e quebraram tudo. O jornal ficou fechado por um tempo”.<br />

No início da década <strong>de</strong> 1950, após o fechamento, o jornal foi comprado por um grupo ligado<br />

ao Partido Social Progressista (PSP), <strong>de</strong> A<strong>de</strong>mar <strong>de</strong> Barros. “Nessa época, chamei o Marien Calixte<br />

e o Asdrúbal Soares, para formarmos uma redação, e concorríamos muito com A Gazeta. Esta foi<br />

uma boa fase <strong>de</strong> A Tribuna, tentamos fazer uma edição diária do jornal só sobre o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>,<br />

pois, na época, as comunicações eram muito <strong>de</strong>ficientes; jornais do Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo<br />

chegavam aqui somente um ou dois dias <strong>de</strong>pois. Não havia pauta naquela época, o jornalista saía<br />

para a rua e se virava. Foi a partir <strong>de</strong> então que começamos a fazer pautas e pagar os repórteres”,<br />

contou Adam Emil Czartoryski.<br />

A<strong>de</strong>mar <strong>de</strong> Barros entrou numa fase <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s financeiras, já que uma quantia<br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> dinheiro havia sido roubada <strong>de</strong> seu cofre por militantes <strong>de</strong> esquerda. Ele também<br />

estava enfraquecido politicamente por conta da ditadura que havia se instaurado <strong>no</strong> País em 1964.<br />

Não vendo alternativas para sair da crise, resolveu passar adiante o jornal, saindo do cenário<br />

jornalístico capixaba <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1968 e <strong>de</strong>ixando o veículo nas mãos <strong>de</strong> Djalma Juarez Magalhães.


Pouco tempo se passou para que A Tribuna fosse comprada pelo grupo João <strong>Santo</strong>s, que já<br />

tinha adquirido também a fábrica <strong>de</strong> cimento Nassau, antiga Barbará, da Prefeitura <strong>de</strong> Cachoeiro<br />

<strong>de</strong> Itapemirim. “Nessa compra foi feito um acordo com o Gover<strong>no</strong> do Estado, que <strong>de</strong>terminava a<br />

isenção <strong>de</strong> impostos durante 20 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> para a empresa. Porém, com a indicação <strong>de</strong> Cristia<strong>no</strong><br />

Dias Lopes Filho como governador biônico do Estado, esse privilégio estava com os dias contados.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> bater <strong>de</strong> frente com o Gover<strong>no</strong>, João se preocupou com seu fortalecimento<br />

político <strong>de</strong>ntro do pa<strong>no</strong>rama estadual, comprando, assim, um veículo <strong>de</strong> comunicação”, disse Pedro<br />

Maia, colunista <strong>de</strong> A Tribuna que vivenciou esse período. A<strong>no</strong>s mais tar<strong>de</strong>, essa idéia<br />

mostrouse uma atitu<strong>de</strong> acertada, diante dos fatos que se suce<strong>de</strong>ram.<br />

João <strong>Santo</strong>s Filho possuía aspirações políticas, mas tinha também a idéia <strong>de</strong> fazer uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicação, e, agora que já possuía o jornal, visava a expandir seus investimentos. Em<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>al, surgiram, <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong>pois, a rádio e a TV Tribuna.<br />

Funcionando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação, na Avenida Jerônimo Monteiro, A Tribuna passa a operar<br />

em outro lugar a partir <strong>de</strong> 1971, transferindo sua se<strong>de</strong> para uma pequena rua <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong><br />

Vitória, chamada Nélson Monteiro. Ali, permanece por pouco tempo.<br />

Logo muda para seu espaço atual: rua Joaquim Plácido da Silva, 225, na Ilha <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

... e saiu pela culatra<br />

No dia 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1981, entre 2h10 e 2h30 da madrugada, A Tribuna foi vítima <strong>de</strong> um<br />

atentado. Ocorreram duas explosões e um conseqüente incêndio que <strong>de</strong>struiu completamente o<br />

Departamento <strong>de</strong> Circulação e o Arquivo do jornal. O atentado – um tanto quanto nebuloso – até<br />

hoje não teve explicações ou provas concretas, e as informações (<strong>de</strong>sencontradas) que constam é<br />

<strong>de</strong> que alguém passando pela rua teria jogado um coquetel Molotov por uma janela na se<strong>de</strong> da<br />

empresa.<br />

Segundo pessoas que lá trabalhavam na ocasião, a provável intenção era <strong>de</strong>struir o maquinário<br />

do jornal, o que implicaria a suspensão das suas ativida<strong>de</strong>s. Entretanto, o alvo não foi atingido,<br />

o que possibilitou que o jornal fosse impresso e vendido, mesmo com um pouco <strong>de</strong> atraso, na<br />

manhã daquele lamentável dia.


O governador Eurico Rezen<strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>no</strong>u ao então secretário <strong>de</strong> Segurança Pública, José Parente<br />

Frota, que <strong>de</strong>sse priorida<strong>de</strong> à investigação do caso. Porém, o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Max Mauro, do<br />

PMDB, preocupado com os caminhos que a mesma pu<strong>de</strong>sse seguir, exigiu do Ministro da Justiça,<br />

Abi Ackel, um <strong>de</strong>legado es- 106 Mesmo com o atentado, A Tribuna circulou <strong>no</strong> dia seguinte pecial<br />

e um procurador para averiguarem o inquérito com a máxima isenção. Apesar <strong>de</strong> não encontrarem<br />

nenhuma prova contra ninguém, as suspeitas recaíram sobre uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> prostituição que A<br />

Tribuna investigava.<br />

O diretor superinten<strong>de</strong>nte da Re<strong>de</strong> Tribuna <strong>de</strong> Comunicação naquele período, Edmar Eudóxio<br />

Telesca, disse <strong>no</strong> dia do ataque: “Entendo que seja uma manifestação <strong>de</strong>scabida <strong>de</strong> um grupo radical<br />

<strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> perturbar a vida nacional, já a braços com problemas sérios e que estão a exigir <strong>de</strong><br />

todos nós compreensão, trabalho e <strong>de</strong>terminação”.<br />

Uma outra versão, relatada pelo jornalista Marien Calixte – que trabalhou muitos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> em A<br />

Tribuna –, chama atenção para o fato <strong>de</strong> que muitas pessoas que trabalhavam lá, na época,<br />

tinham fortes ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), e esse atentado po<strong>de</strong>ria ser uma<br />

tentativa <strong>de</strong> intimidação por parte <strong>de</strong> indivíduos atrelados às forças direitistas.<br />

Um dia <strong>de</strong>pois daquele fatídico dia, Marien Calixte, que era editor-chefe, escreveu <strong>no</strong> jornal:<br />

“Há muitos tipos <strong>de</strong> loucuras registradas ao longo da história da humanida<strong>de</strong>. O terrorismo é uma<br />

<strong>de</strong>ssas faces mais tragicamente crimi<strong>no</strong>sas que o mundo tem enfrentado. Loucura só não é bastante<br />

para estabelecer um qualificativo a respeito da cruelda<strong>de</strong> dos que, ocultos em sua paranóia e<br />

esquizofrenia, satisfazem-se apenas <strong>de</strong>struindo. O que dizer mais além da estupefação que já <strong>no</strong>s<br />

roubou estadistas, religiosos, intelectuais, artistas, militares e até chegou ao peito da figura até então<br />

intocada <strong>de</strong> um Papa?”.<br />

E, em fevereiro do a<strong>no</strong> seguinte, 1982, A Tribuna sofreria mais um duro golpe. Viria a falecer,<br />

<strong>no</strong> Uruguai, em um terrível aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> avião, um <strong>de</strong> seus principais articuladores: João <strong>Santo</strong>s<br />

Filho. O grupo que comandava o jornal chegou a cogitar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fechá-lo, mas,<br />

posteriormente, houve um consenso entre os diretores <strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>veria prosseguir as suas<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

Se a situação é grave, a solução é greve... <strong>de</strong> fome!


Nos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 80, as relações entre as empresas jornalísticas e os jornalistas ainda eram muito<br />

insatisfatórias, porém havia uma preocupação em mudar esse quadro, pelo me<strong>no</strong>s por parte<br />

dos jornalistas, que lutavam por relações mais justas. Este era o período <strong>de</strong> reorganização dos<br />

sindicatos e <strong>de</strong> intensa mobilização da socieda<strong>de</strong> civil, o que convergiria para o fim da ditadura.<br />

Foi feito um acordo coletivo com A Tribuna que <strong>de</strong>terminava a não-redução do quadro <strong>de</strong><br />

jornalistas – em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 70, <strong>no</strong> momento. Contudo, esse acordo foi <strong>de</strong>srespeitado e, <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> 1984, o jornal <strong>de</strong>mitiu dois funcionários, criando um clima <strong>de</strong> insatisfação entre os <strong>de</strong>mais<br />

profissionais.<br />

Com isso, a greve se tor<strong>no</strong>u a melhor alternativa <strong>de</strong> manifestação e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong><br />

marcar revolta e solidarieda<strong>de</strong>. Eles exigiam que o jornal fosse fiel às <strong>de</strong>cisões tomadas e<br />

mantivesse o quadro <strong>de</strong> vagas como havia antes sido acordado. A empresa se mostrou totalmente<br />

radical à mobilização e imediatamente fechou o jornal.<br />

Então, dois dos grevistas (Francisco Flores e Romero Mendonça) optaram por não <strong>de</strong>sistir tão<br />

facilmente, e entraram em greve <strong>de</strong> fome. Ficaram por vários dias na porta da empresa, recebendo o<br />

apoio <strong>de</strong> várias pessoas, inclusive políticos do cenário nacional. No sétimo dia, a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>les não<br />

resistiu, e eles foram internados. A atitu<strong>de</strong> dos grevistas não surtiu o efeito esperado, já que o jornal<br />

não retomou suas ativida<strong>de</strong>s e ficou inativo por aproximadamente três <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

“Fiz 12 dias <strong>de</strong> greve <strong>de</strong> fome, a única coisa que tomávamos era água <strong>de</strong> coco. Não me<br />

arrependo <strong>de</strong> ter feito e hoje faria <strong>no</strong>vamente pela categoria. A gente recebeu muito apoio durante a<br />

greve, mas, infelizmente, o jornal não abriu”, afirmou Romero Mendonça.<br />

Reuniões foram realizadas entre o então governador, Gérson Camata, e o superinten<strong>de</strong>nte do<br />

Grupo João <strong>Santo</strong>s, Sérgio Maçães, na tentativa <strong>de</strong> se buscar uma solução para o impasse. Mas<br />

a diretoria se mostrava irredutível e cogitava, ainda, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r o jornal, pois este,<br />

segundo Maçães, estava registrando sucessivos prejuízos <strong>no</strong>s últimos meses.<br />

Audálio Dantas, então presi<strong>de</strong>nte nacional da Fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Jornalistas (Fenaj), veio<br />

ao Estado e, junto com Ti<strong>no</strong>co dos Anjos, presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Jornalistas do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

à época, reuniu-se com o Governador para discutir a situação.


Dantas ressaltou o prejuízo que o fechamento do jornal causaria aos espírito-santenses: “Além<br />

da gravida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>semprego, existe também o fato <strong>de</strong> que, com a extinção <strong>de</strong> mais um meio <strong>de</strong><br />

comunicação e informação, toda a comunida<strong>de</strong> capixaba seria prejudicada”.<br />

Uma comissão <strong>de</strong> quatro <strong>de</strong>putados estaduais – Dilton Lyrio e Rose <strong>de</strong> Freitas, do PMDB, e<br />

João Miguel Feu Rosa e Antônio Moreira, do PDS – foi a Recife tentar sensibilizar o Grupo<br />

João <strong>Santo</strong>s, mas retornaram sem gran<strong>de</strong>s perspectivas <strong>de</strong> contornar o ocorrido.<br />

A situação mereceu até mesmo um discurso <strong>no</strong> dia 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1984, feito, <strong>no</strong> Congresso<br />

Nacional, pelo então <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Nélson Aguiar, que <strong>de</strong>stacava o absurdo do fechamento do<br />

jornal.<br />

Confira um trecho da fala, a partir do informe do jornal Tribuna Livre (na edição <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1984, número 6, à página 8), que era publicado pela Cooperativa dos Jornalistas do<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>: “No momento em que acintosa e arbitrariamente se fecha o jornal A Tribuna, <strong>de</strong><br />

Vitória, <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, tradicional veículo da luta e da cultura do povo capixaba, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1938,<br />

quando foi fundado, torna-se obrigatório que o Congresso Nacional levante sua voz em forma <strong>de</strong><br />

protesto, <strong>de</strong> repúdio e <strong>de</strong> clamor público 110 por todos os meios a seu dispor. Não apenas e<br />

simplesmente contra o fechamento <strong>de</strong> um jornal ou a dispensa <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> trabalhadores, mas, e<br />

acima <strong>de</strong> tudo, em <strong>de</strong>fesa do direito <strong>de</strong> divergir, <strong>de</strong> reivindicar, <strong>de</strong> se opor e protestar, direito este<br />

que tem na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa seu maior e principal sustentáculo [...] Concluo meu<br />

pronunciamento apelando ao senhor João <strong>Santo</strong>s a que reabra A Tribuna, não apenas como forma<br />

<strong>de</strong> restituir o direito <strong>de</strong> 200 (duzentos) trabalhadores penalizados <strong>de</strong> forma tão brutal, mas também<br />

como forma <strong>de</strong> reparar a ofensa feita à socieda<strong>de</strong> capixaba e o golpe <strong>de</strong>sferido contra a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa”.<br />

A socieda<strong>de</strong> capixaba apoiou os grevistas <strong>de</strong> A Tribuna, assim como as centrais sindicais,<br />

como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Conferência Nacional da Classe<br />

Trabalhadora (Conclat), que realizaram manifestações. Empresários, a classe estudantil e sindicatos<br />

<strong>de</strong> diversas categorias apoiaram o movimento.<br />

Os artistas capixabas criaram uma comissão <strong>de</strong> eventos artísticos e culturais para fundo <strong>de</strong><br />

greve e doaram obras para uma exposição. Entre eles, estavam artistas como Kleber Galvêas, João<br />

Vago, Luiz Maurício <strong>de</strong> Oliveira e Marlene Tejada.


Paralelamente a tudo isso, o Tribuna Livre relatava os <strong>de</strong>sdobramentos diários da greve e<br />

acusava a empresa proprietária <strong>de</strong> A Tribuna <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>litos, entre eles: sonegação fiscal,<br />

mentir para autorida<strong>de</strong>s e mostrar-se intransigente para com a situação dos trabalhadores.<br />

“Durante a greve, vários políticos se solidarizaram com a situação dos grevistas, entre eles<br />

Lula, que veio visitá-los. Com o tempo houve uma dispersão, e cada um procurou outros meios <strong>de</strong><br />

viver a vida”, disse Ruth Reis, professora <strong>de</strong> Comunicação Social da Ufes, que também trabalhava<br />

<strong>no</strong> jornal.<br />

“Tablói<strong>de</strong>: mais que um formato, uma emoção”<br />

A Tribuna experimenta significativas mudanças em seu recomeço, <strong>no</strong> dia 2 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

1987, quando apareceu <strong>de</strong> volta <strong>no</strong> mercado com outro formato. O antigo standard<br />

transformouse <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> tablói<strong>de</strong>, que, <strong>no</strong> início, foi muito criticado por pessoas da imprensa,<br />

mas, com o tempo, obteve a aprovação popular.<br />

Outras modificações acompanharam essa <strong>no</strong>va forma <strong>de</strong> publicação, como a visão editorial<br />

diferenciada, voltada para a prestação <strong>de</strong> serviços, e um reduzido quadro <strong>de</strong> apenas 40 jornalistas.<br />

A linguagem se tor<strong>no</strong>u mais simples, buscando se aproximar cada vez mais do público leitor e,<br />

ainda, marcar diferença na vida da população. Essa recolocação <strong>no</strong> mercado fez o jornal<br />

ganhar forças <strong>no</strong> embate mercadológico.<br />

“Existe um livro, ‘O Papel do Jornal’, do Alberto Dines, da década <strong>de</strong> 70, que fala que o<br />

<strong>jornalismo</strong> se tornaria importante <strong>no</strong> momento em que o cara, <strong>de</strong> manhã, ao comprar o pão e o<br />

jornal, se tivesse dinheiro só para um, compraria o jornal. Ou seja, iria contribuir <strong>no</strong> dia-a-dia <strong>de</strong>le.<br />

Esta foi a visão que A Tribuna tentou passar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua <strong>no</strong>va fase”, disse o atual editor <strong>de</strong><br />

Regional, Joel Soprani.<br />

Em 1995, uma mudança <strong>no</strong> aspecto gráfico fez o jornal entrar numa <strong>no</strong>va fase, consolidando-<br />

se e alavancando <strong>de</strong> vez seu crescimento.<br />

Pela primeira vez em sua história, a publicação saía com páginas coloridas, num estilo<br />

mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> e arrojado. O gran<strong>de</strong> articulador <strong>de</strong>sse projeto foi João Luiz Caser, que, ao lado do<br />

grupo João <strong>Santo</strong>s, tinha a idéia <strong>de</strong> se firmar <strong>no</strong> mercado do <strong>jornalismo</strong>.


O projeto foi especialmente encomendado à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Navarra, na Espanha, que já tinha<br />

realizado esse tipo <strong>de</strong> trabalho para outros veículos.<br />

Capa <strong>de</strong> A Tribuna <strong>de</strong> 1989 <strong>no</strong> formato tablói<strong>de</strong>


“A partir <strong>de</strong> 87, e principalmente <strong>de</strong> uma década para cá, começamos a mudar a realida<strong>de</strong> do<br />

mercado. Antes, A Gazeta dominava a estrutura <strong>de</strong> mídia impressa <strong>no</strong> Estado, e A Tribuna foi mês a<br />

mês, dia a dia, conseguindo mudar isso. Hoje, A Tribuna é absoluta em tiragem, vendagem etc...”,<br />

afirmou Soprani.<br />

A compra <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rna impressora, capaz <strong>de</strong> imprimir até 45 mil exemplares <strong>de</strong> até 48<br />

páginas por hora, fez com que o jornal conseguisse maior número <strong>de</strong> tiragem, dando-lhe mais<br />

competitivida<strong>de</strong> <strong>no</strong> mercado. No a<strong>no</strong> seguinte, em 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1996, A Tribuna vence mais<br />

uma etapa e começa a circular também às segundas-feiras. Segundo Soprani, antes o jornal não<br />

era publicado nesse dia pelo fato <strong>de</strong> ser inviável eco<strong>no</strong>micamente, mas a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar aos<br />

leitores e aos patrocinadores a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> A Tribuna fez com que fosse tomada essa <strong>de</strong>cisão.<br />

Ainda como efeito da mo<strong>de</strong>rnização, outros esforços foram concentrados em áreas vitais para<br />

a solidificação <strong>de</strong> qualquer publicação.<br />

O setor <strong>de</strong> circulação foi re<strong>no</strong>vado e <strong>no</strong>vas técnicas e sistemas <strong>de</strong> controles <strong>de</strong> distribuição<br />

foram implantados. Houve, ainda, um empenho <strong>de</strong> todas as áreas para o cumprimento <strong>de</strong> prazos e<br />

horários. A redação foi informatizada e <strong>no</strong>vos servidores foram disponibilizados para garantir a<br />

dinamização nas diversas seções, dando ao jornal mais velocida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> gráfica. Até hoje, a<br />

impressão do jornal continua sendo <strong>de</strong>staque em âmbito estadual.<br />

Conquistando mercados<br />

Com médias <strong>de</strong> 47,95% em dias úteis e 79,34% aos domingos – <strong>de</strong> acordo com o Instituto<br />

Verificador <strong>de</strong> Circulação (IVC) – o jornal alcançou, em 1997, <strong>no</strong> mapa nacional, a li<strong>de</strong>rança <strong>no</strong><br />

índice <strong>de</strong> crescimento em percentual <strong>de</strong>ntre os jornais do País.<br />

A empresa se consolida, em 1999, como lí<strong>de</strong>r em circulação na Gran<strong>de</strong> Vitória, em número <strong>de</strong><br />

vendas e em número <strong>de</strong> leitores, <strong>de</strong> segunda a sábado. E, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2000, complementa sua<br />

virada, conquistando a li<strong>de</strong>rança em todo o Estado.<br />

Segundo números do IVC e do IBOPE, atualmente o jornal possui aproximadamente 394.233<br />

leitores diários, com média <strong>de</strong> 69.125 exemplares vendidos aos domingos e 47.168 <strong>no</strong>s dias úteis.<br />

Com esses números, A Tribuna ocupa a 17ª colocação entre os jornais mais vendidos do País. Esse


prestígio é resultado dos investimentos realizados nas diversas áreas – em especial, nas<br />

<strong>de</strong> marketing e promoções.<br />

Muitos vinculam o crescimento do jornal à promoção que sorteia um automóvel por mês, mas<br />

parece evi<strong>de</strong>nte que as ações e i<strong>no</strong>vações <strong>no</strong> âmbito da redação foram e continuam sendo<br />

importantes para o posicionamento <strong>de</strong> A Tribuna.<br />

Hoje, o jornal é composto por <strong>no</strong>ve editorias (Cida<strong>de</strong>s, Eco<strong>no</strong>mia, Polícia, Política,<br />

Internacional, Opinião, Regional, AT2 e Esportes), além <strong>de</strong> <strong>de</strong>z ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s temáticos (Classifácil,<br />

Informática, Sobre Rodas, AT2, AT2 Fim <strong>de</strong> Semana, Mulher, Minha Casa, Imóveis, TV Tudo e<br />

Jornal da Família). Há a publicação <strong>de</strong> inúmeros colunistas locais e <strong>de</strong> re<strong>no</strong>me nacional.<br />

O jornal possui particularida<strong>de</strong>s, como as seções “A Tribuna com você”, que ouve as<br />

reivindicações <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados bairros e <strong>de</strong>pois procura as autorida<strong>de</strong>s para tentar<br />

atendêlas;<br />

“Qual é a bronca?”, uma página em que o leitor po<strong>de</strong> reclamar <strong>de</strong> diversas questões, como <strong>de</strong><br />

uma empresa que lhe ven<strong>de</strong>u um produto com <strong>de</strong>feito e agora está <strong>de</strong>morando a conce<strong>de</strong>r<br />

os benefícios cabíveis; e a página <strong>de</strong> religião, que é totalmente ecumênica e congrega quaisquer<br />

credos.<br />

Eis que surge um <strong>no</strong>vo rival<br />

O surgimento do jornal Notícia Agora foi uma estratégia da Re<strong>de</strong> Gazeta para disputar com A<br />

Tribuna o nicho <strong>de</strong> mercado das classes com me<strong>no</strong>r po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra. O formato tablói<strong>de</strong> e a linha<br />

editorial <strong>de</strong> cunho popular <strong>de</strong>ixavam claro quem era o alvo direto. Sobre o surgimento do rival, o<br />

editor <strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> A Tribuna, Joel Soprani, afirma: “O Notícia Agora não fez com que o jornal<br />

se preocupasse em mudar suas estratégias. Nosso concorrente direto sempre foi A Gazeta. Sempre<br />

respeitamos a concorrência, mas nunca <strong>no</strong>s preocupamos com o Notícia Agora.<br />

Tanto que o jornal só veio crescendo em vendas mês a mês”.<br />

“Na verda<strong>de</strong>, o Notícia Agora conseguiu bater A Tribuna <strong>no</strong> início, chegando perto da marca<br />

dos 45 mil exemplares vendidos em um dia, o que, sem dúvida, <strong>de</strong>ixou-os preocupados.


Infelizmente, o projeto não teve continuida<strong>de</strong> e caiu <strong>de</strong> produção”, rebateu Lena Azevedo, jornalista<br />

que saiu <strong>de</strong> A Tribuna para ser responsável pela estruturação do <strong>no</strong>vo jornal da Re<strong>de</strong> Gazeta.<br />

E agora, A Tribuna ?<br />

Apesar <strong>de</strong> ter a li<strong>de</strong>rança consolidada <strong>no</strong> Estado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, o objetivo <strong>de</strong> A Tribuna é<br />

continuar crescendo. Existem pl<strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> investimentos futuros, inclusive <strong>de</strong> montar um jornal <strong>no</strong><br />

Estado <strong>de</strong> Pernambuco, on<strong>de</strong> o grupo João <strong>Santo</strong>s possui uma estrutura <strong>de</strong> rádio e televisão. Ainda<br />

existe um antigo sonho <strong>de</strong> fazer o jornal totalmente colorido, da primeira à última página.<br />

“Estamos <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> inteiro e em cida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> sul da Bahia, leste <strong>de</strong> Minas Gerais e <strong>no</strong>rte<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro. A perspectiva é <strong>de</strong> crescer, não só <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Se tiver necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

todo colorido, será. Ah, não tem, não será”, disse a diretora <strong>de</strong> Marketing, Nilda Miranda.<br />

Casos famosos<br />

Segundo Pedro Maia, <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, <strong>de</strong> 1969 para cá, os casos <strong>no</strong>ticiados por A Tribuna<br />

que tiveram maior repercussão foram o da menina Aracelli e o dos Esquadrões da Morte.<br />

“Nosso Estado foi o primeiro a pren<strong>de</strong>r policiais que estavam matando pessoas e a con<strong>de</strong>nar essas<br />

pessoas a altas penas”, disse.<br />

Em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1973, foi assassinada, em Vitória, uma criança <strong>de</strong> oito <strong>a<strong>no</strong>s</strong>: Aracelli<br />

Cabrera Crespo. Ela foi drogada, estuprada e teve seu rosto <strong>de</strong>sfigurado. Muitos jornalistas citam<br />

esse caso como um dos mais importantes na história dos jornais do Estado.<br />

Na tar<strong>de</strong> daquele dia, Aracelli não voltou da escola que freqüentava e seu corpo só foi<br />

encontrado seis dias <strong>de</strong>pois em um matagal, irreconhecível para o próprio pai. “Eu me lembro<br />

até hoje do pai da Aracelli chegando <strong>de</strong>sesperado aqui na redação”, disse o editor <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s,<br />

Francisco Borges.


O envolvimento da mãe com o uso e tráfico <strong>de</strong> entorpecentes teria sido <strong>de</strong>terminante para o<br />

<strong>de</strong>sti<strong>no</strong> da menina, que estaria entregando drogas a pedido <strong>de</strong>la. Os clientes eram jovens <strong>de</strong> famílias<br />

abastadas e o caso seguiu um rumo estarrecedor.<br />

Os acusados ficaram impunes e alguns dos <strong>de</strong>signados para <strong>de</strong>svendar o crime foram mortos<br />

ou afastados <strong>de</strong> seus cargos.<br />

“Houve uma espécie <strong>de</strong> comoção da opinião pública. Guilhotinavam os suspeitos, mesmo que<br />

não houvesse nada comprovado contra eles, e os jornais ajudaram nisso”, afirmou Pedro Maia.<br />

O caso do “Esquadrões da Morte”, que começou a ser investigado em 1991, envolvia a<br />

Scu<strong>de</strong>rie Le Cocq, uma organização legalmente constituída e profundamente envolvida <strong>no</strong>s<br />

chamados assassinatos <strong>de</strong> “limpeza social” (cujo alvo foram adolescentes que viviam e trabalhavam<br />

nas ruas <strong>de</strong> Vitória), extorsões e outras formas <strong>de</strong> corrupção.<br />

A teia intrincada <strong>de</strong> policiais corruptos e assassi<strong>no</strong>s tor<strong>no</strong>u o sistema judiciário ineficaz para<br />

combater seus crimes: quando investigadores <strong>de</strong> polícia, promotores e juízes que não faziam<br />

parte da re<strong>de</strong> da Scu<strong>de</strong>rie investigavam os crimes do grupo, eram induzidos a abandonar os casos<br />

contra os membros da Scu<strong>de</strong>rie através <strong>de</strong> subor<strong>no</strong> ou intimidação. Esse caso foi bastante<br />

divulgado.<br />

“Foi a partir <strong>de</strong>le que o povo capixaba começou a se interessar <strong>de</strong> fato pelas <strong>no</strong>tícias dos<br />

jornais”, afirmou Pedro Maia.<br />

Histórias engraçadas<br />

Iniciação sexual<br />

“Houve um caso <strong>de</strong> uma reportagem sobre adolescentes que estavam se iniciando sexualmente<br />

cada vez mais cedo e que, muitas vezes, dormiam em casa com o namorado. O repórter abordou <strong>no</strong><br />

shopping uma mãe com uma filha <strong>de</strong> 16 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. ‘Se minha filha quiser não tem problema, ela tem<br />

juízo’, disse a mãe. No outro dia, às sete da manhã, a mulher liga pedindo para <strong>de</strong>smentir a matéria.<br />

Ela era do interior do Estado, a <strong>no</strong>tícia repercutiu na cida<strong>de</strong> inteira, o marido queria bater nela,<br />

xingando: ‘É para isso que você foi para Vitória, para o shopping?’. Ela se entusiasmou <strong>no</strong> dia”.<br />

(Joel Soprani)


Traficante errado<br />

“Fizeram uma foto <strong>de</strong> capa num morro em que um traficante chamado ‘Fininho’ estava<br />

infernizando a vida <strong>de</strong> todo mundo.<br />

Demos a foto <strong>de</strong> um velhinho em cima <strong>de</strong> uma laje (vizinha à do traficante) e a legenda tinha<br />

uma ambigüida<strong>de</strong>. De manhã, o traficante falou que ia matar o velhinho por achar que ele<br />

estava passando informações. No outro dia nós corrigimos”. (Joel Soprani)<br />

Seita em Pedra Azul<br />

“No dia em que iria sair a reformulação <strong>de</strong> A Gazeta, <strong>de</strong>veria ter uma matéria forte para combater.<br />

Fui como repórter para Pedra Azul com a Celeste, a Luciana Lima e o Leonardo<br />

Bicalho (fotógrafo). Não tinha nada interessante, o cara <strong>de</strong>smentiu tudo sobre a seita. Aí, <strong>no</strong><br />

finalzinho do dia, achamos um agricultor que <strong>de</strong>u um <strong>de</strong>poimento confessando que espancava os<br />

filhos, por orientação da seita. Depois <strong>de</strong> muito tempo após a matéria ter sido publicada,<br />

<strong>de</strong>scobrimos que o cara enterrava comida e gasolina, que era o fato mais importante”. (Lena<br />

Azevedo)<br />

Desfile<br />

“Aconteceu um <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> samba em Vitória, e tinha uma ala só <strong>de</strong> jornalistas na<br />

Imperatriz do Forte. Várias pessoas <strong>de</strong> A Tribuna foram <strong>de</strong>sfilar, inclusive Luciana Lima. Ela<br />

tinha que dar plantão <strong>no</strong> outro dia. Aí atrasou o <strong>de</strong>sfile e ela teve que ir direto para o plantão. Pegou<br />

emprestada uma minissaia com Franciane Barbosa e foi com purpurina <strong>no</strong> corpo. Chegou<br />

na polícia, teve uma rebelião na casa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção”. (Lena Azevedo)


Capa <strong>de</strong> A Tribuna <strong>de</strong> 1939, sob o comando <strong>de</strong> Reis Vidal


Em 1941, suplemento cultural <strong>de</strong> A Tribuna com 16 páginas


A Tribuna <strong>de</strong> 1951, já integrante do grupo <strong>de</strong> Adhemar <strong>de</strong> Barros


A partir da década <strong>de</strong> 90, um <strong>no</strong>vo padrão visual para o tablói<strong>de</strong>


Entrevistas<br />

Adam Emil Czartoryski – Trabalhou como editor em A Tribuna e está aposentado, em 04/10/2005.<br />

Antônio José Miguel Feu Rosa – Trabalhou como diretor em A Tribuna, é <strong>de</strong>sembargador<br />

aposentado, em 17/10/2005.<br />

Francisco Borges – Revisor <strong>de</strong> A Tribuna, em 24/10/2005.<br />

Joel Soprani – Editor <strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> A Tribuna, em 27/09/2005.<br />

Maria Elena Azevedo – Trabalhou como pauteira <strong>no</strong> jornal, atualmente trabalha na área <strong>de</strong><br />

assessoria política, em 04/10/2005.<br />

Marien Calixte - Trabalhou como editor em A Tribuna, atualmente produz e apresenta um programa<br />

na Rádio Universitária, em 29/09/2005.<br />

Nilda Miranda - Marketing <strong>de</strong> A Tribuna, em /09/2005.<br />

Pedro Maia – Colunista <strong>de</strong> A Tribuna, em 24/09/2005.<br />

Romero Mendonça – Ex-fotógrafo do jornal, atualmente trabalha na Secretária <strong>de</strong> Comunicação do<br />

Estado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em 21/10/2005.<br />

Ruth Reis – Trabalhou como repórter em A Tribuna, é professora do Departamento <strong>de</strong><br />

Comunicação Social da Ufes, em 07/10/2005.


Notícia Agora:<br />

jornal popular e <strong>no</strong>vas estratégias<br />

Fernanda Coutinho e Raquel Machado<br />

O Jornal Notícia Agora foi criado, em 2000, pela Re<strong>de</strong> Gazeta <strong>de</strong> Comunicações, para alcançar<br />

um público que se <strong>de</strong><strong>no</strong>mina como popular. O formato tablói<strong>de</strong> não era a única diferença em<br />

relação a A Gazeta, o tradicional diário do grupo.<br />

Também havia discrepância em relação à linguagem e recursos gráficos e editoriais. Até hoje<br />

se discute se o Notícia Agora teria sido criado para concorrer com o popular A Tribuna.<br />

Mas, antes <strong>de</strong> seguir com esta história, vamos a algumas consi<strong>de</strong>rações conceituais sobre<br />

<strong>jornalismo</strong> popular e o formato tablói<strong>de</strong>, que tem, entre nós, a marca do sensacionalismo.<br />

Segundo Barbosa (2004), o “popular” é uma mistura <strong>de</strong> dramas quotidi<strong>a<strong>no</strong>s</strong>, <strong>de</strong> estruturas<br />

narrativas que apelam para o imaginário e para a i<strong>de</strong>ntificação com uma realida<strong>de</strong> romanceada para<br />

conseguir ser vivenciada. Para a autora, o “popular” é muitas vezes incompreensível e as<br />

preferências, os entendimentos <strong>de</strong>sse público são vistos <strong>de</strong> maneira pré-conceituosa como <strong>de</strong> valor<br />

inferior.<br />

Por ser um espaço estratégico <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> conflitos, as práticas culturais são carregadas<br />

<strong>de</strong> carga política, consi<strong>de</strong>ra Martín- Barbero, citado por Bernar<strong>de</strong>s (2004, p. 08). “É na cultura que a<br />

hegemonia aparece como processo feito <strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> sentido pelo po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong><br />

sedução e <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>”, afirma o autor. Para Martín-Barbero, trata-se <strong>de</strong> “um<br />

processo inerentemente político, mas também econômico, portanto.<br />

E é nessa representativida<strong>de</strong> sociocultural, nessa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materializar o modo <strong>de</strong> viver e<br />

pensar das classes subalternas que está a importância e o valor do popular”.<br />

O <strong>jornalismo</strong> popular muitas vezes é associado ao sensacionalismo, praticado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

surgimento dos jornais europeus e americ<strong>a<strong>no</strong>s</strong> entre os séculos XVI e XVII, segundo Agrimani<br />

(1995).


Também <strong>de</strong> acordo com esse autor, <strong>no</strong> século XIX, surgem os cannards, jornais populares<br />

franceses; <strong>no</strong>s Estados Unidos, o New York World, <strong>de</strong> Joseph Pulitzer, <strong>de</strong>scobriu o filão do<br />

sensacionalismo e, posteriormente, sofreu forte concorrência do Morning Journal, <strong>de</strong> George<br />

Hearst. Segundo Barbosa (2004), foi na década <strong>de</strong> 1920 que surgiram <strong>no</strong> Brasil jornais diários<br />

<strong>de</strong>dicados a escândalos e tragédias, como Manhã e Crítica.<br />

O jornal sensacionalista utiliza-se <strong>de</strong> uma linguagem coloquial exagerada (uso <strong>de</strong> gírias ou<br />

palavrões), faz com que o leitor se envolva emocionalmente com os fatos. Há a exploração <strong>de</strong><br />

lendas do vulgar, crenças populares, pessoas e animais com <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s, e seu maior enfoque é o<br />

trinômio “sexo-escândalo-sangue”, ressalta Agrimani. Além, é claro, do uso <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> impacto.<br />

Um ingrediente fundamental do sensacionalismo são os fait divers:<br />

Não é preciso conhecer nada do mundo para consumir<br />

um fait divers: ele não remete a nada além <strong>de</strong>le próprio;<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, seu conteúdo não é estranho ao mundo:<br />

<strong>de</strong>sastres, assassinatos, raptos, agressões, aci<strong>de</strong>ntes, roubos,<br />

esquisitices, tudo que remete ao homem: à sua história, à sua<br />

alienação, a seus fantasmas, aos seus sonhos, aos seus medos.<br />

(Barthes, apud Barbosa, 2004, p. 06).<br />

Um marco do <strong>jornalismo</strong> sensacionalista <strong>no</strong> Brasil foi o jornal Notícias Populares, criado em<br />

1963 por Herbert Levy (presi<strong>de</strong>nte da UDN) e pelo jornalista rome<strong>no</strong> Jean Melle. É o que<br />

afirma Agrimani, para quem o jornal foi autor da maior mentira da imprensa brasileira: o caso do<br />

bebê diabo. Foram vinte e duas edições <strong>de</strong> pura invenção nas páginas do diário, que acabou<br />

em 2001. “O Notícias Populares surgiu para neutralizar o Última Hora”, afirma Gol<strong>de</strong>nstein,<br />

citado por Agrimani.<br />

Porém, é lógico afirmar que, se há jornais sensacionalistas, é porque há uma i<strong>de</strong>ntificação do<br />

leitor – mesmo que inconsciente – com os heróis das <strong>no</strong>tícias, os “personagens” do crime e<br />

da violência. Agrimani acredita que<br />

tanto o leitor do jornal “sóbrio”, quanto aquele<br />

que prefere o sensacionalismo, se interessa pelo crime, pelo<br />

rapto, pelo aci<strong>de</strong>nte, pela catástrofe. O que vai fazer com que<br />

o mercado se divida e haja um público exclusivo para o<br />

veículo sensacionalista é a linguagem [...], além da


preferência por matérias originadas <strong>de</strong> fait divers, em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> temas político-econômico-internacionais que<br />

servem como estímulo predominante ao jornal<br />

informativo comum. (p. 54)<br />

Segundo Pedroso, referenciado por Agrimani, o fazer jornalístico sensacionalista é uma<br />

especificida<strong>de</strong> discursiva <strong>de</strong> jornal empresarial capitalista, que pertence ao segmento popular da<br />

gran<strong>de</strong> empresa industrial urbana, em busca <strong>de</strong> consolidação econômica <strong>no</strong> mercado jornalístico; é<br />

o escamoteamento da questão popular, apesar do pretenso engajamento com o universo<br />

social marginal; gramática discursiva fundamentada <strong>no</strong> <strong>de</strong>snivelamento socioeconômico e<br />

sociocultural entre as classes hegemônicas e subalternas.<br />

Nos últimos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, alguns jornais populares têm optado pela prestação <strong>de</strong> serviços, maior<br />

<strong>de</strong>staque para o esporte e para o entretenimento, em <strong>de</strong>trimento da velha fórmula “espreme que sai<br />

sangue”, o que não impe<strong>de</strong> que haja um <strong>de</strong>staque para as <strong>no</strong>tícias policiais nessas publicações. A<br />

linguagem coloquial continua sendo explorada – uma vez que promove aproximação com o público<br />

que preten<strong>de</strong> conquistar (das classes C e D, preferencialmente).<br />

Amaral (2004, p. 01) afirma que<br />

Jornais como Agora São Paulo (SP), O Dia (RJ),<br />

Extra (RJ), Lance! (RJ), Folha <strong>de</strong> Pernambuco (PE),<br />

Amazônia Jornal (AM), Primeira Hora (PA), Notícia Agora<br />

(ES), Expresso Popular (<strong>Santo</strong>s, SP), Tribuna do<br />

Paraná, Diário Popular (PR) e Diário Gaúcho (RS), são<br />

voltados para um público <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r po<strong>de</strong>r aquisitivo e<br />

po<strong>de</strong>m ser agrupados sob o rótulo <strong>de</strong> “segmento popular<br />

da gran<strong>de</strong> imprensa”.<br />

Segundo o autor, esta é uma referência aos jornais editados por gran<strong>de</strong>s empresas jornalísticas,<br />

auto-intitulados populares, e não aos jornais sindicais, alternativos ou comunitários. Os jornais<br />

populares da gran<strong>de</strong> imprensa também são conhecidos como “popularescos”, uma sobreadjetivação<br />

que, conforme Sodré e Paiva, em citação <strong>de</strong> Amaral, significa a espontaneida<strong>de</strong> popular<br />

industrialmente transposta e manipulada por meios <strong>de</strong> comunicação, com vistas à captação e à<br />

ampliação da audiência urbana.


Tablói<strong>de</strong>: um formato sensacional<br />

A Re<strong>de</strong> Gazeta, que publica o jornal A Gazeta (em formato standard), <strong>de</strong> tradição <strong>no</strong><br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, direcionado ao leitor das classes A e B, optou, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, pela criação do jornal<br />

Notícia Agora, <strong>no</strong> formato tablói<strong>de</strong>, direcionado às classes C e D, primordialmente. Este é um<br />

formato <strong>de</strong> jornal muito utilizado na Inglaterra por periódicos especializados em cobrir a vida<br />

das celebrida<strong>de</strong>s e, principalmente, publicar escândalos sobre a Família Real (a exemplo do The<br />

Sun e do Sunday Mirror). O formato compacto (me<strong>no</strong>r que o standard) é <strong>de</strong> fácil manuseio.<br />

Talvez o sensacionalismo inglês seja o responsável pela associação automática que se faz entre<br />

o formato tablói<strong>de</strong> e o sensacionalismo, o que é um equívoco, pois não se trata <strong>de</strong> uma regra.<br />

O exemplo brasileiro <strong>de</strong> jornal <strong>de</strong> tradição em formato tablói<strong>de</strong> é o jornal Zero Hora, <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre (RS), do grupo RBS, que edita o jornal popular Diário Gaúcho, lançado <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000.<br />

Tablói<strong>de</strong>: custo x benefício<br />

Nos últimos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, há uma tendência mundial <strong>de</strong> reformulação gráfica dos jornais e a opção<br />

pelo formato tablói<strong>de</strong> é cada vez mais freqüente, mesmo entre os jornais mais tradicionais.<br />

Segundo Singer (2005), o In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt foi o primeiro jornal britânico tradicional a optar pela<br />

versão tablói<strong>de</strong> paralelamente à edição broadsheet (equivalente ao tamanho standard adotado<br />

<strong>no</strong> Brasil). Posteriormente, o Times seguiu a mesma receita e, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> passado, optou pela<br />

publicação exclusivamente em formato tablói<strong>de</strong>.<br />

No mesmo a<strong>no</strong>, 40 pessoas foram <strong>de</strong>mitidas do jornal.<br />

De acordo com Dines (2005), em artigo escrito em 1999, a ANJ (Associação Nacional dos<br />

Jornais) enumera vantagens do tablói<strong>de</strong> para justificar a opção <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> alguns jornais<br />

brasileiros, na época, para esse formato: a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manuseio, melhor visibilida<strong>de</strong> para as<br />

informações, padronização dos anúncios, fortalecimento do veículo jornal através <strong>de</strong>ssa<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> em tor<strong>no</strong> da entida<strong>de</strong> empresarial.<br />

Para o jornalista, a verda<strong>de</strong>ira razão da mudança que alguns jornais fizeram para o formato<br />

tablói<strong>de</strong> é a eco<strong>no</strong>mia: corte <strong>no</strong> custo do principal insumo – o papel. Dines registra:


Estes 2,54 centímetros a me<strong>no</strong>s em cada folha impressa<br />

po<strong>de</strong>m representar uma poupança <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 10% <strong>no</strong> peso <strong>de</strong><br />

cada edição. [...] Também não estão sendo anunciadas as<br />

indispensáveis reformas gráficas para compatibilizar as <strong>no</strong>vas<br />

dimensões com uma <strong>no</strong>va concepção editorial. E, apesar da<br />

febre das sondagens <strong>de</strong> opinião, nenhum jornal, muito<br />

me<strong>no</strong>s a ANJ, teve a humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir o distinto público<br />

e promover um <strong>de</strong>bate através <strong>de</strong> suas páginas. Afinal, este<br />

encolhimento é o primeiro passo para o jornal do futuro, bem<br />

me<strong>no</strong>r. A verda<strong>de</strong> é que estas <strong>no</strong>vas medidas aproximam-se<br />

do formato <strong>de</strong><strong>no</strong>minado “Berliner”, o semi-tablói<strong>de</strong> muito<br />

usado na Europa (me<strong>no</strong>r do que o Le Mon<strong>de</strong>, próximo ao El<br />

País) concebido para um projeto <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> qualitativo e<br />

interpretativo – <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> final do veículo jornal.<br />

Entre os <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 2002-2004, o jornal Notícia Agora passou por uma gran<strong>de</strong> crise que, <strong>no</strong> caso<br />

da Re<strong>de</strong> Gazeta, ocorreu <strong>de</strong>vido a um financiamento em dólar para a compra <strong>de</strong> equipamentos.<br />

Essa crise gerou <strong>de</strong>missões, provocou a redução <strong>no</strong> número <strong>de</strong> páginas e <strong>no</strong> tamanho do jornal, que<br />

surgira em formato tablói<strong>de</strong>.<br />

A Notícia é agora!<br />

Notícia Agora: nasce o jornal da <strong>no</strong>ssa gente.<br />

O COMPROMISSO COM O LEITOR ESTARÁ PRESENTE<br />

TODOS OS DIAS<br />

Nasce hoje um jornal que tem a cara <strong>de</strong> seu povo, em toda a<br />

beleza e dignida<strong>de</strong>. Alegre, porque é este o estado da gente, e<br />

popular, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> custo.<br />

O valor real do Notícia Agora não se me<strong>de</strong>: está <strong>no</strong> fato <strong>de</strong><br />

estar em dia com os fatos aqui e <strong>no</strong> mundo;<br />

mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> em visual e conteúdo, e comprometido com o leitor.<br />

Em cada página o jornal tenta ecoar a voz do cidadão comum,<br />

que estuda, consome e produz.<br />

Com essas palavras, <strong>no</strong> dia 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2000, chegou às bancas o primeiro exemplar do<br />

Notícia Agora. Ele surge após um período em que A Tribuna passou por transformações que


elevaram esse jornal ao patamar <strong>de</strong> forte concorrente do antes lí<strong>de</strong>r isolado <strong>de</strong> vendas <strong>no</strong> Estado: A<br />

Gazeta.<br />

Segundo a elaboradora do projeto do Notícia Agora, Maria Elena Azevedo (Lena), A<br />

Gazeta, que é um jornal direcionado aos públicos “A” e “B”, foi obrigada a ampliar o seu público<br />

a um segmento mais popular, o que não surtiu efeitos positivos entre seus leitores.<br />

O diretor geral do grupo, Carlos Fernando Lin<strong>de</strong>nberg Neto, o Café, afirmou que a criação do<br />

<strong>no</strong>vo jornal não foi para competir com A Tribuna. Segundo ele, optou-se pelo Notícia Agora<br />

para conquistar o público que nunca teve acesso a jornais (parte da classe “C” e a classe “D”) e que<br />

teria melhorado o po<strong>de</strong>r aquisi- tivo com o Pla<strong>no</strong> Real.<br />

Lena Azevedo <strong>de</strong>staca que se criou o Notícia Agora para conquistar o <strong>no</strong>vo público que<br />

surgira, mas principalmente para competir com A Tribuna. Esta também é a opinião da atual<br />

editora executiva do jornal, Sandra Aguiar: “O jornal surgiu em um contexto interessante, a velha<br />

briga entre A Gazeta e A Tribuna.<br />

A Tribuna estava ganhando mercado em uma reviravolta espetacular e o jornal tinha um<br />

pouco esse propósito <strong>de</strong> ganhar, <strong>de</strong> entrar nessa briga”.<br />

A idéia <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo jornal ou “Projeto Caparaó”, como era conhecido, existia havia<br />

algum tempo. No final <strong>de</strong> 1999, a Re<strong>de</strong> Gazeta contratou a jornalista Lena Azevedo (ex-chefe<br />

<strong>de</strong> reportagem e pauteira <strong>de</strong> A Tribuna) para trabalhar como editora, mas não estava <strong>de</strong>finido que<br />

ela elaboraria o projeto.<br />

No início, pensou-se na contratação do jornalista Luis Fernando (<strong>de</strong> O Dia), porém ele não<br />

aceitou. A convite do então diretorexecutivo do jornal, Plínio Marchini, a jornalista aceitou o<br />

<strong>de</strong>safio para elaborar o projeto.<br />

Havia uma proposta elaborada por Roberto Muller, diretor <strong>de</strong> redação <strong>de</strong> A Gazeta, mas esta,<br />

segundo Lena Azevedo, era totalmente inviável, pois teria apenas 10 jornalistas. Como havia<br />

pessoas em A Gazeta que eram contrárias ao jornal popular, a aprovação do projeto, <strong>de</strong> acordo<br />

com a ex-editora chefe do Notícia Agora, foi resultado da articulação <strong>de</strong> Plínio Marchini junto à<br />

empresa.


O projeto gráfico inicial foi elaborado pelo <strong>de</strong>signer gráfico cuba<strong>no</strong> Mário Garcia. Porém,<br />

segundo Lena Azevedo, quem fazia os ajustes necessários era Maria José Pereira, que teve<br />

participação fundamental nesse processo.<br />

Mãos à obra!<br />

A redação foi composta com 45 jornalistas, entre recém-formados e profissionais<br />

estrategicamente contratados <strong>de</strong> A Tribuna (Weber Caldas, Alba Lívia, Sandra Daniel, Sandra<br />

Aguiar e Érica Lene, <strong>de</strong>ntre outros). Para a montagem da redação, foi efetuado um levantamento e<br />

cada editoria tinha que elaborar uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> contatos, visando principalmente à prestação <strong>de</strong><br />

serviços. Por exemplo, a editoria <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s precisava saber o contato das farmácias, prefeituras,<br />

pontos <strong>de</strong> táxi etc. Também foi escrito o Manual Básico <strong>de</strong> Redação do Notícia Agora.<br />

Um mês antes do lançamento do jornal, havia uma simulação diária <strong>de</strong> reportagens para o<br />

treinamento dos profissionais.<br />

Na semana que antece<strong>de</strong>u o lançamento, o jornal passou a ser impresso para avaliar o<br />

entrosamento da equipe. Foi criado um “0800”, para que o leitor pu<strong>de</strong>sse opinar.<br />

Alicerçado em uma gran<strong>de</strong> campanha <strong>de</strong> marketing, o Notícia Agora ven<strong>de</strong>u cerca <strong>de</strong> 35 mil<br />

exemplares em sua estréia, fato que se repetiu <strong>no</strong>s meses seguintes. Nem a Re<strong>de</strong> Gazeta esperava<br />

tamanho sucesso, segundo Lena Azevedo. A jornalista afirma que, durante um mês, o jornal ven<strong>de</strong>u<br />

mais que A Gazeta e A Tribuna nas bancas.<br />

Uma peculiarida<strong>de</strong> é que não há assinaturas do Notícia Agora, ou seja, ele só é vendido nas<br />

bancas. De acordo com Café, não é viável para a empresa oferecer assinatura, por causa do preço a<br />

que o jornal é vendido. Uma opção seria entregá-lo junto com A Gazeta, mas nem sempre os<br />

jornais ficam prontos ao mesmo tempo.<br />

A escolha do formato tablói<strong>de</strong> está relacionada com o público alvo (parte da classe “C” e a<br />

classe “D”). Segundo o diretor geral do grupo, Café, “a principal vantagem é que as pessoas que<br />

andam <strong>de</strong> ônibus acham mais confortável ler um tablói<strong>de</strong> que um standard”.


A inspiração<br />

O jornal Notícia Agora é resultado <strong>de</strong> muita pesquisa e foi inspirado em alguns jornais<br />

populares brasileiros. A partir <strong>de</strong> experiências bem sucedidas <strong>no</strong> jornal O Dia, surgiu a idéia <strong>de</strong><br />

prestação <strong>de</strong> serviços, matérias mais curtas, <strong>de</strong>staque para a eco<strong>no</strong>mia popular, com forte apelo<br />

policial (mas sem muito sangue, <strong>de</strong>staca Lena). Do jornal Extra, o gran<strong>de</strong> sucesso: as promoções e<br />

o entretenimento.<br />

“Como um dos objetivos era atingir as classes que nunca tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprar<br />

jornal, acrescentaram-se assuntos relacionados à programação televisiva, pois esse público assiste a<br />

muita <strong>no</strong>vela”, observa a jornalista. O entretenimento sempre esteve presente, como <strong>no</strong> ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong><br />

“Mix Tudo”. Além disso, há <strong>de</strong>staque para o esporte.<br />

Efeito Anabolizante<br />

Quer uma boa <strong>no</strong>tícia? Hoje vai ser sorteado, às 14 horas, o primeiro leitor que vai levar a TV<br />

<strong>de</strong> 20 polegadas da promoção “Outubro Premiado”, do Notícia Agora. Quem sabe essa pessoa não<br />

é você? E não faltam motivos para acreditar na sorte.<br />

Além do sorteio <strong>de</strong> uma televisão por dia, continua a promoção “Chuva <strong>de</strong> Gols”, que dá um<br />

Gol zero todo mês. (Notícia Agora, Vitória, ES, 04 out. <strong>de</strong> 2005. Cida<strong>de</strong>, p. 02)<br />

Ter promoção ligada a produtos <strong>de</strong> comunicação é um fenôme<strong>no</strong> relativamente recente e<br />

diretamente ligado à difusão <strong>de</strong> jornais populares. Em abril <strong>de</strong> 1998, o jornal Extra (Rio <strong>de</strong> Janeiro)<br />

lançou a coleção <strong>de</strong> selos que presenteava o público com um conjunto <strong>de</strong> panelas. Avaliando o<br />

sucesso <strong>de</strong> venda que essa e outras promoções propiciaram ao jornal carioca, o Notícia Agora já<br />

surgiu com essa proposta. “Se você vai ao supermercado, vê um <strong>de</strong>tergente e, sem pagar nada, leva<br />

a esponja, por que não comprar o <strong>de</strong>tergente?”, comparou a atual editora executiva do jornal,<br />

Sandra Aguiar.<br />

Já <strong>no</strong> primeiro número do Notícia Agora, foi dada a largada para o gran<strong>de</strong> sucesso do jornal e<br />

das promoções junto ao público.<br />

Além da promoção <strong>de</strong> panelas do “A hora é agora”, os leitores também concorriam a um carro<br />

0km por mês, através do cupom “Notícia premiada”.


“Isto, <strong>no</strong> jargão da imprensa, é o que chamam <strong>de</strong> ‘anabolizante’.<br />

É um instrumento <strong>de</strong> venda muito bom e tem um efeito gran<strong>de</strong> sobre a circulação”, explicou<br />

Cariê Lin<strong>de</strong>nberg, diretor-geral da Re<strong>de</strong> Gazeta em 2000.<br />

Essa maneira <strong>de</strong> “turbinar” o impresso não influenciou <strong>no</strong> conteúdo editorial do Notícia<br />

Agora. Sandra Aguiar relatou que as promoções não são exclusivamente <strong>de</strong> jornais populares:<br />

“A Época sorteia DVD e A Gazeta, bolsa <strong>de</strong> estudos”. Nesse caso, o sorteio funciona como uma<br />

ferramenta auxiliar <strong>de</strong> venda, uma publicida<strong>de</strong>.<br />

Ana Paula Costa, jornalista do Notícia Agora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2004, acredita que as<br />

promoções até estimulam o repórter: “Se vai ven<strong>de</strong>r muito, queremos é fazer bem o <strong>no</strong>sso<br />

trabalho”.<br />

No biênio 2002-2004, o jornal passou por alguns ajustes (e <strong>de</strong>sajustes) e várias premiações<br />

foram banidas. O impresso, que chegou ao ápice <strong>de</strong> 45 mil exemplares diários, passou por uma fase<br />

difícil, ven<strong>de</strong>ndo não mais que 5 mil jornais. Contudo, <strong>no</strong> segundo semestre <strong>de</strong> 2004, foi<br />

implementada a promoção “Chuva <strong>de</strong> Gols”. A perpetuação <strong>de</strong> outros “anabolizantes” <strong>no</strong> jornal<br />

é cada dia mais certa:<br />

[...] Mas essa é apenas uma das promoções que serão realizadas <strong>no</strong> jornal. O analista <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento comercial do Notícia Agora, Edson Roncato, explicou que o leitor <strong>de</strong>ve<br />

acompanhar o jornal, pois outras surpresas virão em breve. (Notícia Agora, Vitória, ES, 04 out. <strong>de</strong><br />

2005. Cida<strong>de</strong>, p. 02)<br />

Uma coluna “tudo <strong>de</strong> bom”<br />

Romper com os mol<strong>de</strong>s tradicionais do colunismo e tirar <strong>de</strong> cena a elite que sempre “aparece”<br />

há 50 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Este era o objetivo da “Cena Cult”, coluna inicialmente escrita <strong>no</strong> Notícia Agora<br />

pelo até então <strong>no</strong>vato Marcelo Said.<br />

Segundo o jornalista, que mora <strong>no</strong>s Estados Unidos e não escreve mais para a coluna, a idéia<br />

era trazer gente da comunida<strong>de</strong> mais fora da badalação, fora do circuito Praia do Canto-Ilha<br />

do Fra<strong>de</strong>.


“O Marcelo começou a trabalhar a ‘Cena Cult’ com o mundo gay e com a cultura alternativa<br />

que não tinha espaço. A coluna também i<strong>no</strong>vou <strong>no</strong> palavreado, conseguiu mudar esse conceito <strong>de</strong><br />

colunismo <strong>no</strong> Estado”, relatou Lena Azevedo.<br />

Qual era realmente a essência da “Cena Cult”? Por e-mail, Marcelo Said fez um relato pessoal<br />

e paternal da verda<strong>de</strong>ira representação da coluna: “A gran<strong>de</strong> diferença era que todos os<br />

outros jornais estavam falando <strong>de</strong> eventos caretas, daqueles que só Deus agüenta... do Wall Street<br />

whatever, a Swingers aquilo... please. Precisávamos <strong>de</strong> coisas <strong>no</strong>vas <strong>no</strong> pedaço. Sobre a<br />

linguagem jornalística, não tive para on<strong>de</strong> correr. Como tudo na coluna era fato, mas ainda sim<br />

relato pessoal, <strong>de</strong>cidi por uma escrita coloquial, como aquela fofoca ao pé do ouvido que a gente<br />

adora ouvir, cheia <strong>de</strong> frases inexistentes, mas com muito sentido. Pois bem, meus leitores se<br />

tornaram parte <strong>de</strong> um mundo que até então vivia escondido <strong>no</strong>s guetos capixabas sem chance <strong>de</strong><br />

serem ouvidos, mas adoravam fazer graça das muitas ‘flopadas’ da vida”.<br />

Depois que Marcelo Said se <strong>de</strong>sligou do jornal, a “Cena Cult” continuou existindo. Porém, sua<br />

marca pessoal do escrever e transitar <strong>no</strong> meio não conseguiu ser substituída: “Acho que<br />

quando optei por caminhar para frente e <strong>de</strong>ixar meu bebê... que brejeiro...<br />

para trás, ninguém realmente teve o perfil da coluna ‘Cena Cult’... Ela meio que tem que fazer<br />

parte <strong>de</strong> quem a escreve, senão a graça per<strong>de</strong> sentido. A ‘Cena Cult’ sempre foi um retrato das<br />

pessoas que realmente contribuíam <strong>de</strong> alguma maneira para a emancipação cultural da cida<strong>de</strong>, seja<br />

ela gay, artística, literária, musical ou o escambal... contribuições culturais totais e intrínsecas ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cult da cida<strong>de</strong>. O resto era ‘bobage’.<br />

Quem sabe quando eu estiver <strong>de</strong> volta as coisas não se reciclam?<br />

Adoraria reviver a ‘Cena Cult’ um dia”.<br />

Outras i<strong>no</strong>vações<br />

Na área do esporte, a equipe do Notícia Agora percebeu um diferencial que já fazia sucesso<br />

em jornais populares <strong>de</strong> outros Estados: o futebol <strong>de</strong> várzea.


“Esta é a paixão que você não imagina, a pelada <strong>de</strong> periferia”, disse Lena Azevedo. A<br />

jornalista afirma que muitas pessoas compravam o Notícia Agora para ver foto do time do bairro.<br />

A fórmula <strong>de</strong>u tão certo que perdura até hoje na seção “Torcida Agora”.<br />

Em termos <strong>de</strong> diagramação, o jornal i<strong>no</strong>vou com a logomarca “flutuante”. Tratava-se <strong>de</strong> uma<br />

tendência vinda <strong>de</strong> diários internacionais, <strong>no</strong>s quais, a cada dia, o <strong>no</strong>me do jornal localizava-se em<br />

pontos diferentes da primeira página.<br />

Do segundo para o terceiro a<strong>no</strong>, os responsáveis pelo Notícia Agora optaram por não usar<br />

mais a logomarca flutuante, alegando que isso po<strong>de</strong>ria prejudicar a visualização do jornal pelo<br />

público.<br />

Outro elemento i<strong>no</strong>vador foi a contratação <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong>senhistas <strong>de</strong> Carapina que faziam<br />

quadrinhos. “Pagávamos um valor quase simbólico, mas era importante para eles. Era um<br />

trabalho <strong>de</strong> muita qualida<strong>de</strong>. Pretendíamos conquistar o público jovem”, frisou Lena Azevedo.<br />

A seção dos <strong>de</strong>senhistas <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir, pois o público achava os <strong>de</strong>senhos muito<br />

“sangrentos”.<br />

A crise em pauta<br />

Foi aquele boom inicial. O Notícia Agora vendia mais que picolé na praia em dia quente.<br />

Seis meses após o lançamento, ele oferecia preço acessível (R$ 0,30), promoções interessantes e o<br />

principal, conteúdo similar ao dos <strong>de</strong>mais jornais do Estado.<br />

O jornal tinha 48 páginas diárias e conquistou leitores dos outros jornais, além <strong>de</strong> formar um<br />

público que antes não tinha acesso a jornal algum. O sucesso, <strong>no</strong> entanto, transformou-se em uma<br />

crise interna cujo pico está entre os <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 2002-2004.<br />

“Tivemos uma baixa com uma crise em todo cenário jornalístico do Brasil”, <strong>de</strong>stacou a editora<br />

Sandra Aguiar. A Re<strong>de</strong> Gazeta, em específico, tinha comprado equipamentos financiados em dólar<br />

e viu, <strong>de</strong> uma hora para outra, a dívida aumentar em três vezes.<br />

“O Notícia Agora teve que aumentar <strong>de</strong> preço, diminuiu o número <strong>de</strong> páginas e per<strong>de</strong>u parte<br />

<strong>de</strong> sua equipe. Foi geral: a Abril <strong>de</strong>mitiu mais <strong>de</strong> 40”, disse Sandra, sobre o processo <strong>de</strong><br />

enxugamento do jornal.


Lena Azevedo, ex-editora, <strong>de</strong>sligou-se da Re<strong>de</strong> Gazeta <strong>no</strong> início da crise. “Eu fui o primeiro<br />

corte”, brinca. Nas entrevistas, ela <strong>de</strong>stacou que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a montagem, o Notícia Agora foi motivo <strong>de</strong><br />

guerra interna: “As próprias pessoas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> A Gazeta eram contra o jornal”. Ela saiu da equipe<br />

por divergências com a diretoria <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jornais: “Eduardo Valério quis <strong>de</strong>scaracterizar o<br />

jornal. Ele achava que ia diminuir gastos cortando páginas”.<br />

Lena ainda afirma que Valério estava iniciando a <strong>de</strong>molição do Notícia Agora, e não era só<br />

questão <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mia.<br />

Eduardo Valério <strong>de</strong>sligou-se da Re<strong>de</strong> Gazeta em julho <strong>de</strong> 2005 e, atualmente, mora em<br />

Curitiba. Ele respon<strong>de</strong>u, por e-mail, às colocações da jornalista: “É <strong>no</strong>rmal que em projetos <strong>no</strong>vos<br />

haja <strong>de</strong>scrença principalmente pelo <strong>de</strong>sconhecimento integral do propósito do <strong>no</strong>vo jornal e até pela<br />

não-participação da conceituação do produto”. Quanto aos cortes, Valério <strong>de</strong>staca que<br />

as a<strong>de</strong>quações foram necessárias e pertinentes à época.<br />

A crise estava em pauta e o jornal entrou em <strong>de</strong>cadência. Mais <strong>de</strong> 12 jornalistas da equipe <strong>de</strong><br />

45 foram <strong>de</strong>mitidos, e as vendas diárias do impresso, quando muito, eram <strong>de</strong> 6 mil exemplares.<br />

Além disso, o jornal custava R$ 0,80, sem oferecer nenhum “extra” para o leitor.<br />

Uma das saídas encontradas para se reerguer o Notícia Agora estava nas velhas fórmulas, ou<br />

melhor, nas promoções. Em 2004, houve o retor<strong>no</strong> do recorte-selos e do sorteio <strong>de</strong> Gols. A<br />

própria redação também teve a iniciativa <strong>de</strong> criar ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s suplementares para oferecer “algo além”<br />

ao leitor, como o Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> Sua Chance e o Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>de</strong> Torcida.<br />

Enfatizando as <strong>no</strong>tícias locais em <strong>de</strong>trimento das internacionais e focando a escrita em polícia<br />

e em serviço, o Notícia Agora vem aumentando a sua venda e começando a equilibrar-se.<br />

Segundo a pesquisa Ipsos Maplan 2005, que coletou dados entre janeiro e julho, o jornal<br />

obteve um crescimento <strong>de</strong> 126,13% em sua circulação em relação ao mesmo período do a<strong>no</strong><br />

passado.<br />

Ele ultrapassou 185 mil leitores semanais, dos quais se <strong>de</strong>staca o público jovem do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, uma vez que 58% do público do jornal tem entre 10 e 29 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

O visual


“Ele tem uma cara diferente, uma diagramação diferente”. Foi com essas palavras que Cariê<br />

Lin<strong>de</strong>nberg resumiu o projeto <strong>de</strong> diagramação do Notícia Agora. Ele foi <strong>de</strong>senvolvido para uma<br />

recepção rápida e fácil das matérias pelo público “popular”.<br />

Atualmente, o que se encontra <strong>no</strong> jornal é uma capa com chamada principal em <strong>de</strong>staque e<br />

mais três ou quatro “coadjuvantes”.<br />

As cores existentes na logomarca do jornal (vermelho, amarelo, preto e branco) e outras mais<br />

chamativas (ver<strong>de</strong> e azul) são usadas como fundo das chamadas. Também na capa, há a presença <strong>de</strong><br />

duas fotos, sendo uma maior que a outra, e <strong>de</strong> anúncios publicitários das promoções do Notícia<br />

Agora.<br />

Na parte interna, geralmente, duas páginas <strong>de</strong> cada editoria são coloridas e o restante é em<br />

preto e branco. Muito utilizado, o recurso fotográfico configura-se como uma comunicação<br />

direta <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> quase todas as matérias. Estas não costumam ter mais que meia página <strong>de</strong> texto.<br />

“O Notícia Agora trata os fatos <strong>de</strong> maneira leve”, disse Sandra Aguiar. Esse “leve” está<br />

inserido <strong>no</strong> formato tablói<strong>de</strong> do impresso, uma vez que ele é <strong>de</strong> manuseio mais fácil que os <strong>de</strong>mais<br />

do Estado e, ‘‘diagramalmente’’, consegue suprir as necessida<strong>de</strong>s do seu principal público-alvo<br />

(classes C e D).<br />

Sem per<strong>de</strong>r a linha<br />

Dentro da sua proposta inicial, a linha editorial do Notícia Agora não fugia daquela mantida<br />

pelos jornais populares até então existentes <strong>no</strong> Brasil: “Reforçamos muito em eco<strong>no</strong>mia popular,<br />

entretenimento, esporte e polícia, com um tratamento jornalístico”, disse a ex-editora Lena<br />

Azevedo. Além disso, o jornal sempre ofereceu texto curto e linguagem “acessível” para o seu<br />

leitor.<br />

“Com pesquisas e participação do leitor, encontramos a linguagem do jornal. O leitor quer<br />

serviços. O leitor não quer informações rápidas. O que ganho nessa matéria? É útil para quem?<br />

Não é informação pela informação. O repórter busca o que interessa ao leitor e não a si”, resumiu a<br />

atual editora Sandra Aguiar.


Entre as editorias diárias e semanais do Notícia Agora estão Cida<strong>de</strong> (pautas corriqueiras da<br />

Gran<strong>de</strong> Vitória), Vida Saudável (trata <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e religião), Canal do Leitor (local reservado para o<br />

leitor reclamar e expor sua opinião), Polícia, Dinheiro (voltado para uma eco<strong>no</strong>mia popular),<br />

Concurso/Emprego Agora, Tudo Aqui (ou classificados) e Torcida.<br />

“Assim como <strong>no</strong> Extra (RJ), o entretenimento e a <strong>no</strong>vela eram muito presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

começo”, relatou Lena. Atualmente, o jornal conta com uma espécie <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> cultural, o “Mix<br />

Tudo”.<br />

É nele que entram os jogos dos erros, horóscopos, fofocas, guias <strong>de</strong> <strong>no</strong>velas e a cobertura<br />

sobre a vida dos artistas.<br />

Aos domingos, a “Revista Mix” traz, além dos convencionais assuntos “<strong>no</strong>velísticos”, uma<br />

série <strong>de</strong> matérias que englobam o mundo da moda, beleza, costura e dicas <strong>de</strong> psicologia e sexo.<br />

Nesse contexto, o Notícia Agora configura-se como “cotidia<strong>no</strong> local”, em <strong>de</strong>trimento do<br />

nacional e do internacional. E, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse local, po<strong>de</strong>-se verificar uma tendência a se<br />

priorizar, principalmente em chamadas da capa, matérias <strong>de</strong> polícia (como assassinatos e assaltos) e<br />

<strong>de</strong> serviços (como vagas para trabalho e cursos profissionalizantes).<br />

“As pessoas se interessam por isso”, disse a jornalista do Notícia Agora Ana Paula Costa. O<br />

<strong>de</strong>staque para o esporte também é bem amplo. Costuma-se ressaltar as “peladas” locais, com<br />

o futebol <strong>de</strong> várzea, além <strong>de</strong> jogos dos times cariocas.<br />

Entre as áreas que o jornal Notícia Agora geralmente não ressalta estão “política” e<br />

“internacional”. Fatos enquadrados nesse hall só são <strong>de</strong>stacados quando mais bombásticos, como<br />

<strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> corrupção e ataques terroristas (por exemplo, ataque às torres gêmeas, em 11 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2001).


Polícia e preço: estratégias do Notícia Agora visíveis já na primeira edição


Planejamento: 45 jornalistas testaram a produção do jornal por um mês<br />

Notícia Agora chegou a ven<strong>de</strong>r 35 mil exemplares na sua estréia


À esquerda e à direita: <strong>no</strong> começo, a logomarca do Notícia Agora...


...“flutuava” em formato <strong>de</strong> “U” na primeira página do jornal


Nem só <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias: campanhas para enfrentar concorrentes


“Cena Cult”: universo GLS e cultura alternativa ganham espaço


Polícia e preço: à estratégia inicial somam-se, hoje, as promoções


Referências bibliográficas<br />

AGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São<br />

Paulo: Summus, 1995.<br />

BARBOSA, Marialva. Jornalismo popular e o sensacionalismo. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, 2004. In:<br />

Verso e Reverso/Revista da comunicação, A<strong>no</strong> XVIII, 2004/2, nº. 39. Disponível em:<br />

Acesso em 10/10/2005.<br />

BERNARDES, Cristiane Brum. A narrativida<strong>de</strong> como categoria estratégica para a produção<br />

<strong>de</strong> um jornal popular massivo. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, 2004.<br />

In: Verso e Reverso/Revista da comunicação, A<strong>no</strong> XVIII, 2004/2, nº. 39. Disponível em:<br />

Acesso em: 14/10/2005 AMARAL, Márcia Franz. A fala popular e a<br />

realização do <strong>jornalismo</strong>. Belo Horizonte, 2004, Trabalho apresentado ao Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa<br />

02 (<strong>jornalismo</strong>) do IV Encontro dos Núcleos <strong>de</strong> Pesquisa da Intercom.<br />

Disponível em: Acesso em: 16/10/2005.<br />

Teletipo. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt: o feitiço virou contra o feiticeiro. Monitor da Imprensa.<br />

16/12/2003. Disponível em: Acesso em: 16/10/2005 SINGER, Beatriz. The Times<br />

versão tablói<strong>de</strong>: o triste fim <strong>de</strong> uma instituição.<br />

Monitor da Imprensa. 16/11/2004. Disponível em: Acesso em: 16/10/2005 DINES, Alberto.<br />

Quanto mais muda, mais fica a mesma coisa: jornais emagrecem rumo ao tablói<strong>de</strong>. A<br />

imprensa em questão. 20/06/1999. Disponível em:<br />

Acesso em: 16/10/2005 Notícia Agora. Vitória, ES, 03 <strong>de</strong> mai. 2000. Pra Começar, p.<br />

02 Notícia Agora. Vitória, ES, 04 <strong>de</strong> out. 2005. Cida<strong>de</strong>, p. 02<br />

Entrevistas


Sandra Aguiar – Editora executiva do jornal Notícia Agora, em 20/09/2005.<br />

Carlos Fernando Lin<strong>de</strong>nberg Neto – Diretor geral da Re<strong>de</strong> Gazeta, em 26/09/2005.<br />

Maria Elena Azevedo – Jornalista e elaboradora do projeto do jornal Notícia Agora, em<br />

27/09/2005 e 03/10/2005.<br />

Carlos Fernando Lin<strong>de</strong>nberg Filho, em 27/09/2005.<br />

Ana Paula Costa – Jornalista, em 05/10/2005.<br />

Eduardo Valério – Ex-diretor da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jornais da Re<strong>de</strong> Gazeta, em 06/10/2005.<br />

Marcelo Said – Jornalista, em 09/10/2005.


Uma paixão chamada<br />

O Diário<br />

Ronald Alves e Thiago Dal Col<br />

No processo <strong>de</strong> formação do <strong>jornalismo</strong> impresso, muitos foram os jornais que nasceram, obtiveram<br />

sucesso e morreram, sempre com o objetivo <strong>de</strong> cumprir a importante função social <strong>de</strong> informar. No <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, um jornal já falecido – exceto na memória daqueles que o fizeram – estabeleceu-se como o gran<strong>de</strong><br />

laboratório <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> jornalistas, num período em que não existiam as escolas <strong>de</strong> Jornalismo. Esse<br />

jornal foi O Diário.<br />

Este capítulo trata dos 25 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong>sse veículo, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1955 a 1980. O Diário<br />

nasceu numa época em que os jornais <strong>de</strong>fendiam claramente uma posição política, pois eram instrumentos<br />

escancaradamente utilizados para essa finalida<strong>de</strong>;<br />

cresceu e morreu numa das fases mais obscuras da <strong>no</strong>ssa história, a ditadura militar.<br />

Hoje, 25 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seu fechamento, cabe apresentar uma versão <strong>de</strong> sua história. O capítulo foi<br />

escrito a partir dos <strong>de</strong>poimentos presentes <strong>no</strong> livro O Diário da Rua Sete – 40 visões <strong>de</strong> uma paixão,<br />

organizado pelo jornalista Antônio <strong>de</strong> Pádua Gurgel, e <strong>de</strong> conversas dos autores com os jornalistas <strong>de</strong> O<br />

Diário Marien Calixte, Milson Henriques e Ti<strong>no</strong>co dos Anjos.<br />

O jornal O Diário reflete um sentimento contraditório. Primeiro vem o “fascínio”, uma vez que ele<br />

representou, <strong>de</strong>ntro do <strong>jornalismo</strong> capixaba, todo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e experimentação que almejam os<br />

jornalistas. No final da década <strong>de</strong> 1960 e início <strong>de</strong> 1970, O Diário representava o jornal <strong>de</strong> vanguarda <strong>no</strong><br />

Estado.<br />

Era formado por jovens jornalistas em início <strong>de</strong> carreira, “focas”<br />

que, com muita garra e disposição, influenciados pelos acontecimentos culturais da época, traziam<br />

esses sentimentos para o <strong>jornalismo</strong> que faziam. Vemos, por intermédio dos <strong>de</strong>poimentos apaixonados dos<br />

profissionais, que a criativida<strong>de</strong> era uma atitu<strong>de</strong> valorizada na redação. Ela levou o jornal a fazer gran<strong>de</strong>s<br />

i<strong>no</strong>vações na imprensa do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

O sentimento contraditório surge do fato <strong>de</strong> O Diário em alguns momentos estabelecer um <strong>jornalismo</strong><br />

puramente sensacionalista, exclusivamente para ven<strong>de</strong>r jornais. Nas suas principais manchetes, estampava a<br />

violência, em letras garrafais, e priorizava o colunismo social.<br />

Nas páginas que vão adiante, temos a pretensão <strong>de</strong> tentar relatar um pouco do que foi O Diário, na<br />

magia dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> quem trabalhou nesse veículo e o trata como uma paixão. Este relato constitui<br />

uma maneira <strong>de</strong> o leitor entrar em contato com o modo como os jornalistas viam o jornal e como


dialogavam com o público, as histórias, lendas ou não, que ocorreram e marcaram a época, e tudo aquilo<br />

que em parte faz com que O Diário mereça, por diversos motivos, ser lembrado <strong>no</strong>s livros que contam<br />

a história do <strong>jornalismo</strong> capixaba.<br />

O maior diário da Rua Sete<br />

O sr. Carlos Lin<strong>de</strong>nberg é diretamente responsável por<br />

tudo quanto tem acontecido <strong>de</strong> violências policiais, durante o<br />

seu Gover<strong>no</strong>. Da sua inspiração política, dos exemplos <strong>de</strong><br />

perseguição que tem dado, da proteção que está dispensando<br />

a esses belenguis policiais – <strong>de</strong> tudo isto é que nasce e se<br />

revigora o clima <strong>de</strong> terror e <strong>de</strong> morte.<br />

Este era o editorial publicado pelo jornal O Diário, em 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1960, assinado por<br />

Plínio Marchini, o diretor <strong>de</strong> então, que escrevia textos apaixonados em <strong>de</strong>fesa do político<br />

Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar, o Chiquinho. Uma prática comum, pois os jornais da época eram<br />

controlados por grupos políticos que os utilizavam como arma para combater os adversários.<br />

Este é só um exemplo da instrumentalização explícita da imprensa em tempos idos. Mas a<br />

história dO Diário começou a ser escrita sob o patrocínio <strong>de</strong> outros “coronéis” da política<br />

capixaba e colecio<strong>no</strong>u, ao longo <strong>de</strong> 25 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, muitas curiosida<strong>de</strong>s, orientações e “<strong>de</strong>sorientações”<br />

jornalísticas.<br />

Após a compra dos equipamentos do jornal Folha do Povo, em 1955, O Diário iniciava a sua<br />

circulação, dirigido por membros do Partido Social Democrático (PSD), que havia perdido as<br />

eleições <strong>no</strong> a<strong>no</strong> anterior. Nesse a<strong>no</strong>, o governador era Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar e O Diário<br />

atuava como um jornal <strong>de</strong> oposição. Nasceu “para manter acesa a chama do PSD”. Trazia em suas<br />

seis páginas, quando começou a circular, assuntos <strong>de</strong> política, comércio, cultura, com <strong>de</strong>staque para<br />

cinema e esporte, além <strong>de</strong> informação nacional <strong>de</strong> modo geral.<br />

Nesse mesmo a<strong>no</strong>, por falta <strong>de</strong> verbas, o jornal foi comprado por Mário Tamborin<strong>de</strong>gui, um<br />

empresário carioca do setor <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estradas, que o fez para servir a Chiquinho. Segundo o<br />

jornalista Marien Calixte, “entre 1955 e 1958, o jornal foi usado para torpe<strong>de</strong>ar Carlos Lin<strong>de</strong>nberg,<br />

Jones dos <strong>Santo</strong>s Neves e todo mundo que não fosse Chiquinho. Era essencialmente sectário”.


Calixte recupera algumas manchetes, para lembrar o tom extremamente agressivo: “Políticos<br />

querem lotear o ES”, “As oligarquias do PSD...”, “Oligarquia <strong>de</strong> Carlos Lin<strong>de</strong>nberg...”, “Os<br />

ricos querem dominar o peque<strong>no</strong> Estado do ES...”.<br />

No final da década <strong>de</strong> 50, O Diário passa para as mãos <strong>de</strong> Chiquinho, que, para não aparecer,<br />

usa como “testa <strong>de</strong> ferro” seu filho Renato Aguiar e Setembri<strong>no</strong> Pelissari, um advogado da<br />

ala jovem da União Democrática Nacional (UDN). Por essa época, Chiquinho <strong>no</strong>meia Plínio<br />

Marchini para diretor do jornal.<br />

Apesar da ação ofensiva <strong>de</strong> O Diário, Carlos Lin<strong>de</strong>nberg foi eleito governador em 1958. E<br />

seria, assim, o principal alvo do <strong>jornalismo</strong> extremamente violento <strong>de</strong> O Diário, que o atacava com<br />

duríssimas palavras.<br />

Nas eleições para governador <strong>de</strong> 1962, Chiquinho era <strong>no</strong>vamente candidato, tendo sua<br />

candidatura articulada pelo PRP. A jornalista e pesquisadora Sandra Daniel afirma: “Com<br />

Chiquinho <strong>no</strong>vamente em campanha, O Diário se lançou na cobertura política.<br />

Em julho <strong>de</strong>sse a<strong>no</strong>, o jornal publicava diariamente o roteiro <strong>de</strong> viagens do candidato,<br />

enquanto seus editoriais criticavam a ação do PSD”.<br />

Para a política, o jornal cumpria uma importante função, mas não recebia nenhum tipo <strong>de</strong><br />

investimento. Segundo Calixte, “era tudo precário, comprado <strong>de</strong> segunda mão. Só havia dois<br />

li<strong>no</strong>tipos”.<br />

Com a vitória <strong>de</strong> Chiquinho, os funcionários pensavam que o jornal fosse melhorar. Mas isso<br />

não aconteceu. No entanto, o teor da <strong>no</strong>tícias continuava agressivo contra os adversários políticos.<br />

Em 1964, veio o golpe militar. No início, segundo Calixte, a orientação que chegou à redação<br />

do jornal era que não se provocassem os militares, mas também não se atacasse o ex-<br />

presi<strong>de</strong>nte João Goulart, que po<strong>de</strong>ria voltar ao po<strong>de</strong>r. Por isso, a partir <strong>de</strong> então, o jornal per<strong>de</strong>u a<br />

linha habitual e passou a se <strong>de</strong>dicar a assuntos <strong>de</strong> polícia.<br />

Não seria uma boa fase nem para Chiquinho nem para O Diário.<br />

O a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1965 foi tumultuado para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Sandra Daniel conta que “um dos<br />

resultados da teia <strong>de</strong> intrigas construídas a partir <strong>de</strong> 1964 seria o afastamento <strong>de</strong> Francisco Lacerda<br />

<strong>de</strong> Aguiar <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte, vitimado pelas acusações <strong>de</strong> corrupção”.


A jornalista afirma que “as <strong>de</strong>núncias foram lançadas por jornais cariocas em setembro, dando<br />

conta <strong>de</strong> uma possível ligação do governador a casos <strong>de</strong> corrupção e a elementos subversivos”.<br />

O Diário continuava sendo usado para contra-atacar os inimigos políticos. No entanto, não lhe<br />

era dada a <strong>de</strong>vida importância.<br />

“Chiquinho não dava a mínima para o jornal, que era usado por Setembri<strong>no</strong> apenas como<br />

instrumento para escrever contra Carlos Lin<strong>de</strong>nberg e o PSD”, afirma Calixte.<br />

Em abril <strong>de</strong> 1966, Chiquinho renunciou ao cargo <strong>de</strong> governador, mesmo sendo absolvido pela<br />

Comissão Especial criada na Assembléia para investigá-lo. Com sua saída do Gover<strong>no</strong>,<br />

Christia<strong>no</strong> Dias Lopes é eleito governador do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> pela Assembléia Legislativa. Os<br />

representantes <strong>de</strong> Chiquinho ven<strong>de</strong>m suas cotas. A partir daí, O Diário passaria a ser dirigido por<br />

Edgard dos Anjos, em cujas mãos viveria seus momentos <strong>de</strong> glória, na década <strong>de</strong> 1970.<br />

O Diário da Ditadura<br />

Edgard dos Anjos assumiu o jornal e não existia uma direção específica. A idéia era fazer<br />

daquele espaço um gran<strong>de</strong> laboratório.<br />

Para Calixte, “O Diário era tido como <strong>de</strong> esquerda, mas, na verda<strong>de</strong>, não tinha nada <strong>de</strong><br />

esquerda e nem <strong>de</strong> direita. Era um jornal sem i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>finida”.<br />

Nessa fase, as principais manchetes eram informações internacionais e assuntos <strong>de</strong> polícia,<br />

além <strong>de</strong> temas mais suaves, como enquetes sobre comportamento. As <strong>no</strong>tícias sobre a vida social da<br />

cida<strong>de</strong> ganhavam <strong>de</strong>staque, em <strong>de</strong>trimento da discussão política.<br />

“Havia muitas colunas e espaço para articulistas, críticos <strong>de</strong> arte e cronistas. Havia seções e<br />

colunas <strong>de</strong>dicadas à ‘socieda<strong>de</strong>’ e à cultura”, <strong>de</strong>talha Sandra Daniel.<br />

No último a<strong>no</strong> da década <strong>de</strong> 60, a linha política adotada anteriormente pelo jornal estava<br />

praticamente abandonada. Prevalecia a editoria <strong>de</strong> Polícia. Tanto que aí se registou a maior<br />

venda <strong>de</strong> exemplares do jornal na sua história, com a cobertura da ação do Esquadrão da Morte,<br />

famoso grupo formado por policiais civis, <strong>no</strong> final dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 60, que <strong>de</strong>cidiram agir como<br />

justiceiros, caçando e eliminando os bandidos, sem levá-los à Justiça.


Marien Calixte relatou que O Diário se relacio<strong>no</strong>u com o Esquadrão da Morte <strong>de</strong> uma maneira<br />

“curiosa”. “Embora se falasse contra as chacinas, os <strong>de</strong>legados ligados ao Esquadrão viviam<br />

na redação, costumavam beber cerveja com o pessoal e alguns <strong>de</strong>les até escreviam matérias, dando<br />

a versão da Polícia”.<br />

Segundo Calixte, esta era uma estratégia, pois, “mesmo falando contra o Esquadrão da Morte,<br />

o jornal sempre tirava da reta a cara do pessoal que o integrava. Não havia uma posição radical do<br />

jornal <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar o Esquadrão”.<br />

Com a cobertura <strong>de</strong>sses crimes, o jornal, que tinha uma tiragem diária <strong>de</strong> três mil exemplares,<br />

passou a rodar <strong>de</strong> três a quatro vezes mais jornais por dia. Com isso, segundo Pedro Maia, o público<br />

capixaba apren<strong>de</strong>u a ler jornal e passou a procurá-lo na banca.<br />

Esse fato está na lembrança <strong>de</strong> muitos jornalistas que lá trabalhavam e fizeram seus registros<br />

<strong>no</strong> livro organizado por Gurgel em 1998:<br />

“O Esquadrão foi um escândalo e, por isso, um filé mig<strong>no</strong>n<br />

para a cobertura jornalística”. (Tonico dos Anjos)<br />

“O jornal era combativo, publicava reportagens especiais e se<br />

<strong>de</strong>stacou na cobertura do Esquadrão da Morte. A linha<br />

editorial era popular, mas tinha <strong>de</strong> tudo”. (João Luís Caser)<br />

“O jornal teve seus gran<strong>de</strong>s momentos. Nos tempos do<br />

Esquadrão da Morte, vendia igual água. Era um jornal<br />

simpático, todo mundo gostava”. (Oscar Rocha Junior –<br />

Boquinha)<br />

“Era <strong>no</strong>ite e dois camburões da Polícia passaram com <strong>de</strong>sti<strong>no</strong><br />

à Barra do Jucu. Era o início da maior manchete policial da<br />

história do <strong>jornalismo</strong> capixaba: o Esquadrão da Morte. A<br />

<strong>no</strong>tícia <strong>de</strong>morou 24 horas para explodir. Foi uma manchete<br />

garrafal, com letras que eu nunca vira iguais: 11 Cadáveres”.<br />

(Gérson Camata)<br />

O período que se segue é marcado pela gran<strong>de</strong> contradição que <strong>no</strong>rteou os <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70 na redação<br />

<strong>de</strong> O Diário: o jornal passa por gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s financeiras, mas funciona como a<br />

gran<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.


Uma <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> que se apresentou foi a idéia <strong>de</strong> se fazer o jornal vesperti<strong>no</strong>, que vigorou em<br />

1971. Quem dirigia o jornal era Cláudio Bue<strong>no</strong> Rocha. A edição da tar<strong>de</strong> circulou por cerca <strong>de</strong> seis<br />

meses. Ela tinha por finalida<strong>de</strong> matar todos os assuntos dos jornais concorrentes. “Então, <strong>no</strong> outro<br />

dia, <strong>de</strong> manhã cedo, eles teriam que dar matérias que já tinham saído em O Diário. O jornal virou<br />

vesperti<strong>no</strong> exatamente com essa finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar a <strong>no</strong>tícia”, registrou José Maria Batista.<br />

Mas, segundo Pedro Maia, essa estratégia “não podia dar certo, porque as bancas <strong>de</strong> Vitória<br />

naquela época fechavam às seis da tar<strong>de</strong>. Mesmo com aquela porrada <strong>de</strong> garoto ven<strong>de</strong>ndo jornal<br />

na rua, a situação ficou insustentável”.<br />

Ser um jornal vesperti<strong>no</strong> foi somente uma das várias i<strong>no</strong>vações feitas por O Diário <strong>no</strong><br />

<strong>jornalismo</strong> capixaba ao longo <strong>de</strong> sua existência.<br />

O jornal da Rua Sete, como era conhecido, foi pioneiro <strong>no</strong> Estado em diversos aspectos. Para<br />

Cacau Monjardim, falar <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mia foi uma i<strong>no</strong>vação, “porque naquela época ninguém falava em<br />

eco<strong>no</strong>mia. A coluna (Poltrona B) passou a ser leitura obrigatória dos empresários do Estado”.<br />

Segundo Monjardim, o jornal foi pioneiro também na veiculação <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s especiais, lançando<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong>les a partir <strong>de</strong> 1957. O primeiro suplemento se chamava Jornal Social e era assinado por<br />

Hélio Dórea e Elcio Álvares. Para Ti<strong>no</strong>co dos Anjos, “<strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, as <strong>no</strong>ções mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong><br />

<strong>jornalismo</strong> foram experimentadas primeiro em O Diário, on<strong>de</strong> pela primeira vez se <strong>de</strong>senvolveu a<br />

concepção <strong>de</strong> segundo ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>”.<br />

O Diário foi pioneiro <strong>de</strong>ntro do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> justamente por se propor a experimentar. Do<br />

movimento cultural às i<strong>no</strong>vações editoriais e gráficas, da luta contra a ditadura com um<br />

enfrentamento alegre e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ao lançamento <strong>de</strong> colunas e ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s diversos, o jornal sempre<br />

i<strong>no</strong>vou e por isso sobrevivia, mesmo sem recursos financeiros. Era uma luta para <strong>de</strong>ixar o jor- nal<br />

mais atraente e competitivo. Na técnica, era um jornal <strong>de</strong> vanguarda, mas a tec<strong>no</strong>logia não ajudava.<br />

Os jornalistas tinham <strong>de</strong> fazer verda<strong>de</strong>iros milagres.<br />

Houve um tempo em que os jornais eram formados basicamente por textos. O Diário foi o<br />

primeiro a empregar fotógrafo, bem como a montar um <strong>de</strong>partamento fotográfico próprio. Foi lá<br />

também que se iniciou um gran<strong>de</strong> sucesso: estampar na mesma edição fotos relativas ao fato<br />

<strong>no</strong>ticiado. Da mesma forma, i<strong>no</strong>vou ao ser o primeiro jornal capixaba a instalar um sistema


<strong>de</strong> radiofoto, que <strong>de</strong>pois passou a se chamar telefoto. É creditado também a O Diário o primeiro<br />

telex que funcio<strong>no</strong>u num jornal do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Segundo George Bonfin, lá aconteceu i<strong>no</strong>vação também na comercialização, que <strong>de</strong>u bons<br />

resultados. “O comum, até então, era o cliente fazer com o jornal um anúncio só, apenas<br />

uma publicação. E eu criei na época o formato diferente, que comprometia o cliente com o jornal,<br />

quer dizer, um contrato. E o cliente passava a anunciar três meses, seis meses”.<br />

Ti<strong>no</strong>co dos Anjos relata que, por essas e outras, O Diário foi um jornal i<strong>no</strong>vador. “Além dos<br />

equipamentos, ele também i<strong>no</strong>vou na linguagem, na diagramação e <strong>no</strong> conteúdo”.<br />

O preço da liberda<strong>de</strong><br />

O sonho <strong>de</strong> todo jornalista <strong>de</strong> hoje é po<strong>de</strong>r escrever o que pensa e o que sente sem se<br />

preocupar com a pressão do mercado nem com a aceitação do texto pelo editor. No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>,<br />

um jornal permitiu essa experiência: <strong>no</strong> jornal O Diário havia liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>no</strong>s termos<br />

que o <strong>jornalismo</strong> hoje não conhece.<br />

Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdo e <strong>de</strong> forma. Era o período em que, na direção, estava Edgard dos Anjos<br />

e também Cláudio Bue<strong>no</strong> Ro- cha. Sempre havia chance para quem não tinha experiência.<br />

Em contrapartida, recursos financeiros nunca foram o gran<strong>de</strong> forte do jornal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua inauguração.<br />

Sendo assim, existia liberda<strong>de</strong>, mas o salário do jornalista era coisa incerta. “NO Diário,<br />

podiase escrever com liberda<strong>de</strong> e fazer o que se quisesse, mas <strong>no</strong> final do mês não aparecia<br />

dinheiro”, revela Calixte.<br />

Na verda<strong>de</strong>, nesse período, O Diário recebia muitos jovens dispostos a apren<strong>de</strong>r a escrever, a<br />

fazer <strong>jornalismo</strong> e que, <strong>de</strong> certa forma, não estavam muito preocupados com o retor<strong>no</strong><br />

financeiro que a ativida<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse dar. Os <strong>de</strong>poimentos comprovam que nem sempre o salário era a<br />

coisa mais importante para aqueles jovens jornalistas:<br />

“Todo dia era diferente. A gente tinha um amor danado. Nem<br />

importava se o salário estava atrasado ou se ganhávamos<br />

pouco. Às vezes, a gente ia prá oficina <strong>de</strong> madrugada ver os


caras montando. Era como se o pessoal que trabalhava lá<br />

fizesse parte da <strong>no</strong>ssa família”. (Mariângela Pellara<strong>no</strong>)<br />

“A coisa mais importante que O Diário promoveu na<br />

imprensa capixaba foi a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar, para se produzir.<br />

Tanto que mesmo os jovens jornalistas podiam ter suas<br />

colunas.” (Rubinho Gomes)<br />

“Éramos todos muitos jovens, O Diário tinha <strong>de</strong>scoberto uma<br />

maneira barata <strong>de</strong> fazer jornal com estagiários. Embora isso<br />

pareça uma coisa antipática, ao mesmo tempo tinha uma<br />

faísca <strong>de</strong> re<strong>no</strong>vação.”<br />

(Rosental Calmon Alves)<br />

“Efetivamente, a redação dO Diário oferecia possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> aprendizado. Estávamos motivados.<br />

Foram contratados também profissionais maduros.<br />

Com gran<strong>de</strong> bagagem e experiência. Um <strong>de</strong>talhe:<br />

era permitido errar.” (Antônio Rosetti)<br />

“Pra mim, O Diário foi a maior escola <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> que o<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> já teve. Não tem Universida<strong>de</strong>, não tem o que<br />

se compare. A gente aprendia com a dificulda<strong>de</strong>. [...]. Embora<br />

houvesse dificulda<strong>de</strong>s e a gente recebesse o salário em<br />

parcelas semanais a título <strong>de</strong> vale, uma coisa era certa:<br />

ninguém ficava duro <strong>no</strong> final <strong>de</strong> semana.” (Oscar Rocha Jr. –<br />

Boquinha)<br />

“Para quem tinha boa vonta<strong>de</strong> e entusiasmo, O Diário<br />

ensinava um pouco <strong>de</strong> tudo – diagramação, fotografia, revisão<br />

– e foi lá que obtive essa ‘cultura geral’ <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong>, esse<br />

trei<strong>no</strong> exaustivo que me permite saber os segredos da<br />

profissão.” (Paulo Torre)<br />

Vinte e cinco <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua fundação, por dificulda<strong>de</strong>s financeiras – eterna pedra <strong>no</strong><br />

sapato –, O Diário fecha. O fim não po<strong>de</strong>ria ser me<strong>no</strong>s tumultuado. Pertencia ao advogado<br />

José Maria Ramos Gag<strong>no</strong>.<br />

De acordo com o último proprietário, quando ele adquiriu o jornal, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1980, havia uma<br />

dívida crônica com a Previdência Social e com o Fundo <strong>de</strong> Garantia por Tempo <strong>de</strong> Serviço, com


inadimplências que ultrapassavam os <strong>de</strong>z <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. O jornal encerrou suas ativida<strong>de</strong>s sem o<br />

conhecimento dos jornalistas, o que gerou revolta.<br />

Gag<strong>no</strong> relata os últimos dias <strong>de</strong> O Diário: “No período em que dirigi o jornal, 64 famílias<br />

viviam <strong>de</strong>le. Mas a situação estava insustentável.<br />

Havia créditos, mas não se conseguia receber. Fechar o jornal com os funcionários <strong>de</strong>ntro seria<br />

impraticável. Então, eu fui lá e <strong>de</strong>ixei terminar a edição <strong>de</strong> domingo <strong>no</strong> sábado <strong>de</strong> ma- drugada. No<br />

domingo, eu lacrei o jornal e, na segunda, não <strong>de</strong>ixei que ninguém trabalhasse mais”.<br />

Estava encerrada, assim, a história <strong>de</strong> um veículo <strong>de</strong> comunicação sem igual na história do<br />

<strong>jornalismo</strong> capixaba. Nas palavras <strong>de</strong> Sandra Daniel, “um <strong>jornalismo</strong> rico em colunismo e seções<br />

<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s, arauto da efervescência cultural que marcou época.<br />

Nas palavras do fotógrafo Paulo Makoto, “os frutos da experiência, <strong>no</strong> entanto foram<br />

proveitosos, pois outras empresas colheram os profissionais jovens, mas bastantes amadurecidos”.<br />

Histórias <strong>de</strong> O Diário<br />

Quando compraram as máquinas e fundaram O Diário em 07 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1955, os pessedistas<br />

não tinham idéia do que estavam iniciando. A razão era <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os i<strong>de</strong>ais do PSD e fazer<br />

oposição ferrenha ao então governador Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar, o Chiquinho. Essa ação daria<br />

início a uma das histórias mais ricas do <strong>jornalismo</strong> capixaba, talvez a maior <strong>de</strong>las por sua<br />

singularida<strong>de</strong>.<br />

Em meio a tanta perseguição ao gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Chiquinho, foi criado o trocadilho “Odiário”, que<br />

se remete a odiar. A ligação entre jornais e grupos políticos nessa época se mostrava<br />

explícita, diferente do camuflado <strong>jornalismo</strong> contemporâneo. Quando abria o jornal, o leitor sabia a<br />

quem este pertencia, pois era evi<strong>de</strong>nte se era do gover<strong>no</strong> ou da oposição.<br />

Os anúncios eram raros <strong>no</strong>s jornais. Dessa forma, salvo alguns casos, só entrava dinheiro<br />

quando alguma personalida<strong>de</strong> queria atacar ou ser <strong>de</strong>fendida. Mantinham aquele veículo como<br />

arma para lutar nas eleições. Para os jornalistas, a atração era o salário pago pelos seus patrões. Mas<br />

nem sempre. A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever e ser jornalista em O Diário ultrapassava a fronteira entre<br />

patrão e empregado. A prova é que, muitas vezes, os jornalistas permaneciam sem receber, quando


não recebiam me<strong>no</strong>s do que era <strong>de</strong> direito. Estavam na redação pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar suas<br />

idéias impressas naquele papel, e O Diário apaixonava.<br />

A diferença entre o maior diário da Rua Sete e os concorrentes estava em sua organização.<br />

Enquanto <strong>no</strong>s outros as coisas funcionavam tranquilamente, em O Diário funcionavam na marra<br />

e na raça, em um trabalho realizado por amigos <strong>de</strong>ntro da redação.<br />

Tudo era pensado e realizado pelos jornalistas e isso o diferenciava.<br />

Pois aquela <strong>de</strong>sorganização, para eles, era sinônimo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

Este era o charme do jornal.<br />

Como nem sempre havia profissionais à disposição do jornal, alguém tinha que fazê-lo ir para<br />

as bancas <strong>no</strong> outro dia. Assim, formaram-se profissionais que sabiam <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>ntro da empresa.<br />

Muitas vezes, o repórter tinha que <strong>de</strong>scer até a gráfica para trabalhar como li<strong>no</strong>tipista, tituleiro,<br />

emendador e tantas outras funções que não existem mais nas redações. O profissional<br />

era praticamente forçado a passar por todas as áreas do jornal, tanto técnicas quanto <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>tícia. Difícil era achar alguém que ainda não tinha escrito uma coluna dos mais variados<br />

assuntos, fotografado, editado e tudo o que mais fosse preciso fazer.<br />

E tal fato não era visto como dificulda<strong>de</strong>, mas como uma oportunida<strong>de</strong>.<br />

Dessa forma, O Diário se tor<strong>no</strong>u uma escola <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> profissionais do <strong>jornalismo</strong>, cuja<br />

maioria, posteriormente, rendia-se aos melhores salários e à segurança dos empregos <strong>no</strong>s veículos<br />

concorrentes.<br />

Transformar O Diário em escola do <strong>jornalismo</strong> capixaba foi realização dos próprios<br />

jornalistas. Apesar <strong>de</strong>, em um momento da década <strong>de</strong> 1970, publicar na primeira página o anúncio<br />

“Você quer ser jornalista?”, para <strong>de</strong>pois fazer uma seleção, O Diário sempre teve como<br />

característica formar bons jornalistas. A dinâ- mica do jornal parecia ser a seguinte: quem quer ser<br />

jornalista só precisa chegar até a redação e pegar a sua pauta. Segundo Pedro Maia, os pauteiros<br />

mandavam os “focas” para o Departamento Médico Legal, para o morro (favela), sempre locais<br />

ruins. Se eles gostassem iam continuando. Como a história mostrava, po<strong>de</strong>riam até virar diretores<br />

ou o que quer que almejassem. A oportunida<strong>de</strong> sempre era dada.<br />

A liberda<strong>de</strong> para errar era e<strong>no</strong>rme, e não havia burocracia <strong>no</strong> jornal. Isto fascinava alguns e<br />

assustava outros. Quando entrou na redação <strong>de</strong> O Diário, na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong>


1960, Eloy Nogeira se assustou. “Aquilo não era jornal. Era a casa on<strong>de</strong> um doido chamado Otávio<br />

Lisboa fazia, sem dinheiro, alguma coisa impressa e oferecia aos capixabas”. Essa liberda<strong>de</strong> para<br />

se escrever o que quiser era tudo para os jornalistas.<br />

Os jornalistas pareciam surgir ao acaso para O Diário. Não são poucos os casos <strong>de</strong> pessoas que<br />

do nada se tornaram profissionais <strong>de</strong> imprensa. Um dos pré-requisitos básicos era conhecer alguém<br />

do jornal. Paulo Maia diz que seu pai conhecia Rosendo Serapião, que dirigiu o jornal <strong>no</strong> final <strong>de</strong><br />

1956. Dessa forma, pediu ao amigo para ajudá-lo, pois seu irmão Pedro Maia não queria estudar.<br />

Serapião sugeriu mandar o garoto com 16 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> para trabalhar como jornalista. Na verda<strong>de</strong>, ele<br />

começou varrendo a redação, mas a oportunida<strong>de</strong> surgiu e ele se tor<strong>no</strong>u jornalista. O mesmo<br />

aconteceu a Paulo Maia, com 14 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

Na época em que colocavam anúncio <strong>no</strong> jornal chamando jovens para serem jornalistas, um<br />

jovem entrou na redação para entregar um livro a um amigo. Rogério Me<strong>de</strong>iros, fotógrafo <strong>de</strong><br />

O Diário na década <strong>de</strong> 1960, diz que o pauteiro confundiu o rapaz com um candidato e lhe <strong>de</strong>u uma<br />

pauta. Ele fez a matéria e se tor<strong>no</strong>u jornalista. O <strong>no</strong>me <strong>de</strong>sse jovem é José Casado, hoje na revista<br />

Época. Erildo dos Anjos foi quem arranjou uma pauta pra ele, que fez a matéria e gostou do<br />

negócio.<br />

Quando Francisco Henrique Borges chegou à redação <strong>de</strong> O Diário, imagi<strong>no</strong>u que seria<br />

tranqüilo, pois já tinha escrito matérias para outros jornais. Enga<strong>no</strong>u-se. Tão logo entrou,<br />

jogaram uma máquina fotográfica em suas mãos e lhe <strong>de</strong>ram uma pauta fotográfica. Mesmo sem<br />

saber usá-la direito, foi para o campo.<br />

Ele confirma a lenda <strong>de</strong> que voltou se gabando das boas fotos que tinha feito. Alguém<br />

perguntou on<strong>de</strong> estavam e ele abriu a máquina e velou todo o filme. Tal fato fez com que Paulo<br />

Torre o promovesse <strong>de</strong> foca para bagre. Des<strong>de</strong> então este é o seu apelido.<br />

diversão.<br />

Os jornalistas sempre lembram <strong>de</strong> fatos que misturam o aprendizado com o humor. Era pura<br />

Existiam casos <strong>de</strong> pessoas que iam para O Diário sem saber escrever e aprendiam <strong>de</strong>ntro da<br />

própria redação. Antônio Alaerte foi um <strong>de</strong>sses. Ele chegou a publicar textos <strong>no</strong>s quais escrevia<br />

a palavra operário com “h”. Por isso que muitos zombavam, dizendo que “se a pessoa é analfabeta e<br />

gosta <strong>de</strong> escrever, não tem problema; dá um pulo nO Diário que apren<strong>de</strong>”.


Admitindo o inadmissível, O Diário era usado como porta <strong>de</strong> entrada. Depois que o jornalista<br />

aprendia nO Diário, os outros o compravam. O jornalista Hely Edson, que trabalhou como editor <strong>de</strong><br />

internacional em 1973, disse que Cláudio Bue<strong>no</strong> Rocha chegou a anunciar alguns jornalistas em um<br />

Classificados, pois a situação financeira não estava boa. Na verda<strong>de</strong>, nunca esteve.<br />

Outro exemplo <strong>de</strong> nenhum purismo nas regras foi contado por Oscar Rocha Jr., o “Boquinha”,<br />

que não se po<strong>de</strong>ria reportar a não ser da mesma forma como ele registrou:<br />

“Havia um rapaz, o Didinho, halterofilista, fortão, dois metros<br />

<strong>de</strong> altura. Eram revisores, ele e o Edvan, um rapaz magrinho.<br />

Um lia a matéria original do repórter, corrigida a caneta; o<br />

outro acompanhando a leitura na prova impressa. Quando<br />

havia um erro, paravam a leitura para conferir. O aviso <strong>de</strong><br />

erro era uma batida na mesa.<br />

Didinho não era muito bom <strong>de</strong> português, e tropeçou num<br />

<strong>no</strong>me:<br />

- Asdrúbal.<br />

Edvan bateu na mesa:<br />

- Asdrúbal.<br />

Didinho insistiu:<br />

- Asdrúbal.<br />

Edvan corrigiu outra vez, já não muito certo se <strong>de</strong>via.<br />

Didinho per<strong>de</strong>u a paciência, <strong>de</strong>u uma porrada na mesa e<br />

gritou:<br />

- As-dru-bal!<br />

E ficou por isso mesmo.”<br />

Cada editoria só podia usar uma foto por semana, por eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> clichês. Os antigos clichês<br />

eram usados centenas <strong>de</strong> vezes por a<strong>no</strong>. Utilizavam uma foto com um treinador antigo do Flamengo<br />

e davam como legenda: “O Flamengo, que já teve o Fleitas Solich como técnico, ganhou <strong>de</strong><br />

tanto...”. Esse treinador já estava <strong>no</strong> Uruguai havia meses e ainda aparecia em O Diário.<br />

Outra maneira <strong>de</strong> se conseguir uma imagem <strong>de</strong>sejada era posicionar a câmara na frente da TV<br />

na hora do Jornal Nacional e fazer a foto. Na manhã seguinte era capa <strong>de</strong> O Diário. Tudo era<br />

válido quando o negócio era ven<strong>de</strong>r jornal e furar o concorrente.<br />

Quando as manchetes <strong>de</strong> capa não apareciam, elas eram arranjadas.


Pegaram duas calotas <strong>de</strong> carro, colaram uma na outra e jogaram <strong>de</strong> cima do Penedo. Makoto<br />

fotografou e <strong>de</strong>ram como se um disco voador sobrevoasse Vitória. O Diário botou na capa com<br />

manchete em letras garrafais, como era <strong>de</strong> costume. Os jornais locais, O Globo, JB e outros também<br />

trabalharam o assunto.<br />

Até a Aeronáutica investigou. Três dias <strong>de</strong>pois, O Diário mostrou na primeira página o<br />

lendário Américo Rosa com as calotas <strong>de</strong>baixo do braço.<br />

Américo Rosa era um contínuo que trabalhava em O Diário.<br />

Conhecido por toda cida<strong>de</strong>, ele vivia cantando pelas ruas a música <strong>de</strong> Afonso Abreu “Os<br />

peixinhos do mar”. Ele dividia suas horas entre andar pelas ruas, pelo hospício Adauto Botelho<br />

e pela redação <strong>de</strong> O Diário. Fazia o café para os jornalistas em seu fogareiro a querosene. Os<br />

jornalistas dizem que o café era horrível, mas todos tomavam sem reclamar. Rosa parou <strong>de</strong> fazer<br />

o café quando ateou fogo <strong>no</strong> jornal e <strong>de</strong>struiu a redação. A salvação é que Edgar dos Anjos tinha<br />

feito o seguro do prédio poucos dias antes. Acredite se quiser: todos afirmam que o incêndio<br />

em momento tão propício teria sido pura coincidência.<br />

Tendo sempre em mente o lema <strong>de</strong> “ganhar pouco sim, mas se divertir”, os jornalistas sempre<br />

criavam histórias. Paulo Bonates diz que, certa vez, armou para cima <strong>de</strong> Renato Cascata.<br />

Percebendo que o amigo estava precisando <strong>de</strong> uma pauta, ligou para ele <strong>de</strong> outro telefone da<br />

redação. Bonates se i<strong>de</strong>ntificou como Kleber Andra<strong>de</strong>, presi<strong>de</strong>nte do time <strong>de</strong> futebol Rio Branco, e<br />

disse que em uma semana se realizaria um torneio em Vitória com o Flamengo, o <strong>Santo</strong>s <strong>de</strong> Pelé, o<br />

Milan da Itália, a Desportiva e o Rio Branco. Todos riam na redação, inclusive Ti<strong>no</strong>co, editor<br />

<strong>de</strong> Esportes, mas Renato não percebeu. No outro dia era matéria <strong>de</strong> capa com a seguinte manchete:<br />

“TORNEIO MONSTRO”.<br />

Kleber Andra<strong>de</strong> culpou o presi<strong>de</strong>nte da Desportiva, mas nada aconteceu. Esse fato seria<br />

justificativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão em qualquer outro jornal, mas tinha acontecido em O Diário.<br />

O jornal era feito por uma família, em todos os sentidos. Sabendo <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>ficiências, eles as<br />

compensavam com criativi- da<strong>de</strong> e diversão. Para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o jornal, não foram poucas as vezes em<br />

que empunharam armas. Paulo Maia contou que, certa vez, souberam que seriam “visitados” pelos<br />

seguranças do então governador Carlos Lin<strong>de</strong>nberg, pois ele não estaria satisfeito com as<br />

esculhambações diárias que sofria do jornal. Quando os carros dos capangas do governador


chegaram, alguém que estava escondido gritou: “Não <strong>de</strong>sce que morre”. Os carros <strong>de</strong>sceram a<br />

la<strong>de</strong>ira próxima a O Diário em alta velocida<strong>de</strong>. Até hoje, não se sabe quem gritou. O fato foi<br />

comemorado como uma vitória em campo <strong>de</strong> batalha. Não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser.<br />

O hábito <strong>de</strong> andar armado para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r dos atentados era tão comum que são inúmeras as<br />

histórias a esse respeito. Paulo Bonates conta que um <strong>de</strong>legado chamado Barreto, que<br />

também trabalhava na redação <strong>de</strong> O Diário, levou uma bala <strong>de</strong> festim e <strong>de</strong>u um tiro <strong>de</strong>ntro da<br />

redação. Fernando Jakes Teubner, o Jakaré, caiu e gritou: “Tô ferido, tô ferido”. Estes e outros<br />

casos <strong>de</strong> tiros aci<strong>de</strong>ntais são lembrados por quem participou <strong>de</strong> O Diário.<br />

Outra área <strong>de</strong> bastante trabalho <strong>no</strong> jornal foi a <strong>de</strong> horóscopo.<br />

Jornalistas como Carmélia Maria <strong>de</strong> Souza e outros escreviam para ela. Nada <strong>de</strong> esotérico, e<br />

sim pura criativida<strong>de</strong>. Rogério Me<strong>de</strong>iros registrou que Edgard dos Anjos sempre exigia que o<br />

único carro da redação fosse levar o jornal na sua casa todos os dias, até que se <strong>de</strong>scobriu que era<br />

para sua empregada, que lia apenas o horóscopo e seguia à risca suas instruções. Daí então os<br />

jornalistas começaram a enviar mensagens diretas e <strong>no</strong>minais para a empregada. O “horóscopo”<br />

mandava pedir aumento, falando que o patrão era <strong>de</strong>sonesto com ela, para não obe<strong>de</strong>cê-lo e<br />

muito mais. Até que Edgard acabou com o horóscopo do jornal.<br />

Beber e fumar não se restringia aos botecos como o Britz Bar.<br />

Até mesmo <strong>de</strong>ntro dos jornais o hábito era freqüente. Segundo Paulo Maia, para acompanhar<br />

as biritas e o carteado, sempre caçavam um tira-gosto. O mais freqüente era carne <strong>de</strong> gato.<br />

Os feli<strong>no</strong>s eram atraídos com peque<strong>no</strong>s pedaços <strong>de</strong> carne e alguém os acertava com uma das peças<br />

da gráfica, mais especificamente com o brete da impressora, um ca<strong>no</strong> grosso <strong>de</strong> ferro. O<br />

preparo ficava por conta <strong>de</strong> Dequinha, outra figura folclórica do jornal, que cozinhava e pendurava<br />

a cabeça do bicho em um poste próximo à redação. Enquanto preparavam o jornal, serviam-se <strong>de</strong><br />

carne <strong>de</strong> gato. Certa vez, o governador Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar chegou justamente na hora que<br />

o bicha<strong>no</strong> era feito. Questio<strong>no</strong>u o que seria e falou que se o pessoal <strong>de</strong> O Diário comia gato, ele<br />

também comeria. Prepararam seu pratinho com pirão e ele se satisfez bebendo um vinho. Ao sair,<br />

brincou: “Eles pensam que me enganam. Vê se isso é gato...”. Foi então que alguém lhe apontou a<br />

cabeça do gato pendurada <strong>no</strong> poste.


O tira-gosto <strong>de</strong> gato não durou muito tempo em O Diário. Dequinha, por azar, matou a gata<br />

angorá <strong>de</strong> uma vizinha do jornal.<br />

Quando viu a cabeça do gato pendurada, a mulher <strong>de</strong>smaiou. A Polícia foi acionada e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então, foi proibido comer gato <strong>no</strong> jornal.<br />

Todas essas características se refletiam <strong>no</strong> produto final. Quando, em 1969, a ditadura militar<br />

chegava a seu auge, por meio do AI 5, Antônio <strong>de</strong> Pádua Gurgel voltava a Vitória, cida<strong>de</strong><br />

provinciana, e verificava que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto, existia esse jornal que fugia aos padrões do seu<br />

tempo, estando na vanguarda do <strong>jornalismo</strong> capixaba.<br />

Gurgel relata que observou uma manchete que lhe chamou a atenção: “EU NÃO<br />

SEQUESTREI O EMBAIXADOR ALEMÃO, SÓ O AMERICANO”. Era uma manchete que<br />

cobria quase meta<strong>de</strong> da primeira página do jornal e lançava uma entrevista exclusiva com Franklin<br />

Martins, até então na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>.<br />

Essa matéria estimularia Gurgel a posteriormente organizar o livro “O Diário da Rua Sete –<br />

40 versões <strong>de</strong> uma paixão”.<br />

Britz Bar: uma extensão <strong>de</strong> O Diário<br />

Depois <strong>de</strong> “tediosos” dias <strong>de</strong> trabalho, nada mais merecido do que um pouco <strong>de</strong> diversão. Os<br />

jornalistas <strong>de</strong> todos os principais jornais <strong>de</strong> Vitória sempre se reuniam <strong>no</strong> Britz Bar. Era como uma<br />

extensão das redações, principalmente a <strong>de</strong> O Diário, que ficava pertinho do bar. Di<strong>no</strong> Gracio disse<br />

que o Britz “era o centro boêmio-pensante da cida<strong>de</strong>”. Tanto é verda<strong>de</strong> que Milson Henriques, em<br />

O Diário, criou a tirinha Britiznics, segundo ele, “uma homenagem à patota <strong>de</strong> jornalistas,<br />

intelectuais (falsos ou não), boêmios, artistas, esquerdistas e zoneiros em geral que freqüentavam o<br />

saudoso Britz Bar”.<br />

Muitos jornalistas, ao falarem <strong>de</strong> O Diário, lembram <strong>de</strong>sse bar.<br />

Rosental Calmon Alves disse que guardaria seu primeiro salário.<br />

“Mas aí, passei <strong>no</strong> Britz e gastei”. Gerson Camata lembrou que “trabalhava o dia todo e pela<br />

madrugada <strong>de</strong>scia para o Britz”.


Aquele bar não era só para tomar cachaça e fumar, pois isto não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser feito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

O Diário. Era nele que os jornalistas se encontravam com os amigos <strong>de</strong> outras redações e sabiam<br />

o que seria publicado <strong>no</strong> outro dia, quem daria furo <strong>no</strong> concorrente.<br />

Camata ainda recorda <strong>de</strong> Milson Henriques <strong>de</strong>senhando o Britznics <strong>de</strong>ntro do Bar.<br />

Na ditadura, os censores proibiam os jornais <strong>de</strong> veicularem certos assuntos, muitos <strong>de</strong>les<br />

<strong>de</strong>sconhecidos pelos próprios jornalistas.<br />

Ao perceberem que po<strong>de</strong>riam informar <strong>de</strong> outra forma, criaram o jornal mural <strong>de</strong>ntro do Britz,<br />

em 1974, e lá publicavam <strong>de</strong> tudo. Hely Edson, que trabalhou como editor <strong>de</strong> Internacional <strong>de</strong> O<br />

Diário, disse: “Era uma coisa muita divertida, porque o Paru, do<strong>no</strong> do Britz, fez uma redação pra<br />

gente lá, botou máquina <strong>de</strong> escrever <strong>no</strong> Bar. A gente chegava lá, tomava todas, escrevia o que<br />

queria e pregava <strong>no</strong> mural”. A Polícia <strong>de</strong>scobriu, cercou o quarteirão e levou todo mundo para o<br />

quartel <strong>de</strong> Vila Velha. A partir <strong>de</strong> então, o censor visitaria freqüentemente o Britz Bar.<br />

O Britz ficava na Rua Gama Rosa, próximo à Igreja do Carmo e ao Colégio Nacional. Com a<br />

mudança <strong>de</strong> eixo do Centro <strong>de</strong> Vitória para as periferias, por volta do início da década <strong>de</strong> 1980, o<br />

bar não agüentou e fechou as suas portas. Ele abriu posteriormente na Praia do Canto, mas também<br />

não foi para frente. Jairo Brito, ex-redator <strong>de</strong> Cultura do “maior jornal da Rua Sete”, diz que o Britz<br />

“lembra aquelas ilhas da Polinésia, sempre com farto material à disposição <strong>de</strong> antropólogos em<br />

busca <strong>de</strong> teses”.


Referências bibliográficas<br />

GURGEL, Antônio <strong>de</strong> Pádua. O Diário da Rua Sete: 40 versões <strong>de</strong> uma paixão. Vitória: Contexto Jornalismo &<br />

Assessoria Ltda, 1998.<br />

Entrevistas<br />

Antônio <strong>de</strong> Pádua Gurgel – Jornalista, em 22 set. 2005, aos autores.<br />

Marien Calixte – Jornalista, em 29 set. 2005, a Thiago Dal Col.<br />

Milson Henriques – Chargista, em 30 set. 2005, a Ronald Alves.<br />

Ti<strong>no</strong>co dos Anjos – Jornalista, em 07 out. 2005, a Vitor Bourguig<strong>no</strong>n.


Ponto <strong>de</strong> partida<br />

Jornal da Cida<strong>de</strong><br />

Kênia Freitas<br />

Uma pilha <strong>de</strong> jornais dobrados, amarrados e empacotados em uma estante escondida e<br />

abarrotada da Biblioteca Pública Estadual.<br />

Em 2005, estes são os exemplares do extinto Jornal da Cida<strong>de</strong>.<br />

Estão ali guardadas, sem precisão cro<strong>no</strong>lógica, praticamente todas as edições <strong>de</strong> 1985 até<br />

1992, a<strong>no</strong> <strong>de</strong> seu fechamento. São oito páginas impressas na li<strong>no</strong>tipo com chumbo <strong>de</strong>rretido


(agora artigo <strong>de</strong> museu ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração, como na porta da Re<strong>de</strong> Gazeta), o que explica sua evi<strong>de</strong>nte<br />

baixa qualida<strong>de</strong> visual.<br />

É <strong>de</strong>safiador o exercício <strong>de</strong> imaginar que aquelas páginas agora mofadas já foram um jornal<br />

vibrante. Na capa <strong>de</strong> algumas edições, está até estampado um orgulhoso: “segundo jornal mais lido<br />

da Gran<strong>de</strong> Vitória”. O jeito é seguir o conselho da bibliotecária e usar máscara e luva, para<br />

<strong>de</strong>scobrir um capítulo da história da imprensa capixaba que se escon<strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> tanta sujeira.<br />

O jornal chapa branca da ditadura<br />

O Jornal da Cida<strong>de</strong> começou a circular em 1972; primeiro, como um semanário, mas logo<br />

ganhando a periodicida<strong>de</strong> diária. Seus proprietários, Djalma Juarez Magalhães e sua esposa Maria<br />

Nilce dos <strong>Santo</strong>s Magalhães, compraram o que era então o Jornal O Debate.<br />

Fundado por <strong>de</strong>putados do MDB, O Debate era dirigido por Carlito Von Schilgen. Sua<br />

proposta era fazer oposição ao então governador biônico Christia<strong>no</strong> Dias Lopes. Não <strong>de</strong>u certo.<br />

Foi entregue ao radialista Oswaldo Oleari e, duramente reprimido pela ditadura militar, o jornal<br />

fechou, sendo comprado por Djalma e Maria Nilce, recém-saídos <strong>de</strong> A Tribuna. “O Debate<br />

estava falido, então nós o compramos, sem dinheiro, sem nada”, explica Djalma Magalhães.<br />

A aquisição do Jornal da Cida<strong>de</strong> pelo casal aconteceu após um racha com o jornal A Tribuna,<br />

<strong>de</strong>pois que este foi comprado pelo industrial João <strong>Santo</strong>s. “Antes, eu dirigia o jornal e Maria<br />

Nilce era colunista social. Mas fomos <strong>de</strong>mitidos por pressões políticas e <strong>de</strong> membros da alta<br />

socieda<strong>de</strong>, inconformados com <strong>no</strong>sso posicionamento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte como jornalistas”, completa<br />

Magalhães.<br />

Diversos jornalistas passaram pelo jornal em suas duas décadas <strong>de</strong> existência: Xerxes Gusmão<br />

Neto, Carmélia Maria <strong>de</strong> Souza, Rubinho Gomes, Amylton <strong>de</strong> Almeida, Zuleika Savig<strong>no</strong>n,<br />

César Viola, entre outros citados <strong>no</strong>stalgicamente pelo proprietário.<br />

Fundado em ple<strong>no</strong> regime militar, o jornal seguiu uma linha editorial <strong>de</strong>claradamente<br />

conservadora. “O jornal era muito direitista.<br />

Até porque o Djalma era ligado aos militares. Foi como ele angariou alguns fundos para<br />

começar o jornal”, diz Zuleika Savig<strong>no</strong>n, que trabalhou na redação <strong>de</strong> 1985 até 1989. “Então, eu fui


chamada junto com o Gracia<strong>no</strong> Dantas, para dar um toque mais <strong>de</strong>mocrático e leve ao jornal. Ele<br />

mantinha o seu editorial assinado que era conservador e nós fazíamos uma outra linha”, lembra<br />

Zuleika. Para Djalma, essa questão era simples: “O jornal não apoiava a oposição que se fazia na<br />

época. Até porque, se apoiasse, não teria como sobreviver, como O Debate não sobreviveu”.<br />

Estrutura e <strong>de</strong>sestruturas<br />

A redação funcio<strong>no</strong>u em vários lugares. Quando o jornal fechou, em 1992, a se<strong>de</strong> era na César<br />

Hilal, <strong>no</strong> Largo das Compras.<br />

Muitos jornalistas tiveram passagem relâmpago por sua redação, até porque os salários eram<br />

pagos semanalmente, <strong>de</strong>squalificando um vínculo empregatício. Segundo Zuleika Savig<strong>no</strong>n,<br />

eram poucos os jornalistas contratados. Dois na redação e mais alguém que cobria a Polícia. No<br />

começo, Djalma Magalhães escrevia praticamente todo o jornal sozinho. O resto era <strong>de</strong><br />

colaboradores.<br />

Maria Nilce escrevia sua coluna em seu escritório e mandava o motorista levar. “As pessoas<br />

que trabalhavam lá não tinham certos direitos, como férias e décimo terceiro. Nós da redação<br />

recebíamos tipo free lancer”, explica Zuleika Era <strong>no</strong>toriamente um jornal muito pobre tecnicamente<br />

e sem recursos. A composição <strong>de</strong> texto era do tipo caixa, as fotos eram em clichê e o jornal só tinha<br />

uma cor. “Ele era feio. O formato <strong>de</strong> diagramação era muito provincia<strong>no</strong>. Não tinha um layout<br />

afinado com a época. Não era nem diagramado, ele era composto à mão”, recorda Álvaro Nazaré,<br />

contratado para mudar, repensar sua composição.<br />

Nessa época, Djalma Magalhães tinha adquirido uma li<strong>no</strong>tipo, uma máquina obsoleta que já<br />

havia sido substituída pela fotocomposição. Mas, para o Jornal da Cida<strong>de</strong>, foi um avanço.<br />

Maria Nilce tinha o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer o jornal em off-set. Sendo a diretora financeira da<br />

publicação, ela conversou com diversos jornalistas para tentar implementar a mudança. “Ou por<br />

bem ou por mal ela botava o dinheiro lá <strong>de</strong>ntro. Principalmente <strong>de</strong>pois que o regime militar acabou,<br />

porque o Djalma ficou sem as rendas que ele tinha”, explica Zuleika. Sendo o dínamo do jornal<br />

em termos financeiros, Maria Nilce fazia ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s especiais, lançava livros, para angariar fundos<br />

para o jornal. Mas a mudança nunca aconteceu <strong>de</strong> fato.


Segundo Antônio Moreira, que começou a trabalhar <strong>no</strong> jornal em 1974, fazendo fotos para o<br />

jornal e para Maria Nilce, o Jornal da Cida<strong>de</strong> não tinha estrutura. “Não havia sócios. Era um<br />

jornal do Djalma e da Maria Nilce. Vivia <strong>de</strong> anúncios e assinaturas que a Maria Nilce arranjava, e<br />

dos bons relacionamentos políticos do Djalma. Não entrava nenhum dinheiro além disso”,<br />

afirma Moreira. “Tinha só um carro para fazer tudo: entrega, cobranças, levar material, etc. Não<br />

tinha um carro <strong>de</strong> reportagem, os jornalistas tinham que se virar. O jornal não tinha uma equipe na<br />

rua, só fazia cobertura em ocasiões especiais. No conteúdo, era um jornal ou fofoqueiro ou <strong>de</strong><br />

fofoca política”, continua Moreira.<br />

A falta <strong>de</strong> estrutura não parava por aí. Tânia Trento e Marilda Rocha, que trabalharam na<br />

seção <strong>de</strong> Polícia do jornal, contam que só iam à redação para receber. Seus textos eram escritos<br />

em uma salinha <strong>de</strong> imprensa na Polícia Civil e entregues diretamente na oficina em Santa Cecília,<br />

on<strong>de</strong> o jornal era impresso, sem revisão <strong>no</strong> texto. “Não tinha estrutura nenhuma. Não tinha pauteiro.<br />

Ninguém me ligava pedindo nada. O que eu escrevesse era o que saía. Era eu quem<br />

<strong>de</strong>terminava o que ia fazer”, comenta Tânia.<br />

Essa seção ficava na última das oito páginas que possuía o periódico.<br />

Às vezes, ocupava a página inteira, outras, a meta<strong>de</strong>. “Se eu escrevesse duas páginas, davam<br />

duas páginas. Mas eu não fazia isso, porque ganhava muito pouco. Parecia um estágio em<br />

que ninguém tomava conta <strong>de</strong> você”, diverte-se Tânia. “Nosso salário era a terça parte do salário <strong>de</strong><br />

A Tribuna na época. E a gente ainda recebia por semana, ou seja, não tinha vínculos”,<br />

completa Marilda Rocha.<br />

Hilmar <strong>de</strong> Jesus foi repórter da seção <strong>de</strong> Polícia <strong>no</strong> início dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70. “A rotina não era nada<br />

saudável. Devido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> repórteres, teve até um período em que fiz uma reportagem<br />

<strong>de</strong> futebol. Havia dias em que, além <strong>de</strong> escrever a minha parte, tinha também <strong>de</strong> datilografar a<br />

coluna <strong>de</strong> Maria Nilce na máquina Olivetti.<br />

Lembro que até corrigia algumas palavras que ela escrevia errado”, recorda-se Hilmar.<br />

O repórter foi o responsável por um furo memorável <strong>no</strong> caso Araceli que o jornal <strong>de</strong>u <strong>no</strong>s<br />

concorrentes, ainda em seu início.<br />

“Era março <strong>de</strong> 1972. Recordo-me que cheguei na Chefatura <strong>de</strong> Polícia por volta das 14 horas.<br />

Como tinha apenas 17 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os repórteres <strong>de</strong> A Gazeta e A Tribuna não me davam im-


portância. Foi quando a mãe <strong>de</strong> Araceli chegou <strong>de</strong>sesperada para pedir ajuda à Polícia, porque a<br />

filha <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve <strong>a<strong>no</strong>s</strong> havia <strong>de</strong>saparecido.<br />

Eu estava aguardando <strong>no</strong> corredor do segundo andar, on<strong>de</strong> funcionava o gabinete do chefe da<br />

Polícia, e, percebendo o <strong>de</strong>sespero da mãe, pedi que lhe <strong>de</strong>ssem priorida<strong>de</strong> na atenção. Ao observar<br />

a foto da menina <strong>de</strong>saparecida, pedi ao chefe da Polícia para publicá-la <strong>no</strong> Jornal da Cida<strong>de</strong>. Sete<br />

dias <strong>de</strong>pois, o corpo <strong>de</strong> Araceli foi encontrado nas matas do Hospital Infantil”, recorda Hilmar.<br />

O jornal <strong>de</strong> Maria Nilce<br />

Não é raro, ainda hoje, ouvir o Jornal da Cida<strong>de</strong> sendo chamado <strong>de</strong> “o jornal <strong>de</strong> Maria Nilce”.<br />

Nada mais natural, já que era sua polêmica coluna social que movimentava e sustentava o<br />

periódico, e foi o seu assassinato brusco que marcou <strong>de</strong>finitivamente a história da publicação. Tanto<br />

quanto sua coluna diária, Maria Nilce era contraditória e polêmica: admirada, <strong>de</strong>testada,<br />

temida, invejada por muitos. “Todo mundo que comprava o Jornal da Cida<strong>de</strong>, a primeira coisa que<br />

ia ler era a coluna <strong>de</strong>la. E ali acabava o jornal”, explica Tânia Trento.<br />

Moradora <strong>de</strong> Fundão dos Índios, uma pequena cida<strong>de</strong> do interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, Maria<br />

Nilce estava <strong>no</strong>iva quando começou a enviar cartas para o jornalista Djalma Magalhães, <strong>de</strong> A<br />

Tribuna, em Vitória. Os dois acabaram se casando. Maria Nilce tinha 18 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e ele, 31. Djalma a<br />

levou para trabalhar <strong>no</strong> jornal. Ela atuou como colunista social até ser <strong>de</strong>spedida. Djalma seguiu os<br />

passos da mulher e saiu <strong>de</strong> A Tribuna.<br />

“Enquanto Djalma escrevia para agradar aos militares, Maria Nilce escrevia para fazer a vida<br />

<strong>de</strong>la”, afirma Zuleika. E, com um estilo cada vez mais agressivo, a coluna <strong>de</strong> Maria Nilce <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo<br />

jornal logo a tor<strong>no</strong>u conhecida. Ela era constantemente acusada <strong>de</strong> usar sua coluna para chantagear<br />

os que se recusavam a publicar anúncios. Seus comentários maldosos e preconceituosos geravam<br />

diversas rixas e <strong>de</strong>safetos, assim como suas reações exageradas nas relações pessoais. Devido a esse<br />

comportamento, passou a ser vista com restrições pelos <strong>de</strong>mais jornalistas e com ressentimento por<br />

membros da socieda<strong>de</strong> capixaba.<br />

“Era Maria Nilce. Na época, havia dois colunistas sociais: Heraldo Brasil e Maria Nilce.<br />

Depois, ela foi tomando o público e ficou só Maria Nilce, o tempo todo. O jornal era a coluna


<strong>de</strong>la, fofoqueira o tempo todo”, conta Milson Henriques, que fez algumas crônicas como<br />

colaborador para o jornal. Milson lembra também que ela mandava o jornal <strong>de</strong> graça para os<br />

escritórios, on<strong>de</strong> os funcionários o disputavam para ler fofocas dos patrões.<br />

Eram jocosamente mencionadas <strong>no</strong> “jornal <strong>de</strong> Maria Nilce”<br />

as roupas <strong>de</strong> mulheres e os casos amorosos <strong>de</strong> integrantes da alta socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória. “A<br />

socieda<strong>de</strong> capixaba era composta <strong>de</strong> ricos que vieram <strong>de</strong> baixo, muitos através <strong>de</strong><br />

enriquecimento ilícito. Então, eles não tinham o hábito <strong>de</strong> ser ricos. E, quando faziam festas ou<br />

eventos sociais, cometiam muitos erros, e Maria Nilce criticava isso. Essas pessoas foram ficando<br />

feridas e queriam acabar com o jornal para acabar com essas críticas. Além disso, havia esses<br />

elementos do crime organizado que ela criticava”, afirma Djalma Magalhães.<br />

Leitura obrigatória<br />

Na época, existiam A Gazeta, A Tribuna, O Diário e o Jornal da Cida<strong>de</strong>. O jornal era lido por<br />

toda a socieda<strong>de</strong> capixaba. Tinha uma gran<strong>de</strong> repercussão por causa da imprevisível coluna<br />

<strong>de</strong> Maria Nilce, que, aliás, tinha um público fiel. “Ela era da socie- da<strong>de</strong>, ia a todos os coquetéis e<br />

escrevia umas <strong>no</strong>tas picantes que a colocavam inclusive na berlinda <strong>de</strong> vez em quando”,<br />

afirma Tânia. Vendido nas bancas, o jornal também estava disponível em vários locais, como a<br />

Assembléia Legislativa, consultórios e outros pontos “importantes” da cida<strong>de</strong>. Os órgãos públicos e<br />

o aeroporto também recebiam.<br />

“O jornal era lido pelos inimigos <strong>de</strong>la – que liam para saber se ela havia falado mal <strong>de</strong>les – e<br />

pelos assinantes, que tinham <strong>de</strong> fazer assinatura por livre e espontânea pressão. A venda era<br />

muito pequena”, ironiza Zuleika. Ainda assim, sua tiragem era quase irrisória – até porque papel era<br />

um luxo caro para um jornal <strong>de</strong> parcos recursos. “Uns diziam que as pessoas assinavam o jornal por<br />

medo <strong>de</strong> a Maria Nilce atacar. Eu não sei. Porque ela tinha um bom relacionamento com todo<br />

mundo. E ela corria atrás”, contesta Moreira. Segundo ele, o <strong>no</strong>ticiário do jornal era a coluna <strong>de</strong><br />

Maria Nilce, com suas uma ou duas páginas diárias. Fora isso, só algum editorial do Djalma e a<br />

seção <strong>de</strong> Polícia. “Por causa da coluna, o jornal cresceu, mesmo ainda sendo peque<strong>no</strong>, e chegou a<br />

ser o segundo mais lido”, afirma Moreira.


A interrupção abrupta<br />

Maria Nilce dos <strong>Santo</strong>s Magalhães foi assassinada a tiros em 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1989, aos 48 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>,<br />

diante da Aca<strong>de</strong>mia Corpo e Movimento, na Rua Aleixo Neto, Praia do Canto, em Vitória, entre<br />

6h45 e 7h. Ela chegou <strong>de</strong> carro em companhia <strong>de</strong> sua filha.<br />

Quando saiu do veículo, um homem apontou uma arma para sua nuca. A arma não disparou.<br />

Ela entrou em um ônibus na parada em frente à aca<strong>de</strong>mia. O assassi<strong>no</strong> a seguiu e disparou<br />

quatro tiros, <strong>de</strong>ntro do ônibus. Três atingiram Maria Nilce, que chegou morta ao Hospital das<br />

Clínicas.<br />

Várias hipóteses foram cogitadas como causa <strong>de</strong> sua morte.<br />

Chegou-se a pensar, naquela época, que ela tinha sido assassinada como uma forma <strong>de</strong><br />

intimidar o gover<strong>no</strong> Max Mauro, que começava a repreen<strong>de</strong>r o crime organizado <strong>no</strong> Estado. Outra<br />

hipótese <strong>de</strong>rrubada pelas investigações é que ela teria sido assassinada a mando <strong>de</strong> uma família<br />

tradicional <strong>de</strong> Vitória, porque fazia chacota da esposa <strong>de</strong> um dos seus membros. Além das fofocas<br />

que mexiam com a sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inúmeras pessoas, houve ameaças da colunista <strong>de</strong> revelar os<br />

<strong>no</strong>mes <strong>de</strong> policiais ligados aos crimes <strong>de</strong> mando e também ao tráfico <strong>de</strong> drogas.<br />

Antes <strong>de</strong> sair do Jornal da Cida<strong>de</strong>, a jornalista Zuleika Savig<strong>no</strong>n recomendou a Djalma<br />

Magalhães que ele olhasse a coluna <strong>de</strong> Maria Nilce com mais cuidado. “Eu costumava mudar ou<br />

tirar algumas ofensas que ela fazia. Mesmo sabendo que <strong>no</strong> outro dia ela iria brigar comigo, já que a<br />

coluna era assinada por ela e ela se garantia. Mesmo assim eu tirava, porque ela expunha muito<br />

a vida particular das pessoas. Eu achava terrível”, conta Zuleika.<br />

As <strong>no</strong>tas cortadas eram sempre repetidas <strong>no</strong>s dias seguintes pela colunista na tentativa <strong>de</strong> furar<br />

o bloqueio. “Eu avisei a ele que Maria Nilce po<strong>de</strong>ria morrer porque estava <strong>de</strong>mais. E<br />

aconteceu”, lembra Zuleika.<br />

“De repente, <strong>no</strong> período em que eu era secretário <strong>de</strong> Segurança do gover<strong>no</strong> Max Mauro, houve<br />

o assassinato <strong>de</strong>la. Foi um crime <strong>de</strong> mando, com todas as características. O crime da Maria Nilce foi<br />

um crime bárbaro e covar<strong>de</strong>”, conta o coronel Luiz Sérgio Aurich. Para o coronel, Maria Nilce foi<br />

assassinada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma prepotência do crime <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, que a matou <strong>no</strong> meio da rua.<br />

“Na época, nós fizemos um jogo <strong>de</strong> estratégia para colocar a Polícia Fe<strong>de</strong>ral na apuração do crime,


já que a Polícia do Estado, naquela época, principalmente a Polícia Civil, tinha comprometimento<br />

muito forte com pessoas que figuravam como suspeitos, autores intelectuais ou mandantes do<br />

crime”, explica Aurich. O crime foi apurado pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral. O pro- motor Gilberto Fabia<strong>no</strong><br />

Tosca<strong>no</strong> <strong>de</strong> Mattos elaborou um relatório com base <strong>no</strong> inquérito da Polícia Fe<strong>de</strong>ral e disse que o<br />

crime teve como mandante José Alayr Andreatta, que teria contratado seu amigo pessoal, Romualdo<br />

Eustáquio da Luz Faria, conhecido como “Japonês”, para matar Maria Nilce. Eustáquio<br />

chamou para a missão o pistoleiro José Sasso, que convocou o policial César Narcizo da Silva para<br />

executar o crime. Segundo as apurações, foi o próprio Sasso quem disparou os tiros que<br />

mataram Maria Nilce. A arma <strong>de</strong> César Narcizo, que era o encarregado <strong>de</strong> matá-la, não funcio<strong>no</strong>u.<br />

“O intermediário do crime era o Andreatta e os mandantes não foram indicados porque, apesar <strong>de</strong><br />

ter sido provado que o intermediário participou do pagamento da viagem dos crimi<strong>no</strong>sos, ele nunca<br />

confessou a autoria e nunca indicou quem lhe teria pagado para isso. A tese que foi composta e que<br />

justificava o assassinato é <strong>de</strong> que Maria Nilce teve informações privilegiadas sobre algumas<br />

negociatas aqui do Estado.<br />

E sinalizou que queria publicar <strong>no</strong> seu jornal”, completa Aurich.<br />

Segundo o coronel, ela estava sendo ameaçada e ficou apavorada, intimidada e não conseguiu<br />

<strong>de</strong>nunciar.<br />

O inquérito comprovou que seu assassinato foi realmente fruto do crime organizado <strong>no</strong><br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. “Na época, eles diziam que não havia crime organizado, que era invenção da gente.<br />

Agora, ficou provado que nós falávamos a verda<strong>de</strong>. Existia não só <strong>no</strong> mundo empresarial, como na<br />

Justiça, <strong>no</strong> Gover<strong>no</strong>, nas duas Polícias”, afirma Djalma. “Não é fácil, até hoje, lutar contra o<br />

crime organizado, contra o tráfico <strong>de</strong> drogas, contrabando, frau<strong>de</strong>s. É difícil porque quem luta não<br />

tem dinheiro e eles têm até <strong>de</strong>mais, para pagar não só quem faz os crimes, mas também para<br />

encobrilos”, indigna-se.<br />

“Era um <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> diferente do atual. Hoje, um crime como o <strong>de</strong>la teria outro tipo <strong>de</strong><br />

repercussão. Naquela época, na socieda<strong>de</strong>, não houve muita indignação. A socieda<strong>de</strong> não teve o<br />

comprometimento emocional que <strong>de</strong>veria ter tido. Eu acho que, hoje, a socieda<strong>de</strong> se indignaria mais<br />

com o assassinato <strong>de</strong>la”, pon<strong>de</strong>ra Aurich. Até porque os diversos <strong>de</strong>safetos <strong>de</strong> Maria<br />

Nilce procuraram <strong>de</strong>squalificá-la. Dizia-se que ela traía o marido, que ela era <strong>de</strong>sonesta, que ela


estava extorquindo os outros. “Era uma época terrível. Eram cometidos crimes absurdos. Não<br />

tem só o <strong>de</strong> Maria Nilce, tem vários”, concorda Djalma.<br />

Apesar <strong>de</strong> as provas <strong>no</strong> caso do assassinato <strong>de</strong> Maria Nilce serem materiais – pren<strong>de</strong>ram José<br />

Sasso, localizaram a arma, recuperaram a toca ninja que ele usava com seus cabelos <strong>de</strong>ntro, fizeram<br />

perícia –, o caso nunca foi a julgamento. “Na época, envolveu-se o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sembargador e<br />

isso nunca mais foi à frente na Justiça. Virou crime insolúvel, mas, na verda<strong>de</strong>, ele foi solucionado.<br />

Esse processo me parece que é um <strong>de</strong>sses que estão aí nas prateleiras do Po<strong>de</strong>r Judiciário. Em 2009,<br />

ele vai para o espaço. Não é difícil ele estar parado por causa disso”, diz Aurich.<br />

Após o crime, a família se <strong>de</strong>sestruturou. Maria Nilce era uma mulher forte, <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>.<br />

Seu marido era uma pessoa mais pacata. “A <strong>no</strong>ssa luta era esta. Foi um erro pelo qual nós<br />

pagamos, mas do qual eu não me arrependo. Ela foi assassinada por causa disso. Ninguém foi<br />

punido pelo crime, porque houve um complô da socieda<strong>de</strong>, do Gover<strong>no</strong>, da Polícia e da Justiça.<br />

Agora a Scu<strong>de</strong>rie Le Cocq foi fechada. Mas isso custou a vida <strong>de</strong>la, a minha ruína e a da<br />

minha família. Porque até hoje eu estou pagando”, <strong>de</strong>sabafa Djalma. Após o crime, ele<br />

continuou recebendo ameaças e chegou a ser aconselhado por um membro da organização Scu<strong>de</strong>rie<br />

Detetive Le Cocq a sair da cida<strong>de</strong>, caso contrário também seria assassinado.<br />

O inevitável fim<br />

O Jornal da Cida<strong>de</strong> já havia sofrido represálias por suas publicações.<br />

No dia 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1975, a Polícia Civil apreen<strong>de</strong>u toda a edição do jornal, a pedido da<br />

Polícia Fe<strong>de</strong>ral, aten<strong>de</strong>ndo a <strong>de</strong>terminação da chefia em Brasília. A solicitação foi feita<br />

pelo governador Elcio Álvares, alegando que a edição do jornal continha “ataques à pessoa do<br />

governador e à sua família”. Djalma contestou a informação, <strong>de</strong>stacando que o jornal trazia um<br />

editorial criticando apenas o jornalista Esdras Leo<strong>no</strong>r, secretário-particular do governador. “O<br />

Djalma sempre foi ligado ao Gover<strong>no</strong>, aos militares. O único relacionamento que ele não teve bem<br />

foi com o gover<strong>no</strong> Élcio Álvares. Era uma briga <strong>de</strong> Maria Nilce.<br />

Nessa época, o Gover<strong>no</strong> do Estado não dava nenhum dinheiro em publicida<strong>de</strong> para o Jornal da<br />

Cida<strong>de</strong> e coagia as empresas a também não darem”, relata Antônio Moreira.


Em 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1983, uma bomba explodiu na redação.<br />

Maria Nilce culpou Carlos Guilherme Lima, então presi<strong>de</strong>nte do Banco do Estado do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong> (Banestes), pelo inci<strong>de</strong>nte. E ele a acusou <strong>de</strong> querer se beneficiar do seguro. Os dois se<br />

<strong>de</strong>senten<strong>de</strong>ram quando ele se negou a colocar publicida<strong>de</strong> ou fazer assinatura do periódico. Maria<br />

Nilce, então, publicou uma <strong>no</strong>ta <strong>no</strong> jornal dizendo que o balanço econômico do Banestes havia<br />

sido adulterado para mostrar lucro fictício. Ele acio<strong>no</strong>u o Ministério Público e a colunista foi<br />

obrigada a se retratar.<br />

“Quando Maria Nilce faleceu, tudo acabou <strong>de</strong> repente. O Djalma só com a política, só com a<br />

parte <strong>de</strong>le, não segurava o jornal.<br />

A família ficou <strong>de</strong>sestruturada. E eles tiveram que parar com o jornal”, lembra Moreira. A<br />

filha do casal, Milla, tentou escrever uma coluna <strong>no</strong> jornal, mas não prosseguiu na ativida<strong>de</strong>. A<br />

situação da família ficou insustentável eco<strong>no</strong>micamente. Sem anunciantes, com o medo instalado<br />

entre a família e os empregados, o Jornal da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> funcionar. Muito abalado<br />

psicologicamente, Djalma Magalhães passou um tempo fora do Estado, cuidando da saú<strong>de</strong>.<br />

“Mataram Maria Nilce e fecharam o jornal, porque eu não suportei. Tentaram me matar duas vezes<br />

<strong>de</strong>pois que ela morreu. Não existe mais, acabou tudo. Ficou só a história do jornal”, diz.<br />

Além da morte <strong>de</strong> Maria Nilce, outro fator foi <strong>de</strong>terminante para a <strong>de</strong>cadência do jornal: sua<br />

<strong>de</strong>fasagem tec<strong>no</strong>lógica. O jornal nunca acompanhou os investimentos dos <strong>de</strong>mais periódicos e sua<br />

inferiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impressão se tornava cada vez mais gritante.<br />

Era necessária uma substituição do parque gráfico, e não apenas <strong>de</strong> um equipamento. Era um<br />

investimento muito alto. “A concorrência tinha avançado <strong>de</strong>mais. O único jeito era se ele<br />

encontrasse um grupo investidor muito po<strong>de</strong>roso. Aí, já era coisa <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dólares”, afirma o<br />

jornalista Álvaro Nazaré. Mas, com o fim <strong>de</strong> seu principal, quiçá único atrativo, a coluna <strong>de</strong> Maria<br />

Nilce, esse tipo <strong>de</strong> investimento ficou fora <strong>de</strong> cogitação.<br />

No entanto, antes <strong>de</strong> fechar <strong>de</strong>finitivamente, o jornal ainda teve sua <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira aventura: o<br />

fotógrafo Antônio Moreira, ex-funcionário e amigo <strong>de</strong> Djalma Magalhães, tentou manter o Jornal<br />

da Cida<strong>de</strong> funcionando. “Eu conversei com o Djalma e ele passou o jornal para mim. Era o Jornal<br />

da Cida<strong>de</strong> Promoção Publicida<strong>de</strong>, que era a empresa da Maria Nilce. A Empresa Gráfica O Debate<br />

era outra, <strong>de</strong>via aos funcionários, tinha até máquina na Justiça como garantia”, conta Moreira.


“Em meados <strong>de</strong> 1992, eu comecei a preparar o jornal, ro<strong>de</strong>i algumas edições – mesmo sendo<br />

empregado <strong>de</strong> outro jornal, eu estava <strong>de</strong> férias. Fazia o jornal semanal, e não mais diário”, lembra o<br />

fotógrafo. Mas, quando o jornal começou a circular, Moreira passou a enfrentar problemas com a<br />

Empresa Gráfica O Debate, responsável pela impressão. “O pessoal da oficina achou que eu ia<br />

ganhar dinheiro com o jornal, que eu ia ficar rico. O Djalma e a Maria Nilce nunca foram ricos. A<br />

Empresa Gráfica O Debate começou a pressionar, porque eles tinham questões<br />

trabalhistas pen<strong>de</strong>ntes”, afirma Moreira. Foi feito um acordo, pelo qual a gráfica ficava com a<br />

oficina e prestaria um serviço para o jornal, que pagaria por ele. Mas, pouco tempo <strong>de</strong>pois o acerto<br />

foi <strong>de</strong>sfeito.<br />

“Eles temiam que o jornal fosse feito em off-set. Para evitar mais problemas, eu fechei, <strong>de</strong>sisti.<br />

Nisso, todos ficaram sem receber, eu fiquei sem um meio <strong>de</strong> comunicação. Eu, Djalma e os<br />

últimos funcionários do Jornal da Cida<strong>de</strong> ficamos a ver navios, sem nada”, lamenta Moreira.<br />

Para Zuleika Savig<strong>no</strong>n, o Jornal da Cida<strong>de</strong> teve uma passagem interessante, que marcou<br />

época. “Eu acredito até que ele faça falta hoje. Ela faz falta”, afirma a jornalista. Talvez porque<br />

seja um tipo <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> que não sobreviveu a esta época. Os jornais impressos seguiram um<br />

caminho oposto, consolidando-se como gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> comunicação ligadas a corporações <strong>de</strong><br />

mídia. O peque<strong>no</strong> jornal impresso, quase um empreendimento familiar, não tem mais lugar na<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea. Assim como o colunismo social per<strong>de</strong>u bastante <strong>de</strong> sua influência <strong>de</strong>ntro<br />

da socieda<strong>de</strong>.<br />

Analisando o <strong>jornalismo</strong> capixaba em seus 32 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> carreira, Moreira percebe na diminuição<br />

do número <strong>de</strong> jornais uma triste realida<strong>de</strong>. “Antes, existiam o Jornal da Cida<strong>de</strong>, O Diário, A<br />

Tribuna e A Gazeta. Daquela época para cá, a população do Estado aumentou cerca <strong>de</strong> 60% e os<br />

jornais diminuíram pela meta<strong>de</strong>”, afirma o jornalista, que ainda está na ativa. “A leitura <strong>de</strong> jornal <strong>no</strong><br />

Estado é muito baixa. Pelo número <strong>de</strong> jornais e a população, não chega a 5% <strong>de</strong> leitura”, constata<br />

Moreira, <strong>de</strong>sapontado.<br />

Ainda assim, muitos <strong>de</strong>safios continuam os mesmos e alguns conselhos parecem ser eter<strong>no</strong>s:<br />

“Se a imprensa não falar nada, se ela se omitir, se ficar encolhida com medo <strong>de</strong> morrer, ou <strong>de</strong><br />

envelhecer como eu envelheci, ninguém vai falar nada. E eu posso morrer amanhã em um asilo,


posso morrer do jeito que eu morrer, se me perguntarem se me arrependo <strong>de</strong> ter feito o que fiz, eu<br />

não me arrependo. Não é possível você aceitar isso”, conclui Djalma Magalhães.<br />

Maria Nilce: colunismo sem entrelinhas para falar <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>...<br />

... cultura ...<br />

... polícia e muito mais


Após o assassinato, <strong>no</strong>vas ameaças <strong>de</strong> morte rondam o jornal<br />

Referências bibliográficas<br />

BILICH, Jeanne (repórter). Celebrida<strong>de</strong> capixaba? Autêntica e Multitalentosa!<br />

: entrevista. Século Diário, Vitória (ES) 06/07 março 2004.<br />

Disponível em: . Acesso em:<br />

25 set. 2005.<br />

BITTENCOURT, Gabriel. Historiografia capixaba e imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Vitória, Edit, 1998. 104p.<br />

GLOCK,Glorinha. O caso <strong>de</strong> Maria Nilce dos <strong>Santo</strong>s Magalhães. Impunida<strong>de</strong>, Brasil. Abril 2001. Disponível<br />

em:. Acesso em: 25 set. 2005.<br />

JORNAL DA TARDE. Vinte Prisões em <strong>de</strong>z dias. Denúncia do MDB 15 out. 1975. Disponível em: <<br />

http://www.citadini.com.br/atuacao/ outros/jt751015.htm>. Acesso em: 25 set. 2005.<br />

LIMA JÚNIOR, Carlos Benevi<strong>de</strong>s. Maria Nilce ou o tiro que calou Vitória.<br />

In: Escritos <strong>de</strong> Vitória – Personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Vitória – 15. Vitória (ES):


Prefeitura <strong>de</strong> Vitória, 1996.<br />

OLEARI, Oswaldo. Capitão Romão x Capitão Maziero. In: Escritos <strong>de</strong> Vitória – Imprensa – 17. Vitória(ES):<br />

Prefeitura <strong>de</strong> Vitória, 1996.<br />

Entrevistas<br />

Marilda Rocha – Repórter da sessão <strong>de</strong> polícia do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistada <strong>no</strong> dia 26 <strong>de</strong><br />

setembro.<br />

Tânia Trento – repórter da sessão <strong>de</strong> polícia do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistada <strong>no</strong> dia 29 <strong>de</strong><br />

setembro.<br />

Milson Henriques – Cronista colaborador do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistado <strong>no</strong> dia 29 <strong>de</strong> setembro.<br />

Djalma Magalhães – Proprietário do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistado <strong>no</strong> dia 04 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Luiz Sérgio Aurich – Secretário estadual <strong>de</strong> Segurança em 1989, entrevistado <strong>no</strong> dia 06 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

2005.<br />

Zuleika Savig<strong>no</strong>n – Jornalista do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistada <strong>no</strong> dia 03 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Álvaro Nazaré – Diagramador do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistado <strong>no</strong> dia 05 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Hilmar <strong>de</strong> Jesus – repórter da sessão <strong>de</strong> polícia do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistado <strong>no</strong> dia 13 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Antônio Moreira – Fotógrafo e último proprietário do Jornal da Cida<strong>de</strong>, entrevistado <strong>no</strong> dia 16 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2005.


<strong>Impressões</strong> do Interior:<br />

<strong>de</strong> Mucurici a Presi<strong>de</strong>nte Kennedy<br />

Ananda Bisi, Danilo Bicalho e Melina Mantovani<br />

Buscar o <strong>jornalismo</strong> impresso <strong>no</strong> Interior do Estado. Eis uma tarefa que <strong>no</strong>s proporcio<strong>no</strong>u<br />

<strong>de</strong>scobrir inúmeros jornais que não são facilmente encontrados nas bancas da Gran<strong>de</strong> Vitória.<br />

Cruzar fronteiras <strong>de</strong>ntro do próprio Estado à procura <strong>de</strong> um <strong>jornalismo</strong> que não tem sua importância<br />

reconhecida, mesmo que seja <strong>de</strong> imensurável valor cultural e histórico para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Este<br />

foi o <strong>no</strong>sso principal objetivo: tornar conhecida a história daqueles que fazem <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> Interior<br />

capixaba e contribuem para <strong>no</strong>ssa cultura.<br />

Começamos a vasculhar jornais <strong>de</strong> diferentes regiões e é impressionante a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

periódicos distribuídos ou vendidos à população. Jornais alternativos, esporádicos, mensais,<br />

quinzenais, semanais, bissemanais, diários e até bidiários. Encontramos gente disposta a dar a cara a<br />

tapa por uma publicação. Gente disposta a pôr o pé na estrada em busca <strong>de</strong> público, <strong>de</strong><br />

reconhecimento. Cursar a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornalismo para exercer a profissão é quase uma rarida<strong>de</strong><br />

por aquelas bandas. O que temos são pessoas que querem fazer um <strong>jornalismo</strong> social, quase<br />

comunitário. Ao mesmo tempo, <strong>de</strong>scobrimos pessoas que fazem do <strong>jornalismo</strong> um negócio,<br />

um meio <strong>de</strong> sobrevivência. O mundo é <strong>no</strong>tícia, porém o que acontece ali, nas portas das casas<br />

daqueles que escrevem os jornais, é, geralmente, muito mais relevante para os leitores do Interior.<br />

I<strong>de</strong>ntificamos, nesse tema, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um aprofundamento da pesquisa. A comunicação<br />

impressa do interior capixaba não possui uma referência bibliográfica à altura do assunto.<br />

Com este trabalho, objetivamos fazer um levantamento dos principais periódicos interior<strong>a<strong>no</strong>s</strong>,<br />

como iniciativa para futuras pesquisas.<br />

Como metodologia, segmentamos o Estado em três regiões:<br />

Norte, Centro-serrana e Sul. As fontes foram diversas: amigos, moradores das regiões,<br />

profissionais da área, sindicatos, estudantes <strong>de</strong> Jornalismo, professores e alguns dos veículos. Todos<br />

foram <strong>de</strong> extrema importância para a realização <strong>de</strong>ste capítulo, na medida em que, gentilmente, <strong>no</strong>s<br />

ce<strong>de</strong>ram informações sobre os periódicos regionais e <strong>de</strong>ram <strong>de</strong>poimentos sobre a arte <strong>de</strong><br />

fazer <strong>jornalismo</strong> fora da região da Gran<strong>de</strong> Vitória.


Ao analisar o <strong>jornalismo</strong> do interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, percebemos que as regiões<br />

compartilham questões comuns, como influência política, dificulda<strong>de</strong>s financeiras e a falta <strong>de</strong><br />

jornalistas profissionais nas redações – temas que serão percebidos <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr do capítulo e<br />

discutidos na sua parte final.<br />

Norte: imprensa tardia, muitos jornais<br />

Segundo Bittencourt (1998, p. 75), a imprensa <strong>no</strong> Norte do Estado surge tardiamente:<br />

“Somente na República, fará a imprensa sua estréia <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. A iniciativa pioneira <strong>de</strong>ve-se<br />

a Fausto <strong>de</strong> Oliveira, proprietário da Tipografia Progresso e Indús- tria, que, em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1891, imprimiu, sob a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação <strong>de</strong> O Norte do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, o primeiro hebdomadário a<br />

circular em São Mateus”.<br />

Posteriormente, ainda <strong>de</strong> acordo com Bittencourt, o então presi<strong>de</strong>nte do Estado, Barão <strong>de</strong><br />

Monjardim, <strong>de</strong> quem o redator-chefe do jornal, Gracia<strong>no</strong> dos <strong>Santo</strong>s Neves, era ferrenho<br />

opositor, suspen<strong>de</strong> a circulação <strong>de</strong> O Norte do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, que só volta a ser publicado em 1893.<br />

Des<strong>de</strong> esse primeiro jornal, muitos foram os veículos impressos que surgiram naquela região.<br />

Alguns circularam por mais tempo, outros, porém, tiveram vida curta. Atualmente, por meio<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa e <strong>de</strong> listas cedidas pela Superintendência Estadual <strong>de</strong> Comunicação Social (Secom),<br />

foram relacionados 61 jornais em ativida<strong>de</strong> na região. Com alguns foi possível um maior<br />

contato, entrevistas pessoalmente, troca <strong>de</strong> e-mails, telefonemas. Já com outros, apesar da<br />

insistência em tentar uma aproximação, pouco conseguimos, <strong>de</strong> alguns somente o <strong>no</strong>me.<br />

Dentre esse vasto número <strong>de</strong> jornais, um tem gran<strong>de</strong> prestígio, sendo conhecido não só na<br />

Região Norte, como também <strong>no</strong> restante do Estado – talvez pelo fato <strong>de</strong> ser diário, por não<br />

se contentar em dar as <strong>no</strong>tícias das cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> circula ou, quem sabe, por <strong>de</strong>ixar os chamados<br />

“gran<strong>de</strong>s jornais” (A Gazeta e A Tribuna) “comendo poeira”, <strong>de</strong> acordo com seu diretor geral,<br />

em entrevista aos autores. Trata-se do jornal Tribuna do Cricaré, que tem se<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Mateus.


Em 1969, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Governador Valadares (MG), Matosinhos Castro Pinto, ex-<strong>de</strong>putado<br />

que havia pouco tempo tinha sido cassado pelo regime militar, inicia sua vida <strong>de</strong> jornalista<br />

<strong>no</strong> periódico Gazeta <strong>de</strong> Valadares. Posteriormente, em 1976, Matosinhos inaugura seu próprio<br />

jornal: Ponto <strong>de</strong> Vista, sediado na cida<strong>de</strong> mineira <strong>de</strong> Nanuque. É em uma redação on<strong>de</strong> predomina a<br />

militância política que crescem os irmãos Antônio <strong>de</strong> Castro Pinto Neto e Márcio José <strong>de</strong> Castro<br />

Pinto. Seja como ativida<strong>de</strong> empresarial, seja como meio para difundir os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> quem<br />

não concordava com a política vigente, o jornal foi a escola <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong>sses jovens, local on<strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>ram na prática todas as etapas da produção <strong>de</strong> um jornal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os assuntos a<br />

serem pautados ao fechamento da publicação e sua distribuição.


Não se contentando apenas com o jornal <strong>de</strong> Nanuque, a família expan<strong>de</strong> sua atuação para o<br />

jornal Diário do Rio Doce, este com se<strong>de</strong> em Governador Valadares, também Estado <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais.<br />

Aos 24 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, Antônio <strong>de</strong> Castro Pinto Neto, residindo na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Mateus, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pôr em<br />

prática os conhecimentos adquiridos na adolescência e cria o Tribuna do Cricaré, que começa a<br />

circular <strong>no</strong> dia 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1984. O jornal já esclarece a sua preocupação em informar sobre<br />

<strong>no</strong>tícias locais ao ter o mesmo <strong>no</strong>me <strong>de</strong> um rio que passa pela cida<strong>de</strong>.<br />

No início, o jornal tinha periodicida<strong>de</strong> quinzenal, circulando, com mil exemplares, nas mesmas<br />

cida<strong>de</strong>s em que é encontrado atualmente: São Mateus, Pedro Canário, Conceição da Barra,<br />

Pinheiros, Jaguaré, Sooretama, Vila Valério, Nova Venécia, Montanha, Mucurici e Boa Esperança.<br />

Funcionando em se<strong>de</strong> alugada, era impresso em Minas Gerais, na gráfica da família.<br />

Com uma redação bastante enxuta, eram apenas os irmãos Castro e mais dois funcionários<br />

que, contando com o apoio <strong>de</strong> eventuais colaboradores, executavam toda a produção, composta <strong>de</strong><br />

pautas locais, estaduais, nacionais e até internacionais.<br />

Posteriormente, a publicação tor<strong>no</strong>u-se semanal, <strong>de</strong>pois bissemanal, tri-semanal, e, em 7 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1998, passou a circular <strong>de</strong> terça-feira a sábado, sendo assim consi<strong>de</strong>rada um diário<br />

pelo Departamento Nacional <strong>de</strong> Registro do Comércio.<br />

Durante toda essa mudança <strong>de</strong> periodicida<strong>de</strong> e aumento <strong>de</strong> tiragem (atualmente, 6,5 mil<br />

exemplares diários), segundo seu diretor geral Márcio José <strong>de</strong> Castro Pinto, o Tribuna do Cricaré<br />

nunca teve sua circulação interrompida.<br />

Segundo os proprietários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem, o jornal adota a linha editorial comunitário-<br />

construtivista, sendo ela sua base <strong>de</strong> sustentação.<br />

Talvez por causa <strong>de</strong>ssa postura editorial, especula-se, o jornal tenha sido perseguido<br />

politicamente, em 1992, por um grupo li<strong>de</strong>rado por Amocim Leite, na época candidato a prefeito da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Mateus, e seu ex-vice-prefeito, Walace Batista, já falecido.<br />

Márcio José <strong>de</strong> Castro Pinto afirma que, naquele a<strong>no</strong>, houve um processo eleitoral muito<br />

tumultuado em São Mateus. Inicialmente, o Tribunal Superior Eleitoral negou a Amocim Leite<br />

o direito <strong>de</strong> candidatura, por ele, anteriormente, já ter sido cassado duas vezes por acusação <strong>de</strong><br />

corrupção, quando exercia o cargo <strong>de</strong> prefeito. Porém, quando restavam 30 dias para a


votação, Amocim conseguiu uma liminar que lhe garantiu a candidatura, disputou o pleito e venceu<br />

as eleições. Teve início, então, uma batalha judicial. Ainda <strong>de</strong> acordo com Márcio, “nas cida<strong>de</strong>s<br />

do interior, as forças políticas <strong>no</strong>rmalmente controlam as forças militares e as utilizam a seu serviço<br />

<strong>de</strong> forma muito mais <strong>de</strong>scarada do que acontece <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s centros”.<br />

Márcio conta como o jornal se envolveu nesse caso e, por meio <strong>de</strong> sua pessoa, foi ameaçado:<br />

“Em 1992, o capitão da Polícia esteve na se<strong>de</strong> do jornal e pediu que eu saísse da cida<strong>de</strong>, porque<br />

tinha um grupo político querendo colocar fogo na empresa. Eu reagi contra eles, os <strong>de</strong>nunciei e, <strong>no</strong><br />

dia seguinte, estava lá, aguardando os bandidos, e eles não apareceram. Porque nós reagimos,<br />

<strong>de</strong>nunciamos a Justiça, <strong>de</strong>nunciamos à Associação Brasileira <strong>de</strong> Jornais. Era uma coisa ilegal,<br />

absurdamente ilegal, porque ninguém po<strong>de</strong> ameaçar a liberda<strong>de</strong>, o direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa.<br />

E ele achou que ia atemorizar a direção da empresa para po<strong>de</strong>r fazer o capricho daquele grupo<br />

político, mas eles não conseguiram isso. O próprio juiz, na época, interveio, chamou essas pessoas e<br />

as enquadrou”.<br />

Por estar com a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>bilitada, Amocim Leite não teve condições <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às acusações.<br />

Em sua residência, disseram apenas que todas as informações que são divulgadas a seu<br />

respeito estão <strong>no</strong> museu da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Mateus.<br />

Mais recentemente, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2002, conforme afirma Márcio <strong>de</strong> Castro, um ex-prefeito da<br />

cida<strong>de</strong>, que também foi <strong>de</strong>nunciado por corrupção pelo jornal e estava envolvido <strong>no</strong>s recentes<br />

escândalos divulgados <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, fez dois comícios na porta do jornal em um intervalo <strong>de</strong><br />

cinco dias. Os diretores do Tribuna do Cricaré só conseguiram a proteção da Polícia após acionar<br />

o alto comando, já que, <strong>no</strong>vamente, a força política estava controlando a militar. O diretor geral do<br />

jornal preferiu não citar o <strong>no</strong>me do acusado por ser uma história muito recente e este ainda estar<br />

respon<strong>de</strong>ndo processos judiciais.<br />

Apesar das turbulências, o jornal cresceu, ampliou sua circulação e sua equipe, que atualmente<br />

é composta por 67 funcionários, sendo três <strong>de</strong>les formados aca<strong>de</strong>micamente em Jornalismo.<br />

Entretanto, o diretor geral, Márcio José <strong>de</strong> Castro Pinto, e o diretor <strong>de</strong> redação, Antônio <strong>de</strong><br />

Castro Pinto Neto, não têm graduação na área.<br />

Utilizam, ainda, o serviço da Agência Estado para as <strong>no</strong>tícias nacionais e internacionais, e,<br />

eventualmente, são contratadas agências especiais. Já para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> pautas locais, Márcio


é enfático ao dizer que à população é dada muita liberda<strong>de</strong> tanto para sugerir pautas, como para<br />

expressar sua opinião: “A Tribuna do Cricaré é o jornal que mais dá espaço ao leitor <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>:<br />

uma página inteira todos os dias. Fazemos isso há 21 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, tem uns que fazem recentemente. É<br />

um <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> via dupla. E isso faz a diferença. As pessoas são acostumadas a lerem o jornal.<br />

Nós temos uma abertura muito gran<strong>de</strong> com a comunida<strong>de</strong>, o que faz <strong>de</strong>la leitora e também<br />

agente propulsora, porque ela é <strong>no</strong>ssa fonte. O <strong>jornalismo</strong> é focado na comunida<strong>de</strong>, olho-<strong>no</strong>-olho,<br />

esse contato com a comunida<strong>de</strong> te obriga a ser mais transparente”.<br />

Já ao avaliar o <strong>jornalismo</strong> nacional e internacional, Márcio Pinto prevê uma maior<br />

regionalização dos jornais: “Observamos que <strong>no</strong> mercado brasileiro, e mesmo <strong>no</strong> mercado<br />

internacional, há muitos jornais se auto-avaliando, corrigindo alguns rumos e adotando uma postura<br />

mais local, mais para aquilo que está em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> sua base <strong>de</strong> circulação. Antigamente, para dizer<br />

que era um gran<strong>de</strong> jornal, as pessoas gostavam <strong>de</strong> ficar publicando o que estava acontecendo lá em<br />

Israel, lá na Suécia, e esquecendo do rio em que bebem água, do local on<strong>de</strong> jogam o esgoto <strong>de</strong><br />

suas casas. A socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, contemporânea, está exigindo dos próprios meios <strong>de</strong><br />

comunicação, <strong>de</strong> modo especial do jornal (impresso), que eles se voltem cada vez mais para sua<br />

comunida<strong>de</strong>, que percebam os problemas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o leitor está inserido”.<br />

Ao se fazer uma análise superficial do jornal, <strong>no</strong>ta-se que predominam as matérias locais e a<br />

utilização <strong>de</strong> imagens, em sua maioria fotos. Na capa, são utilizadas muitas cores fortes; a manchete<br />

e a fotografia correspon<strong>de</strong>m à mesma matéria, que, majoritariamente, são locais. Pouco maior que o<br />

tradicional tamanho tablói<strong>de</strong>, o Tribuna do Cricaré possui 10 páginas, sendo uma para coluna<br />

social fixa e uma para classificados – as <strong>de</strong>mais não possuem editorias permanentes. O jornal não<br />

apresenta ousadias <strong>de</strong> diagramação, mantendo, principalmente na capa, o mesmo formato.<br />

Um outro jornal diário que circula na Região Norte do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> é A Notícia, com se<strong>de</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Venécia. Fundado em fevereiro <strong>de</strong> 1989, o periódico circulou pela primeira vez em<br />

18 <strong>de</strong> março daquele a<strong>no</strong>, tendo como diretor José Renato Ferrari, que se mantêm <strong>no</strong> cargo. A<br />

publicação tinha como objetivo colocar à apreciação dos veneci<strong>a<strong>no</strong>s</strong> e da população vizinha um<br />

<strong>no</strong>vo jornal.


No início, A Notícia circulava apenas aos sábados, com tiragem média <strong>de</strong> mil exemplares. A<br />

partir <strong>de</strong> 2001, o jornal passou a ser publicado <strong>de</strong> terça-feira a sábado, sendo, portanto, consi<strong>de</strong>rado<br />

diário.<br />

Para que isso acontecesse, houve uma ligeira reformulação.<br />

A primeira equipe do jornal era formada por quatro pessoas. Atualmente, esse número está em<br />

12 funcionários, que trabalham para que o jornal circule, em maior quantida<strong>de</strong>, nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Nova<br />

Venécia, Vila Pavão e Boa Esperança, e, em me<strong>no</strong>r número, nas <strong>de</strong>mais


localida<strong>de</strong>s da região Norte. Há ainda assinaturas <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais municípios do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e<br />

também outros Estados brasileiros.<br />

Sobrevivendo <strong>de</strong> assinaturas e publicida<strong>de</strong>s, A Notícia traz anúncios <strong>de</strong> empresas privadas e<br />

órgãos públicos, <strong>de</strong>ntre eles o Gover<strong>no</strong> do Estado, anunciante <strong>de</strong> muitos jornais interior<strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

As publicida<strong>de</strong>s, aliás, ocupam gran<strong>de</strong> parte do jornal, estando muito presentes inclusive na<br />

sua primeira página.<br />

Em entrevista por e-mail, José Renato Ferrari, diretor do jornal, afirma que: “Assim como<br />

qualquer outra empresa, o jornal também já passou por situações difíceis, mas não o suficiente para<br />

forçar sua paralisação. Às vezes, reduziu a circulação, mas paralisar <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva, não”.<br />

O diretor lembra, ainda, que não é fácil disputar com A Tribuna e A Gazeta, mas que A Notícia<br />

tem um gran<strong>de</strong> reconhecimento:<br />

“A Notícia foi citada em diversas ocasiões quando da pesquisa Recall <strong>de</strong> Marcas, elaborada<br />

pelo Instituto Futura em parceria com A Gazeta, li<strong>de</strong>rando em nível <strong>de</strong> jornal <strong>de</strong> interior, na região.<br />

Esse quesito – jornal –, infelizmente, não vem sendo incluído na pesquisa <strong>no</strong>s últimos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>,<br />

mas, em 1999/2000, A Notícia apareceu com gran<strong>de</strong> influência na região Norte, o que, para<br />

nós, representa a maior conquista”.<br />

No formato tablói<strong>de</strong> e com oito páginas, o jornal apresenta pouco texto e muita publicida<strong>de</strong>,<br />

que chega a ocupar quase meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as suas páginas. Algumas matérias são estaduais,<br />

mas predominam <strong>no</strong>tícias locais. Edições especiais, como <strong>no</strong> aniversário <strong>de</strong> Nova Venécia, são<br />

publicadas eventualmente. O jornal A Notícia mantém ainda o site www.a<strong>no</strong>ticianv.com.br, que é<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e conteúdo muito simples.<br />

Portanto, os jornais Tribuna do Cricaré e A Notícia são os únicos periódicos diários com se<strong>de</strong><br />

<strong>no</strong> Norte do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> levantados nesta pesquisa. Há, ainda, publicações bissemanais, das quais<br />

apuramos o jornal O Pioneiro e o Correio do Estado, ambos com se<strong>de</strong> em Linhares.<br />

O Pioneiro, <strong>de</strong>ntre os apurados, é o mais antigo da região, tendo como data da primeira edição<br />

25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1967. Na época, um <strong>de</strong> seus fundadores e atual proprietário e colunista social,<br />

Deni Almeida da Conceição, era o correspon<strong>de</strong>nte do jornal O Diário (ver capítulo VI <strong>de</strong>ste livro)<br />

<strong>no</strong> Norte do Estado. As <strong>no</strong>tícias que escrevia para o informativo da Capital tinham uma gran<strong>de</strong><br />

repercussão na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares. A população do município, então, questionava-o por que não


fundava um jornal na cida<strong>de</strong>. Com isso, Almeida, juntamente com Alvacy Perin – ambos<br />

trabalhavam na época com contabilida<strong>de</strong> –, resolveu fundar O Pioneiro.


Apesar <strong>de</strong> o <strong>no</strong>me do jornal sugerir que ele tenha sido o primeiro da cida<strong>de</strong>, Deni Almeida<br />

esclarece, em entrevista aos autores, que antes <strong>de</strong>le houve outros, porém O Pioneiro é o único a se<br />

manter em circulação, já que os primeiros resumiram-se a, <strong>no</strong> máximo, seis edições.<br />

Com gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fundado, O Pioneiro circulava quinzenalmente. Como<br />

na época o método <strong>de</strong> impressão utilizado era a tipografia e as gráficas locais não tinham<br />

tradição na confecção <strong>de</strong> periódicos, as matérias eram produzidas em Linhares e enviadas a<br />

Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim para impressão, o que retardava o processo e, conseqüentemente, a<br />

circulação.<br />

Com isso, surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o próprio jornal adquirir uma gráfica, o que é feito em me<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong> um a<strong>no</strong> <strong>de</strong> existência do veículo, passo importantíssimo para sua continuação.<br />

Imediatamente após a aquisição da gráfica, O Pioneiro torna-se semanal, tendo como redatores<br />

os proprietários, repórteres e colaboradores.<br />

Era uma equipe formada por muitos funcionários, já que só a gráfica empregava cerca <strong>de</strong> 10<br />

pessoas na composição das letras para o processo tipográfico.<br />

Cerca <strong>de</strong> três <strong>a<strong>no</strong>s</strong> após sua fundação, o jornal passa a ser bissemanal, como prossegue até os<br />

dias atuais, não tendo parado <strong>de</strong> circular nenhuma vez em seus 37 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> publicação.<br />

Sempre funcionando em se<strong>de</strong> própria, O Pioneiro continua tendo como cida<strong>de</strong> base <strong>de</strong><br />

circulação o município <strong>de</strong> Linhares, sendo encontrado também, em me<strong>no</strong>r quantida<strong>de</strong>, em São<br />

Mateus, Aracruz e Colatina.<br />

Por buscar a isenção política, Deni Almeida afirma que o jornal nunca foi incomodado por<br />

políticos: “A política nunca <strong>no</strong>s atrapalhou, porque nós nunca <strong>de</strong>ixamos que ela penetrasse<br />

na empresa. Nosso negócio é com o comércio, com a indústria, com o anunciante <strong>de</strong> um modo<br />

geral. Isso não quer dizer que não tenhamos anúncios políticos. Nós ven<strong>de</strong>mos um espaço e<br />

eles compram, mas não temos compromisso político”.<br />

Apesar <strong>de</strong> dar boas-vindas aos jornais recém-surgidos na cida<strong>de</strong>, o proprietário e diretor geral<br />

do jornal reclama da concorrência por publicida<strong>de</strong>, dizendo que muitos anunciantes não sabem<br />

diferenciar a publicida<strong>de</strong> veiculada em um jornal que está há 37 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>no</strong> mercado daquela veiculada<br />

em um jornal que está há pouco tempo e tem uma tiragem bem me<strong>no</strong>r que a <strong>de</strong> O Pioneiro,<br />

atualmente fixada em 4 mil exemplares (3,5 mil a mais que na época <strong>de</strong> sua fundação). Afirma,


ainda, que, com certeza, há público para todos os jornais da cida<strong>de</strong>, inclusive para aqueles que estão<br />

surgindo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenham como projeto formar e informar.<br />

Em um grupo <strong>de</strong> 11 funcionários, o periódico não possui nenhum jornalista em sua equipe,<br />

recebendo apenas o respaldo da filha do diretor, que agora se tor<strong>no</strong>u ainda mais difícil, já que<br />

esta mudou-se recentemente para o exterior.<br />

De acordo com o diretor Deni Almeida, O Pioneiro se preocupa com o que acontece na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Linhares, é mais um veículo com a intenção <strong>de</strong> complementar a gran<strong>de</strong> mídia, e não <strong>de</strong> substituí-<br />

la. Para isso, afirma que o periódico é aberto à comunida<strong>de</strong>:<br />

“Aceitamos muito os e-mails que os leitores <strong>no</strong>s enviam, <strong>de</strong> sugestão <strong>de</strong> pauta, acontecimentos<br />

da comunida<strong>de</strong>. Temos uma coluna que é ‘O Pioneiro <strong>no</strong>s Bairros’, em que o presi<strong>de</strong>nte da<br />

associação e a comunida<strong>de</strong> têm total liberda<strong>de</strong>. Todos os domingos é focalizado um bairro. Essa<br />

coluna já tem mais <strong>de</strong> 10 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Nela, o presi<strong>de</strong>nte da associação é quem reclama, quem elogia, faz<br />

suas reivindicações”.<br />

Deni Almeida reclama, ainda, da falta <strong>de</strong> valor das autorida<strong>de</strong>s para com o <strong>jornalismo</strong> local <strong>no</strong><br />

interior do Estado: “A função do <strong>jornalismo</strong> impresso <strong>no</strong> Interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> é<br />

muito importante, talvez mais importante do que a gran<strong>de</strong> imprensa, porque o que acontece na<br />

comunida<strong>de</strong> local só é visto <strong>no</strong>s jor- nais locais. Às vezes, as próprias autorida<strong>de</strong>s não dão [para<br />

o <strong>jornalismo</strong> local] o valor necessário. Acredito que, <strong>no</strong> futuro, os jornais locais terão ainda mais<br />

importância que a gran<strong>de</strong> imprensa, porque a tendência é que as pessoas queiram saber o que<br />

está acontecendo em volta <strong>de</strong>las”.<br />

Publicado às quintas-feiras e aos domingos, O Pioneiro circula com 12 páginas, em formato<br />

tablói<strong>de</strong>, contendo apenas uma editoria fixa (Polícia) e diversas colunas: duas sociais, uma <strong>de</strong><br />

televisão, uma <strong>de</strong> política e uma com <strong>no</strong>tas <strong>de</strong> assuntos variados, como eco<strong>no</strong>mia e política.<br />

Bem mais recente que O Pioneiro, o jornal Correio do Estado também é bissemanal e tem<br />

se<strong>de</strong> em Linhares. Fundado em 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005, por José Vicente Men<strong>de</strong>s e Carlos<br />

Madureira, tem a intenção <strong>de</strong> suprir a necessida<strong>de</strong> que o Norte do Estado apresenta em relação a um<br />

órgão <strong>de</strong> imprensa que atenda pelo me<strong>no</strong>s 10 municípios, conforme <strong>de</strong>clarou Men<strong>de</strong>s, em<br />

entrevista por e-mail.


A periodicida<strong>de</strong>, <strong>no</strong>s dois primeiros meses <strong>de</strong> existência, era quinzenal, passando a semanal e,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais dois meses, a bissemanal, circulando às quartas-feiras e aos sábados (dia anterior ao<br />

que circula seu concorrente direto, O Pioneiro).<br />

Para circular <strong>no</strong>s municípios <strong>de</strong> Linhares, Colatina, São Mateus, Governador Lin<strong>de</strong>nberg, Rio<br />

Bananal e Sooretama, o Correio do Estado tem tiragem <strong>de</strong> 3 mil exemplares e seis funcionários,<br />

<strong>de</strong>ntre eles o jornalista João Vicente Men<strong>de</strong>s.<br />

Sem se<strong>de</strong> própria, o jornal começou a circular gratuitamente, passando, posteriormente, a ser<br />

vendido. Como gran<strong>de</strong> parte dos jornais do Interior do Estado, enfrenta constantemente<br />

dificulda<strong>de</strong>s financeiras.


Contendo 12 páginas, quatro <strong>de</strong>las coloridas, o jornal apresenta editorias fixas, como Geral,<br />

Cida<strong>de</strong> e Sociais, e algumas esporádicas, por exemplo Estado, Negócios e Polícia. Apresenta capa<br />

muito colorida, muitas fotos e diagramação com poucos brancos.<br />

Na região Norte, é possível encontrar também publicações semanais, <strong>de</strong>ntre as quais, nesta<br />

pesquisa, foram localizados Folha do Litoral, Folha do Norte, Folha do Estado, Nova Geração e O<br />

Colatinista.<br />

A Folha do Litoral é sediada em Aracruz, on<strong>de</strong> foi fundada por Danilo Salva<strong>de</strong>o, <strong>no</strong> dia 18 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1993. Circula às sextasfeiras, com 15 mil exemplares, nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aracruz,<br />

Linhares, Ibiraçu, João Neiva, Sooretama, Fundão e Vitória. O editor responsável pelo jornal,<br />

Agnelo Netto, diferentemente <strong>de</strong> muitos dos jornais do Interior, tem registro <strong>de</strong> jornalista.


Após 34 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> sem circular, o jornal Folha do Norte, <strong>de</strong> Colatina, voltou às ruas em 1990. A<br />

maior parte <strong>de</strong> sua tiragem <strong>de</strong> 3 mil exemplares é distribuída gratuitamente para os alu<strong>no</strong>s do<br />

Centro Universitário do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (Unesc), faculda<strong>de</strong> vinculada ao jornal. Apesar da ligação<br />

com a instituição <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, Bento Ta<strong>de</strong>u Cuquetto, seu editor, garante que o jornal não aten<strong>de</strong><br />

somente os cursos. É um jornal informativo, que busca a neutralida<strong>de</strong> e foge ao sensacionalismo.<br />

Fundado em fevereiro <strong>de</strong> 1952, pelo então <strong>de</strong>putado Oswaldo Zanello, tinha, na época, uma<br />

linha editorial muito forte, combatendo os “maus valores e o comunismo”, consi<strong>de</strong>rados por alguns<br />

a gran<strong>de</strong> preocupação daqueles tempos. Por motivo <strong>de</strong>sconhecido, o jornal parou <strong>de</strong> circular <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> 1956, só retomando seu funcionamento em 1989. Atualmente, a Folha do Norte segue o formato<br />

tablói<strong>de</strong> e contém 10 páginas.<br />

No dia 26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1986, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Venécia, teve origem o jornal Folha do Estado,<br />

cujo diretor é Idaulio Bo<strong>no</strong>mo.<br />

Em Colatina, <strong>no</strong> dia 05 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1975, Jair Rodrigues Oliveira fundou o jornal Nova<br />

Geração, que circula principalmente nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Colatina, Baixo Guandu e São Roque do<br />

Canaã. Seu proprietário, além do jornal, mantém na cida<strong>de</strong> uma rádio com o mesmo <strong>no</strong>me,<br />

concentrando dois tipos <strong>de</strong> mídia.<br />

Também com se<strong>de</strong> em Colatina, o jornal O Colatinista circula, além da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> é sediado,<br />

em Vitória, Santa Teresa, Pancas, São Domingos do Norte, São Roque do Canaã, Marilândia, São<br />

Gabriel da Palha, Baixo Guandu, Itaguaçu e Itarana. Caracteriza- se por apresentar um <strong>jornalismo</strong><br />

opinativo e <strong>de</strong> forte apelo editorial. Enviamos um e-mail para sua redação e as respostas do diretor,<br />

apesar <strong>de</strong> não se referirem às perguntas feitas, são elucidativas quanto à situação do <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong><br />

interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. O e-mail enviado foi:<br />

Bom dia!<br />

Sou aluna do 6 º período do curso <strong>de</strong><br />

Comunicação Social/Jornalismo da Ufes. Minha turma,<br />

tendo como orientador o professor José Antônio Martinuzzo,<br />

está escrevendo um livro sobre o <strong>jornalismo</strong> impresso<br />

capixaba, visando a enriquecer o material bibliográfico que<br />

trata do Jornalismo <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e, consequentemente, o<br />

conhecimento dos profissionais que atuam nessa área.


A resposta, assinada pelo diretor do jornal, foi:<br />

Coube ao meu grupo o capítulo sobre Jornalismo Impresso <strong>no</strong><br />

Interior do ES.<br />

Por isso, estamos fazendo um levantamento dos jornais do<br />

interior do Estado.<br />

Gostaria, então, <strong>de</strong> contar com a colaboração do<br />

responsável por esse jornal. Para isso, faz-se necessário que<br />

responda as seguintes questões:<br />

- Há quanto tempo existe o jornal?<br />

- Qual a periodicida<strong>de</strong> do jornal? Ela é regular ou varia?<br />

- Qual a tiragem?<br />

- Quantos funcionários possui?<br />

- Há alguém formado aca<strong>de</strong>micamente em Jornalismo na<br />

equipe?<br />

- O jornal é vendido ou gratuito?<br />

Aguardo ansiosa a resposta <strong>de</strong>ste e-mail, confiante na<br />

contribuição que po<strong>de</strong>m dar a <strong>no</strong>sso livro.<br />

Des<strong>de</strong> já agra<strong>de</strong>ço a atenção dispensada.<br />

Minha filha, vou resumir para você:<br />

O <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> tem dois lados,<br />

duas faces ou duas qualquer coisa que você queira conceituar.<br />

Tem o <strong>jornalismo</strong> feito com in<strong>de</strong>pendência, e que acaba<br />

perseguido pelo po<strong>de</strong>r público local e às vezes até regional,<br />

pois se reveste <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alismo, já que não vendo, troco,<br />

empresto minha opinião pelas verbas públicas, e tem o<br />

<strong>jornalismo</strong> que senta <strong>no</strong> colo dos mesmos que perseguem os<br />

i<strong>de</strong>alistas.<br />

Aqueles que emitem opinião in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, nunca entram <strong>no</strong><br />

bolo publicitário do po<strong>de</strong>r público, que, aliás, sou contra até<br />

que exista. Os impostos são para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s<br />

básicas da população, e não para pagar publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gover<strong>no</strong>s, geralmente incompetentes.<br />

Que façam divulgação com seus recursos, ou <strong>de</strong> seus partidos.<br />

Quando o gover<strong>no</strong> é competente, não necessita<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>.<br />

Para justificar as verbas <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veriam aprová-las,<br />

mas <strong>de</strong>stinando ao mandatário, 50% do valor, e à oposição, os<br />

outros 50%, pois assim dispensariam a imprensa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar<br />

os mal feitos públicos, já que a oposição teria recursos para o<br />

fim.


Você já viu gover<strong>no</strong> dizer que errou numa obra, num serviço?<br />

Eles só mostram o que acham que fizeram bem feito.<br />

Você já viu gover<strong>no</strong> mostrar o muro que caiu, duas semanas<br />

após concluído?Só viu mostra-lo logo após sua conclusão,<br />

não?<br />

O dia que você entrar <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho, você vai<br />

enten<strong>de</strong>r isso.<br />

Hermeval Carlos Za<strong>no</strong>ni<br />

Colatina – ES<br />

Diversos outros periódicos foram <strong>de</strong>scobertos. Porém, pouco ou nada se sabe a respeito <strong>de</strong>les.<br />

Muitos têm periodicida<strong>de</strong> irregular, há os que estão circulando há pouco tempo e outros<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida.<br />

Região Serrana: preservação da cultura regional<br />

Dificilmente os gran<strong>de</strong>s jornais conseguem ir além dos estereótipos e registrar a dinâmica<br />

social <strong>de</strong> cada região. Ao buscar abranger todo o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, por exemplo, torna-se inviável o<br />

aprofundamento da cobertura dos fatos sociais <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong>.<br />

Mais próximos da população <strong>de</strong> suas respectivas regiões, os jornais interior<strong>a<strong>no</strong>s</strong> conseguem<br />

aprofundar-se nas relações sociais, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> seus leitores. Os recortes da realida<strong>de</strong><br />

feitos pelos jornais locais contam com uma maior riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes, apresentam um caráter<br />

me<strong>no</strong>s superficial, até mesmo pelo fato <strong>de</strong> tais veículos estarem inseridos <strong>de</strong> fato na realida<strong>de</strong> que<br />

buscam retratar.<br />

Fundado em agosto <strong>de</strong> 1991 pela jornalista Maria Auxiliadora Gonçalves (Lilia) e pelo<br />

agrô<strong>no</strong>mo José O<strong>no</strong>fre Pereira, o jornal Folha da Terra, <strong>de</strong> Venda Nova do Imigrante,<br />

almeja justamente essa aproximação com a realida<strong>de</strong> do público local.<br />

Lilia, diretora do jornal, <strong>de</strong>fine da seguinte forma o perfil <strong>de</strong> sua publicação: “Procuramos<br />

focar em <strong>no</strong>ssa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, na construção da cidadania local, preservando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

da região. Não é necessário que façamos uma cobertura estadual, isto já tem quem faça”.<br />

O trecho do editorial da edição nº 536 retrata a preocupação do jornal com o fortalecimento da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural da região:


Todas as pessoas se alimentam, se relacionam,<br />

habitam...morrem. O que as torna diferentes são os ritos na<br />

prática do que é comum entre os povos. Damos a isto o <strong>no</strong>me<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural. Isto um povo não po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r nunca.<br />

No máximo po<strong>de</strong> adaptar- se às <strong>no</strong>vas necessida<strong>de</strong>s dos<br />

tempos mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s.<br />

A preservação da cultura e da história é um abraço entre os<br />

semelhantes para se protegerem da insanida<strong>de</strong> do mundo.<br />

Quem somos? Como não <strong>no</strong>s per<strong>de</strong>rmos <strong>no</strong>s apelos<br />

constantes na selvageria da lógica do lucro?<br />

A constante mudança do mundo, agora sob o sig<strong>no</strong> da<br />

globalização, pe<strong>de</strong> a regionalização. Senão, tudo fica igual. É<br />

impossível remar contra a maré do que impõe o mercado<br />

mundial. No contraponto, vem a valorização do diferente.<br />

Precisamos é lutar pela harmonia das diferenças e dar um não<br />

à hegemonia imposta pela indústria cultural.<br />

A i<strong>de</strong>ntificação do público com o jornal parece ser um dos gran<strong>de</strong>s trunfos para o sucesso do<br />

mesmo, que também circula em Afonso Cláudio, Brejetuba, Conceição do Castelo e Pedra Azul,<br />

cida<strong>de</strong>s vizinhas a Venda Nova do Imigrante.<br />

Ao longo <strong>de</strong> seus 14 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, o jornal <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser mensal (em agosto <strong>de</strong> 1997), passou a<br />

circular semanalmente e hoje já existe <strong>de</strong>manda para reduzir ainda mais o intervalo entre as edições.<br />

Seu projeto gráfico sofreu algumas mudanças, mas manteve elementos que i<strong>de</strong>ntificam o veículo. O<br />

mesmo aconteceu com seu projeto editorial, que, aos poucos, foi se tornando mais abrangente,<br />

tratando <strong>de</strong> temas cada vez mais diversificados, mantendo-se, entretanto, o caráter local<br />

da abordagem.<br />

Atualmente, a publicação circula com uma tiragem <strong>de</strong> mil exemplares, dos quais cerca <strong>de</strong> 500<br />

são <strong>de</strong>stinados a assinantes (alguns <strong>de</strong>les <strong>no</strong> exterior) e o restante às vendas avulsas em bancas<br />

e algumas cortesias. Números expressivos para um veículo situado em uma cida<strong>de</strong> com cerca <strong>de</strong> 17<br />

mil habitantes, principalmente ao consi<strong>de</strong>rar o número <strong>de</strong> leitores por exemplar. Segundo<br />

Lilia, cerca <strong>de</strong> 70% dos leitores não compram ou assinam o jornal, que circula sempre às sextas-<br />

feiras.<br />

Assim como acontece <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s jornais, a receita proveniente da venda avulsa e das<br />

assinaturas não é suficiente para garantir o funcionamento do jornal. A publicida<strong>de</strong> tornase, então, a<br />

principal fonte <strong>de</strong> recursos, predominando, <strong>no</strong> caso da publicação venda<strong>no</strong>vense, os anúncios <strong>de</strong>


pequenas e médias empresas locais e <strong>de</strong> órgãos públicos da região. Em conseqüência <strong>de</strong> uma<br />

adaptação <strong>de</strong> mercado, consi<strong>de</strong>rando os poucos anunciantes locais e a inexistência <strong>de</strong> uma cultura<br />

<strong>de</strong> marketing e publicida<strong>de</strong>, o jornal sempre foi em preto e branco, exceto nas edições especiais da<br />

Festa da Polenta, feiras e Festa <strong>de</strong> Emancipação <strong>de</strong> Venda Nova. O fato <strong>de</strong> não haver um gran<strong>de</strong><br />

anunciante, como constata Lilia, dá ao jornal maior in<strong>de</strong>pendência, pois a perda <strong>de</strong> um ou outro<br />

anunciante não terá gran<strong>de</strong> impacto para as finanças do veículo.<br />

Uma das marcas da publicação é a edição especial que circula durante a Festa da Polenta,<br />

tradicional evento <strong>de</strong> manifestação da cultura italiana. Segundo Lilia, o Folha da Terra é o pioneiro<br />

em registros editoriais da festa. Durante essa semana, o jornal publica duas edições, a semanal e a<br />

especial. A edição da última Festa da Polenta, que circulou <strong>no</strong> dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005, abordou o<br />

tema “Álbum <strong>de</strong> família”, fazendo uma referência às parteiras (homenageadas nessa edição da<br />

festa), sem as quais muitos daqueles álbuns estariam incompletos.


Também vale <strong>de</strong>stacar a edição número 501, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2005, que <strong>no</strong>ticiou a morte<br />

<strong>de</strong> Padre Cleto Caliman, <strong>de</strong>scrito pelo jornal como “o homem mais reverenciado <strong>de</strong> Venda Nova”.<br />

A edição conta a história <strong>de</strong> Padre Cleto e traduz o sentimento do povo venda<strong>no</strong>vense com a<br />

sua morte. Confira parte do editorial:<br />

A edição <strong>de</strong>sta semana do Jornal Folha da Terra não estava<br />

<strong>no</strong>s pl<strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Ao receber a <strong>no</strong>tícia da morte <strong>de</strong> padre Cleto <strong>no</strong><br />

domingo, sabia que seria impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> circular com<br />

reportagens especiais. Então <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sdobramos: parte da<br />

equipe retornando das férias, feriados e outros senões.<br />

Superamos todos.<br />

Em <strong>no</strong>me do gran<strong>de</strong> respeito, da gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tudo que<br />

significa este homem.


O jornal apresenta uma estrutura dificilmente encontrada <strong>no</strong> interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Possui<br />

se<strong>de</strong> própria, inaugurada em agosto <strong>de</strong> 2003, on<strong>de</strong>, além da redação e da administração do<br />

jornal, funciona uma livraria, um café e em breve serão ministrados cursos para a comunida<strong>de</strong>.<br />

A equipe é formada por oito pessoas, duas <strong>de</strong>las graduadas em Comunicação Social. Com<br />

exceção da impressão, toda a linha <strong>de</strong> produção do jornal é feita por esses oito funcionários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a apuração das matérias, até a diagramação e a distribuição. Além do jornal, a equipe mantém um<br />

site <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias, que disponibiliza o conteúdo <strong>no</strong> jornal impresso na internet.<br />

Mas nem sempre foi assim. Há alguns <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, a publicação, a montagem do jornal e a revelação<br />

das fotos eram feitas na capital, Vitória, a 103km <strong>de</strong> Venda Nova. A chegada das<br />

tec<strong>no</strong>logias digitais <strong>de</strong> informação e comunicação (TICs) à cida<strong>de</strong> possibilitou a digitalização da<br />

produção do jornal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a diagramação até a fotografia, proporcionando maior dinamismo em tal<br />

processo. Atualmente, o jornal também tem algumas <strong>de</strong> suas matérias veiculadas na internet através<br />

do site www.<br />

folhadaterra.com.br.<br />

Fatos curiosos marcam alguns <strong>de</strong>sses jornais do interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Em Iúna, município<br />

com cerca <strong>de</strong> 30 mil habitantes, aos pés da Serra do Caparaó, por exemplo, está sediado o jornal A<br />

Notícia, veículo semanal que ficou famoso por ser o primeiro a <strong>no</strong>ticiar o aparecimento do “chupa-<br />

cabras”, espécie <strong>de</strong> monstro que bebia o sangue dos animais e que foi <strong>no</strong>tícia <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s veículos<br />

<strong>de</strong> comunicação do País.<br />

Ainda em Iúna, há o jornal Comunicatto, fundado em 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994, que circula<br />

quinzenalmente <strong>no</strong>s municípios <strong>de</strong> Iúna, Irupi, Ibatiba, Ibitirama, Divi<strong>no</strong> <strong>de</strong> São Lourenço, Dores<br />

do Rio Preto, Muniz Freire, Alegre, Jerônimo Monteiro (ES) e Laginha (MG), com uma tiragem <strong>de</strong><br />

3000 exemplares.<br />

O projeto editorial do jornal aponta para a proximida<strong>de</strong> com a realida<strong>de</strong> da população da<br />

região em que o periódico circula.<br />

Fatos <strong>de</strong> abrangência estadual ou nacional são publicados apenas quando têm alguma relação<br />

com a área <strong>de</strong> alcance da publicação.<br />

A preocupação do jornal Comunicatto em se manter próximo à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus leitores<br />

po<strong>de</strong> ser percebida <strong>no</strong> direcionamento dado ao conteúdo publicado em suas editorias e ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s que


circulam permanentemente. Editorias como Política e Eco<strong>no</strong>mia, que, geralmente, concentram<br />

temas <strong>de</strong> abrangência nacional ou estadual <strong>no</strong>s jornais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação, são abordadas <strong>de</strong> modo<br />

a interagir com a realida<strong>de</strong> do leitor, conferindo ao jornal um perfil diferenciado, como afirma o<br />

diretor do jornal, Erasmo Rocha Gonçalves, em entrevista concedida, via correio eletrônico, aos<br />

autores: “Não po<strong>de</strong>mos dizer que o Comunicatto faça competição com os gran<strong>de</strong>s veículos da<br />

Capital, já que os assuntos abordados não são convergentes, ou o são em algumas ocasiões. Quando<br />

isto acontece, o <strong>no</strong>sso jornal procura <strong>de</strong>talhar um assunto mais generalizado pela gran<strong>de</strong> imprensa,<br />

<strong>no</strong> que diz respeito a assuntos que interessem à região, alcançando uma quantida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> leitores<br />

do que os gran<strong>de</strong>s veículos, <strong>de</strong>ntro da região, porque um peque<strong>no</strong> percentual lê A Gazeta ou A<br />

Tribuna, enquanto muitas pessoas que não lêem esses jornais são leitores do Comunicatto”.


Pouco mais ao <strong>no</strong>rte <strong>de</strong> Iúna, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Afonso Cláudio, está sediado o jornal O Resgate.<br />

Fundada em maio <strong>de</strong> 1993, a publicação circula mensalmente nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Afonso Cláudio,<br />

Brejetuba, Laranja da Terra, Venda Nova do Imigrante, Conceição do Castelo, Ibatiba, Pedra Azul,<br />

Marechal Floria<strong>no</strong> e Cariacica.<br />

Um pouco mais próximo à Capital, em Domingos Martins, encontra- se o jornal O Braço Sul.<br />

Fundado em outubro <strong>de</strong> 1990, o jornal tem se<strong>de</strong> própria e circula mensalmente em<br />

Domingos Martins, Marechal Floria<strong>no</strong>, Venda Nova do Imigrante, Vitória (através <strong>de</strong> mala direta) e<br />

Vila Velha (através <strong>de</strong> mala direta), com uma tiragem <strong>de</strong> 5 mil exemplares.


A fonte <strong>de</strong> recursos do jornal é, exclusivamente, a venda <strong>de</strong> espaços para publicida<strong>de</strong>, uma vez<br />

que ele é distribuído gratuitamente.<br />

Segundo a diretora do jornal, Sandra Cola, o veículo é produzido pela empresa Pauta 6<br />

Comunicação e todos os profissionais envolvidos em sua produção possuem curso superior<br />

em Jornalismo. A linha editorial do jornal é voltada para questões pertinentes à realida<strong>de</strong> da região<br />

em que circula. Por isso, não concorre com os veículos <strong>de</strong> abrangência estadual.


A força do <strong>jornalismo</strong> impresso <strong>no</strong> Sul capixaba<br />

Começamos por Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, cida<strong>de</strong> com mais <strong>de</strong> 200 mil habitantes.<br />

Potencialmente importante para o Estado, a “Princesinha do Sul”, palco <strong>de</strong> uma vasta história,<br />

tor<strong>no</strong>u-se uma cida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong> expressão cultural, econômica e política <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Por<br />

isso, é mais que <strong>no</strong>rmal o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong> comunicação que existem na localida<strong>de</strong>.<br />

Historicamente, Cachoeiro contou com jornais importantes como O Clarim, O Arauto, A Época,<br />

Sete Dias, O Momento, Folha da Cida<strong>de</strong>, A Vanguarda, Jornal Capixaba, entre outros, <strong>de</strong> acordo<br />

com Ormando Moraes em A Imprensa <strong>de</strong> Ontem e <strong>de</strong> Hoje, Escritos <strong>de</strong> Vitória (p. 122).<br />

Alguns <strong>de</strong>sses jornais existem até hoje. Outros simplesmente <strong>de</strong>sapareceram com o tempo.<br />

Porém, há pessoas na região que ainda se preocupam em transmitir informações e expressar-se por<br />

meio do <strong>jornalismo</strong> impresso. Como <strong>de</strong>clarou Jules Renard, “Escrever é uma maneira <strong>de</strong> falar sem<br />

ser interrompido”. E é essa filosofia que faz com que muitos persistam nessa profissão.<br />

Como explicado na introdução <strong>de</strong>ste capítulo, a intenção é contar a história <strong>de</strong> pessoas que<br />

contribuem para a criação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural na imprensa capixaba. E, nesse sentido, toda<br />

informação é válida. Essa importância cultural, da qual uma mi<strong>no</strong>ria tem ciência, po<strong>de</strong> ser<br />

entendida <strong>no</strong> trecho escrito por Ormando Moraes (1996, p.122) sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cachoeiro<br />

<strong>de</strong> Itapemirim, <strong>no</strong>s “tempos difíceis” do <strong>jornalismo</strong> impresso:<br />

Em Cachoeiro, além <strong>de</strong> outros, havia naquela época o<br />

Correio do Sul, fundado por Armando Braga e tendo Newton<br />

Braga como seu redator-Chefe. O jornal era composto à mão<br />

(catando milho, como se dizia), pelo saudoso tipógrafo Helio<br />

Ramos, e impresso em primitiva impressora manual, que<br />

exigia e<strong>no</strong>rme esforço físico, mas, mesmo assim, saía<br />

com regularida<strong>de</strong>, duas vezes por semana.<br />

Todo esse processo, hoje, po<strong>de</strong> ser substituído por equipamentos tec<strong>no</strong>lógicos <strong>de</strong> última<br />

geração. Implícitas, porém, nessa “força física” do passado, estavam pessoas que faziam um<br />

<strong>jornalismo</strong> corajoso, persistente, apaixonante. É fato que nem todos eram tão românticos quanto à<br />

profissão, mas a herança que <strong>de</strong>ixaram é fonte <strong>de</strong> inspiração para muitos. Quando não lembrados


pela <strong>de</strong>streza, são lembrados pelas dificulda<strong>de</strong>s que, assim como naquela época existiam, hoje<br />

afligem a maioria das pessoas que sustentam um periódico – principalmente, <strong>no</strong> interior do Estado.<br />

O jornal <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato, <strong>de</strong> Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, já enfrentou muitas dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>no</strong> início do seu processo <strong>de</strong> criação.<br />

O jornal tem como editor e diretor Wagner dos <strong>Santo</strong>s, que adquiriu experiência em uma outra<br />

empresa, uma outra publicação <strong>de</strong> Cachoeiro. Saiu <strong>de</strong> lá <strong>de</strong>cidido a lançar o próprio jornal, que<br />

existe há três <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. E, como é algo muito comum para iniciantes <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong> impresso, as crises<br />

financeiras foram um obstáculo.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas foram muitas e Wagner, ao ser entrevistado pelos autores, explica<br />

por quê: “A gente é muito vulnerável, porque a <strong>no</strong>ssa base comercial é pequena. A única coisa que a<br />

gente tem é o próprio jornal. Se a gente ven<strong>de</strong>r, tem, se não ven<strong>de</strong>r, é complicado. No começo, é<br />

muito mais difícil, mas chega certo momento em que você vai criando credibilida<strong>de</strong>, você vai<br />

conseguindo fechar alguns contratos”. Credibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finitivamente, torna-se a palavra-chave<br />

nessa profissão.<br />

O jornal foi fundado <strong>no</strong> dia 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003 e, <strong>de</strong> lá para cá, a popularida<strong>de</strong> só tem<br />

aumentado. Era gratuito e os próprios funcionários o distribuíam. Joana Campos, que trabalha<br />

atualmente na área comercial do jornal, em entrevista aos autores, lembra seu início <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato: “No começo, a gente não tinha como pagar a mão-<strong>de</strong>-obra, aí a gente montava e<br />

distribuía nas ruas, nós mesmos. Quando eu entrei <strong>no</strong> Fato, ele já tinha seis meses e lembro que a<br />

gente saia na rua distribuindo aquele montão <strong>de</strong> jornal”.<br />

Os próprios anunciantes e assinantes financiavam o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato e o fazem até hoje.<br />

Atualmente, o jornal possui 800 assinantes e, além disso, é distribuído em mala direta, chegando até<br />

a capital, Vitória.<br />

A se<strong>de</strong> ainda é alugada. Mas, mesmo sendo o ambiente <strong>de</strong> trabalho quase familiar, <strong>de</strong>corado<br />

com móveis domésticos e com pessoas bem à vonta<strong>de</strong>, é impossível esquecer que é<br />

daqueles cômodos que surge a <strong>no</strong>tícia a ser entregue para gran<strong>de</strong> parte do Sul do Estado. Des<strong>de</strong> o<br />

início, o jornal possuía uma tiragem <strong>de</strong> 3 mil exemplares. Hoje, porém, já pensam em aumentar esse<br />

número para abranger mais cida<strong>de</strong>s. O <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato atinge os municípios <strong>de</strong> Mimoso do


Sul, Presi<strong>de</strong>nte Kennedy, Itaoca, Vargem Alta, Marataízes, Itapemirim, Muqui e Cachoeiro <strong>de</strong><br />

Itapemirim.<br />

O jornal é diário, circulando <strong>de</strong> terça-feira a domingo.<br />

Outro jornal diário <strong>de</strong> Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, muito popular na região Sul, é a Folha do<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Conhecida pelas polêmi- cas levantadas por suas matérias, a Folha surgiu a partir do<br />

jornal Folha <strong>de</strong> Cachoeiro, com o objetivo <strong>de</strong> alcançar uma visão macrorregional e tirar o<br />

“bairrismo” existente, até então, na linha editorial, po<strong>de</strong>ndo, assim, expandir-se para toda a região<br />

Sul. Com o passar do tempo e reformulações na sua periodicida<strong>de</strong>, a Folha do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> se<br />

tor<strong>no</strong>u um jornal diário.<br />

No dia 1° <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006, o jornal Folha do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> completará um a<strong>no</strong>. Na época <strong>de</strong><br />

seu surgimento, os funcionários, remanescentes <strong>de</strong> um jornal semanário, praticamente não tinham<br />

confiança <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>riam manter um jornal diário. Em entrevista aos autores, o proprietário<br />

Jackson Rangel explica o porquê: “Alegavam que faltaria <strong>no</strong>tícia e que comercialmente não seria<br />

viável”. Transformar a Folha em um jornal diário foi uma atitu<strong>de</strong> pioneira. O tempo passou e as<br />

pessoas se convenceram <strong>de</strong> que realmente era possível existir um periódico distribuído diariamente<br />

na região.<br />

Uma outra situação pioneira provocada pela Folha foi manter um jornal bi-diário durante dois<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Rangel explica como se <strong>de</strong>u o processo: “Nós possuíamos dois editores, fechávamos até as<br />

13h um exemplar, com oito páginas, e um outro matuti<strong>no</strong>, com vinte páginas. Então, o que ocorria:<br />

Às 18h, os assinantes da Folha já estariam a par <strong>de</strong> tudo o que tivesse acontecido até as 13h. Então,<br />

quando os outros jornais iam dar a <strong>no</strong>tícia, mesmo sendo A Gazeta ou A Tribuna, a Folha já estava<br />

circulando”. O Jornal foi bi-diário durante dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, e isto há quatro <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Foi extinto porque, na<br />

época, houve uma alta do dólar e, como todo o material do jornal era baseado na moeda americana,<br />

ele teve <strong>de</strong> ser paralisado, pois se tor<strong>no</strong>u inviável comercialmente e até estrategicamente, segundo<br />

Jackson. O jornal era <strong>de</strong>stinado aos assinantes, porém também era distribuído gratuitamente em<br />

alguns pontos estratégicos da cida<strong>de</strong>.<br />

Uma curiosida<strong>de</strong> quanto à tiragem do jornal: ela é sempre re- gulada <strong>de</strong> acordo com a<br />

manchete principal, po<strong>de</strong>ndo chegar a 4 mil exemplares. Segundo Jackson Rangel e a maioria dos<br />

do<strong>no</strong>s <strong>de</strong> jornais impressos, o que mais ven<strong>de</strong> são dois assuntos:


<strong>de</strong>núncia contra políticos e assuntos relativos à Polícia. “A Folha já <strong>de</strong>nunciou<br />

<strong>de</strong>sembargador, juiz, políticos, empresários, bispo, padre, pastor, tudo que você possa imaginar”,<br />

afirma Jackson Rangel, que segue a seguinte filosofia: “Eu perco um amigo, mas não perco a<br />

<strong>no</strong>tícia”.<br />

Quando a Folha passou <strong>de</strong> jornal semanário para diário, possuía 10 funcionários. Hoje, são<br />

cerca <strong>de</strong> 35. Já chegaram a possuir 50 pessoas trabalhando, mas, após um tempo, concluíram<br />

que não eram necessárias tantas pessoas. O próprio Jackson complementa:<br />

“Chegamos à conclusão <strong>de</strong> que a gente podia fazer um trabalho da mesma qualida<strong>de</strong>, nas<br />

mesmas condições, com um quadro me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> funcionários”. O número <strong>de</strong> funcionários<br />

que produzem o <strong>jornalismo</strong> impresso é muito reduzido <strong>no</strong> interior do Estado. Não somente pelo<br />

tamanho dos municípios, o que, teoricamente, faria com que as <strong>no</strong>tícias fossem facilmente<br />

apuradas, mas principalmente pela situação econômica. Em alguns casos, <strong>no</strong> entanto, o bom estado


das máquinas e a quantida<strong>de</strong> das mesmas (quando existem), também diminuem o número<br />

<strong>de</strong> trabalhadores, como em qualquer empresa.<br />

O jornal Folha do ES foi bissemanário, semanário, <strong>de</strong>pois se tor<strong>no</strong>u diário, <strong>de</strong>pois bidiário, e,<br />

atualmente, é somente diário.<br />

Passaram por lá muitos profissionais formados e não-formados na área <strong>de</strong> Comunicação e,<br />

<strong>de</strong>ssa maneira, foi ultrapassando o tempo. O jornal existe há 10 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e é o único com se<strong>de</strong> e<br />

maquinário próprio em Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim. Circula em praticamente toda a Região Sul do<br />

Estado, porém o foco maior ainda se encontra nas <strong>no</strong>tícias <strong>de</strong> Cachoeiro.<br />

Sobre a linha editorial, Jackson Rangel afirma: “A linha editorial da Folha do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> é<br />

praticamente investigativa. Na linha editorial, na parte opinativa, ela é parcial, ela é<br />

investigativa, toma um posicionamento e por isso também i<strong>no</strong>vou <strong>no</strong> aspecto <strong>de</strong> impactar as<br />

pessoas. É um jornal consi<strong>de</strong>rado polêmico e por ser investigativo faz muitas <strong>de</strong>núncias. Ao mesmo<br />

tempo em que é muito respeitado, também é muito visado <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> perseguição. Eu diria que a<br />

Folha provoca amor e ódio nas pessoas, os dois sentimentos. O que eu ouço <strong>de</strong>masiadamente<br />

e constantemente são ameaças particulares, <strong>de</strong> morte, por telefone, por recado. Mas, se quem <strong>de</strong>seja<br />

fazer <strong>jornalismo</strong> não tiver certo <strong>de</strong>stemor, não consegue fazer. Em Cachoeiro, as pessoas estavam<br />

acostumadas a ter, antes da Folha, um <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> registro, apenas <strong>de</strong> registro. O que seria o<br />

<strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> registro?<br />

É um <strong>jornalismo</strong> que não é questionador, não é investigativo.<br />

Dessa maneira, as autorida<strong>de</strong>s, <strong>no</strong> primeiro momento, rejeitaram o jornal, mas <strong>de</strong>pois tiveram<br />

que se acostumar com esse tipo <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> que existe hoje”.<br />

Mudando o foco para outra cida<strong>de</strong>, histórias interessantes fazem parte do surgimento do jornal<br />

Notícias e Negócios, <strong>de</strong> Piúma.<br />

A história do jornal se confun<strong>de</strong> com a história do capixaba João Carmo. João morou 13 <strong>a<strong>no</strong>s</strong><br />

em São Paulo e lá fez o curso <strong>de</strong> Jornalismo na Escola <strong>de</strong> Comunicações e Artes da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo. Porém, segundo o próprio João, em entrevista dada por e-mail aos autores, ele foi<br />

pressionado pela violência e pelo “terror” causado pela Aids, que o fez per<strong>de</strong>r seu melhor amigo.<br />

Dessa maneira, <strong>de</strong>sencantado com a cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>cidiu voltar para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, sua casa.


Chegou a Piúma <strong>no</strong> dia 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1990. Conseguiu arrancar na Istoé, on<strong>de</strong> disse ter<br />

trabalhado quando residia em São Paulo, um contrato <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Fazia duas ou três matérias por mês. Isso proporcio<strong>no</strong>u o tempo que lhe faltava para andar pelas<br />

praias <strong>de</strong> moto, como lembra. “Foi um período muito bom”. Para se manter, sua casa em São<br />

Paulo ficava alugada.<br />

Tem início, então, a campanha para a eleição <strong>de</strong> governador, na qual Albuí<strong>no</strong> Azeredo era<br />

candidato. João fez matérias para a Istoé (“Primeiro candidato a governador negro na história do<br />

ES”), fotografou Albuí<strong>no</strong> <strong>no</strong>s morros, com galos <strong>de</strong> briga na mão, entrevistou mãe, fãs, etc. As<br />

matérias saíram e Albuí<strong>no</strong> venceu. João explica como surgiu a idéia <strong>de</strong> se fazer um jornal. “Em<br />

Piúma, quem facilitou as entrevistas para mim foi Valter Potratz, aliado <strong>de</strong> Albuí<strong>no</strong>. Com a vitória<br />

do governador, Valter me pressio<strong>no</strong>u:


‘Vamos abrir um jornal’”. Então, foi criado um conselho que reuniu as melhores cabeças<br />

pensantes da cida<strong>de</strong> e assim o jornal começou a ser feito, em julho <strong>de</strong> 1991. Dirigiu o Notícias e<br />

Negócios até fevereiro <strong>de</strong> 2005, período em que o jornal foi publicado ininterruptamente.<br />

O jornal, então, começa a circular em Piúma, vila <strong>de</strong> pescadores com 18 mil habitantes, situada<br />

<strong>no</strong> litoral Sul do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, que possui, como um dos atrativos, um mar <strong>de</strong> águas calmas.<br />

João Carmo diz que foi tachado <strong>de</strong> doido e louco, inúmeras vezes, por manter um jornal numa<br />

cida<strong>de</strong> com um número tão peque<strong>no</strong> <strong>de</strong> habitantes: “Estou em Piúma por opção <strong>de</strong> vida”.<br />

Situações um tanto “diferentes” já fizeram parte do jornal Notícias e Negócios. Na primeira<br />

edição, para atrair os leitores, João conta que sortearam entre eles um bezerro, doado pelo<br />

pecuarista Simão Bassul. O <strong>no</strong>me do bezerro era “Revistinha”, que foi <strong>de</strong>vidamente comido, em um<br />

churrasco em família, pela ganhadora.<br />

Por isso, João brinca ao caracterizar a história do N&N como sendo um tanto “antropofágica”.<br />

Na segunda edição, em agosto <strong>de</strong> 1991, <strong>de</strong>scobriram que não possuíam nenhuma manchete<br />

para a capa. Bolaram, então, uma estória mirabolante, para pren<strong>de</strong>r os leitores. “Íamos contar<br />

uma estória <strong>de</strong> uma visita <strong>de</strong> ETs à Ilha do Gambá, famosa em Piúma, por se tratar <strong>de</strong> uma espécie<br />

<strong>de</strong> ‘motel’ para os garotos nativos. A estória incluía um diálogo louco entre o ET e um surfista<br />

famoso, um adolescente chamado Alanzinho. Mas, <strong>no</strong> último momento, um crime bárbaro<br />

aconteceu, a manchete <strong>de</strong> que tanto precisávamos surgiu e a estória da visita do ET foi esquecida”.<br />

Hoje, o jornal circula <strong>no</strong>s municípios <strong>de</strong> Piúma, Anchieta, Iconha, Iriri, Alfredo Chaves, Rio<br />

Novo do Sul, Itaipava e Itaoca.<br />

Tem tiragem <strong>de</strong> 5 mil exemplares e circula mensalmente nessas cida<strong>de</strong>s. A diretora atual do<br />

jornal, Mônica Siqueira, em entrevista por e-mail, diz ser gratificante trabalhar <strong>no</strong> Interior: “É<br />

um trabalho pesado, mas gratificante. O fato <strong>de</strong> a periodicida<strong>de</strong> ser mensal ajuda a apurar melhor as<br />

<strong>no</strong>tícias e dar continuida<strong>de</strong> a elas. Temos mais tempo. Temos tempo também <strong>de</strong> criar um<br />

relacionamento com os ‘fornecedores’ <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias, o que <strong>no</strong>s garante informações privilegiadas”.<br />

Já em Muqui, município com quase 13 mil habitantes e que possui a maior concentração <strong>de</strong><br />

art-<strong>no</strong>veau do Estado, encontra-se um outro jornal popular. É nessa pacata cida<strong>de</strong> que se<br />

encontra um personagem famoso: João Bicalho, redator-chefe do Jornal <strong>de</strong> Muqui e vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

da Associação dos Jornais do Interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (ADJORI).


O Jornal <strong>de</strong> Muqui foi fundado em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1967.<br />

Segundo João Bicalho, em entrevista dada aos autores por telefone, a idéia partiu <strong>de</strong>le mesmo,<br />

pois tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar em um jornal. Dessa forma, Bicalho tomou frente da construção do<br />

periódico. A produção das <strong>no</strong>tícias, o ato <strong>de</strong> fotografar e a diagramação eram <strong>de</strong> sua<br />

responsabilida<strong>de</strong>. Ou seja, Bicalho é uma espécie <strong>de</strong> “faz tudo” <strong>de</strong>ntro do Jornal <strong>de</strong> Muqui. Porém,<br />

nunca se queixou disso, afirmando que escreve o jornal para ele mesmo.<br />

A entrega dos exemplares também fica por sua conta. Mensalmente, 3 mil exemplares são<br />

distribuídos em todo o Sul do Estado e em outras regiões, como Vitória. Todos pelas mãos <strong>de</strong> João<br />

Bicalho.<br />

Os assinantes e o espaço dado à publicida<strong>de</strong> ajudam o jornal a se manter. O Jornal <strong>de</strong> Muqui é<br />

muito respeitado na região e por isso, atualmente, já conta com cerca <strong>de</strong> 400 assinantes. Isto se <strong>de</strong>ve<br />

à preocupação do redator em abordar os problemas da região <strong>de</strong> forma a atingir todos os tipos <strong>de</strong><br />

público. João não é formado em Jornalismo, é uma pessoa simples que admira seus conterrâneos e<br />

que gosta do que faz. Assim como na maior parte do Interior, o <strong>jornalismo</strong> funciona impulsionado<br />

por pessoas que têm força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, disposição e um forte sentimento pelo que escolheram fazer.


O <strong>jornalismo</strong> impresso também se encontra com bastante força na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alegre, situada na<br />

região do Caparaó. Com uma população <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 32 mil habitantes, Alegre, também<br />

conhecida como “Cida<strong>de</strong> Jardim”, possui diversos atrativos, como rios, cachoeiras, clima frio,<br />

montanhas e é reconhecida nacionalmente pelo Festival <strong>de</strong> Música que acontece todo a<strong>no</strong> na região.<br />

É nessa localida<strong>de</strong> que se encontram o jornal A Palavra e o jornal O Alegrense.<br />

O Alegrense, jornal oficial da Prefeitura, tem o merecido espaço, <strong>de</strong>vido à sua importância<br />

histórica para o <strong>jornalismo</strong>. Mesmo aten<strong>de</strong>ndo a interesses políticos, o jornal também aborda<br />

assuntos <strong>de</strong> cunho geral, <strong>de</strong>stinados à população local. O fator principal seria o tempo <strong>de</strong> sua<br />

existência. O Alegrense foi fundado por José Batista do Nascimento, <strong>no</strong> dia 1° <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1911,<br />

ou seja, está em vigor há 94 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1912, aconteceu a incorporação <strong>de</strong> O Alegrense ao<br />

patrimônio da Prefeitura.<br />

Almyr Carvalho, que redigiu por quase três décadas o jornal, afirma, em entrevista dada por e-<br />

mail aos autores, que, “embora com algum lapso na circulação, é um jornal importantíssimo”.<br />

Primeiro, como ele mesmo salientou, é preciso ter uma <strong>no</strong>ção histórica para que se<br />

compreenda melhor a importância do jornal da Prefeitura <strong>de</strong> Alegre. Explica que, <strong>no</strong> início do<br />

século passado, as comunicações entre as cida<strong>de</strong>s e, principalmente, com a Capital, eram muito<br />

precárias.<br />

Então, as cida<strong>de</strong>s do Interior como Alegre, Guaçuí, São José do Calçado e Colatina, criavam<br />

seus jornais oficiais, que, além <strong>de</strong> divulgar <strong>de</strong>cretos, leis, atas das câmaras, editais do juízo, faziam<br />

cobertura <strong>de</strong> fatos importantes da cida<strong>de</strong>: sociais, administrativos etc.


Almyr confirma sua admiração pelo jornal O Alegrense: “Alegre, hoje estagnada, já foi nas<br />

décadas <strong>de</strong> 10 e 20 do século passado o município mais próspero do Estado <strong>de</strong>pois da Capital.<br />

Tinha 48 mil habitantes, era o que tinha maior número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s matriculados, produzia e<br />

comercializava <strong>de</strong> tudo, principalmente café, que era exportado por meio da Estrada <strong>de</strong> Ferro (quase<br />

que o único meio <strong>de</strong> comunicação existente).<br />

Por isso, além <strong>de</strong> necessário para divulgar atos oficiais, o jornal era uma prova <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. E, justamente pela sua história, nem que seja em museu, seu acervo <strong>de</strong>ve ser<br />

preservado, mesmo com ônus para a Prefeitura. Defendo, como nunca, o meu concorrente e<br />

opositor. Concorrente em termos, já que ele nada cobra nem faz anúncios”.


O Alegrense era impresso em tipografia plana. Almyr dá mais <strong>de</strong>talhes: “Se não me enga<strong>no</strong> a<br />

data, em 1927 a Prefeitura <strong>de</strong> Alegre adquiriu, na Alemanha, uma impressora e uns tipos (aqueles<br />

colocados letra a letra, conforme é visto <strong>no</strong>s filmes <strong>de</strong> faroeste), para imprimir o seu próprio jornal.<br />

Também confeccionava talões, fichas, etc. A impressora e a tipografia, embora <strong>de</strong>sativadas, ainda<br />

existem. Atualmente, entretanto, o jornal O Alegrense é impresso em gráfica mo<strong>de</strong>rna (A<br />

Gazeta), em cores e redigido por jornalistas <strong>de</strong> fora, profissionais”.<br />

Porém, existem as críticas à linha editorial do jornal, por parte do ex-redator: “Em vez <strong>de</strong><br />

registrar fatos e ações oficiais, o prefeito se utiliza <strong>de</strong>le para fazer promoção pessoal e <strong>de</strong> seus<br />

secretários, o que é proibido por lei a um jornal oficial, mantido por dinheiro do contribuinte.<br />

Entretanto, sou um dos <strong>de</strong>fensores da permanência <strong>de</strong> O Alegrense pelo que ele representa <strong>de</strong> valor<br />

histórico e informativo da vida alegrense”.<br />

Almyr Carvalho também <strong>de</strong>u início a outro jornal. A história do jornal A Palavra, também do<br />

município <strong>de</strong> Alegre, inicia-se quando um advogado local, Alceu Silveira, convida Almyr para criar<br />

um jornal in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, que participasse da vida da cida<strong>de</strong> e não <strong>de</strong>scuidasse do pa<strong>no</strong>rama estadual<br />

e fe<strong>de</strong>ral: “Não havia como competir com televisões e jornais diários. Disse a Alceu que meu caso<br />

era escrever. Não gostava nem tinha talento para administração. Ele, então, ficou com a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arranjar anúncios e eu com a parte da redação e tudo o mais. Em pouco tempo,<br />

contudo, Alceu ‘esfriou’ e eu tive que assumir tudo”.<br />

O jornal foi fundado em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1997, funcionando ininterruptamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.<br />

Almyr diz que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação até hoje, o jornal é composto por ele, pelo fotógrafo e pelos<br />

colaboradores, que nada recebem por seus textos. Segundo Carvalho, são profissionais<br />

realizados em outras ativida<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong> ótimo conteúdo intelectual. “Eles escrevem por i<strong>de</strong>alismo e<br />

para manter contato com seus conterrâneos.<br />

Tudo <strong>de</strong> graça. Outro <strong>de</strong>talhe: ninguém tem curso <strong>de</strong> Jornalismo”. Porém, Almyr e Alvimar<br />

(um dos colaboradores) têm registro como jornalistas <strong>no</strong> Ministério do Trabalho, com todos os<br />

direitos inerentes aos diplomados.<br />

Sobre os colaboradores, Almyr salienta o fato <strong>de</strong> serem muito profissionais: “Temos<br />

colaboradores graciosos, a exemplo da eco<strong>no</strong>mista Ângela Penalva, professora <strong>de</strong> pós-graduação da<br />

UERJ, que, evi<strong>de</strong>ntemente, escreve sobre eco<strong>no</strong>mia nacional e mundial;


Osmar Oliveira, advogado, ex-Superinten<strong>de</strong>nte da Portocel, que escreve também uma coluna<br />

sobre política estadual; e Alvimar Rodrigues, que tem uma página sobre varieda<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minada ‘Sopa <strong>de</strong> Letras’. Há, ainda, colaborações esporádicas <strong>de</strong> outras pessoas, poetas,<br />

cronistas, <strong>de</strong> Vitória, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Alegre. Até o imortal da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras,<br />

Carlos Heitor Conny, <strong>no</strong> lançamento do jornal, fez uma crônica <strong>de</strong> saudação”.<br />

Almyr explica como é fazer um jornalzinho <strong>de</strong> Interior: “A gente é tudo. A coisa funciona<br />

assim: eu sou repórter, redator, diretor comercial (cuido dos anúncios). Tenho um rapaz que<br />

fotografa para mim. Depois <strong>de</strong>sse material digitado eu o remeto para o diagramador (muito bom) e<br />

o acompanho <strong>no</strong> trabalho. Concluída essa fase, mando todo o material, em CD, pelo Correio, para a<br />

gráfica, que fica em Petrópolis (RJ), por questão <strong>de</strong> preço e qualida<strong>de</strong>. Depois, <strong>no</strong> dia seguinte,<br />

recebo os exemplares via ônibus. Este é o processo”.<br />

O jornal nunca teve uma se<strong>de</strong> própria. Funciona na sala da resi dência <strong>de</strong> Almyr e não é<br />

vendido em bancas, mas por assinatura.<br />

Eis o sistema <strong>de</strong> financiamento do veículo: “Um comissionado procura as pessoas e faz as<br />

assinaturas, anual ou semestral. Há, ainda, os anúncios comerciais, a publicação <strong>de</strong> editais, avisos<br />

etc., que ajudam a cobrir os gastos. Ninguém banca. Nem autorida<strong>de</strong>s públicas nem políticos.<br />

Vendo, às vezes, espaço político. Temos apenas bons anunciantes, como a Aracruz e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Filosofia <strong>de</strong> Alegre, que mantêm uma página em toda edição. Isto cobre as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> impressão,<br />

frete e impostos, que são muitas, já que meu jornal, apesar da pobreza, é uma microempresa,<br />

legalizada, po<strong>de</strong>ndo dar <strong>no</strong>ta fiscal e tudo o mais. Inclusive fazer pesquisa”<br />

O jornal é um mensário com uma tiragem <strong>de</strong> 2 mil exemplares.<br />

Circula, basicamente, em Alegre, mas, também, em todos os municípios da periferia, assim<br />

como em Vitória, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Brasília. Nessas capitais, principalmente, junto a alegrenses<br />

que moram fora ou em setores públicos: Assembléias Legislativas, Câmara Fe<strong>de</strong>ral, Senado,<br />

Prefeituras, Tribunal <strong>de</strong> Contas etc. A situação praticamente não mudou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação.<br />

“Nosso pla<strong>no</strong> era tirá-lo quinzenalmente e a cores, ter um escritório próprio. Mas, por falta <strong>de</strong><br />

recursos (já que não <strong>no</strong>s atrelamos a políticos), não pu<strong>de</strong>mos fazê-lo”


Ao falar sobre elogios e críticas, Almyr Carvalho conta um episódio que traduz a questão da<br />

relação com os po<strong>de</strong>res públicos:<br />

“Embora as críticas sejam quase sempre justas, elas são, geralmente, mal aceitas pelos po<strong>de</strong>res<br />

públicos. Todos gostam <strong>de</strong> elogio. Num gover<strong>no</strong> anterior, por exemplo, o prefeito era casado com<br />

minha sobrinha e meu afilhado <strong>de</strong> casamento. Ele entrou numa ‘mutreta’. Quis entrevistá-lo para<br />

explicação. Ele se recusou a receber o jornal, dizendo que éramos seus inimigos.<br />

Daí comecei a pegar pesado. Ele, então, ameaçou me agredir fisicamente e prometeu até me<br />

matar se continuasse a criticá-lo.<br />

Continuei e estou vivo. E consegui <strong>de</strong>rrotá-lo na eleição seguinte.<br />

Mais um corrupto que foi para o brejo”.<br />

Todas essas histórias vieram <strong>de</strong> apenas alguns dos vários jornais impressos existentes <strong>no</strong> Sul<br />

do Estado. Os relatos tiveram a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apontar características comuns em cada um<br />

<strong>de</strong>sses periódicos. Na maioria dos outros jornais, essas características são semelhantes. Lutas,<br />

dificulda<strong>de</strong>s, ameaças, alegrias, satisfações, <strong>de</strong>cepções, resistência, persistência. Jornalistas,<br />

formados ou não, com seus veículos, mesmo que não percebam, já fazem história.<br />

Em síntese, po<strong>de</strong>mos ter uma idéia <strong>de</strong> como algumas <strong>de</strong>ssas pessoas pensam sua profissão por<br />

meio das palavras <strong>de</strong> Almyr Carvalho: “O jornal, para mim, não é visto como uma empresa.<br />

Embora tenha excelente qualida<strong>de</strong>, ele é um hobby, uma forma <strong>de</strong> participar da vida da minha<br />

cida<strong>de</strong> e do meu Estado. I<strong>de</strong>alismo puro, algo muito comum na profissão quando nela ingressei”.


O <strong>jornalismo</strong> reinventado<br />

Fazer <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> Interior, em alguns casos, significa reinventar a profissão. A sensibilida<strong>de</strong><br />

do jornalista para compreen<strong>de</strong>r a cultura regional e sua dinâmica social e, assim, conquistar<br />

a confiança dos leitores, torna-se fator fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um veículo <strong>de</strong><br />

comunicação local.<br />

O me<strong>no</strong>r grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> das relações sociais proporciona uma interação entre leitores e<br />

autores dificilmente encontrada <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s jornais. Essa proximida<strong>de</strong> é um dos principais atrativos<br />

para o público leitor, que se enxerga e se i<strong>de</strong>ntifica nas páginas do jornal <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>.<br />

O estreitamento <strong>de</strong>ssas relações, contudo, po<strong>de</strong> ser prejudicial à produção jornalística. É<br />

comum encontrarmos veículos influenciados ou persuadidos pelos po<strong>de</strong>res locais, tanto<br />

política quanto financeiramente. Todavia, há aqueles que resistem e colocam sua paixão pelo<br />

<strong>jornalismo</strong> acima das ameaças e, apesar das dificulda<strong>de</strong>s, buscam fazê-lo da forma mais ética<br />

e transparente possível.<br />

Não se submeter aos interesses <strong>de</strong> grupos com gran<strong>de</strong> influência política e financeira po<strong>de</strong><br />

resultar em dificulda<strong>de</strong>s orçamentárias.<br />

A publicida<strong>de</strong>, principal fonte <strong>de</strong> recursos dos veículos <strong>de</strong> comunicação como um todo, nas<br />

pequenas cida<strong>de</strong>s do Interior capixaba é, em sua maioria, proveniente <strong>de</strong> anúncios <strong>de</strong> órgãos oficiais<br />

(prefeituras, Gover<strong>no</strong> do Estado etc.) ou <strong>de</strong> pequenas empresas. Mesmo nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> porte médio,<br />

como Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, São Mateus, Colatina e Linhares, os principais anunciantes<br />

particulares são empresas locais. A escassez <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> financiamento po<strong>de</strong> tornar o veículo<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seus anunciantes. Mesmo não sendo uma característica exclusiva dos jornais do<br />

Interior, tal <strong>de</strong>pendência, até mesmo pela proximida<strong>de</strong> com o público, torna-se mais incisiva nas<br />

pequenas cida<strong>de</strong>s.<br />

O financiamento é, sem dúvida, um dos principais complicadores para esses jornais <strong>de</strong><br />

peque<strong>no</strong> e médio porte. Muitos não conseguem manter uma periodicida<strong>de</strong> regular e outros tantos<br />

não circulam por muito tempo. São poucos os casos em que os jornais obtêm sucesso enquanto


empresas, conseguindo, por meio <strong>de</strong> sua própria receita, investir em infra-estrutura, funcionários ou<br />

equipamentos.<br />

Outro complicador para a produção <strong>de</strong> jornais <strong>no</strong> interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> é a ausência <strong>de</strong><br />

uma formação acadêmica que atenda às especificida<strong>de</strong>s da práxis jornalística nessas regiões.<br />

O curso <strong>de</strong> Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculda<strong>de</strong> Unilinhares,<br />

situada em Linhares, por exemplo, tem ênfase em assessoria <strong>de</strong> imprensa e não apresenta um<br />

currículo direcionado para as <strong>de</strong>mandas dos jornais interior<strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

Os cursos <strong>de</strong> Comunicação Social / Jornalismo do Interior restringem- se às cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim e Linhares.<br />

Recentemente implantados, esses cursos po<strong>de</strong>m, potencialmente, colaborar para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do <strong>jornalismo</strong> regional, seja formando <strong>no</strong>vos profissionais, seja capacitando<br />

aqueles que já exercem a profissão, porém sem formação acadêmica. Dentre os estudantes <strong>de</strong><br />

Jornalismo das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Linhares e Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, há alguns estagiando <strong>no</strong>s<br />

veículos locais.<br />

Dentre os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Jornalismo da Unilinhares, encontramse vários que já trabalham na área,<br />

seja com radialismo, <strong>jornalismo</strong> televisivo ou impresso. Há, inclusive, proprietário <strong>de</strong> jornal<br />

impresso fazendo o curso. Porém, a gran<strong>de</strong> maioria dos estudantes ainda não exerce a profissão.<br />

Quando questionados se preten<strong>de</strong>m trabalhar na imprensa local, as opiniões são divergentes: alguns<br />

dizem não ter interesse em trabalhar <strong>no</strong> interior do Estado, por acreditarem que o <strong>jornalismo</strong><br />

nessas cida<strong>de</strong>s é ruim, muito influenciado pelas forças políticas e econômicas e difícil <strong>de</strong> ser<br />

mudado; já outros vêem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, após formados, trabalharem em veículos <strong>de</strong> maior porte<br />

em gran<strong>de</strong>s centros para, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> adquirirem prática, voltarem para suas cida<strong>de</strong>s e melhorarem a<br />

qualida<strong>de</strong> do <strong>jornalismo</strong> lá produzido.<br />

A freqüente ausência <strong>de</strong> jornalistas com registro profissional nas publicações regionais é um<br />

tema polêmico e que divi<strong>de</strong> opiniões. A Fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por exemplo,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a obrigatorieda<strong>de</strong> do registro profissional para que se exerça a profissão.<br />

Algumas entida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>mocratização da comunicação, como a Executiva<br />

Nacional dos Estudantes <strong>de</strong> Comunicação Social (Enecos), questionam tal obrigatorieda<strong>de</strong> sob<br />

o argumento <strong>de</strong> ser este um fator cerceador do direito à produção <strong>de</strong> comunicação.


A existência <strong>de</strong> veículos regionais, além <strong>de</strong> contribuir para a diversificação do conteúdo,<br />

também cumpre um importante papel para a preservação da cultura local diante do fenôme<strong>no</strong><br />

da globalização e do imperialismo cultural.<br />

Erros ou circunstâncias?<br />

Durante as pesquisas para a elaboração <strong>de</strong>ste capítulo sobre os jornais do interior do Estado,<br />

registraram-se algumas questões que não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> relatar. Apeguemo-<strong>no</strong>s aos<br />

formatos e conteúdos dos jornais, que apresentam, em alguns casos, certos “<strong>de</strong>svios”.<br />

Iniciamos o trabalho com as <strong>no</strong>ssas referências <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> impresso feito na Gran<strong>de</strong> Vitória<br />

e ensinado na Universida<strong>de</strong>. A comparação é inevitável, mas, ao conhecermos as reais condições <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>no</strong>s peque<strong>no</strong>s municípios capixabas, pu<strong>de</strong>mos perceber a complexida<strong>de</strong> do assunto.<br />

A precarieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>no</strong>s fazer relevar o fato <strong>de</strong> os jornais apresentarem elementos que fogem<br />

às <strong>no</strong>rmas e técnicas do <strong>jornalismo</strong> impresso tradicional. Num primeiro momento e visualmente,<br />

essas discrepâncias po<strong>de</strong>m incomodar, ainda mais para quem tem conhecimento da gramática<br />

narrativa e estética do <strong>jornalismo</strong> impresso. Mas, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> das cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> circulam tais<br />

publicações, essas diferenças não são contun<strong>de</strong>ntes o bastante para que se registrem estranhezas.<br />

Apesar <strong>de</strong> um <strong>jornalismo</strong> mal-cuidado po<strong>de</strong>r representar um certo <strong>de</strong>scaso com a inteligência<br />

alheia, a maior relevância é dada ao conteúdo.<br />

No entanto, entra em cena uma outra questão: para aqueles proprietários que têm ciência da<br />

falta <strong>de</strong> pessoal especializado (jornalistas formados aca<strong>de</strong>micamente) e <strong>de</strong> equipamentos e<br />

elementos suficientes para a finalização do jornal, fica a questão do <strong>de</strong>srespeito com o leitor que dá<br />

credibilida<strong>de</strong> a um veículo que não se preocupa em reparar erros primários, seja na construção da<br />

<strong>no</strong>tícia, seja na publicação <strong>de</strong> imagens e propagandas.<br />

A seguir, reunimos impressões acerca do material analisado.<br />

Não preten<strong>de</strong>mos fazer julgamentos, apenas evi<strong>de</strong>nciar algumas marcas do <strong>jornalismo</strong><br />

praticado <strong>no</strong> Interior, para além do afinco, da persistência e da prestação <strong>de</strong> um serviço essencial à<br />

cidadania:<br />

1) Erros gramaticais foram encontrados em alguns jornais.


Mesmo não tendo como adivinhar as condições na quais se encontrava o autor, incomodamo-<br />

<strong>no</strong>s com a publicação <strong>de</strong> textos sem revisão eficaz<br />

2) Outro fato que chamou a atenção foi a utilização excessiva <strong>de</strong> cores diferentes nas capas dos<br />

jornais. Visual e esteticamente, essa mistura <strong>de</strong> cores po<strong>de</strong> não ajudar <strong>no</strong> processo comunicativo.<br />

variações.<br />

O jornal Tribuna do Cricaré, por exemplo, utiliza na capa, em média, oito cores e suas<br />

3) Alguns projetos gráficos são feitos <strong>de</strong> forma arcaica, não pelo estilo do jornal, mas,<br />

claramente, pela falta <strong>de</strong> senso estético.<br />

Outros utilizam linguagem ultrapassada.<br />

4) O apoio a partidos políticos não é permitido pela ética jornalística.<br />

No entanto, percebemos o excesso <strong>de</strong> matérias sobre alguns políticos capixabas. Os<br />

proprietários dos jornais pesquisados não assumiram nenhum tipo <strong>de</strong> “apoio” por parte do<br />

Gover<strong>no</strong>, por exemplo, o que explicaria tamanha parcialida<strong>de</strong> nas manchetes <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les. O<br />

jornal Folha do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, <strong>de</strong> Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, afirma que toma posições, é<br />

parcial, mas nega que tenha “apoio” <strong>de</strong> partidos políticos.<br />

5) O sensacionalismo ven<strong>de</strong> e todos sabem disso. Eis a questão: qual é o limite para que não se<br />

fira a dignida<strong>de</strong> humana?


6) Outro tipo <strong>de</strong> jornal que ven<strong>de</strong> muito é aquele recheado <strong>de</strong> colunas sociais. O colunismo é<br />

recorrente <strong>no</strong>s periódicos <strong>de</strong> todo o País, é verda<strong>de</strong>, mas, convenhamos, jornal não é apenas coluna<br />

social.


Jornais em circulação <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Com base na pesquisa <strong>de</strong>senvolvida para a produção <strong>de</strong>ste capítulo e por meio <strong>de</strong> listas<br />

cedidas pela Superintendência Estadual <strong>de</strong> Comunicação Social, constatamos que, atualmente,<br />

em todo o interior do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, <strong>de</strong> acordo com os municípios <strong>de</strong> origem, circulam os seguintes<br />

jornais, <strong>no</strong> total <strong>de</strong> 87:


MUNICÍPIOS JORNAIS<br />

Afonso Cláudio<br />

Água Doce do Norte<br />

Alegre<br />

Anchieta<br />

Aracruz<br />

Baixo Guandu<br />

Barra <strong>de</strong> São Francisco<br />

Boa Esperança<br />

Bom Jesus do Norte<br />

Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim<br />

O Resgate<br />

Diário Popular<br />

Folha <strong>de</strong> Alegre<br />

O Alegrense<br />

A Palavra<br />

Terceiro Milênio<br />

Folha <strong>de</strong> Aracruz<br />

Folha do Litoral<br />

O Regional<br />

A Gazeta do Vale<br />

Folha Guan<strong>de</strong>nse<br />

O Regional<br />

O Impacto<br />

O Trovão<br />

Alternativo<br />

Folha do Campo<br />

Gazeta do Norte<br />

O Recado<br />

Gazeta <strong>de</strong> Bom Jesus do Norte<br />

O Brado<br />

O Diário<br />

A Boca<br />

Tribuna do Povo<br />

Sete Dias


Castelo<br />

Colatina<br />

Conceição da Barrra<br />

Domingos Martins<br />

Ecoporanga<br />

Itaguaçu<br />

Iúna<br />

Linhares<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato<br />

Folha do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Folha <strong>de</strong> Castelo<br />

A Folha dos Municípios<br />

Canal Direto<br />

Folha do Norte<br />

Jornal da Indústria e Comércio<br />

Nova Geração<br />

O Imigrante<br />

O Colatinista<br />

Vale do Itaúnas<br />

O Braço Sul<br />

Folha <strong>de</strong> Ecoporanga<br />

Guia do Norte<br />

O Regional<br />

Primeira Página<br />

A Notícia<br />

Comunicatto<br />

Correio do Estado<br />

El Shaddai<br />

Folha <strong>de</strong> Linhares<br />

Notícias do Norte<br />

O Jornal<br />

O Pioneiro


Marataízes<br />

Montanha<br />

Muqui<br />

Nova Venécia<br />

Pedro Canário<br />

Pinheiros<br />

Piúma<br />

Nova Venécia<br />

O Popular<br />

Terra da Gente<br />

Terral<br />

Nova Fase<br />

O Litoral<br />

Diário Popular<br />

Gazeta Popular<br />

Jornal <strong>de</strong> Muqui<br />

A Notícia<br />

Folha do Estado<br />

Norte Sul<br />

O Cidadão<br />

O Estadão<br />

O Momento<br />

Norte-Sul<br />

Correio Capixaba<br />

Fala Povo<br />

Norte Notícias O Guia<br />

O Ponto<br />

Projeção<br />

As Cabral Rezen<strong>de</strong><br />

Hora Aghá<br />

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Venda Nova do Imigrante<br />

Vila Pavão<br />

Folha da Terra<br />

A Voz do Norte<br />

Expresso Norte<br />

Tribuna do Pavão


Referências bibliográficas<br />

BIGIO, Marilza. As cida<strong>de</strong>s e suas gentes, Iúna, capital do café: uma história <strong>de</strong> lutas, sonhos e<br />

conquistas. Revista Século. Disponível em:<br />

. Acesso em 06 out. 2005.<br />

BITTENCOURT, Gabriel. Historiografia capixaba & imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Vitória:<br />

Edit, 1998.<br />

CIDADES e Microrregiões. Disponível em Acesso em set. e out.<br />

2005.<br />

ELE apren<strong>de</strong>u a fazer... Fazendo! Disponível em Acesso em set. 2005.<br />

MORAES, Ormando. A Imprensa <strong>de</strong> Ontem e <strong>de</strong> Hoje. Escritos <strong>de</strong> Vitória.<br />

Vitória: Edit 1996. p122.<br />

Entrevistas<br />

BICALHO, João. Jornal <strong>de</strong> Muqui. 2005. Entrevista concedida a Melina Viana Mantovani. 27 set.<br />

2005.<br />

CAMPOS, Joana. Jornal ES <strong>de</strong> Fato. 2005. Entrevista concedida a Melina Viana Mantovani, 01 out.<br />

2005.<br />

CARMO, João. Jornal Notícias e Negócios. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por<br />

em 05 <strong>de</strong> out.2005.<br />

CARVALHO, Almyr. Jornal A Palavra e O Alegrense. [mensagem pessoal].<br />

Mensagem recebida por em 08 <strong>de</strong> out. 2005.<br />

COLA, Sandra Wernersbach. Jornal O Braço Sul. [mensagem pessoal]<br />

Mensagem recebida por em 09 out.2005.<br />

CONCEIÇÃO, Deni Almeida da. Jornal O Pioneiro. 2005. Entrevista concedida a Ananda<br />

Barcelos Bisi, Linhares, 01 out. 2005.


CUQUETTO, Bento Ta<strong>de</strong>u. Jornal Folha do Norte. 2005. Entrevista concedida por telefone a<br />

Ananda Barcelos Bisi, 06 out. 2005.<br />

FERRARI, José Renato. A Notícia [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por<br />

em 04 out. 2005.<br />

GONÇALVES, Erasmo Rocha. Comunicatto. [mensagem pessoal].<br />

Mensagem recebida por em 17 out.2005.<br />

GONÇALVES, Maria Auxiliadora. Jornal Folha da Terra. 2005. Entrevista concedida a Danilo<br />

Bicalho, Venda Nova do Imigrante, 07 out.2005.<br />

MENDES, José Vicente. Resposta <strong>de</strong> questionário [mensagem pessoal].<br />

Mensagem recebida por em 29 set.2005.<br />

MENDES, José Vicente. Re: pesquisa [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por<br />

em 20 set. 2005.<br />

MIGNONE, Maurício. Jornal O Mirante. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por<br />

em 11 <strong>de</strong> set.<br />

2005.<br />

PINTO, Márcio <strong>de</strong> Castro. Jornal Tribuna do Cricaré. 2005. Entrevista concedida a Ananda<br />

Barcelos Bisi e Melina Viana Mantovani, Vitória, 23 set. 2005.<br />

RANGEL, Jackson. Jornal Folha do ES. 2005. Entrevista cedida à Melina Viana Mantovani, 01 out.<br />

2005.<br />

SANTOS, Wagner. Jornal <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> <strong>de</strong> Fato. 2005. Entrevista cedida à Melina Viana<br />

Mantovani, 01 out. 2005.<br />

SIQUEIRA, Mônica. Jornal Notícias e Negócios. [mensagem pessoal].<br />

Mensagem recebida por em 13 <strong>de</strong> out. 2005.<br />

ZANONI, Hermeval Carlos. Re: Livro [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por<br />

em 03 out. 2005.


Empastelou!<br />

Do porquê <strong>de</strong>ste capítulo<br />

Jornalismo Alternativo:<br />

da década <strong>de</strong> 40 aos dias atuais<br />

Carlos Calenti Trinda<strong>de</strong>, Karina Moura,<br />

Luciana Silvestre, Renata Murari e Vitor Bourguig<strong>no</strong>n<br />

Já que este livro se propõe a contemplar a produção observada <strong>no</strong> Estado nas últimas décadas<br />

<strong>de</strong>ntro do campo do <strong>jornalismo</strong> impresso, <strong>de</strong>stacando a importância <strong>de</strong>ssa produção junto à<br />

socieda<strong>de</strong> capixaba, compreen<strong>de</strong>mos não haver nada mais justo e coerente que incluir como objeto<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa apuração, ao lado dos gran<strong>de</strong>s veículos já inclusos, aqueles que seguem justamente na mão<br />

oposta à lógica em que se funda a gran<strong>de</strong> imprensa (os mass media) e que, malgrado não alcancem<br />

a mesma repercussão, não raro exercem uma influência ainda maior sobre o público restrito a que se<br />

<strong>de</strong>stinam. Referimo-<strong>no</strong>s, evi<strong>de</strong>ntemente, aos jornais alternativos, que, como todos nós<br />

sabemos, gozam <strong>de</strong> ampla representativida<strong>de</strong> social face ao público inscrito em seu raio <strong>de</strong><br />

influência. E, enten<strong>de</strong>ndo ser este o principal critério para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa “pauta”, queremos<br />

crer que não faz sentido <strong>de</strong>scartarmos ou simplesmente ig<strong>no</strong>rarmos essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicação em <strong>no</strong>sso trabalho <strong>de</strong> pesquisa, ainda que admitindo as dificulda<strong>de</strong>s imanentes a esse<br />

tema, quer pela escassez <strong>de</strong> material documentado, quer pela própria abrangência que lhe é própria.<br />

Reconhecemos, igualmente, dada toda essa abrangência, que é impossível encampar em um<br />

capítulo todas as informações que o assunto exigiria ou mereceria, <strong>no</strong> tempo exíguo <strong>de</strong> apuração<br />

que <strong>no</strong>s compete. Este capítulo, é bem verda<strong>de</strong>, está con<strong>de</strong>nado a ficar incompleto ou insuficiente, o<br />

que, porém – ao me<strong>no</strong>s assim pensamos –, não impe<strong>de</strong> que apresente qualida<strong>de</strong> se,<br />

conscientes <strong>de</strong>ssas limitações, <strong>de</strong>finirmos claramente <strong>no</strong>sso campo <strong>de</strong> apuração, e se, <strong>de</strong>ntro daquilo<br />

que <strong>no</strong>s propusemos a apurar, conseguirmos escapar à superficialida<strong>de</strong>.


Mais do que encerrar-se em si, este capítulo <strong>de</strong>ve servir como incentivo, como ponto <strong>de</strong><br />

partida para uma investigação mais apurada sobre essa história que se <strong>no</strong>s foi apresentando<br />

levemente ao longo do prazo que tivemos para <strong>de</strong>svendá-la – o qual, se é certo que foi curto, foi,<br />

ainda assim, suficiente para inferirmos o quão rica ela po<strong>de</strong> se mostrar.<br />

Método<br />

Reunimos algumas das experiências que enten<strong>de</strong>mos ser as mais importantes ou relevantes ao<br />

longo da história da imprensa capixaba, <strong>de</strong>ntro do campo do <strong>jornalismo</strong> alternativo. Para<br />

isso, achamos por bem seguir uma linha cro<strong>no</strong>lógica, que, ainda que alguns entendam não ser a<br />

mais apropriada (po<strong>de</strong>ríamos, por exemplo, ter dividido o capítulo por modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />

imprensa alternativa), foi a que enten<strong>de</strong>mos ser a mais a<strong>de</strong>quada para uma exposição histórica, já<br />

que, por muitas vezes, essas várias modalida<strong>de</strong>s se confun<strong>de</strong>m, inseridas que estão em uma<br />

mesma conjuntura.<br />

Concluímos que, mais interessante que esmiuçar as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada publicação, seria<br />

analisarmos sob o ponto <strong>de</strong> vista histórico o <strong>de</strong>senvolvimento da imprensa alternativa <strong>no</strong><br />

Estado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu tímido alvorecer junto com a imprensa capixaba, na primeira meta<strong>de</strong> do século,<br />

até os dias atuais, portanto contextualizando os vários momentos <strong>de</strong>ssa “evolução” segundo a<br />

perspectiva sócio-político-econômico-cultural que então vivia o País – e, particularmente, o Estado<br />

–, discutindo como a conjuntura vivida pelo <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> em cada momento <strong>de</strong>marcado<br />

repercutiu diretamente na produção alternativa <strong>de</strong> então.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, algumas publicações se impõem e não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> analisá-las mais<br />

<strong>de</strong>tidamente. Assim, elegemos como carros-chefes alguns jornais que tiveram maior<br />

expressivida<strong>de</strong> em suas respectivas épocas, até mesmo com vistas a termos uma compreensão<br />

global do que foi a imprensa alternativa em cada um <strong>de</strong>sses períodos, partindo da análise específica<br />

<strong>de</strong>ssas publicações.<br />

Teremos, assim, <strong>no</strong> período que antece<strong>de</strong> a ditadura militar, uma análise concentrada <strong>no</strong> jornal<br />

Folha Capixaba, que po<strong>de</strong> ser compreendido como único veículo <strong>de</strong> relevância <strong>no</strong> cenário<br />

alternativo capixaba durante o período mencionado. Em seguida, <strong>no</strong> primeiro ciclo da ditadura


militar (que aqui estamos tomando como as décadas <strong>de</strong> 60 e 70), vamos <strong>no</strong>s <strong>de</strong>bruçar com<br />

maior ênfase <strong>no</strong> jornal Posição, que, apesar <strong>de</strong> sua curta duração, foi extremamente representativo<br />

para a luta social contra o regime, sendo, seguramente, o marco principal <strong>de</strong> resistência da<br />

imprensa capixaba à repressão dos militares.<br />

Na seqüência, naquilo que enten<strong>de</strong>mos como o segundo ciclo da ditadura militar (<strong>de</strong> 78 até o<br />

fim oficial da ditadura), a tarefa fica um pouco mais complexa, em função da <strong>no</strong>tável explosão dos<br />

chamados jornais alternativos entre os movimentos sociais (entenda-se populares, sindicais,<br />

religiosos) que então se consolidavam, e que vai acompanhar todo o processo <strong>de</strong> reabertura política<br />

do País. Aqui, optamos por dar um <strong>de</strong>staque um pouco maior ao boletim Ferramenta, produzido, à<br />

época, pela Pastoral Operária <strong>de</strong> Vitória – ligada à Arquidiocese –, por enten<strong>de</strong>rmos que este reúne<br />

e sintetiza todas as principais características que ora caracterizavam esse tipo <strong>de</strong> publicação.<br />

Por fim, trazemos essa discussão para a contemporaneida<strong>de</strong>, em que vamos perceber, à<br />

primeira vista, um certo arrefecimento <strong>de</strong>ssa imprensa <strong>de</strong> caráter alternativo. Na ausência <strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> expoente, um jornal que seja emblemático do período, preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>dicar esse capítulo<br />

exatamente a uma reflexão crítica acerca <strong>de</strong>sse possível “refluxo” e, admitindo que ele tenha<br />

acontecido, quais os fatores que o motivaram. Por fim, tencionamos avaliar a atual situação da<br />

imprensa alternativa capixaba, diante da conformação midiática global que hoje se esten<strong>de</strong> para o<br />

Estado.<br />

Afinal, nesses tempos <strong>de</strong> globalização (leia-se mo<strong>no</strong>pólio e massificação), há espaço para um<br />

<strong>jornalismo</strong> genuinamente alternativo, que <strong>de</strong> fato justifique a expressão? Em caso afirmativo, on<strong>de</strong><br />

estão esses espaços? Atualmente, on<strong>de</strong> se insere o “alternativo”, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificá-lo?<br />

Mas vamos começar pelo começo. Você, leitor atento (que Machado <strong>no</strong>s dê licença), já <strong>de</strong>ve<br />

ter <strong>no</strong>tado que estamos aqui a falar sobre o “alternativo”, a lhe fazer reiteradas alusões, como<br />

se fosse algo consensual, sem termos mostrado uma preocupação em <strong>de</strong>finirmo-lo mais<br />

precisamente. Em verda<strong>de</strong>, longe <strong>de</strong> ser “ponto passivo”, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> “alternativo” suscita um<br />

intenso <strong>de</strong>bate conceitual, quer na aca<strong>de</strong>mia, quer nas instâncias em que se dá sua produção.<br />

De modo que, antes <strong>de</strong> <strong>no</strong>s aventurarmos a fazer qualquer aná- lise crítica ou exposição da<br />

história <strong>de</strong> um jornal, cui<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> dar sua <strong>de</strong>finição – ou melhor, a <strong>de</strong>finição que nós lhe


estamos conferindo, o recorte que fizemos sobre esse conceito fluido e subjetivo que é o <strong>de</strong><br />

“alternativo”.<br />

O que é esse “<strong>jornalismo</strong> alternativo”? Que jornal po<strong>de</strong> se arrogar essa alcunha? Quais são as<br />

características do “alternativo”?<br />

O que <strong>de</strong>fine um jornal como “alternativo”? O que estamos a chamar <strong>de</strong> “alternativo”? E,<br />

afinal, por que “alternativo”?<br />

A quê?<br />

Já <strong>no</strong>s diz o próprio vocábulo: “Alter”: “outro(a)”; “Nativo”: da terra – se quisermos, é claro,<br />

ativar <strong>no</strong>ssa imaginação. Alternativo, então, vem a ser uma segunda opção, uma possibilida<strong>de</strong><br />

outra <strong>de</strong> fazer, criar, pensar alguma coisa, que não aquela previamente existente. Alguns po<strong>de</strong>rão<br />

alegar que o conceito, em si, já sustenta uma <strong>de</strong>preciação, uma <strong>de</strong>squalificação, uma<br />

minimização do objeto <strong>de</strong> estudo, uma vez que, para merecer essa <strong>de</strong>finição, essa característica <strong>de</strong><br />

“alternativo”, tal objeto, a priori, é julgado e analisado sob o prisma do já-existente, isto é, do<br />

hegemônico, tomado então como referência.<br />

Seria, em tese, a título <strong>de</strong> ilustração, o mesmo que dizer que <strong>de</strong>terminada tribo indígena segue<br />

um modo e vida “alternativo”<br />

– só porque este difere do modo europeu oci<strong>de</strong>ntal, amplamente aceito e conhecido.<br />

Revelamo-<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, predispostos a assumir um ponto <strong>de</strong> vista centrado <strong>no</strong> europeu (ou,<br />

como queiram, eurocentrista). Todavia, a rigor, se invertemos o foco pelo qual analisamos a questão<br />

e assumimos a óptica do índio, concluímos que a recíproca também é verda<strong>de</strong>ira. Isto é, o modo <strong>de</strong><br />

vida europeu é que passa a ser o alternativo.<br />

Fazemos este preâmbulo para ajudar a esclarecer o porquê da <strong>no</strong>ssa escolha. Ao falarmos <strong>de</strong><br />

uma “imprensa alternativa”, partimos do pressuposto <strong>de</strong> que há uma imprensa regular,<br />

bem estabelecida, que aqui estamos tomando como base. É uma imprensa tradicionalmente<br />

instituída na socieda<strong>de</strong> e que, ao longo da história, consolidou sua atuação, seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção


e difusão <strong>de</strong> informações como o mo<strong>de</strong>lo convencional <strong>de</strong> se fazer <strong>jornalismo</strong> – portanto, um<br />

mo<strong>de</strong>lo hegemônico.<br />

Essa imprensa, hoje, aten<strong>de</strong>ndo à conformação midiática que se dá em âmbito global, está<br />

concentrada na gran<strong>de</strong> empresa e baliza a sua ativida<strong>de</strong> pela lógica industrial da produção<br />

massiva <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícias. É, portanto, uma imprensa inscrita <strong>no</strong> que po<strong>de</strong> ser entendido como<br />

“comunicação <strong>de</strong> massa” e que, por seu longo alcance e repercussão social, pelo número expressivo<br />

<strong>de</strong> leitores, pela sua proximida<strong>de</strong> (promiscuida<strong>de</strong>) às esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, pela sua influência direta na<br />

configuração da socieda<strong>de</strong> que abrange e nas suas constantes re-configurações, ten<strong>de</strong> a se instaurar<br />

<strong>no</strong> imaginário popular como sendo “a” imprensa; é entendida, <strong>no</strong> senso comum, como o único<br />

modo possível, a única “alternativa”. E é precisamente esse mo<strong>de</strong>lo que adotamos como um<br />

pressuposto, para chegarmos à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssa tal “imprensa alternativa”.<br />

Não quer dizer, <strong>de</strong> modo algum, que estamos aqui legitimando esse mo<strong>de</strong>lo, que estamos<br />

tomando uma visão “globo-centrista”.<br />

Muito pelo contrário, admitir sua hegemonia não equivale a coadunar com ela. Enten<strong>de</strong>mos<br />

que, longe <strong>de</strong> permitir a diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mocratizar a informação – como seus representantes tanto<br />

gostam <strong>de</strong> afirmar –, uma tal conformação é extremamente negativa, na medida em que essa marcha<br />

da concentração dos meios vem <strong>no</strong>tavelmente redundar numa homogeneização do <strong>no</strong>ticiário que<br />

chega à população, logo seguindo na via inversa <strong>de</strong>ssa diversida<strong>de</strong> tão charlatanescamente<br />

propalada.<br />

Ora, tomando-se alguns exemplares <strong>de</strong> exemplos <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong> imprensa, jornais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

circulação que representam esse mo<strong>de</strong>lo, <strong>no</strong>tamos que a or<strong>de</strong>m do dia entre eles é praticamente a<br />

mesma. Seguem estes veículos basicamente os mesmos critérios para <strong>de</strong>finição da pauta e as<br />

mesmas estratégias <strong>de</strong> discurso para apresentar as <strong>no</strong>tícias. Assim, priorizam na seleção dos<br />

fatos aquilo que se mostra vendável (comercializável) e, ao apresentar essas <strong>no</strong>tícias, lançam-lhes<br />

contor<strong>no</strong>s cada vez mais espetacularizados – processo cada vez mais difundido entre os<br />

jornais impressos, visando a recuperar o espaço ocupado pelo tele<strong>jornalismo</strong>.<br />

Fundados que estão esses jornais em parâmetros estritamente comerciais, tratam a informação<br />

como um produto mercadológico, julgando-a, assim, pelo seu valor <strong>de</strong> troca e não mais pelo<br />

interesse social, princípio elementar do <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua mais remota origem.


Com efeito, o caminhar do negócio midiático, em conformida<strong>de</strong> com o caminhar dos tempos,<br />

conduziu-o para uma paulatina concentração dos meios – já anunciada, há muito, pelo<br />

clássico “Cidadão Kane”. À medida que o mundo foi progressivamente se capitalizando,<br />

convertendo-se ao capitalismo – e, por extensão, a seus (anti-)valores do consumo –, a comunicação<br />

foi transmutando-se em segmento econômico, <strong>de</strong>ixando para trás o romantismo <strong>de</strong> suas origens<br />

panfletárias; a informação, por sua vez, produto <strong>de</strong>ssa comunicação, foi adquirindo as feições<br />

<strong>de</strong> mercadoria e, em compasso com os avanços das tec<strong>no</strong>logias que lhe dão suporte, foi-lhe sendo<br />

atribuída importância econômica cada vez maior, a ponto <strong>de</strong> hoje ela ser compreendida como<br />

a mola-mestra <strong>de</strong>sse neo-capitalismo. Fala-se mesmo que a<strong>de</strong>ntramos um <strong>no</strong>vo ciclo do<br />

capitalismo, sucessor ao da energia, e que teria na informação o seu centro <strong>de</strong> irradiação.<br />

Assim sendo, o que vislumbramos hoje é um <strong>jornalismo</strong> concentrado <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

conglomerados, o domínio das corporações <strong>de</strong> mídia, <strong>de</strong> modo que os jornais, vinculados<br />

organicamente a empresas dos mais diversos setores econômicos, constituem-se em nada mais que<br />

seus autênticos porta-vozes, canal que essas empresas utilizam para reproduzirem seu discurso,<br />

amparadas pela legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o meio jornalístico <strong>de</strong>sfruta <strong>no</strong> espaço social.<br />

Po<strong>de</strong>mos falar, portanto, que informação hoje em dia é po<strong>de</strong>r: quem <strong>de</strong>tiver o controle sobre<br />

sua produção, terá, por extensão, o controle virtual da socieda<strong>de</strong>. Quem tiver o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

informar, terá, por extensão, po<strong>de</strong>r político. A disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r não se dá mais <strong>no</strong>s campos <strong>de</strong><br />

guerra, mas <strong>no</strong> espaço virtual. Para além <strong>de</strong> uma disputa bélica, há, antes, uma disputa i<strong>de</strong>ológica,<br />

que não se trava <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> militar, mas <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> midiático, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> simbólico da informação.<br />

E as empresas jornalísticas – e aqui particularmente suas ramificações <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong> impresso<br />

–, largamente instrumentalizadas, apresentam-se como um recurso estratégico para a produção <strong>de</strong><br />

subjetivida<strong>de</strong>s, ação sobre o imaginário coletivo, persuasão e convencimento, dada, em que pese a<br />

concorrência esmagadora exercida por mídias mais mo<strong>de</strong>rnas, a penetração consi<strong>de</strong>rável que ainda<br />

têm na socieda<strong>de</strong>. Há, então, a circulação <strong>de</strong> inúmeras versões, as quais, <strong>no</strong> entanto, dão conta <strong>de</strong><br />

uma só “verda<strong>de</strong>”<br />

– retomando Foucault: “Verda<strong>de</strong>s são discursos hegemônicos”.<br />

Dito isto, não obstante as boas intenções <strong>de</strong> alguns jornalistas ou até mesmo <strong>de</strong> alguns<br />

empresários, percebemos atualmente um <strong>jornalismo</strong> verticalizado, amplamente


<strong>de</strong>scomprometido com as <strong>de</strong>mandas e os anseios populares, cada vez mais distanciado das<br />

comunida<strong>de</strong>s às quais, ao me<strong>no</strong>s em tese, se reporta.<br />

Rigorosamente vão sendo abandonados – ou <strong>de</strong>spriorizados – os princípios que <strong>de</strong>vem<br />

amparar qualquer ativida<strong>de</strong> jornalística, ou que se pretenda como tal.<br />

Nesse sentido, enfatizamos o seu papel <strong>de</strong> formação, que, antes mesmo que se acrescente o<br />

prefixo, <strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r ao real sentido <strong>de</strong> “informar”. “Formação”, aqui, num sentido<br />

muito amplo, não só <strong>de</strong> formar opinião, mas, primeiramente, <strong>de</strong> educar, socializar conhecimento,<br />

divulgar idéias, estimular a criticida<strong>de</strong>, a consciência política e a participação nas esferas públicas,<br />

quer <strong>no</strong> que tange aos espaços <strong>de</strong> representação formal do po<strong>de</strong>r (macroesferas), quer <strong>no</strong> que tange<br />

aos espaços locais <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> (micro-esferas).<br />

Em suma, incentivar a participação política do indivíduo, para que ele <strong>de</strong>senvolva a<br />

consciência <strong>de</strong> seu potencial como agente social e reflita sobre a sua condição <strong>no</strong> mundo que habita<br />

(“mundo”, é claro, sempre relativizado), <strong>no</strong>s vários espaços <strong>de</strong> convivência que freqüenta, <strong>no</strong>s<br />

vários grupos sociais <strong>de</strong> que é parte; reflita, enfim, sobre a sua forma <strong>de</strong> se relacionar com o mundo<br />

e, sobretudo, com seus pares, com as pessoas que divi<strong>de</strong>m esse mundo.<br />

Com efeito, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o homem se enten<strong>de</strong> como homem e busca situar-se neste mundo<br />

(<strong>de</strong>finir o seu lugar e o seu papel), a comunicação (vale lembrar: “tornar comum”) <strong>de</strong>ve, em<br />

essência, ter por finalida<strong>de</strong> a integração entre as pessoas. O <strong>jornalismo</strong>, então, como campo que, na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>, sintetiza essa comunicação, <strong>de</strong>ve se propor a aproximar os indivíduos,<br />

publicizar as questões coletivas, incentivar a interação e o diálogo. A informação <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r a um<br />

coletivo e <strong>de</strong>ve ser usada tendo em vista o bem comum, e não sob essa perspectiva individualista da<br />

autopromoção, do acúmulo, da competitivida<strong>de</strong>, do aprimoramento pessoal, do “quanto mais sei,<br />

mais posso”, tão próprio da era em que vivemos, <strong>de</strong>ssa ética neoliberal que tanto ganha a<strong>de</strong>são entre<br />

as pessoas.<br />

E on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos resgatar esses princípios em <strong>de</strong>suso na imprensa senão <strong>no</strong> assim-chamado<br />

“<strong>jornalismo</strong> alternativo”? Um <strong>jornalismo</strong> que, <strong>de</strong> fato, seja alternativo a esse mo<strong>de</strong>lo, <strong>no</strong>s<br />

mais diversos aspectos da produção jornalística: <strong>de</strong>finição da pauta; seleção, edição e tratamento da<br />

<strong>no</strong>tícia; estilos e estratégias <strong>de</strong> discurso; interlocução com os leitores; linha editorial;<br />

propósitos com a publicação; o público a que se <strong>de</strong>stina e a relação mantida com o mesmo; a


dinâmica <strong>de</strong> produção; a participação <strong>de</strong>sse público naquilo que é veiculado; o perfil da equipe,<br />

daqueles que produzem a informação; sua forma <strong>de</strong> se relacionar com o veículo; as formas <strong>de</strong><br />

financiá-lo e <strong>de</strong> geri-lo; a participação do público em sua gestão e planejamento.<br />

Um <strong>jornalismo</strong>, enfim, que, ao me<strong>no</strong>s em alguns <strong>de</strong>sses aspectos, escape a essa conformação<br />

tradicional da gran<strong>de</strong> imprensa.<br />

Alter-nativo: “o outro da terra”<br />

Como se po<strong>de</strong> ver, o critério que empregamos para <strong>de</strong>finir esse “alternativo” foi o mais amplo<br />

e genérico, sob o risco (assumido)<br />

<strong>de</strong> incorrermos em um reducionismo. Diante da dificulda<strong>de</strong> – ou mesmo da impossibilida<strong>de</strong> –<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>limitarmos esse campo, especificarmos o conceito, optamos por chamar “alternativo” a<br />

tudo aquilo que não é A Gazeta, A Tribuna, etc, enfim, tudo aquilo que não segue uma linha<br />

comercial <strong>de</strong> empresa midiática.<br />

Isto inclui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquelas experiências que po<strong>de</strong>m mais seguramente se caracterizar como<br />

“imprensa alternativa”, isto é, os jornais <strong>de</strong> resistência e oposição política – <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso caso com<br />

<strong>de</strong>staque ao Posição –, até as experiências mais (aparentemente) <strong>de</strong>spretensiosas, jornais <strong>de</strong> alcance<br />

bem me<strong>no</strong>r, com um público específico e <strong>de</strong> âmbito local. Aí incluímos os jornais <strong>de</strong> movimentos<br />

sociais – particularmente aqueles da década <strong>de</strong> 80 –, jornais comunitários, jornais <strong>de</strong> bairros<br />

(associação <strong>de</strong> moradores), eclesiais e sindicais, os quais, em que pese toda sua diversida<strong>de</strong>,<br />

guardam claramente algumas marcas em comum, quais sejam: um conteúdo mais crítico e<br />

politizado, uma linguagem acessível ao “povão” e, <strong>no</strong> mais das vezes, o fato <strong>de</strong> partirem <strong>de</strong><br />

iniciativas populares.<br />

Entretanto, não po<strong>de</strong>ríamos simplesmente ig<strong>no</strong>rar a disparida<strong>de</strong> teórico-conceitual que recai<br />

sobre o conceito. Visando justamente a incorporar essa discussão ao trabalho, contemplar as<br />

opiniões distintas, é que pensamos este sub-capítulo. Num primeiro momento, pensávamos em<br />

pesquisar autores ou correntes teóricas em Comunicação que, ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, <strong>de</strong>senvolveram<br />

trabalhos <strong>de</strong> pesquisa e teorias importantes sobre o tema, a exemplo da escola Lati<strong>no</strong>-Americana –


indicamos Peruzzo, Kaplún, Martín-Barbero Contudo, <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr do trabalho <strong>de</strong> campo, a<br />

interativida<strong>de</strong> se impôs. Mais do que <strong>no</strong>s <strong>de</strong>bruçarmos sobre livros já publicados, pensamentos já<br />

encerrados e sistematizados, a própria discussão com os entrevistados <strong>de</strong> várias procedências foi<br />

<strong>no</strong>s propiciando o contato com as várias concepções <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> alternativo e <strong>no</strong>s levando a<br />

construir a <strong>no</strong>ssa própria idéia sobre o meio.<br />

Falamos com alguns protagonistas <strong>de</strong>ssa história <strong>no</strong> Estado e com alguns intelectuais <strong>de</strong> vários<br />

campos do saber que, <strong>de</strong> alguma forma, <strong>de</strong>dicam-se ao estudo sobre o tema, tais como:<br />

Professora Doutora Desirée Cipria<strong>no</strong>, atualmente <strong>no</strong> Departamento <strong>de</strong> Serviço Social da Ufes, ex-<br />

professora <strong>de</strong> Comunicação Social na mesma universida<strong>de</strong>; Professor Paulo Soldatelli,<br />

atualmente <strong>no</strong> Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social da Faesa; Professora Doutora Marta Zorzal,<br />

do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Ciências Sociais da Ufes; Professora Doutora Beatriz Krohling, atualmente <strong>no</strong><br />

Departamento <strong>de</strong> Serviço Social da Univila (Vila Velha); João Morais, diretor regional do Partido<br />

dos Trabalhadores <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>; Ti<strong>no</strong>co dos Anjos, diretor-geral da TVE <strong>no</strong> Estado.<br />

Pega dali, fuça <strong>de</strong> lá, cada um <strong>no</strong>s emprestava o seu retalho, que íamos tratando <strong>de</strong> amarrar<br />

com <strong>no</strong>ssa “linha alternativa”. Ao fim <strong>de</strong>sse trabalho <strong>de</strong> costura, chegamos a algumas conclusões.<br />

São elas:<br />

1) Em meio a tantas divergências, há, <strong>de</strong>stacadamente, um ponto consensual, livre <strong>de</strong> qualquer<br />

contestação: o “jornal alternativo”<br />

não po<strong>de</strong> possuir fins lucrativos. Ainda que seja vendido, os lucros eventualmente angariados<br />

<strong>de</strong>vem servir a causas outras que não empresariais.<br />

2) No que diz respeito a estratégias <strong>de</strong> discurso, os jornais alternativos, quaisquer que sejam as<br />

suas motivações, seguem diametralmente <strong>no</strong> sentido oposto à gran<strong>de</strong> imprensa –<br />

tradicional, conservadora e burocrática –, cujos expoentes contentam-se em refletir-se mutuamente,<br />

atolados que estão em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> discurso pasteurizados que se (a)fundam em “técnicas<br />

jornalísticas” frias, mecânicas e extremamente aborrecidas.<br />

Assim, em lugar da impessoalida<strong>de</strong>, temos um discurso direto e familiar; em lugar da<br />

objetivida<strong>de</strong> factual, a análise e a reflexão aberta, a argumentação fraterna e dialógica; em lugar da<br />

pretensa isenção (imensa pretensão!), o ponto <strong>de</strong> vista assumido e <strong>de</strong>clarado; em lugar da<br />

neutralida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma suposta imparcialida<strong>de</strong> – que, como sabe qualquer calouro <strong>de</strong> Comunicação


Social, nada mais é que um véu para mal dissimular intencionalida<strong>de</strong>s inconfessas muito<br />

particulares –, a fala explícita que todos sabem <strong>de</strong> on<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong> alguém que todos sabem <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

vem.<br />

3) Po<strong>de</strong>mos – e <strong>no</strong>vamente admitindo uma visão eventualmente redutora – distinguir bem<br />

claramente três modalida<strong>de</strong>s principais <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> alternativo, a saber:<br />

a) Um <strong>jornalismo</strong> com claros contor<strong>no</strong>s político-partidários.<br />

Nas publicações que aten<strong>de</strong>m a esse mo<strong>de</strong>lo, há um discurso politicamente engajado em<br />

<strong>de</strong>fesa dos interesses <strong>de</strong> um partido ou <strong>de</strong> uma corrente política – em alguns casos, mais <strong>de</strong> uma.<br />

Aqui <strong>no</strong> Estado, um perfeito exemplo é o próprio Folha Capixaba, do período pré-ditadura. Há<br />

também aqueles jornais reconhecidamente “<strong>de</strong> esquerda”, que sustentam um discurso libertário<br />

em contraposição à repressão. São os chamados “jornais <strong>de</strong> resistência”, que emergem<br />

particularmente em regimes <strong>de</strong> exceção e cassação <strong>de</strong> direitos civis. O principal exemplo <strong>de</strong>ntro do<br />

<strong>jornalismo</strong> capixaba é, certamente, o Posição. Embora, <strong>de</strong> modo geral, esses jornais se remetam às<br />

massas, não há, aqui, propriamente, uma participação efetiva do povo na sua produção.<br />

b) Um <strong>jornalismo</strong> produzido especificamente para aten<strong>de</strong>r a um segmento social, mas que não<br />

conta, nas etapas <strong>de</strong> produção, planejamento e gestão, com o envolvimento direto <strong>de</strong> seus<br />

representantes.<br />

As publicações aqui inscritas levam até esse grupo social (comunida<strong>de</strong>, categoria, etc)<br />

questões <strong>de</strong> seu estrito interesse – sejam elas mais pontuais (suas <strong>de</strong>mandas e reivindicações), sejam<br />

elas as “causas maiores”. São jornais politizados, que almejam conscientizar seu público e estimular<br />

sua mobilização e participação mais cidadã.<br />

Geralmente, partem <strong>de</strong> iniciativas pessoais <strong>de</strong> jornalistas ligados a esses grupos e engajados<br />

em suas causas, ou são vinculados a entida<strong>de</strong>s como ONGs, partidos, empresas ou instituições<br />

religiosas.<br />

Um bom exemplo <strong>no</strong> Estado é o jornal Ferramenta, ligado à Pastoral Operária, que também<br />

<strong>de</strong>talharemos na seqüência.<br />

c) Um <strong>jornalismo</strong> que se <strong>de</strong>stina a um <strong>de</strong>terminado grupo social e que, para além disso, é<br />

produzido por esse mesmo grupo. Aqui, é certo, a participação da comunida<strong>de</strong> envolvida se dá em<br />

níveis muito maiores. Alguns acreditam que esta é a única modalida<strong>de</strong> genuinamente alternativa <strong>de</strong>


se fazer <strong>jornalismo</strong>, já que todas as etapas <strong>de</strong> produção (redação, impressão, distribuição) da<br />

publicação se encerram <strong>no</strong> interior <strong>de</strong>sse grupo, que, em casos mais extremos, respon<strong>de</strong> ainda pelo<br />

planejamento <strong>de</strong> políticas financeiras e <strong>de</strong> propostas editoriais do informativo (sistema <strong>de</strong> auto-<br />

gestão).<br />

Em alguns casos, po<strong>de</strong> haver, num primeiro estágio, a presença <strong>de</strong> um ou mais jornalistas, que<br />

vão estimular naquele grupo o interesse em criar a publicação, capacitando-o para usar os meios<br />

e orientando-o em suas práticas. Com o passar do tempo, conforme o seu interesse, o grupo po<strong>de</strong><br />

manter a produção, mesmo após o afastamento dos “tutores”. Em verda<strong>de</strong>, esta é uma prática<br />

que vem se disseminando <strong>no</strong> País, sob a tutela <strong>de</strong> Ongs ou por iniciativas pessoais. Em outras<br />

situações, a publicação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spontar <strong>de</strong> um interesse espontâneo do grupo social, a partir <strong>de</strong> uma<br />

necessida<strong>de</strong> autêntica manifesta por seus representantes.<br />

Da década <strong>de</strong> 40 ao início da Ditadura<br />

Jornal Folha Capixaba<br />

Folha Capixaba apareceu-<strong>no</strong>s como uma surpresa ao pesquisar sobre <strong>jornalismo</strong> impresso<br />

alternativo <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Primeiro, pelo período histórico em que o jornal existiu: <strong>de</strong> 1945 a<br />

1964, entre o Estado Novo e a ditadura militar. Não havia muitas expectativas <strong>de</strong> que fôssemos<br />

encontrar algum periódico que questionasse a or<strong>de</strong>m vigente nessa época. Segundo, pelas<br />

próprias características da publicação: um jornal comunista e popular, diário, que permaneceu por<br />

15 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> em circulação, concorrendo com os gran<strong>de</strong>s jornais da época.<br />

Resgatar a história <strong>de</strong>sse impresso capixaba não foi fácil, <strong>de</strong>vido aos poucos registros<br />

históricos que se tem, tanto materiais quanto pessoais. Existem apenas dois rolos <strong>de</strong><br />

microfilmagem do jornal <strong>no</strong> Arquivo Público Estadual, que guarda exemplares dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> 45, 54,<br />

55 e 56. Muitas edições, <strong>no</strong> entanto, estão visivelmente prejudicadas. Não encontramos registros do<br />

jornal em papel, uma vez que todo acervo foi queimado ou apreendido quando ocorreu o golpe <strong>de</strong><br />

64.


Em âmbito pessoal, <strong>de</strong>vido ao tempo, somente os senhores Antônio Granja e Clementi<strong>no</strong><br />

Dalmácio, com 90 e 97 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, respectivamente, são a memória viva <strong>de</strong>ssa experiência <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong>.<br />

As <strong>de</strong>mais pessoas que escreveram <strong>no</strong> jornal, lembradas pelos entrevistados ou que têm seus<br />

<strong>no</strong>mes nas edições encontradas, faleceram ou estão fora do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> há muito tempo.<br />

Apesar das dificulda<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>ramos que essa experiência <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>no</strong> Estado merece<br />

registro e valorização, uma vez que apresenta um recorte da história mais próxima da visão<br />

popular e das forças <strong>de</strong> esquerda e oposição que existiram naquele momento histórico.<br />

Do contexto ao texto e aos personagens em cena<br />

Para compreen<strong>de</strong>r a atuação do jornal Folha Capixaba e sua relevância histórica, é<br />

imprescindível situá-lo <strong>no</strong> contexto político por que passava o Brasil naquele período. E também ter<br />

em vista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, quem foram os principais articuladores e mantenedores do jornal.<br />

A Folha Capixaba teve seu primeiro número lançado em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945. Seus diretores e<br />

proprietários eram João Calazans e Érico Neves, os do<strong>no</strong>s da tipografia on<strong>de</strong> era rodado o jornal.<br />

A redação, administração, distribuição e assinaturas, entretanto, eram <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

principalmente dos membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que entrou na legalida<strong>de</strong><br />

nesse mesmo a<strong>no</strong>, quando termi<strong>no</strong>u a ditadura do Estado Novo <strong>de</strong> Getúlio Vargas.<br />

O a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1945, então, é um marco na reabertura <strong>de</strong>mocrática do País, que acabava <strong>de</strong> sair do<br />

Estado Novo, um período <strong>de</strong> ditadura caracterizado pelo fechamento do Congresso Nacional,<br />

imposição <strong>de</strong> uma Constituição <strong>de</strong> tendência fascista, censura aos meios <strong>de</strong> comunicação e<br />

repressão à ativida<strong>de</strong> política pelo gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Getúlio Vargas – lembrando que o golpe do Estado<br />

Novo, em 1937, ocorreu sob a justificativa <strong>de</strong> que os comunistas estariam preparando o Pla<strong>no</strong><br />

Cohen para tomar o po<strong>de</strong>r <strong>no</strong> Brasil.<br />

Mas a reabertura em 1945 só foi possível <strong>de</strong>vido à pressão internacional.<br />

Nesse período, estava terminando a Segunda Guerra Mundial em favor dos Aliados e contra os<br />

Estados nazi-fascistas a quem Vargas i<strong>de</strong>ologicamente se alinhava. Isto fez com que<br />

ocorressem mudanças institucionais <strong>no</strong> sistema político do Brasil, cul- minando <strong>no</strong> fim do Estado<br />

Novo e na reintrodução das instituições liberais como partidos políticos e realização <strong>de</strong> eleições.


O PCB, então, bastante atacado durante a ditadura <strong>de</strong> Vargas, volta à legalida<strong>de</strong> em 1945 e<br />

articula seus diretórios em vários locais do País, principalmente <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Salvador,<br />

Recife, Belo Horizonte e São Paulo. E articula também publicações em vários lugares,<br />

principalmente jornais diários, como: Tribuna Popular, <strong>no</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral; Hoje, em São Paulo; O<br />

Momento, na Bahia; Folha do Povo, em Pernambuco; O Democrata, <strong>no</strong> Ceará; A Tribuna Gaúcha,<br />

<strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul; O Estado, em Goiás; e Folha Capixaba, <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que a Folha Capixaba, assim como outros jornais do mesmo estilo que<br />

existiram, emerge num momento <strong>de</strong> reabertura <strong>de</strong>mocrática <strong>no</strong> País, <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas forças<br />

<strong>no</strong> contexto político; e terá também o papel <strong>de</strong> marcar a posição da esquerda, representada pelo<br />

PCB na conjuntura política daquele momento.<br />

Das cartinhas dos leitores ao embate político: Folha Capixaba em<br />

tempos <strong>de</strong> Vitória antiga<br />

Como escrito anteriormente, o jornal Folha Capixaba foi lançado em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945.<br />

Des<strong>de</strong> seu primeiro exemplar, já tinha características que o acompanhariam por todas as <strong>de</strong>mais<br />

edições, como a presença <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> membros do PCB, que configuraram a linha política do<br />

jornal, <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> problemas locais e divulgação <strong>de</strong> eventos do Estado, com <strong>de</strong>staque à área <strong>de</strong><br />

esportes.<br />

Na primeira edição do jornal, os principais assuntos abordados foram o Dia do Trabalhador,<br />

com gran<strong>de</strong>s questionamentos às leis trabalhistas; a memória <strong>de</strong> Domingos José Martins,<br />

consi<strong>de</strong>rado herói capixaba em Pernambuco; e análise da situação nacional e internacional por Luiz<br />

Carlos Prestes, gran<strong>de</strong> dirigente do PCB.<br />

Pelos temas abordados, po<strong>de</strong>-se perceber que o jornal pretendia fazer essa aproximação com a<br />

classe operária e com o povo, além <strong>de</strong> divulgar as idéias <strong>de</strong> esquerda naquele momento. Na<br />

primeira edição, Prestes faz uma saudação especial ao jornal:<br />

Ao saudar, neste primeiro número da Folha Capixaba, o<br />

povo do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, evoco a memória <strong>de</strong> Domingos José<br />

Martins, herói e mártir <strong>de</strong> 1817, padrão e guia do Brasil


<strong>de</strong>mocrático e progressista a que havemos <strong>de</strong> chegar. Que<br />

Folha Capixaba seja digna <strong>de</strong>ssa tradição e saiba <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

com sincerida<strong>de</strong> e inteireza os superiores interesses do povo<br />

espíritosantense e dos Estados vizinhos, é o que almeja - Luiz<br />

Carlos Prestes- 26/04/1945.<br />

O editorial da primeira edição enfatizava a postura que o jornal teria:<br />

Presença.<br />

Folha Capixaba é um jornal do povo. Batalhará<br />

pelos anseios da população <strong>de</strong> todos os recantos do<br />

<strong>no</strong>sso Estado, por me<strong>no</strong>res que eles pareçam,<br />

procurando sempre, com justiça e <strong>de</strong>sassombro, a solução<br />

<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.<br />

Problemas populares que necessitam dos<br />

<strong>no</strong>ssos cuidados. Assim sendo, seguiremos sempre<br />

ao encontro da coletivida<strong>de</strong> espírito-santense, levando suas<br />

reivindicações e sugerindo soluções práticas e imediatas. Não<br />

temos quaisquer compromissos que <strong>no</strong>s impeçam <strong>de</strong> lutar<br />

pelas conquistas populares, jornal do povo, nascido do povo,<br />

para aten<strong>de</strong>r exclusivamente à vonta<strong>de</strong> do povo, jamais<br />

daremos lugar às paixões que <strong>no</strong>s afastem <strong>de</strong>ssa linha<br />

<strong>de</strong> conduta.<br />

Assim mostramos a arma com que vamos enfrentar a<br />

luta: - nem o elogio incondicional, nem o ataque sistemático,<br />

pois ambos são incompatíveis com a verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>mocracia.<br />

Um regime como o que esperamos seja estabelecido <strong>no</strong><br />

Brasil, <strong>de</strong>mocrático e progressista, abrangendo elementos <strong>de</strong><br />

todas as camadas sociais, só po<strong>de</strong>rá ser instituído à base <strong>de</strong><br />

campanhas populares, <strong>de</strong>ntro da or<strong>de</strong>m e da liberda<strong>de</strong>.<br />

Regime que não admite nenhum <strong>de</strong>bate sem a participação do<br />

povo. Dentro <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, <strong>no</strong>ssas colunas estarão<br />

sempre abertas, prontas para o levantamento das questões<br />

mais urgentes da nacionalida<strong>de</strong>. Sem exclusivismos<br />

regionalistas, seremos uma ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da terra e do<br />

povo do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Segundo o senhor Clementi<strong>no</strong> Dalmácio, que foi gerente do jornal e membro do “Partidão”, a<br />

Folha Capixaba era um jornal da classe operária, do povo. “Eles participavam do jornal,<br />

levavam reclamação. A Folha Capixaba tor<strong>no</strong>u-se um jornal popular da classe operária. Não fomos<br />

nós que impusemos o jornal, foram eles mesmos que foram trazendo as matérias para publicar”.<br />

O jornal também costumava enfatizar isso nas suas páginas:


A Folha Capixaba li<strong>de</strong>ra o movimento <strong>de</strong>mocrático em<br />

prol da reconquista das liberda<strong>de</strong>s perdidas em 37. É,<br />

portanto, um órgão do povo. Sua gran<strong>de</strong> tiragem, sua feição<br />

gráfica e suas autorizadas fontes <strong>de</strong> informações, dizem<br />

melhor da excelente acolhida que lhe dispensa o público<br />

capixaba.<br />

Esse jornal fazia, <strong>de</strong> fato, uma ponte com o povo, sobretudo com os operários. O senhor<br />

Antônio Granja, colaborador do jornal, recorda que o periódico era lido aos operários que<br />

trabalhavam <strong>no</strong> porto <strong>de</strong> Vitória, uma vez que muitos eram analfabetos.<br />

“O Hermógenes Lima ia levar marmita <strong>no</strong> porto para o seu pai.<br />

Tirava a comida da sua bolsa e também o jornal. E fazia a leitura das <strong>no</strong>tícias em voz alta”.<br />

Além disso, era freqüente o envio <strong>de</strong> cartas à redação do jornal, com sugestões <strong>de</strong> temas a<br />

serem publicados. Po<strong>de</strong>-se perceber que havia <strong>no</strong>tinhas com títulos que retratavam problemas<br />

bem pontuais do cotidia<strong>no</strong> das pessoas, por exemplo: “Escolas para o povo”, “Manteiga acima da<br />

tabela”, “Ônibus para Colatina”. O próprio jornal incentivava esse tipo <strong>de</strong> participação, como<br />

po<strong>de</strong> ser comprovado na seguinte passagem:<br />

Queixas e sugestões:<br />

- Você tem alguma sugestão a fazer?<br />

- O transporte que utiliza é <strong>de</strong>ficiente?<br />

- Seu telefone está constantemente <strong>de</strong>feituoso?<br />

- Em seu bairro há falta <strong>de</strong> água?<br />

- Sua rua é visitada pela limpeza pública?<br />

- Há foco <strong>de</strong> mosquitos e moscas <strong>no</strong>s corredores <strong>de</strong> sua<br />

residência?<br />

- O local <strong>de</strong> seu trabalho é insalubre, mal ventilado?<br />

Enfim, você tem alguma reclamação a fazer?<br />

Escreva-<strong>no</strong>s. Nós seremos, com prazer, o veículo <strong>de</strong> suas<br />

reclamações. Reclame. Mas sempre com razão.<br />

Nas questões locais, o jornal atuava bastante como órgão <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia, retratando os problemas<br />

sociais daquele período, como as dificulda<strong>de</strong>s dos trabalhadores rurais, as obras <strong>de</strong> construção do<br />

porto <strong>de</strong> Vitória, as <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> saneamento e infra-estrutura dos bairros. Além disso, divulgava<br />

eventos da cida<strong>de</strong>, tanto culturais, como peças <strong>de</strong> teatro, quanto políticos, como reuniões <strong>de</strong>


sindicatos. É interessante ressaltar que havia duas colunas fixas <strong>no</strong> jornal: a “Folha Social”, uma<br />

espécie <strong>de</strong> coluna social que continha nascimentos, aniversários, núpcias, saudações do<br />

povo capixaba; e a “Folha <strong>no</strong>s Esportes” que tratava dos eventos esportivos do Estado.<br />

Além <strong>de</strong> tratar recorrentemente <strong>de</strong> questões sociais dos bairros e das cida<strong>de</strong>s do interior<br />

também (principalmente Colatina, Cachoeiro e Guaçuí), o jornal trazia diariamente <strong>no</strong>tícias<br />

internacionais e acompanhava as discussões políticas nacionais, sempre se posicionando claramente<br />

em tempos <strong>de</strong> eleição.<br />

Desse modo, ao olhar as edições do jornal ao longo do a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1945, é possível acompanhar<br />

todo movimento político que acontecia <strong>no</strong> Brasil e internacionalmente, apenas pelos temas<br />

<strong>de</strong> primeira página. As matérias nacionais tratavam principalmente da reabertura <strong>de</strong>mocrática do<br />

País e <strong>de</strong>stacavam o <strong>de</strong>sfecho da Segunda Guerra Mundial; a extinção do DIP (Departamento<br />

<strong>de</strong> Imprensa e Propaganda do Estado Novo); críticas ao integralismo como movimento<br />

anti<strong>de</strong>mocrático; legalida<strong>de</strong> do PCB e sua expansão pelos Estados do Brasil e, posteriormente, sua<br />

organização <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>; organização dos movimentos populares, como na criação do<br />

movimento unificador dos trabalhadores (MUT) <strong>no</strong> Estado. Além disso, o jornal abordou temas por<br />

meio <strong>de</strong> propagandas mesmo, como na convocação da Assembléia Constituinte, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1945.<br />

Diariamente, a Folha trazia <strong>no</strong>vas informações sobre o tema, artigos em <strong>de</strong>fesa da convocação<br />

da Assembléia e propagandas políticas, que incentivavam os leitores a a<strong>de</strong>rirem a esse movimento<br />

em favor da convocação. Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> citar também que os candidatos apoiados<br />

pelo jornal, na época <strong>de</strong> eleições, eram apresentados explicitamente nas suas páginas para<br />

conhecimento do leitor.<br />

Internacionalmente, o jornal abordava questões relacionadas à situação dos países alinhados ao<br />

comunismo, como a União Soviética (havia várias referências a Stálin), China e Iugoslávia, com o<br />

marechal Tito. Percebe-se essa preocupação internacionalista quanto às questões políticas, bastante<br />

característica <strong>de</strong>sse momento histórico <strong>de</strong> reconfiguração geopolítica pós-Segunda Guerra.<br />

A distribuição do jornal também era feita <strong>de</strong> modo a atingir as classes populares. O senhor<br />

Antônio Granja lembra que saía, juntamente com Hermógenes Lima, para distribuir o jornal <strong>de</strong> casa<br />

em casa. “Íamos com 300 exemplares <strong>de</strong>baixo do braço ao morro dos Alago<strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Batíamos <strong>de</strong> porta<br />

em porta oferecendo o jornal”. Os exemplares também eram vendidos em bancas e por crianças na


ua, que gritavam: “Comprem o Folha Capixaba, o jornal do povo!”, já ansiando pela venda <strong>de</strong> um<br />

exemplar para comprar um docinho, como recorda seu Clementi<strong>no</strong>.<br />

Entretanto, o jornal não se mantinha apenas das vendas. Havia muitos anúncios <strong>no</strong> jornal,<br />

sobretudo <strong>de</strong> estabelecimentos comerciais populares como açougues, farmácias, sapatarias, fábrica<br />

<strong>de</strong> móveis, laticínios e loja <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> construção. É interessante observar que o jornal chegou<br />

a fazer uma campanha <strong>de</strong> arrecadação <strong>de</strong> fundos para sua subsistência, divulgando, por várias<br />

edições, uma carta que apresentava suas necessida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s para se manter, juntamente<br />

com uma lista <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes <strong>de</strong> colaboradores freqüentes. Segue a carta publicada <strong>no</strong>s exemplares:<br />

Aos amigos da Folha Capixaba:<br />

Folha Capixaba é um jornal do povo. Tem lutado para<br />

manter sua posição firme, sua linha justa, esboçada na sua<br />

edição inicial, <strong>no</strong> artigo “Presença”, on<strong>de</strong> estabelece a<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu programa.<br />

Dissemos, então: - “Não temos quaisquer compromissos<br />

que <strong>no</strong>s impeçam <strong>de</strong> lutar pelas conquistas populares. Jornal<br />

do povo, jamais daremos lugar às paixões que <strong>no</strong>s afastam<br />

<strong>de</strong>ssa linha <strong>de</strong> conduta”. Efetivamente, assim tem acontecido<br />

e nunca sairemos <strong>de</strong>sse princípio, pois, <strong>de</strong>sse<br />

modo, esperamos correspon<strong>de</strong>r à confiança do <strong>no</strong>sso gran<strong>de</strong><br />

lí<strong>de</strong>r Luiz Carlos Prestes, na mensagem que <strong>no</strong>s enviou <strong>de</strong><br />

saudação ao povo capixaba [...].<br />

Tribuna das aspirações populares, <strong>no</strong>ssa posição <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pendência política precisa ser conduzida ao lado da maior<br />

in<strong>de</strong>pendência econômica. Não temos outros recursos a não<br />

ser o apoio do povo.<br />

Não possuímos outra fonte <strong>de</strong> renda que não a<br />

da contribuição espontânea do povo.<br />

Um grupo <strong>de</strong> amigos da Folha<br />

Capixaba, compreen<strong>de</strong>ndo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mantido<br />

esse jornal do povo, encabeça o movimento <strong>de</strong><br />

ajuda, angariando meios e recursos para que<br />

possamos enfrentar os e<strong>no</strong>rmes gastos indispensáveis<br />

ao prosseguimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa obra.<br />

Louvamos a idéia e a aceitamos, justamente<br />

porque partiu da vonta<strong>de</strong> popular, daqueles que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

primeiro momento, <strong>no</strong>s encheram <strong>de</strong> orgulho e estímulo,<br />

sentindo a necessida<strong>de</strong> da imprensa livre.<br />

Assim, ficou constituída uma comissão <strong>de</strong> ajuda à Folha<br />

Capixaba, composta dos srs: Jason Moreira <strong>de</strong> Barros,


O jornal na concorrência<br />

Geraldo Sodré, Cap. Augusto Olivies, Moysés Cali<strong>no</strong>,<br />

Edward Santana e Major Otto Netto, todos <strong>de</strong>vidamente<br />

cre<strong>de</strong>nciados para esse fim.<br />

Em <strong>no</strong>ssa redação, encontra-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, uma lista para<br />

aqueles que queiram a<strong>de</strong>rir ao movimento.<br />

O jornal Folha Capixaba era um dos jornais <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque da época, concorrendo com A Gazeta<br />

e com A Tribuna. Nessa época, a Folha se colocava como oposição política a A Tribuna, que<br />

era consi<strong>de</strong>rada “integralista” e “reacionária”, como relatam Granja e Clementi<strong>no</strong>. É interessante<br />

registrar que a se<strong>de</strong> do jornal foi ameaçada diversas vezes pelos integralistas, embora não<br />

tenha existido uma ação efetiva por parte <strong>de</strong>les.<br />

A Gazeta, entretanto, não era consi<strong>de</strong>rado um jornal tão reacionário pela Folha Capixaba.<br />

Muitos jornalistas <strong>de</strong> A Gazeta, inclusive, chegaram a trabalhar na Folha nesse período.<br />

“Éramos oposição a A Tribuna, mas não a A Gazeta. A Gazeta era <strong>no</strong>ssa aliada, mas não em<br />

termos <strong>de</strong> matéria; tinha sua linha, que era do conservadorismo, como é até hoje. Participávamos da<br />

Associação <strong>de</strong> Imprensa Capixaba junto com o pessoal <strong>de</strong> lá. Entretanto, tínhamos intrigas com o<br />

pessoal <strong>de</strong> A Tribuna. Porque aí eram os dois opostos: comunismo e integralismo.<br />

E nós sempre ganhamos”, lembra Antônio Granja ao comentar que, muitas vezes, a Folha<br />

Capixaba chegou a ser lida mais que A Tribuna.<br />

O mais interessante <strong>de</strong> se observar nisso é como um jornal marcadamente <strong>de</strong> esquerda,<br />

produzido sem uma infra-estrutura suficiente, que contava com diversos colaboradores<br />

para produção <strong>de</strong> textos, conseguia concorrer, em termos <strong>de</strong> leitura da população, com jornais<br />

produzidos por empresas <strong>de</strong> comunicação.<br />

Folha Capixaba e os gover<strong>no</strong>s locais<br />

A relação <strong>de</strong> Folha com os gover<strong>no</strong>s locais, embora bastante crítica aos problemas sociais, era,<br />

<strong>de</strong> certa forma, amistosa. O senhor Clementi<strong>no</strong> afirma que procuravam não fazer um<br />

embate político direto com o governador, na época Lin<strong>de</strong>nberg.


Mas houve um fato marcante que fez com que a Folha Capixaba influenciasse muito na vida<br />

política do Estado. Em 1960, houve uma eleição para governador, na qual disputaram Jones dos<br />

<strong>Santo</strong>s Neves e Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar, o Chiquinho. O candidato Chiquinho, um populista,<br />

pediu ao PCB que o apoiasse por meio da Folha Capixaba. O jornal, então, lançou uma <strong>no</strong>ta<br />

pedindo ao eleitorado para votar em Francisco Lacerda <strong>de</strong> Aguiar. “O Chiquinho foi eleito. Po<strong>de</strong>ria<br />

ter 20 motivos para isso. Mas o que prevaleceu foi o apoio <strong>de</strong> Folha Capixaba”. Antônio Granja<br />

ainda afirma que o apoio ocorreu porque era o melhor candidato <strong>no</strong> período.<br />

“O Chiquinho era o melhor, era um popular, um populista. O Jones era da elite. O Jones<br />

sempre foi muito reacionário”.<br />

É importante relembrar que a Folha Capixaba <strong>de</strong>ixava bem claro, estampado em suas páginas,<br />

quais eram os candidatos que apoiava.<br />

E por ter essa gran<strong>de</strong> inserção nas camadas populares e <strong>no</strong> interior, era um jornal bastante<br />

procurado para esse tipo <strong>de</strong> apoio político.<br />

Uma escola <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia<br />

A Folha Capixaba teve seu fim <strong>de</strong>cretado <strong>no</strong> golpe militar <strong>de</strong> 1964. Assim como toda<br />

imprensa <strong>de</strong>sse período, o jornal foi confiscado, o material foi queimado e seus responsáveis foram<br />

presos temporariamente, como Clementi<strong>no</strong>, que chegou a ser <strong>de</strong>tido três vezes num mesmo dia por<br />

participar da equipe do jornal.<br />

Por toda sua trajetória, a Folha é consi<strong>de</strong>rada uma escola <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia. “A Folha Capixaba<br />

ensi<strong>no</strong>u para essa gente aí que oposição não é um bicho papão; é uma parte da socieda<strong>de</strong> que não<br />

concorda com o mo<strong>de</strong>lo vigente e busca uma outra saída.<br />

E, nessa saída, educamos. A Folha Capixaba teve um papel muito importante na divulgação<br />

do sistema da <strong>de</strong>mocracia <strong>no</strong> Estado”, <strong>de</strong>staca Antônio Granja.<br />

Também é importante <strong>de</strong>stacar que a Folha Capixaba promovia comícios e ativida<strong>de</strong>s, ou seja,<br />

os <strong>de</strong>bates na vida política ultrapassavam as páginas do jornal e concretizavam-se na prática,<br />

<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, na praça pública.<br />

Como diz Clementi<strong>no</strong>, são “histórias <strong>de</strong> Vitória antiga”, mas que marcaram um período <strong>de</strong><br />

reabertura política do País. É interessante <strong>no</strong>tar que o jornal refletiu a inserção da classe operária na


cena política do Brasil e do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, guiada pelo PCB, que teve fundamental importância na<br />

difusão dos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> esquerda nesse período. A preocupação em divulgar a “voz do povo” <strong>no</strong>s<br />

meios <strong>de</strong> comunicação começava a surgir em alternativas concretas, como foi a Folha Capixaba.<br />

Clementi<strong>no</strong> orgulha-se <strong>de</strong> dizer que “era um jornal <strong>no</strong>sso. Nós podíamos publicar o<br />

que pensávamos, o que acontecia com o povo. Se o povo mandasse uma reclamação para A<br />

Tribuna, não saía. Para A Gazeta, saía um pouco. E, na Folha, saía tudo que o povo pensava”.<br />

Portanto, é preciso perceber a Folha Capixaba como uma expressão concreta da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressar idéias, posicionamentos políticos profundamente reprimidos durante muito tempo<br />

<strong>no</strong> País. O jornal representa a reorganização explícita da esquerda em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> questões políticas,<br />

representada <strong>no</strong> PCB, o qual teve papel central em manter o jornal e pensá-lo como instrumento <strong>de</strong><br />

classe. Desse modo, é possível perceber como os meios <strong>de</strong> comunicação, sobretudo o jornal, dizem<br />

muito <strong>de</strong> uma época. E Folha Capixaba diz muito sobre a visão popular e da esquerda do período<br />

<strong>de</strong> 1945 a 1964.


A estréia do jornal capitaneado pelo Partido Comunista Brasileiro


O Folha Capixaba possuía coluna diária sobre o esporte <strong>no</strong> Estado


O <strong>de</strong>bate sobre o comunismo internacional era pauta obrigatória


O Folha Capixaba tinha posição política expressa em seu conteúdo


A população era convidada a contribuir com o dia-a-dia do jornal<br />

Expediente da Folha Capixaba


Apesar <strong>de</strong> se <strong>de</strong>clarar não-partidário, a influência do PCB era clara


Período ditatorial<br />

Posição<br />

No dia 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1976, com o lema “A imprensa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é a única alternativa”, é<br />

lançada, <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, a primeira edição do jornal Posição. Com a pretensão <strong>de</strong> ser um<br />

jornal diferente dos tradicionais veículos <strong>de</strong> comunicação da época, a primeira edição traz as suas<br />

justificativas sob um editorial intitulado “Um jornal do leitor”:<br />

Afinal, POSIÇÃO saiu. E está em suas mãos. Será POSIÇÃO<br />

um jornal diferente? Sim. Porque é um jornal <strong>de</strong> jornalistas. E<br />

não <strong>de</strong> um industrial, <strong>de</strong> um empresário. E também porque<br />

queremos que, <strong>de</strong>ste jornal, o leitor faça o seu jornal.<br />

Participando como quiser e pu<strong>de</strong>r. Escrevendo crônicas,<br />

poesias ou reportagens, <strong>de</strong>senhando ilustrações, criticando o<br />

<strong>no</strong>sso trabalho ou estimulando a <strong>no</strong>ssa posição.<br />

Desse diálogo entre leitor e jornalista nascera, com certeza,<br />

uma <strong>no</strong>tícia mais representativa das aspirações do leitor. Das<br />

suas aspirações. E das <strong>de</strong> seus amigos. E <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>.<br />

O jornal, portanto, será aberto: suas <strong>no</strong>tícias serão<br />

importantes porque serão as <strong>no</strong>tícias do leitor. Este, <strong>no</strong><br />

momento, <strong>no</strong>s parece o método mais <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> fazer<br />

jornal.<br />

Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar clara a sua posição em relação à forma <strong>de</strong> se fazer jornal, <strong>de</strong>stacando a<br />

importância da participação do leitor, o Posição ressalta ainda os porquês <strong>de</strong> ser um jornal<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, quinzenal e “atrasado”:<br />

O <strong>no</strong>sso jornal é um jornal in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O que é que isso<br />

significa? Uma vez mais, isso vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nós,<br />

jornalistas, e <strong>de</strong> você, leitor. A idéia <strong>de</strong> fazer um jornal <strong>de</strong><br />

jornalistas parece inegavelmente boa. Boa porque, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, a <strong>no</strong>tícia divulgada não obe<strong>de</strong>cerá a interesses<br />

estranhos aos do <strong>jornalismo</strong> propriamente dito. Mas, em<br />

compensação, sem uma estrutura empresarial sólida, <strong>no</strong>s será<br />

muito mais difícil sustentar o jornal. Depen<strong>de</strong>mos<br />

essencialmente do leitor.


Um outro aspecto que <strong>de</strong>veria ser comentado na apresentação<br />

é o do jornal ser quinzenal. Po<strong>de</strong> parecer banal, mas para nós<br />

tem um significado maior, profundamente ligado a <strong>no</strong>ssa<br />

concepção <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong>. [...] Vivemos na época dos pressreleases,<br />

ou seja, boletins previamente preparados pelas<br />

gran<strong>de</strong>s empresas, pelas secretarias, pelas autarquias ou<br />

pelas autorida<strong>de</strong>s, com o objetivo <strong>de</strong> serem a <strong>no</strong>tícia.<br />

Vivemos também na época do off, ou seja, quando<br />

a informação <strong>no</strong>s é comentada ou fornecida ao pé do ouvido<br />

sob a condição <strong>de</strong> não ser citada a fonte.<br />

Em ambos os casos, o gran<strong>de</strong> inimigo do repórter é o tempo.<br />

Trabalhando para um jornal diário, ele fica literalmente sem<br />

tempo para apurar a autenticida<strong>de</strong> dos dados fornecidos pelo<br />

release ou para verificar a honestida<strong>de</strong> da informação dada<br />

em off. Nossa opção por um jornal quinzenal foi também<br />

consi<strong>de</strong>rando que, <strong>de</strong>ssa forma, o repórter terá mais tempo<br />

para apurar a <strong>no</strong>tícia. E sua <strong>no</strong>tícia será seguramente<br />

mais próxima da verda<strong>de</strong>. [...]<br />

A gráfica que <strong>no</strong>s ofereceu o melhor preço para fazer o jornal<br />

é distante, em outro Estado, e isso <strong>no</strong>s obrigará a terminar<br />

cada edição com um adiantamento <strong>de</strong> uma semana. Assim, o<br />

que o leitor está lendo agora já foi preparado, <strong>no</strong> mínimo, há<br />

uma semana. Esse obstáculo, infelizmente, <strong>no</strong>s<br />

parece insuperável, pelo me<strong>no</strong>s por enquanto.<br />

Contamos, pois, com a sua confiança e paciência.<br />

Enfim, <strong>no</strong>s permitimos transcrever parte do editorial, uma vez que ele contém as principais<br />

características que irão marcar a trajetória do jornal. O constante convite ao diálogo com o leitor, a<br />

crítica à consagrada forma <strong>de</strong> se fazer <strong>jornalismo</strong> e ao po<strong>de</strong>r político-econômico que dava o tom aos<br />

veículos tradicionais são características que se <strong>de</strong>stacam <strong>no</strong>s editoriais, <strong>no</strong>s textos, nas ilustrações,<br />

nas entrevistas, nas reportagens. O Posição nasceu em 1976, ainda <strong>no</strong> regime militar. É importante<br />

analisarmos o contexto sócio-político-econômico, não somente do Estado, mas também do País, a<br />

fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos melhor sua existência e seus objetivos.<br />

Nacionalmente, vivíamos o <strong>de</strong>clínio do “milagre econômico”, a forte repressão aos grupos <strong>de</strong><br />

oposição ao Gover<strong>no</strong>, a censura aos meios <strong>de</strong> comunicação, a instituição do AI-5, um período <strong>de</strong><br />

perseguições políticas, prisões, torturas, “<strong>de</strong>saparecimentos”, exilados, tudo, proporcionado pela<br />

ditadura militar que se instalou <strong>no</strong> Brasil com o golpe <strong>de</strong> 1964 – que a gran<strong>de</strong> imprensa


chamou “Revolução <strong>de</strong> 64” e apoiou como sendo a melhor coisa do mundo, que tinha colocado fim<br />

às greves... No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, a década <strong>de</strong> 70 apresenta uma conjuntura importante do ponto<br />

<strong>de</strong> vista do <strong>de</strong>senvolvimento. Após <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> crise econômica com a erradicação dos cafezais, que<br />

empobreceu muito o Estado, já que praticamente toda a sua receita vinha da cafeicultura, o<br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> entra num período <strong>de</strong> reestruturação da sua eco<strong>no</strong>mia.<br />

Surge a Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (Fin<strong>de</strong>s), a fim <strong>de</strong> discutir alternativas para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento, que, resgatando o discurso <strong>de</strong> Jones dos <strong>Santo</strong>s Neves, do início dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 50,<br />

começa a difundir a idéia <strong>de</strong> que o Estado precisava se industrializar para sobreviver, visto que “os<br />

ramos dos cafezais já eram frágeis <strong>de</strong>mais para sustentar o peso crescente da eco<strong>no</strong>mia espírito-<br />

santense”.<br />

Durante toda a década <strong>de</strong> 60, será esta uma das gran<strong>de</strong>s discussões e essa idéia da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> industrialização – divulgada e apoiada por A Gazeta – vai ser implementada justamente <strong>no</strong>s<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70, <strong>de</strong>vido a dois fatores cruciais. De um lado, temos as políticas econômicas nacionais,<br />

baseadas <strong>no</strong> PND (Pla<strong>no</strong> Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento), que vão gerar um processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scentralização da industrialização <strong>no</strong> País, até então concentrada <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s centros urb<strong>a<strong>no</strong>s</strong><br />

(Rio <strong>de</strong> Janeiro/São Paulo), sob a orientação da geopolítica do gover<strong>no</strong> militar, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong><br />

expandir os pólos <strong>de</strong> crescimento. Por outro lado, temos a Vale do Rio Doce que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

criação, vem investindo em infra-estrutura, criando, assim, toda uma logística <strong>de</strong> transportes que vai<br />

gerar crescimento e atrair outros investimentos e empresas para o Estado.<br />

É nesse contexto que o Gover<strong>no</strong> Estadual começa a negociar os chamados “gran<strong>de</strong>s projetos”<br />

que serão implementados durante a década <strong>de</strong> 70 e vão transformar a eco<strong>no</strong>mia capixaba, que <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> ser primário-exportadora para ser urba<strong>no</strong>-industrializada.<br />

Se por um lado, os gran<strong>de</strong>s projetos trouxeram <strong>de</strong>senvolvimento industrial ao Estado, por<br />

outro causaram a expulsão do homem do campo, a urbanização acelerada e <strong>de</strong>sorganizada e<br />

o aumento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e geográficas.<br />

É nessa realida<strong>de</strong> que surgem os jornais alternativos, uma vez que a gran<strong>de</strong> imprensa –<br />

li<strong>de</strong>rada por grupos políticos e econômicos –, quando não alinhada à ditadura, estava amordaçada<br />

pela censura. A imprensa alternativa cresceu muito nesse período com a proposta <strong>de</strong> fazer o<br />

<strong>jornalismo</strong> que a ditadura ou os grupos político- econômicos barravam, mas, também, <strong>de</strong> ser uma


experiência <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> produção jornalística e enfrentamento ao gover<strong>no</strong> militar vigente,<br />

discutindo questões que não eram tratadas <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s veículos e retratando a época com outro(s)<br />

olhar(es).<br />

Como analisa Namy Chequer, jornalista e colaborador do jornal na época, hoje apresentador<br />

do programa Ponto <strong>de</strong> Vista na Rádio Universitária da Ufes: “Lá pela meta<strong>de</strong> da década [70],<br />

surgiram os jornais alternativos nacionais, tipo Opinião, Movimento e outros.<br />

Na esteira <strong>de</strong>sse recurso é que Posição acontece. Era uma época <strong>de</strong> censura prévia na<br />

imprensa. Época em que censores, geralmente policiais fe<strong>de</strong>rais, freqüentavam as redações para<br />

autorizar o que <strong>de</strong>via ser publicado”.<br />

O Posição é resultado da censura e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>missão, como conta Robson Moreira, um dos<br />

fundadores do jornal, atualmente diretor <strong>de</strong> programação da STV (Re<strong>de</strong> Sesc/Senac <strong>de</strong> Televisão):<br />

“Quando eu e o Jô Amado estávamos em A Tribuna, fizemos uma matéria sobre um <strong>de</strong>spejo num<br />

lugar chamado Cantinho do Sossego, <strong>no</strong> município da Serra. O jornal bateu na banca e causou<br />

escândalo.<br />

O governador Elcio Álvares ligou para a direção e pediu a cabeça <strong>de</strong> todo mundo. Quando a<br />

gente saiu <strong>de</strong> A Tribuna, o Jô estava bastante adiantado com a idéia do Posição. Já pensava em<br />

sócios para ajudar, para conseguir algumas cotas em dinheiro. O jornal seria para imprensa<br />

alternativa, difícil <strong>de</strong> ser feito, complicado na sua execução, um misto <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong>. Eu<br />

e o Jô <strong>no</strong>s comprometemos a garantir que o jornal sairia toda quinzena e <strong>no</strong>s entregamos ao<br />

Posição”. Fazer jornal impresso e ainda alternativo era muito trabalhoso, segundo Tânia Mara<br />

Ferreira, colaboradora do jornal por mais <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>, hoje professora do Departamento <strong>de</strong><br />

Comunicação Social da Ufes. “A diagramação era um processo bem artesanal e toda a equipe<br />

ajudava até a fase final do jornal, levava para a gráfica, esperava imprimir para juntar as páginas e<br />

dobrá- las, tudo para baratear o máximo. Todos faziam um pouco <strong>de</strong> tudo, diagramação, discussão<br />

<strong>de</strong> pautas e serviços <strong>de</strong> boy, levando material aqui e ali”, recorda.<br />

O financiamento do jornal era baseado na venda e <strong>no</strong>s anúncios.<br />

Além das assinaturas, o jornal era vendido nas comunida<strong>de</strong>s, por seus próprios colaboradores,<br />

sendo que somente algumas bancas aceitavam vendê-lo. Robson Moreira conta: “Pegávamos o<br />

jornal e saíamos <strong>de</strong> madrugada distribuindo, ven<strong>de</strong>ndo <strong>no</strong>s botecos.


Eu levava para a Universida<strong>de</strong> e Jô para os bairros. Com 2 mil exemplares, colocávamos 500<br />

na banca e distribuíamos 1.500 nas comunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> mão em mão”. Já os anúncios eram, <strong>de</strong> acordo<br />

com Tânia Mara, “basicamente, <strong>de</strong> profissionais liberais <strong>de</strong> esquerda e cobriam apenas o custo do<br />

jornal, que era feito por jornalistas quase na sua totalida<strong>de</strong> voluntários, que tinham um outro<br />

trabalho e eram, na verda<strong>de</strong>, colaboradores”. Como completa Namy Chequer, “profissionais liberais<br />

(médicos, <strong>de</strong>ntistas, advogados e comerciantes) ajudavam com dinheiro. Era gente comprometida<br />

com a luta contra o regime militar. O jornal tinha espaço para publicida<strong>de</strong>, mas assentava sua<br />

viabilida<strong>de</strong> financeira em cima das vendas avulsas”. O público do Posição era<br />

composto, principalmente, por estudantes universitários e li<strong>de</strong>ranças políticas e intelectuais. De<br />

acordo com Namy Chequer, “o jornal era bem vendido. Quem comprava sabia que estava ajudando<br />

a manter um órgão da imprensa alternativa. Os leitores eram pessoas que sabiam que não<br />

encontrariam em A Gazeta e A Tribuna as informações que buscavam. Denúncias <strong>de</strong> corrupção, <strong>de</strong><br />

mordomias do po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> negociatas com dinheiro público, tudo isso era impossível <strong>de</strong> se saber junto<br />

aos jornais tradicionais. Informações sobre ativida<strong>de</strong>s sindicais, tais como fundação <strong>de</strong><br />

sindicatos ou movimentos grevistas, sofriam absoluto boicote na chamada gran<strong>de</strong> imprensa<br />

capixaba”.<br />

Conforme afirma Robson Moreira, o jornal tinha uma tiragem pequena, com uma média <strong>de</strong> 3<br />

mil exemplares por edição. “O jornal Posição era uma coisa muito pequenininha em relação<br />

aos outros veículos estabelecidos. Não tínhamos nenhuma pretensão <strong>de</strong> tirar o leitor, nem <strong>de</strong><br />

concorrer também”. Sobre a produção, Namy <strong>de</strong>staca que o jornal foi duramente perseguido, por<br />

isso não era qualquer gráfica que permitia sua impressão. Dificulda<strong>de</strong> que foi explicitada na<br />

apresentação do jornal, logo <strong>no</strong> editorial da primeira edição. Conforme lembra Robson Moreira,<br />

“era complicado, tínhamos <strong>de</strong> mandar para Belo Horizonte, on<strong>de</strong> o fotolito era feito, <strong>de</strong>pois para a<br />

gráfica <strong>de</strong> um conhecido <strong>no</strong>sso em Juiz <strong>de</strong> Fora, on<strong>de</strong> rodava e mandava para a rodoviária”.<br />

De maio <strong>de</strong> 1976 até o final <strong>de</strong> 1979, período <strong>de</strong> duração do Posição, é possível perceber três<br />

fases que caracterizam o percurso do jornal. Criado por jornalistas, a primeira é marcada pela<br />

nãoligação a partidos ou organizações e por uma linha jornalística <strong>de</strong> produção, com a preocupação<br />

<strong>de</strong> elaborar matérias, reportagens e entrevistas <strong>de</strong> natureza jornalísticas, embora já se colocasse, não


somente <strong>no</strong>s editoriais, mas também em outras páginas, opiniões e posicionamentos políticos que<br />

tiravam muito a pretensão <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse primeiro momento.<br />

De acordo com Robson Moreira, a idéia era dizer, em função <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong> –<br />

início da abertura <strong>de</strong> uma ditadura muito cruel –, tudo aquilo que há muito não era dito.<br />

Segundo Ti<strong>no</strong>co dos Anjos, jornalista, que embora não tenha trabalhado, era envolvido com o<br />

jornal na época, “o Posição era um jornal <strong>de</strong> esquerda que <strong>de</strong>nunciava, criticava e fazia<br />

oposição àquela situação política do País. Batia nisso com força. Eu me lembro <strong>de</strong> uma matéria <strong>de</strong><br />

capa que me marcou muito, sobre o prefeito da Serra, José Maria Feu Rosa. O título da matéria<br />

era assim: ‘Êta corruptozinho <strong>de</strong> merda’, referindo-se ao fato <strong>de</strong> ele ter sido apanhado numa<br />

pequena transação <strong>de</strong>sonesta mal feita.<br />

Então, era um jornal que misturava humor com agressivida<strong>de</strong> política, e era um espaço <strong>de</strong><br />

combate mesmo”.<br />

A segunda fase, entre 1977 e 1978, é marcada pela inserção <strong>de</strong> outros profissionais, como<br />

intelectuais e integrantes <strong>de</strong> movimentos sociais, <strong>de</strong> forma que, uma vez inseridos <strong>no</strong>s meios <strong>de</strong><br />

comunicação, pu<strong>de</strong>ssem se sentir como personagens <strong>de</strong>ssa história. “Fizemos do movimento<br />

popular na periferia a gran<strong>de</strong> matéria-prima para o jornal. Nós não fazíamos para eles, mas, por<br />

meio do jornal, falávamos dos problemas e que, se eles se organizassem, podiam conquistar a vida<br />

que estavam necessitando.<br />

E eles se animavam a conversar com o outro e daqui a pouco, tinha gran<strong>de</strong>s famílias<br />

envolvidas. Era uma situação <strong>de</strong> abando<strong>no</strong>, <strong>de</strong> miséria absoluta, <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> saneamento básico, <strong>de</strong><br />

falta <strong>de</strong> comida”, <strong>de</strong>screve Robson Moreira.<br />

Nesse período, surge uma das principais características que distingue o Posição dos <strong>de</strong>mais<br />

jornais daquela época: um conselho editorial. De acordo com Moreira, esse conselho era bastante<br />

diversificado e qualquer um podia participar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que freqüentasse as reuniões. As pessoas que o<br />

constituíam nem sempre eram jornalistas; havia também, e principalmente, pessoas da<br />

comunida<strong>de</strong>, da Universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> movimentos, sindicatos, isto é, pessoas que tinham suas<br />

respectivas militâncias, mas que, naquele momento, participavam das discussões e edições do<br />

jornal. Há quem diga que, nesse período, o jornal passou a servir como instrumento dos diversos<br />

movimentos <strong>de</strong> base e que, por isso, teria <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser um jornal, idéia que vem <strong>de</strong> encontro ao


que pensa Robson Moreira: “O conselho não fez com que o jornal <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser jornal. Ao<br />

contrário, caracterizou-o ainda mais, porque a idéia do conselho era <strong>no</strong>rmatizar e dar voz a<br />

representantes da socieda<strong>de</strong> ou da comunida<strong>de</strong>. A socieda<strong>de</strong> não é feita somente <strong>de</strong> jornalistas, e as<br />

pessoas se sentiam presentes nas edições, isso <strong>de</strong>u a essência do jornal”.<br />

A terceira e última fase está situada <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1979. Mais especificamente, a partir <strong>de</strong> maio,<br />

quando o jornal passa por uma “mudança radical e profunda”, como é possível verificar <strong>no</strong><br />

editorial da edição <strong>de</strong> número 53 do dia 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1979:<br />

A teorização – como alguns preferirão chamar toda a<br />

argumentação acima – tem também uma justificativa:<br />

acontece que nós, a equipe que faz Posição, resolvemos com<br />

base numa análise <strong>de</strong>talhada, séria, conseqüente e profunda<br />

da realida<strong>de</strong> e da conjuntura, assumirmos os riscos e<br />

as conseqüências <strong>de</strong> uma mudança profunda e radical.<br />

O radical muda, já dissemos, citando Paulo Freire, quando<br />

constata um erro ou equívoco ou quando a conjuntura muda.<br />

Nessas situações, sua análise, sua prática e sua postura<br />

também mudam.<br />

Nós, <strong>de</strong> Posição, com base <strong>no</strong> trabalho, nas posições, nas<br />

posturas e nas práticas assumidas durante esses dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e<br />

meses <strong>de</strong> uma existência sofrida e encarada sempre com luta,<br />

<strong>de</strong>stemor e <strong>de</strong>scomprometimento, reivindicamos e<br />

fazemos mesmo questão <strong>de</strong> assumirmos a qualificação (ou<br />

o ‘rótulo’, o ‘estigma’, a ‘pecha’, ou até o xingamento como<br />

muitos classificarão), <strong>de</strong> radicais – com todos os riscos e<br />

conseqüências que disso possa advir.<br />

A conjuntura mudou. Assim, não faz sentido continuarmos os<br />

mesmos [...] A conjuntura política, social e econômica<br />

mudou. O Brasil <strong>de</strong> hoje não é mais o Brasil <strong>de</strong> há dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

O ‘milagre’ acabou. A crise do petróleo, a crise do<br />

capitalismo internacional, a crise econômica interna do país,<br />

aliados a ‘fissuras’ e ‘rachaduras’ internas do sistema,<br />

somados às pressões populares, trabalham todos,<br />

rapidamente, para quebrar e arrebentar com tudo isso.<br />

Para quebrar e arrebentar com a ditadura.<br />

Visto que esse último momento se concentra, basicamente, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1979 e que esse período<br />

<strong>no</strong>s apresenta marcos históricos <strong>no</strong> que diz respeito ao regime militar vigente, consi<strong>de</strong>ramos


importante pontuar alguns <strong>de</strong>sses acontecimentos que marcaram o contexto político nacional, a fim<br />

<strong>de</strong> suscitar possíveis conclusões acerca do final do jornal. Ainda <strong>no</strong> final <strong>de</strong> 1978, o País vive a<br />

revogação do AI-5, aprovada pelo Congresso e sancionada pelo General Geisel. Era um indício <strong>de</strong><br />

que um processo <strong>de</strong> abertura política estava sendo encaminhado.<br />

Este seria o primeiro fato, dos vários que iriam marcar o a<strong>no</strong> seguinte. Em maio <strong>de</strong> 79, nas<br />

comemorações do Dia do Trabalho, é lançada a Carta <strong>de</strong> Princípios daquele que seria em pouco<br />

tempo uma referência política para os trabalhadores: o PT (Partido dos Trabalhadores).<br />

No mesmo mês, ocorre o 31º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o primeiro<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968, com a presença <strong>de</strong> 10 mil estudantes, espaço que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pela realização da<br />

primeira eleição direta da entida<strong>de</strong>, que aconteceu cinco meses <strong>de</strong>pois, com a participação <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 300 mil votantes. Em agosto e <strong>no</strong>vembro do mesmo a<strong>no</strong>, duas importantes votações são<br />

aprovadas <strong>no</strong> Congresso.<br />

A primeira é a Lei da Anistia, que beneficia cerca <strong>de</strong> 4.500 presos políticos.<br />

Embora a esquerda do MDB (Movimento Democrático Brasileiro)<br />

tenha rejeitado o caráter recíproco e parcial da lei, o general João Baptista Figueiredo sanciona<br />

a anistia limitada, mas, ainda assim, uma conquista. Parte dos presos políticos é libertada e os<br />

exilados começam a retornar ao Brasil. A segunda é a Reforma Partidária, que <strong>de</strong>creta o fim da<br />

Arena e do MDB e permite que <strong>no</strong>vos partidos sejam criados.<br />

Além das aprovações do Congresso, o final da década <strong>de</strong> 70 é marcado – talvez como<br />

conseqüência – pelo fortalecimento <strong>de</strong> outras frentes <strong>de</strong> luta, como a rearticulação e o<br />

surgimento <strong>de</strong> diversos movimentos que já eram me<strong>no</strong>s reprimidos e que vão dar o tom à década<br />

seguinte. Paralelamente a esse processo, percebiam-se os efeitos da diminuição da censura oficial<br />

sobre os jornais tradicionais, o que implica o fim do espaço exclusivo da imprensa alternativa, que<br />

atendia às <strong>de</strong>mandas sociais, <strong>no</strong>ticiando e discutindo o que os outros não <strong>no</strong>ticiavam.<br />

Conforme analisa Robson Moreira: “Quando já estava praticamente consolidado o processo <strong>de</strong><br />

abertura, a sensação que passamos a ter era <strong>de</strong> que a imprensa alternativa tinha perdido um pouco<br />

do que a motivava. Várias pessoas que estavam voltadas para a imprensa alternativa começaram a<br />

migrar para partidos políticos, a enten<strong>de</strong>r que tudo ia passar agora por uma fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia,<br />

pelo voto, pelo povo. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) começou a aparecer. O PC do B


(Partido Comunista do Brasil) começou já também a botar as garras <strong>de</strong> fora, e ficou uma militância<br />

mais político-partidária do que militância por uma causa”.<br />

As mudanças propostas <strong>no</strong> editorial, <strong>de</strong> fato, foram profundas e radicais. Além <strong>de</strong> passar a ser<br />

um jornal semanal, o que quebrava uma das principais características do Posição (a crítica quanto à<br />

limitação do tempo), o jornal passou a ter um viés mais partidário, com mudanças – talvez mínimas,<br />

contudo perceptíveis e fundamentais – como a forma <strong>de</strong> dialogar com o leitor.<br />

A linguagem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser simples, do povo para o povo, e passa a ser uma linguagem<br />

partidária e para a massa. No início, o jornal dialogava com a comunida<strong>de</strong>, entrevistando pessoas<br />

comuns, como trabalhadores <strong>de</strong> rua, pessoas que tinham perdido a terra para a plantação<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> eucaliptos, enfim, cidadãos que contavam suas histórias <strong>de</strong> vida. A partir daí, o<br />

jornal analisava e criticava o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> que vinha sendo <strong>de</strong>senvolvido, não só <strong>no</strong> Estado,<br />

mas <strong>no</strong> Brasil.<br />

Para Namy Chequer, “o jornal adotou um estilo irônico e mordaz, uma linha com mais humor<br />

e uma dose, não exagerada, <strong>de</strong> sensacionalismo. Mais para chamar a atenção do leitor e atrair<br />

vendas.<br />

Era uma tentativa <strong>de</strong> escandalizar as coisas da política”. Nesse período, Luzimar Nogueira<br />

Dias, jornalista e militante do PC do B, falecido num aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> carro em 1986, assumiu a direção<br />

do jornal, dando mais ênfase aos temas internacionais, às discussões sobre o comunismo pelo<br />

mundo e às questões político-partidárias.<br />

Durante toda a sua trajetória, o Posição abarcou pessoas <strong>de</strong> várias tendências políticas, todas<br />

naturalmente <strong>de</strong> esquerda. Namy Chequer acredita que “o jornal ficou realmente inviável,<br />

justamente, quando surgiram divergências políticas entre aqueles que <strong>de</strong>fendiam a fundação <strong>de</strong> um<br />

partido popular <strong>de</strong> esquerda (mais tar<strong>de</strong> veio a ser o PT) e os que queriam a manutenção do<br />

PMDB como forma <strong>de</strong> melhor combater o regime militar que já dava sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição”.<br />

Entre 1976 e 1979, o jornal Posição publicou 65 edições. Edições que, além <strong>de</strong> serem<br />

fundamentais para compreen<strong>de</strong>r a história capixaba, marcaram um posicionamento político<br />

diferenciado frente ao regime militar instalado <strong>no</strong> País.


“O jornal que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do leitor”: o Posição entra em cena em 1976


Em 1977, o Posição não conseguiu driblar a perseguição da ditadura


O Posição “expludia” as regras para falar nas entrelinhas


Conflitos e contradições na breve história do Posição


Posição: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”


A Igreja entra com tudo na peleja<br />

Durante o regime militar, A Igreja esteve na vanguarda das mudanças <strong>no</strong> País e li<strong>de</strong>rou a<br />

frente da reabertura política, escudando os movimentos sociais, sindicatos e partidos que então se<br />

organizavam. Após o Concílio Vatica<strong>no</strong> II, na década <strong>de</strong> 60, o i<strong>de</strong>ário da recém-fundada Teologia<br />

da Libertação, baseada na realida<strong>de</strong> dos povos do terceiro mundo, encontrou campo fértil para se<br />

disseminar pelo Brasil. Segundo esse i<strong>de</strong>ário, a Bíblia <strong>de</strong>ve ser interpretada sob a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />

povos – e não mais eurocentrista, como sempre havia sido. A Igreja <strong>de</strong>ve olhar por seus fiéis sob<br />

uma luz mais social (socialista?) e, na via inversa, a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser interpretada sob a luz do<br />

Evangelho.<br />

Encabeçados por D. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo <strong>de</strong> São Paulo, um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

clérigos e religiosos em geral adotou prontamente essas idéias <strong>no</strong> espaço social on<strong>de</strong> atuavam.<br />

Desse modo, ao longo da ditadura, tivemos, <strong>no</strong> País, uma Igreja extremamente politizada,<br />

efervescente, atuante nas causas sociais, comprometida com os movimentos que explodiam e,<br />

por tudo isso, diretamente responsável pela rearticulação política da socieda<strong>de</strong> brasileira. Essa<br />

história já é mais que conhecida.<br />

Em verda<strong>de</strong>, o que muitos ig<strong>no</strong>ram é que, mais do que ser simplesmente mais um palco <strong>de</strong><br />

aplicação <strong>de</strong>ssas idéias, o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> constituiu-se <strong>no</strong> portal principal para que as mesmas<br />

pu<strong>de</strong>ssem penetrar <strong>no</strong> País. Quem explica é David Protti, professor <strong>de</strong> Comunicação Social da Ufes:<br />

“Quando eu vim para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em 1983, encontrei uma Igreja muito mais politizada que<br />

aquela <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu vinha [Ribeirão Preto, SP], o palco para a introdução do Concílio Vatica<strong>no</strong> II <strong>no</strong><br />

Brasil. O bispo daqui, D.<br />

João Batista da Motta e Albuquerque, foi para o Concílio II e já quis implantar logo <strong>de</strong> cara as<br />

<strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s, as diretrizes do Concílio – ele e um outro bispo chamado D. Luiz Fernan<strong>de</strong>s.<br />

Então, Vitória foi um gran<strong>de</strong> laboratório para o Brasil inteiro quanto à implantação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

ações propostas <strong>no</strong> Concílio Vatica<strong>no</strong> II, entre elas o conceito e a prática <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s<br />

Eclesiais <strong>de</strong> Base (ou CEBs)”.<br />

E completa: “Esse movimento foi muito importante porque mudou a atuação dos padres, a<br />

i<strong>de</strong>ologia e a ativida<strong>de</strong> da maioria <strong>de</strong>les, que passaram a morar junto com as populações pobres


e passaram a ter um papel muito mais engajado, <strong>de</strong> que a fé está ligada à política também – e<br />

política vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua, até o movimento comunitário e sindical. Então, nessa época, a Igreja<br />

está muito efervescente e várias pessoas vêm para cá para trabalhar e conhecer essa experiência,<br />

entre as quais Frei Beto e Leonardo Boff ”.<br />

Além dos vários teólogos e militantes em geral, a “Cida<strong>de</strong> Presépio” (o apelido nunca foi tão<br />

apropriado) passa também a atrair a migração <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> missionários europeus, vindos <strong>de</strong><br />

países como França e Holanda, que ficavam nas paróquias <strong>de</strong> Vitória e muito colaboraram para a<br />

implantação <strong>de</strong>ssas idéias progressistas.<br />

Bom exemplo disso é a importância dos padres holan<strong>de</strong>ses na proliferação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />

jovens, como já atestado por Cláudio Vereza: “Os padres holan<strong>de</strong>ses caracteristicamente são<br />

avançados, são liberais, são mais mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s. Eram mais seculares, me<strong>no</strong>s clericais. E uma das suas<br />

ativida<strong>de</strong>s foi criar grupos <strong>de</strong> jovens nas comunida<strong>de</strong>s que acompanhavam”.<br />

Outro que participou das ativida<strong>de</strong>s da Igreja através <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> jovens foi Paulo<br />

Soldatelli, que atualmente leciona Comunicação Social na Faesa. No seu caso, com uma<br />

peculiarida<strong>de</strong>:<br />

até ingressar <strong>no</strong> grupo, Paulo não tinha absolutamente nenhuma formação católica – o que só<br />

vem a reforçar esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração sobre os jovens que, então, competia à Igreja.<br />

“A minha família não é católica. Eu entrei na Igreja já com 17 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, num grupo <strong>de</strong> jovens,<br />

meio como curioso. E, talvez por não ter uma formação católica tradicional, eu questionava<br />

tudo que havia na Igreja. Quando entrei <strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> jovens, eu não tinha nenhuma consciência<br />

<strong>de</strong>sse lado mais social. Só que o padre que atuava lá era uma pessoa bastante engajada<br />

politicamente.<br />

Na época, ele era organizador da Pastoral da Juventu<strong>de</strong> e ia acontecer um encontro <strong>de</strong> jovens,<br />

para discutir um documento da Igreja fazendo uma crítica política ao fechamento do Congresso.<br />

E, como ele era também o padre do <strong>no</strong>sso grupo <strong>de</strong> jovens, resolveu fazer um treinamento com<br />

a gente. Então a gente foi para lá para ajudar a discutir o documento”.<br />

Daí em diante, Paulo já havia mordido a isca: “Depois disso, <strong>no</strong>sso grupo foi fazer um trabalho<br />

em uma penitenciária, com a idéia <strong>de</strong> levar a Bíblia para os presos. Só que lá, a gente fez toda uma<br />

reflexão sobre a condição <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>les na prisão. Então, a gente começou a discutir que a estrutura


social era o problema predominante e começou um processo <strong>de</strong> tentar fazer um trabalho social. E<br />

foi <strong>de</strong>ssa reflexão que surgiu a minha consciência mais política”.<br />

Além dos CEBs, a Igreja passa a se dividir em uma série <strong>de</strong> pastorais, cada qual arrebanhando<br />

um <strong>de</strong>terminado segmento social.<br />

Tinha-se, então, as Pastorais do Operário, da Terra, do Idoso, do Me<strong>no</strong>r, <strong>de</strong> tudo quanto se<br />

imagine. Os vários grupos sociais encontravam ali amparo para se organizar, preocupação explícita<br />

da Arquidiocese <strong>de</strong> Vitória. Ora, se falamos <strong>de</strong> articulação, estamos naturalmente falando da<br />

comunicação como setor estratégico. E é tendo isso em mente que a Arquidiocese vai começar a<br />

priorizar esse setor.<br />

Àquela altura, internamente, já começavam a brotar aqui e ali algumas iniciativas nesse<br />

sentido. A Arquidiocese, então, já possuía uma pequena gráfica (mimeógrafo, sempre ele), em<br />

que, timidamente, começavam a ser impressas algumas publicações.<br />

Estas, porém, num primeiro momento, tinham um cunho estritamente eclesial. Foi o caso do<br />

Jornal <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Lançado por volta <strong>de</strong> 1970, por iniciativa do Monsenhor Rômulo – ex-<br />

pároco <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> –, foi <strong>de</strong> fato pioneiro nessa linha. Dirigido estritamente aos fiéis,<br />

limitava-se a veicular <strong>no</strong>tícias pertinentes à Igreja.<br />

Assim é que, na balada das transformações, D. João Batista da Motta e Albuquerque vai<br />

montar, em meados dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70, uma equipe para trabalhar especificamente com toda a<br />

comunicação da Arquidiocese. Entre outras atribuições, cabia a essa equipe:<br />

manter <strong>no</strong> ar a programação regular da Igreja (um programa <strong>de</strong> rádio e “A Santa Missa em seu<br />

Lar”); produzir o Caminhada, boletim eclesial aplicado nas liturgias, distribuído, até hoje, por todas<br />

as paróquias da Arquidiocese <strong>de</strong> Vitória; produzir os diversos boletins informativos <strong>de</strong> natureza<br />

mais política, concebidos justamente para aten<strong>de</strong>r às pastorais e promover a já<br />

mencionada articulação.<br />

Como ressalta Cláudio Vereza: “Naquele período, foram publicados na Igreja a maioria dos<br />

informativos e cartilhas temáticas em linguagem popular. Estes veículos não eram <strong>no</strong>ticiosos.<br />

Tinham um princípio muito mais ‘formativo’ do que propriamente ‘informativo’”.<br />

Além disso, mais tar<strong>de</strong> ir-se-ia acrescentar a principal competência da equipe, isto é, promover<br />

a capacitação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças comunitárias para trabalharem a comunicação em seus


espectivos locus, com base em oficinas para uso dos meios disponíveis (a década <strong>de</strong> 80 não tinha<br />

nem ví<strong>de</strong>o-cassete) e discussões temáticas e teóricas sobre as implicações <strong>de</strong>ssa comunicação.<br />

Daquela primeira equipe, ainda <strong>no</strong>s <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70, fizeram parte, entre outros: Carlos Zanatta (hoje<br />

em Brasília; então professor <strong>de</strong>sbravador do curso <strong>de</strong> Comunicação da Ufes, coor<strong>de</strong>nador da equipe<br />

e da Pastoral Universitária); Marlene <strong>de</strong> Fátima (hoje, Secretária <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vitória);<br />

Giovandro Marcus Ferreira (hoje, Doutor em Comunicação, na Bahia; à época, assim como Paulo,<br />

estudante <strong>de</strong> Comunicação); Anselmo Venturin (hoje, do<strong>no</strong> da Gráfica “Bê-á-bá”); além do próprio<br />

Paulo Soldatelli, que ingressou na equipe a convite do “Professor Zanatta”.<br />

Seu ingresso, aliás, não podia ter sido mais ousado: a TV Vitória queria produzir um programa<br />

religioso, com duração <strong>de</strong> uma hora, que teria entrevistas e “varieda<strong>de</strong>s cristãs”. “E eu fui,<br />

sozinho, o responsável por esse programa, que durou uns três meses.<br />

Hoje eu jamais teria coragem <strong>de</strong> assumir um programa como aquele. Que maluquice! Só<br />

estudante <strong>de</strong> Comunicação aceita fazer uma coisa <strong>de</strong>ssas”, recorda saudoso.<br />

Paulo Soldatelli também <strong>no</strong>s conta sobre um outro veículo <strong>de</strong> comunicação, o Ferramenta:<br />

“Como eu fiquei trabalhando <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> comunicação, comecei a ajudar em várias pastorais, para<br />

trabalhar com texto. Mais tar<strong>de</strong>, fui da equipe <strong>de</strong> Círculos Bíblicos e passei a fazer os boletins. Era<br />

também da equipe que escrevia o boletim Caminhada, para usar em celebrações. E acabei<br />

sendo convidado pelo Padre Gabriel, que era, na época, o assessor da Pastoral Operária, para ajudar<br />

<strong>no</strong> boletim Ferramenta”.<br />

A foice, o machado... e a caneta, por que não?<br />

Esta é uma história que merece ser contada em separado. É sobre o boletim Ferramenta, da<br />

Pastoral Operária (P.O.), que elegemos como marco do período. Como em tantos outros<br />

exemplos, era feito pela Arquidiocese, com o propósito firme <strong>de</strong> servir à organização e mobilização<br />

da P.O., certamente uma das mais emblemáticas. Para recontar essa história, recorremos a alguns<br />

<strong>de</strong> seus personagens. Pu<strong>de</strong>mos também contar com o gran<strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> Dona Eni Maria <strong>de</strong> Almeida,


que hoje coor<strong>de</strong>na a Pastoral – ainda na ativa, embora com muito me<strong>no</strong>r vulto. Foi ela quem <strong>no</strong>s<br />

forneceu as informações mais <strong>de</strong>talhadas.<br />

No Estado, a P.O. começa a germinar em 1974, como uma associação dos trabalhadores, mas<br />

ainda não como pastoral. Em setembro <strong>de</strong> 74, houve um encontro <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> surgiu a<br />

sugestão <strong>de</strong> se criar uma pastoral, a fim <strong>de</strong> organizar os trabalhadores. Porque, para usar as palavras<br />

<strong>de</strong> Dona Eni: “Na época o sindicato era do patrão, né? Eles não atuavam ao lado dos trabalhadores,<br />

eram os chamados ‘pelegos’ que diziam. Dentro <strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s que os trabalhadores estavam<br />

encontrando...<br />

E muita exploração nas fábricas (muita exploração mesmo), aí eles começaram, através da<br />

Igreja. Então o arcebispo da época (Dom João Batista da Motta e Albuquerque) e o auxiliar<br />

(Dom Luiz Fernan<strong>de</strong>s Gonzaga) organizaram as primeiras reuniões da Pastoral Operária. E o bispo,<br />

reunido em assembléia com os trabalhadores, colocou essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma pastoral<br />

que <strong>de</strong>sse apoio aos trabalhadores, pra que eles pu<strong>de</strong>ssem se organizar e se reunir para refletir à luz<br />

da palavra <strong>de</strong> Deus os problemas e a exploração do trabalho (até pra fazer organização <strong>de</strong> greve por<br />

causa da exploração)”.<br />

E assim, em 1976, era inaugurada, <strong>no</strong> Estado, a primeira Pastoral Operária do Brasil. Do<br />

surgimento para a mobilização; daí ao <strong>jornalismo</strong> foi um passo. I<strong>de</strong>alizado por Padre Gabriel,<br />

nasce, então, o Ferramenta. O <strong>no</strong>me, aliás, não po<strong>de</strong>ria ter sido mais acertado (certeiro e sugestivo):<br />

por um lado, o jornal como uma autêntica ferramenta (<strong>de</strong> combate, <strong>de</strong> luta, <strong>de</strong> conserto, <strong>de</strong><br />

reparo social); por outro, como bem <strong>de</strong>monstra a ferramenta escolhida em seu logotipo, a união, a<br />

ligação, a articulação entre as partes <strong>de</strong> um conjunto.<br />

Padre Gabriel Felix Roger Maire (01-08-1936/23-12-1989) foi um daqueles missionários que<br />

se transferiram para cá <strong>no</strong> embalo do Concílio II, com vistas a fortalecer as CEBs. Por muitos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>,<br />

coor<strong>de</strong><strong>no</strong>u a P.O., tendo participação <strong>de</strong>cisiva nas lutas dos trabalhadores capixabas. Em 1989,<br />

acabou assassinado, quando apoiava, em Cariacica, um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabrigados, num crime até<br />

hoje em aberto. Quem <strong>no</strong>s conta melhor a história é Dona Eni: “Foi por motivo político. A história<br />

foi lá em Cariacica. Ele estava lutando por um local pra colocar um conjunto <strong>de</strong> famílias que não<br />

tinham on<strong>de</strong> morar. E ele estava lutando pelo terre<strong>no</strong> lá. Mas os políticos <strong>de</strong> Cariacica, na época,<br />

não queriam. Até que o povo ganhou o terre<strong>no</strong>, fizeram os barracos e ficaram. Mas a perseguição


continuou. Aí, um dia, ele foi fazer um casamento em Castelo Branco, aí na volta <strong>de</strong>le... O caso foi<br />

investigado, mas acho que houve mesmo é compra <strong>de</strong> justiça”.<br />

Paulo Soldatelli complementa: “Se alguém mandou matar, foi alguém muito importante que<br />

até hoje a gente não sabe. Teve todo um processo <strong>de</strong> apuração, mas, infelizmente, por enquanto, a<br />

versão oficial é <strong>de</strong> que foi um assalto”.<br />

Outra peça-chave nessa fase inicial do Ferramenta foi Cláudio Vereza. Na época, já tendo<br />

<strong>de</strong>ixado O Encontro – jornal nascido espontaneamente <strong>no</strong> movimento popular do bairro Aribiri,<br />

em Vila Velha –, Cláudio ganhava dois (!) salários mínimos para trabalhar <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong><br />

Documentação das Igrejas <strong>de</strong> Vitória (Cedives), atrelado à Arquidiocese. Um dia, foi surpreendido<br />

com a encomenda: a P.O., por meio <strong>de</strong> Padre Gabriel, queria que ele elaborasse um jornalzinho para<br />

a classe operária, assim, assim e assado. Para Cláudio, a proposta era bem clara: “O Ferramenta,<br />

seguindo a linha daqueles boletins – alimentar e fortalecer as CEBs e, por conseguinte, os<br />

movimentos sociais – <strong>de</strong>veria estimular um movimento sindical combativo, enca<strong>de</strong>ar a formação <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>ranças para atuar na socieda<strong>de</strong>”.<br />

Aceita a tarefa, Cláudio, em parceria com Tereza Cogo – hoje sua esposa –, “assi<strong>no</strong>u” as<br />

primeiras edições do informativo.<br />

“Passado um a<strong>no</strong>, ele andou com as próprias pernas”. Esse “an- dar com as próprias pernas” a<br />

que Cláudio se refere na verda<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve ao trabalho da equipe <strong>de</strong> comunicação então já<br />

composta na Arquidiocese – ou o “Grupo dos Responsáveis”, como era chamada por Padre Gabriel.<br />

Somando-se à equipe (mais ou me<strong>no</strong>s seis membros a cada época), havia pessoas que eram<br />

voluntárias ou não eram da Pastoral Operária.<br />

O Ferramenta era um boletim peque<strong>no</strong>, <strong>de</strong> oito páginas, cada qual trazendo um assunto. Sua<br />

distribuição era feita entre os grupos da P.O.. Era bancado pelos trabalhadores, que compravam<br />

o seu boletim (o capital...). Mas qual era, afinal, seu conteúdo? Fala aí, dona Eni: “Sobre o<br />

trabalhador <strong>no</strong> seu campo <strong>de</strong> trabalho. As lutas. Eleições também, para que na época <strong>de</strong> eleições os<br />

trabalhadores pu<strong>de</strong>ssem se organizar para votar certo, porque naquele tempo o voto era <strong>de</strong> cabresto.<br />

Os colo<strong>no</strong>s tinham que votar <strong>no</strong> candidato que o fazen<strong>de</strong>iro indicasse. E a P.O. trabalhou muito com<br />

os trabalhadores pra acabar com isso. Libertar os trabalhadores rurais e mesmo os daqui, porque os<br />

empresários também dominavam, né?”.


Concluímos, então, um propósito bem diverso daquele que vimos, por exemplo, <strong>no</strong> jornal<br />

Caminhada, conforme enfatiza Paulo: “Era uma reflexão muito mais ligada à realida<strong>de</strong>, era<br />

para estimular os grupos da Pastoral Operária a refletirem sobre a realida<strong>de</strong>, com pouca referência<br />

religiosa. Lógico que tinha, volta e meia, uma fala bíblica, uma ou outra citação...”.<br />

O Ferramenta atingia todas as dioceses do Estado (Vitória, Linhares, São Mateus, Colatina e<br />

Cachoeiro). Tanto que, na época em que algumas pessoas foram mortas pela perseguição dos<br />

fazen<strong>de</strong>iros em Pancas e Linhares, on<strong>de</strong> morreram vários trabalhadores, o jornal registrou tudinho.<br />

O gran<strong>de</strong> mérito do jornal, como porta-voz da Pastoral Operária, foi <strong>de</strong> ter sido, indiretamente,<br />

um dos fatores que, em 1978, culminariam na greve da construção civil, primeira durante a ditadura<br />

militar <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. É aí que alguns sindicatos começam a ser tomados pela oposição e é<br />

fundada a CUT <strong>no</strong> Estado. No campo, ocorreu um processo semelhante, que tem como marco a<br />

fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Colatina.<br />

Mas que ninguém pense que tudo foi só flores. “Teve uma época”, relembra Dona Eni, “em<br />

que os sindicatos tentavam entrar nas fábricas pra distribuírem os boletins, mas não <strong>de</strong>ixavam<br />

eles entrarem. Era muito difícil... Muitas vezes, os trabalhadores tinham que distribuir escondido”.<br />

Os (Ir)responsáveis<br />

Como dissemos, havia também por parte da Arquidiocese, sob o comando <strong>de</strong> D. João Batista<br />

da Motta e Albuquerque, a preocupação em capacitar as li<strong>de</strong>ranças populares em<br />

comunicação alternativa (nesse caso, comunitária). A Igreja, <strong>de</strong> certa forma, era um centro on<strong>de</strong> se<br />

faziam treinamentos para o pessoal das Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base e, junto com elas, os<br />

movimentos sociais que existiam (praticamente todos vinculados à questão religiosa). Assim, vira e<br />

mexe, havia os cursos nessa área, ministrados pela assessoria <strong>de</strong> comunicação. Entre os instrutores,<br />

Anselmo Venturin: “Essas oficinas eram voltadas a agentes comunitários dos bairros. Tinha gente<br />

também da Juventu<strong>de</strong> Operária Católica (a JOC). E esse pessoal queria apren<strong>de</strong>r a fazer<br />

comunicação.<br />

Então, por exemplo, num treinamento <strong>de</strong> fazer impressos, a gente reunia li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> vários<br />

lugares e fazia algumas explanações teóricas <strong>de</strong> comunicação, oficinas <strong>de</strong> fotografia, o pessoal


ensaiava e por aí vai. Formavam-se peque<strong>no</strong>s grupos e cada um escolhia um tema ou região quando<br />

ia experimentar fazer o jornalzinho. E, sob a <strong>no</strong>ssa orientação, eles faziam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fotografia, até<br />

escolher o tipo <strong>de</strong> letra, as frases <strong>de</strong> efeito, e íamos construindo juntos o produto final”.<br />

Mas será que isso dava certo? Dali saíam muitos jornaizinhos locais? Venturin respon<strong>de</strong>:<br />

“Bem, aí o pessoal ia para as comunida<strong>de</strong>s.<br />

Às vezes implementavam, às vezes, não. Mas eram jornaizinhos, não era como a idéia que nós<br />

fazemos hoje <strong>de</strong> jornal, algo que circula periodicamente. Era um material que vinha para aten<strong>de</strong>r a<br />

uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um momento específico da região, <strong>de</strong> uma luta, <strong>de</strong> uma comemoração. Uma ou<br />

outra vez saíam dois, três exemplares. Mas eram tentativas <strong>de</strong> levar uma outra realida<strong>de</strong> que não<br />

fosse da imprensa oficial – na época, restrita ao jornal A Gazeta”.<br />

E Paulo Soldatelli arremata: “Tinha também um curso que a gente chamava <strong>de</strong> ‘Leitura Crítica<br />

dos Meios <strong>de</strong> Comunicação’.<br />

A gente fez um áudio-visual, com roteiro do Carlos Zanatta, que era ‘Quem não se comunica<br />

se trumbica’. São dicas para as organizações populares tentarem usar os meios <strong>de</strong> comunicação<br />

<strong>de</strong> uma forma interessante, inclusive os impressos. A gente incentivava manifestações, para chamar<br />

a atenção da imprensa. Fazer a ‘Festa do Buraco’, esse tipo <strong>de</strong> coisa...”.<br />

Em suma<br />

Sobre a atuação da Igreja <strong>no</strong> período, Davi Protti – que, <strong>no</strong>s <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 80, também se juntaria ao<br />

“Grupo dos Responsáveis” – resume:<br />

“Embora, <strong>no</strong> fundo, os jornais tivessem esse cunho político, a própria Igreja era política, então<br />

a gente não se esforçava muito para fazer a coisa. Só o fato <strong>de</strong> você divulgar as ativida<strong>de</strong>s da Igreja<br />

já dava uma visão diferente”.


Aperta-se o primeiro parafuso: edição n° 1 do Ferramenta


... assim como as gran<strong>de</strong>s causas políticas do País...


... e a conscientização do povo para o exercício da cidadania


A morte do padre Gabriel, <strong>de</strong>vidamente registrada. Partia, então, o gran<strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>alizador do Ferramenta; seu exemplo, porém, ficou para todos os que lutam pela<br />

emancipação do ser huma<strong>no</strong>


As duas últimas décadas do século XX<br />

Comunicação para olhos embotados <strong>de</strong> cimento e lágrima – um pa<strong>no</strong>rama<br />

do <strong>jornalismo</strong> sindical <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir A certidão<br />

pra nascer e a concessão pra sorrir Por me <strong>de</strong>ixar respirar, por<br />

me <strong>de</strong>ixar existir, Deus lhe pague.<br />

(Chico Buarque – Construção)<br />

Este é um tema que muitas vezes passa <strong>de</strong>spercebido tanto para nós, autores <strong>de</strong>ste livro e<br />

estudantes, cujos olhos embotados ora <strong>de</strong> apatia ora <strong>de</strong> impulsos revolucionários não enxergam a<br />

real importância <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> comunicação, como para a socieda<strong>de</strong> em geral, cuja visão <strong>de</strong> mundo<br />

é passada em gran<strong>de</strong> parte por olhos um tanto astigmáticos da chamada gran<strong>de</strong> imprensa.<br />

É complicado <strong>de</strong>finir um marco histórico inicial para o <strong>jornalismo</strong> sindical <strong>no</strong> Brasil, mas não<br />

é muito difícil estabelecer os momentos <strong>de</strong> maior relevância <strong>de</strong>sse veículo que tem como um dos<br />

principais objetivos dialogar com a classe trabalhadora.<br />

Como bem sinaliza Vito Gia<strong>no</strong>tti (1997) – a quem muitos profissionais na área gostam <strong>de</strong><br />

chamar o “papa da comunicação sindical” –, o objetivo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> comunicação não é algo<br />

abstrato, mas palpável. Está intimamente ligado à ação. Um bom veículo <strong>de</strong> comunicação sindical é<br />

aquele que consegue dialogar com os trabalhadores sobre sua condição <strong>de</strong> classe explorada.<br />

A comunicação sindical, assim, tem vários papéis: esclarecer, formar e mobilizar forças em tor<strong>no</strong><br />

não só <strong>de</strong> lutas gerais, mas <strong>de</strong> específicas também:<br />

A comunicação sindical, quando bem feita, convence e leva à<br />

ação. E esta ação não é simplesmente ir ou não ao cinema.<br />

Comprar ou não um sapato <strong>no</strong>vo. A ação proposta pela<br />

comunicação sindical traz resultados que po<strong>de</strong>m mudar a vida<br />

<strong>de</strong> uma pessoa. Ou se ganha ou se per<strong>de</strong>. Se tal ação obteve<br />

os resultados, estes estão ali, na frente, não na mão, <strong>no</strong> bolso,<br />

<strong>no</strong> dia-adia.


No dia seguinte a uma luta vitoriosa, o resultado se faz sentir.<br />

O salário aumentou. A carga horária diminuiu” (Santiago &<br />

Gia<strong>no</strong>tti, 1987, p. 42).<br />

Mais do que abordar assuntos relacionados à categoria (chavão usado por 10 entre 10<br />

sindicalistas), o <strong>jornalismo</strong> sindical tem (ou <strong>de</strong>veria ter) a missão, digamos, oftalmológica <strong>de</strong> dar<br />

interpretações mais críticas <strong>de</strong> mundo aos “olhos embotados <strong>de</strong> cimento, lágrima e tráfego” (como<br />

canta Chico Buarque) dos trabalhadores brasileiros.<br />

On<strong>de</strong> encaixar, então, o <strong>jornalismo</strong> sindical neste livro senão <strong>no</strong> espaço conquistado pelo filho<br />

caçula e, a princípio, não planejado – porém muito querido quando concebido –, como este capítulo<br />

<strong>de</strong>dicado à imprensa alternativa capixaba? Afinal, a imprensa sindical também é alternativa? A<br />

seguir, uma pequena análise sobre a caminhada <strong>de</strong> um importante setor da socieda<strong>de</strong>, o<br />

sindicalismo. As conclusões ficam por sua conta, leitor, porque nós mesmos ainda não chegamos a<br />

elas.<br />

O boom do sindicalismo: do peleguismo às li<strong>de</strong>ranças combativas<br />

Em sintonia com o movimento nacional, as forças sindicais capixabas tomaram um <strong>no</strong>vo rumo<br />

a partir do final da década <strong>de</strong> 1970. A movimentação, inicialmente localizada <strong>no</strong> ABC<br />

Paulista, difundiu seus efeitos para várias localida<strong>de</strong>s do País, configurando um <strong>no</strong>vo momento na<br />

história sindical brasileira, conhecido como “<strong>no</strong>vo sindicalismo”. Uma vez que o País ainda vivia<br />

sob a égi<strong>de</strong> do militarismo, as estruturas sindicais vigentes se contrapunham à política trabalhista do<br />

gover<strong>no</strong> autoritário. A intervenção estatal – sustentada pela Consolidação das Leis<br />

Trabalhistas (CLT) – nas relações <strong>de</strong> trabalho era presente <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> dos trabalhadores, os quais<br />

reivindicavam a negociação coletiva entre sindicatos e empregadores sem a intervenção do Estado;<br />

o direito irrestrito à greve; liberda<strong>de</strong> e auto<strong>no</strong>mia sindical; e a organização dos assalariados <strong>no</strong> local<br />

<strong>de</strong> trabalho (Colbari, 2003).<br />

No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, grupos da oposição sindical <strong>no</strong> campo e na cida<strong>de</strong>, juntamente com<br />

trabalhadores assalariados (em especial, médicos, professores, bancários e jornalistas)<br />

protagonizaram o movimento <strong>de</strong> re<strong>no</strong>vação sindical <strong>no</strong> Estado. De acordo com o diretor da TV


Educativa do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, militante do PT, exsindicalista e alu<strong>no</strong> da primeira turma <strong>de</strong><br />

Comunicação Social da Ufes, Ti<strong>no</strong>co dos Anjos, “tivemos aqui um período muito quente <strong>no</strong><br />

sindicalismo, talvez o período em que o Sindicato dos Jornalistas do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> teve mais<br />

mobilização, mais embate aos patrões”. Ti<strong>no</strong>co teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver diretamente com<br />

isso na época em que foi presi<strong>de</strong>nte do sindicato. “Eu fui o segundo presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos<br />

Jornalistas e virei sindicalista.<br />

Comecei em 1982 e fiquei nessa vida <strong>de</strong> sindicalismo durante 12 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. No <strong>no</strong>sso período <strong>no</strong><br />

sindicato, fizemos o jornal dos jornalistas, fazíamos os boletins. Os sindicatos sempre<br />

criam instrumentos <strong>de</strong> comunicação e também fizemos os <strong>no</strong>ssos. Era um dos instrumentos <strong>de</strong> luta<br />

e aquele sonho <strong>de</strong> ter o próprio veículo”.<br />

O grupo da construção civil (cuja formação data <strong>de</strong> 1974), estimulado pela Pastoral Operária e<br />

pela Fe<strong>de</strong>ração dos Órgãos <strong>de</strong> Assistência Social e Educacional (Fase), protagonizou a<br />

participação efetiva em campanha salarial, disputa <strong>de</strong> eleição sindical, assembléias com até 5 mil<br />

trabalhadores, e <strong>de</strong>flagrou a primeira greve <strong>no</strong> Estado após o golpe militar. A paralisação <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>ve dias, que não acontecia havia 35 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, em setembro <strong>de</strong> 1979, é consi<strong>de</strong>rada um marco na<br />

retomada do fôlego sindical capixaba (Colbari, 2003).<br />

É interessante comentar que, nessa fase <strong>de</strong> transição entre o recomeço da mobilização<br />

proletária até a tomada dos sindicatos pelas li<strong>de</strong>ranças combativas, os grupos <strong>de</strong> oposição sindical<br />

aos ditos “pelegos” tiveram uma ligação importante com a Pastoral Operária (inspirada pela<br />

Teologia da Libertação) e com grupos <strong>de</strong> orientação marxista.<br />

Entre as estratégias para mobilizar as categorias, os informativos impressos eram uma espécie<br />

<strong>de</strong> arma tanto i<strong>de</strong>ológica como comunicacional para munir os trabalhadores <strong>de</strong> inspiração e<br />

força numa luta coletiva. Tanto que em 1980, durante o 1º Encontro Estadual <strong>de</strong> Oposições<br />

Sindicais, mais <strong>de</strong> 3 mil exemplares do informativo Voz do Metalúrgico foram distribuídos nas<br />

portas das fábricas.<br />

No entanto, com a tensão política fumegante <strong>no</strong> início da década, muitos operários que<br />

tentavam entrar nas indústrias para distribuir os boletins sofriam represálias por parte dos patrões.<br />

Outras experiências na área da comunicação impressa tiveram um certo <strong>de</strong>staque durante essa<br />

efervescência sindical <strong>no</strong> Estado, como é o caso do boletim do Movimento do Transporte Coletivo,


em 1979, <strong>de</strong> O Araçá (dos Ferroviários), em 1981, e do Informativo Metalúrgico (que <strong>de</strong>pois virou<br />

Boca <strong>de</strong> For<strong>no</strong>), dos trabalhadores da Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica <strong>de</strong> Tubarão (CST), que reforçaram<br />

o movimento <strong>de</strong> oposição já em 1984 – além do Boletim Ferramenta.<br />

Como esses informativos impressos eram manifestações relativamente isoladas, ou seja, não<br />

tinham uma periodicida<strong>de</strong> muito concreta – uns ainda eram mensais, mas outros saíam por causa <strong>de</strong><br />

uma data específica ou quando o grupo tivesse verba –, não <strong>no</strong>s <strong>de</strong>dicamos a relatar as experiências<br />

distintas <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.<br />

Reconhecemos, entretanto, a importância <strong>de</strong> cada veículo como contribuição para a<br />

comunicação alternativa na época, uma vez que o conteúdo propagado nesses informativos<br />

dificilmente seria veiculado pela imprensa comercial do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Toda a movimentação <strong>no</strong> final da década <strong>de</strong> 1970 e início <strong>de</strong> 1980 resultou em alguns<br />

Encontros <strong>de</strong> Classes Trabalhadoras (Enclats), que reuniam várias entida<strong>de</strong>s e sindicalistas<br />

dispostos a formar grupos <strong>de</strong> oposição para tomar os sindicatos das mãos dos pelegos, o que, ao<br />

final, acabaria com a criação <strong>de</strong> uma central <strong>de</strong> trabalhadores. Mesmo <strong>no</strong>s grupos oposicionistas,<br />

diferentes frentes político-i<strong>de</strong>ológicas eram encontradas, mas, ainda assim, disputavam a li<strong>de</strong>rança<br />

sindical. O primeiro Enclat-ES (os encontros aconteciam em todo o País) foi em agosto <strong>de</strong> 1981, e,<br />

na ocasião, foi criada uma comissão Pró-CUT/ES. O segundo Enclat foi em junho <strong>de</strong> 1982, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> preparar a fundação da Central Única dos Trabalhadores. Esta, por sua vez, foi fundada<br />

em <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1983, resultante da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat), em<br />

São Bernardo do Campo (SP). No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em maio <strong>de</strong> 1984, a Comissão Nacional da CUT<br />

organizou o primeiro Ceclat (Congresso Estadual da Classe Trabalhadora <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>).<br />

Assim, estava sendo criada a CUT/ES, reunindo, a princípio, trabalhadores do campo, da<br />

construção civil, ferroviários e comerciários. Estes últimos foram os primeiros a se filiar à Central,<br />

cuja direção ficou a cargo do então presi<strong>de</strong>nte do Sindicomerciários da época, João Coser, hoje<br />

prefeito <strong>de</strong> Vitória e militante do Partido dos Trabalhadores. A partir da criação da CUT, os rumos<br />

do sindicalismo começaram a se “estabilizar”. As diretorias sindicais pelegas foram per<strong>de</strong>ndo<br />

espaço para a oposição. Os sindicatos, conseqüentemente, ficaram mais fortes e pretendiam <strong>de</strong>ixar<br />

o caráter corporativista e assistencialista para trás.


Toda essa contextualização histórica se faz necessária para enten<strong>de</strong>rmos o processo <strong>de</strong> criação<br />

e sustentação da imprensa sindical capixaba. Como já foi citado, os jornais <strong>de</strong> sindicato<br />

começaram a surgir <strong>no</strong> começo da década <strong>de</strong> 80, com edições esporádicas e sem um projeto<br />

editorial (e principalmente gráfico)<br />

distinto. Tudo acontecia “<strong>no</strong> susto”. As edições saíam por conta da movimentação em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

uma greve e por necessida<strong>de</strong>s pontuais <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada categoria. Pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sindicatos existentes hoje <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, fica difícil fazer um relato sobre todos aqueles que<br />

produziram ou produzem algum tipo <strong>de</strong> jornal impresso. Vamos <strong>no</strong>s ater aqui, então, a análises<br />

feitas em conjunto com quem trabalha diretamente <strong>no</strong> campo da comunicação sindical <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>.<br />

O <strong>de</strong>senrolar da comunicação sindical capixaba<br />

No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, <strong>de</strong> acordo com uma pesquisa do IBGE (2001), existem aproximadamente<br />

196 sindicatos, dos quais mais <strong>de</strong> 60 são filiados à CUT. Dentre estes, os que possuem<br />

uma publicação impressa mais regular são: Sindibancários, Sindprev/ ES, Ferroviários, Petroleiros,<br />

Construção Civil, Professores da Re<strong>de</strong> Pública, Professores da Re<strong>de</strong> Privada, Professores da<br />

Ufes, Sintufes, Sindialimentação, Sindipúblicos, Sindicato dos Trabalhadores <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong><br />

Limpeza Pública, Sinergia e Sindisaú<strong>de</strong>, além da própria CUT, que mantém uma espécie <strong>de</strong> jornal –<br />

o qual, porém, não tem uma periodicida<strong>de</strong> certa.<br />

O fato é que – e aqui temos como objeto <strong>de</strong> estudo a imprensa cutista – a maioria dos<br />

sindicatos não tem uma publicação regular.<br />

Seria apenas um empecilho financeiro? Na visão do jornalista da CUT/ES, Edílson Lenk, “o<br />

problema é não enxergar a comunicação como estratégica. Quando se disputa uma eleição,<br />

a secretaria <strong>de</strong> comunicação é uma parte a ser negociada. Ninguém fala ‘eu quero a comunicação’, a<br />

pessoa aceita a comunicação”.<br />

Assim, por mais que ele afirme que a Central tenha uma preocupação com a comunicação, o<br />

investimento nesse setor é visto por algumas li<strong>de</strong>ranças apenas como um custo a mais, e não


como uma mobilização trabalhadora em potencial. A seguir, um trecho da entrevista com Edílson<br />

Lenk, em setembro <strong>de</strong> 2005:<br />

Quando começou a produção <strong>de</strong> um jornal impresso da<br />

CUT <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>? Como foi esse processo?<br />

Começou muito esporadicamente. Tivemos três jornalistas até<br />

hoje: a Magda Carvalho, a Tânia Maria<strong>no</strong> e eu. Elas ficaram<br />

pouco tempo e, nessa época, o jornal não tinha periodicida<strong>de</strong>.<br />

Quando eu entrei, nós tínhamos um jornal semanal (eu<br />

estou aqui há <strong>no</strong>ve <strong>a<strong>no</strong>s</strong>), que era distribuído por boy.<br />

Eram distribuídos para as entida<strong>de</strong>s, que distribuíam para a<br />

base. Depois disso teve um tempo em que a CUT teve uma<br />

crise financeira miserável (1998- 2000). Ela quase fechou as<br />

portas. Foi após a crise que a comunicação da CUT mais<br />

produziu, assim, sem um projeto gráfico, sem periodicida<strong>de</strong>,<br />

mas foi quando mais produzimos. Então, hoje, editamos<br />

um jornal diário on-line, que é mandado por e-mail. E temos<br />

um jornal impresso. O <strong>no</strong>sso planejamento é para que ele seja<br />

mensal, mas, <strong>de</strong>vido ao acúmulo <strong>de</strong> trabalho na secretaria,<br />

optamos por fazer jornais temáticos.<br />

Na sua opinião, como jornalista que atua na área sindical<br />

há algum tempo, qual a importância do <strong>jornalismo</strong><br />

sindical? Ele é inserido, <strong>de</strong> alguma maneira, <strong>no</strong><br />

<strong>jornalismo</strong> alternativo?<br />

Olha, apesar <strong>de</strong> ele ter uma cara bastante institucional, não <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> ser alternativo quando se contrapõe ao que a gran<strong>de</strong> mídia<br />

fala e quando se interessa por questões caseiras mesmo. E foi o<br />

jornal sindical que ensi<strong>no</strong>u a gran<strong>de</strong> mídia a colocar<br />

<strong>no</strong>s ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s assuntos <strong>de</strong> interesse doméstico. Isto<br />

foi <strong>de</strong>senvolvido a partir dos primeiros <strong>a<strong>no</strong>s</strong> da CUT,<br />

o interesse <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o jornal e mantê-lo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa,<br />

com a família. Ele também é alternativo porque não é vendido e<br />

porque é feito e assumido como um <strong>jornalismo</strong> parcial. Nós<br />

estamos aqui para falar a <strong>no</strong>ssa opinião, não tem espaço pra<br />

ouvir o outro lado <strong>no</strong> jornal, levar para <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> opinião<br />

do meu adversário.<br />

Na sua opinião, qual a importância da imprensa sindical?


Acho que a principal importância é que ela é um instrumento<br />

mobilizador. Ela não existe só na época da negociação coletiva,<br />

nem só para fazer uma campanha da categoria. Ela per<strong>de</strong>u esse<br />

caráter corporativista ao longo do tempo. Ao mesmo tempo em<br />

que trata <strong>de</strong> questões da vida funcional daquela categoria que<br />

representa, ela discute também concepção <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong><br />

gover<strong>no</strong>. É formativa, tem um caráter educacional, ao mesmo<br />

tempo em que tenta unir forças das categorias.<br />

Enquanto alguns sindicatos mantêm, com muita dificulda<strong>de</strong>, um boletim impresso em folha<br />

A4, fruto <strong>de</strong> um trabalho quase artesanal, outras entida<strong>de</strong>s possuem uma verda<strong>de</strong>ira estrutura <strong>de</strong><br />

redação para a produção <strong>de</strong> seus veículos. O Sindicato dos Bancários do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> (SEEB-ES),<br />

por exemplo, tem uma equipe com dois jornalistas, um diagramador e um fotógrafo para produzir o<br />

Correio Bancário (quinzenal, gratuito, tiragem <strong>de</strong> 8 mil exemplares) e o Mulher 24 Horas<br />

(mensal, gratuito, 7 mil exemplares).<br />

A primeira edição do Correio Bancário é <strong>de</strong> 1979, mas o jornal nem sempre foi mensal.<br />

Como explica uma das jornalistas do SEEB-ES, Adriana Machado, “não havia a consciência quanto<br />

à importância da regularida<strong>de</strong>, nem quanto à forma. Hoje, ele tem um padrão, teve todo um<br />

investimento <strong>no</strong> projeto gráfico a partir da década <strong>de</strong> 90”. Ainda sobre a importância da<br />

periodicida<strong>de</strong>:<br />

A falta <strong>de</strong> regularida<strong>de</strong> é um dos aspectos do amadorismo da<br />

<strong>no</strong>ssa comunicação (...) O boletim que tem periodicida<strong>de</strong>,<br />

seqüência <strong>de</strong> temas e propostas po<strong>de</strong> influenciar pensamentos<br />

e <strong>de</strong>terminar ações (...)<br />

Como respon<strong>de</strong>r aos ataques diários que a burguesia faz aos<br />

trabalhadores via Jornal Nacional, via Hora do Brasil, via<br />

Edir Macedo, via todos os ministros e juízes dos supremos<br />

tribunais, via os Sílvios <strong>Santo</strong>s, os Gil Gomes, as Hebes e<br />

Xuxas? Certamente, se um sindicato se limitar a publicar um<br />

boletim <strong>de</strong> vez em quando, já entrará <strong>de</strong>rrotado na batalha<br />

pela conquista da cabeça, do coração e <strong>de</strong> todo o corpo do<br />

trabalhador. (Santiago & Gia<strong>no</strong>tti, 1987, p. 106).<br />

Por esse caráter amador, muitas pessoas pensam que o <strong>jornalismo</strong> sindical e alternativo <strong>de</strong>va<br />

ser rudimentar. Adriana Machado explica o contrário: “Foi tudo pensado mesmo. Pensando que


a imprensa alternativa não <strong>de</strong>va ser uma imprensa panfletária, uma imprensa feia. Ser alternativa,<br />

mas com um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> sim, por que não?”.<br />

Ao analisarmos o Correio Bancário, é possível verificarmos a mudança <strong>de</strong> conteúdo pela qual<br />

passou o jornal. Na época <strong>de</strong> sua criação, o caráter assistencialista dividia um espaço gran<strong>de</strong> com as<br />

informações sobre a categoria e as matérias mais políticas.<br />

Vale lembrar que, nessa época, o sindicato ainda estava nas mãos dos pelegos, mas que os<br />

próprios pareciam manter uma postura <strong>de</strong> enfrentamento aos banqueiros <strong>de</strong>ntro do jornal. “Acho<br />

que mudou muito mais a linguagem do que as idéias propagadas.<br />

Você vê que esse período <strong>de</strong> 1979 a 1985 ainda é um período <strong>de</strong> peleguismo, mas <strong>de</strong> uma<br />

absorção <strong>de</strong> outra postura. Porque eles sabiam que se, não fizessem isso, iam acabar per<strong>de</strong>ndo para<br />

a oposição. Pelas manchetes, você não vê nada do retrato do peleguismo.<br />

Esse peleguismo acontece mais na prática, como quando você propõe uma greve”, consi<strong>de</strong>ra<br />

Adriana Machado.<br />

Na verda<strong>de</strong>, como o Correio estava nas mãos dos pelegos ainda <strong>no</strong> começo da década <strong>de</strong> 80,<br />

após a eleição <strong>de</strong> 1982 para a diretoria do sindicato (na qual a chapa da situação saiu<br />

vitoriosa), surgiu um veículo da oposição unificada <strong>de</strong>ntro do SEEB, o Mobilização Bancária. Eis<br />

o seu editorial <strong>de</strong> estréia:<br />

Esse é o primeiro boletim <strong>de</strong> uma série que preten<strong>de</strong> ser<br />

periódico. Ele preten<strong>de</strong> cobrir uma lacuna que sempre existiu<br />

na categoria bancária, porque o boletim do sindicato – o<br />

Correio Bancário – sempre foi muito irregular e não traz<br />

<strong>no</strong>tícias realmente quentes, <strong>de</strong> interesse da categoria, apesar<br />

<strong>de</strong> ser graficamente bonito e evi<strong>de</strong>ntemente caro.” (Tosi et al.,<br />

1994, p. 129)<br />

Para a direção sindical da época, o Mobilização Bancária era um “informativo bastardo”. O<br />

embate entre os dois veículos era intenso, mas a proposta <strong>de</strong> regularida<strong>de</strong> do Mobilização acabou<br />

se esvaindo e o boletim <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir.<br />

Além do Correio, o SEEB-ES – a partir <strong>de</strong> 1994 – produz o Mulher 24 Horas, como reflexo<br />

<strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> organização das mulheres bancárias. De acordo com Adriana, “o Mulher 24<br />

Horas tem um caráter diferente do Correio. Ele é crítico e questionador, mas tem o toque da


feminilida<strong>de</strong>. Tem uma linguagem mais do <strong>jornalismo</strong> comportamental, embora seja um veículo<br />

bem crítico”.<br />

Jornal do Sindicato dos Ferroviários ES/MG


Jornal da CUT/ES sobre os 22 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> fundação da entida<strong>de</strong>


Primeira edição do Correio Bancário, abril/maio <strong>de</strong> 1979


Edição atual do Correio Bancário, que circula em cores


Número zero do Mulher Bancária, que hoje é o Mulher 24 Horas


Uma voz fragmentada: muito mais <strong>de</strong>safios que perspectivas<br />

Uma das questões a serem pensadas sobre o <strong>jornalismo</strong> sindical como um todo é a<br />

fragmentação dos veículos impressos. Segundo Vito Gia<strong>no</strong>tti, se juntássemos todos os boletins e<br />

jornais feitos pelos sindicatos, teríamos um verda<strong>de</strong>iro jornal nacional, pois essas produções<br />

somam, aproximadamente, sete milhões <strong>de</strong> exemplares semanais. Os jornais e informativos, porém,<br />

encontram- se dispersos, esporádicos. É perfeitamente compreensível que cada movimento popular<br />

e social e cada sindicato tenha suas próprias <strong>de</strong>mandas a partir <strong>de</strong> um contexto regional, mas é<br />

uma pena realmente que, <strong>de</strong> fato, essa imprensa esteja fragmentada e com a história não muito bem<br />

preservada. Prova disso é a própria pesquisa que culmi<strong>no</strong>u na elaboração <strong>de</strong>ste capítulo.<br />

Seria praticamente impossível resgatar a memória <strong>de</strong> toda a imprensa sindical capixaba, uma vez<br />

que muitas <strong>de</strong>ssas reminiscências já estão esquecidas/perdidas.<br />

Outra questão é a produção, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> um veículo impresso <strong>de</strong>sse porte. Por mais que a<br />

comunicação sindical possa ser inserida num contexto alternativo, há algumas diferenças entre ela<br />

e a comunicação popular, por exemplo. Aí está a gran<strong>de</strong> dúvida: o alternativo só estaria impregnado<br />

<strong>no</strong> perfil i<strong>de</strong>ológico do projeto editorial? Alternativo não seria, também, se a base pu<strong>de</strong>sse<br />

produzir seu próprio meio <strong>de</strong> comunicação, ao invés <strong>de</strong> somente ter o produtor do jornal, <strong>no</strong> caso<br />

um jornalista responsável, como seu interlocutor?<br />

É fato que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> cada categoria ter suas próprias ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta, verifica-<br />

se um período <strong>de</strong> refluxo após a efervescência do sindicalismo na década <strong>de</strong> 80. E este<br />

certo retrocesso, “muitos dizem por aí”, <strong>de</strong>ve-se à perda <strong>de</strong> um referencial.<br />

O que buscamos, como movimento social, para eclodir numa agitação em massa? O que falta<br />

para nós, enquanto socieda<strong>de</strong> civil, aglutinarmos forças em uma luta uníssona?<br />

O Alfabeto certo<br />

Ao longo <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa pesquisa <strong>no</strong>s acervos <strong>de</strong> Vitória, conseguimos coletar um consi<strong>de</strong>rável material<br />

impresso. Reunimos uma amostra significativa do que foi a produção alternativa <strong>no</strong>s últimos, digamos,<br />

30 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Folheando tais publicações, em especial aquelas dos idos <strong>de</strong> 70 para 80, características dos


movimentos populares então insurgentes, impressionam as várias estratégias <strong>de</strong> linguagem que elas<br />

empregavam para fazer chegar a sua mensagem àquele público-alvo bem localizado a que se<br />

direcionavam: em geral, pessoas que, na escala societária, ocupavam as camadas C, D e E; pessoas,<br />

portanto, com um baixo grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />

Tais estratégias são em tudo discrepantes às técnicas <strong>de</strong> discurso aplicadas <strong>no</strong>s jornais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

circulação. Basta que se folheie brevemente alguns poucos exemplares <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m para<br />

se i<strong>de</strong>ntificar alguns traços bem marcantes e que, basicamente, repetem-se em todas elas, quais sejam:<br />

1) Um texto muito mais direto e objetivo, em todos os sentidos que esses adjetivos possam ter.<br />

Quase via <strong>de</strong> regra, o enunciador se dirige diretamente ao leitor e o faz na linguagem mais<br />

simples possível. Por “simples” entenda-se uma linguagem “enxuta”, popular, coloquial, muitas vezes<br />

até vulgar, para assegurar que a comunicação se estabeleça. O vocabulário é o mais acessível – o que,<br />

vale frisar, não quer dizer <strong>de</strong>srespeito ao Português –, reduzido às palavras que são <strong>de</strong> conhecimento<br />

coletivo. O discurso, não raro, revela um tom didático, visando a transmitir mensagens evi<strong>de</strong>ntemente<br />

educativas. Há, também, um flerte constante com o lúdico, que se expressa <strong>de</strong> maneiras variadas.<br />

2) Salta aos olhos, sobretudo, o uso extremado <strong>de</strong> quadrinhos, charges e ilustrações em geral, ora<br />

para adornar o texto, tornando- o mais agradável, ora para se somar ao texto, complementando a sua<br />

mensagem, ora realmente em seu lugar, quando correspon<strong>de</strong> à própria mensagem. É <strong>no</strong>tável a maneira<br />

como se apelava reiteradamente a essas linguagens como estratégias <strong>de</strong> discurso, aproveitando-se todo<br />

o ludismo que elas encerram.<br />

Com efeito, a recorrência aos quadrinhos aponta como estratégia com o fim <strong>de</strong>liberado <strong>de</strong> atingir,<br />

<strong>de</strong> maneira mais precisa e abrangente, um público sabidamente pouco afeito à leitura da palavra escrita.<br />

Assim, freqüentemente, vemos o texto verbal dando lugar ao texto visual, às vezes mais direto e<br />

infantil, às vezes um pouco mais elaborado em charges que contêm mensagens mais sutis nas<br />

entrelinhas. Fica clara a intenção primordial <strong>de</strong> fazer enten<strong>de</strong>r a mensagem, garantir que ela seja<br />

<strong>de</strong>vidamente assimilada, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> qualquer preocupação estética e formal.<br />

Vejamos o que os sujeitos <strong>de</strong>ssa imprensa alternativa têm a dizer sobre essa questão:<br />

Andressa Rebonato – assessora <strong>de</strong> Comunicação do PT-ES, produz boletins informativos<br />

para vários movimentos sociais.


Jornal <strong>de</strong> massa X jornal alternativo<br />

A primeira gran<strong>de</strong> diferença é o texto. No jornal alternativo, o texto é mais curto, é mais<br />

objetivo. E para cada área é um texto um pouquinho diferente, um jeito <strong>de</strong> falar diferente. Do<br />

interior para a cida<strong>de</strong>, entre os próprios municípios. Cada município tem a sua especificida<strong>de</strong>,<br />

cada setor tem sua particularida<strong>de</strong>.<br />

Por exemplo, tem gente que me diz: ‘Andressa, o povo lá não quer ler nada’. Então, espera aí,<br />

a gente usa uma ilustração para pren<strong>de</strong>r a atenção da pessoa, e <strong>de</strong>pois complementa com um texto.<br />

Na ilustração, você já diz meta<strong>de</strong> do que quer dizer, quando não diz tudo.<br />

Trabalhei por um tempo em A Tribuna e ainda uso muito do jornal para fazer esses jornais,<br />

<strong>no</strong> que diz respeito ao estilo, porque A Tribuna é bastante popular. Mas, às vezes, eu peco <strong>no</strong><br />

sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer algo <strong>no</strong> jornal porque em A Tribuna eu não falava. E penso: ‘Pô, eu<br />

podia ter falado isso...’. No jornal alternativo, você não só po<strong>de</strong> como <strong>de</strong>ve assumir sua posição.<br />

Não tem aquela coisa <strong>de</strong> pensar: ‘Ah, será que eu posso dizer isso?’.Não, você conversa com a<br />

pessoa e pensa: ‘É isso que eu <strong>de</strong>vo dizer’. Aí você vai passar, como acha que <strong>de</strong>ve passar.<br />

O jornal alternativo tem esse lado <strong>de</strong> você po<strong>de</strong>r ir mais profundo, dizer o que está mesmo<br />

acontecendo, dar uma informação, dar o seu ponto e <strong>de</strong>pois fazer o cruzamento e dar uma<br />

resposta. E isso você não po<strong>de</strong> fazer na mídia.Em A Tribuna, eu tive muitas matérias cortadas e<br />

jogadas fora, porque eu não podia dizer alguma coisa. O que vale mesmo é o conselho editorial.<br />

Milson Henriques – jornalista/chargista <strong>de</strong> intensa atuação durante os “<strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> chumbo”.<br />

O ciclo vicioso<br />

Autores: Vocês da classe artística, jornalística e intelectual tinham essa preocupação <strong>de</strong> chegar<br />

ao povo, sensibilizá-lo e chamar sua atenção para as causas?<br />

Era um beco sem saída, porque a gente tinha que fazer com tanta sutileza que o intelectual<br />

entendia, o estudante entendia, mas o povão não entendia.


Autores: Você faz alguma autocrítica quanto a isso? Não faltava talvez mais objetivida<strong>de</strong> ou<br />

uma estratégia <strong>de</strong> discurso mais acessível?<br />

Não. Tinha que ser mais acessível, mas aí a censura proibia. Se a gente fizesse uma coisa<br />

muito aberta, a censura entendia e não “passava”, então a gente procurava ser sutil. Mas aí não<br />

adiantava, porque o povo não tinha cultura para enten<strong>de</strong>r a sutileza. Era muito difícil...<br />

Paulo Soldatelli – professor <strong>de</strong> Comunicação; trabalhando pela Arquidiocese, produziu uma<br />

série <strong>de</strong> jornaizinhos para movimentos populares, atuando, inclusive, como ilustrador.<br />

O texto visual<br />

O jornalista, em geral, talvez por trabalhar com texto escrito, não consegue trabalhar com a<br />

imagem que está ligada ao texto. E eu, talvez por gostar tanto <strong>de</strong> quadrinhos e fazer quadrinhos<br />

quando era peque<strong>no</strong>, também <strong>de</strong>senvolvi bastante uma maneira <strong>de</strong> pensar visualmente. E a imagem<br />

às vezes po<strong>de</strong> ser vista como um enfeite do texto, mas o mais importante é quando ela é um<br />

complemento ou quando é a própria mensagem.<br />

Então, em alguns momentos, a imagem era a mensagem, o texto só dava <strong>de</strong>talhes. No<br />

Ferramenta, a maior parte dos conceitos era traduzida em imagem. Isto eu levei para o movimento<br />

sindical. Como a gente trabalhava com pessoas que liam muito pouco, o texto tinha que ser muito<br />

simples, muito direto, e a imagem é uma linguagem mais direta”.<br />

Desirée Cipria<strong>no</strong> – professora <strong>de</strong> Comunicação, sempre pautou sua atuação <strong>de</strong>ntro da<br />

comunicação comunitária; em Minas Gerais (sua terra-natal), ajudou a escrever alguns jornais <strong>de</strong><br />

cunho popular, <strong>de</strong>ntre eles o Pelejando (editado pelas coor<strong>de</strong>nações estaduais da Pastoral da Terra,<br />

Pastoral Operária e CEBs).<br />

O Pelejando era um jornal feito para pessoas que não têm hábito <strong>de</strong> leitura. Então, ele tinha<br />

um corpo maior, um entre-linhamento maior, muito branco, muito espaço, ilustrações... Uma coisa<br />

era a própria falta <strong>de</strong> dinheiro para fotografia. Era muito complicado. Mas a outra é que a gente


<strong>de</strong>scobriu que, às vezes, você fazia um artigo bonito, na linguagem a<strong>de</strong>quada, preparado <strong>no</strong><br />

tamanho certo, mas as pessoas discutiam a partir da ilustração; não discutiam o artigo.<br />

Às vezes, a ilustração até diz mais. E as pessoas po<strong>de</strong>m participar mais.<br />

Então, nós temos que caminhar para isso. Nós temos que fazer um jornal que as pessoas<br />

possam ler e em que possam se reconhecer e se tornar parte <strong>de</strong> sua história. Não é um jornal como<br />

a Folha <strong>de</strong> São Paulo, que as pessoas po<strong>de</strong>m ler, mas quem? As pessoas da elite. Eu tenho que ser<br />

alternativo em abrir essa mídia a outras pessoas também, para que elas possam ler também.<br />

Então você é alternativo também trabalhando o formato.<br />

Da década <strong>de</strong> 90 aos dias atuais<br />

Sobre refluxos, crises e algumas perspectivas – o <strong>jornalismo</strong> alternativo na<br />

contemporaneida<strong>de</strong><br />

Para uma análise minimamente satisfatória <strong>de</strong> qualquer aspecto da socieda<strong>de</strong> que se estu<strong>de</strong>, é<br />

primordial a compreensão do seu entor<strong>no</strong>, da conjuntura na qual esse objeto <strong>de</strong> análise se insere,<br />

da qual sofre influência e que também influencia.<br />

Assim, falar do <strong>jornalismo</strong> impresso alternativo capixaba a partir da década <strong>de</strong> 90 é,<br />

essencialmente, falar do que aconteceu com os movimentos sociais <strong>de</strong> esquerda nesse mesmo<br />

período. E falar <strong>de</strong>sses movimentos sociais é necessariamente falar do que ocorreu e ocorre <strong>no</strong> País<br />

e <strong>no</strong> mundo, das profundas mudanças políticas, econômicas e culturais que suce<strong>de</strong>ram nessas<br />

décadas.<br />

Mas é preciso <strong>de</strong>ixar clara uma coisa: esse período não é isolado historicamente, ele está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um processo. Portanto, a década <strong>de</strong> 90 não começa exatamente <strong>no</strong> dia 1º <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1991, mas ainda antes – as suas raízes estão em acontecimentos anteriores.<br />

Nós, ao preten<strong>de</strong>rmos abordar a crise do <strong>jornalismo</strong> alterna- tivo que se <strong>de</strong>u em tal década,<br />

po<strong>de</strong>mos sublinhar alguns fatos que, tendo acontecido <strong>no</strong>s <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 80, seriam <strong>de</strong>cisivos para o<br />

refluxo enfrentado pelos movimentos sociais e, conseqüentemente, pelos seus meios <strong>de</strong><br />

comunicação posteriormente. Entre eles, o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização do Estado brasileiro e o


colapso do regime socialista soviético, representado pela queda do Muro <strong>de</strong> Berlim. Estes são dois<br />

marcos complementares, relacionados, que <strong>no</strong>s dão uma boa contextualização do período, tanto<br />

nacional quanto internacionalmente.<br />

O fim da ditadura militar<br />

Dentro do País, muitos movimentos sociais <strong>de</strong> contestação se fortaleceram, ou mesmo<br />

surgiram, <strong>no</strong> final dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 1970 e começo dos 1980. Gran<strong>de</strong> parte com um inimigo em<br />

comum bastante nítido: a ditadura militar. Lutar contra esse regime autoritário aglutinava pessoas<br />

em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> uma causa palpável, facilmente visível para qualquer um. Foi nessa época que<br />

aconteceram, por exemplo, as famosas greves dos metalúrgicos do ABC (a primeira em 1978) e o<br />

movimento “Diretas Já!” (1984).<br />

Apesar <strong>de</strong> fracassada em seu objetivo imediato, que era a eleição direta <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1985, a<br />

pressão popular das “Diretas Já!” teve papel <strong>de</strong>cisivo para o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do<br />

País, que só se conclui com a Constituição <strong>de</strong> 1988, promulgada pelo então presi<strong>de</strong>nte civil, mas<br />

empossado através <strong>de</strong> uma eleição indireta, José Sarney.<br />

Já com me<strong>no</strong>s um elemento <strong>de</strong> envolvimento <strong>no</strong>s movimentos sociais, sem um inimigo tão<br />

concreto como um gover<strong>no</strong> ditatorial, é eleito, em 1989, como presi<strong>de</strong>nte da República, o<br />

candidato Fernando Collor <strong>de</strong> Mello, com um projeto <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> marcadamente neoliberal. A partir<br />

daí, o neoliberalismo se reforça <strong>no</strong> Brasil, <strong>de</strong>smantelando ainda mais os movimentos populares<br />

e sindicais <strong>de</strong> oposição.<br />

Com esse refluxo dos movimentos, é óbvio, há também uma diminuição severa dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação alternativos produzidos pelos mesmos. E, além dos fatores já citados, ocorre também<br />

a entrada dos partidos <strong>de</strong> esquerda na política institucionalizada, o que reforçará a crise <strong>de</strong>sse tipo<br />

<strong>de</strong> imprensa, como explica Hamilton <strong>de</strong> Souza:<br />

Outro motivo é que as lutas políticas dos partidos <strong>de</strong> esquerda<br />

que se formam ou que saem da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, como o PCB,<br />

o PC do B se concentram <strong>no</strong> jogo institucional via eleições<br />

e parlamento. Há um abando<strong>no</strong> <strong>no</strong> trabalho


<strong>de</strong> conscientização e organização a partir da população nas<br />

periferias, <strong>no</strong>s bairros, <strong>no</strong>s locais <strong>de</strong> trabalho, etc.<br />

E, <strong>de</strong> certa maneira, a imprensa alternativa per<strong>de</strong> um pouco o<br />

sentido. (In: Segundo, 2005)<br />

Cai o Muro <strong>de</strong> Berlim – o colapso soviético e a globalização neoliberal<br />

Paralelamente a esses acontecimentos inter<strong>no</strong>s, em 1989, <strong>de</strong>nunciando um processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sgaste das estruturas do regime socialista soviético, o Muro <strong>de</strong> Berlim é <strong>de</strong>rrubado pelo<br />

gover<strong>no</strong> da então Alemanha Oriental. Para a esquerda internacional, essa queda teve uma gama<br />

e<strong>no</strong>rme <strong>de</strong> significados. Com o muro cai também sobre a cabeça <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> intelectuais um<br />

Estado socialista que não <strong>de</strong>u certo, uma esperança perdida.<br />

Esse acontecimento é consi<strong>de</strong>rado o marco do fim da Guerra Fria, que se estendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

conclusão da Segunda Guerra Mun- dial. Assim, aos poucos, a União Soviética também se<br />

<strong>de</strong>sintegra, chegando ao fim em 1991.<br />

Com esse fim, o mundo, que antes vivia uma disputa entre duas formas distintas <strong>de</strong><br />

organização econômica e política, encontrase quase que inteiramente dominado por um único<br />

mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>ológico:<br />

o capitalismo. E o capitalismo num estágio <strong>de</strong> avanço tec<strong>no</strong>lógico intenso, que, através <strong>de</strong><br />

constantes i<strong>no</strong>vações <strong>no</strong>s campos da comunicação, transporte e informática, inaugura um conceito<br />

muito difundido a partir da década <strong>de</strong> 90: a globalização.<br />

Uma globalização que obviamente serve aos interesses do atual mo<strong>de</strong>lo capitalista: o<br />

neoliberalismo.<br />

O neoliberalismo prega o Estado Mínimo, ou seja, gover<strong>no</strong>s nacionais que interfiram o<br />

mínimo possível na eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> seus países. Com a circulação mundial <strong>de</strong> bens, capitais e<br />

serviços, essa não-intervenção estatal foi muito propícia para que o capital internacional, advindo<br />

dos países <strong>de</strong>senvolvidos, entrasse maciçamente <strong>no</strong> Terceiro Mundo, atrás <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra mais<br />

barata e leis fiscais mais favoráveis, transferindo, em muitos casos, ramos inteiros <strong>de</strong> produção para<br />

essas localida<strong>de</strong>s. Ou penetrando através <strong>de</strong> privatizações promovidas por gover<strong>no</strong>s locais <strong>de</strong><br />

orientação neoliberal, como o do ex-presi<strong>de</strong>nte brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Todo esse<br />

processo ocasiona uma gran<strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego <strong>no</strong>s países sub<strong>de</strong>senvolvidos.


No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, isto também acontece, como <strong>no</strong>s mostra Colbari (2003): “A Escelsa, que<br />

antes da privatização empregava 2.600 trabalhadores, reduziu esse contingente a 1.500. [...] A<br />

CST empregava, em 1990, 6.209 pessoas e, em 1992, a<strong>no</strong> da privatização, <strong>de</strong>mitiu 1.700<br />

empregados. [...] A CVRD, <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> quatro <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, reduziu <strong>de</strong> 23 mil para 15 mil o efetivo<br />

pessoal.”<br />

Tantos <strong>de</strong>sempregados e trabalhadores transferidos para o terceiro setor da eco<strong>no</strong>mia<br />

enfraquecem altamente a ativida<strong>de</strong> sindical, ao diminuir circunstancialmente a sua base. Além<br />

disso, outros fatores advindos com as privatizações contribuem para a <strong>de</strong>sarticulação do<br />

sindicalismo, como <strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> administração das indústrias, através <strong>de</strong> gestões participativas,<br />

que atrelam os interesses do trabalhadores aos dos patrões.<br />

Dessa forma, preocupadas com o <strong>de</strong>semprego, tendo que trabalhar cada vez mais para<br />

garantirem seus cargos, influenciadas por uma cultura midiática que estimula a todo o momento o<br />

consumismo e o individualismo, as pessoas acabam por priorizar o pla<strong>no</strong> individual em <strong>de</strong>trimento<br />

do coletivo, provocando, assim, uma séria <strong>de</strong>smobilização dos movimentos sociais.<br />

E, como já dissemos, esse refluxo dos movimentos vai afetar em larga escala a produção <strong>de</strong><br />

jornais alternativos, que tiveram um boom <strong>no</strong>s <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 80. O pior é que essa crise vai acontecer<br />

exatamente <strong>no</strong> momento em que mais se precisa <strong>de</strong> mídias com posicionamentos opostos aos das<br />

megacorporações <strong>de</strong> comunicação, que mundializam formas <strong>de</strong> se comportar, se pensar e ver a<br />

socieda<strong>de</strong>, agindo geralmente <strong>no</strong> sentido da ratificação do mo<strong>de</strong>lo capitalista.<br />

São necessárias mídias que apresentem a diversida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas socieda<strong>de</strong>s, que se<br />

preocupem com a (in)formação <strong>de</strong> um receptor crítico, que apresentem <strong>no</strong>vos jeitos <strong>de</strong> enxergar<br />

o mundo e <strong>de</strong>cidir o que é e o que não é <strong>no</strong>tícia, o que merece e o que não merece atenção. Mídias<br />

que, ao se pautarem, coloquem também em <strong>de</strong>bate a <strong>de</strong>mocratização dos meios <strong>de</strong> comunicação e<br />

seu papel primordial na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa, on<strong>de</strong> todos tenham voz para dizer<br />

o que pensam e quais são as suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Avante!


No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, o quadro é basicamente o mesmo do nacio- nal, inserido que está nessa<br />

conjuntura. Da explosão <strong>de</strong> jornais populares e sindicais da década <strong>de</strong> 80, foram poucos os que<br />

sobreviveram. E, mesmo estes, combalidos e fragmentados, tiveram sua influência e penetração<br />

ainda mais minimizados.<br />

A maior parte dos jornais do tipo que existem hoje estão conformados a um estilo mais<br />

“jornalístico”, <strong>no</strong> que essa palavra tem <strong>de</strong> mais ligado à imprensa tradicional. Ou seja, utilizando-<br />

se <strong>de</strong> estruturas como o li<strong>de</strong> e a pirâmi<strong>de</strong> invertida, e se atendo a fatos mais pontuais, <strong>de</strong>ixando para<br />

trás, em boa parte <strong>de</strong>les, um conteúdo mais formativo.<br />

Não há, atualmente, <strong>no</strong> âmbito regional, nenhum jornal alternativo que se <strong>de</strong>staque em<br />

importância. E não falamos aqui <strong>de</strong> um jornal que compita com os gran<strong>de</strong>s veículos empresariais<br />

capixabas. Falamos que não há mesmo um jornal alternativo que tente compreen<strong>de</strong>r em suas pautas<br />

as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> voz da população local, ou, pelo me<strong>no</strong>s, da esquerda intelectual, que, em tese,<br />

<strong>de</strong>veria ser mais organizada.<br />

Uma tentativa nesse sentido, <strong>no</strong> contexto nacional, é o semanário Brasil <strong>de</strong> Fato. O jornal foi<br />

lançado em 2003, <strong>no</strong> Fórum Social Mundial, e, articulado por diversos movimentos sociais,<br />

principalmente o MST, tem como projeto representar a esquerda brasileira, ou ao me<strong>no</strong>s uma parte<br />

<strong>de</strong>la. De certa forma, esse jornal se tor<strong>no</strong>u referência <strong>no</strong> que se trata <strong>de</strong> um <strong>jornalismo</strong><br />

combativo brasileiro. Mas, mesmo tendo adquirido esse status, a sua penetração foi aquém do<br />

esperado, como explica José Arbex:<br />

Nós fizemos uma conta quando fomos lançar o Brasil <strong>de</strong><br />

Fato. Existem 9 mil paróquias <strong>no</strong> Brasil e a gente pensou<br />

que, se 10% das paróquias assinarem um exemplar, são<br />

<strong>no</strong>vecentas assinaturas. Tinha 150 mil pessoas que<br />

participaram da campanha contra a Alca, se 10% assinarem o<br />

jornal, são 15 mil assinaturas. Só aí teríamos, em tese, 16 mil<br />

assinaturas do jornal, o que já seria suficiente para implantálo.<br />

Até hoje (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2003), não tem nem 5 mil.<br />

(In: Segundo, 2005)


A verda<strong>de</strong> é que é muito difícil enfrentar o po<strong>de</strong>rio das gran<strong>de</strong>s mídias, empresariais e<br />

essencialmente capitalistas. Porém, a luta se dá como em todo movimento contra-hegemônico: <strong>de</strong><br />

pouco em pouco, feito formiguinhas, tentando reconstruir toda uma socieda<strong>de</strong>.<br />

Acreditamos que essa reconstrução passa necessariamente pelo campo comunicacional, dada a<br />

sua e<strong>no</strong>rme importância simbólica <strong>no</strong> pensamento do homem contemporâneo.<br />

É claro que nós, humil<strong>de</strong>s estudantes, não temos respostas sobre como enfrentar esse e<strong>no</strong>rme<br />

<strong>de</strong>safio à <strong>no</strong>ssa frente. Mas nós sabemos que ele existe, que se irrompe sólido perante a<br />

realização do <strong>no</strong>sso sonho <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa, e que nós temos que tentar enfrentá-lo. Na<br />

verda<strong>de</strong>, é só o que po<strong>de</strong>mos fazer: tentar.<br />

Mas, para isso, precisamos enten<strong>de</strong>r também o que foi feito, o que acontece hoje, quais erros<br />

não repetir, quais acertos levar em consi<strong>de</strong>ração. E, por isso, este capítulo é <strong>de</strong> extrema relevância.<br />

Inclusive para que, daqui pra frente, nós possamos fazer parte <strong>de</strong>sta história.


Referências bibliográficas<br />

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PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Comunicação <strong>no</strong>s Movimentos Populares – a participação na<br />

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SANTIAGO, Cláudia; GIANOTTI, Vito. Comunicação sindical – falando para milhões.<br />

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SIQUEIRA, Sandra Maria Marinho. O papel dos movimentos sociais na construção <strong>de</strong> outra<br />

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Vozes da <strong>de</strong>mocracia – história da comunicação na re<strong>de</strong>mocratização do Brasil.<br />

Disponível na Internet. http://www.intervozes.org.br/arquivos/livro_ miolo.pdf. 2 out. 2005<br />

Entrevistas


Adriana Machado – Jornalista do SEEB-ES. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Andressa Rebonato – Assessora <strong>de</strong> Comunicação do PT-ES.<br />

Anselmo Venturin – Ex-assessor da Arquidiocese <strong>de</strong> Vitória. Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Antônio Granja e Clementi<strong>no</strong> Dalmácio – Ex-colaboradores do jornal Folha Capixaba. Setembro<br />

<strong>de</strong> 2005.<br />

Cláudio Vereza – Deputado estadual PT-ES. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

David Protti – Professor do Deptº <strong>de</strong> Comunicação Social – Ufes.<br />

Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Diretoria do Conselho Comunitário <strong>de</strong> Vila Velha. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Edílson Lenk – Jornalista da CUT/ES e do Sindiupes. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Eni Maria <strong>de</strong> Almeida – Pastoral Operária. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Fabíola Melca da Silva Araujo – Coor<strong>de</strong>nadora Geral da Casa da Mulher (Projeto “Olho da Rua”).<br />

Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

João Morais – Diretório do PT-ES.<br />

Ligia Sarlo – Jornalista. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Milson Henriques – Jornalista, cartunista, ator. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Namy Chequer – Jornalista e radialista. Outubro <strong>de</strong> 2005 (por e-mail).<br />

Paulo Soldatelli – Professor <strong>de</strong> Comunicação Social – Faesa. Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Doutora Beatriz Krohling – Professora do Deptº <strong>de</strong> Serviço Social – Univila. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Doutora Desirée Cipria<strong>no</strong> – Professora do Deptº <strong>de</strong> Serviço social – Ufes. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Doutora Marta Zorzal – Professora do Deptº <strong>de</strong> Ciências Sociais – Ufes. Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Tania Mara Ferreira – Professora do Deptº <strong>de</strong> Comunicação Social – Ufes. Setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Ti<strong>no</strong>co dos Anjos – Diretor da TVE-ES. Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />

Warley Soares – Produtor do Jornal Vitória, da Arquidiocese <strong>de</strong> Vitória.<br />

Setembro <strong>de</strong> 2005.


O <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> em revista<br />

Ceciana França, Daniella Za<strong>no</strong>tti,<br />

Fernanda Pontes e Patrícia Galleto<br />

A imprensa é um ótimo reflexo do imaginário sociocultural dos grupos <strong>de</strong>tentores dos<br />

meios <strong>de</strong> comunicação. Estudar a evolução <strong>de</strong>sses veículos significa, portanto, analisar<br />

a versão dos fatos sob a ótica <strong>de</strong> uma pequena parcela da socieda<strong>de</strong>, predominantemente, a<br />

elite. Tal fator se torna ainda mais evi<strong>de</strong>nte se observarmos as revistas aqui produzidas.<br />

Durante todo o processo evolutivo <strong>de</strong>ssas publicações <strong>no</strong> Estado, é possível perceber que,<br />

em sua maioria, elas foram – e continuam sendo – concebidas pelas classes <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo e a elas <strong>de</strong>stinadas, contribuindo para a perpetuação <strong>de</strong> seu status.<br />

Iniciamos <strong>no</strong>sso estudo a partir da análise <strong>de</strong> uma revista eclética, a Vida Capichaba,<br />

que unia literatura e <strong>no</strong>tícia. Des<strong>de</strong> então, o colunismo social se fazia presente nas edições,<br />

focando a nata aristocrática da época. Essa especificida<strong>de</strong> temática ganhou força com os<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong>, <strong>de</strong>flagrando um processo <strong>de</strong> fragmentação das publicações com esse formato, fator<br />

marcante <strong>no</strong> mercado capixaba.<br />

Se antes tínhamos uma revista multitemática, embora vi- sivelmente carregada <strong>de</strong><br />

peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma elite social e <strong>de</strong>stinada, a princípio, a toda população da Capital,<br />

atualmente temos publicações com temas específicos para públicos <strong>de</strong>terminados.<br />

Essa característica atual é muito mais perceptível e proposital do que em outros tempos.<br />

É como se, majoritariamente, a classe alta escrevesse para si mesma sobre temas que<br />

dizem respeito apenas ao seu subgrupo. Talvez esta seja uma exigência natural do mercado,<br />

talvez seja mesmo fruto <strong>de</strong> uma mentalida<strong>de</strong> provinciana, presente até hoje nas revistas<br />

capixabas. O fato é que ainda há gran<strong>de</strong>s obstáculos nesse tipo <strong>de</strong> produção local e as que se<br />

mantêm na ativa são, em sua maioria, <strong>de</strong>dicadas a empresas privadas, ao colunismo social e<br />

ao consumo. É interessante ressaltar que, ao longo dos oitenta <strong>a<strong>no</strong>s</strong> que este estudo alcança,<br />

uma das dificulda<strong>de</strong>s que prevalece continua sendo a mesma: a falta <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong><br />

publicações locais pelo público capixaba.


Dessa forma, <strong>no</strong> presente trabalho, buscamos resgatar um pouco da história dos<br />

periódicos não-diários produzidos <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, bem como apresentar um breve<br />

pa<strong>no</strong>rama <strong>de</strong>sse mercado <strong>no</strong> início do século XXI.<br />

A história Capichaba nas páginas da Vida<br />

Quando analisamos <strong>de</strong>terminado veículo <strong>de</strong> comunicação, é importante ter em mente toda a<br />

significação i<strong>de</strong>ológica e social que este carrega. Dessa forma, ao pesquisar uma revista como a<br />

Vida Capichaba – que, <strong>no</strong> período entre 1923 e 1957, acompanhou pequenas e gran<strong>de</strong>s mudanças<br />

<strong>no</strong>s diversos âmbitos da socieda<strong>de</strong> local –, po<strong>de</strong>mos observar seu evi<strong>de</strong>nte papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na<br />

construção do imaginário social capixaba. Po<strong>de</strong>-se afirmar, ainda, que, <strong>de</strong> forma cíclica, esse<br />

veículo muito influenciou, e até mesmo mo<strong>de</strong>lou, idéias e valores que construíram a vida da<br />

socieda<strong>de</strong> que viveu <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> durante o século XX. Antes <strong>de</strong>la, outras publicações<br />

especializadas já haviam surgido <strong>no</strong> mercado capixaba. Um exemplo é a Gazeta<br />

Literária, estabelecida em janeiro <strong>de</strong> 1899. Dirigida por Amâncio Pereira, ela era basicamente<br />

literária e, editada em cores, foi consi<strong>de</strong>rada uma das mais bem produzidas publicações do gênero<br />

até então.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar também a Revista Ilustrada, <strong>de</strong> 1910, e a Vitória Ilustrada, <strong>de</strong> 1914.<br />

Já nesse período, é possível perceber que as publicações eram construídas em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> uma<br />

temática principal – <strong>no</strong> caso, a literatura – e que contemplavam apenas o universo <strong>de</strong> pequena<br />

parcela da socieda<strong>de</strong>. A restrição do acesso a obras literárias, bem como ao ensi<strong>no</strong> superior, já<br />

estava incrustado na cultura local, <strong>de</strong>terminando também o público consumidor <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><br />

periódico. Já que as famílias ricas representavam o principal grupo consumidor das<br />

produções culturais, as revistas eram escritas sob a ótica elitista da época, carregando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu<br />

nascimento, o caráter <strong>de</strong> segmentação <strong>de</strong> público.<br />

Influenciadas pelo mo<strong>de</strong>rnismo e pela Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> 1922, surgiram <strong>no</strong> Brasil<br />

várias revistas <strong>de</strong> vanguarda, que circulavam numa época em que imprensa e literatura se<br />

confundiam.


No entanto, nenhuma <strong>de</strong>ssas publicações influenciou tanto a socieda<strong>de</strong> local quanto a Vida<br />

Capichaba. Ela nasceu <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em 1923, e é consi<strong>de</strong>rada a revista <strong>de</strong> maior<br />

longevida<strong>de</strong> <strong>no</strong> Estado até hoje. Sua primeira edição foi lançada <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> abril<br />

daquele a<strong>no</strong>, com uma tiragem <strong>de</strong> mil exemplares, custando 500 réis e com a proposta <strong>de</strong> ser uma<br />

revista quinzenal.<br />

Seu primeiro editorial dizia:<br />

A Vida Capichaba ahi está. Não é ainda a revista<br />

que i<strong>de</strong>alizamos. Do terceiro número em <strong>de</strong>ante é que ella<br />

vestirá a sua roupagem <strong>de</strong>finitiva. Por emquanto, ainda<br />

estamos na trabalhosa phase <strong>de</strong> organização.<br />

Passada, porém, essa época <strong>de</strong> singulares tropeços, a Vida<br />

Capichaba está em condições <strong>de</strong> realizar os seus gran<strong>de</strong>s<br />

i<strong>de</strong>aes, <strong>de</strong> vencer as terríveis hostilida<strong>de</strong>s que se <strong>no</strong>s<br />

prophetizam.<br />

E os i<strong>de</strong>aes da Vida Capichaba são os formosos i<strong>de</strong>aes <strong>de</strong><br />

todos nós, os trabalhadores ingênuos e honesto pela gran<strong>de</strong>za<br />

do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Não se justifica a falta <strong>de</strong> uma revista nesta Capital:<br />

que já é uma linda e encantadora cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos milhares<br />

<strong>de</strong> habitantes.<br />

Toda a cida<strong>de</strong> linda tem uma revista linda, que conta a sua<br />

história, que perpetua as suas emoções, que perfuma a sua<br />

galanteria, que exalta a sua elegância e que guarda, como<br />

num pequeni<strong>no</strong> livro <strong>de</strong> horas, as ânsias subtis <strong>de</strong> sua vida<br />

sentimental...<br />

Embora pessoas experimentadas, embora velhos peregri<strong>no</strong>s<br />

da chiméra, que ficaram pelo caminho, <strong>no</strong>s digam que a <strong>no</strong>ssa<br />

iniciativa, <strong>de</strong>vido à famosa indifferença do publico espírito<br />

santense pelas cousas <strong>de</strong> arte e literatura, terá ephemera<br />

duração, aqui estamos para enfrentar o monstro... [...]”<br />

Além <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar as dificulda<strong>de</strong>s encontradas e a vocação literária que seria seguida na<br />

publicação, o primeiro editorial <strong>de</strong>dicou a revista à mulher espírito-santense por ser esta “a mais<br />

ar<strong>de</strong>nte protetora da arte e a mais requintada amiga do sonho”. Tal fato talvez represente o<br />

importante papel que o público femini<strong>no</strong> teria para a revista ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>.


Capa da primeira edição <strong>de</strong> Vida Capichaba


A partir da quarta edição, em agosto <strong>de</strong> 1923, Ma<strong>no</strong>el Lopes Pimenta, Elpídio Pimentel e<br />

Aurindo Quintaes assumiram o papel <strong>de</strong> sócios fundadores e redatores. O editorial <strong>de</strong>sse número<br />

dizia:<br />

É bem certo que lhe tomaram o leme outros timoneiros,<br />

porque os dois brilhantes intellectuaes que, tão<br />

auspiciosamente, a puseram em movimento, enten<strong>de</strong>ram<br />

sermos capazes <strong>de</strong> substitui-los <strong>no</strong>s postos <strong>de</strong> comando, <strong>de</strong><br />

que irrevogavelmente se apartaram. [...]”<br />

Após sua fase inicial, Vida Capichaba tor<strong>no</strong>u-se a mais expressiva publicação do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>. Ela circulava, quinzenalmente, na Capital e <strong>no</strong> interior, tendo representantes por todo o<br />

Estado.<br />

Entre contos, crônicas e poemas, coluna social e fotos da alta socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> membros do<br />

gover<strong>no</strong>, seção <strong>de</strong> esportes, artigos avulsos produzidos por colaboradores, a Vida Capichaba<br />

continha geralmente 36 páginas.<br />

Outra característica era o cuidado estético da publicação: suas capas e seu <strong>de</strong>sign geral eram<br />

nitidamente influenciados pelo estilo art-<strong>no</strong>uveau; além disso, ela era publicada em papel couchê<br />

e sempre trazia belas fotografias. É interessante <strong>no</strong>tar que muitas fotos <strong>de</strong> paisagens do interior<br />

estampavam a revista. Isto po<strong>de</strong> ser explicado como uma tentativa <strong>de</strong> ultrapassar a ilha <strong>de</strong><br />

Vitória, integrando o Estado e tornando a revista mais atraente para quem vivia fora da Capital.<br />

Produzida e direcionada para a elite, a revista refletia um caráter conservador e provincia<strong>no</strong>,<br />

típico da socieda<strong>de</strong> capixaba da época, o que espelhava o mo<strong>de</strong>lo oligárquico-agrário-exportador.<br />

Como instrumento <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> tendências, além <strong>de</strong> representante oficial do cotidia<strong>no</strong>, a<br />

Vida Capichaba perpetuou uma mentalida<strong>de</strong> elitista que foi aos poucos se tornando mais sutil.<br />

Um exemplo disso é a forma como o negro e o operário eram tratados pelo veículo.<br />

Inicialmente, seu cotidia<strong>no</strong> não era retratado e, caso fosse incluído na revista, isto acontecia <strong>de</strong><br />

forma pejorativa.<br />

Na coluna “Do meu livro <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas”, assinada por Lucia, na terceira edição da revista, esse fato<br />

é explícito:


[...] Era o povo da cida<strong>de</strong>, o povo brutal e grosseiro, que<br />

celebrava a festa do trabalho. Não gosto nada do povo. O meu<br />

espírito aristocrático repugna tudo que não tenha distincção.<br />

[...] Toda vez que me lembro <strong>de</strong>ste homem <strong>de</strong> má catadura<br />

tenho medo <strong>de</strong> uma revolução...<br />

Mais tar<strong>de</strong>, embora mantivesse sua i<strong>de</strong>ologia elitista, a Vida Capichaba ce<strong>de</strong>ria espaço para o<br />

proletariado <strong>no</strong> dia 1° <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1930, na edição <strong>de</strong> número 225. Nessa data, foi publicado o<br />

artigo “A Festa do Trabalho”, <strong>no</strong> qual os trabalhadores eram exaltados como elementos <strong>de</strong><br />

relevância para o <strong>de</strong>senvolvimento do Estado, ou seja, lembrados como classe pertencente à<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Já <strong>no</strong> dia 15 <strong>de</strong> maio do mesmo a<strong>no</strong>, os negros tiveram um gran<strong>de</strong> espaço na publicação <strong>de</strong><br />

número 227. Para comemorar a Abolição da Escravatura, a Vida Capichaba trazia na capa a frase:<br />

“Meu Deus! Já não há mais escravos em minha terra!”. Além disso, um artigo com o título “13 <strong>de</strong><br />

Maio” estampava a foto da Princesa Isabel e <strong>de</strong> José do Patrocínio sendo exaltados como heróis do<br />

movimento abolicionista.<br />

A forma como a mulher era tratada pela publicação também merece <strong>de</strong>staque. Muitos<br />

consi<strong>de</strong>ram a Vida Capichaba pioneira, pois, além <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> incentivadora do público femini<strong>no</strong><br />

como leitor, a revista i<strong>no</strong>vou ao convidar jovens intelectuais capixabas para escrever em suas<br />

páginas, tanto colunas especialmente para mulheres – como a “Feminea”, escrita por Ilza Dessaune<br />

– como seções literárias. Maria Antonieta Tatagiba, Arlette Cyprestte, Guilly Furtado Ban<strong>de</strong>ira,<br />

Lydia Besouchet e Haidée Nicolussi são exemplos <strong>de</strong> escritoras capixabas que iniciaram sua<br />

carreira na revista e que <strong>de</strong>pois se tornaram reconhecidas nacionalmente.<br />

Maria Eugenia Celso e Berta Lutz, duas lí<strong>de</strong>res do movimento feminista nacional, também<br />

escreveram para Vida Capichaba.<br />

No entanto, uma análise mais profunda da revista mostra que a mulher era reverenciada em<br />

suas páginas quase exclusivamente por sua beleza e fragilida<strong>de</strong>, bem como por seu importante<br />

papel para a manutenção do status quo como mães e esposas “moralmente corretas”.


Anúncio <strong>de</strong> remédio para o público femini<strong>no</strong> com o slogan: “Quanto dura uma Lua <strong>de</strong><br />

Mel”. Ao lado, caricaturas <strong>de</strong> personagens femini<strong>no</strong>s<br />

Anúncio <strong>de</strong> remédio para as mulheres e artigo sobre o voto femini<strong>no</strong>


Tal fato po<strong>de</strong> ser observado inclusive <strong>no</strong>s anúncios: os principais remédios eram<br />

especialmente <strong>de</strong>stinados à mulher, pressupondo uma fragilida<strong>de</strong> extrema, enquanto os anúncios <strong>de</strong><br />

carros, por exemplo, eram dirigidos aos homens. É importante ressaltar que, nesse momento, já se<br />

anunciava a segmentação das publicações por sexo. Futuramente, surgiriam as revistas femininas<br />

e masculinas, <strong>de</strong>clarando ou não tal proposta em seus editoriais.<br />

Uma prova da evolução da liberda<strong>de</strong> feminina po<strong>de</strong> ser observada na forma como as autoras<br />

assinavam seus artigos. Inicialmente, elas usavam pseudônimos, obviamente por medo do<br />

preconceito recorrente <strong>no</strong> início do século XX. Já a partir da década Anúncio <strong>de</strong> remédio para as<br />

mulheres e artigo sobre o voto femini<strong>no</strong> <strong>de</strong> trinta, algumas passaram a assinar seus textos e poemas.<br />

Tal atitu<strong>de</strong> difundiu-se a partir da crescente liberda<strong>de</strong> conquistada pela mulher. Vale observar que<br />

tal liberda<strong>de</strong> ainda era ínfima, fato que, apesar do pioneirismo da Vida Capichaba, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

ser evi<strong>de</strong>nciado nas páginas da revista.<br />

Uma das maiores dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos i<strong>de</strong>alizadores <strong>de</strong>ssa publicação, além do já<br />

referido <strong>de</strong>scrédito da socieda<strong>de</strong> frente ao empreendimento, foi a cobertura dos custos <strong>de</strong> produção.<br />

Como publicar propagandas em revistas naquela época não era uma prática comum, poucos<br />

eram os anunciantes que a Vida obteve. Devido a esse fator, tor<strong>no</strong>u-se impossível para ela manter-<br />

se totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, como almejavam seus realizadores. Além dos lucros com a vendagem,<br />

a revista recebia uma ajuda do Gover<strong>no</strong> do Estado. Explica-se, assim, o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

reportagens sobre turismo e obras públicas. Pagas pelo Gover<strong>no</strong>, tais reportagens geralmente<br />

ocupavam as páginas centrais. Esse apoio fica evi<strong>de</strong>nte logo <strong>no</strong> primeiro número, com fotografias<br />

<strong>de</strong> membros do Gover<strong>no</strong> e frases <strong>de</strong> apoio ao então governador cel. Nestor Gomes. Tal postura<br />

permaneceu ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um dos fatores que <strong>de</strong>ram origem às<br />

publicações específicas sobre as “maravilhas do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>”, contemplando o mercado<br />

emergente do turismo.<br />

No período pré-Revolução <strong>de</strong> 30, o vínculo com o Estado resultou <strong>no</strong> afastamento do diretor<br />

Ma<strong>no</strong>el Lopes Pimenta. Por ser simpatizante do grupo <strong>de</strong> Getúlio Vargas (contrário ao<br />

governador Aristeu <strong>de</strong> Aguiar), ele preferiu <strong>de</strong>ixar a revista nas mãos <strong>de</strong> Elpídio Pimentel – também<br />

um dos fundadores da Vida –, temendo prejudicar o veículo. Com o sucesso da Revolução, após<br />

seis meses, Pimenta retor<strong>no</strong>u como editor e único proprietário; a revista, por sua vez, passou a ser


editada em sua gráfica. Isto reduziu os custos da publicação e conseqüentemente a tor<strong>no</strong>u mais<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Quanto à temática, Vida Capichaba seguiu contemplando assun- tos diversos, enfocando<br />

sempre a vida política e social do Estado <strong>de</strong> forma a manter a “or<strong>de</strong>m” e os costumes locais. Nesse<br />

contexto, duas das colunas <strong>de</strong> maior sucesso e mais antigas eram a “Alfinetadas”<br />

e a “Sociaes”. As duas seções nasceram com a revista e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, comprometeram-se com<br />

assuntos da elite. Já naquela época, “Sociaes” fazia uma espécie <strong>de</strong> colunismo social, enquanto a<br />

“Alfinetadas” utilizava um ar satírico ao comentar sobre fatos e pessoas da alta socieda<strong>de</strong>. Ainda <strong>no</strong><br />

quadro das colunas mais famosas da revista, estava a “Miscelania”, que tratava <strong>de</strong> assuntos<br />

variados, tais como os <strong>de</strong> interesse cultural e literário e os temas simples, pertencentes ao<br />

imaginário popular. A literatura, o cinema e o esporte – prioritariamente futebol e remo – também<br />

continuavam com lugar reservado nas páginas da Vida. Outro tema abordado com freqüência <strong>no</strong>s<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong> 30 e 40 era o Carnaval, o que mostrava o apreço da socieda<strong>de</strong> da época pela folia.<br />

Capa da edição número 112, <strong>de</strong> 19


Ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, a Vida Capichaba chegou a ser publicada semanalmente e passou a ser<br />

vendida também fora do Estado, em municípios <strong>de</strong> Minas Gerais e do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1954, Ma<strong>no</strong>el Lopes Pimenta ven<strong>de</strong>u seu patrimônio para Élcio Álvares, Alvi<strong>no</strong> Gatti<br />

e César Bastos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 32 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> à frente da publicação. Na ocasião, Pimenta publicou um<br />

texto emocionado <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida chamado “Missão Cumprida”, <strong>no</strong> qual fica evi<strong>de</strong>nte toda a paixão<br />

que <strong>de</strong>positou ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> na Vida Capichaba. No artigo, ele conta sobre as dificulda<strong>de</strong>s<br />

para sustentar a revista – o que, inclusive, o havia forçado a torná-la mensal –, tais como a forte<br />

concorrência das revistas do Rio e o <strong>de</strong>sprezo do capixaba pelo que era produzido aqui.<br />

A <strong>no</strong>va equipe diretora publicou em janeiro <strong>de</strong> 1955 o primeiro número da Nova Revista Vida<br />

Capichaba, que teve como último diretor o jornalista Adam Emil Czartoryski. Eles <strong>de</strong>sejavam<br />

mo<strong>de</strong>rnizar a revista, mas, com a saída <strong>de</strong> Alvi<strong>no</strong> e Élcio, esse sonho se tor<strong>no</strong>u cada vez mais<br />

distante. Depois disso, César Bastos chegou a lançar o semanário Sete Dias e o jornal diário A<br />

Palavra.<br />

Nos editoriais da revista, do semanário e do jornal, ele não poupava críticas a todos os que<br />

consi<strong>de</strong>rava inimigos <strong>de</strong> seu objetivo.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> resultou em represálias. Nos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 50, a capital do Estado já conhecia<br />

vários casos <strong>de</strong> empastelamento <strong>de</strong> jornais e relatos <strong>de</strong> agressões a jornalistas. César, mesmo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> adquirir certo po<strong>de</strong>r, acabou sendo agredido <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong> Vitória, a mando <strong>de</strong> homens <strong>de</strong><br />

confiança do então governador “Chiquinho” Lacerda Aguiar. Após o episódio, ele se mudou para<br />

Petrópolis, sua terra natal.<br />

Assim, chegava ao fim a história da revista que ajudou a escrever uma parte significativa <strong>de</strong><br />

tantas vidas capixabas. Uma <strong>no</strong>va publicação <strong>de</strong> relevância para o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> viria a surgir<br />

apenas <strong>de</strong>z <strong>a<strong>no</strong>s</strong> mais tar<strong>de</strong>.<br />

De Capichaba para Capixaba<br />

A suntuosa festa <strong>de</strong> lançamento do dia 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1967, que reuniu políticos, empresários e<br />

figuras da alta socieda<strong>de</strong> capixaba, foi apenas o prelúdio do que significaria a Revista Capixaba


para o Estado. Com direito a toda pompa, a comemoração <strong>de</strong> estréia foi <strong>no</strong>tícia <strong>no</strong>s principais meios<br />

<strong>de</strong> comunicação da época.<br />

A tão aguardada revista não <strong>de</strong>scansou por muito tempo nas bancas <strong>de</strong> jornal. Como fato<br />

inédito na história do <strong>jornalismo</strong> capixaba, mil exemplares se esgotaram em duas horas -<br />

<strong>de</strong>monstração inequívoca <strong>de</strong> que ela foi realmente ao encontro <strong>de</strong> uma velha aspiração do <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, talvez reflexo do saudosismo dos leitores da Vida Capichaba.<br />

Na primeira edição, na seção Bilhete <strong>de</strong> Editor, Álvaro Pacheco, diretor e editor geral, saudava<br />

os leitores exprimindo os objetivos e as intenções da mais <strong>no</strong>va revista do Estado:<br />

Esta revista realiza uma aspiração dupla: <strong>no</strong>ssa, dos que a<br />

i<strong>de</strong>alizamos e <strong>no</strong>s dispomos a mantê-la, e do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>,<br />

que necessitava <strong>de</strong> um veículo a traduzir as suas conquistas e<br />

o seu progresso e a informar ao seu povo. Nosso objetivo<br />

assim é ambicioso: trazer para o ES a informação do que<br />

se passa e do que é a terra e a gente <strong>de</strong> além – diversa e<br />

mostrar a essa terra e a essa gente o que é o ES, como vive,<br />

trabalha e progri<strong>de</strong> seu povo. Esforço cada vez maior em prol<br />

da cultura capixaba.<br />

O leitor que folheasse a publicação mensal passaria primeiro por uma capa bem ilustrada, com<br />

imagens coloridas <strong>de</strong> pontos turísticos do Estado e, principalmente, com foto <strong>de</strong> algum<br />

representante da elite capixaba, na maioria das vezes, belas e “bem criadas” jovens.<br />

A Revista Capixaba herdou o caráter elitista das revistas anteriores, que dispensavam e<strong>no</strong>rme<br />

atenção para a coluna social.<br />

A coluna “Informa”, <strong>de</strong> Hélio Dórea, já era o espaço preferido das socialites. A publicação era<br />

claramente escrita para os que possuíam dinheiro e po<strong>de</strong>r, cobrindo, com <strong>de</strong>staque, festas<br />

<strong>de</strong> casamento, posse <strong>de</strong> políticos e eventos sociais dos afortunados cidadãos capixabas.<br />

É impressionante a miscelânea <strong>de</strong> temas tratados na revista, mesmo porque a intenção era<br />

atrair o maior público possível.<br />

Não podiam faltar artigos políticos e matérias mais “sérias”, que, nesse momento, já haviam<br />

tomado parte do lugar da excessiva literatura <strong>de</strong> outros tempos.


As matérias tinham o objetivo <strong>de</strong> atualizar os seus leitores com os fatos mais significativos<br />

ocorridos <strong>no</strong> Estado, <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong> mundo. Abordavam assuntos em <strong>de</strong>bate na socieda<strong>de</strong>, como<br />

o uso da pílula anticoncepcional, a evolução bioquímica mo<strong>de</strong>rna e o problema do uso dos tóxicos e<br />

entorpecentes. Eram indispensáveis, entretanto, o humor e a linguagem leve. As crônicas,<br />

por exemplo, tinham espaço garantido em todos os números. Não ficavam <strong>de</strong> fora também os<br />

mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vestidos, as receitas <strong>de</strong> bolo e outros assuntos que se supunham femini<strong>no</strong>s.<br />

A revista buscava ser mo<strong>de</strong>rna e estar à frente <strong>de</strong> seu tempo, mas a mudança dos costumes não<br />

acontecia <strong>de</strong> maneira tão rápida a ponto <strong>de</strong> impedir a censura. As <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s e os<br />

questionamentos vindos <strong>de</strong> fora eram relidos <strong>de</strong> acordo com o contexto brasileiro, ainda bastante<br />

tradicional e conservador. Por <strong>de</strong>terminação da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, os censores apreen<strong>de</strong>ram 206<br />

exemplares da edição <strong>de</strong> nº41 da revista, em 1970, sob a alegação <strong>de</strong> que a reportagem “Oh!<br />

Calcutta!” feria o <strong>de</strong>creto da censura, por conter ilustrações <strong>de</strong> “nu erótico”. A propósito do<br />

assunto, e em <strong>de</strong>fesa dos princípios e do bom <strong>no</strong>me da revista, o editor Álvaro Pacheco conce<strong>de</strong>u a<br />

seguinte entrevista coletiva aos jornais <strong>de</strong> Vitória:<br />

Ao publicar a reportagem sobre a peça Oh!Calcutta!<br />

não tivemos a me<strong>no</strong>r intenção <strong>de</strong> provocar escândalo ou <strong>de</strong><br />

apelar para o erotismo fácil. Cumprimos apenas o que <strong>no</strong>s<br />

pareceu o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> informar, objetivo básico <strong>de</strong> uma<br />

publicação como a Revista Capixaba. Afinal <strong>de</strong> contas esta<br />

peça representa um marco na historia <strong>de</strong> teatro e é assunto<br />

jornalístico <strong>no</strong> mundo inteiro. Já foi vista em, Nova Iorque<br />

por mais <strong>de</strong> 500 mil pessoas e esta sendo montada em Paris e<br />

Londres, e fotos idênticas às publicados pela Revista<br />

Capixaba já foram reproduzidas pelo Time, Paris Match, Life<br />

e até por jornais diários como o New York Times. O <strong>no</strong>sso<br />

cuidado na preparação da matéria foi o maior possível. Mas,<br />

como po<strong>de</strong>ríamos informar aos <strong>no</strong>ssos leitores sem mostrar<br />

um mínimo do que ocorre <strong>no</strong> palco?” (Revista Capixaba,<br />

Bilhete <strong>de</strong> Editor. Edição nº 42)<br />

Após quatro <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> sucesso e polêmica, a Revista Capixaba se <strong>de</strong>spediu das bancas em<br />

março <strong>de</strong> 1971.<br />

Nos <strong>a<strong>no</strong>s</strong> 70 e 80, Agora e Revista


Ainda na década <strong>de</strong> 70, surgiu a <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> Agora, dirigida por Erildo dos Anjos.<br />

Muitas vezes, suas matérias eram polêmicas. Na edição <strong>de</strong> número 27, lançada em setembro <strong>de</strong><br />

1978, a Agora estampava na capa o título “Elegantes Ladrões!”, numa alusão ao grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong><br />

classe alta que estavam realizando roubos na Capital e até então não haviam tido seus <strong>no</strong>mes<br />

publicados pela imprensa capixaba. Ela também trazia na capa um título irônico sobre a vinda do<br />

então presi<strong>de</strong>nte Figueiredo ao Estado.<br />

Na capa do número 27, mo<strong>de</strong>lo foi fotografado <strong>no</strong> papel <strong>de</strong> um ladrão flagrado<br />

roubando automóvel em área <strong>no</strong>bre da cida<strong>de</strong>


A edição ven<strong>de</strong>u 11 mil exemplares, o que, segundo seu exdiretor, ainda é um recor<strong>de</strong> em<br />

termos editoriais <strong>no</strong> Estado. Na Carta do Editor <strong>de</strong>ste número, Erildo <strong>de</strong>sabafou:<br />

[...] Mas temos que admitir que é difícil fazer <strong>jornalismo</strong> on<strong>de</strong><br />

as pessoas não acreditam, não respeitam e não conhecem o<br />

trabalho do repórter. As autorida<strong>de</strong>s, principalmente. [...]<br />

Mas, o fato é que continuaremos a luta. As razões <strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong>rmos divulgar todos os <strong>no</strong>mes dos ‘elegantes ladrões’,<br />

que a polícia conhece – e o fato <strong>de</strong> estarmos furiosos com isso<br />

– <strong>no</strong>s dão a sensação <strong>de</strong> que estamos fazendo <strong>jornalismo</strong><br />

sério, sem radicalismos, maduro, sem vícios provinci<strong>a<strong>no</strong>s</strong>.<br />

A imprensa <strong>de</strong>ste Estado precisa nivelar por cima.<br />

Por baixo, já estamos cheios.<br />

Segundo Erildo, “as publicações duravam mais ou me<strong>no</strong>s uns quatro <strong>a<strong>no</strong>s</strong>. Às vezes, saíam <strong>de</strong><br />

circulação por falta <strong>de</strong> dinheiro e <strong>de</strong>pois voltavam a circular. Duravam, geralmente, o tempo <strong>de</strong><br />

o Gover<strong>no</strong> Estadual mudar. Isto porque era difícil conseguir anúncios e, se o Gover<strong>no</strong> não tivesse<br />

uma boa relação com a revista, ela não vingava por muito tempo”. Isto não significava,<br />

entretanto, que a revista temia criticar o Gover<strong>no</strong> e as gran<strong>de</strong>s empresas, consi<strong>de</strong>ra Erildo.<br />

Já em abril <strong>de</strong> 1984, o mesmo Erildo dos Anjos, ex-editor <strong>de</strong> Agora, lançou com Antonio<br />

Cláudio <strong>de</strong> Oliveira a Revista do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. No primeiro editorial, com o título “Verda<strong>de</strong> e<br />

I<strong>de</strong>alismo”, Erildo expôs a proposta da revista:<br />

A pretensão explícita nesse editorial <strong>de</strong> ultrapassar as fronteiras do Estado não foi alcançada.<br />

Segundo Erildo, já era bastante difícil divulgar a revista <strong>no</strong> próprio <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, já que,<br />

geralmente, os próprios jornalistas e editores viajavam para levar os exemplares para o interior.<br />

“REVISTA do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> chega hoje às bancas com a<br />

mesma preocupação que tinha Shaw <strong>de</strong> transformar o<br />

<strong>jornalismo</strong> numa permanente busca da verda<strong>de</strong>. E com a<br />

mesma coragem do homem que, embora consciente <strong>de</strong> sua<br />

fragilida<strong>de</strong>, consegue ser forte o suficiente para superar-se,<br />

não só porque acredita numa idéia como também porque é o<br />

único animal capaz <strong>de</strong> sacrificar-se por um i<strong>de</strong>al. Numa época<br />

<strong>de</strong> crise como a atual, quando o po<strong>de</strong>roso grupo João <strong>Santo</strong>s<br />

fecha A Tribuna, um jornal <strong>de</strong> 46 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, e A Gazeta, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

58 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, faz sérias contenções <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas,


é preciso ter coragem e acreditar para ser imprensa, com os<br />

compromissos em relação a criar um órgão <strong>de</strong> lutas da<br />

socieda<strong>de</strong> do seu tempo subjacentes a uma postura <strong>de</strong> respeito<br />

à verda<strong>de</strong>. Revista nasceu porque um grupo <strong>de</strong> jornalistas<br />

ainda acredita ser possível fazer <strong>jornalismo</strong> sério <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, porque quer incrementar, ampliar e aprofundar<br />

o <strong>de</strong>bate sobre os problemas <strong>de</strong>ste Estado, do Sul da Bahia,<br />

do Norte fluminense e do Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Minas, enfim, porque<br />

acredita que a população <strong>de</strong>sta parte do país está, como a<br />

maioria dos brasileiros, na busca <strong>de</strong> alternativas para os<br />

impasses políticos e econômicos da socieda<strong>de</strong>.”<br />

A pretensão explícita nesse editorial <strong>de</strong> ultrapassar as fronteiras do Estado não foi alcançada.<br />

Segundo Erildo, já era bastante difícil divulgar a revista <strong>no</strong> próprio <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, já que,<br />

geralmente, os próprios jornalistas e editores viajavam para levar os exemplares para o interior.<br />

Capa da primeira edição da Revista do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, em abril <strong>de</strong> 1984


A Revista não tinha um público-alvo segmentado, sendo dirigida a toda a socieda<strong>de</strong> capixaba<br />

e, assim como Agora, apostava em polêmicas, almejando sempre a qualida<strong>de</strong> da informação. Na<br />

Revista número quatro, <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 84, a reportagem <strong>de</strong> capa tratava da poluição gerada pela CST,<br />

costumeiro anunciante do veículo.<br />

Sem medo dos anunciantes: polêmicas <strong>no</strong> conteúdo editorial


No editorial <strong>de</strong>sse número, intitulado “Ameaça do Céu”, Erildo citou também a matéria que<br />

tem como título “Ufes S.A.”:<br />

Com a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> que a Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica <strong>de</strong> Tubarão está lançando ao ar poluentes capazes <strong>de</strong> formar<br />

uma nuvem ácida, [...], Revista preten<strong>de</strong>, tão somente, fazer um apelo e uma proposta <strong>de</strong> mobilização à comunida<strong>de</strong><br />

capixaba. Nossa matéria traz a esperança <strong>de</strong> que, com a re<strong>de</strong>mocratização que o país atravessa, a comunida<strong>de</strong><br />

encontre forças para lutar pela implantação <strong>de</strong> equipamentos que, <strong>de</strong> acordo com o convênio assinado com a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a CST não está obrigada a comprar. [...]<br />

Rompemos o silêncio cúmplice da imprensa capixaba todos esses <strong>a<strong>no</strong>s</strong> para advertir sobre esta ameaça, que é<br />

real e que só será afastada com a total disposição <strong>de</strong> luta da comunida<strong>de</strong>. [...] Outra <strong>de</strong>núncia: a Ufes só quer saber <strong>de</strong><br />

faturar. Não reverte o lucro obtido com órgãos como a Fundação Cecilia<strong>no</strong> Abel <strong>de</strong> Almeida em favor do ensi<strong>no</strong> nem<br />

da pesquisa.<br />

Com humor, Erildo respon<strong>de</strong> à pergunta sobre como conseguia anúncios com empresas<br />

criticadas nas páginas da Revista: “É claro que eles se recusavam a publicar por um tempo, mas<br />

nós insistíamos tanto que eles acabavam voltando a anunciar, aí nós criticávamos <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, e era<br />

aquele problema!”.<br />

Novamente o veículo teve que enfrentar dificulda<strong>de</strong>s já conhecidas pela equipe: poucos<br />

anúncios e a mudança <strong>de</strong> Gover<strong>no</strong>.<br />

Assim, sem saber que rumos a política cultural tomaria <strong>no</strong> Estado, e se seria possível continuar<br />

pagando a publicação, a Revista do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> chegou ao fim juntamente com o térmi<strong>no</strong><br />

do Gover<strong>no</strong> Camata.<br />

A segmentação do mercado<br />

As cinco faces da Next Nouveau<br />

A proposta das revistas contemporâneas é trazer toda informação que interesse a um tipo <strong>de</strong><br />

leitor específico. A segmentação mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sse mercado começou a partir da década <strong>de</strong> 50<br />

e hoje é característica predominante <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> revistas. Em qualquer banca, o capixaba po<strong>de</strong><br />

encontrar publicações que tratam somente <strong>de</strong> negócios, outras com tema específico <strong>de</strong> religião<br />

e, ainda, revistas <strong>de</strong> interesse dos jovens.


No circuito <strong>de</strong> publicações capixabas que segue essa linha, <strong>de</strong>staca- se a editora Next<br />

Nouveau. A empresa, que aten<strong>de</strong> há 10 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> o mercado espírito-santense, possui um papel<br />

relevante <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> comunicação do Estado. Voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento e o gerenciamento<br />

<strong>de</strong> produtos e projetos editoriais, ela atualmente possui cinco publicações circulando não só <strong>no</strong><br />

<strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, como também <strong>no</strong> sul da Bahia, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e na região leste <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

A editora produziu sua primeira revista em 1997, dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong> após sua fundação, e hoje é<br />

responsável por prestar serviços e produzir publicações segmentadas que aten<strong>de</strong>m nichos<br />

diferenciados.<br />

Segundo Cláudia Luzes, coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> tráfego da Next Nouveau, a revista Comunhão é o<br />

carro-chefe da empresa. Com tiragem <strong>de</strong> oito a <strong>no</strong>ve mil exemplares por mês, essa revista aten<strong>de</strong> o<br />

público evangélico, tornando-se a mais expressiva publicação para esse segmento.<br />

A cada edição, Comunhão traz um conteúdo voltado para o crescimento do número <strong>de</strong><br />

evangélicos, adotando como alvo prin- cipal as li<strong>de</strong>ranças e formadores <strong>de</strong> opinião <strong>de</strong>ntro das<br />

igrejas.<br />

Atualmente, a revista é referência editorial em cultura cristã, além <strong>de</strong> ter reconhecimento em<br />

âmbito nacional em seu segmento.<br />

Chamada inicialmente <strong>de</strong> Dominical, a revista tinha 32 páginas e era impressa em preto e<br />

branco. Na 11º edição, a revista ganhou cores, e, três edições posteriores, o <strong>no</strong>me Dominical foi<br />

trocado por Comunhão. Hoje, são mais <strong>de</strong> 100 páginas distribuídas em cada edição. Para isso, o<br />

veículo conta com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> anunciantes, que representam 45% do total da publicação.<br />

A segunda revista lançada foi a Target, que já está há quatro <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>no</strong> mercado. Os públicos-<br />

alvos são estudantes <strong>de</strong> Comunicação Social e empresários que atuam nesse setor. Para atraí-<br />

los, são produzidas matérias com redação mais leve e diagramação mais dinâmica.<br />

A Next Nouveau produz, ainda, as revistas ES Brasil, <strong>de</strong>stinada ao empresariado capixaba; a<br />

Prodfor, com matérias que aten<strong>de</strong>m as maiores empresas compradoras <strong>de</strong> produtos, bens e<br />

serviços do Estado, participantes do Programa <strong>de</strong> Qualificação e Desenvolvimento <strong>de</strong> Fornecedores<br />

(Prodfor); e a Super Ilha, recente revista da Associação Capixaba <strong>de</strong> Supermercadistas (ACAPS).<br />

ESSA – <strong>de</strong> ter<strong>no</strong> e gravata


Acompanhando a tendência <strong>de</strong> segmentação do mercado <strong>de</strong> publicações, recentemente, em<br />

maio <strong>de</strong> 2005, o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> ganhou mais uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficar por <strong>de</strong>ntro das <strong>no</strong>tícias do<br />

setor empresarial do Estado. Trata-se da revista ESSA – <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> Socieda<strong>de</strong> Aberta. Segundo<br />

Xerxes Gusmão Neto, diretor-editor, foi somente <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> passado que ele<br />

conseguiu <strong>de</strong>senvolver esse projeto, uma idéia que estava guardada por 12 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e que somente em<br />

maio <strong>de</strong>ste a<strong>no</strong> pô<strong>de</strong> ser concre- tizada.<br />

Com tiragem mensal <strong>de</strong> 5 mil exemplares, a revista ESSA é voltada para um seleto grupo <strong>de</strong><br />

empresários, executivos, autorida<strong>de</strong>s, profissionais liberais, formadores <strong>de</strong> opinião, professores e<br />

estudantes universitários e intelectuais. Do total <strong>de</strong> exemplares, 4 mil são distribuídos entre esses<br />

grupos e o restante é colocado à venda nas bancas.<br />

Diferentemente <strong>de</strong> outras publicações, ESSA não possui um número muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> anúncios.<br />

No entanto, os poucos anúncios que existem são feitos por gran<strong>de</strong>s empresas que<br />

atuam significativamente <strong>no</strong> Estado. Xerxes afirma que a revista não está <strong>de</strong>ntro dos padrões<br />

habituais, quando se trata da reserva <strong>de</strong> espaço para publicida<strong>de</strong>, pois ela tem um volume muito<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdo.<br />

Utilizando uma linguagem específica e composta por matérias sobre eco<strong>no</strong>mia, negócios,<br />

turismo, finanças, saú<strong>de</strong>, educação, ciência e tec<strong>no</strong>logia, política, cultura e <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

municípios capixabas, a ESSA, apesar da concorrência, em pouco tempo conquistou seu espaço<br />

entre os empresários capixabas.<br />

Vale lembrar que esse público é um dos mais contemplados pelas revistas locais. Gran<strong>de</strong> parte<br />

das publicações atuais se <strong>de</strong>stina ao mundo do business e funciona como uma espécie <strong>de</strong> vitrine<br />

para os <strong>no</strong>vos empreendimentos e empreen<strong>de</strong>dores do Estado.<br />

Nas Trilhas do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

Relaxar sob a Cascata da Hidromassagem em Conceição do Castelo, praticar vôo livre <strong>no</strong> Mirante<br />

Alto Formoso, em Vargem Alta, explorar corre<strong>de</strong>iras e cachoeiras em Santa Leopoldina, e, além disso<br />

tudo, ainda ter mapas, dicas <strong>de</strong> acomodação, locomoção e contatos disponíveis para chegar a esses


locais. Que tal aproveitar e conhecer a história, a cultura, as paisagens e ambientes naturais <strong>de</strong> regiões<br />

praticamente inexploradas do seu Estado?<br />

Quem oferece isso é a revista Trilhas, pioneira em retratar as numerosas potencialida<strong>de</strong>s naturais<br />

do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>.<br />

Em parceria com empresas, prefeituras – diversos prefeitos a utilizam como meio eficiente <strong>de</strong><br />

divulgar o potencial turístico <strong>de</strong> seus municípios – e outras instituições públicas, a revista<br />

vem apresentando o Estado para o capixaba e para o resto do Brasil há mais <strong>de</strong> uma década. Já são 12<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> expedições, em que foram documentadas mais <strong>de</strong> 60 regiões capixabas.<br />

Lançada em julho <strong>de</strong> 1994 pelo engenheiro agrô<strong>no</strong>mo Fernando Bourguig<strong>no</strong>n Pratti, a revista não<br />

tem somente o intuito <strong>de</strong> mostrar as paisagens <strong>de</strong>sconhecidas pelo turismo convencional, ou <strong>de</strong> atrair<br />

turistas para essas regiões. Trilhas também alerta para a conservação da natureza, apontando<br />

problemas relacionados ao uso in<strong>de</strong>vido das áreas <strong>de</strong> preservação. A primeira capa <strong>de</strong> Trilhas, por<br />

exemplo, trouxe a imagem do Pico Goiapaba-Açu, em Fundão, uma complexa geografia <strong>de</strong> montanhas<br />

com rica biodiversida<strong>de</strong>. Atualmente, esse local está protegido pela APA Goiapaba-Açu (Área <strong>de</strong><br />

Proteção Ambiental) e está recebendo a infra-estrutura que a revista <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u na época, para se<br />

tornar um dos pontos <strong>de</strong> turismo ecológico do Estado.<br />

De acordo com o fundador e diretor geral da Trilhas, Fernando Bourguig<strong>no</strong>n Pratti, “o <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong> tem um potencial e<strong>no</strong>rme para o ecoturismo, mas, infelizmente, ele não é explorado<br />

como <strong>de</strong>veria”. A revista se encarrega <strong>de</strong> mostrar o que po<strong>de</strong> ser feito, divulga diversas localida<strong>de</strong>s com<br />

potencial ecológico e que po<strong>de</strong>m apostar <strong>no</strong> turismo sustentável.<br />

Apesar <strong>de</strong> atuar <strong>no</strong> mercado há tantos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, Pratti afirma não ser fácil manter esse veículo.<br />

Trilhas é produzida por três pessoas, incluindo o diretor, que geralmente recorre a free-lancers para<br />

aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda. No entanto, o custo disso é muito alto. Assim como o resto das publicações <strong>no</strong><br />

Estado, Trilhas sofre com a <strong>de</strong>pendência dos anunciantes, que são os mantenedores da revista.<br />

Pratti se recorda dos tempos difíceis que passou durante os três gover<strong>no</strong>s passados: “Já aconteceu<br />

muito <strong>de</strong> prefeituras, empresas e pousadas anunciarem e não pagarem. Durante muito tempo, a revista<br />

sofreu problemas financeiros. Já aconteceu, inclusive, <strong>de</strong> <strong>de</strong>morar seis meses para ser publicada.” Com<br />

o objetivo inicial <strong>de</strong> ser bimestral, a revista hoje é lançada <strong>de</strong> três em três meses.


Outro <strong>de</strong>safio é aumentar a tiragem <strong>de</strong> revistas que vão para fora do Estado. De 10 mil<br />

exemplares publicados, 500 são dis-<br />

tribuídos entre Minas Gerais, Bahia, Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Brasília. O gran<strong>de</strong> empecilho<br />

é o mo<strong>no</strong>pólio nacional <strong>de</strong> revistas. As gran<strong>de</strong>s distribuidoras exigem exclusivida<strong>de</strong> e o mercado<br />

nacional torna-se um espaço difícil <strong>de</strong> conquistar.<br />

Mudanças estão a caminho. O diretor almeja aumentar o número <strong>de</strong> páginas da Trilhas –<br />

atualmente, cerca <strong>de</strong> 48 – e, para isso, é preciso aumentar o número <strong>de</strong> anunciantes, o que<br />

representa a maior dificulda<strong>de</strong>. Outro passo é investir em outro meio <strong>de</strong> comunicação, como a<br />

internet, a fim <strong>de</strong> divulgar melhor o trabalho da revista.<br />

A moda Hype<br />

Ao entrar <strong>no</strong> universo Hype, muda-se o foco, mas não a marca fragmentada <strong>de</strong>ssas<br />

publicações. O carro-chefe da Hype, que atua há dois <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> revistas, é a moda.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser voltada para esse tema, os assuntos abordados variam entre estética, saú<strong>de</strong>, profissão


e entrevistas com pessoas <strong>de</strong> diferentes segmentos, sempre contemplando temas <strong>de</strong> interesse da<br />

classe alta <strong>de</strong> Vitória.<br />

A revista surgiu como um projeto <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso que, através <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong><br />

mercado, verificou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma publicação que tratasse mais sobre moda e assuntos co-<br />

relacionados.<br />

Logo que nasceu, Hype era publicada mensalmente, mas, <strong>de</strong> acordo com Tiago Feliz Martins,<br />

diretor comercial da publicação, o mercado do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> não está preparado para um produto<br />

<strong>de</strong>sse porte com essa periodicida<strong>de</strong>. Por esse motivo, a revista passou a ser bimestral, após seu<br />

primeiro aniversário.<br />

Com cerca <strong>de</strong> 40% <strong>de</strong> anúncios em todo o exemplar, a Hype possui diversos tipos <strong>de</strong><br />

anunciantes, como instituições <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, concessionárias <strong>de</strong> veículos, lojas <strong>de</strong> moda, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>coração e indústrias ligadas ao ramo da moda (tecidos, aviamentos, roupas).<br />

Ainda na área comercial, Tiago afirma que a concorrência é muito forte, mas a revista, em seu<br />

segmento, já possui um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque.<br />

Ao todo, chegam às mãos dos leitores 7 mil exemplares <strong>de</strong>ssa publicação, contendo as <strong>no</strong>tícias<br />

mais importantes dos principais eventos <strong>de</strong> moda que acontecem <strong>de</strong>ntro e fora da cida<strong>de</strong>, além<br />

<strong>de</strong> apresentar algumas colunas fixas, como “Beleza”, “Cidadania” e “Divirta-se”.<br />

A Hype é direcionada, primeiramente, para um público femini<strong>no</strong> com faixa etária entre 25 e 55<br />

<strong>a<strong>no</strong>s</strong> das classes A e B, que atue ou não em alguma das áreas envolvidas na linha editorial<br />

da revista. Contudo, também atinge homens <strong>de</strong> 30 a 55 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, como profissionais liberais ou<br />

empresários dos ramos <strong>de</strong> moda, beleza, estética, <strong>de</strong>coração e cultura. Um exemplo disso são as<br />

matérias sobre os últimos lançamentos <strong>de</strong> automóveis do mercado. A revista preten<strong>de</strong> transitar entre<br />

o público <strong>de</strong> adultos e jovens, estes geralmente estudantes <strong>de</strong> moda, arquitetura, <strong>jornalismo</strong>,<br />

publicida<strong>de</strong>, artes plásticas e marketing.


Personalida<strong>de</strong>s em foco<br />

Dedicar páginas e matérias <strong>de</strong> um veículo impresso à ostentação da alta socieda<strong>de</strong> é uma<br />

prática muito antiga na história dos meios <strong>de</strong> comunicação. Nas publicações capixabas não seria<br />

diferente – ao longo da evolução dos meios impressos <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, é possível perceber como<br />

as colunas sociais adquiriram <strong>no</strong>vas características e se remo<strong>de</strong>laram conforme as<br />

transformações da socieda<strong>de</strong>. Se antes <strong>de</strong>dicavam-se páginas a mulheres da elite aristocrática<br />

(cheias <strong>de</strong> anáguas, babados, chapéus) e a homens do<strong>no</strong>s <strong>de</strong> terras, hoje, para ocupar tal espaço,<br />

<strong>de</strong>ve-se carregar algo mais além do sobre<strong>no</strong>me e da recheada conta bancária.


São mulheres com ar <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, bem resolvidas, mo<strong>de</strong>rnas, donas <strong>de</strong> si, e homens <strong>de</strong><br />

negócios, firmes e autoconfiantes.<br />

Todos eles, entretanto, assim como há algumas décadas, representam, nas páginas das revistas<br />

e jornais, a nata financeira da socieda<strong>de</strong>, sempre com muito luxo. A diferença consiste,<br />

basicamente, nesses elementos adicionais que caracterizam a posição <strong>de</strong> status dos tempos<br />

mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s, sempre evi<strong>de</strong>nte nas roupas e <strong>no</strong> comportamento dos alvos dos flashes.<br />

No <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>, atualmente, duas das maiores publicações totalmente <strong>de</strong>dicadas ao<br />

colunismo social capixaba são as revistas Portifolio e Class. Ambas exploram bastante sua parte<br />

visual, carregando as páginas com fotos <strong>de</strong> aniversários, casamentos e encontros das<br />

personalida<strong>de</strong>s. A temática, freqüentemente, gira em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> assuntos específicos das classes mais<br />

privilegiadas, tais como alta costura, culinária sofisticada, festas badaladas, <strong>de</strong>sfiles, casamentos<br />

chiques, entre outros.<br />

A revista Class, em especial, segundo a jornalista e editora, Terriely Leal, <strong>de</strong>stina-se às classes<br />

A e B (média-alta), <strong>de</strong> jovens a pessoas mais velhas do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Há treze <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, o diretor da<br />

revista, Jorginho <strong>Santo</strong>s, como é conhecido, aposta em um formato <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s que interessem a<br />

esse público. As famosas Linhas Malditas, coluna presente nas publicações, representam bem seu<br />

estilo <strong>de</strong> conceber a revista, com <strong>no</strong>tícias rápidas sobre a vida pessoal das personalida<strong>de</strong>s, <strong>no</strong> estilo<br />

“fofoquinhas sociais”.<br />

Embora tenha passado por diversas alterações quanto ao planejamento gráfico, a Class sempre<br />

se manteve fiel à sua proposta editorial.<br />

Segundo Terriely, a publicação quinzenal se apresenta em forma <strong>de</strong> revista por esta ser a<br />

melhor opção diante da concepção do projeto. “O papel que é usado é melhor e,<br />

conseqüentemente, a impressão também fica com maior qualida<strong>de</strong>, fazendo com que as fotografias<br />

– muito usadas – realcem e tragam o glamour esperado para a publicação”, explica.<br />

Revistas cujo carro-chefe são as colunas sociais, geralmente, reservam gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> suas<br />

páginas à publicida<strong>de</strong>. Em sua maioria, são anúncios <strong>de</strong> produtos “tops <strong>de</strong> linha”, como<br />

construtoras <strong>de</strong> alto padrão, lojas <strong>de</strong> roupa e acessórios <strong>de</strong> grife, casas <strong>de</strong> festa e prestadoras <strong>de</strong><br />

serviço <strong>no</strong> ramo. A Class, por exemplo, conta com parcerias que estão presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu primeiro<br />

número, mas procura <strong>de</strong>dicar mais <strong>de</strong> 50% das edições ao conteúdo.


Quanto à concorrência, Terriely ressalta a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ganhar espaço <strong>no</strong> mercado capixaba,<br />

já que este ainda é reduzido para o consumo <strong>de</strong> revistas locais: “Consi<strong>de</strong>rando um tempo <strong>de</strong> crises<br />

<strong>no</strong>s meio <strong>de</strong> comunicação e estando, especificamente, em um mercado muito difícil e peque<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

qual meios que não concorreriam acabam concorrendo, ocupamos uma boa fatia do mercado”.<br />

Segundo a jornalista, a Class já conquistou um <strong>de</strong>terminado público e, com um expediente <strong>de</strong> seis<br />

profissionais fixos e tiragem <strong>de</strong> 8 mil exemplares a cada quinze dias, se mantém fiel a ele.<br />

Ainda nesse mesmo segmento, mas com um caráter mais jovem, está a revista Welcome Card,<br />

que circula <strong>de</strong>s<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2000.A publicação segue os padrões das revistas <strong>de</strong> coluna social<br />

<strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s da juventu<strong>de</strong>.<br />

Segundo o diretor comercial da Welcome Card, Leonardo Mansur, a revista passou por<br />

algumas transformações, mas, embora tenha que concorrer com as publicações <strong>de</strong> colunismo social<br />

<strong>de</strong> “gente gran<strong>de</strong>”, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lado o público dos socialites mais <strong>no</strong>vos.<br />

Dessa maneira, aniversários em gran<strong>de</strong> estilo, como festas <strong>de</strong> 15 <strong>a<strong>no</strong>s</strong> e em boates, são<br />

retratados nas páginas, através das coberturas feitas <strong>no</strong>s eventos. Apesar <strong>de</strong> ser uma revista, a<br />

Welcome Card segue uma forte tendência atual: a febre dos sites <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> festas. Em suas<br />

páginas, sempre há um álbum <strong>de</strong> fotos <strong>de</strong> pessoas “comuns” que circulam nas mais badaladas festas<br />

da cida<strong>de</strong>. Segundo Leonardo, a revista tem mesmo o objetivo <strong>de</strong> cobrir os eventos da socieda<strong>de</strong>.<br />

A publicação possui muitos anúncios <strong>de</strong> diferentes setores, como colégios, lojas, churrascarias,<br />

concessionárias <strong>de</strong> veículos e hotéis. Leonardo afirma que a revista é toda paga e que o número <strong>de</strong><br />

páginas varia conforme o número <strong>de</strong> anúncios <strong>de</strong> cada edição.<br />

A cada 40 dias, chega até as mãos dos leitores 6 mil exemplares <strong>de</strong> uma revista com quase 100<br />

páginas. Esse espaço conta com, <strong>no</strong> máximo, três entrevistas e quatro matérias, geralmente <strong>de</strong><br />

jovens empresários capixabas. O restante é dividido entre propagandas e cobertura <strong>de</strong> eventos,<br />

trazendo fotos das “celebrida<strong>de</strong>s” locais. A forte relação com as assessorias <strong>de</strong> imprensa<br />

permite que haja uma constante autopromoção <strong>de</strong>ssas pessoas ao longo da revista, em especial dos<br />

grupos empresariais.<br />

Mulheres com belos corpos e homens bonitos, “sarados” e com belos sorrisos estampam as<br />

páginas <strong>de</strong>ssa revista, reafirmando ainda mais o compromisso permanente com a beleza<br />

padronizada dos jovens. Assim como em outros periódicos do ramo, as colunas transmitem bem a


falsa idéia <strong>de</strong> que a vida é uma maravilha e que não existem problemas. Esta é uma das intenções<br />

<strong>de</strong> publicações que retratam a vida <strong>de</strong> socialites, em qualquer lugar do mundo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do olhar crítico sobre a linha editorial <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> veículo.<br />

Dessa forma, o atual colunismo social <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> é pautado, basicamente, em eventos<br />

protagonizados pela elite capixaba.<br />

Muitas matérias são pagas e abordam aspectos unilateralmente, tornando clara a proposta <strong>de</strong><br />

reafirmar os grupos com maior po<strong>de</strong>r aquisitivo em sua posição <strong>no</strong> topo da pirâmi<strong>de</strong> social,<br />

bem como <strong>de</strong> tratá-los fora do heterogêneo contexto socioeconômico do Estado. Dessa maneira,<br />

atêm-se, na maioria das vezes, à superficialida<strong>de</strong> literalmente maquiada <strong>de</strong> uma ínfima parcela<br />

da socieda<strong>de</strong> e optam pela sua promoção, <strong>no</strong> lugar do <strong>jornalismo</strong> crítico e <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

social.<br />

De jovem para jovem<br />

Dropando as páginas<br />

Diante da evi<strong>de</strong>nte escassez <strong>de</strong> publicações voltadas para o público jovem <strong>no</strong> Estado, algumas<br />

revistas chegaram ao mercado da atualida<strong>de</strong> focando esse nicho. A primeira a propor algo <strong>no</strong>vo para<br />

esse público foi a Sport Session. Editada por Eugenio Nelson Perini, a publicação surgiu da idéia<br />

<strong>de</strong> um ex-surfista profissional que sentia falta <strong>de</strong> uma revista sobre o esporte com foco <strong>no</strong> Estado. A<br />

idéia se transformou em uma revista que tinha o surfe capixaba como mote principal. Tendo<br />

adquirido vários formatos ao longo dos <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, mas sempre gratuita, a Sport Session era<br />

distribuída em todo o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e enviada para alguns pontos do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Pará, Paraná,<br />

São Paulo, Santa Catarina, Alagoas, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Bahia.<br />

Segundo Leandro Matias, um dos 13 membros da equipe e responsável pela parte comercial da<br />

revista, o mercado recebeu bem a publicação <strong>no</strong>s primeiros <strong>a<strong>no</strong>s</strong>: “A Sport Session se tor<strong>no</strong>u<br />

um trunfo para o esporte capixaba, já que nenhum outro veículo aqui abordava especificamente o<br />

surfe. Além disso, pelo custo-benefício, era importante e viável para as empresas anunciantes”.


Ironicamente, o fato <strong>de</strong> ser específica <strong>de</strong>mais acabou tornando difícil conseguir <strong>no</strong>vos<br />

anunciantes. Por esse motivo, a Sport Session <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser publicada, após seis <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong><br />

existência.<br />

Em 2005, a temática “surfe” retorna ao público jovem capixaba com a revista Moment. Em<br />

seu primeiro número, lançado em abril, o editorial mostra a proposta dos diretores Hugo Verçoza e<br />

Priscila Contarini:<br />

[...] No esporte, por exemplo, o interessante é o estilo <strong>de</strong> vida<br />

que ele propõe. Uma vida saudável, mais em contato com a<br />

natureza, o aprendizado da vitória, da <strong>de</strong>rrota, lidar com as<br />

emoções. O objetivo é unir esses assuntos e critérios <strong>de</strong><br />

estilos <strong>de</strong> vida: entrevistas diferenciadas, fotos inusitadas, um<br />

<strong>jornalismo</strong> mais leve, valorizando o <strong>no</strong>sso Estado, sua cultura<br />

e seus cidadãos. A Moment é uma revista <strong>de</strong> bolso para<br />

te acompanhar em qualquer momento...<br />

A revista já publicou três edições e a quarta está sendo produzida, sempre com visual arrojado<br />

e um <strong>de</strong>sign esteticamente ligado ao estilo surfe. A cada dois meses, 5 mil exemplares da<br />

Moment são distribuídos gratuitamente por toda a Gran<strong>de</strong> Vitória e Vila Velha, em lugares<br />

estratégicos.<br />

Segundo Hugo Verçoza, diretor e editor da publicação, a idéia surgiu <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong><br />

individual <strong>de</strong> escrever e divulgar o surfe local. “Em segundo lugar, queríamos valorizar o Estado <strong>de</strong><br />

alguma forma”, disse.<br />

Para a equipe, formada por cinco integrantes, o mercado capixaba peca pela falta <strong>de</strong> projetos<br />

editoriais <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e, por isso, a revista é bem recebida atualmente. Uma das<br />

dificulda<strong>de</strong>s apontadas por eles é a falta <strong>de</strong> experiência, mas, para Hugo, isso não impe<strong>de</strong> o sonho<br />

<strong>de</strong>, futuramente, expandir a Moment para o mercado nacional.<br />

Em papel Couché<br />

Falta <strong>de</strong> um <strong>jornalismo</strong> cultural <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> focado <strong>no</strong> jovem universitário - este foi o motivo<br />

que levou dois estudantes universitários <strong>de</strong> Comunicação Social a lançarem a revista Couché<br />

avec moi. Os i<strong>de</strong>alizadores e editores da revista, Rafael Colnago e Julia- na Dadalto, pretendiam


fazer um <strong>jornalismo</strong> diferente e tornar a publicação uma opção <strong>no</strong> mercado editorial capixaba para<br />

quem quisesse ler sobre a cultura que ultrapassa o âmbito <strong>de</strong> eventos – já muito explorado por aqui.<br />

“Era um interesse antigo trabalhar com mídia impressa e, principalmente, cultural. Tentamos usar<br />

a história criticamente, com opinião, para <strong>de</strong>scobrir formas <strong>de</strong> fazer um <strong>jornalismo</strong> cultural, para<br />

falar também <strong>de</strong> comportamento e <strong>de</strong> forma a interessar o púbico jovem. Julgamos que havia um<br />

mercado possível e estamos tentando”, afirmam.<br />

O primeiro número, lançado <strong>no</strong> dia 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2005, evi<strong>de</strong>ncia essa proposta <strong>no</strong> editorial<br />

assinado por Rafael:<br />

Dizer que alguma coisa era importada, antes <strong>de</strong> se tornar uma<br />

fala quase que sem sentido prático, já significou qualida<strong>de</strong>.<br />

Mais recentemente, uma lógica igualmente limitada <strong>de</strong> ter que<br />

gostar disso ou daquilo ‘porque é capixaba’ só serviu para<br />

ven<strong>de</strong>r alguns CDs e refrigerantes, antes <strong>de</strong> se tornar motivo<br />

<strong>de</strong> piada. Entre a cruz do congo e a espada da<br />

Quase, procuramos uma linguagem para falar <strong>de</strong><br />

produção cultural, que seja simplesmente honesta, criativa<br />

e interessante. Vamos ver <strong>no</strong> que vai dar!<br />

Com dois números publicados e um terceiro a caminho, a Couché tem uma tiragem <strong>de</strong> 2 mil<br />

exemplares em cada edição, distribuídos para 300 bancas da Gran<strong>de</strong> Vitória. Segundo Rafael,<br />

a primeira edição teve uma saída <strong>de</strong> 20% nas bancas: “Essa porcentagem é uma ótima faixa para<br />

revistas <strong>no</strong>s primeiros cinco <strong>a<strong>no</strong>s</strong>”.<br />

As principais dificulda<strong>de</strong>s, segundo os editores, são para firmar a marca Couché como revista<br />

cultural <strong>no</strong> mercado e, claro, para conseguir investimentos. Devido a isso, a revista está<br />

concorrendo na Lei Rubem Braga.<br />

Com um mercado consi<strong>de</strong>rado fechado e sem tradição <strong>de</strong> revistas locais, o <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong><br />

continua recebendo produções editoriais inventivas e direcionadas ao público jovem. Realizadas<br />

por uma <strong>no</strong>va geração interessada em superar a mentalida<strong>de</strong> provinciana <strong>de</strong> que é impossível<br />

produzir publicações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>no</strong> Estado, resta saber se essas revistas confirmarão uma<br />

tendência <strong>de</strong> sucesso ou ficarão na história do que po<strong>de</strong>ria ter sido.


Quase revista<br />

“O mercado editorial capixaba continua a mesma merda”. A afirmação partiu <strong>de</strong> Keka<br />

Bragança, como é conhecido um dos editores da revista Quase, quando questionado sobre a atual<br />

situação do mercado capixaba para revistas. Aliás, a frase espelha bem o estilo da Quase: uma<br />

publicação em quadrinhos, <strong>de</strong> humor ácido e sem meias palavras. Humor este bastante polêmico e<br />

consi<strong>de</strong>rado por alguns como “<strong>de</strong> gosto duvidoso”, especialmente por atacar tudo e todos, inclusive<br />

mi<strong>no</strong>rias protegidas pelo código social do politicamente correto. Segundo o próprio Keka, “a<br />

linha editorial básica é o humor em todas as suas manifestações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pastelão até o <strong>no</strong>n-sense e<br />

o escatológico. Nosso públicoalvo são jovens <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s, credos, raças e sexos”.<br />

Com um projeto editorial que inclui quadrinhos, textos, fotos, grafismos diversos, sempre com<br />

humor, a revista Quase foi criada pelos estudantes <strong>de</strong> Comunicação e Artes da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> Gabriel Labanca, Fábio Turbay, Klaus Bragança (Keka),<br />

Daniel Furlan e Julia<strong>no</strong> Enrico. Hoje, os cinco universitários são os editores e ainda contam com<br />

diferentes colaboradores e um <strong>de</strong>signer.


Segundo Keka, a idéia da Quase surgiu após uma Oficina <strong>de</strong> Animação, “já que todo mundo<br />

gostava <strong>de</strong> quadrinhos e putaria”.<br />

A idéia <strong>de</strong>u certo e o primeiro número (Quase n° 0) foi publicado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2002, em<br />

Vitória. Além das ameaças, físicas e <strong>de</strong> processo judicial, os editores apontam como<br />

maior dificulda<strong>de</strong>, mais uma vez, a questão financeira. Atualmente eles pagam a edição com<br />

anúncios, vendagem, e com a ajuda da Lei Rubem Braga. E parece que encaram bem os problemas.<br />

Afinal, além <strong>de</strong> ser vendida em bancas, livrarias e pontos-<strong>de</strong>-venda da Gran<strong>de</strong> Vitória, a Quase fez<br />

o que muitos consi<strong>de</strong>ram impossível para uma publicação local: agora também é vendida <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Sem parar por aí, os criadores da revista foram<br />

convidados a participar dos quadrinhos <strong>de</strong> humor “Aparece”, em Belo Horizonte, e do ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong><br />

“Gonzo”, encartado <strong>no</strong> jornal Diário do Povo, do Paraná.<br />

Quem espera o próximo mês para adquirir uma Quase, entretanto, po<strong>de</strong> se frustrar. Com oito<br />

edições <strong>no</strong> currículo, os meni<strong>no</strong>s publicam seu trabalho apenas quando conseguem o número <strong>de</strong><br />

anunciantes suficiente para não saírem <strong>no</strong> prejuízo.<br />

O tempo para isso po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> um número para outro, o que confere uma periodicida<strong>de</strong><br />

irregular para a publicação. “Precisamos <strong>de</strong> muita grana se quisermos levar a revista<br />

regularmente para as bancas”, ressalta Keka. Segundo Labanca, lucrar com esse trabalho ainda é<br />

uma possibilida<strong>de</strong> distante, ainda que, atualmente, a equipe não tire dinheiro do próprio bolso para<br />

fazer a Quase sair.<br />

Entre polêmicas, uma ou outra ameaça <strong>de</strong> processo e muito humor, a Quase segue adiante,<br />

apesar das dificulda<strong>de</strong>s que, a propósito, escrevem a trajetória <strong>de</strong> qualquer publicação que surja sem<br />

amparo financeiro. Dessa maneira, vai ganhando cada vez mais espaço entre o público jovem e já<br />

está mesmo “quase” entrando para a história das revistas que mais ven<strong>de</strong>ram <strong>no</strong> Estado.


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Bimestral<br />

Fonte: Superintendência Estadual <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

(Secom), 2005


Diante do presente estudo, po<strong>de</strong>mos fazer reflexões sobre a trajetória das revistas <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong><br />

<strong>Santo</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu nascimento até a atualida<strong>de</strong>. Se colocarmos lado a lado alguns periódicos<br />

literários do início do século XX – tais como a Revista Ilustrada, <strong>de</strong> 1910, e a Vitória Ilustrada,<br />

<strong>de</strong> 1914, e as publicações que encontramos hoje nas bancas, perceberemos algumas diferenças e<br />

semelhanças que valem ser consi<strong>de</strong>radas. Apesar da óbvia disparida<strong>de</strong> temporal do contexto<br />

histórico em que cada uma está inserida, observamos que elas, em sua maioria, foram produzidas<br />

para as elites capixabas ao longo <strong>de</strong> todo o percurso que as distancia. Quando falamos em elite,<br />

referimo-<strong>no</strong>s não apenas ao peque<strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> terras e fortuna ou, ainda, <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s negócios.<br />

Ao falarmos das classes privilegiadas do início do século passado, tocamos,<br />

conseqüentemente, <strong>no</strong>s grupos <strong>de</strong>tentores da produção cultural. Nessa perspectiva, os periódicos<br />

não-diários, mais especificamente, eram espaços propagadores dos interesses <strong>de</strong> seus “do<strong>no</strong>s”, logo,<br />

da cultura a que tinham acesso, como as obras literárias. Convenhamos que literatura nunca foi o<br />

forte das massas em <strong>no</strong>sso País e não seria diferente em <strong>no</strong>sso Estado, on<strong>de</strong> a história o <strong>de</strong>nuncia<br />

como <strong>de</strong>slocado do eixo <strong>de</strong> produção cultural.<br />

Muda a socieda<strong>de</strong>, mudam alguns interesses. Os <strong>a<strong>no</strong>s</strong> não mudaram, entretanto, a estrutura do<br />

mercado <strong>de</strong> revistas <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Com poucas e perecíveis variações relevantes (vale lembrar<br />

das publicações das décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980), esses periódicos continuam predominantemente<br />

voltados para as classes altas, contemplando apenas suas <strong>no</strong>vas “necessida<strong>de</strong>s”. Se antes tínhamos<br />

literatura nas páginas das revistas, agora temos moda, produtos caros, empreendimentos e célebres<br />

<strong>de</strong>sconhecidos ao restante da socieda<strong>de</strong>. As que buscaram fugir <strong>de</strong>ssa tendência infelizmente não<br />

persistiram muito tempo, e as que se propõem a fazer um trabalho diferenciado encontram<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobreviver em um mercado dominantemente elitizado.<br />

O aspecto segmentado <strong>de</strong>ssas publicações também vale ser lembrado. As revistas capixabas<br />

aten<strong>de</strong>m públicos distintos, mas sempre os mesmos. Temos publicações <strong>de</strong>stinadas a variados<br />

nichos, os quais foram surgindo conforme as exigências do mercado, mas todas voltadas para o<br />

mesmo segmento social – é importante lembrar que aqui falamos <strong>no</strong> que é predominante.<br />

São revistas sobre coluna social, para faixas etárias diferentes, para <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong>


profissional, sobre uma religião específica, para o público femini<strong>no</strong>, ou para quem pensa em viajar,<br />

mas todas possuem um público-mor: a alta socieda<strong>de</strong> capixaba.<br />

Dessa forma, temos, sim, uma segmentação temática (embora essas revistas acabem por<br />

perpetuar o mesmo tipo <strong>de</strong> informação, ou seja, aquela que perpassa, superficialmente, apenas o<br />

universo elitizado). Gran<strong>de</strong> parte das publicações, entretanto, ainda é para os grupos <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo, como <strong>no</strong>s velhos tempos “capichabas”.<br />

Referências bibliográficas<br />

BITTENCOURT, Gabriel. Historiografia capixaba & Imprensa <strong>no</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Vitória: Edit, 1998.<br />

Revista Agora. Vitória. Setembro, 1978.<br />

Revista do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. A<strong>no</strong> I. Nº 4. Vitória. Julho, 1984.<br />

Revista 80 A<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Vida Capichaba – edição comemorativa. 2ª edição. Vitória. Abril, 2003.<br />

Entrevistas<br />

Cláudia Luzes – Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> tráfego da editora Next Nouveau<br />

Erildo dos Anjos – Diretor <strong>de</strong> Revista do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> e <strong>de</strong> <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong> Agora<br />

Fernando Bourguig<strong>no</strong>n Pratti – Diretor geral <strong>de</strong> Trilhas Gabriel Labanca – Editor <strong>de</strong> Quase<br />

Hugo Verçoza – Diretor e editor <strong>de</strong> Moment<br />

Klaus Bragança (Keka) – Editor <strong>de</strong> Quase<br />

Leandro Matias – Comercial <strong>de</strong> Sport Session<br />

Leonardo Mansur – Diretor comercial <strong>de</strong> Welcome Card<br />

Rafael Colnago – Editor <strong>de</strong> Couché avec moi<br />

Terriely Leal – Jornalista e editora <strong>de</strong> Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s Especiais <strong>de</strong> Class<br />

Tiago Feliz Martins – Diretor comercial <strong>de</strong> Hype<br />

Xerxes Gusmão Neto – Diretor-editor <strong>de</strong> ESSA


Jornalismo: questões em aberto<br />

Ruth Reis<br />

Professora do Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Espírito</strong> <strong>Santo</strong>. Doutora em<br />

Comunicação e Cultura pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro<br />

Confiada a um sistema <strong>de</strong> mediação institucionalizado e ritualizado que se convencio<strong>no</strong>u<br />

chamar <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong>, a tarefa <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r a narrativa do presente ainda vem sendo <strong>de</strong>senvolvida<br />

nas condições que se colocaram na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, sustentadas por meio <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso esquema<br />

tec<strong>no</strong>lógico e lógico que <strong>de</strong>vagar começa a <strong>de</strong>monstrar sinais <strong>de</strong> cansaço. É <strong>no</strong> ciberespaço que se<br />

tornam visíveis os primeiros ace<strong>no</strong>s do que po<strong>de</strong> vir a ser, num futuro bastante próximo, o processo<br />

<strong>de</strong> constituição <strong>de</strong>stas narrativas. Na socieda<strong>de</strong> ruidosa da hiperinformação e da recusa ao silêncio,<br />

o burburinho produzido pelas múltiplas mídias e enunciadores se torna ainda mais acentuado e<br />

disperso.<br />

A informação encontra-se disponível e acessível. Não parece ser mais necessário que se<br />

constitua uma força especializada em arrancar as falas do silêncio e do segredo. Hoje as mais<br />

diversas instituições da socieda<strong>de</strong> e os indivíduos isoladamente servem-se da divulgação <strong>de</strong> suas<br />

informações como meio <strong>de</strong> existir socialmente.<br />

Abrem clareiras <strong>no</strong> seu corpo existencial para favorecer a permeabilida<strong>de</strong> em relação ao meio<br />

em que se encontram.<br />

O discurso geral é o da transparência e da hiper-exposição. É certo que há o que se coloca fora<br />

<strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>, um certo tipo <strong>de</strong> informação, cuja reclusão é pactuada cordialmente ou<br />

protegida pela força (po<strong>de</strong>m ser incluídos neste cenário certos saberes, como os segredos<br />

industriais, protegidos por legislações a<strong>de</strong>quadas à sua preservação como mercadoria <strong>de</strong> alto valor,<br />

as táticas e estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do Estado e alguns domínios da esfera íntima). Exceto <strong>no</strong>s regimes<br />

políticos ditatoriais, quando a reclusão da informação é <strong>de</strong>liberada, os cones <strong>de</strong> sombra e <strong>de</strong>


luz sobre o conjunto da produção simbólica obe<strong>de</strong>cem aos paradigmas que dão origem à<br />

legitimida<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s narrativas.<br />

Neste ponto, a contemporaneida<strong>de</strong> é obscena e utiliza diversas formas <strong>de</strong> expressão e suportes<br />

para colocar em cena o que lhe é <strong>de</strong> direito. O <strong>jornalismo</strong>, visto como uma <strong>de</strong>stas expressões, modo<br />

<strong>de</strong> narrar o presente, é um recurso dos mais significativos <strong>de</strong>ste empenho. As formas da <strong>no</strong>tícia e da<br />

reportagem em suas textualida<strong>de</strong> específica, o suporte impresso ou eletrônico e seus recursos<br />

visuais repetem <strong>no</strong> âmbito das instituições da socieda<strong>de</strong> (empresas, igrejas, organizações não<br />

governamentais (ongs), sindicatos ou associações civis) aquilo que se dá <strong>no</strong> espaço global <strong>de</strong><br />

comunicação.<br />

Nos últimos 30 <strong>a<strong>no</strong>s</strong>, iniciativas <strong>de</strong>stinadas a produzir um ambiente mais propício para a<br />

informação foram tomadas por uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segmentos e constituem hoje uma ampla re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> micro-mídias. A competência <strong>de</strong> recortar e selecionar o que se julga por bem informar, segundo<br />

critérios <strong>de</strong> discursivida<strong>de</strong> instituído e reconhecido pelo <strong>jornalismo</strong> contemporâneo, <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> constituir privilégio dos gran<strong>de</strong>s jornais e mídias. Produzir jor- nais e boletins diversos e<br />

instrumentalizar-se para interagir com a chamada gran<strong>de</strong> imprensa passou a ser investimento<br />

obrigatório <strong>de</strong>stas instituições. A conseqüência disto foi uma revoada dos profissionais <strong>de</strong><br />

<strong>jornalismo</strong> para junto dos produtores <strong>de</strong> informação - fontes, como são <strong>de</strong>signados pelos jornalistas.<br />

O advento da internet só fez acentuar tal tendência, com reflexos ainda mais contun<strong>de</strong>ntes para<br />

o conjunto da produção da informação. No ambiente do ciberespaço, a fonte se habilitou a<br />

transformar-se ela mesma em mídia, erguendo um sistema <strong>de</strong> mediação próprio, camaleonicamente<br />

inspirado <strong>no</strong> modo enunciativo das mídias convencionais e firmemente ancorado <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong>.<br />

A mídia tradicional como um todo alcançou a condição <strong>de</strong> perlocutora num ambiente em que a<br />

autorização <strong>de</strong> fala foi se constituindo lastreada numa macronarrativa que se refere à verda<strong>de</strong>, à<br />

<strong>de</strong>fesa do interesse público e à <strong>de</strong>fesa do direito <strong>de</strong> opinião e informação. O <strong>jornalismo</strong>, em<br />

particular, cuidou <strong>de</strong> elaborar uma intrincada narrativa, recheada <strong>de</strong> argumentos sedutores que<br />

lhe <strong>de</strong>ram a prerrogativa <strong>de</strong> constituir-se em linguagem preferencial para arrolar temas <strong>de</strong> interesse<br />

público.<br />

Se <strong>no</strong> seu conjunto a mídia se apropria <strong>de</strong> tal autorização, <strong>no</strong> interior do seu campo <strong>de</strong> atuação<br />

há uma acirrada disputa entre as organizações que se <strong>de</strong>dicam a explorar as qualida<strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>res do


<strong>jornalismo</strong>. A disputa pela legitimida<strong>de</strong> da enunciação que, na cultura oci<strong>de</strong>ntal, se inscreve num<br />

pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo estampado pelos paradigmas do liberalismo e da livre iniciativa, é travada<br />

em campos <strong>de</strong> batalha diferentes - por li<strong>de</strong>rança em audiência, em vendas, em faturamento - e com<br />

armas diversas, que variam <strong>de</strong> acordo com a conjuntura.<br />

Uma <strong>de</strong>stas armas centrais, o produto em si - jornal, programa <strong>de</strong> tv ou <strong>de</strong> rádio - é lapidado<br />

para obter o maior retor<strong>no</strong>. A ele se incorporam atrativos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as i<strong>no</strong>vações<br />

tec<strong>no</strong>lógicas para a sua produção (jornais coloridos, mais fáceis <strong>de</strong> manusear, papel <strong>de</strong> melhor<br />

qualida<strong>de</strong>, melhor qualida<strong>de</strong> nas transmissões <strong>de</strong> imagem e som) à incorporação <strong>de</strong> iscas que atraem<br />

o consumidor (<strong>no</strong>vas seções ao gosto do público, brin<strong>de</strong>s, prêmios, concursos, etc). Sabe-se hoje,<br />

além disso, que, ao produto, incrusta-se o que é cultivado lateralmente pelo produtor, como ser bom<br />

com a natureza e com a socieda<strong>de</strong>, ser aberto, gentil, cortês, aten<strong>de</strong>r bem ao consumidor/cliente,<br />

dispor <strong>de</strong> uma boa se<strong>de</strong>, uma tradição, uma proposta para o futuro.<br />

Tática chave <strong>no</strong> negócio das mídias tradicionais (imprensa, rádio e tv) é criar as condições<br />

para que o produto seja recebido <strong>de</strong> forma abrangente e eficaz, o que implica em dispor dos<br />

meios para melhor circulação/veiculação do produto, tarefa que compreen<strong>de</strong> a instituição <strong>de</strong> uma<br />

malha física <strong>de</strong> distribuição e/ou <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> dados, para as quais se requer vultosos<br />

investimentos.<br />

Estes elementos são índices qualitativos que concorrem para os julgamentos que o público faz<br />

<strong>no</strong> momento da escolha por um jornal (enunciador) e não outro. A maioria <strong>de</strong>stes<br />

valores, entretanto, se dissolve ao tomar contato com o mundo da ciberinformação, on<strong>de</strong> os<br />

produtos e condições <strong>de</strong> circulação são semelhantes para todos os participantes. O percurso para se<br />

tornar um enunciador <strong>no</strong> mundo do ciberespaço é mais breve e muito me<strong>no</strong>s oneroso, o que torna<br />

cada indivíduo ou instituição um produtor/distribuidor <strong>de</strong> informação em potencial, capaz<br />

<strong>de</strong> competir em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com as <strong>de</strong>mais que já <strong>de</strong>sfrutam da tradição e aceitação.<br />

Esta configuração permite que o navegador/usuário da internet acesse a informação diretamente da<br />

fonte ou, se preferir, a partir do seu mediador tradicional (jornal).<br />

Não há diferenciais profundos em relação à qualida<strong>de</strong> da informação neste universo.<br />

Da mesma forma que a mídia tradicional conseguiu granjear a autorização para atuar na<br />

produção das narrativas contemporâneas, transformando-se em sistema perlocutor, o ciberespaço


é o her<strong>de</strong>iro natural <strong>de</strong>ste legado e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já goza do privilégio <strong>de</strong> ser tomado como lugar <strong>de</strong> uma<br />

universalida<strong>de</strong> generosa, on<strong>de</strong> tudo é doado <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sinteressada e todos po<strong>de</strong>m habitar<br />

em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições. Esta é a síntese que se po<strong>de</strong> extrair das análises dos entusiastas do<br />

ciberespaço, que o é<strong>de</strong>n da <strong>de</strong>mocracia informativa, on<strong>de</strong> tudo se harmoniza pela força<br />

re<strong>no</strong>vadora <strong>de</strong> uma ampla interação entre usuários, movidos pela gratuida<strong>de</strong> e pela pureza <strong>de</strong> uma<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar junto, a uma distância que é anulada pelo sistema maquínico da comunicação.<br />

Tal crença subsiste mesmo quando se sabe que este paraíso tec<strong>no</strong>lógico também é povoado por<br />

falsas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e por ações que agri<strong>de</strong>m a moral e a ética do sistema sócio-cultural que o abriga,<br />

como o seu uso para as perversões sexuais, os ciber-roubos, ou ainda a pirataria <strong>de</strong> entes<br />

cibernéticos que inviabilizam a própria existência do sistema, como os vírus.<br />

Atentas para este <strong>no</strong>vo ambiente/suporte <strong>de</strong> tráfego da informação, as mídias tradicionais, em<br />

especial o <strong>jornalismo</strong>, não <strong>de</strong>moraram muito em transitar para ele com malas e bagagens.<br />

Seus primeiros habitantes, contudo, eram os aventureiros da pósmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>lógica, que<br />

acreditaram estar chegando a um universo paradisíaco, on<strong>de</strong> não haveria ricos e pobres, on<strong>de</strong><br />

as distâncias seriam vencidas pelo impulso dos bits em trânsito livre a gratuito pelo <strong>no</strong>vo mundo e<br />

as diferenças seriam obliteradas pela facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o meio.<br />

Nos primórdios do ciberespaço, quando as interfaces ainda não eram as mais amigáveis e o<br />

mar era bravio, apenas os que dispunham <strong>de</strong> conhecimento especializado se aventuravam a<br />

navegar através das telas <strong>de</strong> fósforo ver<strong>de</strong>. Como Moisés, a tec<strong>no</strong>logia abriu uma e<strong>no</strong>rme clareira<br />

que permitiu a transposição daquele gran<strong>de</strong> obstáculo que restringia o uso do <strong>no</strong>vo ambiente.<br />

A criação <strong>de</strong> uma linguagem fácil <strong>de</strong> ser assimilada e manuseada permitiu uma ampliação<br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>no</strong> acesso à internet.<br />

As mídias tradicionais levaram consigo todo o arsenal <strong>de</strong> legitimação e autorização que<br />

haviam amagariado <strong>no</strong> mundo da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e fizeram da sua re<strong>de</strong> física <strong>de</strong> garimpagem da<br />

informação um po<strong>de</strong>roso diferencial em relação aos <strong>de</strong>mais habitantes.<br />

O que num primeiro momento constituiu em sub-produto jornalístico que ampliaria o potencial<br />

<strong>de</strong> lucrativida<strong>de</strong> do produto já existente, hoje praticamente se transforma em produto principal, <strong>de</strong><br />

modo que os jornais impressos, os programas <strong>de</strong> tv e rádio é que passam para a condição <strong>de</strong> sub-<br />

produtos para um <strong>de</strong>terminado público, que consome com voracida<strong>de</strong> a informação em tempo real.


Este <strong>no</strong>vo ambiente impõe também <strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> busca da informação e <strong>de</strong> construção das<br />

narrativas, ao mesmo tempo em que lança a mídia tradicional num universo <strong>de</strong> informação muito<br />

mais amplo e diversificado, sujeita a <strong>no</strong>vos modos <strong>de</strong> reconhecimento do seu po<strong>de</strong>r.<br />

Não são poucas as instituições jornalísticas que reagiram ao se virem privadas da primazia <strong>de</strong><br />

serem as primeiras a receber e selecionar as informações e as entregar ao público. Diante<br />

da possibilida<strong>de</strong> que se abriu para um número e<strong>no</strong>rme <strong>de</strong> instituições - que não têm a informação<br />

como produto principal, como po<strong>de</strong>r público, empresas privadas dos mais diversos<br />

segmentos, sindicatos e organizações civis - <strong>de</strong> elas próprias criarem políticas <strong>de</strong> comunicação e<br />

exporem seus resultados e opiniões ao consumo público, multiplicou-se a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtores<br />

<strong>de</strong> informações que, hoje, pilotam portais importantes, algumas em concorrência direta com a mídia<br />

tradicional.<br />

A <strong>no</strong>va técnica <strong>de</strong> produção e circulação da informação permitiu acesso fácil à informação.<br />

Neste ambiente, embaralham-se os sig<strong>no</strong>s distintivos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e confiança, expressos através<br />

do produto, da relação <strong>de</strong> permanência e regularida<strong>de</strong> enunciativa e das políticas institucionais<br />

<strong>de</strong>stinadas a cultivar a preferência do público, materializada <strong>de</strong> diversas formas - campanhas<br />

publicitárias, sistemas <strong>de</strong> atendimento ao consumidor, relações diversas com a comunida<strong>de</strong>, entre<br />

outras.<br />

Para o consumidor da informação, neste ambiente não é fácil distinguir entre uma instituição A<br />

ou B aquela que tem maior ou me<strong>no</strong>r credibilida<strong>de</strong>, que tem maior ou me<strong>no</strong>r po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> lidar com a<br />

informação. Neste ambiente, em que CBS ou a CNN ocupam o mesmo espaço e apresentam as<br />

mesmas características narrativas (visuais ou lingüísticas) da CUT, <strong>de</strong> uma ong, sindicato ou<br />

página pessoal, per<strong>de</strong>m-se os links tradicionais que conduziam aos valores tenazmente perseguidos<br />

pelas mídias tradicionais, como o compromisso com o interesse público e com a verda<strong>de</strong>. Em<br />

seu lugar, outros precisam ser construídos e esta construção não se dá mais nas mesmas bases que<br />

<strong>no</strong>rtearam o estabelecimento <strong>de</strong> laços naquele primeiro momento da mídia.<br />

As empresas <strong>de</strong> mídia que têm o <strong>jornalismo</strong> como produto e as <strong>de</strong>mais, que o têm como<br />

instrumento <strong>de</strong> estar em público, disputam, neste ambiente, a primazia <strong>de</strong> construir e colocar<br />

em circulação a informação. Este cenário cria uma forma <strong>no</strong>va <strong>de</strong> lidar com a informação, que,<br />

muitas vezes, prescin<strong>de</strong> a mediação convencional feita pela imprensa, permitindo ao usuário


garimpar, selecionar e, também, produzir e fazer circular a informação por meio <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong><br />

seleção, captura e difusão que estão sempre à mão <strong>de</strong> forma cada vez me<strong>no</strong>s complicada.<br />

Este modo <strong>de</strong> estar <strong>no</strong> mundo e instituí-lo por meio da informação ainda po<strong>de</strong> ser associado à<br />

po<strong>de</strong>rosa narrativa da ilustração - a emancipação e a auto<strong>de</strong>terminação -, mas as formas <strong>de</strong> operá-lo<br />

se processam num ambiente em que a máquina toma um lugar <strong>de</strong> maior prevalência e maior<br />

abrangência e prescin<strong>de</strong> dos meios convencionais <strong>de</strong> selecionar e organizar a informação.<br />

Este processo se dá por métodos mais fugazes e me<strong>no</strong>s duradou- ros, que po<strong>de</strong>m conduzir a<br />

diferentes resultados e proporcionar surpresas a cada momento - os sites <strong>de</strong> busca são ferramentas<br />

que substituem em muitos casos o papel que já foi <strong>de</strong> instituições montadas para orientar a obtenção<br />

da informação. Uma palavra chave, ou um grupo <strong>de</strong> palavras produzem, a cada momento, uma<br />

visita a um gran<strong>de</strong> banco <strong>de</strong> dados que oferece inúmeras e diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respostas. A<br />

mágica po<strong>de</strong> ser executada em uma fração <strong>de</strong> segundos e, na maioria dos casos, oferece resposta a<br />

qualquer indagação. A velocida<strong>de</strong> é atrativo po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong>ste ambiente, cuja intensida<strong>de</strong> só cresce ao<br />

longo da experiência do homem. A eficácia é outra qualida<strong>de</strong> que ganha <strong>de</strong>staque na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Neste ambiente, marca-se uma <strong>no</strong>va temporalida<strong>de</strong>, que já foi registrada como suficiente pelo<br />

giro do sol (natureza), pelo badalar do si<strong>no</strong> da igreja (cultura transcen<strong>de</strong>nte) e pelo giro<br />

homogêneo do relógio (cultura imanente). O presente fixa-se na promessa <strong>de</strong> cada <strong>no</strong>va emissão <strong>no</strong><br />

mundo da informação, lugar on<strong>de</strong> o tempo caminha veloz e o <strong>no</strong>vo (news) <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> emparelhar-se<br />

com o ritmo da natureza. As <strong>no</strong>tícias que chegam <strong>no</strong> jornal matinal já são velhas perante a marcha<br />

ininterrupta do tempo ciberespacial. O ritmo das contrações que marcam a repetição se per<strong>de</strong> numa<br />

contração única e permanente na qual anuvia-se a <strong>no</strong>ssa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber tal movimento<br />

como repetição <strong>de</strong> contrações diferentes.<br />

Se tic-tac metaforiza uma série temporal que dá ritmo mecânico, ca<strong>de</strong>nciado e homogêneo ao<br />

tempo da cultura oci<strong>de</strong>ntal, o tempo da informação do ciberespaço é apenas tic ou tac infinito.<br />

Presente infinito, sem cadência e sem diferença.<br />

Marca também uma <strong>no</strong>va forma <strong>de</strong> pensar a comunicação, seus processos e seus instrumentos.<br />

Não mais po<strong>de</strong>mos tomar a fórmula simplória da bola <strong>de</strong> bilhar, em que um emissor <strong>de</strong>stinava<br />

a informação para um receptor e este a recebia tal qual era emitida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não encontrasse


entraves pelo caminho. Também não resistem muito os métodos que divi<strong>de</strong>m o mundo em<br />

poucos “emissores” e muitos “receptores”, <strong>de</strong> modo que estes são induzidos a uma homogeneida<strong>de</strong><br />

e uma massificação incomum. Da mesma forma, ficam comprometidas as soluções teóricas que<br />

encontram nas mediações <strong>de</strong> uma cultura particular os balizamentos para a construção <strong>de</strong> um saber-<br />

receber: receber e produzir informação <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser especialida<strong>de</strong>s distribuídas<br />

socialmente, tornando possível prever se não uma indiferenciação cultural, pelo me<strong>no</strong>s uma <strong>no</strong>va<br />

formatação das particularida<strong>de</strong>s, tornadas mais fluidas e precárias, mais flexíveis e com maior<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação, enlaçadas em valores me<strong>no</strong>s duradouros e me<strong>no</strong>s espacializados.<br />

No lugar do indiferenciado, como reconhecer a verda<strong>de</strong>?<br />

Como estabelecer laços <strong>de</strong> confiança? Como aferir a verda<strong>de</strong> da informação? As mídias, em<br />

especial o <strong>jornalismo</strong>, construíram um regime <strong>de</strong> veridicção baseado numa equação que tinha<br />

como fundamento a emancipação e a auto<strong>de</strong>terminação do homem, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinião e<br />

informação, a segmentação <strong>de</strong> competências e o discurso científico da técnica. A verda<strong>de</strong> factual,<br />

impossível <strong>de</strong> ser testada, é apenas atestada por um sistema que se reveste <strong>de</strong> fé pública, mediante<br />

um jogo que mistura mercadoria, cidadania, informação, espetáculo. Num ambiente em que os<br />

sig<strong>no</strong>s que sustentam esta relação <strong>de</strong> confiança se tornam nebulosos, como criar <strong>no</strong>vos critérios <strong>de</strong><br />

confiabilida<strong>de</strong>?<br />

Do que se trata quando está em cena a confiança e como se estabelecem as tramas que dão<br />

suporte a este sentimento tão fundamental para a vida em comum? Confiar é um ato realizado<br />

numa relação com outro. Po<strong>de</strong> ser entendido como uma doação ao outro <strong>de</strong> algo que está por vir,<br />

algo que se mantêm em suspensão permanente sustentado por regras pactuadas mutuamente. O<br />

<strong>jornalismo</strong> recebe a competência <strong>de</strong> narrar fatos segundo regras tais como a relevância, a a<strong>de</strong>quação<br />

com o real e a neutralida<strong>de</strong>. O <strong>jornalismo</strong> traduz estes princípios em regras <strong>de</strong> discursivida<strong>de</strong><br />

próprias, que também recebem a concordância do outro. A confiança é fator fundamental para que<br />

sistemas extremamente caóticos consigam construir um fio <strong>de</strong> equilíbrio e, <strong>de</strong>sta forma, funcionar.<br />

Como sistema que tem na configuração do caos muito dos seus paradigmas, o ciberespaço<br />

credita à confiança muito do seu sucesso.<br />

Uma das <strong>no</strong>rmas silenciosas que se aninha neste pacto <strong>de</strong> confiança recita que a verda<strong>de</strong> é uma<br />

das regras para os que habitam este espaço <strong>de</strong> interação, comunicação e exibição. Tal requisito se


aplica a todos os integrantes do sistema, mas as formas <strong>de</strong> aferição da veridicção po<strong>de</strong>m variar<br />

<strong>de</strong>ntro do sistema, <strong>de</strong> acordo com os laços que se estabelecem para cada uma das<br />

narrativas adotadas e para diferentes estatutos do narrador.<br />

É possível supor que o regime <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> da ciberinformação se coloca <strong>de</strong> forma diferente do<br />

que nas outras mídias. A crescente universalização do uso do ciberepaço po<strong>de</strong> ser tomada como um<br />

indicador <strong>de</strong> sua confiabilida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um dos seus<br />

participantes (portais, sites, blogs, fotologs). Por conseqüência, po<strong>de</strong>-se concluir que informação<br />

verda<strong>de</strong>ira é aquela que está lá exposta, pois assim se dá sem que se tenha exigido sua manifestação<br />

(alethea?). É apenas exibida e isso é suficiente para sua confiabilida<strong>de</strong>. O valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> passa,<br />

então, a ser atribuído à gratuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua exposição e à vonta<strong>de</strong> do emissor em partilhar daquele<br />

espaço <strong>de</strong> uso coletivo, gerador <strong>de</strong> vínculos sociais, diferentemente do que ocorre <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong>,<br />

<strong>no</strong> qual verda<strong>de</strong> é aquela que é atestada por um terceiro (o narrador jornalístico) especialmente<br />

<strong>de</strong>signado para fazê-la emergir.<br />

Entretanto, muito do que é <strong>de</strong>scrito <strong>no</strong> <strong>jornalismo</strong> como verda<strong>de</strong> dos fatos <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma<br />

narrativa a respeito dos acontecimentos, baseada em outras falas e não exatamente na<br />

observação direta e imediata dos fatos (não se trata apenas do que é <strong>de</strong>preciativamente chamado <strong>de</strong><br />

<strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong>claratório, mas <strong>de</strong> uma contingência natural da produção jornalística). Dificilmente, o<br />

<strong>jornalismo</strong> consegue, sem a mediação <strong>de</strong>stas falas, dar a co- nhecer fatos consi<strong>de</strong>rados relevantes,<br />

pois sua ação é produzida após os acontecimentos, embora se mostre como simultânea aos fatos,<br />

criando assim a ilusão da observação direta e isenta. Ressalve- se, contudo, o esforço (tec<strong>no</strong>lógico e<br />

institucional) que hoje se faz para possibilitar a simultaneida<strong>de</strong> entre fato e observação.<br />

No campo tec<strong>no</strong>lógico, <strong>de</strong>senvolvem-se instrumentos que facilitam o trabalho <strong>de</strong> captura e<br />

veiculação imediata da informação.<br />

No campo institucional, criam-se mecanismos para manter a imprensa sempre próxima<br />

acompanhando e divulgando os fatos em “tempo real”. Em muitos casos, eles são produzidos e<br />

protagonizados segundo as <strong>no</strong>rmas da narrativa jornalística.<br />

Levada ao ciberespaço, a característica do <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> construir seu relato sobre outros<br />

relatos, coloca em risco a verda<strong>de</strong> jornalística, seu principal trunfo e razão <strong>de</strong> sua supremacia,<br />

uma vez que nele é possível encontrar, muitas vezes convivendo lado a lado, a narração feita pelas


instituições jornalísticas e outras produzidas pelos inúmeros atores envolvidos na produção da<br />

informação.<br />

É um cenário <strong>no</strong> qual o <strong>jornalismo</strong> ten<strong>de</strong> a mudar seus métodos <strong>de</strong> atuação ou, talvez, <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> ser tão necessário, uma vez que a informação não mais se omite, mas se expõe na cena do <strong>no</strong>sso<br />

cotidia<strong>no</strong> que se <strong>de</strong>senrola nas telas <strong>de</strong> cristal líquido.<br />

Referências Bibliográficas<br />

AMARAL, Marcio Tavares d’. O Homem sem Fundamentos, sobre linguagem, sujeito e<br />

tempo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora UFRJ-Tempo Brasileiro, 1995.<br />

AUSTIN, John Lagshaw. Quando dizer é fazer. Palavras e Ação. Porto Alegre:<br />

Artes Médicas, 1990.<br />

DEBRAY,Régis. Manifestos Midiológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.<br />

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1988.<br />

LEVY, Pierre. O que é o virtual?. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora 34, 1996.<br />

RODRIGUES, Adria<strong>no</strong> Duarte. Estratégias <strong>de</strong> Comunicação. Lisboa: Presença, 1990.<br />

SFEZ, Lucien. A Crítica da Comunicação. São Paulo: Loyola, 1994.<br />

VIRILO, Paul. Velocida<strong>de</strong> e Política. São Paulo: Estação Liberda<strong>de</strong>, 1996.


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