Cinema - Fonoteca Municipal de Lisboa
Cinema - Fonoteca Municipal de Lisboa
Cinema - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Os Beach<br />
House<br />
prometem<br />
tocar “Teen<br />
Dream”<br />
em meta<strong>de</strong><br />
do concerto<br />
Wild Beasts Estes rapazes fizeram-se<br />
Como é que um grupo <strong>de</strong> rapazes da província, altivos, se transformou numa das<br />
bandas mais entusiasmantes da actualida<strong>de</strong>? É tudo uma questão <strong>de</strong> proporção, afi rma<br />
Tom Fleming. Vítor Belanciano<br />
Wild Beasts <strong>Cinema</strong> São<br />
Jorge - Sala 1. Hoje, às 21h30<br />
Confessem, sim, vocês,<br />
“alternativos”, melómanos<br />
“indie”, gente <strong>de</strong> gosto<br />
imaculado: os ingleses Wild<br />
Beasts têm qualquer coisa <strong>de</strong><br />
irritante. Se não se manifestam,<br />
fazemo-lo nós: o álbum <strong>de</strong><br />
estreia, “Limbo, Panto”, editado<br />
o ano passado, não era medíocre,<br />
mas irritante. Possuía aquele<br />
tipo <strong>de</strong> barroquismo que tanto<br />
serve para os Radiohead<br />
fazerem canções seminais,<br />
como abrir-nos a boca <strong>de</strong> bocejo.<br />
Depois havia as entrevistas:<br />
referências à poesia <strong>de</strong> Rimbaud<br />
ou a teorias freudianas sem que<br />
se percebesse bem porquê.<br />
Mas o mais grave era a voz<br />
<strong>de</strong> Hay<strong>de</strong>n Thorpe, espécie <strong>de</strong><br />
Farinelli via Billy Mackenzie<br />
dos Associates, que tanto<br />
fascinava, como enfastiava.<br />
O que é interessante é os<br />
Wild Beasts terem consciência<br />
disso. “Somos da província<br />
[Kendal], viemos <strong>de</strong> um meio<br />
adverso, nesse primeiro disco<br />
<strong>de</strong>fendíamo-nos, queríamos<br />
afi rmar a nossa voz e talvez<br />
tivesse existido algum excesso”,<br />
confessa o baixista e cantor Tom<br />
Fleming. E a seguir, reforça.<br />
“Na nossa zona toda a gente<br />
expressa a zanga e a raiva<br />
assistindo a concertos <strong>de</strong> heavymetal.<br />
Ser verda<strong>de</strong>iramente<br />
provocador é, perante uma<br />
assistência <strong>de</strong> trabalhadores,<br />
ter um cantor <strong>de</strong> voz frágil e<br />
música luxuriante. Hay<strong>de</strong>n<br />
sempre cantou assim, já nem<br />
damos por isso, mas há pessoas<br />
que estranham.”<br />
O segundo álbum, “Two<br />
Dancers”, sem constituir uma<br />
ruptura, é diferente. Contém<br />
o grau sufi ciente <strong>de</strong> diferença<br />
para ultrapassar a linha ténue<br />
que separa a irritação da<br />
aprovação sem reservas. “É<br />
uma questão <strong>de</strong> proporção”,<br />
ri-se Tom. “As canções são mais<br />
focadas. No primeiro álbum<br />
havia muitas i<strong>de</strong>ias, o que é bom,<br />
mas também po<strong>de</strong> resultar em<br />
dispersão. Neste focamo-nos<br />
mais na essência <strong>de</strong> cada uma<br />
das canções.”<br />
O sonho e a realida<strong>de</strong><br />
Algo aconteceu, na verda<strong>de</strong>.<br />
Vocalmente, estão mais<br />
diversos. Andrew está<br />
menos teatral e agora é<br />
contrabalançado pelas<br />
vocalizações graves <strong>de</strong> Tom.<br />
Sonicamente, as canções são<br />
mais fl uidas e organizadas.<br />
“Apren<strong>de</strong>mos imenso no<br />
estúdio com o primeiro álbum.<br />
Pensávamos que éramos<br />
melhor banda, na forma<br />
como tocávamos juntos, do<br />
que éramos realmente”, diz.<br />
“Cuidávamos imenso dos<br />
pormenores <strong>de</strong> estúdio e este<br />
foi feito <strong>de</strong> maneira mais<br />
espontânea. Tocávamos três ou<br />
quatro vezes a mesma canção<br />
em estúdio, todos juntos, e<br />
<strong>de</strong>pois escolhíamos a versão que<br />
nos satisfazia. É um disco que<br />
nos aproxima mais daquilo que<br />
somos.”<br />
Ao lado <strong>de</strong> “xx” dos The xx<br />
ou <strong>de</strong> “Primary Colours” dos<br />
The Horrors – dois grupos com<br />
quem já andaram em digressão<br />
– é o tipo <strong>de</strong> álbum criativo que<br />
comprova que, fi nalmente, há<br />
em Inglaterra bandas capazes<br />
<strong>de</strong> fazerem frente ao domínio<br />
ianque dos últimos anos.<br />
“O clima criativo, em<br />
Inglaterra, mudou muito no<br />
último ano”, reconhece Tom. “Há<br />
um ano a rádio era dominada<br />
por bandas francamente<br />
chatas. No último ano as coisas<br />
modifi carem-se. Talvez tenha a<br />
ver com a recessão. As pessoas<br />
têm pouco dinheiro e não o<br />
gastam em porcaria.”<br />
Por falar nos EUA, algumas<br />
das reacções mais entusiastas<br />
ao novo disco têm surgido dali.<br />
“No próximo ano vamos fazer<br />
uma longa digressão pelos EUA,<br />
estou muito ansioso”. Por agora,<br />
a Europa. Quando falámos com<br />
ele estava em Berlim – “a minha<br />
cida<strong>de</strong> favorita da Europa” – e<br />
hoje é a vez <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>. “O disco<br />
tem uma sonorida<strong>de</strong> calorosa<br />
que, <strong>de</strong> alguma forma, se per<strong>de</strong><br />
ao vivo. Mas as pessoas aí<br />
po<strong>de</strong>m esperar ritmo, guitarras,<br />
uma energia saudável”, atira.<br />
Ao longo do último ano, os<br />
rapazes da província correram<br />
mundo. Uma fi cção tornada<br />
verda<strong>de</strong>. Pelo menos em teoria.<br />
“Crescemos imenso, claro,<br />
enquanto músicos e como<br />
pessoas” – e excita-se com a<br />
<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> algumas cida<strong>de</strong>s<br />
que conheceu, para logo <strong>de</strong><br />
seguida refrear o entusiasmo.<br />
“Andar em digressão é bom,<br />
mas também é estranho. É ir aos<br />
sítios com que sempre se sonhou<br />
e não ter tempo para ver nada.<br />
É um sonho tornado realida<strong>de</strong>,<br />
mas nunca há tempo para a<br />
realida<strong>de</strong>.”<br />
As canções do novo disco<br />
acabaram por ser compostas<br />
entre viagens. Po<strong>de</strong>r-se-ia<br />
pensar que as letras<br />
seriam diferentes. ntes.<br />
Mas não. Tal<br />
como já<br />
acontecia<br />
no primeiro<br />
álbum, as canções ções<br />
têm uma carga a<br />
erótica sombria ia<br />
e Rimbaud volta lta a<br />
ser citado. “Hay<strong>de</strong>n ay<strong>de</strong>n gosta<br />
muito <strong>de</strong> escritores tores<br />
contemporâneos eos<br />
como Ian McEwan, wan,<br />
mas é verda<strong>de</strong> e que todos temos<br />
uma fi xação em m Rimbaud.<br />
Na sua poesia existe uma<br />
vulnerabilida<strong>de</strong>, mistura <strong>de</strong><br />
confusão e <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z profunda,<br />
que nos aproxima <strong>de</strong>le. É<br />
natural, na adolescência, essa<br />
energia em bruto, direccionada,<br />
<strong>de</strong> forma confusa, para todas as<br />
direcções.”<br />
E a seguir, conclui: “A nossa<br />
música é sensual, mas <strong>de</strong> forma<br />
directa. Em parte, talvez seja<br />
por isso, que ninguém lhe é<br />
indiferente e ainda irritamos<br />
tanta gente.”<br />
Ver crítica <strong>de</strong> discos págs. 48 e segs.<br />
“A nossa música é sensual, mas <strong>de</strong> forma directa.<br />
Em parte, talvez seja por isso, que ninguém lhe é indiferente<br />
e ainda irritamos tanta gente” Tom Fleming<br />
“Two<br />
Dancers”,<br />
sem constituir<br />
uma ruptura<br />
em relação<br />
ao disco<br />
anterior,<br />
contém o grau<br />
sufi ciente<br />
<strong>de</strong> diferença<br />
para<br />
ultrapassar<br />
a linha que<br />
separa<br />
a irritação<br />
da aprovação<br />
sem reservas