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O Teorema de Stokes em Variedades - Fernando UFMS/CPAq

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Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul<br />

Câmpus <strong>de</strong> Aquidauana<br />

Curso <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

Thales <strong>Fernando</strong> Vilamaior Paiva<br />

O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s<br />

Aquidauana<br />

2011


Thales <strong>Fernando</strong> Vilamaior Paiva<br />

O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s<br />

Monografia apresentada ao Curso <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

da <strong>UFMS</strong>, como requisito para a obtenção parcial<br />

do grau <strong>de</strong> LICENCIADO <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática.<br />

Aquidauana<br />

2011<br />

Orientador: Elias Tayar Galante<br />

Mestre <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática - IMECC


Thales <strong>Fernando</strong> Vilamaior Paiva<br />

O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s<br />

Aprovado <strong>em</strong> 03 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2011<br />

Monografia apresentada ao Curso <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

da <strong>UFMS</strong>, como requisito para a obtenção parcial<br />

do grau <strong>de</strong> LICENCIADO <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática.<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

Elias Tayar Galante<br />

Mestre <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática - IMECC<br />

Adriana Wagner<br />

Mestre <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática - UEM<br />

Fábio Dadam<br />

Doutor <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática - IMECC


À minha família e amigos,<br />

ofereço.


Resumo<br />

Neste trabalho discutimos o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, tanto para aplicações <strong>em</strong> R 3 quanto sua<br />

generalização para varieda<strong>de</strong>s. Inicialmente, por meio da motivação física do cálculo do<br />

trabalho, tratamos das integrais <strong>de</strong> linha e, posteriormente, das integrais <strong>de</strong> superfície,<br />

provando o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> para aplicações <strong>em</strong> R 2 e R 3 . Em seguida apresentamos<br />

alguns requisitos para a generalização do teor<strong>em</strong>a <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s compactas orientáveis.<br />

Palavras-chaves: <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, Análise Vetorial, Varieda<strong>de</strong>s.


Abstract<br />

In this work we discuss the Stoke’s theor<strong>em</strong>, for applications in R 3 and its generalization<br />

for manifolds. Initially, motivated by the physical calculus of work, we’ll discuss about<br />

line integrals and, after, surface integrals, proofing the Stoke’s theor<strong>em</strong> for applications<br />

in R 2 and R 3 . Following, we present some requir<strong>em</strong>ents for generalizations of theor<strong>em</strong> on<br />

compact orientated manifolds.<br />

Keywords: Stoke’s Theor<strong>em</strong>, Vector Analysis, Manifolds.


À Deus, por tudo.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

À minha família, pelo apoio <strong>em</strong> todos os sentidos.<br />

Aos meus amigos, <strong>em</strong> especial à “Santíssima Trinda<strong>de</strong>”, composta pelos <strong>de</strong>-<br />

mais vértices <strong>Fernando</strong> da Silva Batista e Renan Maneli Mezabarba, da qual tenho o<br />

privilégio <strong>de</strong> fazer parte.<br />

Aos frequentadores da casa da Ismara e da Jéssyca, pela companhia, agradável<br />

conversa e especialmente pelo ótimo café.<br />

Ao orientador e amigo, professor Elias Tayar Galante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escolha do t<strong>em</strong>a<br />

até as muitas sugestões e correções.<br />

Aos professores Adriana Wagner e Fábio Dadam, por se dispor<strong>em</strong> a fazer parte<br />

da banca examinadora.<br />

início da graduação.<br />

À professora Irene Magalhães Craveiro, por toda ajuda e incentivo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

Em especial, à minha noiva, que muito privou-se <strong>de</strong> minha companhia <strong>em</strong> prol<br />

do término <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

A todos vocês, o meu muito obrigado!


Assim perguntamos, s<strong>em</strong> parar,<br />

Até um punhado <strong>de</strong> terra<br />

Cobrir a nossa boca<br />

Mas isso será uma resposta?<br />

Heinrich Heine.


Sumário<br />

1 Integrais <strong>de</strong> Linha e o <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 9<br />

1.1 Integrais <strong>de</strong> linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9<br />

1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />

1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19<br />

2 Formas 31<br />

2.1 Formas Alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />

2.2 Formas Diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />

3 Integração <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s 45<br />

3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45<br />

3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

4 Conclusão e Estudos Posteriores 59<br />

5 Apêndice A - Diferenciabilida<strong>de</strong> 60<br />

6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 64<br />

Referências Bibliográficas 71


Introdução<br />

Apresentamos neste trabalho um tratamento do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, tanto para<br />

aplicações <strong>em</strong> superfícies do R 3 quanto sua generalizações <strong>em</strong> superfícies abstratas <strong>de</strong><br />

dimensões arbitrariamente gran<strong>de</strong>s, chamadas varieda<strong>de</strong>s.<br />

No capítulo 1 começamos introduzindo o conceito <strong>de</strong> integral <strong>de</strong> linha, mo-<br />

tivado pelo cálculo do trabalho realizado por uma força ao <strong>de</strong>slocar uma partícula no<br />

espaço. E <strong>em</strong> seguida, apresentamos os teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Green, <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> e <strong>de</strong> Gauss.<br />

Optamos por fazer um tratamento dos teor<strong>em</strong>as do capítulo 1 <strong>de</strong> forma in-<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das formas diferenciais, pois julgamos interessante fazê-lo do ponto <strong>de</strong> vista<br />

do cálculo usual para duas e três variáveis, simplificando alguns resultados e tornando<br />

possível a apresentação dos teor<strong>em</strong>as s<strong>em</strong> muitos pré-requisitos.<br />

No capítulo 2 iniciamos com uma pequena introdução à algebra das aplicações<br />

multilineares, enfatizando <strong>em</strong> particular as aplicações alternadas, motivando muitos dos<br />

resultados a respeito das formas diferenciais, que estabelec<strong>em</strong>os na sessão 2.2. Nomeamos<br />

a sessão 2.1 por Formas Alternadas pelo fato <strong>de</strong> que consi<strong>de</strong>ramos apenas aplicações da<br />

forma T : V ×· · ·×V → R, isto é, com contradomínio real. E <strong>em</strong> particular, tais aplicações<br />

são comumente <strong>de</strong>nominadas formas, na literatura consultada.<br />

O capítulo 3 fecha o texto principal, apresentando duas sessões, on<strong>de</strong> a primeira<br />

é <strong>de</strong>dicada ao conceito <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> diferenciável, e a segunda <strong>de</strong>dicada ao teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

<strong>Stokes</strong>.<br />

Mostramos na sessão 3.3 as consi<strong>de</strong>reações necessárias à respeito da integral<br />

<strong>de</strong> uma k−forma <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável, para posteriormente fazer uso na <strong>de</strong>-<br />

monstração do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>. Entretanto, a forma <strong>em</strong> que apresentamos o teor<strong>em</strong>a<br />

restrige-se apenas para o caso <strong>em</strong> que a varieda<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada é compacta e orientável, o<br />

que facilita sua interpretação e também a <strong>de</strong>monstração. E um tratamento mais geral a<br />

respeito do teor<strong>em</strong>a para aplicações <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s não compactas e com singularida<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong> ser encontrado na bibliografia consultada.<br />

O texto consta ainda <strong>de</strong> dois apêndices, o primeito <strong>de</strong>dicado à uma pequena<br />

7


evisão sobre diferenciabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> várias variáveis, e o segundo sobre topologia<br />

dos espaços euclidianos. O resultado mais importante no apêndi<strong>de</strong> B se dá nas <strong>de</strong>finições<br />

e consi<strong>de</strong>rações a respeito dos espaços compactos, pois tais resultados são admitidos no<br />

capítulo 3, principalmente quando tratamos das chamadas partições diferenciáveis da<br />

unida<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong>s compactas, usadas na <strong>de</strong>mostração do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>.<br />

Apresentamos ainda ao final <strong>de</strong>ste trabalho (capítulo 4) uma breve discussão<br />

dos resultados obtidos e também dos estudos posteriores, motivado pelos resultados estu-<br />

dados na elaboração <strong>de</strong>sta monografia.<br />

8


1 Integrais <strong>de</strong> Linha e o <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong><br />

Neste primeiro capítulo, far<strong>em</strong>os uma exposição dos mecanismos necessários<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento, prova e aplicações do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> que, <strong>em</strong> alguns textos<br />

é chamado <strong>de</strong> teor<strong>em</strong>a fundamental do cálculo <strong>de</strong> muitas variáveis, pelo seu caráter <strong>de</strong><br />

generalização do teor<strong>em</strong>a fundamental do cálculo (<strong>em</strong> uma variável).<br />

Focar<strong>em</strong>os primeiramente na exposição do teor<strong>em</strong>a para aplicações <strong>em</strong> R 2 e R 3<br />

e, nos capítulos seguintes, iniciar<strong>em</strong>os a apresentação dos requisitos para sua generalização<br />

<strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s.<br />

Começar<strong>em</strong>os agora com o estudo das integrais sobre curvas no espaço, tra-<br />

dicionalmente chamadas <strong>de</strong> integrais <strong>de</strong> linha, e logo <strong>de</strong>pois far<strong>em</strong>os o caso especial do<br />

teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> R 2 , chamado <strong>de</strong> teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Green e, finalmente, far<strong>em</strong>os o teor<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> para R 3 . Ao longo <strong>de</strong>ste capítulo baseamo-nos principalmente nas referências<br />

[1, 10].<br />

1.1 Integrais <strong>de</strong> linha<br />

Quando p é uma partícula que se move ao longo <strong>de</strong> um segmento <strong>de</strong> reta no<br />

espaço, com ponto inicial A e final B, e F é uma força constante, sab<strong>em</strong>os que o trabalho<br />

realizado por F ao <strong>de</strong>slocar p ao longo <strong>de</strong> AB é dado por<br />

on<strong>de</strong> “ · ” <strong>de</strong>nota o produto interno.<br />

W = F · AB, (1.1)<br />

Quando p se move ao longo <strong>de</strong> uma curva C, po<strong>de</strong>mos aproximá-lo por uma<br />

linha poligonal com vértices <strong>em</strong> C, dividindo o segmento por meio <strong>de</strong> uma partição regular,<br />

para então usar a equação (1.1) e obter o Trabalho realizado no <strong>de</strong>slocamento da partícula<br />

ao longo <strong>de</strong> C, e essa será nossa motivação para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> integral <strong>de</strong> linha.<br />

Definição 1.1.1. Uma partição P <strong>de</strong> um intevalo fechado [a, b] é uma sucessão t0, · · · , tn,<br />

on<strong>de</strong> a = t0 < · · · < tn = b. Neste caso P é dito <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n, pois separa [a, b] <strong>em</strong><br />

9


1.1 Integrais <strong>de</strong> linha 10<br />

n subintervalos. Diz<strong>em</strong>os ainda que P é regular se para qualquer j = 1, · · · , n − 1,<br />

tj+1 − tj = b−a<br />

n .<br />

Sejam,<br />

F : R 3 −→ R 3<br />

(x, y, z) ↦→ F (x, y, z) = (F1(x, y, z), F2(x, y, z), F3(x, y, z))<br />

um campo vetorial 1 , e C uma curva <strong>em</strong> R 3 <strong>de</strong>finida por σ(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈ [a, b].<br />

Dividimos o intervalo I = [a, b] por meio <strong>de</strong> uma partição regular <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n,<br />

a = t0 < · · · < ti < · · · < tn = b,<br />

e obt<strong>em</strong>os uma linha poligonal <strong>de</strong> vértices σ(ti) = (x(ti), y(ti), z(ti)), i = 0, · · · , n − 1.<br />

Como, para n gran<strong>de</strong>, ∆ti = ti+1 − ti é pequeno, o <strong>de</strong>slocamento da partícula<br />

<strong>de</strong> σ(ti) até σ(ti+1) é aproximado pelo vetor ∆Si = σ(ti+1)−σ(ti), e F po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

constante e igual a F (σ(ti)) no intervalo [ti, ti+1]. Supondo que σ seja <strong>de</strong> classe C 1 <strong>em</strong><br />

[a, b], então, pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, t<strong>em</strong>os<br />

é aproximadamente<br />

longo <strong>de</strong> C é<br />

σ ′ (ti) = σ(ti+1) − σ(ti)<br />

ti+1 − ti<br />

⇒ σ ′ (ti) = ∆Si<br />

∆ti<br />

⇒ ∆Si ≈ σ ′ (ti)∆(ti). (1.2)<br />

Portanto, o trabalho realizado para <strong>de</strong>slocar uma partícula <strong>de</strong> σ(ti) até σ(ti+1)<br />

F (σ(ti)) · ∆Si ≈ (F (σ(ti)) · σ ′ (ti)) · ∆(ti). (1.3)<br />

Assim, o trabalho W realizado pela força F para <strong>de</strong>slocar uma partícula ao<br />

W = lim<br />

n→∞<br />

n−1<br />

<br />

(F (σ(ti)) · σ ′ <br />

(ti))∆ti . (1.4)<br />

i=0<br />

Se σ é <strong>de</strong> classe C 1 <strong>em</strong> [a, b] e o campo F (x, y, z) é contínuo <strong>em</strong> C, o limite<br />

acima existe e é igual a<br />

W =<br />

b<br />

Façamos então a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

a<br />

(F (σ(t)) · σ ′ (t))dt. (1.5)<br />

Definição 1.1.2. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os uma curva C <strong>em</strong> R 3 parametrizada por<br />

σ(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈ [a, b], on<strong>de</strong> σ é <strong>de</strong> classe C 1 , e<br />

1 Um campo vetorial trata-se <strong>de</strong> uma aplicação F : U ⊂ R n → R n , que associa a cada n−úpla<br />

(x1, · · · , xn) um vetor <strong>em</strong> R n .


1.1 Integrais <strong>de</strong> linha 11<br />

F (x, y, z) = (F1(x, y, z), F2(x, y, z), F3(x, y, z)) um campo vetorial contínuo 2 <strong>de</strong>finido <strong>em</strong><br />

C. Definimos a integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> F ao longo <strong>de</strong> C por<br />

<br />

C<br />

F · dr =<br />

b<br />

a<br />

(F (σ(t)) · σ ′ (t))dt.<br />

L<strong>em</strong>brando que F = (F1(x, y, z), F2(x, y, z), F3(x, y, z)) e σ(t) = (x(t), y(t), z(t)),<br />

e usando suas componentes, a equação acima obtém a seguinte forma:<br />

<br />

C<br />

F · dr =<br />

que comumente é simplificada para<br />

b<br />

F1(σ(t))x<br />

a<br />

′ (t)dt + F2(σ(t))y ′ (t)dt + F3(σ(t))z ′ (t)dt, (1.6)<br />

<br />

C<br />

<br />

F · dr =<br />

C<br />

F1dx + F2dy + F3dz. (1.7)<br />

Se a curva C é fechada a integral <strong>de</strong> linha é <strong>de</strong>notada por<br />

<br />

C<br />

F · dr. (1.8)<br />

Po<strong>de</strong>mos adaptar a <strong>de</strong>finição (1.1.2) para uma integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> função<br />

escalar da seguinte forma.<br />

função<br />

Sejam f : R 3 −→ R uma função real e C uma curva <strong>em</strong> R 3 , <strong>de</strong>finida pela<br />

σ : I[a, b] −→ R 3<br />

t ↦→ σ(t) = (x(t), y(t), z(t)).<br />

Dividimos o intervalo I = [a, b], como feito anteriormente, por meio <strong>de</strong> uma<br />

partição regular, obtendo uma <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> C <strong>em</strong> curvas Ci <strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> [ti, ti+1].<br />

Supondo que σ(t) é <strong>de</strong> classe C 1 , e <strong>de</strong>notando por ∆Si o comprimento da curva<br />

Ci, t<strong>em</strong>-se, pela fórmula do comprimento <strong>de</strong> arco<br />

∆Si =<br />

ti+1<br />

ti<br />

||σ ′ (t)||dt. (1.9)<br />

Pelo teor<strong>em</strong>a do valor médio para integrais, existe ui ∈ [ti, ti+1] tal que ∆Si =<br />

||σ ′ (ui)||(ti+1 − ti) = ||σ ′ (ui)||∆ti, on<strong>de</strong> ∆ti = ti+1 − ti.<br />

2 Um campo vetorial F será contínuo se cada função coor<strong>de</strong>nada Fi for contínua.


1.1 Integrais <strong>de</strong> linha 12<br />

Quando n é gran<strong>de</strong>, ∆Si é pequeno e f(x, y, z) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada constante<br />

<strong>em</strong> Ci e igual a f(σ(ui)). Obt<strong>em</strong>os assim a soma <strong>de</strong> Ri<strong>em</strong>ann<br />

n−1<br />

f(σ(ui))||σ ′ (ui)||∆ti. (1.10)<br />

i=0<br />

Logo, se consi<strong>de</strong>rarmos f(x, y, z) constante <strong>em</strong> C, obt<strong>em</strong>os<br />

<br />

n−1<br />

lim f(σ(ui))||σ<br />

n→∞<br />

′ b<br />

(ui)||∆ti = f(σ(t))||σ ′ (t)||dt. (1.11)<br />

i=0<br />

Façamos então a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

Definição 1.1.3. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os uma curva C <strong>em</strong> R 3 parametrizada por<br />

σ(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈ [a, b], on<strong>de</strong> σ é <strong>de</strong> classe C 1 , e f(x, y, z) uma função real<br />

contínua <strong>em</strong> C. Definimos a integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> f ao longo <strong>de</strong> C por<br />

<br />

b<br />

fds = f(x, y, z)ds = f(σ(t))||σ ′ (t)||dt.<br />

C<br />

C<br />

Observação 1.1.1. Se f(x, y, z) = 1 obt<strong>em</strong>os simplesmente a fórmula do comprimento da<br />

curva C<br />

<br />

C<br />

ds =<br />

b<br />

a<br />

a<br />

a<br />

||σ ′ (t)||dt. (1.12)<br />

Suponha agora que uma partícula se mova ao longo <strong>de</strong> uma curva C, para-<br />

metrizada por uma função σ(t), e que exista uma parametrização equivalente β(t) <strong>de</strong> C.<br />

Ver<strong>em</strong>os então a relação entre as integrais<br />

<br />

F · dr e<br />

Cσ<br />

Cβ<br />

F · dr, (1.13)<br />

on<strong>de</strong> Cσ é a parametrização <strong>de</strong> C por σ(t) e Cβ e a parametrização <strong>de</strong> C por β(t).<br />

Definição 1.1.4. Sejam σ(t) (a ≤ t ≤ b) e β(t) (c ≤ t ≤ d) duas parametrizações <strong>de</strong> classe<br />

C 1 <strong>de</strong> uma curva C. Diz<strong>em</strong>os que σ(t) e β(t) são parametrizações equivalentes se existe<br />

uma função h : [c, d] → [a, b], bijetora e <strong>de</strong> classe C 1 , tal que β(t) = σ(h(t)), c ≤ t ≤ d. Se<br />

h é crescente, diz<strong>em</strong>os que h preserva a orientação.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.1.1. Sejam σ(t) (a ≤ t ≤ b) e β(t) (c ≤ t ≤ d) parametrizações C 1 por partes<br />

e equivalentes, isto é, existe h dada pela <strong>de</strong>finição anterior. Se h preserva orientação,<br />

então<br />

<br />

Cβ<br />

<br />

F · dr =<br />

Cσ<br />

F · dr.


1.1 Integrais <strong>de</strong> linha 13<br />

Se h inverte a orientação, então<br />

<br />

Cβ<br />

<br />

F · dr = −<br />

Cσ<br />

F · dr.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Se σ(t) e β(t) são equivalentes, então existe h tal que β(t) = σ(h(t)), t ∈<br />

[c, d]. Então<br />

<br />

Cβ<br />

F ·dr =<br />

d<br />

c<br />

F (β(t))·β ′ (t)dt =<br />

d<br />

Fazendo u = h(t) obt<strong>em</strong>os du = h ′ (t)dt, e então<br />

Portanto,<br />

<br />

Cβ<br />

F · dr =<br />

<br />

h(d)<br />

h(c)<br />

Cβ<br />

c<br />

F · dr =<br />

F (σ(h(t)))·σ ′ (h(t))dt =<br />

h(d)<br />

h(c)<br />

F (σ(u)) · σ ′ (u)du =<br />

se h preserva a orientação (h é crescente), e<br />

h(d)<br />

h(c)<br />

F (σ(u)) · σ ′ (u)du =<br />

a<br />

se h inverte a orientação (h é <strong>de</strong>crescente).<br />

b<br />

F (σ(u)) · σ ′ (u)du.<br />

b<br />

a<br />

d<br />

F (σ(h(t)))·σ<br />

c<br />

′ (h(t))·h ′ (t)dt.<br />

F (σ(u)) · σ ′ <br />

(u) =<br />

F (σ(u)) · σ ′ <br />

(u)du = −<br />

Cσ<br />

Cσ<br />

F · dr,<br />

F · dr,<br />

Observe que o procedimento utilizado foi possível pela forma com que se <strong>de</strong>fine<br />

uma parametrização equivalente, isto é, por existir uma bijeção h : [c, d] → [a, b].<br />

Por ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> integrais ordinárias, as integrais <strong>de</strong> linha<br />

gozam <strong>de</strong> algumas importantes proprieda<strong>de</strong>s das integrais ordinárias, como a linearida<strong>de</strong><br />

e a aditivida<strong>de</strong>, como segue:<br />

Linearida<strong>de</strong>:<br />

<br />

C<br />

<br />

<br />

(aF + bG) · dr = a F · dr + b G · dr. (1.14)<br />

C<br />

C<br />

Aditivida<strong>de</strong>: Se C admite uma <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> um número finito <strong>de</strong> curvas C1, · · · , Cn<br />

então<br />

<br />

C<br />

F · dr =<br />

n<br />

<br />

i=1<br />

Ci<br />

F · dr. (1.15)<br />

Vimos até agora que a integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do caminho, isto é, da curva<br />

C a qual estamos consi<strong>de</strong>rando. Passar<strong>em</strong>os a analisar <strong>em</strong> quais condições a integral <strong>de</strong>


1.1 Integrais <strong>de</strong> linha 14<br />

linha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas dos pontos inicial e final do caminho C. Ver<strong>em</strong>os que isto está<br />

relacionado com as características do campo vetorial ao qual estamos consi<strong>de</strong>rando.<br />

Antes <strong>de</strong> enunciar o teor<strong>em</strong>a que nos dará uma condição para que a integral <strong>de</strong><br />

linha <strong>de</strong>penda somente dos pontos final e inicial, l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos do teor<strong>em</strong>a fundamental<br />

do cálculo, pois além <strong>de</strong> utilizá-lo na próxima <strong>de</strong>monstração, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os observar até certa<br />

s<strong>em</strong>elhança com o teor<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.1.2. (<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> Fundamental do Cálculo). Sejam f uma função contínua<br />

no intervalo fechado [a, b] e g uma função, com g ′ (x) = f(x) para todo x ∈ [a, b]. Então,<br />

b<br />

a<br />

f(t)dt = g(b) − g(a).<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.1.3. Seja F um campo vetorial contínuo <strong>de</strong>finido num subconjunto aberto<br />

U ⊂ R 3 para o qual existe uma função real f tal que ∇f = F <strong>em</strong> U. Se C é uma curva<br />

<strong>em</strong> U com pontos inicial e final A e B, respectivamente, parametrizada por uma função<br />

σ(t), C 1 por partes, então<br />

<br />

C<br />

<br />

F · dr =<br />

C<br />

∇f · dr = f(B) − f(A).<br />

D<strong>em</strong>onstração. Sejam A = σ(a) e B = σ(b) os pontos inicial e final <strong>de</strong> C, respectivamente.<br />

Então, como<br />

<br />

C<br />

F · dr =<br />

b<br />

a<br />

∇f(σ(t)) · σ ′ (t)dt<br />

basta fazer g(t) = f(σ(t)), a ≤ t ≤ b e obt<strong>em</strong>os, pela regra da ca<strong>de</strong>ia, que<br />

g ′ (t) = ∇f(σ(t)) · σ ′ (t).<br />

E finalmente, pelo <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> Fundamental do Cálculo,<br />

<br />

C<br />

F · dr =<br />

b<br />

a<br />

g ′ (t)dt = g(b) − g(a) = f(σ(b)) − f(σ(a)) = f(B) − f(A).<br />

Definição 1.1.5. O campo vetorial F acima é chamado <strong>de</strong> campo vetorial conservativo,<br />

ou campo vetorial gradiente, e f é dita uma função potencial 3 .<br />

3 Este nome foi utilizado pela primeira vez pelo mat<strong>em</strong>ático George Green, <strong>em</strong> um trabalho publicado<br />

<strong>em</strong> 1828.


1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green 15<br />

1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green<br />

O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green 4 trata-se <strong>de</strong> um resultado muito importante no estudo<br />

das integrais <strong>de</strong> linha, pois as relaciona com uma integral dupla sobre a região limitada<br />

pela curva a qual estamos consi<strong>de</strong>rando, da seguinte forma:<br />

<br />

<br />

F1dx + F2dy =<br />

<br />

∂F2 ∂F1<br />

− dxdy.<br />

∂x ∂y<br />

(1.16)<br />

∂D<br />

D<br />

Mas para a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (1.16) faz-se necessário supor a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas<br />

condições. Primeiro, é necessário que as funções F1 e F2 sejam integráveis. E <strong>em</strong> se-<br />

gundo lugar, t<strong>em</strong>os condições impostas à natureza da região D e sua fronteira ∂D.<br />

Será necessário que ∂D seja uma curva fechada simples, isto é, se parame-<br />

trizada por uma função σ <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> um intervalo fechado [a, b], então σ(a) = σ(b). E<br />

ainda, σ(t1) = σ(t2), para todo t1 = t2, on<strong>de</strong> t1, t2 ∈ (a, b).<br />

Curvas fechadas simples são usualmente chamadas <strong>de</strong> curvas <strong>de</strong> Jordan, <strong>em</strong><br />

homenag<strong>em</strong> ao mat<strong>em</strong>áico francês Camille Jordan (1838-1922), um dos pioneiros nos<br />

estudos referentes à curvas fechadas e arcos.[1]<br />

Antes <strong>de</strong> enunciar o <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong>, façamos as seguintes <strong>de</strong>finições:<br />

Definição 1.2.1. Uma região D do plano xy é chamada <strong>de</strong> Região <strong>de</strong> tipo I se exist<strong>em</strong><br />

ϕ1 e ϕ2 funções, tais que a região po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita da seguite forma:<br />

D = {(x, y) ∈ R 2 : a ≤ x ≤ b e ϕ1(x) ≤ y ≤ ϕ2(x)}.<br />

Definição 1.2.2. Uma região D do plano xy é chamada <strong>de</strong> Região <strong>de</strong> tipo II se exist<strong>em</strong><br />

ψ1 e ψ2 funções, tais que a região po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita da seguinte forma:<br />

D = {(x, y) ∈ R 2 : c ≤ y ≤ d e ψ1(y) ≤ x ≤ ψ2(y)}.<br />

Definição 1.2.3. Uma região D do plano xy é dita simples se po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como<br />

uma região do tipo I e II, simultaneamente.<br />

Definição 1.2.4. Diz<strong>em</strong>os que a fronteira ∂D, <strong>de</strong> uma região limitada D está orientada<br />

positivamente se a região D fica à esquerda, ao percorrermos a fronteira ∂D.<br />

Definição 1.2.5. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os um campo vetorial F : U ⊂ R 3 → R 3 . F é <strong>de</strong> classe C 1<br />

se todas as <strong>de</strong>rivadas parciais ∂Fi<br />

∂xj<br />

aberto U.<br />

das funções coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> F são contínuas no conjunto<br />

4 O teor<strong>em</strong>a leva esse nome <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> ao mat<strong>em</strong>ático inglês George Green (1793-1841).


1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green 16<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.2.1. (<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green). Seja D uma região fechada e limitada do<br />

plano xy, cuja fronteira ∂D está orientada positivamente e é parametrizada por uma<br />

função C 1 por partes, <strong>de</strong> modo que ∂D seja percorrida apenas uma vez (∂D será uma<br />

curva <strong>de</strong> Jordan). Se F (x, y) = (F1(x, y), F2(x, y)) é um campo vetorial <strong>de</strong> classe C 1 num<br />

subconjunto aberto que contém D, então<br />

<br />

<br />

F1dx + F2dy =<br />

∂D<br />

D<br />

∂F2<br />

∂x<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy.<br />

∂y<br />

D<strong>em</strong>onstração. Supomos primeiramente que D é uma região simples, isto é, D po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>scrita simultaneamente por uma região <strong>de</strong> tipo I e <strong>de</strong> tipo II.<br />

Observe que t<strong>em</strong>os válida a seguinte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>:<br />

<br />

∂F2 ∂F1<br />

− dxdy =<br />

∂x ∂y<br />

<br />

∂F2<br />

dxdy +<br />

∂x<br />

D<br />

Sendo assim, se D é <strong>de</strong> tipo I, t<strong>em</strong>os<br />

<br />

− ∂F1<br />

dxdy =<br />

∂y<br />

=<br />

b<br />

a<br />

[F1(x, ϕ1(x)) − F2(x, ϕ2(x))] dx =<br />

D<br />

D<br />

<br />

=<br />

D<br />

b ϕ2(x)<br />

a<br />

∂D<br />

b<br />

a<br />

ϕ1(x)<br />

D<br />

− ∂F1<br />

dydx =<br />

∂y<br />

F1(x, ϕ1(x))dx −<br />

F1dx<br />

De forma análoga, supondo agora D <strong>de</strong> tipo II, obt<strong>em</strong>os<br />

<br />

d ψ2(y)<br />

∂F2<br />

∂F2<br />

dxdy =<br />

dxdy =<br />

∂x ∂x<br />

=<br />

d<br />

c<br />

Portanto,<br />

[F2(ψ2(y), y) − F2(ψ1(y), y)] dy =<br />

<br />

D<br />

∂F2<br />

∂x<br />

<br />

=<br />

c<br />

∂D<br />

d<br />

c<br />

ψ1(y)<br />

F2(ψ2(y), y)dy −<br />

F2dy.<br />

− ∂F1<br />

∂y dxdy.<br />

b<br />

a<br />

d<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy = F1dx + F2dy.<br />

∂y<br />

∂D<br />

c<br />

F1(x, ϕ2(x))dx =<br />

F2(ψ1(y), y)dy =<br />

Se porém, D não é simples, então D po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como uma soma <strong>de</strong><br />

regiões simples, isto é, D = n<br />

i=1 Di, on<strong>de</strong> cada Di é simples com fronteira ∂Di para-<br />

metrizada por uma função C 1 por partes, e sendo assim, po<strong>de</strong>mos aplicar o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

Green a cada região simples, obtendo<br />

<br />

D<br />

∂F2<br />

∂x<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy =<br />

∂y<br />

n<br />

<br />

i=1<br />

Di<br />

∂F2<br />

∂x<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy =<br />

∂y<br />

n<br />

<br />

i=1<br />

∂Di<br />

F1dx + F2dy.


1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green 17<br />

Observe que se uma fronteira ∂Di é percorrida duas vezes, isto é, é parte da fronteira<br />

comum a duas regiões, então pelo teor<strong>em</strong>a 1.1.1 será <strong>em</strong> sentidos opostos, e os resultados<br />

serão anulados, fazendo com que somente as partes que formam a fronteira ∂D sejam<br />

consi<strong>de</strong>radas, o que garante a valida<strong>de</strong> do teor<strong>em</strong>a.<br />

Definição 1.2.6. Um subconjunto aberto U ⊂ R 2 é dito um domínio se dois pontos<br />

quaisquer <strong>de</strong> U po<strong>de</strong>m ser ligados por uma poligonal totalmente contida <strong>em</strong> U.<br />

Definição 1.2.7. Um subconjunto aberto U ⊂ R 2 é dito simplesmente conexo se, para<br />

toda curva fechada C <strong>em</strong> U, a região limitada por C está totalmente contida <strong>em</strong> U.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.2.2. Se z = f(x, y) é uma função <strong>de</strong> classe C 2 , então suas <strong>de</strong>rivadas mistas<br />

são iguais, isto é<br />

∂2f ∂x∂y = ∂2f ∂y∂x .<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.2.3. Seja F = (F1, F2) um campo vetorial <strong>de</strong> classe C 1 <strong>de</strong>finido num domínio<br />

simplesmente conexo U ⊂ R 2 . As seguintes condições são equivalentes.<br />

1. <br />

C F · dr = 0, qualquer que seja a curva fechada C, C1 por partes, contida <strong>em</strong> U<br />

2. A integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> F do ponto A até o ponto B in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva C 1 por partes,<br />

contida <strong>em</strong> U que liga A a B.<br />

3. F é um campo vetorial conservativo <strong>de</strong> alguma função potencial f <strong>em</strong> U.<br />

4. ∂F2<br />

∂x<br />

= ∂F1<br />

∂y .<br />

D<strong>em</strong>onstração. Far<strong>em</strong>os a <strong>de</strong>monstração mostrando que (1) ⇒ (2) ⇒ (3) ⇒ (4) ⇒ (1).<br />

(1) ⇒ (2). Sejam C1 e C2 dois caminhos C 1 por partes ligando A e B. Denotando por<br />

C −<br />

i o caminho Ci com a orientação contrária, t<strong>em</strong>os que C = C1 ∪ C − 2 é fechada e C 1 por<br />

partes, e assim, por (1) obt<strong>em</strong>os<br />

<br />

0 = F · dr =<br />

C<br />

<br />

⇒<br />

C1<br />

C1<br />

<br />

F · dr −<br />

<br />

F · dr =<br />

C2<br />

C2<br />

F · dr.<br />

F · dr ⇒<br />

(2) ⇒ (3). Provar<strong>em</strong>os a existência <strong>de</strong> f tal que ∂f<br />

∂x = F1, para F2 segue-se analogamente.<br />

Fixe (x0, y0) ∈ U, e para cada (X, Y ) ∈ U <strong>de</strong>fina<br />

f(X, Y ) =<br />

(X,Y )<br />

(x0,y 0)<br />

F1dx + F2dy.


1.2 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Green 18<br />

Esta função está b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida, pois <strong>de</strong> (2) <strong>de</strong>corre que a integral in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do caminho<br />

que liga (x0, y0) a (X, Y ).<br />

Tomando agora ∆x → 0 t<strong>em</strong>os<br />

f(X + ∆x, Y ) − f(X, Y ) =<br />

=<br />

(X+∆x,Y )<br />

(x0,y0)<br />

(X+∆x,Y )<br />

(X,Y )<br />

F1dx + F2dy −<br />

F1dx + F2dy.<br />

(X,Y )<br />

(x0,y0)<br />

F1dx + F2dy =<br />

Novamente, esta última integral in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do caminho entre (X, Y ) e (X + ∆x, Y ), e<br />

então po<strong>de</strong>mos tomá-lo como sendo o segmento <strong>de</strong> reta que liga esses pontos (l<strong>em</strong>brando<br />

que por hipótese a região é um domínio). Assim, como a coor<strong>de</strong>nada y é constante, t<strong>em</strong>os<br />

(X+∆x,Y )<br />

(X,Y )<br />

F1dx + F2dy =<br />

(X+∆x,Y )<br />

(X,Y )<br />

Finalmente, pelo teor<strong>em</strong>a do valor médio para integrais,<br />

0 ≤ t ≤ 1. Logo,<br />

(X+∆x,Y )<br />

(X,Y )<br />

f(X + ∆x, Y ) − f(X, Y )<br />

∆x<br />

= 1<br />

∆x<br />

F1dx.<br />

F1dx = ∆xF1(x + t∆x, Y ),<br />

(X+∆x,Y )<br />

(X,Y )<br />

e tomando o limite quando ∆x → 0 obt<strong>em</strong>os<br />

∂f<br />

∂x (X, Y ) = F1(X, Y ).<br />

F1dx + F2dy = F1(X + t∆x, Y ),<br />

(3) ⇒ (4). Se F = ∇f <strong>em</strong> U, então ∂f<br />

∂x = F1 e ∂f<br />

∂y = F2, e ainda como F é <strong>de</strong> classe C 1<br />

imediatamente f é <strong>de</strong> classe C 2 . Consi<strong>de</strong>rando então suas <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> segunda<br />

or<strong>de</strong>m obt<strong>em</strong>os ∂2 f<br />

∂y∂x<br />

= ∂F1<br />

∂y e ∂2 f<br />

∂x∂y<br />

∂F2 = . Logo,<br />

∂x<br />

∂F1<br />

∂y<br />

= ∂F2<br />

∂x .<br />

(4) ⇒ (1). Basta aplicar o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Green, pois como C é uma curva fechada <strong>em</strong> U,<br />

então pelo fato <strong>de</strong> U ser simplesmente conexo, segue que a região D limitada por C está<br />

totalmente contida <strong>em</strong> U. Assim,<br />

<br />

C<br />

<br />

F1dx + F2dy =<br />

D<br />

∂F2<br />

∂x<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy = 0.<br />

∂y


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 19<br />

1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong><br />

O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, que possui esse nome <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> ao mat<strong>em</strong>ático<br />

irlandês G. G. <strong>Stokes</strong> (1819-1903), é uma extenção direta do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Green, dado na<br />

seção anterior. Ele relaciona a integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> um campo vetorial F ao longo <strong>de</strong><br />

uma curva fechada C no R 3 com a integral sobre uma superfície S da qual C é bordo, da<br />

seguinte forma:<br />

<br />

S<br />

<br />

(rotF · n)ds =<br />

∂S<br />

F · dr. (1.17)<br />

Mas antes <strong>de</strong> enunciar e provar esse teor<strong>em</strong>a, estudar<strong>em</strong>os as chamadas inte-<br />

grais <strong>de</strong> superfície, a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os mecanismos necessários para a aplicação e<br />

prova do <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>.<br />

Rel<strong>em</strong>brar<strong>em</strong>os algumas maneiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver uma superfície:<br />

Representação implícita: Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver uma superfície como o conjunto dos<br />

pontos (x, y, z) que satisfaz<strong>em</strong> uma equação da forma F (x, y, z) = 0, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

esfera <strong>de</strong> raio 1 centrada na orig<strong>em</strong> t<strong>em</strong> representação implícita x 2 + y 2 + z 2 − 1 = 0.<br />

Representação explícita: Quando t<strong>em</strong>os uma representação implícita e é possível<br />

resolver essa equação para uma variável, isto é, z = F (x, y), y = F (x, z) ou x =<br />

F (y, z) obt<strong>em</strong>os a chamada representação explícita da superfície. Usando o ex<strong>em</strong>plo<br />

anterior e resolvendo a equação para z, obt<strong>em</strong>os as representações explícitas z =<br />

1 − x 2 − y 2 e z = − 1 − x 2 − y 2 .<br />

Representação paramétrica: Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os uma função ϕ : D ⊂ R 2 → R 3 <strong>de</strong>finida<br />

num subconjunto D ⊂ R 2 . A imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> D por ϕ, ϕ(D), é dita uma superfície<br />

parametrizada, e sua representação paramétrica é<br />

ϕ(u, v) = (x, y, z) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)) e (u, v) ∈ D.<br />

A função ϕ é <strong>de</strong> classe C 1 se x(u, v), y(u, v) e z(u, v) são <strong>de</strong> classe C 1 .<br />

Suponhamos que uma superfície S com representação paramétrica ϕ(u, v) =<br />

(x(u, v), y(u, v), z(u, v)), (u, v) ∈ D, seja diferenciável <strong>em</strong> (u0, v0) ∈ D. Fixando u = u0,<br />

obt<strong>em</strong>os uma função,<br />

I ⊂ R → R 3<br />

v ↦→ ϕ(u0, v)


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 20<br />

que <strong>de</strong>fine uma curva v na superfície. Se o vetor<br />

∂ϕ<br />

∂v (u0,<br />

<br />

∂x<br />

v0) =<br />

∂v (u0, v0), ∂y<br />

∂v (u0, v0), ∂z<br />

∂v (u0,<br />

<br />

v0)<br />

é não nulo, então ele é um vetor tangente a esta curva no ponto ϕ(u0, v0).<br />

vetor<br />

Proce<strong>de</strong>ndo analogamente, <strong>de</strong>finimos a curva u na superfície, e então, se o<br />

∂ϕ<br />

∂u (u0,<br />

<br />

∂x<br />

v0) =<br />

∂u (u0, v0), ∂y<br />

∂u (u0, v0), ∂z<br />

∂u (u0,<br />

<br />

v0)<br />

é não nulo, ele é tangente à curva u <strong>em</strong> ϕ(u0, v0).<br />

Quando N(u0, v0) = ∂ϕ<br />

∂u (u0, v0) × ∂ϕ<br />

∂v (u0, v0) é não nulo, N(u0, v0) é normal ao<br />

plano gerado pelos vetores ∂ϕ<br />

∂u (u0, v0) e ∂ϕ<br />

∂v (u0, v0).<br />

Definição 1.3.1. (Plano Tangente). Seja S uma supefície parametrizada por<br />

ϕ : D ⊂ R 2 → R 3 . Suponhamos que ∂ϕ<br />

∂u<br />

e ∂ϕ<br />

∂v sejam contínuas <strong>em</strong> (u0, v0) ∈ D. Se<br />

N(u0, v0) = ∂ϕ<br />

∂u (u0, v0) × ∂ϕ<br />

∂v (u0, v0) é não nulo, diz<strong>em</strong>os que S é regular <strong>em</strong> ϕ(u0, v0) ∈ S.<br />

Neste caso, <strong>de</strong>finimos o plano tangente a S <strong>em</strong> ϕ(u0, v0) = (x0, y0, z0) como sendo o plano<br />

gerado pelos vetores ∂ϕ<br />

∂u (u0, v0) e ∂ϕ<br />

∂v (u0, v0), cuja equação é dada por<br />

N(u0, v0) · (x − x0, y − y0, z − z0) = 0<br />

Uma superfície S = ϕ(D) é regular 5 se é regular <strong>em</strong> todos os pontos.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora uma superfície parametrizada<br />

ϕ : D ⊂ R 2 → R 3<br />

ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)).<br />

Por simplicida<strong>de</strong>, e s<strong>em</strong> perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, suponha que D seja um retângulo,<br />

e consi<strong>de</strong>re uma partição regular <strong>de</strong> D <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n da seguinte forma:<br />

Para cada i, j ∈ {0, 1 · · · , n − 1}, seja Rij o retângulo <strong>de</strong> vértices (ui, vj),<br />

(ui+1, vj), (ui, vj+1) e (ui+1, vj+1).<br />

∂ϕ<br />

∂v (ui, vj) por ϕvj .<br />

Para facilitar a notação, <strong>de</strong>notamos o vetor ∂ϕ<br />

∂u (ui, vj) por ϕui , e analogamente<br />

5 Intuitivamente diz<strong>em</strong>os que uma superfície regular não possui “bicos”.


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 21<br />

Seja ∆u = ui+1 − ui e ∆v = vj+1 − vj. Dessa forma os vetores ∆uϕui<br />

e ∆vϕvj<br />

são tangentes à superfície <strong>em</strong> ϕ(ui, vj) = (xij, yij, zij), e ainda, esses vetores formam um<br />

paralelogramo Pij situado no plano tangente à superfície <strong>em</strong> (xij, yij, zij).<br />

Rel<strong>em</strong>brando que a área <strong>de</strong> um paralelogramo <strong>de</strong>terminado por dois vetores u<br />

e v é ||u × v||, observe que para n suficient<strong>em</strong>ete gran<strong>de</strong>, a área do paralelogramo Pij se<br />

aproxima da área <strong>de</strong> ϕ(Rij).<br />

Portanto, a área da superfície é aproximada por<br />

n−1<br />

n−1<br />

n−1<br />

n−1<br />

An = A(Pij) = ||ϕui × ϕvj ||∆u∆v, (1.18)<br />

i=0<br />

j=0<br />

i=0<br />

j=0<br />

Fazendo n → ∞, a sequência An converge para a integral<br />

<br />

Feito isso, façamos a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

D<br />

<br />

<br />

<br />

∂ϕ ∂ϕ<br />

<br />

<br />

(u, v) × (u, v) dudv.<br />

(1.19)<br />

∂u ∂v<br />

Definição 1.3.2. (Área <strong>de</strong> Superfície). Seja S uma superfície parametrizada por<br />

ϕ(u, v), (u, v) ∈ D. Definimos a área A(S) <strong>de</strong> S pela fórmula<br />

<br />

<br />

<br />

A(S) = <br />

∂ϕ ∂ϕ <br />

<br />

(u, v) × (u, v) <br />

∂u ∂v <br />

dudv.<br />

D<br />

Se S é <strong>de</strong>composta por um número finito <strong>de</strong> superfícies, então sua área é dada pela soma<br />

<strong>de</strong>stas áreas, isto é<br />

A(S) =<br />

n<br />

A(Si), on<strong>de</strong> S =<br />

i=1<br />

n<br />

Si.<br />

Integrais <strong>de</strong> superfície po<strong>de</strong>m ser tratadas <strong>de</strong> forma analoga às integrais <strong>de</strong><br />

linha, pois possu<strong>em</strong> uma estreita ligação. Enquanto uma integral <strong>de</strong> linha trata-se <strong>de</strong><br />

uma integral sobre uma curva no espaço, integrais <strong>de</strong> superfície po<strong>de</strong>m ser interpretadas<br />

como uma integral sobre uma superfície no espaço. Ver<strong>em</strong>os a seguir a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> integral<br />

<strong>de</strong> superfície.<br />

Definição 1.3.3. Seja S uma superfície parametrizada por ϕ(u, v), (u, v) ∈ D, e f(x, y, z)<br />

uma função real contínua <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> S. Definimos a integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> f sobre S<br />

por<br />

<br />

S<br />

<br />

fds =<br />

S<br />

<br />

f(x, y, z)ds =<br />

S<br />

i=1<br />

<br />

<br />

f(ϕ(u, v)) <br />

∂ϕ ∂ϕ<br />

<br />

<br />

× dudv.<br />

∂u ∂v


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 22<br />

Quando a superfície S é <strong>de</strong>finida explicitamente por uma equação da forma<br />

z = g(x, y), on<strong>de</strong> (x, y) ∈ D então, sabendo que<br />

∂z ∂z<br />

×<br />

∂x ∂y =<br />

<br />

<br />

i<br />

<br />

<br />

1<br />

<br />

<br />

<br />

j<br />

0<br />

k<br />

∂z<br />

0 1<br />

(x, y) ∂x ∂z<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

(x, y) <br />

∂y<br />

t<strong>em</strong>os<br />

<br />

S<br />

<br />

fds =<br />

S<br />

f(x, y, g(x, y)) ·<br />

<br />

1 +<br />

= 1k − ∂g ∂g<br />

j −<br />

∂y ∂x i,<br />

2 2 ∂g<br />

∂g<br />

(x, y) + (x, y) dxdy. (1.20)<br />

∂x ∂y<br />

Logo, se f(x, y, z) = 1 sobre S, a equação acima se reduz a<br />

<br />

ds =<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

∂ϕ ∂ϕ <br />

<br />

(u, v) × (u, v) <br />

∂u ∂v <br />

dudv, (1.21)<br />

S<br />

D<br />

que é igual a área <strong>de</strong> S, e por essa razão o símbolo ds po<strong>de</strong> ser interpretado como um<br />

<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> área <strong>de</strong> superfície, e a integral <strong>de</strong> superfície fds é chamada <strong>de</strong> integral<br />

<strong>de</strong> f com respeito ao el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> área ds, estendida sobre a superfície S.[10]<br />

Seja S uma superfície parametrizada, então à esta superfície estão associados<br />

dois campos contínuos <strong>de</strong> vetores unitários n1 e n2 :<br />

n1(ϕ(u, v)) =<br />

∂ϕ<br />

∂u<br />

|| ∂ϕ<br />

∂u<br />

∂ϕ<br />

(u, v) × (u, v) ∂v<br />

(u, v) × ∂ϕ<br />

∂v<br />

S<br />

(u, v)||,<br />

(1.22)<br />

n2(ϕ(u, v)) = −n1(ϕ(u, v)). (1.23)<br />

Definição 1.3.4. Seja S uma superfície parametrizada. Diz<strong>em</strong>os que S está orientada<br />

se fixarmos sobre ela um campo <strong>de</strong> vetores normais unitários da forma n1 ou n2.<br />

Definição 1.3.5. Se F : S ⊂ R 3 → R 3 é um campo vetorial contínuo e n um dos campos<br />

n1 ou n2, <strong>de</strong>notamos por Fn = F · n a função escalar que a cada ponto <strong>de</strong> S associa a<br />

componente do campo F na direção do vetor n.<br />

Definição 1.3.6. Seja F um campo vetorial contínuo <strong>de</strong>finido numa superfície orientada<br />

S parametrizada por ϕ(u, v), (u, v) ∈ D. Definimos a integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> F sobre S<br />

por<br />

S<br />

<br />

S<br />

<br />

<br />

F · ds = (F · n)ds =<br />

S<br />

S<br />

Fnds.<br />

Assim, pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> função escalar obt<strong>em</strong>os, para<br />

o caso <strong>em</strong> que n = n1,<br />

<br />

<br />

(F · n)ds =<br />

<br />

<br />

<br />

[F (ϕ(u, v)) · n(ϕ(u, v))] <br />

∂ϕ ∂ϕ <br />

<br />

(u, v) × (u, v) <br />

∂u ∂v <br />

dudv =<br />

D


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 23<br />

<br />

<br />

∂ϕ ∂ϕ<br />

= F (ϕ(u, v)) · (u, v) × (u, v) dudv.<br />

∂u ∂v<br />

D<br />

Observação 1.3.1. Se consi<strong>de</strong>rarmos n = n2, então apenas mudar<strong>em</strong>os o sinal da integral<br />

<strong>de</strong> superfície acima.<br />

Uma importante aplicação da integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> um campo vetorial é<br />

a interpretação do fluxo, ou taxa <strong>de</strong> escoamento por uma superfície S, ao qual ver<strong>em</strong>os<br />

brev<strong>em</strong>ente a seguir.<br />

Suponhamos que um campo vetorial contínuo F : W ⊂ R 3 → R 3 represente<br />

um campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> associado ao escoamento <strong>de</strong> um fluido <strong>em</strong> cada ponto da região<br />

W. O fluxo ou taxa <strong>de</strong> escoamento por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po pela superfície S contida <strong>em</strong> W<br />

é dado pela integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> F sobre S.<br />

De fato, se S é plana e F é um campo constante, então o volume <strong>de</strong> um fluido<br />

que passa por S na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po é (F · n) · (área <strong>de</strong> (S)). Portanto o fluxo é dado<br />

por<br />

φ = (F · n) · (área(S)). (1.24)<br />

Se S é uma superfície não plana contida <strong>em</strong> W, a <strong>de</strong>compomos por meio <strong>de</strong><br />

curvas coor<strong>de</strong>nadas da forma u = c1, v = c2, com c1 constante, e supomos que F é<br />

constante <strong>em</strong> cada parte Sk <strong>de</strong> S assim formada. Aproximando S por paralelogramos<br />

tangentes <strong>de</strong>terminados pelos vetores ∂ϕ ∂ϕ<br />

∆u e ∆v, obt<strong>em</strong>os que o fluxo por uma parte<br />

∂u ∂v<br />

Sk <strong>de</strong> S é aproximadamente<br />

φk ≈ (F (ϕ(uk, vk)) · nk) · (area(Sk)) ≈<br />

<br />

∂ϕ<br />

≈ F (ϕ(uk, vk)) ·<br />

∂u (uk, vk) × ∂ϕ<br />

∂v (uk,<br />

<br />

vk) ∆u∆v. (1.25)<br />

E quando n → ∞, a sequência das somas<br />

n<br />

<br />

<br />

∂ϕ<br />

F (ϕ(uk, vk)) ·<br />

∂u (uk, vk) × ∂ϕ<br />

∂v (uk,<br />

<br />

vk) ∆u∆v (1.26)<br />

k=1<br />

converge para o fluxo total <strong>de</strong> F pela superfície S. Assim, o fluxo total φ po<strong>de</strong> ser obtido<br />

pela integral <strong>de</strong> superfície<br />

<br />

F (ϕ(u, v)) ·<br />

D<br />

<br />

∂ϕ ∂ϕ<br />

× dudv = F · ds. (1.27)<br />

∂u ∂v<br />

S<br />

Uma pergunta pertinente no estudo das integrais <strong>de</strong> superfície é certamente<br />

o comportamento <strong>de</strong> uma integral quando mudamos a parametrização da superfície <strong>em</strong><br />

questão. Para respon<strong>de</strong>rmos essa pergunta, consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os os seguintes resultados.


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 24<br />

Definição 1.3.7. Sejam ϕ1(u, v), (u, v) ∈ D1, e ϕ2(s, t), (s, t) ∈ D2, duas parametrizações<br />

<strong>de</strong> uma superfície orientada S. Diz<strong>em</strong>os que ϕ1 e ϕ2 são parametrizações equivalentes se<br />

existe uma bijeção <strong>de</strong> classe C 1<br />

G : D2 ⊂ R 2 → D1 ⊂ R 2<br />

(s, t) ↦→ G(s, t) = (u, v) = (u(s, t), v(s, t)) ,<br />

tal que ϕ1 (G(D2)) = ϕ2(D2) = S, isto é, ϕ2(s, t) = ϕ1(u(s, t), v(s, t)), (s, t) ∈ D2.<br />

Definição 1.3.8. Consi<strong>de</strong>re uma aplicação <strong>de</strong>finida por ϕ(s, t) = (u(s, t), v(s, t)), on<strong>de</strong><br />

u e v são funções <strong>de</strong> um subconjunto aberto U ⊂ R 2 <strong>em</strong> R. Definimos o <strong>de</strong>terminante<br />

Jacobiano da aplicação ϕ por<br />

∂(u, v)<br />

∂(s, t)<br />

= <strong>de</strong>t<br />

⎛<br />

⎝ ∂u<br />

∂s<br />

∂u<br />

∂t<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.3.1. Se ϕ1(u, v) e ϕ2(s, t) são parametrizaçãoes equivalentes <strong>de</strong> uma su-<br />

perfície regular orientada então<br />

on<strong>de</strong><br />

Nϕ1 = ∂ϕ1<br />

∂u<br />

Nϕ2 = Nϕ1<br />

∂v<br />

∂s<br />

∂v<br />

∂t<br />

∂(u, v)<br />

∂(s, t) ,<br />

⎞<br />

⎠ .<br />

∂ϕ1<br />

×<br />

∂v e Nϕ2 = ∂ϕ2 ∂ϕ2<br />

×<br />

∂s ∂t .<br />

D<strong>em</strong>onstração. Se ϕ1 e ϕ2 são parametrizações equivalentes, então existe uma bijeção<br />

dada pela <strong>de</strong>finição (1.3.7) tal que<br />

Então 6<br />

Logo<br />

ϕ2(s, t) = ϕ1(u(s, t), v(s, t)).<br />

∂ϕ2<br />

∂s<br />

∂ϕ2<br />

∂t<br />

= ∂ϕ1<br />

∂u<br />

= ∂ϕ1<br />

∂u<br />

∂u ∂ϕ1 ∂v<br />

+<br />

∂s ∂v ∂s ,<br />

∂u ∂ϕ1 ∂v<br />

+<br />

∂t ∂v ∂t .<br />

Nϕ2 = ∂ϕ2 ∂ϕ2<br />

×<br />

∂s ∂t =<br />

<br />

∂ϕ1 ∂u ∂ϕ1 ∂v ∂ϕ1 ∂u ∂ϕ1 ∂v<br />

+ × + =<br />

∂u ∂s ∂v ∂s ∂u ∂t ∂v ∂t<br />

<br />

∂ϕ1 ∂u ∂ϕ1 ∂v ∂ϕ1 ∂v ∂ϕ1 ∂u<br />

=<br />

−<br />

=<br />

∂u ∂s ∂v ∂t ∂v ∂s ∂u ∂t<br />

6 As <strong>de</strong>rivadas parciais foram obtidas usando a regra da ca<strong>de</strong>ia.


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 25<br />

<br />

∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂u ∂v ∂v ∂u<br />

= − − =<br />

∂u ∂v ∂v ∂u ∂s ∂t ∂s ∂t<br />

<br />

∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂(u, v) ∂(u, v)<br />

= × = Nϕ1<br />

∂u ∂v ∂(s, t) ∂(s, t) .<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.3.2. Sejam ϕ1(u, v), (u, v) ∈ D1, e ϕ2(s, t), (s, t) ∈ D2, parametrizações<br />

equivalentes <strong>de</strong> uma superfície regular orientada S.<br />

1. Se f é uma função escalar contínua <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> S, então<br />

<br />

ϕ1(D1)<br />

<br />

fds =<br />

ϕ2(D2)<br />

fds.<br />

2. Se F é um campo vetorial contínuo <strong>de</strong>finido <strong>em</strong> S, então<br />

<br />

ϕ1(D1)<br />

<br />

(F · n)ds =<br />

ϕ2(D2)<br />

(F · n)ds,<br />

se os vetores normais Nϕ1 e Nϕ2 têm o mesmo sentido <strong>em</strong> cada ponto <strong>de</strong> S, e<br />

<br />

ϕ1(D1)<br />

<br />

(F · n)ds = −<br />

ϕ2(D2)<br />

(F · n)ds,<br />

se os vetores normais Nϕ1 e Nϕ2 têm sentidos opostos <strong>em</strong> cada ponto <strong>de</strong> S.<br />

D<strong>em</strong>onstração. 1. Pela <strong>de</strong>finição (1.3.3) t<strong>em</strong>os<br />

<br />

<br />

fds =<br />

<br />

<br />

∂ϕ1<br />

∂ϕ1 <br />

f(ϕ1(u, v)) <br />

<br />

(u, v) × (u, v) <br />

∂u ∂v <br />

dudv.<br />

ϕ1(D1)<br />

D1<br />

Como por ϕ1 e ϕ2 são parametrizações equivalentes, então existe uma função G<br />

dada pela <strong>de</strong>finição (1.3.7) tal que<br />

<br />

<br />

<br />

∂ϕ1<br />

∂ϕ1 <br />

f(ϕ1(u, v)) <br />

<br />

(u, v) × (u, v) <br />

D1<br />

∂u ∂v <br />

dudv =<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

∂ϕ1<br />

∂ϕ1 <br />

<br />

f(ϕ1(u(s, t), v(s, t))) <br />

<br />

× <br />

<br />

∂(u, v) <br />

<br />

∂u ∂v <br />

∂(s, t) dsdt.<br />

D2<br />

E finalmente, pelo teor<strong>em</strong>a (1.3.1) obt<strong>em</strong>os a igualda<strong>de</strong><br />

<br />

<br />

<br />

<br />

∂ϕ2<br />

∂ϕ2 <br />

f(ϕ2(s, t)) <br />

<br />

(s, t) × (s, t) <br />

∂s ∂t <br />

dsdt =<br />

D2<br />

2. Pela <strong>de</strong>finição (1.3.6) t<strong>em</strong>os<br />

<br />

ϕ1(D1)<br />

<br />

(F · n)ds =<br />

D1<br />

F (ϕ1(u, v)) ·<br />

∂ϕ1<br />

∂u<br />

ϕ2(D2)<br />

fds.<br />

<br />

∂ϕ1<br />

× dudv =<br />

∂v


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 26<br />

<br />

<br />

∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂(u, v) <br />

= F (ϕ1(u(s, t), v(s, t))) · × <br />

∂u ∂v ∂(s, t) dsdt.<br />

D2<br />

Portanto, se Nϕ1 e Nϕ2 têm o mesmo sentido, pelo teor<strong>em</strong>a (1.3.1), a integral acima<br />

é igual a<br />

<br />

D2<br />

F (ϕ2(S, T )) ·<br />

∂ϕ2<br />

∂s<br />

E se Nϕ1 e Nϕ2 possu<strong>em</strong> sentidos opostos, então<br />

<br />

=<br />

D2<br />

<br />

∂ϕ2<br />

(s, t) × (s, t) dsdt = (F · n)ds.<br />

∂t ϕ2(D2)<br />

<br />

<br />

∂ϕ1 ∂ϕ1 ∂(u, v) <br />

F (ϕ1(u(s, t), v(s, t))) · × <br />

D2<br />

∂u ∂v ∂(s, t) dsdt =<br />

<br />

∂ϕ2 ∂ϕ2<br />

−F (ϕ2(s, t)) · (s, t) × (s, t) dsdt = − (F · n)ds.<br />

∂s ∂t ϕ2(D2)<br />

Definição 1.3.9. Consi<strong>de</strong>re um campo vetorial F = (F1, F2, F3) com <strong>de</strong>rivadas parciais<br />

<strong>de</strong>finidas num subconjunto aberto do R3 . Definimos o campo vetorial rotacional <strong>de</strong> F por<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

rotF = ∇ × F = <br />

<br />

<br />

<br />

i<br />

∂<br />

∂x<br />

j<br />

∂<br />

∂y<br />

k<br />

∂<br />

∂z<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

∂F3 ∂F2 ∂F1 ∂F3 ∂F2 ∂F1<br />

= − , − , − .<br />

∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y<br />

<br />

<br />

F1 F2 F3<br />

Definição 1.3.10. Seja S uma superfície parametrizada por ϕ(u, v), com (u, v) ∈ D. O<br />

bordo ∂S <strong>de</strong> S é a curva <strong>de</strong> S correspon<strong>de</strong>nte por ϕ à fronteira <strong>de</strong> D.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.3.3. (<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>). Sejam S uma superfície orientada, parametri-<br />

zada por ϕ(u, v), (u, v) ∈ D, on<strong>de</strong> D é uma região fechada do plano uv, limitada por uma<br />

curva C 1 por partes, e ϕ uma função <strong>de</strong> classe C 2 num subconjunto aberto <strong>de</strong> R 2 contendo<br />

D. Se F = (F1, F2, F3) é um campo vetorial <strong>de</strong> classe C 1 , <strong>de</strong>finido num subconjunto aberto<br />

<strong>de</strong> R3 que contém S, cujo bordo ∂S está orientado positivamente, então<br />

<br />

<br />

(rotF · n)ds = F · dr.<br />

S<br />

D<strong>em</strong>onstração. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os S parametrizada por ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)),<br />

com (u, v) ∈ D, e ainda orientada com campo <strong>de</strong> vetore normais<br />

on<strong>de</strong><br />

n =<br />

<br />

∂ϕ<br />

∂u<br />

∂ϕ<br />

∂u<br />

∂ϕ<br />

× ∂v<br />

∂ϕ<br />

× ∂v<br />

∂S<br />

<br />

,<br />

∂ϕ ∂ϕ<br />

×<br />

∂u ∂v =<br />

<br />

∂(y, z) ∂(z, x) ∂(x, y)<br />

, , .<br />

∂(u, v) ∂(u, v) ∂(u, v)


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 27<br />

Pela fórmula da integral <strong>de</strong> superfície t<strong>em</strong>os,<br />

<br />

=<br />

e<br />

D<br />

∂F3<br />

∂y<br />

<br />

S<br />

(rotF · n)ds =<br />

<br />

∂F2 ∂(y, z)<br />

−<br />

∂z ∂(u, v) +<br />

<br />

∂F1 ∂F3 ∂(z, x)<br />

−<br />

∂z ∂x ∂(u, v) +<br />

<br />

∂F2 ∂F1 ∂(x, y)<br />

− dudv,<br />

∂x ∂y ∂(u, v)<br />

E para completar a <strong>de</strong>montração basta verificar que<br />

<br />

<br />

∂S<br />

∂S<br />

<br />

F1dx =<br />

<br />

F2dy =<br />

<br />

∂S<br />

F3dz =<br />

D<br />

D<br />

=<br />

∂F3<br />

∂y<br />

∂F1<br />

∂z<br />

−∂F2<br />

∂z<br />

∂(z, x) ∂F1<br />

−<br />

∂(u, v) ∂y<br />

∂(y, z) ∂F2<br />

+<br />

∂(u, v) ∂x<br />

∂(y, z) ∂F3<br />

−<br />

∂(u, v) ∂x<br />

<br />

∂(x, y)<br />

dudv,<br />

∂(u, v)<br />

<br />

∂(x, y)<br />

dudv<br />

∂(u, v)<br />

<br />

∂(z, x)<br />

dudv,<br />

∂(u, v)<br />

pois somando estas três equações obt<strong>em</strong>os o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>. Provar<strong>em</strong>os apenas a<br />

primeira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, pois as <strong>de</strong>mais são análogas.<br />

Supomos que h(t) = (u(t), v(t)), a ≤ t ≤ b é uma parametrização da fronteira<br />

<strong>de</strong> D, orientada <strong>de</strong> modo que ϕ(h(t)) seja uma parametrização do bordo ∂S <strong>de</strong> S, orientado<br />

positivamente. Assim,<br />

=<br />

b<br />

a<br />

<br />

=<br />

<br />

∂S<br />

F1dx =<br />

b<br />

<br />

<br />

∂x<br />

F1(ϕ(h(t)))<br />

<br />

=<br />

∂D<br />

∂D<br />

a<br />

F1(ϕ(u, v))<br />

<br />

F1(ϕ(h(t))) d<br />

dt (x(h(t)))<br />

<br />

dt =<br />

∂u (h(t))u′ (t) + ∂x<br />

∂v (h(t))v′ <br />

(t) dt =<br />

<br />

∂x ∂x<br />

(u, v)du + (u, v)dv<br />

∂u ∂v<br />

<br />

=<br />

F1(ϕ(u, v)) ∂x<br />

∂u (u, v)du + F1(ϕ(u, v)) ∂x<br />

(u, v)dv.<br />

∂v<br />

Como ϕ é <strong>de</strong> classe C 2 , po<strong>de</strong>mos aplicar o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Green a esta última integral,<br />

obtendo<br />

<br />

∂S<br />

<br />

F1dx =<br />

Mas,<br />

D<br />

<br />

∂<br />

F1(ϕ(u, v))<br />

∂u<br />

∂x<br />

<br />

−<br />

∂v<br />

∂<br />

<br />

F1(ϕ(u, v))<br />

∂v<br />

∂x<br />

<br />

(u, v) dudv.<br />

∂u<br />

<br />

∂<br />

(F1 ◦ ϕ)<br />

∂u<br />

∂x<br />

<br />

−<br />

∂v<br />

∂<br />

<br />

(F1 ◦ ϕ)<br />

∂v<br />

∂x<br />

<br />

=<br />

∂u<br />

= ∂<br />

∂u (F1 ◦ ϕ) ∂x<br />

∂v + (F1 ◦ ϕ) ∂2x ∂<br />

−<br />

∂u∂v ∂ (F1 ◦ ϕ) ∂x<br />

∂u − (F1 ◦ ϕ) ∂2x ∂v∂u =


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 28<br />

Logo,<br />

∂F1<br />

∂x<br />

∂x ∂F1 ∂y<br />

+<br />

∂u ∂y ∂u<br />

− ∂F1<br />

∂y<br />

<br />

∂S<br />

∂<br />

∂u (F1 ◦ ϕ) ∂x ∂<br />

−<br />

∂v<br />

<br />

∂F1 ∂z ∂x<br />

+<br />

∂z ∂u ∂v −<br />

<br />

∂x ∂y<br />

∂u ∂v<br />

− ∂x<br />

∂v<br />

− ∂F1<br />

∂y<br />

<br />

F1dx =<br />

D<br />

<br />

∂y<br />

∂u<br />

∂v (F1 ◦ ϕ) ∂x<br />

∂u =<br />

<br />

∂F1 ∂x ∂F1 ∂y ∂F1 ∂z ∂x<br />

+ +<br />

∂x ∂v ∂y ∂v ∂z ∂v ∂u =<br />

<br />

∂x ∂z ∂x ∂z<br />

− =<br />

∂v ∂u ∂u ∂v<br />

+ ∂F1<br />

∂z<br />

∂(x, y) ∂F1 ∂(z, x)<br />

+<br />

∂(u, v) ∂z ∂(u, v) .<br />

∂F1<br />

∂z<br />

∂(z, x) ∂F1<br />

−<br />

∂(u, v) ∂y<br />

<br />

∂(x, y)<br />

dudv,<br />

∂(u, v)<br />

o que garante a valida<strong>de</strong> da primeira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. De forma análoga provam-se as outras<br />

duas, concluindo a <strong>de</strong>monstração.<br />

Observe que se a região S do teor<strong>em</strong>a acima for uma região do plano xy, então<br />

n = (0, 0, 1), e assim obt<strong>em</strong>os o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Green, isto é,<br />

<br />

F · dr =<br />

<br />

(rotF · n) · dr =<br />

<br />

∂F2<br />

∂x<br />

∂S<br />

S<br />

S<br />

<br />

∂F1<br />

− dxdy.<br />

∂y<br />

Como vimos, o <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> expressa uma relação entre uma integral <strong>de</strong><br />

superfície e uma integral <strong>de</strong> linha sobre a curva que é o bordo da superfície <strong>em</strong> questão.<br />

O próximo teor<strong>em</strong>a que ir<strong>em</strong>os apresentar é o <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> da divergência, ou <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong><br />

Gauss, que relaciona uma integral tripla com uma integral <strong>de</strong> superfície.<br />

Definição 1.3.11. Seja W uma região limitada do R 3 , tendo como fronteira uma su-<br />

perfície ∂W. Dir<strong>em</strong>os que ∂W está orientada positivamente se o vetor normal <strong>em</strong> cada<br />

ponto <strong>de</strong> ∂W aponta para fora <strong>de</strong> W.<br />

Definição 1.3.12. Seja F (x, y, z) = (F1(x, y, z), F2(x, y, z), F3(x, y, z)) um campo veto-<br />

rial <strong>de</strong> classe C 1 <strong>de</strong>finido num subconjunto do R 3 . O divergente <strong>de</strong> F,<strong>de</strong>notado por divF.<br />

é <strong>de</strong>finido por<br />

divF (x, y, z) = ∂F1<br />

∂x<br />

(x, y, z) + ∂F2<br />

∂y<br />

∂F3<br />

(x, y, z) + (x, y, z).<br />

∂z<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 1.3.4. (<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> Gauss). Seja W uma região fechada e limitada <strong>de</strong> R 3<br />

cuja fronteira ∂W é uma superfície orientada positivamente. Se F é um campo vetorial<br />

<strong>de</strong> classe C 1 num subconjunto aberto <strong>de</strong> R 3 que contém W, então<br />

<br />

∂W<br />

<br />

(F · n)ds =<br />

W<br />

divF dxdydz.


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 29<br />

D<strong>em</strong>onstração. Suponhamos que W seja uma região simples.Se F = (F1, F2, F3), po<strong>de</strong>mos<br />

escrever<br />

<br />

W<br />

<br />

divF dxdydz =<br />

E por outro lado,<br />

<br />

∂W<br />

<br />

(F ·n)ds =<br />

∂W<br />

W<br />

∂F1<br />

∂x dxdydz+<br />

<br />

W<br />

∂F2<br />

∂y dxdydz+<br />

<br />

W<br />

∂F3<br />

∂z dxdydz.<br />

<br />

<br />

[(F1, 0, 0) · n] ds+ [(0, F2, 0) · n] ds+ [(0, 0, F3) · n] ds.<br />

∂W<br />

∂W<br />

Portanto, para validar o teor<strong>em</strong>a, basta provarmos as seguintes i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

<br />

<br />

<br />

W<br />

W<br />

W<br />

<br />

∂F1<br />

dxdydz = [(F1, 0, 0) · n] ds<br />

∂x ∂W<br />

∂F2<br />

dxdydz =<br />

∂y<br />

∂F3<br />

dxdydz =<br />

∂z<br />

<br />

<br />

∂W<br />

∂W<br />

[(0, F2, 0) · n] ds<br />

[(0, 0, F3) · n] ds.<br />

contudo, provar<strong>em</strong>os somente a última, pois as <strong>de</strong>mais são análogas. Para tanto, <strong>de</strong>scre-<br />

v<strong>em</strong>os W como uma região do tipo I.<br />

W = (x, y, z) ∈ R 3 |f1(x, y) ≤ z ≤ f2(x, y) , (x, y ∈ D) .<br />

Essa região é limitada inferiormente por uma superfície S1 <strong>de</strong> equação z = f1(x, y), com<br />

(x, y) ∈ D e limitada superiormente por uma superfície S2 <strong>de</strong> equação z = f2(x, y), com<br />

(x, y) ∈ D. Possivelmente, essa região também é limitada por uma porção <strong>de</strong> cilindro<br />

gerada por uma reta paralela ao eixo z ao longo da fronteira <strong>de</strong> D, que <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por<br />

S3. Assim,<br />

E ainda<br />

<br />

W<br />

<br />

=<br />

<br />

∂W<br />

f2(x,y)<br />

∂F3<br />

∂F3<br />

dxdydz =<br />

∂z D f1(x,y) ∂z dz<br />

<br />

dxdy =<br />

D<br />

[F3(x, y, f2(x, y)) − F3(x, y, f1(x, y))]dxdy.<br />

[(0, 0, F3) · n]ds =<br />

3<br />

<br />

i=1<br />

Si<br />

[(0, 0, F3) · n]ds.<br />

E como, <strong>em</strong> S3 o campo <strong>de</strong> vetores normais unitários é paralelo ao plano xy,<br />

então (0, 0, F3) · n = 0, o que acarreta<br />

<br />

S3<br />

[(0, 0, F3) · n]ds = 0.


1.3 O <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 30<br />

Observe agora que <strong>em</strong> S2 o campo <strong>de</strong> vetores normais que aponta para fora <strong>de</strong><br />

<br />

W é dado por N2 = − ∂f2<br />

<br />

∂f2 , − , 1 , já <strong>em</strong> S1 o campo <strong>de</strong> vetores normais que aponta<br />

∂x ∂y <br />

∂f1 ∂f1<br />

para fora <strong>de</strong> W é dado por N1 = , , −1 . Portanto,<br />

∂x ∂y<br />

<br />

e ainda<br />

S2<br />

<br />

<br />

[(0, 0, F3) · n]ds =<br />

S1<br />

D<br />

<br />

=<br />

<br />

<br />

(0, 0, F3(x, y, f2(x, y))) ·<br />

D<br />

F3(x, y, f2(x, y))dxdy<br />

− ∂f2<br />

∂x<br />

<br />

, −∂f2 , 1 dxdy =<br />

∂y<br />

<br />

<br />

∂f1 ∂f1<br />

[(0, 0, F3) · n]ds = (0, 0, F3(x, y, f1(x, y))) · , , −1 dxdy =<br />

D<br />

∂x ∂y<br />

<br />

= −F3(x, y, f1(x, y))dxdy.<br />

<br />

Assim,<br />

∂W<br />

D<br />

<br />

[(0, 0, F3) · n]ds =<br />

o que garante a valida<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

D<br />

[F3(x, y, f2(x, y)) − F3(x, y, f1(x, y))]dxdy,<br />

Para completar a <strong>de</strong>monstração, observe que se W não for uma região simples,<br />

então po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>compor W <strong>em</strong> uma união finita <strong>de</strong> regiões simples W = n<br />

i=1 Wi, e<br />

usando o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Gauss <strong>em</strong> cada região simples, obt<strong>em</strong>os<br />

<br />

W<br />

divF dxdydz =<br />

n<br />

<br />

i=1<br />

∂Wi<br />

(F · n)ds.<br />

E como os vetores normais exteriores à fronteira comum <strong>de</strong> duas regiões simples<br />

são opostos, então as integrais <strong>de</strong> superfície correspon<strong>de</strong>ntes são simétricas, e portanto se<br />

cancelam. Assim,<br />

n<br />

<br />

i=1<br />

∂Wi<br />

<br />

(F · n)ds =<br />

∂W<br />

(F · n)ds.


2 Formas<br />

2.1 Formas Alternadas<br />

Nesta sessão adaptamos o que é exposto por [11], fazendo uso <strong>de</strong> alguns resul-<br />

tados obtidos <strong>em</strong> [5, 6].<br />

Definição 2.1.1. Seja V um R-espaço vetorial, e <strong>de</strong>note por V k o produto cartesiano<br />

V × · · · × V. Uma função T : V k → R <strong>de</strong>nomina-se multilinear se para cada i, com<br />

1 ≤ i ≤ k, verificam-se<br />

T (v1, · · · , vi + v ′ i, · · · , vk) = T (v1, · · · , vi, · · · , vk) + T (v1, · · · , v ′ i, · · · , vk);<br />

T (v1, · · · , avi, · · · , vk) = aT (v1, · · · , vi, · · · , vk).<br />

Uma função multilinear T : V k → R <strong>de</strong>nomina-se um k-tensor ou tensor <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m k, e o conjunto <strong>de</strong> todos os tensores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k, que <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por T k (V ), será<br />

um espaço vetorial <strong>de</strong>finindo as seguintes operações naturais, para S, T ∈ T k (V )<br />

(S + T )(v1, · · · , vk) = S(v1, · · · , vk) + T (v1, · · · , vk);<br />

(aS)(v1, · · · , vk) = a · S(v1, · · · , vk), para a ∈ R.<br />

Definição 2.1.2. Tomando S ∈ T k (V ) e T ∈ T l (V ), <strong>de</strong>finimos o produto tensorial S⊗T ∈<br />

T k+l (V ) por<br />

S ⊗ T (v1, · · · , vk, vk+1, · · · , vk+l) = S(v1, · · · , vk) · T (vk+1, · · · , vk+l).<br />

O produto tensorial possui as seguintes proprieda<strong>de</strong>s 1 :<br />

1. (S1 + S2) ⊗ T = S1 ⊗ T + S2 ⊗ T<br />

2. S ⊗ (T1 + T2) = S ⊗ T1 + S ⊗ T2<br />

3. (aS) ⊗ T = S ⊗ (aT ) = a(S ⊗ T )<br />

1 Sugerimos a leitura <strong>de</strong> [5] para as <strong>de</strong>monstrações.<br />

31


2.1 Formas Alternadas 32<br />

4. (S ⊗ T ) ⊗ U = S ⊗ (T ⊗ U)<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.1. Sejam β = {v1, · · · , vn} uma base <strong>de</strong> V , e β ∗ = {ϕ1, · · · , ϕn} sua base<br />

dual, on<strong>de</strong> ϕi(vj) = δij. Então o conjunto <strong>de</strong> todos os produtos tensoriais <strong>de</strong> k fatores<br />

ϕi1 ⊗ · · · ⊗ ϕik com 1 ≤ i1, · · · , ik ≤ n<br />

é uma base para T k (V ), e ainda dim(T k (V )) = n k .<br />

D<strong>em</strong>onstração. Primeiramente, observe que<br />

ϕi1 ⊗ · · · ⊗ ϕik (vj1, · · · , vjk ) = δi1j1 · · · δikjk .<br />

Agora, se w1, · · · , wk ∈ V , com wi = n<br />

j=1 aijvj, aij ∈ R e T ∈ T k (V ), então<br />

T (w1, · · · , wk) =<br />

n<br />

j1,··· ,jk=1<br />

a1j1 · · · akjkT (vj1, · · · , vjk ) =<br />

n<br />

i1,··· ,ik=1<br />

T (vi1,··· ,vi k )·ϕi1⊗· · ·⊗ϕik (w1, ..., wk).<br />

Assim T = n<br />

i1,··· ,ik=1 T (vi1, · · · , vik ) · ϕi1 ⊗ · · · ⊗ ϕik . E portanto ϕi1, · · · ϕik geram Tk (V ).<br />

Suponha agora que existam números ai1,··· ,ik<br />

n<br />

i1,··· ,ik=1<br />

tais que<br />

ai1,··· ,ik · ϕi1 ⊗ · · · ⊗ ϕik = 0.<br />

Aplicando ambos os m<strong>em</strong>bros da equação acima a (vj1, · · · , vjk ) obt<strong>em</strong>os que aj1,··· ,jk = 0.<br />

Portanto ϕi1 ⊗· · ·⊗ϕik são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Segue também que dim(Tk (V )) =<br />

n k .<br />

Definição 2.1.3. Uma permutação <strong>de</strong> X é uma bijeção σ : X → X, ou seja, σ ∈ F(X),<br />

on<strong>de</strong> F(X) <strong>de</strong>nota o conjuto das aplicações <strong>de</strong> X <strong>em</strong> si mesmo, <strong>de</strong> forma que para cada<br />

y ∈ X existe um único x ∈ X com σ(x) = y. Por ser uma bijeção, cada permutação σ<br />

admite uma inversa σ −1 , <strong>de</strong>finida pela condição<br />

E naturalmente σ −1 ◦ σ = σ ◦ σ −1 = Id.<br />

σ −1 (y) = x ⇔ σ(x) = y.<br />

Observação 2.1.1. O conjunto das permutações <strong>de</strong> X munido da operação <strong>de</strong> composição<br />

<strong>de</strong> funções forma um grupo, chamado <strong>de</strong> grupo das permutações <strong>de</strong> X, <strong>de</strong>notado por<br />

S(X), e como sab<strong>em</strong>os, se X é um conjunto finito com k el<strong>em</strong>entos, então o número <strong>de</strong><br />

permutações <strong>de</strong> X é k!, isto é, o número <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> S(X) é k!. Portanto, sendo o<br />

conjunto Ik = {1, · · · , k} o conjunto dos inteiros <strong>de</strong> 1 a k, então <strong>de</strong>notando 2 S(Ik) por<br />

Sk, ter<strong>em</strong>os que |Sk| = k!.<br />

2 Este grupo é chamado <strong>de</strong> grupo simétrico <strong>de</strong> k el<strong>em</strong>entos.


2.1 Formas Alternadas 33<br />

Definição 2.1.4. Uma permutação τ ∈ Sn, n ≥ 2, chama-se uma transposição quando<br />

exist<strong>em</strong> inteiros a = b <strong>em</strong> In tais que τ(a) = b, τ(b) = a e τ(i) = i para i ∈ {a, b}. Quando<br />

τ é uma trasposição, t<strong>em</strong>-se τ 2 = Id, isto é, τ −1 = τ.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.2. Toda permutação σ ∈ Sm po<strong>de</strong> ser escrita como um produto σ = τ1 · · · τk<br />

<strong>de</strong> transposições.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Façamos por indução sobre m.<br />

Se m = 2 o resultado é óbvio para qualquer permutação σ ∈ S2. Supomos<br />

então que o resultado esteja <strong>de</strong>monstrado para m − 1, com m > 2, isto é, qualquer<br />

permutação σ ∈ Sm−1 é escrita como um produto <strong>de</strong> transposições. T<strong>em</strong>os assim que, se<br />

por acaso, σ(m) = m, então a restrição <strong>de</strong> σ a Im−1, σ ′ , é uma permutação, e pela hipótese<br />

<strong>de</strong> indução t<strong>em</strong>os que σ ′ = σ|Im−1 é tal que exist<strong>em</strong> transposições τ ′ 1, · · · , τ ′ k ∈ Sm−1 tais<br />

que σ ′ = τ ′ 1 · · · τ ′ k . E como cada transposição τ ′ i ∈ Sm−1 se esten<strong>de</strong> a uma transposição<br />

τi ∈ Sm, com τi(m) = m, então ter<strong>em</strong>os que σ = τ1 · · · τk.<br />

Se porém for σ(m) = n < m, basta consi<strong>de</strong>rar uma transposição τ ∈ Sm, tal<br />

que τ(n) = m, e assim ter<strong>em</strong>os que τσ(m) = m, e portanto τσ = τ1 · · · τk, e pelo fato <strong>de</strong><br />

que τ = τ −1 , segue que σ = ττ1 · · · τk<br />

De fato, tal representação <strong>de</strong> uma transposição não é única, isto é, para uma<br />

dada permutação po<strong>de</strong>m existir várias formas <strong>de</strong> representá-la como um produto <strong>de</strong> trans-<br />

posições. Entretanto afirmamos que a parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> k é única 3 , ou seja, sendo σ = τ1 · · · τk,<br />

on<strong>de</strong> k é par, então qualquer outra representação será formada por um produto <strong>de</strong> n<br />

fatores <strong>de</strong> transposições, com n também par. Isso nos permite a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

Definição 2.1.5. Dir<strong>em</strong>os que uma permutação σ ∈ Sk é par quando ela for o produto<br />

<strong>de</strong> um número par <strong>de</strong> transposições, e ímpar no caso contrário. Usar<strong>em</strong>os o símbolo<br />

sgn(σ) para representar o sinal, ou a parida<strong>de</strong> da permutação: sgn(σ) = 1 se σ for uma<br />

permutação par e sgn(σ) = −1 se σ for ímpar.<br />

De forma resumida t<strong>em</strong>os<br />

⎧<br />

⎨ 1<br />

sgn(σ) =<br />

⎩ −1<br />

se<br />

se<br />

σ<br />

σ<br />

é par<br />

é ímpar<br />

3 Apesar <strong>de</strong> não <strong>de</strong>monstrarmos tal fato, sugerimos [6] como leitura compl<strong>em</strong>entar sobre permutações.


2.1 Formas Alternadas 34<br />

Observação 2.1.2. Not<strong>em</strong>os que, sendo σ e ρ duas permutações, então sgn(σρ) = sgn(σ)sgn(ρ),<br />

e <strong>em</strong> particular, sgn(σ −1 ) = sgn(σ). Além disso, quando τ é uma transposição, então<br />

sgn(τ) = −1.<br />

Definição 2.1.6. Seja ω ∈ T k (V ) um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k. Chamamos ω <strong>de</strong> alternado se,<br />

para todo v1, · · · , vk ∈ V, t<strong>em</strong>-se<br />

ω(v1, · · · , vi, · · · , vj, · · · , vk) = −ω(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk).<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.3. O conjunto <strong>de</strong> todos os tensores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k alternados, <strong>de</strong>notado por<br />

Λ k (V ), é um espaço vetorial <strong>de</strong> T k (V ).<br />

D<strong>em</strong>onstração. Sejam ω, η ∈ Λ k (V ), v1, · · · , vk ∈ V e a ∈ R, então<br />

(a · ω + η)(v1, · · · , vi, · · · , vj, · · · , vk) =<br />

= a · ω(v1, · · · , vi, · · · , vj, · · · , vk) + η(v1, · · · , vi, · · · , vj, · · · , vk) =<br />

= (−1) · a · ω(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk) − η(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk) =<br />

(−1) · a[ω(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk) + η(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk)] =<br />

= −a(ω + η)(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vk).<br />

Definição 2.1.7. Seja T ∈ T k (V ). Definimos Alt(T ) por<br />

Alt(T )(v1, · · · , vk) = 1<br />

k!<br />

<br />

sgn(σ) · T (vσ(1), · · · , vσ(k)).<br />

σ∈Sk<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.4. Se ω ∈ T k (V ), então Alt(ω) ∈ Λ k (V ).<br />

D<strong>em</strong>onstração. Seja τ uma transposição <strong>de</strong> i e j. Se σ ∈ Sk, seja σ ′ = σ · τ, então,<br />

= 1<br />

k!<br />

= 1<br />

k!<br />

= 1<br />

k!<br />

<br />

σ∈Sk<br />

<br />

σ ′ ∈Sk<br />

Alt(ω)(v1, · · · , vj, · · · , vi, · · · , vn) =<br />

<br />

sgn(σ) · ω(vσ(1), · · · , vσ(j), · · · , vσ(i),··· ,v ) =<br />

σ(k)<br />

σ∈Sk<br />

sgn(σ) · ω(vσ ′ (1), · · · , vσ ′ (i), · · · , vσ ′ (j), · · · , vσ ′ (k)) =<br />

−sgn(σ ′ ) · ω(vσ ′ (1), · · · , vσ ′ (k)) = −Alt(ω)(v1, · · · , vn).


2.1 Formas Alternadas 35<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.5. Se ω ∈ Λ k (V ), então Alt(ω) = ω.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Consi<strong>de</strong>re uma tranposição τ <strong>de</strong> i e j, e ω ∈ Λ k (V ). Observe que<br />

ω(vτ(1), · · · , vτ(k)) = sgn(τ) · ω(v1, · · · , vk).<br />

Pelo fato <strong>de</strong> que toda permutação é um produto <strong>de</strong> transposições, segue que<br />

Alt(ω)(v1, · · · , vk) = 1<br />

k!<br />

= 1<br />

k!<br />

<br />

sgn(σ) · ω(vσ(1), · · · , vσ(k)) =<br />

σ∈Sk<br />

<br />

sgn(σ) · sgn(σ) · ω(v1, · · · , vk) = ω(v1, · · · , vk).<br />

σ∈Sk<br />

Corolário 2.1.1. Se T ∈ T k (V ), então Alt(Alt(T )) = Alt(T ).<br />

Definição 2.1.8. Sejam ω ∈ Λ k (V ) e η ∈ Λ l (V ). Definimos a operação ω ∧ η ∈ Λ k+l (V ),<br />

chamada <strong>de</strong> produto exterior, como sendo<br />

ω ∧ η =<br />

(k + l)!<br />

Alt(ω ⊗ η).<br />

k!l!<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.6. Sejam S ∈ T k (V ), T ∈ T l (V ). Se Alt(S) = 0, então Alt(S ⊗ T ) =<br />

Alt(T ⊗ S) = 0.<br />

D<strong>em</strong>onstração.<br />

Alt(S ⊗ T ) =<br />

=<br />

1<br />

(k + l)!<br />

1<br />

(k + l)!<br />

<br />

σ∈Sk+l<br />

<br />

σ∈Sk+l<br />

sgn(σ)S ⊗ T (vσ(1), · · · , vσ(k), vσ(k+1), · · · , vσ(k+l)) =<br />

sgn(σ)S(vσ(1), · · · , vσ(k)) · T (vσ(k+1), · · · , vσ(k+l)).<br />

Se σ ∈ G ⊂ Sk+l, on<strong>de</strong> G <strong>de</strong>nota o conjunto das permutações <strong>de</strong> Sk+l que mantém todos<br />

os k + 1, · · · , k + l fixos, então<br />

=<br />

1<br />

(k + l)!<br />

<br />

σ∈Sk+l<br />

sgn(σ)S(vσ(1), · · · , vσ(k)) · T (vσ(k+1), · · · , vσ(k+l)) =<br />

<br />

<br />

1 <br />

sgn(σ)S(vσ(1), · · · , vσ(k)) · T (vk+1, · · · , vk+l) =<br />

(k + l)!<br />

σ∈G<br />

Alt(S) · T (vk+1, · · · , vk+l) = 0.<br />

Se porém σ0 ∈ G, <strong>de</strong>fina G · σ0 = {σ · σ0 : σ ∈ G}, e seja<br />

vσ0(1), · · · , vσ0(k+l) = w1, · · · , wk+l,


2.1 Formas Alternadas 36<br />

então<br />

=<br />

<br />

1<br />

(k + l)!<br />

sgn(σ0) ·<br />

<br />

σ∈G·σ0<br />

1<br />

(k + l)!<br />

sgn(σ) · S(vσ(1), · · · , vσ(k)) · T (vσ(k+1), · · · , vσ(k+l)) =<br />

<br />

σ ′ ∈G<br />

sgn(σ ′ ) · S(wσ ′ (1), · · · , wσ ′ (k))<br />

= Alt(S) · T (wk+1, · · · , wk+l) = 0.<br />

<br />

· T (wk+1, · · · , wk+l) =<br />

A <strong>de</strong>montração <strong>de</strong> que Alt(T ⊗ S) = 0 se faz <strong>de</strong> forma similar.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.7. Sejam ω ∈ Λ k (V ), η ∈ Λ l (V ) e θ ∈ Λ m (V ), então Alt(Alt(ω ⊗ η) ⊗ θ) =<br />

Alt(ω ⊗ η ⊗ θ) = Alt(ω ⊗ Alt(η ⊗ θ)).<br />

D<strong>em</strong>onstração. Observe que<br />

logo, pelo teor<strong>em</strong>a anterior,<br />

Então<br />

Alt(Alt(η ⊗ θ) − η ⊗ θ) = Alt(η ⊗ θ) − Alt(η ⊗ θ) = 0,<br />

0 = Alt(ω[Alt(η ⊗ θ) − η ⊗ θ]) =<br />

= Alt(ω ⊗ Alt(η ⊗ θ)) − Alt(ω ⊗ η ⊗ θ).<br />

Alt(Alt(ω ⊗ η) ⊗ θ) = Alt(ω ⊗ η ⊗ θ).<br />

O caso Alt(ω ⊗ Alt(η ⊗ θ)) = Alt(ω ⊗ η ⊗ θ) se prova <strong>de</strong> forma similar.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.1.8. Sejam ω ∈ Λ k (V ), η ∈ Λ l (V ) e θ ∈ Λ m (V ), então (ω ∧ η) ∧ θ =<br />

ω ∧ (η ∧ θ) = (k+l+m)!<br />

Alt(ω ⊗ η ⊗ θ).<br />

k!l!m!<br />

D<strong>em</strong>onstração.<br />

= (k + l + m)!<br />

(k + l)!m!<br />

(ω ∧ η) ∧ θ =<br />

· (k + l)!<br />

k!l!<br />

(k + l + m)!<br />

Alt((ω ∧ η) ⊗ θ) =<br />

(k + l)!m!<br />

(k + l + m)!<br />

Alt(ω ⊗ η ⊗ θ) = Alt(ω ⊗ η ⊗ θ).<br />

k!l!m!<br />

De fato, o que acabamos <strong>de</strong> mostrar é que vale a associativida<strong>de</strong><br />

ω ∧ (η ∧ θ) = (ω ∧ η) ∧ θ = ω ∧ η ∧ θ. (2.1)


2.2 Formas Diferenciais 37<br />

E <strong>de</strong> forma geral, t<strong>em</strong>os o produto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m superior<br />

ω1 ∧ · · · ∧ ωr =<br />

r<br />

ωi. (2.2)<br />

i=1<br />

Uma das principais razões <strong>de</strong> estudar as formas alternadas trata-se <strong>de</strong> analisar<br />

a estrutura da função <strong>de</strong>terminante, o que não far<strong>em</strong>os neste trabalho, pelo fato <strong>de</strong> o<br />

mesmo ter outro objetivo. Os resultados apresentados até aqui serão suficientes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do que se segue. Entretanto sugerimos a leitura das referências [5, 6, 9]<br />

para estudos mais aprofundados sobre o t<strong>em</strong>a.<br />

2.2 Formas Diferenciais<br />

Nesta sessão ir<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir as chamadas k−formas diferenciais <strong>em</strong> R n , genera-<br />

lizando a idéia que primeiramente apresentar<strong>em</strong>os para 1−formas <strong>em</strong> R 3 . Os resultados<br />

são adaptados principalmente pelo que é exposto pela referência [3].<br />

Convencionar<strong>em</strong>os que a partir <strong>de</strong>sta sessão, quando dissermos que uma aplicação<br />

é diferenciável, estar<strong>em</strong>os nos fererindo à uma aplicação <strong>de</strong> classe C ∞ , e <strong>de</strong>ssa forma não<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os confundir o termo com seu significado no cálculo usual.<br />

Definição 2.2.1. Consi<strong>de</strong>re p um ponto <strong>de</strong> R 3 . O conjunto dos vetores q −p, para q ∈ R 3 ,<br />

será chamado espaço tangente <strong>de</strong> R 3 <strong>em</strong> p, e será <strong>de</strong>notado por R 3 p.<br />

Observação 2.2.1. L<strong>em</strong>brando que o conjunto dos vetores e1, e2, e3 formam a base canônica<br />

<strong>de</strong> R 3 , e como po<strong>de</strong>mos representar R 3 por R 3 0, segue que o conjunto {(e1)p, (e2)p, (e3)p}<br />

forma uma base para o espaço tangente R 3 p, <strong>de</strong>notando um el<strong>em</strong>ento v ∈ R 3 p por vp. Este<br />

resultado será generalizado para um espaço tangente <strong>em</strong> R n .<br />

Definição 2.2.2. Um campo <strong>de</strong> vetores <strong>em</strong> R 3 é um aplicação κ, que associa a cada ponto<br />

p ∈ R 3 um vetor κ(p) ∈ R 3 p. Po<strong>de</strong>mos escrever κ como<br />

on<strong>de</strong> a1, a2 e a3 são funções <strong>de</strong> R 3 <strong>em</strong> R.<br />

κ(p) = a1(p)e1 + a2(p)e2 + a3(p)e3,<br />

Dir<strong>em</strong>os que um campo vetorial κ é diferenciável se cada função ai : R 3 → R,<br />

i = 1, 2, 3, for diferenciável.


2.2 Formas Diferenciais 38<br />

Para cada espaço tangente R 3 p po<strong>de</strong>mos associar o seu espaço dual, <strong>de</strong>notado<br />

por (R 3 p) ∗ . Explicitamente,<br />

(R 3 p) ∗ = {ϕ : R 3 p → R | ϕ é linear}.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.2.1. Consi<strong>de</strong>re a base canônica {(e1)p, (e2)p, (e3)p} <strong>de</strong> R 3 p. Defina a aplicação<br />

xi por<br />

para i = 1, 2, 3, on<strong>de</strong> x = (x1, x2, x3).<br />

1, 2, 3}.<br />

xi : R 3 → R<br />

x ↦→ xi,<br />

Nestas condições, o conjunto {(dxi)p; i = 1, 2, 3} será a base dual <strong>de</strong> {(ei)p; i =<br />

D<strong>em</strong>onstração. De fato, basta observar que<br />

(dxi)p(ej) = ∂xi<br />

⎧<br />

⎨ 1<br />

=<br />

∂xj ⎩ 0<br />

se<br />

se<br />

i = j;<br />

i = j.<br />

Definição 2.2.3. Uma forma exterior <strong>de</strong> grau 1 <strong>em</strong> R 3 é uma aplicação ω, que associa a<br />

cada ponto p ∈ R 3 um el<strong>em</strong>ento ω(p) ∈ (R 3 p) ∗ . Pelo teor<strong>em</strong>a anterior, po<strong>de</strong>mos representar<br />

uma forma exterior <strong>de</strong> grau 1 como<br />

ω(p) = a1(p)dx1 + a2(p)dx2 + a3(p)dx3 =<br />

3<br />

ai(p)dxi.<br />

Omitindo (p) na expressão, obt<strong>em</strong>os simplesmente a forma ω = 3<br />

i=1 aidxi.<br />

Definição 2.2.4. Consi<strong>de</strong>re a forma exterior ω = 3<br />

i=1 aidxi. Se cada aplicação ai : R 3 →<br />

R, i = 1, 2, 3, for diferenciável, ω é dita uma forma diferencial <strong>de</strong> grau 1.<br />

Definição 2.2.5. Sejam ϕ1, ϕ2 ∈ (R 3 p) ∗ . Definimos a operação ϕ1 ∧ ϕ2 ∈ Λ 2 (R 3 p) ∗ por<br />

(ϕ1 ∧ ϕ2)(v1, v2) = <strong>de</strong>t (ϕi(vj)) .<br />

O el<strong>em</strong>ento (dxi)p ∧ (dxj)p ∈ Λ 2 (R 3 p) ∗ será <strong>de</strong>notado por (dxi ∧ dxj)p. Além disso, t<strong>em</strong>os<br />

<strong>em</strong> particular que (dxi ∧ dxj)p = −(dxj ∧ dxi)p, e (dxi ∧ dxi)p = 0.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.2.2. O conjunto {(dxi ∧ dxj)p; i < j}, com i, j = 1, 2, 3, é uma base para<br />

Λ 2 (R 3 p) ∗ .<br />

i=1


2.2 Formas Diferenciais 39<br />

Far<strong>em</strong>os a <strong>de</strong>monstração do caso geral <strong>de</strong>ste teor<strong>em</strong>a (teor<strong>em</strong>a 2.2.3).<br />

Definição 2.2.6. Um campo <strong>de</strong> formas bilineares ou forma exterior <strong>de</strong> grau 2 <strong>em</strong> R 3 , é<br />

uma correspondência ω que associa a cada p ∈ R 3 um el<strong>em</strong>ento ω(p) ∈ Λ 2 (R 3 p).<br />

Pelo teor<strong>em</strong>a (2.2.2) po<strong>de</strong>mos escrever uma forma exterior ω como<br />

ω(p) = a12(p)(dx1 ∧ dx2)p + a13(p)(dx1 ∧ dx3)p + a23(p)(dx2 ∧ dx3)p, (2.3)<br />

ou simplesmente, por omissão <strong>de</strong> p, ω = <br />

i


2.2 Formas Diferenciais 40<br />

D<strong>em</strong>onstração. Inicialmente, not<strong>em</strong>os que dxi1 ∧· · ·∧dxik são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

pois tomando ai1,··· ,ik , i1 < i2 < · · · < ik, ij ∈ {i, · · · , n} <strong>de</strong> forma que<br />

<br />

i1


2.2 Formas Diferenciais 41<br />

Denotando por I a k−úpla (i1, · · · , ik), então com o intuito <strong>de</strong> simplificar a<br />

notação, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>notar uma k−forma diferencial ω por<br />

ω = <br />

aIdxI. (2.7)<br />

I<br />

Por convenção, <strong>de</strong>finir<strong>em</strong>os que uma 0−forma diferencial <strong>em</strong> R n será uma<br />

aplicação diferenciável f : R n → R.<br />

A partir <strong>de</strong> agora, por simplicida<strong>de</strong>, chamar<strong>em</strong>os uma k−forma diferencial<br />

simplesmente por uma k−forma, e o nosso objetivo será <strong>de</strong>finir algumas operações envol-<br />

vendo tais formas, e estudar suas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Definição 2.2.11. Sejam ω e η duas k−formas <strong>em</strong> R n . Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a soma ω + η<br />

como,<br />

ω + η = <br />

aIdxI + <br />

bIdxI = <br />

(aI + bI)dxI<br />

I<br />

I<br />

Definição 2.2.12. Sejam ω uma k−forma e ϕ uma s−forma. Definimos o produto exte-<br />

rior <strong>de</strong> formas diferenciais ω ∧ ϕ como<br />

ω ∧ ϕ = <br />

aIbJdxI ∧ dxJ,<br />

IJ<br />

on<strong>de</strong> ω = <br />

I aIdxI, I = (i1, · · · , ik), com i1 < · · · < ik, e ϕ = <br />

J bJdxJ, J = (ii, · · · , ij),<br />

i1 < · · · < ij.<br />

Observação 2.2.3. De acordo com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> produto exterior, po<strong>de</strong>mos ter uma<br />

k−forma ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk, on<strong>de</strong> cada ϕi é uma 1−forma, para i = 1, · · · , k, l<strong>em</strong>brando<br />

que ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk(v1, · · · , vk) = <strong>de</strong>t(ϕi(vj))<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.2.4. Sejam ω uma k−forma, ϕ uma s−forma, e θ uma r−forma, então,<br />

(i) (ω ∧ ϕ) ∧ θ = ω ∧ (ϕ ∧ θ);<br />

(ii) (ω ∧ ϕ) = (−1) ks (ϕ ∧ ω);<br />

(iii) ω ∧ (ϕ + θ) = ω ∧ ϕ + ω ∧ θ, se r = s.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Sejam ω = <br />

I aIdxI, I = (i1, · · · , ik), i1 < · · · < ik, ϕ = <br />

J bJdxJ,<br />

J = (j1, · · · , js), com j1 < · · · < js e θ = <br />

L cLdxL, L = (i1, · · · , il), com i1 < · · · < il.<br />

(i)<br />

<br />

<br />

(ω ∧ ϕ) ∧ θ = aIbJdxI ∧ dxJ ∧ θ = <br />

aIbJcLdxI ∧ dxJ ∧ dxL =<br />

IJ<br />

IJL<br />

I


2.2 Formas Diferenciais 42<br />

<br />

<br />

= ω ∧ bJcLdxJ ∧ dxL = ω ∧ (ϕ ∧ θ).<br />

(ii)<br />

JL<br />

ω ∧ ϕ = <br />

aIbJdxi1 ∧ · · · ∧ dxik ∧ dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs =<br />

IJ<br />

= <br />

aIbJ(−1)dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 ∧ dxj1 ∧ dxik ∧ · · · ∧ dxjs =<br />

IJ<br />

= <br />

bJaI(−1) k dxj1 ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik ∧ dxj2 ∧ · · · ∧ dxjs.<br />

IJ<br />

Proce<strong>de</strong>ndo indutivamente obt<strong>em</strong>os, pelo fato <strong>de</strong> J possuir s el<strong>em</strong>entos,<br />

ω ∧ ϕ = <br />

bJaI(−1) ks dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik = (−1)ksϕ ∧ ω.<br />

JI<br />

(iii) Se r = s, a operação ϕ + θ está <strong>de</strong>finida, e<br />

Portanto,<br />

ϕ + θ = <br />

bJdxJ + <br />

cJdxJ = <br />

(bJ + cJ)dxJ.<br />

J<br />

J<br />

ω ∧ (ϕ + θ) = <br />

aIdxI ∧ <br />

(bJ + cJ)dxJ = <br />

aI(bJ + CJ)dxI ∧ dxJ =<br />

I<br />

J<br />

= <br />

aIbJdxI ∧ dxJ + <br />

aIcJdxI ∧ dxJ = (ω ∧ ϕ) + (ω ∧ θ).<br />

IJ<br />

IJ<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os uma aplicação diferenciável f : R n → R m . Então f induz uma<br />

aplicação f ∗ que associa uma k−forma <strong>em</strong> R n à uma k−forma <strong>em</strong> R m , pela seguinte<br />

<strong>de</strong>finição.<br />

Definição 2.2.13. Sejam f : R n → R m uma aplicação diferenciável e ω uma k−forma<br />

<strong>em</strong> R n . Definimos a aplicação f ∗ ω por<br />

(f ∗ ω)(p)(v1. · · · , vk) = ω(f(p))(dfp(v1), · · · , dfp(vk)),<br />

on<strong>de</strong> p ∈ Rn , v1, · · · , vk ∈ Rn p e dfp : Rn p → Rm f(p) é a diferencial da aplicação f <strong>em</strong> p.<br />

Observação 2.2.4. Por convenção, quando g é uma 0−forma, <strong>de</strong>finimos a aplicação f ∗ (g)<br />

como a composta g ◦ f.<br />

Sejam f : R n → R m uma aplicação diferenciável, ω e ϕ k−formas <strong>em</strong> R m e<br />

g : R m → R uma 0−forma. Assumir<strong>em</strong>os as seguintes proprieda<strong>de</strong>s, cuja <strong>de</strong>monstração<br />

po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>em</strong> [3].<br />

J<br />

IJ


2.2 Formas Diferenciais 43<br />

(i) f ∗ (ω + ϕ) = f ∗ ω + f ∗ ϕ;<br />

(ii) f ∗ (gω) = f ∗ (g)f ∗ (ω);<br />

(iii) se ϕ1, · · · , ϕk são 1−formas <strong>em</strong> R m , então f ∗ (ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk) = f ∗ (ϕ1) ∧ · · · ∧ f ∗ (ϕk).<br />

Definição 2.2.14. Seja g : Rn → R uma 0−forma, então a diferencial<br />

n ∂g<br />

dg = dxi<br />

∂xi<br />

é uma 1−forma.<br />

i=1<br />

Definição 2.2.15. Seja ω = <br />

I aIdxI uma k−forma <strong>em</strong> R n . A diferencial exterior dω,<br />

<strong>de</strong> ω, é <strong>de</strong>finida por<br />

dω = <br />

daI ∧ dxI.<br />

I<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 2.2.5. Sejam ω1, ω2 k−formas <strong>em</strong> R m e ϕ uma s−forma <strong>em</strong> R m . Então,<br />

(i) d(ω1 + ω2) = dω1 + dω2;<br />

(ii) d(ω ∧ ϕ) = dω ∧ ϕ + (−1) k ω ∧ dϕ;<br />

(iii) d(dω) = d 2 ω = 0;<br />

(iv) d(f ∗ ω) = f ∗ (dω), on<strong>de</strong> f : R n → R m é uma aplicação diferenciável.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Provar<strong>em</strong>os somente as afirmações (ii) e (iii)<br />

(ii)<br />

<br />

<br />

d(ω ∧ ϕ) = d aIbJdxI ∧ dxJ = <br />

d(aIbJ) ∧ dxI ∧ dxJ = <br />

bJdaI ∧ dxI ∧ dxJ+<br />

IJ<br />

+ <br />

aIdbJ ∧ dxI ∧ dxJ = dω ∧ ϕ + (−1)<br />

IJ<br />

IJ<br />

k <br />

IJ<br />

IJ<br />

aIdxI ∧ dbJ ∧ dxJ = dω ∧ ϕ + (−1) k ω ∧ dϕ.<br />

(iii) Assuma primeiramente que ω seja uma 0−forma, isto é, ω é uma função f : R n → R<br />

que associa cada ponto (x1, · · · , xn) ∈ Rn ao valor f(x1, · · · , xn) ∈ R. Então,<br />

<br />

n<br />

<br />

n<br />

<br />

n<br />

<br />

n<br />

∂f<br />

∂f<br />

∂<br />

d(df) = d dxj = d ∧ dxj =<br />

∂xj<br />

∂xj<br />

2 <br />

f<br />

dxi ∧ dxj .<br />

∂xi∂xj<br />

j=1<br />

j=1<br />

Pela hipótese <strong>de</strong> f ser uma 0−forma, segue que<br />

j=1<br />

i=1<br />

∂2f ∂xi∂xj = ∂2f ∂xj∂xi<br />

dxi ∧ dxj = −dxj ∧ dxi, quando x = j, t<strong>em</strong>os<br />

d(df) = <br />

2 ∂ f<br />

−<br />

∂xi∂xj<br />

∂2 <br />

f<br />

dxi ∧ dxj = 0.<br />

∂xj∂xi<br />

i


2.2 Formas Diferenciais 44<br />

Consi<strong>de</strong>re agora o caso <strong>em</strong> que ω = <br />

I aIdxI. Pela afirmação (i), po<strong>de</strong>mos<br />

restringir ao caso <strong>em</strong> que ω = aIdxI, com aI = 0. E por (ii), segue dω = daI ∧ dxI +<br />

aId(dxI).<br />

Mas observe que d(dxI) = d(1) ∧ dxI = 0. Portanto,<br />

d(dω) = d(daI ∧ dxI) = d(daI) ∧ dxI + daI ∧ d(dxI) = 0,<br />

l<strong>em</strong>brando que d(daI) = d(dxI) = 0.


3 Integração <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s<br />

Neste capítulo ir<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir as varieda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> R n , e utilizar dos conceitos<br />

estudados no capítulo anterior para estabelecer a noção <strong>de</strong> integral <strong>de</strong> uma k−forma <strong>em</strong><br />

R n . Posteriormente, para a <strong>de</strong>monstração do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, ir<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir a integral<br />

<strong>de</strong> uma k−forma <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável.<br />

3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis<br />

No capítulo 1 vimos o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> para aplicações <strong>em</strong> R 2 e R 3 , que nos<br />

forneceu a seguinte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<br />

S<br />

<br />

(rotF · n)ds =<br />

∂S<br />

45<br />

F · dr, (3.1)<br />

on<strong>de</strong> S é uma superfície <strong>em</strong> R 3 . Para a generalização <strong>de</strong>ste teor<strong>em</strong>a, precisar<strong>em</strong>os esten<strong>de</strong>r<br />

o conceito <strong>de</strong> superfície para dimensões maiores, que são as chamadas varieda<strong>de</strong>s.<br />

Intuitivamente, uma varieda<strong>de</strong> é a generalização <strong>de</strong> curvas e superfícies para<br />

dimensões arbitrariamente gran<strong>de</strong>s, e como a maioria dos conceitos mat<strong>em</strong>áticos, sua<br />

formalização não foi fruto da pesquida <strong>de</strong> apenas um, mas <strong>de</strong> vários mat<strong>em</strong>áticos durante<br />

muitos anos.<br />

Alguns mat<strong>em</strong>áticos como Ri<strong>em</strong>ann e Gauss figuram entre os principais nomes<br />

que contribuíram para a formalização do conceito <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>. Em especial, o termo ma-<br />

nifold 1 é uma tradução direta (para o inglês) da palavra <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> al<strong>em</strong>ã Mannigfaltigkeit,<br />

utilizada por Ri<strong>em</strong>ann <strong>em</strong> seu trabalho pioneiro intituado<br />

Über die Hypothesen, welche<br />

<strong>de</strong>r Geometrie zu Grun<strong>de</strong> liegen (Sobre as Hipóteses Subjacentes aos Fundamentos da<br />

Geometria).<br />

Ir<strong>em</strong>os agora <strong>de</strong>finir o conceito <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> diferenciável, b<strong>em</strong> como mostrar<br />

aluns teor<strong>em</strong>as envolvendo tal conceito. Os resultados apresentados nesta sessão foram<br />

adaptados das referências [3, 9, 11].<br />

1 Utilizamos como tradução não literal a palavra varieda<strong>de</strong>, para manifold, como é usualmente feito<br />

na literatura nacional.


3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis 46<br />

Definição 3.1.1. Seja I um conjunto, cujos el<strong>em</strong>entos α chamar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> índices. Dado<br />

um conjunto U, uma família <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> U com índices <strong>em</strong> I é uma função u : I → U.<br />

O valor <strong>de</strong> u no ponto α ∈ I será indicado com o símbolo uα. A família u é representada<br />

pela notação (uα)α∈I, ou simplesmente uα, quando não houver dúvidas sobre o conjunto<br />

I.<br />

Definição 3.1.2. Uma varieda<strong>de</strong> diferenciável n−dimensional, ou simplesmente uma<br />

n−varieda<strong>de</strong>, é um conjunto M munido com uma família <strong>de</strong> aplicações injetivas fα :<br />

Uα ⊂ R n → M, <strong>de</strong> abertos Uα <strong>em</strong> M, tais que<br />

(m1) <br />

α fα (Uα) = M;<br />

(m2) Para cada par α, β, com fα(Uα) ∩ fβ(Uβ) = W = ∅, os conjuntos f −1<br />

α (W ) e f −1<br />

(W )<br />

são abertos <strong>em</strong> R n , e as aplicações f −1<br />

β ◦ fα, f −1<br />

α ◦ fβ são diferenciáveis;<br />

Definição 3.1.3. O par (Uα, fα), com p ∈ fα(Uα), é chamado uma parametrização, ou<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> M <strong>em</strong> p. E fα(Uα) é chamada uma vizinhança coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong><br />

p.<br />

Definição 3.1.4. Uma família (fα, Uα) que goza das proprieda<strong>de</strong>s (m1) e (m2) é chamada<br />

uma estrutura diferenciável <strong>em</strong> M.<br />

Segue imediatamente da <strong>de</strong>finição que o próprio conjunto R n é uma varieda<strong>de</strong><br />

diferenciável <strong>de</strong> dimensão n, assim como todo subconjunto aberto A ⊂ R n .<br />

Observando a <strong>de</strong>finição (3.1.5) <strong>de</strong> superfície regular no R 3 dada por [2], segue<br />

que uma superfície regular no R 3 é uma varieda<strong>de</strong> diferenciável <strong>de</strong> dimensão 2.<br />

Definição 3.1.5. Um subconjunto S ⊂ R 3 é uma superfície regular se, para cada p ∈ S,<br />

existe uma vizinhança V <strong>de</strong> p <strong>em</strong> R 3 e uma aplicação x : U → V ∩ S <strong>de</strong> um aberto U <strong>de</strong><br />

R 2 sobre V ∩ S ⊂ R 3 tais que,<br />

(i) x é diferenciável;<br />

(ii) x é um homeomorfismo 2 ;<br />

(iii) Para todo q ∈ U, a diferencial dxq : R 2 → R 3 é injetiva.<br />

2 Significa que a aplicação é contínua e possui inversa também contínua.<br />

β


3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis 47<br />

Observação 3.1.1. Assumir<strong>em</strong>os a partir <strong>de</strong> agora que todas as varieda<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas<br />

serão <strong>de</strong> Hausdorff, e possuirão base enumerável 3 . E com o intuito <strong>de</strong> simplificar a notação,<br />

ir<strong>em</strong>os nos referir na maioria das vezes à uma varieda<strong>de</strong> diferenciável n−dimensional M<br />

simplesmente por M n , on<strong>de</strong> o expoente n indicará sua dimensão.<br />

Definição 3.1.6. Sejam M n 1 e M m 2 varieda<strong>de</strong>s diferenciáveis. Uma aplicação ϕ : M n 1 →<br />

M m 2 é diferenciável no ponto p ∈ M n 1 se, dada uma parametrização g : V ⊂ R m → M m 2<br />

<strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> ϕ(p), existe uma parametrização f : U ⊂ R n → M n 1 <strong>em</strong> uma<br />

vizinhança <strong>de</strong> p, tal que, ϕ(f(U)) ⊂ g(V ), e a aplicação g −1 ◦ ϕ ◦ f :⊂ R n → R m é<br />

diferenciável <strong>em</strong> f −1 (p).<br />

Naturalmente, dir<strong>em</strong>os que a aplicação ϕ é diferenciável <strong>em</strong> algum aberto <strong>de</strong><br />

M n 1 se é diferenciável <strong>em</strong> todos os pontos <strong>de</strong>ste conjunto.<br />

Precisamos agora <strong>de</strong>finir os conceitos <strong>de</strong> curva diferenciável e vetor tangente<br />

<strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável, para po<strong>de</strong>r esten<strong>de</strong>r os conceitos usuais do cálculo <strong>em</strong><br />

superfícies no R 3 .<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> curva diferenciável.<br />

Definição 3.1.7. Uma curva diferenciável parametrizada é uma aplicação diferenciável<br />

α : I → R n <strong>de</strong> um intervalo aberto I = (−ε, ε) da reta real R <strong>em</strong> R n .<br />

Observação 3.1.2. A palavra diferenciável na <strong>de</strong>finição acima significa que α é uma cor-<br />

respondência que leva cada t ∈ I <strong>em</strong> um ponto (x1(t), · · · , xn(t)) ∈ R n , <strong>de</strong> modo que as<br />

funções reais x1, · · · , xn são diferenciáveis.<br />

o caso <strong>em</strong> que o intervalo I = (−∞, ∞).<br />

É importante notar ainda que não excluímos<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os a aplicação α : (−ε, ε) → R n , que <strong>de</strong>screve uma curva dife-<br />

renciável <strong>em</strong> R n , com α(0) = p ∈ R n , e escrev<strong>em</strong>os<br />

α(t) = (x1(t), · · · , xn(t)), t ∈ (−ε, ε), (x1, · · · , xn) ∈ R n .<br />

Então α ′ (0) = (x ′ 1(0), · · · , x ′ n(0)) = v ∈ R n . Consi<strong>de</strong>re agora uma função<br />

ϕ : R n → R, diferenciável <strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> p. Dessa forma a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> ϕ na<br />

direção <strong>de</strong> v, no ponto p é dada por<br />

d<br />

dt (ϕ ◦ α) t=0 =<br />

n ∂ϕ<br />

i=1<br />

∂xi<br />

3 Tais <strong>de</strong>finições encontram-se no apêmdice B.<br />

<br />

dxi <br />

n<br />

= x<br />

dt t=0<br />

i=1<br />

′ i(0) ∂<br />

<br />

ϕ. (3.2)<br />

∂xi


3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis 48<br />

Portanto, a <strong>de</strong>rivada direcional na direção do vetor v é um operador sobre<br />

funções diferenciáveis que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> v. Por meio <strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>finir o conceito <strong>de</strong> vetor tangente à uma varieda<strong>de</strong> e, posteriormente <strong>de</strong>finir um espaço<br />

tangente à uma varieda<strong>de</strong> diferenciável.<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os um varieda<strong>de</strong> diferenciável M n e D o conjunto das funções <strong>em</strong><br />

M n que são diferenciáveis <strong>em</strong> p, e escolha uma parametrização f : U ⊂ R n → M n <strong>em</strong><br />

uma vizinhança <strong>de</strong> p = f(0, · · · , 0). Então a curva α : I → M n , e uma função ϕ ∈ D<br />

po<strong>de</strong>m ser escritas respectivamente como<br />

Então, por (3.2) po<strong>de</strong>mos escrever<br />

f −1 ◦ α(t) = (x1(t), · · · , xn(t));<br />

ϕ ◦ f(q) = ϕ(x1, · · · , xn), q = (x1, · · · , xn).<br />

α ′ (0)ϕ = d<br />

dt (ϕ ◦ α) t=0 = d<br />

dt ϕ(x1(t), · · · , xn(t)) t=0 =<br />

n<br />

i=1<br />

x ′ <br />

∂<br />

i(0) ϕ. (3.3)<br />

∂xi 0 0<br />

Logo o vetor tangente α ′ (0) <strong>em</strong> p po<strong>de</strong> ser escrito como<br />

α ′ n<br />

(0) = x ′ <br />

∂<br />

i(0) . (3.4)<br />

∂xi 0<br />

i=1<br />

Estas consi<strong>de</strong>rações feitas anteriormente serv<strong>em</strong> para po<strong>de</strong>rmos observar que,<br />

chamando <strong>de</strong> TpM ao espaço tangente <strong>em</strong> p <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M, então<br />

a escolha <strong>de</strong> uma parametrização ao redor <strong>de</strong> p servirá para <strong>de</strong>terminar uma base para<br />

TpM, que <strong>de</strong> fato será um espaço vetorial. Detalhes a respeito <strong>de</strong>sta construção po<strong>de</strong>m<br />

ser encontrados na referência [3].<br />

De forma resumida, assumir<strong>em</strong>os a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

Definição 3.1.8. Seja M n uma varieda<strong>de</strong> diferenciável e p ∈ M n . Chamar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> espaço<br />

tangente a M n <br />

<br />

<strong>em</strong> p ao conjunto TpM. E a base ; i = 1, · · · , n para TpM será<br />

chamada base associada à parametrização f.<br />

∂<br />

∂xi<br />

Agora que <strong>de</strong>finimos o espaço tangente à uma varieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a<br />

diferencial <strong>de</strong> uma aplicação ϕ : M n 1 → M m 2 , utilizando <strong>de</strong>stes conceitos.<br />

Definição 3.1.9. Sejam M n 1 e M m 2 varieda<strong>de</strong>s diferenciáveis, e ϕ : M n 1 → M m 2 uma<br />

aplicação diferenciável. Para cada p ∈ M n 1 , a diferencial <strong>de</strong> ϕ <strong>em</strong> p é a aplicação linear<br />

dϕp : TpM n 1 → Tϕ(p)M m 2 ,<br />

0


3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis 49<br />

que associa cada vetor v ∈ TpM n 1 ao vetor dϕp(0) ∈ Tϕ(p)M m 2 , que é <strong>de</strong>finida escolhendo<br />

uma curva diferenciável α : (−ε, ε) → M n 1 , com α ′ (0) = v, o que nos permite a repre-<br />

sentação<br />

dϕp(v) = (ϕ ◦ α) ′ (0).<br />

Observe que para fazer sentido a <strong>de</strong>finição (3.1.9), ela t<strong>em</strong> que ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da escolha <strong>de</strong> α. E este resultado é garantido pelo seguinte teor<strong>em</strong>a.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.1.1. Na <strong>de</strong>finição (3.1.9), dado v ∈ TpM n 1 , o vetor dϕp(v) = (ϕ ◦ α) ′ (0) não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha <strong>de</strong> α.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Sejam f1(x1, · · · , xn) e f2(y1, · · · , yn) parametrizações <strong>em</strong> vizinhanças <strong>de</strong><br />

p e ϕ(p), respectivamente, e suponha que ϕ seja expressa nestas coor<strong>de</strong>nadas por<br />

ϕ(x1, · · · , xn) = (ϕ1(x), · · · , ϕn(x)), on<strong>de</strong> x = (x1, · · · , xn).<br />

Consi<strong>de</strong>re α(t) = (x1(t), · · · , xn(t)), t ∈ (−ε, ε). Dessa forma obt<strong>em</strong>os,<br />

(ϕ ◦ α)(t) = ϕ(x1(t), · · · , xn(t)) = (ϕ1(x1(t), · · · , xn(t)), · · · , ϕn(x1(t), · · · , xn(t))) .<br />

E a expressão <strong>de</strong> (ϕ ◦ α) ′ (0) na base { ∂f2 } é ∂xi<br />

(ϕ ◦ α) ′ <br />

∂ϕ1<br />

(0) = x<br />

∂x1<br />

′ 1(0) + · · · + ∂ϕ1<br />

x<br />

∂xn<br />

′ n(0), · · · , ∂ϕn<br />

x<br />

∂x1<br />

′ 1(0) + · · · + ∂ϕn<br />

x<br />

∂xn<br />

′ <br />

n(0) .<br />

O que nos mostra que (ϕ ◦ α) ′ (0) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas da aplicação ϕ e das coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong><br />

(x ′ 1(0), · · · , x ′ n(0)) na base { ∂f1<br />

∂xi }.<br />

Definição 3.1.10. Uma aplicação ϕ : M n 1 → M m 2 entre varieda<strong>de</strong>s diferenciáveis é dita<br />

um difeomorfismo se é bijetora, diferenciável, e possui inversa também diferenciável. Di-<br />

r<strong>em</strong>os ainda que uma aplicação ϕ será um difeomorfismo local <strong>em</strong> um ponto p, se satisfaz<br />

a condição <strong>de</strong> difeomorfismo <strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> p. Isto é, exist<strong>em</strong> abertos U e V, com<br />

p ∈ U tais que ϕ : U → V é um difeomorfismo.<br />

Definir<strong>em</strong>os agora as formas diferenciais <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s difereciáveis.<br />

Definição 3.1.11. Consi<strong>de</strong>re uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n . Uma k−forma exterior ω<br />

<strong>em</strong> M n é a escolha, para cada p ∈ M n , <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento ω(p) ∈ Λ k (TpM) ∗ .


3.1 Varieda<strong>de</strong>s Diferenciáveis 50<br />

Definição 3.1.12. Dada uma k−forma exterior ω <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n ,<br />

e uma parametrização fα : Uα → M n <strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> p ∈ fα(Uα), <strong>de</strong>finimos a<br />

representação <strong>de</strong> ω nesta parametrização como a k−forma exterior ωα <strong>em</strong> Uα ⊂ R n , dada<br />

por<br />

ωα(v1, · · · , vk) = ω(dfα(v1), · · · , dfα(vk)), com v1, · · · , vk ∈ R n .<br />

Observe na <strong>de</strong>finição acima que, se mudarmos o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas para<br />

fβ : Uβ → M n , p ∈ fβ(Uβ), obt<strong>em</strong>os<br />

= ωβ<br />

(f −1<br />

β ◦ fα) ∗ −1<br />

ωβ(v1, · · · , vk) = ωβ d fβ ◦ fα (v1), · · · , d f −1 <br />

β ◦ fα (vk) <br />

dfβ ◦ d f −1<br />

β<br />

◦ fα<br />

(v1), · · · , dfβ ◦ d f −1<br />

β<br />

(3.5)<br />

<br />

◦ fα (vk) = ωα(v1, · · · , vk). (3.6)<br />

E t<strong>em</strong>os a relação (f −1<br />

β ◦ fα) ∗ ωβ = ωα, motivando a seguinte <strong>de</strong>finição.<br />

Definição 3.1.13. Uma k−forma diferencial <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n é uma<br />

forma exterior que possui representação diferenciável <strong>em</strong> algum sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas.<br />

Observação 3.1.3. Pelas equações (3.5) e (3.6), e pela <strong>de</strong>finição acima, po<strong>de</strong>mos concluir<br />

que se uma k−forma exterior possuir representação diferenciável <strong>em</strong> algum sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadas, então possuirá <strong>em</strong> todos.<br />

De forma resumida observamos que, sendo ω uma k−forma diferencial <strong>em</strong><br />

M n , então para uma parametrização (Uα, fα) <strong>de</strong> M n , ω é a escolha <strong>de</strong> uma k−forma<br />

diferencial ωα <strong>em</strong> Uα, <strong>de</strong> forma que, para alguma outra parametrização (Uβ, fβ) <strong>de</strong> M n ,<br />

com fα(Uα) ∩ fβ(Uβ) = ∅, tenha-se<br />

ωα = f −1<br />

β<br />

∗ ◦ fα ωβ. (3.7)<br />

Afirmamos ainda que todas as consi<strong>de</strong>rações feitas a respeito <strong>de</strong> formas diferen-<br />

ciais <strong>em</strong> R n po<strong>de</strong>m ser estendidas para formas diferenciais <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável<br />

M n , tomando uma representação local.<br />

De fato, a diferencial <strong>de</strong> uma k−forma <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n<br />

está b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida, pois por (3.7) t<strong>em</strong>-se<br />

dωα = d f −1<br />

β<br />

∗ ◦ fα ωβ = f −1 ∗ β ◦ fα dωβ. (3.8)<br />

Definição 3.1.14. Uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M é dita orientável se possui uma es-<br />

trutura diferenciável {(Uα, fα)}, tal que para cada par α, β, com fα(Uα) ∩ fβ(Uβ) = ∅,<br />

a diferencial da mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas f −1<br />

β ◦ fα, possui <strong>de</strong>terminante positivo. Caso<br />

contrário, M é dita não orientável.


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 51<br />

3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong><br />

Nesta sessão, nossa meta será a <strong>de</strong>monstração do teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> vari-<br />

eda<strong>de</strong>s compactas 4 e orientáveis. E por este motivo todas as varieda<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas a<br />

partir <strong>de</strong> agora serão compactas e orientáveis, salvo apenas menção contrária.<br />

Para as primeiras consi<strong>de</strong>rações, limitar<strong>em</strong>os ao caso <strong>em</strong> que M n = R n , isto é,<br />

consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong>os a varieda<strong>de</strong> diferenciável n−dimensional (não compacta) R n .<br />

Definição 3.2.1. Seja ω uma forma diferencial <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> um conjunto aberto U ⊂ M n ,<br />

<strong>de</strong>finimos o suporte K <strong>de</strong> ω como o fecho 5 do conjunto A = {p ∈ M n | ω(p) = 0}.<br />

como<br />

Consi<strong>de</strong>rando ω uma n−forma diferencial <strong>em</strong> R n , então po<strong>de</strong>mos escrever ω<br />

ω = a(x1, · · · , xn)dx1 ∧ · · · ∧ dxn. (3.9)<br />

E supondo que o suporte K <strong>de</strong> ω seja compacto e esteja contido <strong>em</strong> U, então<br />

<strong>de</strong>finimos a integral <strong>de</strong> ω sobre U por<br />

<br />

U<br />

<br />

ω =<br />

K<br />

adx1 · · · dxn, (3.10)<br />

on<strong>de</strong> no lado direito da igualda<strong>de</strong> t<strong>em</strong>os uma integral múltipla <strong>em</strong> R n .<br />

Observar<strong>em</strong>os agora as estreitas relações entre a integral <strong>de</strong> uma n−forma<br />

<strong>de</strong>finida <strong>em</strong> R n e uma n−forma <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável qualquer M n .<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os ω uma n−forma <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n ,<br />

e suponha que o suporte K <strong>de</strong> ω esteja contido <strong>em</strong> alguma vizinhança coor<strong>de</strong>nada Vα =<br />

fα(Uα). então, sendo a representação local <strong>de</strong> ω, ωα <strong>em</strong> Uα dada por<br />

e <strong>de</strong>ssa forma po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a integral<br />

ωα = aα(x1, · · · , xn)dx1 ∧ · · · ∧ dxn, (3.11)<br />

<br />

M<br />

<br />

ω =<br />

Vα<br />

<br />

ωα =<br />

Uα<br />

aαdx1 · · · dxn, (3.12)<br />

on<strong>de</strong> o lado direito da igualda<strong>de</strong> expressa uma integral múltipla usual <strong>em</strong> R n .<br />

4 Aqui o termo compacto terá o mesmo significado que o <strong>em</strong>pregado na topologia geral, uma vez que<br />

uma varieda<strong>de</strong> é um espaço topológico. Vi<strong>de</strong> <strong>de</strong>finição (6.0.19) e o teor<strong>em</strong>a (6.0.13) no apêndice B.<br />

5 Trata-se do conjunto dos pontos a<strong>de</strong>rentes. Ver <strong>de</strong>finição (6.0.17) no apêndi<strong>de</strong> B.


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 52<br />

Mas observe que para a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (3.12), precisamos mostrar que ela in<strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong> da escolha <strong>de</strong> uma vizinhança coor<strong>de</strong>nada <strong>em</strong> particular. Na verda<strong>de</strong>, para mostrar<br />

este resultado, será fundamental nossa hipótese inicial <strong>de</strong> que M n é orientável, isto é, a<br />

diferencial da mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas possui <strong>de</strong>terminante positivo.Tal resultado será<br />

garantido pelo teor<strong>em</strong>a a seguir.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.2.1. Seja ω uma n−forma <strong>em</strong> M n , e fα, fβ dois sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas <strong>em</strong><br />

M n . Então assumindo que M n seja orientável, é válida a igualda<strong>de</strong><br />

<br />

Vα<br />

<br />

ωα =<br />

D<strong>em</strong>onstração. Tome ωα e ωβ formas diferenciais <strong>em</strong> M n , com representações <strong>em</strong> Uα e<br />

Vβ<br />

ωβ.<br />

Uβ, respectivamente, e vizinhanças coor<strong>de</strong>nadas {Vα} e {Vβ}.<br />

Consi<strong>de</strong>re a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas f = f −1<br />

α ◦ fβ : Uα → Uβ. Fazendo<br />

xi = fi(y1, · · · , yn), i = 1, · · · , n e (x1, · · · , xn) ∈ Uα, com (y1, · · · , yn) ∈ Uβ, e l<strong>em</strong>brando<br />

que ωβ = f ∗ (ωα), obt<strong>em</strong>os<br />

ωβ = <strong>de</strong>t(df)aβdy1 ∧ · · · ∧ dyn,<br />

on<strong>de</strong> aβ = aα(f1(y1, · · · , yn), · · · , fn(y1, · · · , yn)).<br />

Dessa forma, o resultado segue pela fórmula da mudança <strong>de</strong> variáveis na inte-<br />

gral múltipla <strong>em</strong> R n , isto é,<br />

<br />

Uα<br />

<br />

aαdx1 · · · dxn =<br />

Uβ<br />

<strong>de</strong>t(df)aβdy1 · · · dyn.<br />

Pois pela hipótese <strong>de</strong> que M n é orientável, segue que <strong>de</strong>t(df) > 0, e portanto<br />

<br />

Vα<br />

<br />

ωα =<br />

Vβ<br />

ωβ.<br />

Observe que as consi<strong>de</strong>rações feitas a respeito da integral <strong>de</strong> uma n−forma<br />

<strong>em</strong> M n foram todas feitas supondo que o suporte K <strong>de</strong> ω estivesse contido <strong>em</strong> alguma<br />

vizinhança coor<strong>de</strong>nada. Ir<strong>em</strong>os agora explorar o caso <strong>em</strong> que isso não se verifica.<br />

Para tanto, consi<strong>de</strong>re uma cobertura {Vα} para uma varieda<strong>de</strong> diferenciável<br />

compacta M n . Ir<strong>em</strong>os construir uma família (finita) <strong>de</strong> funções ϕ1, · · · , ϕn, que satisfaçam<br />

as seguintes condições:


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 53<br />

(p1) n<br />

i=1 ϕi = 1;<br />

(p2) 0 ≤ ϕi ≤ 1, e o suporte <strong>de</strong> ϕi estará contido <strong>em</strong> algum Vαi = Vi.<br />

Definição 3.2.2. A família {ϕi} que satisfaz as proprieda<strong>de</strong>s (p1) e (p2), listadas acima,<br />

será chamada uma partição diferenciável da unida<strong>de</strong>, ou simplesmente partição da uni-<br />

da<strong>de</strong>, subordinada à cobertura {Vα}.<br />

Observação 3.2.1. De fato, ainda não apresentamos garantia da existência <strong>de</strong> uma partição<br />

diferenciável da unida<strong>de</strong>, entretanto tal resultado é válido pelo teor<strong>em</strong>a (3.2.2), que apenas<br />

enunciar<strong>em</strong>os.<br />

Assumindo a existência <strong>de</strong> uma família {ϕi}, então o suporte da forma ϕiω<br />

<strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> M n está contido <strong>em</strong> Vi, para algum i, e pelas características da família<br />

{ϕi}, t<strong>em</strong>os a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<br />

M<br />

ω =<br />

m<br />

<br />

i=1<br />

M<br />

ϕiω. (3.13)<br />

Mas observe que para a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (3.13), precisamos garantir que ela in<strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong> das escolhas feitas.<br />

Com efeito, consi<strong>de</strong>re uma outra cobertura {Wβ} <strong>de</strong> M, que induz a mesma<br />

orientação que a cobertura {Vα}, e seja {ψj} uma partição da unida<strong>de</strong> subordinada ao<br />

recobrimento {Wβ}.<br />

Então {Vα ∩ Wβ} ainda recobrirá M, e a família {ϕiψj} será uma partição da<br />

unida<strong>de</strong> subordinada a esse recobrimento. Assim,<br />

m<br />

<br />

m<br />

<br />

ϕiω =<br />

<br />

s<br />

<br />

ω = <br />

<br />

E analogamente,<br />

i=1<br />

s<br />

<br />

j=1<br />

M<br />

M<br />

ψjω =<br />

i=1<br />

s<br />

<br />

j=1<br />

ϕi<br />

M<br />

M<br />

m<br />

i=1<br />

j=1<br />

ϕi<br />

ψj<br />

ij<br />

<br />

ψjω = <br />

<br />

ij<br />

M<br />

M<br />

ϕiψjω. (3.14)<br />

ϕiψjω. (3.15)<br />

O que nos garante que a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (3.13) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das escolhas feitas, tanto do<br />

recobrimento quanto da partição da unida<strong>de</strong> subordinada a ele.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.2.2. (Existência da partição diferenciável da unida<strong>de</strong>). Sejam<br />

M n uma varieda<strong>de</strong> diferenciável compacta e orientável, e {Vα} uma cobertura <strong>de</strong> M n por<br />

vizinhanças coor<strong>de</strong>nadas. Então exist<strong>em</strong> funções diferenciáveis ϕ1, · · · , ϕm tais que,


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 54<br />

(p1) m<br />

i=1 ϕi = 1;<br />

(p2) 0 ≤ ϕi ≤ 1, e o suporte <strong>de</strong> ϕi está contido <strong>em</strong> algum Vαi<br />

<strong>de</strong> da cobertura {Vα}.<br />

A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teor<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> ser encontrada nas referências [3, 9, 11].<br />

Para as consi<strong>de</strong>rações posteriores precisar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir um tipo especial <strong>de</strong> va-<br />

rieda<strong>de</strong>, chamada varieda<strong>de</strong> diferenciável com fronteira, e para isso necessitamos da <strong>de</strong>-<br />

finição <strong>de</strong> um s<strong>em</strong>i-espaço <strong>em</strong> R n .<br />

Definição 3.2.3. Chama-se s<strong>em</strong>i-espaço <strong>em</strong> R n ao conjunto<br />

H n = {(x1, · · · , xn) ∈ R n | x1 ≤ 0}.<br />

Dir<strong>em</strong>os que uma função f : V → R, <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> um aberto V ⊂ H n é<br />

diferenciável, se exist<strong>em</strong> um conjunto U ⊂ R n que contém V, e uma função diferenciável<br />

f <strong>em</strong> U, tal que a restrição <strong>de</strong> f a V seja igual a f. E neste caso, a diferencial dfp, <strong>de</strong> f<br />

<strong>em</strong> p ∈ V, é <strong>de</strong>finida como<br />

dfp = df p. (3.16)<br />

Definição 3.2.4. Uma varieda<strong>de</strong> diferenciável n−dimensional com fronteira é um con-<br />

junto M, munido com uma família <strong>de</strong> aplicações injetivas fα : Uα ⊂ H n → M, <strong>de</strong> abertos<br />

<strong>de</strong> H n <strong>em</strong> M tais que,<br />

(m ′ 1) Uαfα(Uα) = M;<br />

(m ′ 2) Para todo par α, β, com fα(Uα) ∩ fβ(Uβ) = W = ∅, os conjuntos f −1<br />

são abertos <strong>em</strong> H n , e as aplicações f −1<br />

β ◦ fα, f −1<br />

α ◦ fβ são diferenciáveis;<br />

(m3) A família {(Uα, fα)} é maximal com relação à (m ′ 1) e (m ′ 2).<br />

α (W ) e f −1<br />

(W )<br />

Definição 3.2.5. Um ponto p <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n é dito um ponto <strong>de</strong><br />

fronteira <strong>de</strong> M, se para alguma parametrização f : U ⊂ H n → M <strong>em</strong> alguma vizinhança<br />

<strong>de</strong> p, tenha-se f(0, x2, · · · , xn) = p.<br />

Para que a <strong>de</strong>finição anterior <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> faça sen-<br />

tido, precisamos garantir que ela in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da parametrização utilizada. E tal resultado<br />

é exibido pelo próximo teor<strong>em</strong>a.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.2.3. A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> fronteira não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da parametrização.<br />

β


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 55<br />

D<strong>em</strong>onstração. Seja f1 : U2 → M uma parametrização <strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> p, <strong>de</strong> forma<br />

que f1(q) = p, com q = (0, x2, · · · , xn).<br />

Suponha por absurdo que exista outra parametrização f2 : U2 → M, <strong>em</strong> uma<br />

vizinhança <strong>de</strong> p, tal que f −1<br />

2 (p) = q2 = (x1, · · · , xn), com x1 = 0.<br />

Seja W = f1(U1) ∩ f2(U2). T<strong>em</strong>os então a aplicação f −1<br />

1 ◦ f2 : f −1<br />

2 (W ) →<br />

f −1<br />

1 (W ), que será um difeomormismo, isto é, bijetora, diferenciável e que possui inversa<br />

também diferenciável.<br />

Como supomos x1 = 0, existirá uma vizinhança U <strong>de</strong> q2, U ⊂ f −1<br />

2 (W ), que<br />

não intersepta o eixo x1, e restringindo f −1<br />

1 ◦ f2 a U, t<strong>em</strong>os ainda um difeomorfismo, dado<br />

por<br />

e além disso, <strong>de</strong>t(d(f −1<br />

1 ◦ f2)) = 0.<br />

f −1<br />

1 ◦ f2 : U → H n ,<br />

Finalmente, pelo teor<strong>em</strong>a da função inversa, po<strong>de</strong>mos garantir que a aplicação<br />

f −1<br />

1 ◦ f2 : V ⊂ U → U1 ⊂ H n<br />

será um difeomorfismo, o que nos leva à uma contradição, uma vez que se isso se verificasse<br />

teríamos pontos da forma (x1, · · · , xn), com x1 > 0, sendo levados <strong>em</strong> H n por f −1<br />

1 ◦ f2.<br />

rametrização.<br />

Portanto garantimos que p será um ponto <strong>de</strong> fronteira mesmo com outra pa-<br />

S<strong>em</strong> ambiguida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>mos então <strong>de</strong>finir o conjunto dos pontos <strong>de</strong> fronteira<br />

<strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M n .<br />

Definição 3.2.6. Sendo M n uma varieda<strong>de</strong> diferenciável, <strong>de</strong>notamos por ∂M o conjunto<br />

dos pontos <strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> M n , chamado simplesmente <strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> M.<br />

Observação 3.2.2. Se ∂M = ∅, então naturalmente a varieda<strong>de</strong> não possui fronteira, e<br />

portanto é <strong>de</strong>finida segundo a <strong>de</strong>finição (3.1.2).<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.2.4. A fronteira ∂M <strong>de</strong> uma n−varieda<strong>de</strong> diferenciável M com fronteira, é<br />

uma (n − 1)−varieda<strong>de</strong> diferenciável.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Tome um ponto p ∈ ∂M, e consi<strong>de</strong>re a parametrização fα : Uα ⊂ H n →<br />

M n , <strong>em</strong> alguma vizinhança <strong>de</strong> p.


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 56<br />

Dessa forma, f −1<br />

α (p) = (0, x2, · · · , xn) ∈ Uα. Chamando U α = Uα∩{(x1, · · · , xn) ∈<br />

R n | x1 = 0}, po<strong>de</strong>mos observar que U α será um aberto <strong>em</strong> R n−1 . Basta então consi<strong>de</strong>rar<br />

f α a restrição <strong>de</strong> fα a U α e, pelo teor<strong>em</strong>a (3.2.3), segue que f α(U α) ⊂ ∂M. E ainda, a<br />

família {(U α, f α)} será uma estrutura diferenciável <strong>em</strong> ∂M.<br />

Se M n é uma varieda<strong>de</strong> diferenciável orientável com fronteira, então a ori-<br />

entação <strong>de</strong> M n induz uma orientação <strong>em</strong> ∂M, e diz<strong>em</strong>os que ∂M possui a orientação<br />

induzida por M. E a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste resultado po<strong>de</strong> ser encontrada na referência [3].<br />

Finalmente, com as <strong>de</strong>finições e resultados anteriores, po<strong>de</strong>mos enunciar e<br />

provar o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> <strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong>.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 3.2.5. (<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong><strong>Stokes</strong>). Sejam M n uma varieda<strong>de</strong> diferenciável com<br />

fronteira, compacta e orientável, ω uma (n−1)−forma diferenciável <strong>em</strong> M e i : ∂M → M<br />

uma aplicação inclusão 6 . Então<br />

<br />

∂M<br />

i ∗ <br />

ω =<br />

D<strong>em</strong>onstração. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os K o suporte <strong>de</strong> ω, e ir<strong>em</strong>os dividir a <strong>de</strong>monstração <strong>em</strong> dois<br />

casos:<br />

(Caso 1). Se K está contido <strong>em</strong> alguma vizinhança coor<strong>de</strong>nada V = f(U) <strong>de</strong> uma<br />

parametrização f : U ⊂ H n → M, então tomando a representação local <strong>de</strong> ω <strong>em</strong> U, t<strong>em</strong>os<br />

ω =<br />

M<br />

dω.<br />

n<br />

ajdx1 ∧ · · · ∧ dxj ∧ · · · dxn,<br />

j<br />

on<strong>de</strong> aj = aj(x1, · · · , xn) é uma função diferenciável <strong>em</strong> U, e a notação dxj significa que<br />

o termo dxj está sendo omitido. Assim, a diferencial dω obtém a forma<br />

n<br />

<br />

<br />

j−1 ∂aj<br />

dω = daj ∧ dxj = (−1) dx1 ∧ · · · ∧ dxn.<br />

∂xj<br />

j=1<br />

j<br />

Agora observe que po<strong>de</strong>mos subdividir o caso 1 <strong>em</strong> dois subcasos, um para o caso <strong>em</strong> que<br />

f(U) ∩ ∂M = ∅ e outro para quando f(U) ∩ ∂M = ∅.<br />

(i).<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos f(U)∩∂M = ∅, então o valor <strong>de</strong> ω será zero <strong>em</strong> ∂M, e consequent<strong>em</strong>ente<br />

6 Trata-se simplesmente <strong>de</strong> uma aplicação da forma i(x) = x, e o nome inclusão é motivado pelo fato<br />

<strong>de</strong> que ∂M ⊂ M.


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 57<br />

i∗ω também irá se anular <strong>em</strong> ∂M. Portanto<br />

<br />

i ∗ ω = 0.<br />

Por outro lado, esten<strong>de</strong>ndo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> aj <strong>em</strong> Hn , por<br />

⎧<br />

⎨ aj(x1, · · · , xn) = aj(x1, · · · , xn), se (x1, · · · , xn) ∈ U<br />

⎩<br />

∂M<br />

aj(x1, · · · , xn) = 0, se (x1, · · · , xn) ∈ H n \ U<br />

t<strong>em</strong>os f −1 (K) ⊂ U, e aj é diferenciável <strong>em</strong> H n .<br />

Consi<strong>de</strong>re então Q ⊂ H n um paralelepípedo, <strong>de</strong>finido por<br />

x 1 j ≤ xj ≤ x 0 j, j = 1, · · · , n<br />

e que contenha f −1 (K) <strong>em</strong> seu interior. Assim,<br />

<br />

dω =<br />

<br />

<br />

j−1 ∂aj<br />

(−1) dx1 · · · dxn =<br />

∂xj<br />

U<br />

U<br />

= <br />

(−1) j−1<br />

<br />

j<br />

Q<br />

j<br />

[aj(x1, · · · , xj−1, x 0 j, xj+1, · · · , xn)−<br />

−aj(x1, · · · , xj−1, x 1 j, xj+1, · · · , xn)]dx1 · · · dxj · · · dxn = 0,<br />

pois aj(x1, · · · , x 0 j, · · · , xn) = aj(x1, · · · , x 1 j, · · · , xn) = 0, para todo j = 1, , · · · , n. E<br />

portanto,<br />

(ii).<br />

<br />

∂M<br />

i ∗ <br />

ω =<br />

Se porém, f(U) ∩ ∂M = ∅, então a aplicação i po<strong>de</strong> ser escrita como<br />

⎧<br />

⎨ x1 = 0;<br />

i =<br />

⎩ xj = xj, se j = 1<br />

e usando a orientação induzida <strong>em</strong> ∂M, t<strong>em</strong>os<br />

M<br />

dω.<br />

i ∗ ω = a1(0, x2, · · · , xn)dx2 ∧ · · · ∧ dxn.<br />

Esten<strong>de</strong>ndo novamente aj a H n , e consi<strong>de</strong>rando o paralelepípedo Q ′ dado por<br />

x 1 1 ≤ x1 ≤ 0 ; x 1 j ≤ xj ≤ x 0 j, j = 1, · · · , n,<br />

<strong>de</strong> forma que a união <strong>de</strong> Q ′ com o hiperplano x1 = 0 contenha f −1 (K). Então,<br />

<br />

M<br />

dω =<br />

n<br />

(−1) j−1<br />

<br />

j=1<br />

Q ′<br />

∂aj<br />

dx1 · · · dxn =<br />

∂xj


3.2 <strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> 58<br />

<br />

= [a1(0, x2, · · · , xn) − a1(x 1 1, x2, · · · , xn)]dx2 · · · dxn+<br />

+<br />

n<br />

<br />

j=2<br />

Q ′<br />

Q ′<br />

[aj(x1, · · · , x 0 j, · · · , xn) − aj(a1, · · · , a 1 j, · · · , xn)]dx1 · · · dxj · · · dxn.<br />

E como aj(x1, · · · , x 0 j, · · · , xn) = aj(x1, · · · , x 1 j, · · · , xn) = 0,<br />

para j = 2, · · · , n, e a1(x 1 1, x2, · · · , xn) = 0, t<strong>em</strong>os<br />

<br />

M<br />

<br />

ω =<br />

<br />

a1(0, x2, · · · , xn)dx2 · · · dxn =<br />

garantido a valida<strong>de</strong> do teor<strong>em</strong>a nestas condições.<br />

(Caso 2). Suponha agora que K não esteja contido <strong>em</strong> alguma vizinhança coor<strong>de</strong>nada.<br />

Ir<strong>em</strong>os utilizar da construção <strong>de</strong> uma partição diferenciável da unida<strong>de</strong> para a <strong>de</strong>mons-<br />

tração.<br />

Seja {Vα} uma cobertura <strong>de</strong> M por vizinhanças coor<strong>de</strong>nadas, compativeis com<br />

a orientação <strong>em</strong> M. Tome ϕ1, · · · , ϕm uma partição diferenciável da unida<strong>de</strong> subordinada<br />

ao recobrimento {Vα}.<br />

Observando que as formas ωj = ϕjω, j = 1, · · · , m satisfaz<strong>em</strong> as condições do<br />

primeiro caso consi<strong>de</strong>rado (caso 1), e que <br />

j dϕj = 0, segu<strong>em</strong>,<br />

E portanto,<br />

<br />

M<br />

dω =<br />

m<br />

<br />

j=1<br />

M<br />

<br />

ωj = ω e <br />

dωj = dω.<br />

j<br />

dωj =<br />

m<br />

<br />

j=1<br />

∂M<br />

j<br />

i ∗ <br />

ωj =<br />

∂M<br />

i<br />

∗ <br />

j<br />

∂M<br />

i ∗ ω.<br />

<br />

ωj =<br />

∂M<br />

i ∗ ω.


4 Conclusão e Estudos Posteriores<br />

Neste trabalho v<strong>em</strong>os a generalização dos teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Green e <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> para<br />

varieda<strong>de</strong>s compactas orientáveis, o que nos forneceu uma visão mais ampla dos teor<strong>em</strong>as<br />

fundamentais do cálculo. Percebe-se que este teor<strong>em</strong>a fornece uma generalização até<br />

mesmo para o teor<strong>em</strong>a fundamental do cálculo <strong>em</strong> sua forma clássica, para funções <strong>de</strong><br />

uma variável <strong>em</strong> R.<br />

Um prosseguimento natural <strong>de</strong>sta monografia po<strong>de</strong>ria ser feito estudando o<br />

teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>Stokes</strong> para aplicações <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s com singularida<strong>de</strong>s, o que não é feito<br />

neste trabalho, pois observa-se gran<strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais resultados <strong>em</strong> muitas áreas,<br />

tanto da mat<strong>em</strong>ática pura quanto da aplicada.<br />

Resultados específicos <strong>de</strong> análise <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s também po<strong>de</strong>m ser uma boa<br />

forma <strong>de</strong> continuação do exposto. Conceitos como mergulho e imersão, que motivam<br />

vários teor<strong>em</strong>as fundamentais para esse tipo <strong>de</strong> análise. Por ex<strong>em</strong>plo, analisar sob quais<br />

condições uma varieda<strong>de</strong> diferenciável po<strong>de</strong> ser imersa <strong>em</strong> uma espaço euclidiano.<br />

Uma extensão <strong>de</strong>ste também po<strong>de</strong>rá ser feita consi<strong>de</strong>rando aplicações dos te-<br />

or<strong>em</strong>as apresentados, como por ex<strong>em</strong>plo a interpretação do fluxo elétrico, envolvendo<br />

integrais <strong>de</strong> superfície, conhecida como Lei <strong>de</strong> Gauss, além <strong>de</strong> muitas outras intepretações<br />

físicas possíveis.<br />

Também seria possível uma revisão do capítulo 1, incluindo a linguag<strong>em</strong> das<br />

formas diferenciais, introduzidas somente no capítulo 2. Com elas po<strong>de</strong>ria-se perceber com<br />

mais clareza a relação intrínseca dos resultados do capítulo 1 com os da sessão 3.3. Tratam-<br />

se os resultados do capítulo 1 <strong>de</strong> casos particulares da sessão 3.3, consi<strong>de</strong>rando superfícies<br />

regulares como varieda<strong>de</strong>s diferefenciáveis <strong>de</strong> dimensão 2, e as formas ω = P dx + Qdy<br />

como 1−formas no R 3 .<br />

59


5 Apêndice A - Diferenciabilida<strong>de</strong><br />

Definição 5.0.7. Uma função f : R n → R m é diferenciável <strong>em</strong> a ∈ R n , se existe uma<br />

transformação linear λ : R n → R m tal que<br />

|f(a + h) − f(a) − λ(h)|<br />

lim<br />

h→0 |h|<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 5.0.6. Se f : R n → R m é diferenciável <strong>em</strong> a ∈ R n existe uma única trans-<br />

formação linear λ : R n → R m tal que<br />

|f(a + h) − f(a) − λ(h)|<br />

lim<br />

h→0 |h|<br />

D<strong>em</strong>onstração. Suponha que exista µ : R n → R m tal que<br />

Chamando d(h) = f(a + h) − f(a), então<br />

|λ(h) − µ(h)|<br />

lim<br />

h→0 |h|<br />

|f(a + h) − f(a) − µ(h)|<br />

lim<br />

h→0 |h|<br />

= 0.<br />

= 0.<br />

= 0<br />

|λ(h) − d(h) + d(h) − µ(h)|<br />

= lim<br />

h→0<br />

|h|<br />

|λ(h) − d(h)| |d(h) − µ(h)|<br />

≤ lim<br />

+ lim<br />

h→0 |h|<br />

h→0 |h|<br />

| − 1||f(a + h) − f(a) − λ(h)| |f(a + h) − f(a) − µ(h)|<br />

≤ lim<br />

+ lim<br />

h→0<br />

|h|<br />

h→0 |h|<br />

e então λ(x) = µ(x).<br />

Observe que, para x ∈ R n , t ↦→ 0, então tx ↦→ 0, logo, tomando x = 0 obt<strong>em</strong>os<br />

|λ(tx) − µ(tx)|<br />

0 = lim<br />

t→0 |tx|<br />

= |λ(x) − µ(x)|<br />

,<br />

|x|<br />

Definição 5.0.8. A transformação linear λ é chamada <strong>de</strong> diferencial <strong>de</strong> f <strong>em</strong> a, e é<br />

<strong>de</strong>notada por dfa.<br />

Observação 5.0.3. Assim como no caso das funções reais <strong>em</strong> R, diferenciabilida<strong>de</strong> implica<br />

<strong>em</strong> continuida<strong>de</strong> para funções <strong>de</strong> várias variáveis. Entretanto a recíproca não se verifica,<br />

assim como para funções <strong>de</strong> uma variável.<br />

Pelas <strong>de</strong>finições apresentadas, po<strong>de</strong>mos observar os seguintes resultados.<br />

= 0<br />

60


5 Apêndice A - Diferenciabilida<strong>de</strong> 61<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 5.0.7. Se f : R n → R m é uma função constante, então dfa = 0. E se f é uma<br />

transformação linear, então df = f.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Basta observar que<br />

|f(a + h) − f(a) − 0|<br />

lim<br />

h→0 |a|<br />

|c − c|<br />

= lim<br />

h→0 |h|<br />

= 0,<br />

on<strong>de</strong> c ∈ R m é uma constante tal que f(x) = c para todo x ∈ R n .<br />

E para o segundo caso,<br />

|f(a + h) − f(a) − f(h)|<br />

lim<br />

h→0 |h|<br />

|f(a) + f(h) − f(a) − f(h)|<br />

= lim<br />

h→0<br />

|h|<br />

Definição 5.0.9. Uma função f : R n → R m é dita diferenciável se é diferenciável <strong>em</strong><br />

todos os pontos do seu domínio.<br />

Definição 5.0.10. Consi<strong>de</strong>re um aplicação f : R n → R m , a um ponto do R n e v um<br />

vetor <strong>em</strong> R n . Definimos a <strong>de</strong>rivada direcional <strong>de</strong> f na direção <strong>de</strong> v <strong>em</strong> a, como o vetor<br />

Dvf(a) = lim<br />

h→0<br />

f(a + hv) − f(a)<br />

.<br />

h<br />

O interesse especial das <strong>de</strong>rivadas direcionais será quando v = ei, on<strong>de</strong> {ei; i =<br />

1, · · · , n} é a base canônica do R n . E estas serão chamadas <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> f.<br />

Usar<strong>em</strong>os as seguintes notações equivalentes para as <strong>de</strong>rivadas direcionais:<br />

Dessa forma, sendo a = (a1, · · · , an), t<strong>em</strong>os<br />

∂f<br />

∂xi<br />

f(a + hei) − f(a)<br />

(a) = lim<br />

h→0 h<br />

∂f ∂f <br />

Deif(a), Dif(a), (a), .<br />

∂xi ∂xi<br />

a<br />

= lim<br />

h→0<br />

= 0<br />

f(a1, · · · , ai + h, · · · , an) − f(a1, · · · , an)<br />

.<br />

h<br />

E percebe-se que ∂f<br />

∂xi (a) é o resultado da <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f <strong>em</strong> relação à variável xi, mantendo<br />

as outras constantes.<br />

Naturalmente, t<strong>em</strong>os as <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m,<br />

<br />

∂ ∂f<br />

=<br />

∂xi ∂xi<br />

∂2f ∂x2 , ou<br />

i<br />

<br />

∂ ∂f<br />

=<br />

∂xi ∂xj<br />

∂2f .<br />

∂xi∂xj


5 Apêndice A - Diferenciabilida<strong>de</strong> 62<br />

E <strong>de</strong> forma geral t<strong>em</strong>-se,<br />

∂<br />

∂x1<br />

∂<br />

∂xi<br />

· · · ∂f<br />

∂xi<br />

· · · ∂f<br />

∂xk<br />

= ∂kf ∂xk , e<br />

i<br />

∂<br />

=<br />

kf .<br />

∂x1 · · · ∂xk<br />

Os próximos dois teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham importante papel no estudo das<br />

funções difereciáveis, sendo suas consequências além dos assuntos tratados neste trabalho.<br />

Tratam-se da regra da ca<strong>de</strong>ia e do teor<strong>em</strong>a da função inversa, que apenas enunciar<strong>em</strong>os,<br />

pois os utilizamos <strong>em</strong> algumas justificativas no <strong>de</strong>correr do texto.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 5.0.8. (Regra da Ca<strong>de</strong>ia). Se f : R n → R m é diferenciável <strong>em</strong> a e g :<br />

R m → R p é diferenciável <strong>em</strong> f(a) então a composta g ◦ f : R n → R p é diferenciável <strong>em</strong><br />

a, e<br />

(g ◦ f) ′ (a) = g ′ (f(a)) · f ′ (a).<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 5.0.9. (Teor<strong>em</strong> da Função Inversa). Seja f : U ⊂ R n → R n uma<br />

aplicação diferenciável, e suponha que <strong>em</strong> p ∈ U, a diferencial dfp : R n → R n é um<br />

isomorfismo 1 . Então existe uma vizinhança V <strong>de</strong> p <strong>em</strong> U e uma vizinhança W <strong>de</strong> f(p)<br />

<strong>em</strong> R n tal que f : V → W t<strong>em</strong> inversa diferenciável f −1 : W → V.<br />

forma.<br />

Po<strong>de</strong>mos interpretar a diferencial <strong>de</strong> uma aplicação diferciável da seguinte<br />

Definição 5.0.11. Seja f : U ⊂ R n → R m uma aplicação diferenciável. Associamos a<br />

cada a ∈ U uma aplicação linear dfa : R n → R m (diferencial <strong>de</strong> f <strong>em</strong> a), e a <strong>de</strong>finimos<br />

como:<br />

Sejam w ∈ R n e α : (−ε, ε) → U uma curva diferenciável 2 tal que α(0) = a e<br />

α ′ (0) = w. Pela regra da ca<strong>de</strong>ia, a curva β = f ◦α : (−ε, ε) → R m é também diferenciável.<br />

Então<br />

dfa(w) = β ′ (0).<br />

Observação 5.0.4. De fato, a <strong>de</strong>finição dada para dfa não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha da curva<br />

que passa por a com vetor tangente w. E a <strong>de</strong>montração po<strong>de</strong> ser vista <strong>em</strong> [2], p. 150.<br />

Definição 5.0.12. A matriz <strong>de</strong> dfa : R n → R m nas bases canônicas <strong>de</strong> R n e R m , isto<br />

é, a matriz<br />

∂fi<br />

∂xj<br />

<br />

, i = 1, · · · , m e j = 1, · · · , n, é chamada a matriz jacobiana <strong>de</strong> f <strong>em</strong><br />

1 Trata-se <strong>de</strong> uma transformação linear bijetora.<br />

2 Ver <strong>de</strong>finição (3.2.7).


5 Apêndice A - Diferenciabilida<strong>de</strong> 63<br />

a. Quando m = n, a matriz é quadrada e o seu <strong>de</strong>terminante é chamado o <strong>de</strong>terminante<br />

jacobiano, e é <strong>de</strong>notado por<br />

<br />

∂fi<br />

<strong>de</strong>t =<br />

∂xj<br />

∂(f1, · · · , fn)<br />

∂(x1, · · · , xn) .


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n<br />

Por ser um espaço vetorial, e possuir uma estrutura métrica induzida pelo<br />

produto interno usual, o espaço Euclidiano R n possui uma estrutura topológica que, <strong>de</strong>ntre<br />

outras coisas, nos permite <strong>de</strong>finir certos tipos <strong>de</strong> conjuntos e estudar suas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Definição 6.0.13. Sejam a, b pontos do R n . Denotamos por d(a, b) ∈ R a distância<br />

do ponto a ao ponto b. No nosso contexo usar<strong>em</strong>os a distância euclidiana dada por:<br />

|a − b| = n<br />

i=1 (ai − bi) 2 , on<strong>de</strong> a = (a1, ..., an) e b = (b1, ..., bn).<br />

Definição 6.0.14. Chamamos <strong>de</strong> bola aberta, bola fechada e esfera, <strong>de</strong> centro a ∈ R n e<br />

raio r ∈ R, respectivamente aos conjuntos<br />

B(a, r) = {x ∈ R n : d(x, a) < r};<br />

B[a, r] = {x ∈ R n : d(x, a) ≤ r};<br />

S(a, r) = {x ∈ R n : d(x, a) = r}.<br />

Observação 6.0.5. Veja que a bola fechada é a união disjunta da bola aberta com a esfera,<br />

isto é,<br />

B[a, r] = B(a, r) ∪ S(a, r).<br />

Definição 6.0.15. Uma topologia num conjunto U é uma coleção τ <strong>de</strong> partes <strong>de</strong> U,<br />

chamados <strong>de</strong> abertos da topologia, com as seguintes proprieda<strong>de</strong>s:<br />

1. ∅ e U pertenc<strong>em</strong> a τ;<br />

2. Se A1, · · · , An ∈ τ então A1 ∩ · · · ∩ An ∈ τ;<br />

3. Dada uma família arbitrária (Aλ)λ∈L com Aλ ∈ τ para cada λ ∈ L, t<strong>em</strong>-se <br />

λ∈L Aλ ∈<br />

τ.<br />

Dir<strong>em</strong>os então que um espaço topológico é um par (U, τ), on<strong>de</strong> U é um conjunto<br />

e τ é uma topologia <strong>em</strong> X. Entretanto, usar<strong>em</strong>os na maioria das vezes apenas o termo<br />

espaço topológico, ficando subentendido a topologia τ. Ressaltamos ainda que apesar da<br />

<strong>de</strong>finição pertencer a um contexto mais geral da topologia, nosso interesse neste trabalho<br />

se restringe aos espaços topológicos euclidianos.<br />

64


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 65<br />

Definição 6.0.16. Um subconjunto A ⊂ R n é dito aberto se para todo ponto a ∈ A<br />

existe um raio r > 0 tal que B(a, r) ⊂ A.<br />

Definição 6.0.17. Um ponto a ∈ A ⊂ R n é um ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> A se toda<br />

visinhança <strong>de</strong> a <strong>em</strong> R n contém um ponto <strong>de</strong> A distinto <strong>de</strong> a, isto é,<br />

A ∩ B(x, r) \ {x} = ∅, ∀r > 0.<br />

Observação 6.0.6. Também chamamos um ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ponto<br />

a<strong>de</strong>rente. E sendo A ⊂ R n , <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por A o conjunto <strong>de</strong> todos os pontos x ∈ R n ,<br />

tais que x é ponto a<strong>de</strong>rente <strong>em</strong> A.<br />

Definição 6.0.18. Um conjunto A ⊂ R n é fechado se todo ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> A<br />

pertence a A. Equivalent<strong>em</strong>ente, po<strong>de</strong>mos dizer que A ⊂ R n é fechado se toda sequência<br />

convergente (an)n∈N <strong>de</strong> pontos distintos <strong>de</strong> A possui limite <strong>em</strong> A, ou seja, a sequência<br />

converge para um ponto pertencente ao conjunto A.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.10. A ⊂ R n é fechado se, e somente se,seu compl<strong>em</strong>entar R n \ A é aberto.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Suponha que A seja fechado, e seja p ∈ R n \ A. Como p não é ponto <strong>de</strong><br />

acumlação <strong>de</strong> A, existe r > 0 tal que B(p, r) não contém pontos <strong>de</strong> A, isto é B(p, r) ⊂<br />

R n \ A, logo R n \ A é aberto.<br />

Reciprocamente, suponha que R n \ A seja aberto e que p seja um ponto <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> A. Provar<strong>em</strong>os então que p ∈ A.<br />

Suponha que p ∈ A, então existe r > 0 tal que B(p, r) ⊂ R n \A. Isto implica <strong>em</strong><br />

B(p, r) não conter pontos <strong>de</strong> A, contrariando a hipótese <strong>de</strong> p ser um ponto <strong>de</strong> acumulação.<br />

Segue que p ∈ A.<br />

Até agora <strong>de</strong>finimos e observamos algumas características <strong>de</strong> conjuntos abertos<br />

e fechados <strong>em</strong> R n , como por ex<strong>em</strong>plo um intervalo aberto, ou mais geral, uma bola aberta<br />

<strong>em</strong> R n são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> conjuntos abertos, e ainda um intervalo fechado ou, analogamente,<br />

uma bola fechada são alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> conjuntos fechados <strong>em</strong> R n .<br />

Mas <strong>em</strong> um contexto mais amplo da topologia, a caracterização <strong>de</strong> conjuntos<br />

não se restringe simplesmente <strong>em</strong> abertos ou fechados como, pois po<strong>de</strong>m existir conjuntos<br />

que não sejam abertos n<strong>em</strong> fechados, como por ex<strong>em</strong>plo o conjunto Q do números racionais<br />

como subconjunto <strong>de</strong> R, ou ainda conjuntos que sejam caracterizados abertos e fechados,<br />

simultaneamente.


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 66<br />

Observação 6.0.7. Em R n , os únicos conjuntos que são abertos e fechados, sumultanea-<br />

mente, é o conjunto vazio ∅ e o próprio R n .<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.11. A função f : R n → R m é contínua se, e somente se, para qualquer<br />

conjunto aberto U ⊂ R m , a imag<strong>em</strong> inversa f −1 (U) é aberta <strong>em</strong> R n .<br />

D<strong>em</strong>onstração. Observe que o conjunto f −1 (U) é expresso por<br />

f −1 (U) = {x ∈ R n : f(x) ∈ U}.<br />

Suponha que f é contínua. Se U ⊂ R n é eberto, e a ∈ f −1 (U), então existe ε > 0 tal que<br />

B(f(a), ε) ⊂ U. Como f é contínua, existe δ > 0 tal que f(B(a, δ)) ⊂ B(f(a), ε) ⊂ U.<br />

Como B(a, δ) ⊂ f −1 (U), então segue que f −1 (U) é aberto.<br />

Suponha agora que f −1 (U) é aberto para todo connjunto aberto U ⊂ R m . Seja<br />

a ∈ U e ε > 0. Então A = f −1 (B(f(a), ε)) é aberto. Assim, esxiste um δ > 0 tal que<br />

B(a, δ) ⊂ A. Portanto, f(B(p, δ)) ⊂ f(A) ⊂ B(f(a), ε), e f é contínua <strong>em</strong> a.<br />

Corolário 6.0.1. A função f : R n → R m é contínua se, e somente se, para qualquer<br />

subconjunto fechado U ⊂ R m a imag<strong>em</strong> inversa f −1 (U) ⊂ R n é subconjunto fechado.<br />

Definição 6.0.19. Um conjunto A ⊂ R n é dito compacto se, e somente se, todo subcon-<br />

junto infinito B <strong>de</strong> A possui um ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>em</strong> B. Essa afirmação é equivalente<br />

a dizer que toda sequência <strong>de</strong> pontos <strong>em</strong> A possui uma subsequência que converge para<br />

um ponto <strong>de</strong> A.<br />

Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> subconjuntos que não são compactos <strong>em</strong> R n , po<strong>de</strong>mos citar<br />

o subconjunto R, pois Z ⊂ R é infinito e não possui subsequência convergente.<br />

a sequência { 1<br />

n<br />

Outro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> conjunto não compacto é o intervalo aberto (0, 1) ⊂ R,pois<br />

convergente porque { 1<br />

n<br />

que não pertece ao conjunto.<br />

: n ∈ N} é um subconjunto infinito <strong>de</strong> (0, 1) que não possui subsequência<br />

: n ∈ N} possui apenas um ponto <strong>de</strong> acumulação, a saber o zero,<br />

De forma natural, po<strong>de</strong>mos generalizar o ex<strong>em</strong>plo acima e afirmar que bolas<br />

abertas <strong>em</strong> R n não são conjuntos compactos 1 .<br />

Se um conjunto A contido <strong>em</strong> R n é finito, então automaticamente A é compacto<br />

pois, pela nossa <strong>de</strong>finição, para mostarmos que A não é compacto teríamos que exibir um<br />

1 Ver <strong>de</strong>monstração <strong>em</strong> [7].


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 67<br />

subconjunto infinito que não possuísse sequência convergente <strong>de</strong>ntro do próprio conjunto,<br />

mas isso é impossível uma vez que A é finito.<br />

Definição 6.0.20. Um subconjunto A ⊂ R n é limitado se ele está contido <strong>em</strong> bola do<br />

R n .<br />

Definição 6.0.21. Uma cobertura aberta <strong>de</strong> um conjunto A ⊂ R n é uma família <strong>de</strong><br />

conjuntos abertos {Uα}, α ∈ I tal que <br />

α Uα = A. Quando há apenas um número finito<br />

na família, diz<strong>em</strong>os que a cobertura é finita. Se a subfamília {Uβ}, β ∈ I ′ ⊂ I, ainda<br />

cobre A, isto é, <br />

β Uβ = A, diz<strong>em</strong>os que {Uβ} é uma subcobertura <strong>de</strong> {Uα}.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.12. Para um conjunto K ⊂ R n as seguintes afirmações são equivalentes:<br />

1. K é compacto.<br />

2. (Heine - Borel). Toda cobertura <strong>de</strong> K t<strong>em</strong> uma subcobertura finita.<br />

3. (Bolzano - Weierstrass). Todo subconjunto infinito <strong>de</strong> K t<strong>em</strong> um ponto <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>em</strong> K.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Mostrar<strong>em</strong>os as implpicações (1) ⇒ (2) ⇒ (3) ⇒ (1).<br />

(1) ⇒ (2) : Seja {Uα}, α ∈ A, uma cobertura <strong>de</strong> aberta do compacto K, e suponha que<br />

{Uα} não tenha subcobertura finita.<br />

Como K é compacto, ele está contido <strong>em</strong> uma região retangular<br />

B = {(x1, · · · , xn) ∈ R n | aj ≤ xj ≤ bj, j = 1, · · · , n}.<br />

Então dividimos B pelos hiperplanos 2 xj = aj+bj<br />

2 . E obt<strong>em</strong>os assim 2 n retângulos fechados<br />

menores. Por hipótese, pelo menos uma das regiões retangulares menores, digamos B1,<br />

é tal que B1 ∩ K não é coberta por um número finito <strong>de</strong> conjuntos abertos <strong>de</strong> {Uα}.<br />

Dividimos agora B1 <strong>de</strong> forma análoga e, repetindo este processo, obt<strong>em</strong>os uma sequência<br />

<strong>de</strong> regiões retangulares fechadas<br />

B1 ⊃ B2 ⊃ · · · ⊃ Bi ⊃ · · ·<br />

tal que nenhum Bi ∩ K é coberto por um número finito <strong>de</strong> conjuntos abertos <strong>de</strong> {Uα} e<br />

o comprimento do maior lado <strong>de</strong> Bi converge para zero.<br />

2 Em suma estamos subdividindo B <strong>em</strong> retângulos menores, por ex<strong>em</strong>plo, se K ⊂ R 2 , então ultilizando<br />

este método ir<strong>em</strong>os dividir K <strong>em</strong> 2 2 retângulos.


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 68<br />

Afirmamos que existe p ∈ ∩iBi. De fato, projetando cada Bi sobre o eixo j <strong>de</strong><br />

R n , j = 1, · · · , n, obt<strong>em</strong>os uma sequência <strong>de</strong> intervalos fechados<br />

[aj1, bj1] ⊃ [aj2, bj2] ⊃ · · · ⊃ [aji, bji] ⊃ · · ·<br />

Como (bji, aji) é arbitrariamnente pequeno, v<strong>em</strong>os que aj = sup{aji} = inf{bji} = bj,<br />

don<strong>de</strong> aj ∈ ∩i[aji, bji]. Assim, p = (a1, · · · , an) ∈ ∩iBi, como afirmamos.<br />

Observe que qualquer vizinhança <strong>de</strong> p contém algum Bi, para i suficiente-<br />

mente gran<strong>de</strong>, logo, ela contém um infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> K. Assim, p é um ponto <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> K, e como K é fechado, p ∈ K.<br />

Seja U0 um el<strong>em</strong>ento da família {Uα} que contém p, como U0 é aberto, existe<br />

uma bola B(p, ε) ⊂ U0. Por outro lado, para i suficient<strong>em</strong>ente gran<strong>de</strong>, Bi ⊂ B(p, ε) ⊂ U0,<br />

contrariando o fato <strong>de</strong> que nenhum Bi ∩ K po<strong>de</strong> ser coberto por um número finito <strong>de</strong><br />

el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> {Uα}, e portanto t<strong>em</strong>os que K possui uma subcobertura finita.<br />

(2) ⇒ (3) : Suponha que A é um subconjunto infinito <strong>de</strong> K, e que nenhum ponto <strong>de</strong> K é<br />

um ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> A. Então é possível, para cada p ∈ K, p ∈ A, escolher uma<br />

vizinhança 3 Vp <strong>de</strong> p tal que Vp ∩ A = ∅, e para cada q ∈ A escolher uma vizinhança Wq <strong>de</strong><br />

q tal que Wq ∩A = q. Assim, a família {Vp, Wq}, p ∈ K \A, q ∈ A, é uma cobertura aberta<br />

<strong>de</strong> K. Como A é infinito e a omissão <strong>de</strong> qualquer Wq da família <strong>de</strong>ixa o ponto q sescoberto,<br />

a família {Vp, Wq} não t<strong>em</strong> uma subcobertura finita, e isso contradiz a afirmação (2).<br />

(3) ⇒ (1) : De fato K é fechado, pois se p é um ponto <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> K, tomando<br />

bolas concêntricas B(p, 1<br />

i ) = Bi, obt<strong>em</strong>os uma sequência<br />

p1 ∈ B1 − B2, p2 ∈ B2 − B3, · · · , pi ∈ Bi − Bi+1 · · ·<br />

E essa sequência p como ponto <strong>de</strong> acumulação, e logo p ∈ K.<br />

Corolário 6.0.2. Todo subconjunto A ⊂ R n é compacto se, e somente se é fechado e<br />

limitado.<br />

Corolário 6.0.3. Todo subconjunto fechado <strong>de</strong> um conjunto compacto <strong>em</strong> R n é compacto<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.13. Se A é um subconjunto compacto <strong>de</strong> R m e B é um subconjunto compacto<br />

<strong>de</strong> R n , então A × B é um subconjunto compacto <strong>de</strong> R m+n .<br />

3 Trata-se <strong>de</strong> uma bola aberta com centro <strong>em</strong> p.


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 69<br />

D<strong>em</strong>onstração. Tome uma sequência (c1)i∈N = (ai, bi)i∈N <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> A × B. Como<br />

A é compacto, a sequência (ai)i∈N possui uma subsequência (aij )j∈N que converge para<br />

um ponto a ∈ A. Analogamente, como B é compacto, a sequência (bi)i∈N possui uma<br />

subsequência (bij )j∈N que converge para um ponto b ∈ B. Basta então pbservar que a<br />

sequência (aij , bij )j∈N é uma subsequência da sequência (ai, bi)i∈N que converge para o<br />

ponto (a, b) ∈ A × B.<br />

L<strong>em</strong>a 6.0.1. Seja f : R n → R m uma função contínua <strong>em</strong> a ∈ R n . Se (ai)i∈N é uma<br />

sequência que converge para a, então a sequência (f(ai))i∈N converge para o ponto f(a).<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.14. Se A é um subconjunto compacto <strong>de</strong> R n , e f : R n → R m é contínua,<br />

então f(A) ⊂ R m é compacto.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Se f(A) é finito não há o que provar. Suponha então que f(A) não seja<br />

finito e tome um subconjunto infinito T ⊂ f(A). T<strong>em</strong>os que provar que T contém uma<br />

sequência <strong>de</strong> pontos que converge para um pono <strong>em</strong> f(A). Para tanto, tome o conjunto<br />

infinito S = f −1 (A) <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> A, e como, por hipótese, A é compacto, S contém uma<br />

sequência (ai)i∈N que converge para um ponto a <strong>em</strong> A. Como f é contínua, pelo l<strong>em</strong>a<br />

anterior t<strong>em</strong>os que (f(ai))i∈N −→ f(a) e o resultado está provado.<br />

<strong>Teor<strong>em</strong>a</strong> 6.0.15. De D é um subconjunto compacto <strong>de</strong> R n e f : D → R é uma função<br />

contínua, então f atinge valor máximo e mínimo <strong>em</strong> pontos <strong>de</strong> D, isto é, existe pontos a<br />

e b <strong>em</strong> D tais que f(a) ≤ f(x) ≤ f(a) para todo x ∈ D.<br />

D<strong>em</strong>onstração. Far<strong>em</strong>os a <strong>de</strong>monstração somente para o valor máximo, pois para o valor<br />

mínimo o argumento é similar.<br />

Pelo teor<strong>em</strong>a anterior sab<strong>em</strong>os que f(D) é um subconjunto compacto <strong>de</strong> R, isto é, f(D)<br />

é fechado e limitado, e assimm existe sup f(D) = b tal que t ≤ b ∀t ∈ f(D). Quer<strong>em</strong>os<br />

provar que b ∈ f(D). Para isso observe que, para todo n ∈ N, existe um ponto tn ∈ f(D)<br />

com b − 1<br />

n < tn < b. Mas então a sequência (tn)n∈N −→ b e o ponto b é um ponto<br />

<strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> f(D) logo, pela compacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> f(D), b ∈ f(D) e o teor<strong>em</strong>a está<br />

provado.<br />

Definição 6.0.22. Um espaço topológico U é dito <strong>de</strong> Hausdorff se, para quaisquer dois<br />

ponto distintos p, q ∈ U, exist<strong>em</strong> abertos A1, A2, com p ∈ A1 e q ∈ A2 tais que A1∩A2 = ∅.<br />

Definição 6.0.23. Uma coleção B <strong>de</strong> abertos <strong>de</strong> um espaço topológico U chama-se uma<br />

base quando todo aberto A ⊂ U se exprime como reunião <strong>de</strong> conjuntos Bα ∈ B, isto é,


6 Apêndice B - Topologia El<strong>em</strong>entar do R n 70<br />

A = <br />

α Bα. Equivalent<strong>em</strong>ente, dados arbitrariamente A aberto, e p ∈ A, então existe<br />

B ∈ B tal que p ∈ B ⊂ A.<br />

Definição 6.0.24. Diz<strong>em</strong>os que um espaço topológico U possui base enumerável, quando<br />

existe uma coleção enumerável B = {B1. · · · , Bn, · · · } <strong>de</strong> abertos <strong>em</strong> U tais que, todo<br />

aberto <strong>em</strong> U é a reunião <strong>de</strong> conjuntos Bα.


Referências Bibliográficas<br />

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[2] DO CARMO, M. P., Geometria Diferencial <strong>de</strong> Curvas e Superfícies. 3 a ed.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: SBM, 2008.<br />

[3] DO CARMO, M. P., Differential Forms and Applications. 1 a ed. Germany:<br />

Springer - Verlag, 1994.<br />

[4] EDUARDS Jr., C. H. Advanced Calculus of Several Variables. 1 a ed. New York:<br />

Dover, 1994.<br />

[5] KOSTRIKIN, A. I.; MANIN, Y. I. Linear Algebra and Geometry. New York:<br />

Gordon and Breach, 1981.<br />

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[7] LIMA, E. L., El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> Topologia Geral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ao Livro Técnico,<br />

1970.<br />

[8] LIMA, E. L. Espaços Métricos. 4 a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IMPA, 2009.<br />

[9] MARDSEN, J. E.; R, T.; ABRAHAM, R., Manifolds, Tensor Alalysis and Ap-<br />

plications. 3 a Ed. New York: Springer - Verlag, 2001.<br />

[10] PINTO, D; MORGADO, M. C. F. Cálculo Diferencial e Integral <strong>de</strong> Funções<br />

<strong>de</strong> Várias Variáveis. 3 a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UFRJ, 2008.<br />

[11] SPIVAK, M. Calculus on Manifolds. Massachusetts: Addison - Wesley, 1965.


aplicação multilinear, 31<br />

base, 69<br />

bola<br />

enumerável, 70<br />

aberta, 64<br />

fechada, 64<br />

campo vetorial, 10, 11, 37<br />

conservativo, 14<br />

diferenciável, 37<br />

divergente, 28<br />

rotacional, 26<br />

unitário, 22<br />

cobertura aberta, 67<br />

conjunto<br />

aberto, 65<br />

compacto, 66<br />

domínio, 17<br />

fechado, 65<br />

limitado, 67<br />

simplesmente conexo, 17<br />

curva, 10<br />

diferenciável, 47, 62<br />

fechada, 11<br />

parametrizada, 10<br />

<strong>de</strong>rivada<br />

direcional, 61<br />

parcial, 61<br />

<strong>de</strong>terminante<br />

jacobiano, 24<br />

Índice R<strong>em</strong>issivo<br />

72<br />

difeomorfismo, 49<br />

local, 49<br />

diferencial, 60<br />

diferencial exterior, 43<br />

distância euclidiana, 64<br />

esfera, 64<br />

espaço<br />

<strong>de</strong> Hausdorff, 69<br />

tangente, 37, 39, 48<br />

topológico, 64<br />

estrutura diferenciável, 46<br />

fórmula, 11<br />

comprimento <strong>de</strong> arco, 11, 12<br />

mudança <strong>de</strong> variáveis, 52<br />

família, 46<br />

fluxo, 23<br />

força, 9, 10<br />

forma diferencial, 40<br />

<strong>de</strong> grau 0, 41<br />

<strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>, 50<br />

<strong>de</strong> grau 2, 39<br />

forma exterior, 40<br />

<strong>de</strong> grau 1, 38<br />

<strong>de</strong> grau 2, 39<br />

<strong>em</strong> uma varirda<strong>de</strong>, 49<br />

representação local, 50<br />

fronteira<br />

função<br />

região, 15<br />

contínua, 66


ÍNDICE REMISSIVO 73<br />

diferenciável, 60<br />

escalar, 11<br />

potencial, 14<br />

homeomorfismo, 46<br />

integral<br />

<strong>de</strong> linha, 11<br />

<strong>de</strong> superfície, 21<br />

forma diferencial, 51<br />

k-tensor, 31<br />

alternado, 34<br />

parametrização<br />

equivalente, 12, 24<br />

orientação, 12<br />

partição da unida<strong>de</strong>, 53<br />

subordinada, 53<br />

partição regular, 9<br />

permutação, 32<br />

representação, 33<br />

sinal, 33<br />

plano tangente, 20<br />

ponto<br />

a<strong>de</strong>rente, 65<br />

<strong>de</strong> acumulação, 65<br />

<strong>de</strong> fronteira, 54<br />

produto exterior, 35, 41<br />

produto tensorial, 31<br />

região<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m superior, 37<br />

<strong>de</strong> tipo I, 15<br />

<strong>de</strong> tipo II, 15<br />

simples, 15<br />

regra da ca<strong>de</strong>ia, 62<br />

s<strong>em</strong>i - espaço, 54<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas, 46<br />

superfície<br />

área, 21<br />

bordo, 26<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> área, 22<br />

orientada, 22<br />

orientada positivamente, 28<br />

regular, 20, 46<br />

representação explícita, 19<br />

representação implícita, 19<br />

representação paramétrica, 19<br />

suporte, 51<br />

teor<strong>em</strong>a<br />

Bolzano - Weierstrass, 67<br />

da função inversa, 62<br />

<strong>de</strong> Gauss, 28<br />

<strong>de</strong> Green, 16<br />

<strong>de</strong> <strong>Stokes</strong>, 26, 56<br />

fundamental do cálculo, 14<br />

Heine - Borel, 67<br />

topologia, 64<br />

trabalho, 9, 10<br />

transposição, 33<br />

varieda<strong>de</strong><br />

com fronteira, 54<br />

compacta, 47<br />

diferenciável, 46<br />

fronteira, 55<br />

orientável, 50<br />

vetor tangente, 20


ÍNDICE REMISSIVO 74<br />

vizinhança coor<strong>de</strong>nada, 46

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