16.04.2013 Views

A Dança dos Dragões - Tevet Home

A Dança dos Dragões - Tevet Home

A Dança dos Dragões - Tevet Home

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

JON<br />

O<br />

lobo branco corria através de uma floresta negra, sob um penhasco branco<br />

tão alto como o céu. A lua corria com ele deslizando através de um<br />

emaranhado de ramos nus por cima da sua cabeça, no céu estrelado.<br />

— Snow — murmurou a Lua. O lobo não deu resposta. A neve rangia<br />

sob as suas patas. O vento suspirava por entre as árvores.<br />

À distância, conseguia ouvir os seus companheiros de alcateia o<br />

chamando, de igual para igual. Também andavam a caça. Uma violenta chuva<br />

castigava o irmão negro enquanto ele dilacerava a carne de uma enorme cabra,<br />

lavando o sangue do seu flanco onde o longo chifre da cabra o rasgara. Noutro<br />

local, a irmãzinha erguia a cabeça para cantar à Lua, e uma centena de pequenos<br />

primos cinzentos interrompia a caçada para cantar com ela. As colinas eram mais<br />

quentes onde eles se encontravam, e estavam cheias de comida. Muitas eram as<br />

noites em que a alcateia da irmã se empanturrava com a carne de ovelhas, vacas e<br />

cavalos, as presas <strong>dos</strong> homens, e às vezes até com a carne do próprio homem.<br />

— Snow — voltou a Lua a chamar, casquinando. O lobo branco<br />

avançou ao longo do trilho de homem por baixo do penhasco branco. Tinha sabor<br />

de sangue na língua, e os ouvi<strong>dos</strong> ressoavam com a canção <strong>dos</strong> cem primos. Em<br />

tempos tinham sido seis, cinco a ganir, cegos, na neve junto da mãe morta,<br />

enquanto ele se afastara sozinho. Restavam quatro… e um deles o lobo branco<br />

deixara de conseguir detectar.<br />

— Snow — insistiu a Lua.<br />

O lobo branco fugiu dela, correndo na direção da gruta da noite onde o<br />

Sol se escondera, com a respiração gelando no ar. Em noites sem estrelas, o<br />

grande penhasco era tão negro como pedra, uma escuridão quese erguia bem alto<br />

acima do vasto mundo, mas quando a Lua emergia cintilava branco e gélido<br />

como um ribeiro congelado. A pelagem do lobo era grossa e expessa, mas<br />

quando o vento soprava ao longo do gelo não havia pelos capazes de manter o<br />

frio afastado. O lobo sentia que do outro lado o vento era ainda mais frio. Era alí<br />

que estava o irmão, o irmão cinzento que cheirava a verão.<br />

— Snow. — Um pingente caiu de um ramo. O lobo branco virou-se e<br />

descobriu os dentes — Snow! — a sua pelagem ergueu-se, eriçada, enquanto a<br />

floresta se dissolvia à volta. — Snow, snow, snow! — Ouviu o bater de asas.<br />

Através das sombras um corvo voou.<br />

62

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!